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Escolhidas e escolhidos por Deus

ESCOLHIDAS E ESCOLHIDOS POR DEUS

Lembro-me das brincadeiras de infância (caçador, futebol...), quando tínhamos que dividir a turma de crianças em dois grupos. Duas crianças eram destacadas para escolher as demais, a fim de formar dois grupos. Aquelas que eram chamadas por primeiro corriam alegres em direção ao seu grupo, sentiam-se privilegiadas, ao passo que as últimas caminhavam lentamente, pois sabiam que não eram as melhores. Para estas crianças, a brincadeira já não era mais a mesma. Parte da alegria fora perdida na escolha, no chamado. Deus também nos escolheu. Mas há uma diferença muito grande nessa escolha. Ele não nos escolheu como primeiros nem por últimos, nem como melhores ou porque restamos. Ele nos chamou quando ainda estávamos no ventre materno. Lembramos do chamado de Jeremias: Antes de formá-lo no ventre materno, eu já o conhecia; e, antes de vocês nascer, eu o consagrei e constituí profeta às nações (Jeremias 1.4). Jeremias sentia-se incapaz, ao que Deus lhe lembra que sua escolha não depende de sua capacidade. Da mesma forma, lembramos a palavra dirigida a Isaías. Ela também é proferida por Deus a cada um e uma de nos: Não tenha medo, porque eu o remi; e o chamei pelo seu nome; você é meu (Isaías 43.1). Para Deus, somos conhecidas e conhecidos, jamais seremos indigentes. Não somos números ou, ainda, apenas mais uma pessoa. Ele nos conhece pelo nome. Isso significa que estamos próximos. Ainda bem que na fé não funciona como nas brincadeiras de infância! Deus nos escolheu indiferentemente de nossas qualidades, dons, capacidades, títulos, méritos, opções, posição econômica, cor, etnia, confissão religiosa. Ele nos escolheu por sermos suas filhas e seus filhos. Essa é a razão de termos sido escolhidas e escolhidos por Deus. Essa escolha é anterior a qualquer outra de nossa parte. E para que Deus nos escolheu? Toda a Bíblia dá clareza quanto às nossas tarefas. Elencamos duas:  Cuidar do mundo, de nossa casa comum. O planeta geme em dores de parto (Romanos 8.22), com desmatamento, poluição, envenenamento da terra e da água, enfim, desrespeito à natureza. No relato da criação, somos lembrados de nossa tarefa: O Senhor Deus tomou o

ser humano e o colocou no jardim do Éden para o cultivar e o guardar (Gênesis 2.15). Temos visto cada vez mais as consequências da falta de cuidado e da ganância humana. É preciso voltar à essência da criação e da função do ser humano, para ter clareza quanto à nossa tarefa enquanto cidadãs e cidadãos do mundo. Somos parte da terra; estamos ligados a ela desde a criação. Quando olhamos o relato da criação em sua língua original, entendemos melhor essa relação. Terra, em hebraico, chama-se adamah; ser humano, em hebraico, é adam. Veja que interessante: adam faz parte da palavra adamah! Isso nos permite afirmar que o ser humano faz parte da terra, do húmus. Lembre-se do seu Criador, antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto à fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, de onde veio, e o espírito volte a Deus, que o deu (Eclesiastes 12.6-7). No suor do seu rosto você comerá o seu pão, até que volte à terra, pois dela você foi formado; porque você é pó, e ao pó voltará (Gênesis 3.19).  Servir em amor. Servir é o mesmo que “ajudar, auxiliar, estar disposto em prol de”. Quando servimos em/com amor, o fazemos não por pena nem por obrigação, muito menos para receber elogios, aplausos ou vantagens, mas o fazemos porque cremos que Deus nos escolheu para estar em comunhão com irmãos e irmãs em prol de vida digna. Para servir em amor precisamos de humildade e oração, para que não caiamos na tentação de servir a nós mesmos. Servimos em amor a partir do exemplo do Salvador Jesus: Pois o próprio Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos (Marcos 10.45). Servir em amor não diz respeito apenas a religiosos e religiosas, mas é tarefa de cada filho e filha de Deus. Servimos diariamente e em qualquer circunstância, assumindo as consequências que o servir impõe. O sentimento de saber que fomos escolhidos e escolhidas por Deus é de gratidão e profunda alegria. Não somos nem primeiros nem últimos, não fazemos parte deste ou daquele grupo, mas sim da família de Deus. Esse amor incondicional de Deus nos realiza e traz felicidade.

Robson Luís Neu Ivoti/RS Gerente editorial da Editora Sinodal, em São Leopoldo/RS

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