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Associação Albergue Martim Lutero: uma casa que acolhe
ASSOCIAÇÃO ALBERGUE MARTIM LUTERO UMA CASA QUE ACOLHE
O início do Albergue Martim Lutero
O Albergue Martim Lutero nasceu na década de 1980, em Vitória, no estado do Espírito Santo, acolhendo membros da igreja luterana que moravam no interior do estado. Eram pequenos proprietários rurais que produziam, principalmente, café e verduras. A convivência era restrita à família, encontros na igreja e eventos próximos de casa. O rádio era o único meio de comunicação que ligava todas as pessoas aos acontecimentos do mundo. A televisão e postos de telefonia chegaram às localidades mais distantes somente nos anos 1990. As estradas não eram pavimentadas e ficavam intransitáveis em períodos de muita chuva. A locomoção era feita, basicamente, a pé, de bicicleta ou a cavalo.
Arquivo Albergue Martim Lutero
O que significava ficar doente?
Nas décadas de 1980 e 1990, a assistência à saúde era precária em nosso estado. Hospitais com melhor infraestrutura eram encontrados somente em algumas cidades. No interior, em regra, as pessoas doentes eram assistidas por “profissionais práticos”, que tinham algum conhecimento na área da saúde. Os casos mais graves eram levados para os grandes centros urbanos. Essa tarefa também fazia parte da rotina de ministros e ministras eclesiásticos da época, pois não havia ambulâncias.
A falta de conhecimento da vida urbana e a dificuldade na comunicação, porque a maioria das pessoas falava somente o pomerano, tornavam a interlocução entre profissionais da área de saúde com o paciente muito complicada. Dentro dessa realidade nasceu o Albergue Martim Lutero. A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB) adquiriu uma casa na
Grande Vitória para dar suporte a essas pessoas. O acompanhamento era feito por um diácono ou uma diácona, que além da hospedagem e outros cuidados, fazia a marcação de consultas e a interlocução entre médico e a pessoa enferma. Famílias locais da igreja luterana também davam suporte a essa tarefa, e pastores e pastoras contribuíam com o acompanhamento pastoral. Assim nasceu o Albergue, dentro de uma casa, onde pessoas enfermas dividiam o espaço com a família do diácono ou da diácona.
Atualmente
Arquivo Albergue Martim Lutero
Durante esses quase 40 anos, o Albergue sempre trabalhou para que o processo de cura se desenvolvesse por meio do cuidado físico, psíquico e espiritual. Com esse objetivo, o espaço físico do Albergue foi planejado para a convivência comunitária, celebrações e espaço adequado para a administração. O ambiente familiar mostra-se no convívio respeitoso e acolhedor entre funcionários, funcionárias e pessoas albergadas. Todos cuidam de todos. As meditações diárias e o acompanhamento pastoral fortalecem a fé, alimentam a esperança e permitem uma experiência ímpar com Deus no momento vivido. A alimentação leva em consideração a necessidade de cada pessoa, conforme a prescrição médica. O serviço social intermedia os contatos com os hospitais e suas famílias e se ocupa internamente com todas as pessoas, com atividades lúdicas, terapêuticas e conversas que visam passar as orientações da casa.
Uma obra feita de muitas mãos
A Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil é a mantenedora da AAML, que se completa por meio de uma rede de pessoas voluntárias, parceiras e instituições, que se somam e fazem corpo ao trabalho. Entre elas, destacamos: psicólogas, terapeutas, contabilistas, motoristas, auxiliar de serviços gerais, técnicos
em computação e comunicação. Entre as organizações, destacamos: prefeituras municipais e outros órgãos do governo, a OASE Sinodal, que anualmente se mobiliza por meio de campanhas pontuais pró-albergue. As doações de pessoas físicas e de comunidades, regulares ou esporádicas, são diárias. Assim, todos e todas fazem dessa casa uma obra construída por muitas mãos.
Uma palavra viva
O Albergue, braço diaconal da IECLB, como Jesus Cristo, procura estar presente na vida das pessoas, proporcionando alívio e esperança em momentos de fragilidade causados por uma doença.
A oração, o gesto de amor que alivia e carrega a dor, contribui significativamente no processo de cura da pessoa enferma. Muitas pessoas transformam o tempo longe de casa também em uma oportunidade para repensar a vida, algo que pouco é feito pelo excesso de atividades no dia a dia.
O tempo de “parada” contribui para a reorganização da vida dentro de um novo jeito de viver. Percebem que, na doença, não experimentam somente dor, insegurança e saudades, mas também experimentam muitos momentos de bênção. O horizonte de vida é ampliado e iluminado com novas possibilidades.
As pessoas levam para a vida que não há a necessidade de ficar doente para aprender a viver. A despedida do convívio no albergue, em regra, é carregada de emoção e gratidão.
Para nós fica o sentimento de que cumprimos nossa missão, cuidamos, acolhemos com o mesmo Espírito que Cristo nos acolheu. Para leitura e diálogo: Romanos 15.1-7.
P. João Paulo Auler Vitória/ES