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Refugiados da Venezuela: solidariedade sem fronteiras
REFUGIADOS DA VENEZUELA SOLIDARIEDADE SEM FRONTEIRAS
Humildemente queremos fazer uma comparação com a passagem bíblica de Lucas 10.25-37, que relata a parábola do bom samaritano, contando nossa viagem para o Seminário da OASE Nacional em 2019. Tivemos uma experiência que ficaria para sempre marcada em nossas vidas. Nós nos encontramos no aeroporto em 23 de junho de 2019. Somos da diretoria da OASE Sinodal do Sínodo Brasil Central. Nosso voo estava programado para que chegássemos ao nosso destino no máximo até às 21 horas, para participarmos do Seminário Nacional da OASE em São Leopoldo/RS. Saímos de nossas respectivas cidades: Terezinha, de Formosa/GO; Claudete, de Cristalina/GO e Gladis, de Porto Nacional/TO. Depois do check-in e de despacharmos as malas, na sala de embarque tivemos a oportunidade de sentar na frente de uma mulher com três crianças pequenas, um menino e duas meninas, com idades entre cinco e dez anos. Essas crianças (como todas as crianças) não paravam quietas. Corriam por todos os lugares, entre as mesas e poltronas, numa alegria que só elas conseguem ter em qualquer situação. Eu, Gladis, achei que fossem indígenas, por causa das características físicas e porque as crianças indígenas têm muita liberdade, sendo que pais e mães não as reprimem para ficarem quietas ou sentadas. A Terezinha, por sua vez, começou a chamar a atenção da menina menor; a Claudete observava todo o movimento. Elas observaram que a água que bebiam estava numa garrafa pet e que a enchiam em um bebedouro. Tinham, em uma poltrona, uns quatro sacos de lixo com coisas, que observamos eram pouquíssimas roupas e uma coberta fina. Pensamos, cada uma em silêncio, que eram pessoas com poucas condições financeiras. Mal sabíamos que era tudo o que possuíam. Na verdade, eram refugiados venezuelanos. Em seu país, viveram situação de rua, sofrendo todo tipo de necessidade; depois tinham atravessado a fronteira por intermédio de coiotes (pessoas que recebem para serem guias ilegais) e ainda passaram três meses em um abrigo em Boa Vista/RO.
Aquela mãe que parecia desatenta, que deixava os filhos soltos, estava simplesmente exaurida de tanto cansaço por estar há três dias acordada, passando de um aeroporto a outro. O marido dela já estava no Brasil trabalhando há um ano e meio. Seus colegas de trabalho, percebendo toda a angústia que ele demonstrava por não poder estar com a família, ajudaram-no com dinheiro e junto à Polícia Federal para que a família pudesse entrar no país. Depois de tanta espera, aquele seria o dia em que eles iriam se reencontrar!
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Conversando com ela, conseguimos entender a situação. Sentimos que ela estava nervosa porque em São Paulo teríamos que fazer a troca de aeronave e o período era muito curto. Falamos que a iríamos ajudar e que estávamos indo para o mesmo destino. Para nossa sorte, nós não tivemos que trocar de avião. Em Porto Alegre/RS, nós a perdemos de vista, porque ela estava em uma extremidade e nós na outra do avião. Torcemos para que tivesse êxito até o final da viagem. Mas a encontramos no terminal de bagagem. Ela nos contou, muito nervosa, que o carro que viria buscá-los não poderia vir. A atendente estava tentando auxiliá-la, ligando para o único contato que ela tinha em um pedacinho de papel. Conversamos também com essa pessoa, mas a informação era de que eles poderiam vir só no outro dia às 11 horas. A atendente ficou tocada e tentou levá-los para casa, mas seu marido não concordou com a ideia. Como nós iríamos deixar uma mãe com três crianças num lugar desconhecido, com frio e fome, às 22 horas! Eles nem conseguiriam voltar para dentro do aeroporto. Conversamos e resolvemos ligar para a Casa Matriz de Diaconisas e falar com a Irmã Haidi Homrich, que nos esperava, para solicitar permissão para levá-los conosco. Na Casa Matriz, foram acomodados, alimentados e no outro dia, com a graça de Deus e da direção da Casa Matriz e algumas irmãs, que fizeram o que é de sua prática diaconal, receberam roupas usadas e novas adequadas para o inverno, brinquedos, material de higiene pessoal. Além de não cobrar as despesas de hospedagem e alimentação do setor de hospedagem da casa. A pessoa que viria buscá-los pela manhã chegou às 15 horas. Aproveitamos esse período de espera para passear muito por todo o Morro do Espelho e tivemos tempo de conhecer um pouco mais de sua história. Deus nos coloca diante de algumas situações e, muitas vezes, não percebemos que estamos sendo usadas para, em nome dele, cuidar e auxiliar o próximo com o trabalho de diaconia. Damos graças a Deus, que nos permitiu exercer esse ato de amor ao próximo. Como diz em 1 Pedro 1.13: Estejam prontos para agir. Continuem alertas e ponham toda a sua esperança na bênção que será dada a vocês quando Jesus Cristo for revelado. Mantemos contato com a família até hoje pelas redes sociais e temos a felicidade de saber que estão bem. Só lamentam que a família continue em dificuldade em seu país de origem.
Claudete Marlene Freitag Laussmann, Cristalina/GO Gladis Helena Homrich, Porto Nacional/TO Terezinha Pinheiro Ottoni, Formosa/GO Membras da diretoria da OASE Sinodal do Sínodo Brasil Central