Nº 37 - Junho de 2012
Juventude e experiências litúrgicas André Santos Sousa
Juventudes, música e culto Onde encontros acontecem
Há uma pergunta contemporânea que corresponde ao desafio da Igreja por continuidade: como trazer (para) e manter os jovens no convívio comunitário? Partindo da percepção de que juventudes se constituem a partir de suas pertenças musicais, este artigo fala sobre o fazer musical com e dos jovens no culto contemporâneo, analisando pertinências, desafios e possibilidades práticas.
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Símbolos litúrgicos e festas cristãs
Celebrações juvenis
Como trabalhar temas litúrgicos com jovens de forma
Um relato de experiência
envolvente e, ao mesmo tempo, com um conteúdo significativo? Uma possibilidade é usar a própria celebração como forma de envolver os jovens com a temática. O artigo relata esta experiência.
Quando a juventude se compromete a participar de uma celebração, ela contribui com sua criatividade, seu jeito de pensar, de falar e de vivenciar a vida.
Alex Reblim
Jevel
Estudo e experiência celebrativa com um grupo de jovens
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Novas Publicações. Confira! Cantos Litúrgicos
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DO C R L
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Graça a vocês e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. Tear - Liturgia em Revista é uma publicação do Centro de Recursos Litúrgicos (CRL) da Faculdades EST da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). ISSN: 1519-5546 Endereço Centro de Recursos Litúrgicos - EST Caixa Postal 14 93001-970 São Leopoldo/RS Fone: (51) 2111-1400 - ramal 421 Fax: (51) 2111-1411 E-mail: crl@est.edu.br
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Consultor de Música Werner Ewald
Conselho de Redação Beatriz Regina Haacke, Erli Mansk, Gleidson Ademir Fritsche, Júlio Cézar Adam, Gislaini Rodrigues, Nelson Kirst, Vilson Schoenell
Conselho Editorial Ana Isa dos Reis, Eliana Weber, Erli Mansk, Júlio Cézar Adam, Marcos Bechert, Nelson Kirst, Romeu Ruben Martini, Sissi Georg, Sonja Hendrich-Jauregui, Tânia Cristina Weimer, Vilson Schoenell, Werner Ewald, Werner Kiefer
Impressão Editora Oikos
Tiragem 800 exemplares
Prezado/a leitor/a, você está recebendo a primeira edição de Tear – Liturgia em Revista, de 2012. Esta edição vem acompanhada de uma grande novidade: Tear Online. A partir deste ano, além da versão impressa será publicada a versão online de Tear, com outros textos, maiores e mais aprofundados. Confira isto na Tear Online, divulgue e publique seus textos. Endereço: http://periodicos.est.edu.br/index.p hp/tear Indo ao encontro da temática da IECLB para este ano, a juventude, e como este tema é pertinente às diferentes denominações cristãs, trazemos na versão impressa e online – sob o dossiê Juventude e experiências litúrgicas - três textos que relacionam a liturgia, o culto e a música sacra com a juventude. O texto de Soraya E. Heinrich “Juventudes, música e culto: onde encontros acontecem” tem como base a tese doutoral da autora. O artigo apresenta os grupos de músicas como espaço para o envolvimento comunitário e litúrgico dos jovens. Já o texto de Erli Mansk “Símbolos litúrgicos e festas cristãs: estudo e experiência celebrativa com um grupo de jovens” traz o relato de uma experiência de assessoria a jovens sobre o tempo e o
calendário litúrgico. Por último, o texto de Juliana Zachow “Celebrações juvenis: um relato de experiência” é, como o próprio título diz, o relato de uma celebração com jovens. Na versão online, você encontrará textos para aprofundar seu estudo e labor litúrgico. No bloco Culto cristão, história e teologia, Ione Buyst escreve sobre a prática e o estudo da liturgia no contexto latino-americano. Sobre arte e arquitetura sacra e litúrgica nos dois primeiros séculos do cristianismo, confira o texto de Ruberval Monteiro da Silva. E ainda sobre como entender e solucionar situações de crise, o artigo de Hans-Martin Gutmann “Familie, Haus, Lebenswelt” é uma contribuição não só para a liturgia, mas para a prática da Igreja como um todo. No bloco Culto cristão na interface com áreas do conhecimento, Amós Lópes aborda a relação entre arte e liturgia.Também Claudio Carvalhaes relaciona, em seu texto, liturgia e teatro, através da noção de performance. Indo mais além na interface do culto com outras áreas, você encontrará o texto de Edson Ponick sobre esporte como um “rito litúrgico”. Trazemos ainda duas antífonas para enriquecer o culto da sua comunidade. Boa leitura! Conselho de Redação
Antifonário Desde 2005, a IECLB está promovendo encontros de musicistas e liturgistas para a preparação de um trabalho especial.Trata-se de composições musicais para versículos de salmos, chamadas antífonas. Este ano, as antífonas serão publicadas num livro com as leituras previstas para os domingos e festas da Igreja. O livro será editado especialmente para os
liturgos/as e musicistas. Trará as melodias compostas para todos os salmos previstos no Lecionário, com instruções sobre o uso dos salmos. Algumas comunidades já estão praticando a leitura dos salmos intercalada com o canto das antífonas. Aguardem a nova publicação! Duas antífonas estão nesta edição de Tear. Por Louis Marcelo Illenseer
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Juventudes, música e culto Onde encontros acontecem SORAYA HEINRICH EBERLE
André Santos Sousa
Sobre conceitos, estigmas, senso comum e contextos Há uma pergunta contemporânea que corresponde ao desafio da Igreja por continuidade: como trazer os jovens para a igreja e mantê-los no convívio comunitário? Ao lado desta, poderíamos acrescentar: como e o quanto adaptar linguagens e fazer compreensíveis ritos, celebrações e cultos aos jovens, considerados comumente “desenraizados” e “desvinculados”, embora “conectados” e “plugados”? É muito provável que as dificuldades da Igreja e da sociedade como um todo em falar para as juventudes estejam relacionadas primariamente aos problemas no falar sobre juventude. O termo juventude em si não encontra unanimidade, pois se refere a um único grupo social, que não existe como tal, pelo menos em termos de unidade. Fatores contextuais e socioculturais acabam por determinar múltiplas 1 facetas desse fenômeno juvenil . Por isso, optamos em utilizar o termo juventudes. Com isso, queremos reforçar conscientemente a necessidade de um olhar contextual. Juventudes – a quem nos referimos quando usamos esta palavra? “Juventude é o tempo da liberdade, de experimentar tudo, de buscar o prazer” – dizem uns. “Os jovens são difíceis. Colocam toda a família em função dos seus conflitos”
– dizem outros. Há quem diga: “Juventude é o grupo que consome cultura. Sabem das últimas novidades”. Ou então: “Jovens são pessoas desregradas, em conflito com toda espécie de regras”. E, por fim: “Juventude é uma preparação para a vida. Os jovens são o futuro da Igreja! Os jovens são o futuro da nação”. As falas acima elencadas são os estigmas carregados por essa turma que chamamos de jovens. No entanto, muito além de um “vir a ser”, uma problemática social, uma fase de desregramento ou de conflitos, ou menos ainda de uma visão romantizada e idealizada da juventude, esse período é determinado e construído socialmente, dentro dos contextos em que os jovens se inserem. A partir de sua realidade, constroem uma forma própria de serem jovens.
1. DICK, Hilário. Gritos silenciados, mas evidentes – jovens construindo juventude na História. São Paulo: Loyola, 2003. p. 15.
Grande parte das pessoas na faixa etária que consideramos como jovens vive, ainda hoje, em contextos de exclusão digital. O pensamento comum de que eles são “virtualizados” está longe da realidade; muitos ainda se encontram “desconectados”. Por outro lado, a maioria vive em contextos de vulnerabilidade: ficar fora do mercado de trabalho e do mundo adulto, violência e insegurança estão entre os maiores medos e desafios a enfrentar. Porque o mercado exige cada vez mais preparo, novas profissões estão surgindo, e a violência contra os jovens engrossa as estatísticas. São também os jovens os mais atingidos pelo mercado cultural (indústria cultural), que hoje oferece a cada jovem a impressão de ser diferenciado e distinto dos demais,
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As mídias afetam também as formas contemporâneas de culto cristão, onde há uma aproximação dos padrões televisivos. A performance de pastores e ministros de louvor, o fator imagem, a comunidade no papel de plateia ou espectadora, o palco, entre outros fatores, aproximam o culto de um programa de auditório. Os jovens se identificam com o movimento gospel, porque este reproduz os padrões já conhecidos do mundo da mídia e da sociedade de consumo. No sentido religioso, em geral, há entre os jovens uma resistência às instituições (por isso, são considerados desvinculados), mas não há falta de uma religiosidade pessoal e muito individual. Ainda assim, na maioria das religiões, como meio de reforço da identidade, jovens se envolvem com os segmentos mais fundamentalistas. Ao construir sua identidade, jovens se apropriam de símbolos e da música. E se associam com outros que “sentem como eles”. E aí a igreja encontra uma oportunidade de comunicar o Evangelho a
essas pessoas. Neste artigo, lançamos mão da música como meio de inserção das juventudes na vida comunitária. Partindo da percepção de que juventudes se constituem a partir de suas pertenças musicais, falaremos sobre o fazer musical com e dos jovens no culto contemporâneo, analisando pertinências, desafios e possibilidades práticas.
Pensar musicalmente a partir de Lutero, com vistas à contemporaneidade A vida comunitária não se constitui de atores e espectadores. O ministério da Igreja é para ser
constituem em ídolos juvenis, também no espaço religioso seja o músico, a banda, os ministros religiosos; enquanto o restante se constitui em massa espectadora). Por outro lado, encontramos muitos cultos com caráter genérico, que servem a qualquer pessoa, em praticamente qualquer contexto – o que explica o crescimento dessas formas de culto, onde todos são peregrinos, migrantes, estrangeiros ou de fronteira. Pois muito daquilo que a tradição nos legou encontra-se em linguagem (inclusive simbólica) muito distanciada da maioria das pessoas, incompreensível para os 2 não-iniciados . Então, a linguagem genérica responde mais imediatamente à expectativa.
Arquivo CRL
através do acesso que lhes permite – à música, às informações e às novidades tecnológicas. Na identificação com um “estilo”, podem passar a pertencer a uma tribo urbana ou comunidade, as quais têm seus próprios códigos. Entre estes, o comportamento, a aparência, a moda, os acessórios, a música, a tecnologia e toda sorte de produtos vêm se somar – na identificação e no consumo. Aqui pouco podemos supor uma homogeneidade, mas diferentes tipos de acesso. A hegemonia da indústria cultural, nos tempos hodiernos, se dá antes pela multiplicidade possível de acessos do que pela homogeneização de ofertas e públicos. Tudo é acessível.
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trilhado e executado pela comunidade como um todo, diferentemente do apregoado nas mídias. Com frequência, vemos padrões midiáticos importados para o espaço do culto e em consonância com a indústria cultural. Entre outros aspectos, podemos citar o imediatismo, o hibridismo de tendências, uma teologia voltada à experiência ou ao privado e o consumo tecnológico, a performance pública (dos atores principais, que se
Há algum paradigma para a utilização da música no culto? Carl F. 3 Schalk abstrai, dos escritos de Lutero, cinco paradigmas principais: a música como criação e dádiva de Deus, como proclamação e louvor, como canto litúrgico, como canção do sacerdócio geral de todas as pessoas que creem e como sinal de continuidade da Igreja una. Diante disso, em contrapartida à indústria cultural e midiática, como é possível traba-
2. Aqui nos referimos aos espaços eclesiásticos de formação, como catequese, ensino confirmatório, culto infantil, escola dominical, discipulado, entre outros. 3. SCHALK, Carl F. Lutero e a música: paradigmas de louvor. Tradução de Werner Ewald. São Leopoldo: Sinodal, 2006.
lhar música com juventudes, em contexto comunitário, levando em conta tais paradigmas ancestrais? É possível? A partir da reflexão sobre os paradigmas acima elencados, podese partir para práticas, inserindo-as nos assim chamados “grupos de lou4 vor” .Tais grupos são formados especialmente por jovens, constituindose espontaneamente nos contextos comunitários. Geralmente possuem formação semelhante a uma banda, com guitarra, violão, teclado, bateria, baixo elétrico e voz, entre outras possibilidades. São grupos responsáveis pela condução e acompanhamento do canto comunitário. Por isso mesmo, é relevante pensar a forma como farão sua inserção comunitária e sua participação no culto comunitário. É necessário considerar, aqui, que a música forma os jovens para uma determinada teologia e vivência comunitárias. Mas também que os grupos responsáveis pela música (inclusive os grupos de louvor) formam a comunidade para determinadas teologias e compreensões de culto e de vida comunitária. Para trabalhar com tais grupos, sem perder de vista o legado teológico, e sem perder igualmente a perspectiva da contemporaneidade, sugerimos algumas práticas, que elencamos abaixo. Antes, no entanto, podemos ressaltar que tradição e contemporaneidade podem andar juntas e precisam se (re)conhecer, dentro da visão de Lutero frente ao novo e ao legado. Que visão era esta? O reformador era entusiasta do canto comunitário e defensor da qualidade musical e de conteúdo do repertório que surgia. Por isso, ser fiel a esta visão de Lutero significa, na música, estar com os pés calcados na
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tradição, mas andar na contemporaneidade; ter ouvidos atentos ao que de melhor se oferece em termos musicais, porém também ao canto simples (mas não simplório) do povo. Entre as práticas, queremos ressaltar a necessidade de compreensão de que o fazer musical é um processo dinâmico, tanto quanto a
A MÚSICA FORMA OS JOVENS PARA UMA DETERMINADA TEOLOGIA E VIVÊNCIA COMUNITÁRIAS. TAMBÉM OS GRUPOS RESPONSÁVEIS PELA MÚSICA FORMAM A COMUNIDADE PARA DETERMINADAS TEOLOGIAS E COMPREENSÕES DE CULTO E DE VIDA COMUNITÁRIA.
própria vida dos jovens integrantes dos grupos de louvor. Esta dinamicidade se dá nos diferentes papéis que eles desempenham e que vão se modificando e ampliando. Também musicalmente isso ocorre. Se hoje tocam um instrumento, facilmente “migram” para outro. Mudam de papéis nos contextos familiares, profissionais e educacionais, constroem suas vidas para o futuro, fazem escolhas. Supor sempre, em todo o trabalho, o mesmo grupo, engessará e impossibilitará o trabalho em princípio. Por isso, para as pessoas responsáveis pela liderança de tal trabalho, três movimentos são fundamentais: intencionalidade, motivação e esperança. A intencionalidade também como forma de adequar linguagens, de maneira a fazer conexões eficientes com os jovens. Os jovens e os grupos são parte da comunidade e parte da vida comunitária. Se conduzem e acompanham o canto comunitário, são também corresponsáveis pela vida litúrgica da comunidade. Para tanto, sugere-se realmente um trabalho
. 4. Também chamados, em diferentes contextos, de ministério de louvor, grupo de louvor e adoração, grupo de canto, grupo de condução do canto, entre outros termos.
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integrado e dialogal, com vista à formação de protagonistas – esta, sim, uma forma de superar a influência da indústria cultural. Pois os jovens estarão fazendo, vivendo e aprendendo. A relevância desta modalidade de participação dos jovens está nas possibilidades litúrgico-teológico-formativas. Por ser comunidade cristã, sugere-se uma experiência de grupo aberto – onde todos podem participar, desde que assumam as responsabilidades do grupo para si. Dentro de tal perspectiva, não haverá a possibilidade de protagonismo (ou de atuação, se nos reportássemos novamente aos padrões midiáticos) somente para algumas pessoas, mas todas que quisessem poderiam participar e atuar. Ou seja, o resultado final sairia do foco, para centrar-se no processo de inclusão de mais pessoas. Porque tal processo demanda tempo, reinícios constantes (dentro da ideia de espaço dinâmico) e generosidade em partilhar conhecimentos dentro do grupo. Uma forma de inserção é partir da premissa de que todos cantam. Partir da preparação vocal e da aprendizagem do canto abre também a perspectiva de integralidade, do ser humano inteiro – pois todo o corpo canta, bem como a razão e a emoção. Por outro lado, o grupo serve de modelo vocal à comunidade reunida; por isso, é necessário investimento no desenvolvimento vocal. Esta perspectiva integral e integradora possível através da voz também se refere ao aspecto da identidade individual, que é construída no grupo. Ao levantar a sua voz, cada pessoa tem a possibilidade de fazer florescer sua identidade, aquilo que a faz única, pois voz é isso. Mas está, também, trabalhando sua inserção numa identidade coletiva,
OS JOVENS E OS GRUPOS SÃO PARTE DA COMUNIDADE E PARTE DA VIDA COMUNITÁRIA. SE CONDUZEM E ACOMPANHAM O CANTO COMUNITÁRIO, SÃO TAMBÉM CORRESPONSÁVEIS PELA VIDA LITÚRGICA DA COMUNIDADE. PARA TANTO, SUGERE-SE REALMENTE UM TRABALHO INTEGRADO E DIALOGAL, COM VISTA À FORMAÇÃO DE PROTAGONISTAS – ESTA, SIM, UMA FORMA DE SUPERAR A INFLUÊNCIA DA INDÚSTRIA CULTURAL.
do grupo, de toda a comunidade e, com isso, se colocando numa perspectiva de comunhão, de unidade na diversidade. E, por ser a voz identidade, também aí se faz necessário atentar para a perspectiva do cuidado mútuo. Pode ser tarefa do grupo formar para a solidariedade e ressaltar a interdependência – tanto dos participantes do grupo entre si, quanto com a comunidade como um todo e com a Igreja una, como enfatizado por Lutero. Quando estas perspectivas são observadas, o ensaio não é mais ensaio, simplesmente. Pode-se denominá-lo de encontro-ensaio. Ele tem características de ensaio, mas também de encontro assim como outros grupos comunitários. Estes grupos possuem uma
tarefa tripla dentro do culto: de acompanhar, ensinar e dirigir o canto comunitário. Para que isto ocorra de forma eficaz, é necessário tematizar com o grupo a participação efetiva da comunidade no canto comunitário. Pois estas três tarefas são para ser executadas com a comunidade, e não em lugar dela nem para ela (a música vista como canção do sacerdócio geral de todas as pessoas que creem, ou como voz do povo na liturgia). Isso implica fazer estudos aprofundados sobre amplificação do som e utilização dos instrumentos, sobre a primazia da voz e mesmo sobre a postura, a localização espacial e o comportamento do grupo. São perguntas que não têm respostas prontas, mas que requerem discussão ampla dentro do grupo, dentro de uma perspectiva de trabalho dialogal. Mais que jovens autômatos, que cumprem ordens preestabelecidas, ao procurar formar protagonistas, é necessário o tempo e a coragem da reflexão. Lembrando sempre que, se a música está no culto primordialmente para a glória de Deus, tanto ela quanto os musicistas precisam apontar para além de si – para o próprio Deus. Também o repertório está inserido nessa mesma discussão. Porque o mercado oferece vasto repertório, geralmente descartável, onde pouco subsiste. E a pergunta pela adequação teológica e musical do repertório, bem como dos arranjos executados pelos grupos, pode ser inserida de tempos em tempos. Quem sabe possa ajudar, frente ao repertório que surge, a pergunta: “para que e por que a comunidade deveria cantar esta música?”. Novamente, esta é a oportunidade de reflexão preciosa na formação de pessoas jovens críticas frente ao que lhes é oferecido. Teologia está na forma e no conteúdo, sendo que nesse
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último é mais evidente. Mas também as escolhas do grupo, referentes à utilização de um ou outro espaço ou tempo dentro do culto, são escolhas teológicas. Se o altar se torna local de apoio de microfones, por exemplo, isso “fala” sobre as compreensões litúrgico-teológicas da comunidade. Se o púlpito ou a pia batismal precisam ser retirados para a colocação dos instrumentos, isso “fala” de escolhas litúrgico-teológicas daquela comunidade. Essa linguagem espacial também “forma” a comunidade. Da mesma forma, com a estrutura do culto. Quando há, no repertório
escolhido, uma polarização temática (geralmente, temos visto a predominância de repertório doxológico e escatológico, em detrimento de outras temáticas), isso “fala” das ênfases teológicas da comunidade. Por fim, por ser a música propícia à avaliação processual, sugere-se que esta mesma prática seja inserida na condução do próprio grupo – já que os jovens também procuram uma perspectiva de reversibilidade, de reopção; o grupo pode, de forma dinâmica, avaliar processualmente sua existência e sua pertinência na vida comunitária.
Manual de Ciência Litúrgica (Volume 01) O Manual de Ciência Litúrgica foi organizado na Alemanha pelos professores HansChristoph SchmidtLauber, Karl-Heinrich Bieritz e Michael MeyerBlanck. A decisão de traduzi-lo para o português justifica-se por sua consistência científica e abrangência com que o culto e as ciências litúrgicas são tratados e pelo referencial protestante do manual, algo que julgamos de grande necessidade para o estudo, pesquisa e práticas litúrgicas no contexto brasileiro e latino-americano. A obra original, com mais de mil páginas, será publicada no Brasil em quatro volumes, assim concebidos: MANUAL DE CIÊNCIA LITÚRGICA Volume 1 – Fundamentos do culto cristão Volume 2 – História e forma do culto Volume 3 – Os ofícios casuais/A configuração do culto Volume 4 – Práticas especiais do culto cristão SCHMIDT-LAUBER, Hans-Christoph; BIERITZ, KarlHeinrich; MEYER-BLANCK, Michael (Org.). Manual de Ciência Litúrgica: Fundamentos do culto cristão. Vol. 1. São Leopoldo: Sinodal/CRL, 2011.
Trabalhar com as juventudes, de forma contextualizada, de acordo com as práticas acima, pode ser uma possibilidade bastante rica de inserção das mesmas na vida comunitária. E também de permanência, pois, à medida que vão crescendo na corresponsabilidade com a vida de culto, os jovens vão construindo e ocupando espaços relevantes não somente para o futuro, pois já estão vivendo aqui e agora.
Soraya Heinrich Eberle é doutora em Teologia (Faculdades EST) e coordenadora de Música da IECLB.
Liturgia com os pés Estudo sobre a função social do culto cristão Se houvesse uma definição para a Romaria da Terra, poderia ser designada de liturgia com os pés. Os pobres da Romaria da Terra redescobriram a importância dos pés, assumindo o papel depreciado dessa parte do corpo como sinal de seu papel na sociedade. Os peregrinos da Romaria são, eles próprios, os pés do sistema excludente. Como pés, eles são os que, de fato, sentem e sofrem a realidade, pois “ao caminhar estão sempre com um ou dois pés no chão”. Enfim, os peregrinos da Romaria da Terra se reconhecem por seu papel como pés da sociedade. Quando eles andam pela Romaria, expressam o que são, o que procuram, como procuram e, ao mesmo tempo, sua força profética como os pés do sistema. No caso concreto do culto na IECLB, parece fazer sentido uma relação entre a base litúrgica e os pés de cada comunidade, aquela base que coloca as pessoas em movimento na comunidade. Talvez a igreja necessite pôr-se a caminho, à procura de si mesma no mundo. Talvez ela precise, assim como na Romaria, entender-se a partir de seus pés. O culto é o lugar dos primeiros passos. ADAM, Júlio Cézar. Liturgia com os pés: estudo sobre a função social do culto cristão. São Leopoldo: EST/Sinodal, 2012.
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EXPERIÊNCIAS LITÚRGICAS
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Símbolos litúrgicos e festas cristãs Estudo e experiência celebrativa com um grupo de jovens ERLI MANSK
Como trabalhar um tema com tantos jovens de forma envolvente e, ao mesmo tempo, com um conteúdo significativo? Essa foi a minha preocupação, quando recebi o convite para desenvolver o assunto com esse público. Pensei em usar a própria celebração como forma de envolver o grande grupo mais ativamente com a temática em foco. 1. No primeiro dia, durante toda a manhã, fiz uma exposição do tema, apontando para a sua importância dentro da liturgia e na vida de fé da comunidade cristã, a partir das seguintes perguntas motivadoras: Que relação tem o culto cristão com os símbolos? Qual a importância e o significado dos símbolos litúrgicos? Qual a nossa relação com os símbolos litúrgicos? Qual o sentido das
que a Páscoa está no centro das festas cristãs, sendo o núcleo teológico e fundante do ano litúrgico. Isto significa que, para a comunidade cristã, o fundamento mais importante de sua fé é o fato de que Cristo morreu, foi sepultado e ressuscitou pela nossa salvação. E isto a comunidade cristã, desde os seus inícios, tratou de celebrar num dia por semana, o Domingo, numa festa por ano, a Páscoa, e durante um período por ano, o pascal. Não há dúvidas de que a fé no Cristo morto e ressurreto é o motivo maior que leva a comunidade cristã a realizar suas festas e a celebrar a sua fé. Alex Reblim
Nos dias 18 a 21 de fevereiro de 2012, durante o Carnaval, aproximadamente 200 jovens se reuniram nas dependências da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Palmeira de Santa Joana, município de Itaguaçu/ES. Entre atividades como oficina de música, dança, massoterapia, teatro, audiovisual, símbolos litúrgicos e outras, o grande grupo se reuniu durante duas manhãs para estudar o tema “Símbolos litúrgicos e festas cristãs”.
festas cristãs? Como elas surgiram? Quais são as principais festas cristãs? De que falam as festas cristãs? Como elas estão organizadas? Quais são os símbolos e as cores relacionados às festas cristãs? No desenvolvimento do tema, foram considerados, em especial, os aspectos litúrgicos e históricos do ano litúrgico. Olhamos para os inícios da comunidade cristã e vimos a importância que tem o Domingo, como dia em que a comunidade cristã se reunia para celebrar a fé no Cristo ressurreto. O Domingo, originalmente, era a festa mais importante para a comunidade, sendo celebrado como uma pequena Páscoa semanal! Aos poucos, a Páscoa se tornou uma festa anual, e, em torno dela, foram organizados, em anos posteriores, o período quaresmal e o pascal. Pentecostes se tornou a segunda festa mais importante da Igreja, seguida de Epifania e, por último, Natal. Fato significativo é
2. Após ter desenvolvido o tema “Símbolos litúrgicos e festas cristãs” de forma expositiva, passamos, num segundo momento, a preparar uma celebração. O objetivo desta era celebrar a fé através da passagem pelas principais festas cristãs. Montamos, no grande espaço litúrgico, sete estações (Advento, Natal, Epifania, Quaresma, Semana Santa, Ascensão e Pentecostes). Os jovens foram envolvidos na organização deste espaço. Cada coordenador/a de uma oficina assumiu, com o seu grupo, uma função. O grupo da oficina de “símbolos litúrgicos” coordenou a montagem das estações. O grupo de teatro assumiu as ações
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dramatúrgicas, por exemplo, a da representação da morte de Cristo, realizada ao redor da estação da Semana Santa, assim como do lava-pés, entre outras. O grupo de audiovisuais montou imagens para representação da Ascensão. O grupo de saúde integral deixou-se desafiar a organizar a estação do Advento, e o grupo de música assumiu a música da celebração. Os demais ajudaram nos serviços gerais de organização do espaço litúrgico.
marcar que o início da atividade (missão) de Jesus neste mundo se deu com seu batismo e a escolha de discípulos. A próxima estação foi a da Quaresma, destacada com uma cruz, cascas, folhas e galhos secos que lembram a nossa fragilidade como seres humanos e criaturas diante de Deus, sujeitas ao pecado. No centro do espaço litúrgico, foi organizada a estação da Semana Santa. Ali lembramos o lava-pés (o qual foi representado pelos jovens), a última ceia e a entrega e morte de Jesus. Nesta estação, os jovens foram convidados a dobrarem os joelhos e baixarem a cabeça até o chão para refletir sobre o significado da morte de Jesus.
Na primeira parte da celebração (liturgia de entrada, com convocação da comunidade, invocação da trindade e motivação para o momento celebrativo), a comunidade estava sentada, em um semicírculo. Num segundo momento, a comunidade foi convidada a levantar e caminhar, com paradas sucessivas, ao redor de cada uma das estações do ano litúrgico.
Enquanto isso, um grupo de jovens transformava a estação da Semana Santa (de traços penitenciais – com tecidos escuros, etc.) em estação da Páscoa, um ambiente alegre (com tecidos brancos, flores, círio pascal, bolas coloridas), expressando o fim da morte e a vitória da vida! Ao redor desta estação, o grupo manifestou sua alegria pela ressurreição de Jesus, através do Gesto da Paz.
A primeira foi a do Advento. Ali recordamos nossa preparação para receber o Deus que vem a nós em Jesus Cristo. Foi construída, no chão, uma grande coroa de advento, com quatro velas, as quais foram acesas no momento específico.
Após isso, todos caminharam para a estação da Ascensão. O grupo da oficina de áudio visual havia preparado imagens que foram projetadas na parede, mostrando lugares e situações do cotidiano, onde Cristo está presente, seguidas da frase “Em todos os lugares”.
Dali se partiu para a estação do Natal, ornamentada com símbolos alusivos. Nesta estação foi enfatizada a vinda de Deus a nós, nascendo como nós, no filho de Maria. Seguimos para a estação de Epifania. Nesta, além de símbolos como os presentes dos reis magos, havia uma rede de pesca, adornada com peixes e uma vasilha com água. Com esta representação, queríamos
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*As fotos desta página são de Alex Reblim e Erli Mansk.
Por último, caminhamos para a estação de Pentecostes.Ali foi acesa uma grande chama representando a força da pre-
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sença de Cristo em sua comunidade. Cada participante recebeu uma vela, a qual foi acesa na chama da representação do Espírito Santo. Essa última estação foi localizada no mesmo ambiente onde a celebração teve seu ponto de partida. Assim, todos puderam novamente se sentar para a finalização da celebração com oração e bênção.
como num encontro cujo tema trata dessa temática. O campo dos símbolos litúrgicos e festas cristãs mexe com a nossa criatividade. O mesmo processo, aplicado ao grupo de jovens, pode ser vivenciado com outros grupos. Por exemplo, imagino uma atividade com crianças que busque estudar e celebrar a entrada num determinado ciclo ou festa do ano litúrgico. As próprias crianças podem participar da ornamentação do espaço celebrativo e da concepção e elaboração de símbolos. O mesmo vale para um grupo de mulheres, entre outros. Certamente trará bons resultados!
3. Esta experiência me mostrou que uma atividade com jovens que une estudo e celebração resulta em algo muito significativo. Além de ouvir e receber informações, o grupo se envolve com o assunto estudado, partilha do seu conhecimento, participa da sua interpretação, ao mesmo tempo em que faz uma experiência de fé. A celebração permitiu que o grupo participasse ativamente na criação de símbolos litúrgicos, em sua representação plástica, além de ajudar a refletir sobre o significado que as festas cristãs e os símbolos litúrgicos têm para nós, enquanto indivíduos e comunidade. Evidentemente, enfocar, numa mesma celebração, as diversas festas do ano litúrgico é algo que se faz num momento especial,
Tr a b a l h a r c o m jovens é um desafio estimulante! O jovem traz, em sua essência, uma força de vontade que faz acontecer, não tem medo de errar, é criativo.A igreja perde muito em renovação da vida comunitária e litúrgica quando não inclui e não abre espaços para a participação efetiva dos jovens. É do encontro da animação, coragem e leveza dos jovens com a experiência, equilíbrio e sabedoria dos adultos que uma igreja pode se tornar mais viva, dinâmica e atrativa.
*As fotos desta página são de Alex Reblim.
Erli Mansk é catequista da IECLB, doutora em teologia e atua na Coordenação de Liturgia da IECLB.
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Celebrações juvenis Um relato de experiências
Jevel
JULIANA RUARO ZACHOW
A celebração com o envolvimento de jovens é uma experiência muito bonita, marcante e significativa. Quando a juventude se compromete a participar deste momento, ela contribui com sua criatividade, seu jeito de pensar, de falar e de vivenciar a celebração.
As celebrações não precisam seguir sempre a mesma estrutura litúrgica. Contudo, é importante que, ao preparar uma celebração, três pontos sejam levados em consideração. Estes três pontos estão descritos no Livro de 1
As celebrações com jovens podem acontecer juntamente com toda a comunidade reunida ou apenas no próprio grupo, em acampamentos, encontros ou retiros.
a) Saber: Qualquer celebração traz consigo uma dimensão
O objetivo deste artigo é, a partir de minha experiência no trabalho com jovens na Igreja, refletir sobre as celebrações nos grupos, oferecendo subsídios para outras celebrações.
intelectual e cognitiva ; por isso, é importante que seja escolhido um texto bíblico para a mensagem e que a reflexão seja de acordo com o texto bíblico e a confessionalidade da igreja.
1. Fundamentos para a preparação da celebração
Culto da IECLB e são: “saber, sentir, fazer”.Abaixo descrevo cada um destes pontos:
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b) Sentir: A celebração é feita por pessoas. “E essas pessoas têm sentimentos. Elas têm emo3
ções. São seres afetivos” . Os
1. IECLB (Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil), Livro de Culto. Porto Alegre, 2003. p. 24. 2. IECLB, 2003, p. 24. 3. IECLB, 2003, p. 24.
jovens prestam mais atenção em uma celebração que reflita sobre o contexto deles, que fale dos seus medos, alegrias e frustrações. Para a juventude, esta experiência pode se tornar ainda mais marcante do que para um adulto, pois a experiência afetiva em grupo tem relação com os laços de amizade que o grupo lhe proporciona. c) Fazer: A experiência vivida (o sentir) aliada com a Palavra de Deus (o saber) motiva os/as jovens a refletirem sobre sua caminhada como pessoas cristãs e como sua fé faz sentido em sua vida. Nesta perspectiva, encontramos o terceiro ponto do tripé: o fazer. As pessoas necessitam de algo através do qual possam lembrar aquilo que lhes foi ensinado. Nem sempre o “fazer” nas celebrações precisa ser uma dinâmica;
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pode ser um gesto, um hino, um compromisso que o grupo assumiu em conjunto, uma ação que será planejada pelo grupo.
2. Sugestões litúrgicas para as celebrações É importante preparar um ambiente acolhedor e convidativo para a celebração. Se possível, sempre fazer um círculo de cadeiras para as pessoas sentarem durante a celebração. O círculo dá a ideia de igualdade entre todas as pessoas e favorece a amizade, algo que os jovens buscam nas atividades. Também é interessante organizar o espaço litúrgico com um
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No trabalho com jovens, a experiência demonstra que nem sempre aquilo que planejamos realmente acontece, ou então as reflexões se encaminham para algo que não estava proposto no tema. Nestas situações, é necessário ouvir o que os/as jovens estão querendo expressar à luz do Evangelho. Pois cremos que “o Trino Deus, cuja ação primeira, generosa, graciosa criou e sustenta a comunidade, está e age no culto [celebração]
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através do Espírito Santo” .
altar, que pode ser em cima de uma mesa fechando o círculo de cadeiras, ou então no centro, no chão envolto de panos e centralizado no círculo. Preparar o ambiente é importante para que o grupo perceba que terá uma celebração e, ao mesmo tempo, desperta a curiosidade:“o que será que vai acontecer neste encontro?”. Para a reflexão do texto bíblico é interessante usar imagens, símbolos, músicas (jovens gostam muito de músicas com gestos) ou algum objeto que sirva como elemento indicador do texto bíblico ou do tema da reflexão: teatros, dinâmicas, gestos litúrgicos entre outros subsídios. Utilize apenas um texto bíblico, para não dispersar a atenção do grupo. Quando usar textos longos, imprima os textos e os disponibilize para que o grupo leia em conjunto. Dessa forma, o grupo estará focado no texto, poderá fazer perguntas e também identificará com maior clareza o objetivo da mensagem. Muitas pessoas usam histórias do cotidiano como introdução da reflexão bíblica ou como conclusão da mesma. Este é um recurso interessante, mas precisa estar conectado com a mensagem do texto bíblico. Quando usar dinâmicas, procure aquelas que favoreçam o diálogo. Isso faz com que os/as jovens foquem no assunto proposto relacionando-o com sua vida. Também procure dinâmicas que fortaleçam a cooperação, a solida-
4. IECLB, 2003, p. 24-25.
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riedade entre o grupo, o respeito e a afetividade. Ao preparar uma celebração, inclua apenas uma dinâmica para que esta seja o principal movimento do grupo. As dinâmicas podem estar relacionadas tanto à dimensão do “sentir” quanto do “fazer”, e podem acontecer tanto antes da leitura do texto bíblico quanto depois. As dinâmicas são boas ferramentas no trabalho em grupo, pois ajudam a refletir sobre si próprio e os relacionamentos interpessoais e com Deus. Favorecem, assim, a compreensão de grupo, fortalecem as amizades e também ajudam no exercício de valores, como o respeito, a tolerância e o amor cristão. É interessante envolver os/as jovens. Cada pessoa tem um dom; por isso, é importante conhecer cada integrante. Um exemplo para isso: convidar jovens para coordenarem o louvor e a música; para prepararem uma mensagem ou dinâmica; desafiá-los para fazerem uma oração ou proferirem uma bênção; prepararem algo na celebração que todos possam fazer em conjunto. Quando desafiamos os/as jovens para fazerem algo em equipe, geralmente todos participam da ação. Na fase da juventude, o sentimento de coletividade, a afetividade e a igualdade são muito importantes. E estas experiências marcarão para sempre a vida dos jovens. Quem teve a oportunidade de vivenciar estas experiências na sua juventude sabe como elas
foram importantes no seu crescimento pessoal, relacional e espiritual.
dois anos, no mínimo).
Tema: As aparências enganam.
3. Convivendo com jovens: uma proposta celebrativa A celebração que compartilho foi vivenciada no grupo de jovens da Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Cascavel, no Paraná. Esta é apenas uma proposta que pode ser modificada. Para esta celebração, é interessante que o grupo já tenha certo tempo de caminhada (entre um e
NA FASE DA JUVENTUDE, O SENTIMENTO DE COLETIVIDADE, A AFETIVIDADE E A IGUALDADE SÃO MUITO IMPORTANTES. E ESTAS EXPERIÊNCIAS MARCARÃO PARA SEMPRE A VIDA DOS JOVENS.
Objetivo: Refletir sobre como as pessoas se enganam quando valorizam apenas a aparência, compreendendo, através do texto bíblico, que o mais importante são o caráter e os valores da pessoa. Preparação do ambiente: Organizar um círculo com as cadeiras e também um altar. No altar, coloque uma cruz, uma bíblia, uma vela, flores. Disponibilize bíblias ou o texto de 1Sm 16.1-13 para a leitura compartilhada com o grupo, canetinhas hidrocor e aventais. Prepare anteriormente uma espécie de avental para cada participante do grupo. Este avental pode ser confeccionado da seguinte forma: pegue duas folhas A4 e perfure as duas folhas na parte superior. Depois use um barbante com 50 cm de comprimento e insira-o nos furos da folha, amarrando as pontas. Este avental será entregue para cada participante, sendo que uma folha ficará na frente e a outra nas costas da pessoa.
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Roteiro da celebração a) Acolhida e boas-vindas; b) Músicas; c) Oração inicial; d) Introdução ao tema. O tema da nossa celebração é “As aparências enganam”. Vocês já se enganaram com alguém? Vocês já tiveram uma “primeira impressão” negativa de uma pessoa e, depois de conhecê-la, mudaram sua opinião sobre aquela pessoa? Como será que as outras pessoas me veem? Como será que eu me vejo em relação às outras pessoas? Vocês acreditam naquele ditado popular: “a primeira impressão é a que fica”? (Faça uma pausa entre uma pergunta e outra para que o grupo possa conversar sobre suas experiências). e) O texto bíblico que vamos ler e ouvir fala de alguém que não tinha uma aparência de rei e, mesmo assim, foi escolhido por Deus. As pessoas tinham uma opinião sobre ele, a partir da sua aparência, mas Deus vê além da aparência das pessoas. Vamos descobrir qual foi a ação de Deus neste texto. f) Leitura do texto bíblico: 1 Samuel 16.1-13; g) Reflexão sobre o texto bíblico. Davi, personagem bíblico, foi escolhido por Deus para ser o rei do povo judeu. A história de sua escolha foi muito impressionante para sua família. Davi não tinha aparência de um rei, conforme o imaginário do povo. Um rei “precisava ser” forte, guerreiro e vencedor de muitas batalhas. Samuel, profeta fiel de Deus, vai visitar a família de Davi. O pai de Davi apresenta-lhe todos os seus oito filhos, menos o caçula, Davi, que está no
campo cuidando das ovelhas. O jovem Davi era desprezado pelos irmãos. Ele era de estatura baixa e de aparência bonita. Além disso, era músico, habilidoso, criativo e inteligente. Samuel não escolhe nenhum dos irmãos de Davi e pede a seu pai que busque o filho caçula. Davi foi escolhido por Deus e ungido rei através de Samuel. Também Samuel fica assustado com a escolha de Deus, mas Deus o alerta: “Não se impressione com a aparência, porque as pessoas veem as aparências, mas eu vejo o coração” (1Samuel 16.7). h) Dinâmica do antes e depois: Vocês vão receber um avental e vesti-lo. Uma folha ficará para frente e outra para trás, representando assim o antes (frente) e o depois (costas). A tarefa é a seguinte: vocês irão escrever na folha da frente (o antes) do amigo ou da amiga, ou seja, qual foi a primeira impressão que vocês tiveram dela. Peço que sejam sinceros, mas tenham respeito pela pessoa. Podem escrever uma palavra ou uma frase. Depois vocês irão escrever na folha das costas (o depois) como você vê hoje esta pessoa, quais são as suas qualidades, seus dons, o que você aprendeu convivendo com esta pessoa. (Entregar para cada jovem o avental que foi confeccionado e uma caneta hidrocor. Sugestão: Pedir para que o grupo escreva primeiro na
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i) Reflexão – primeiro momento: Convidar o grupo para sentar e ler tudo o que foi escrito sobre si. Perguntar ao grupo se alguém quer falar sobre algum sentimento ou dúvida em relação ao que foi escrito; se ficou impressionado/a com algo que foi escrito. Outras perguntas podem surgir. O mais importante é que os/as jovens possam expor os seus sentimentos em relação ao que foi escrito. j) Reflexão – segundo momento: No início da nossa celebração, perguntei se vocês acreditavam naquele ditado “a primeira impressão é a que fica”.
Quantas vezes vemos jovens com roupas diferentes; vemos jovens pelas ruas sem destino; vemos jovens plugados no computador; jovens lutando para ter um corpo perfeito musculoso ou igual ao de uma modelo. A juventude é mais do que uma “carinha bonita”. A juventude quer mais do que um corpo conforme os padrões da mídia; ela pode fazer mais com suas ideias, sua inteligência e habilidades. Os jovens têm a potencialidade de criar, recriar, refletir e contribuir para mudar o contexto. As juventudes querem contribuir com seus talentos para fazer a diferença no mundo, olhando as pessoas a partir de seu caráter e de seus valores e não a partir, apenas, de sua aparência. Jevel
parte da frente, o antes. Depois que todos terminaram a parte da frente, o antes, motivar para fazer a segunda parte, o depois).
Depois de termos feito esta dinâmica, será que é a primeira impressão a que fica? Podemos dizer que realmente as aparências enganam? Nesta dinâmica, sentimos que realmente as aparências enganam. Quando começamos a conviver com as pessoas, realmente as conhecemos. Quando nos tornamos amigos e amigas das pessoas, não vemos a aparência, vemos o coração. Assim Deus age conosco. Deus olha para além da nossa aparência. Deus vê o nosso coração.
l) Oração: motivar o grupo para orar e finalizar com a oração do Pai Nosso. h) Bênção final.
Juliana Ruaro Zachow é catequista da IECLB e atua na Comunidade Evangélica de Confissão Luterana de Cascavel/PR.