7 minute read

Faculdade Ciências da U. Lisboa

Next Article
Electrão

Electrão

O que podemos esperar do Laboratório Vivo para a Sustentabilidade @ Ciências ULisboa para o futuro e quais os projetos ou atividades que ainda pretende implementar no âmbito da promoção da sustentabilidade?

A criação do Laboratório Vivo@Ciências agrega e consolida um conjunto de iniciativas em curso já há vários anos, mas que agora se alinham no âmbito da estratégia da Escola em se assumir como uma comunidade, colaborativa e inclusiva, preocupada com o futuro, e que adota conscientemente os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Tratando-se de uma instituição de ensino superior, um dos seus eixos prioritários de atuação é a promoção de uma educação de qualidade (ODS 4) assente na promoção dos princípios da sustentabilidade. A sua ação extravasa esta prioridade assumindo uma estratégia de governança que aplica esses princípios, desenvolve investigação na procura de soluções para os problemas societais, e promove o envolvimento ativo da sua comunidade “dentro-e-fora” de portas. Ciências manterá este compromisso com a transformação da sociedade e a sua visão de futuro em prol do desenvolvimento sustentável. Em resumo, este Laboratório Vivo pretende ser uma janela de partilha de boas práticas aberta ao exterior através da qual Ciências pretende contribuir e receber contribuições para o desafio da sustentabilidade.

Advertisement

ELECTRÃO CONFIAR PARA RECICLAR

O Electrão é, desde 2005, um dos motores da reciclagem de resíduos em Portugal, sendo, atualmente, uma das principais entidades gestoras a atuar em Portugal na área da responsabilidade alargada do produtor, e é a única a gerir três fluxos de resíduos: equipamentos elétricos e eletrónicos (EEE), de pilhas e acumuladores (PA) e embalagens. Merece a confiança de cerca de 2 mil empresas deste setor de atividade. Pedro Nazareth, diretor geral do Electrão, avalia em entrevista a evolução da atividade do Electrão dentro do contexto da reciclagem em Portugal e dá a conhecer algumas das iniciativas desenvolvidas pela entidade.

PEDRO NAZARETH

O Electrão, entidade gestora de embalagens, pilhas e equipamentos elétricos usados, conta com mais de dois mil aderentes ao seu sistema de reciclagem. De que forma o Electrão ajuda estas empresas a cumprir as suas obrigações no âmbito da responsabilidade alargada do produtor?

Estas mais de duas mil empresas clientes transferem para o Electrão a responsabilidade pela recolha e reciclagem das embalagens, pilhas e equipamentos elétricos que comercializam no mercado português quando estes produtos e respetivas embalagens atingem o seu fim de vida útil. Esta oferta integrada é justamente a grande mais-valia da nossa organização, que possibilita às empresas assegurarem as respetivas responsabilidades de gestão de fim de vida, através de uma única entidade, o Electrão. Todos os produtores, embaladores ou distribuidores estão obrigados a submeter a gestão dos resíduos resultantes dos produtos que introduzem no mercado a uma entidade gestora do sistema de reciclagem. Trata-se de instrumento da política de ambiente e de gestão de resíduos que permite responsabilizar operacional e financeiramente estes operadores económicos pela gestão em fim de vida dos seus produtos. Um produtor, importador ou distribuidor de um equipamento elétrico, por exemplo, que tem uma embalagem associada ao seu produto, com a respetiva pilha ou bateria, pode aderir ao nosso sistema, cumprindo todas as obrigações legais a que tem que responder, sem necessidade de se dividir em três sistemas, com todas as vantagens operacionais e financeiras que daí advêm. Estas sinergias possibilitam que entreguemos os melhores resultados na gestão destes fluxos específicos de resíduos.

Qual a importância que as empresas atribuem hoje em dia à dimensão ambiental?

A dimensão ESG (Environmental, Social and Governance) é cada vez mais valorizada pelas empresas. Diz respeito a fatores de natureza não só ambiental, mas também social e de governança das sociedades que são cada vez mais críticos em todo o tipo de empresas e organizações. Compatibilizar a atividade económica com as questões ambientais é um desafio que está em cima da mesa de todos os conselhos de administração. É incontornável. Esta é uma urgência ditada pela mudança que o planeta reclama, que os consumidores exigem e a que as empresas têm que dar resposta. Isto leva-nos para um outro desafio para o qual o Electrão tem alertado no âmbito das múltiplas campanhas que desenvolve. A reciclagem já não responde de forma suficiente às necessidades atuais do planeta. Não apenas porque ainda há uma margem muito grande de progressão nos sistemas de reciclagem, através do aumento da separação, da recolha seletiva, e da própria tecnologia de reciclagem, mas também porque é preciso mudar o nosso modo de vida, o nosso conforto egoísta se queremos verdadeiramente colocar em marcha a economia circular, indispensável na transição climática. O nível de circularidade da economia mundial é apenas de nove por cento. Mesmo que os sistemas de reciclagem do mundo fossem 100 por cento eficazes, só garantiríamos 30 por cento das necessidades de consumo com materiais reciclados, o que significa que teríamos que continuar a extrair materiais da crosta terrestre na ordem de 70 por cento para alimentar o consumo, que continua a crescer mundialmente.

Os portugueses estão mais conscientes para a importância da separação e encaminhamento para reciclagem dos resíduos produzidos?

O Electrão trabalha diariamente neste esforço de sensibilização e educação para levar os portugueses a reciclar cada vez mais e melhor contribuindo para o cumprimento das ambiciosas metas a que Portugal está vinculado.

A evolução é notória, ano após ano, fruto dessa aposta na sensibilização, mas há ainda um vasto caminho a percorrer. Conscientes do que há ainda a fazer lançámos em maio o movimento “Faz pelo Planeta By Electrão”. Trata-se de uma campanha que quer trazer para a ribalta os extraordinários ambientalistas anónimos que são cidadãos exemplares a este nível. Queremos que sirvam de inspiração e que se tornem verdadeiros “big changers”. Como salientam os influencers, que são nossos parceiros neste projeto, não é preciso operar grandes mudanças. Ter um saco reutilizável à porta, recusar as palhinhas, usar uma garrafa de água reutilizável e separar as embalagens, por exemplo, são pequenos gestos que podem fazer a diferença. Este deveria ser um desígnio nacional que deveria merecer o envolvimento de todos os stakeholders, começando no cidadão, Governo e administração central, mas sem esquecer as autarquias e empresas. E porque o papel das empresas é fundamental queremos também premiar, no âmbito desta campanha em particular, os “corporate changers”, aquelas pessoas que fazem a diferença a este nível dentro das organizações e que funcionam como impulsionadores da mudança. O movimento “Faz pelo Planeta By Electrão” vai levar os dois vencedores, o “Big Changer” e o “Corporate Changer”, a uma viagem pelo maior parque florestal da Europa na Polónia.

Como avalia a evolução da reciclagem de resíduos de embalagens, pilhas e equipamentos elétricos usados em Portugal?

Em 2020, em plena pandemia, o Electrão aumentou a recolha de embalagens, pilhas e equipamentos elétricos usados, o que é notável porque significa que apesar das limitações continuámos a contar com a colaboração da população e empresas para assegurar a recolha, triagem, tratamento e valorização de embalagens, pilhas, baterias e equipamentos elétricos usados. Durante o ano passado o Electrão reciclou quase 50 mil toneladas de embalagens usadas, o equivalente a cinco quilos por habitante, mesmo com o fator Covid-19, registando um crescimento de 19 por cento nas quantidades enviadas para reciclagem face ao ano anterior. Em 2020 foram também recicladas cerca de 17 mil toneladas de equipamentos elétricos fora de uso, o que corresponde a dois quilos de equipamentos elétricos usados por cada cidadão. As quantidades de equipamentos elétricos usados recolhidas pelo Electrão cresceram em 2020 cerca de 20 por cento, comparativamente com o ano anterior, consequência direta da atividade da subsidiária Electrão Recolha e Reutilização que operou uma verdadeira alteração do modelo logístico da recolha e da expansão do número de locais de recolha no país. O Electrão recolheu ainda 346 toneladas de pilhas e baterias usadas, ou seja, aproximadamente 34 gramas de pilhas e baterias portáveis per capita. É de salientar o reforço do número de locais da rede de recolha de pilhas e baterias que cresceu para mais do dobro passando de 2098, em 2019, para 4499 pontos de recolha em 2020. Todos estes números estão no Relatório Executivo que o Electrão acaba de lançar, que está disponível online e sintetiza, de forma simples e transparente, com recurso a infografias, os resultados alcançados em 2020. Apesar de todos estes resultados que nos motivam, temos total consciência que enquanto país temos que fazer muito mais e num curto espaço de tempo. Temos lançado diversas iniciativas para acelerar as alterações aos sistemas de reciclagem que entendemos importantes para percorrer este caminho. Mas começa em cada um de nós e na nossa esfera de atuação individual.

"Durante o ano passado o Electrão reciclou quase 50 mil toneladas de embalagens usadas, o equivalente a cinco quilos por habitante, mesmo com o fator Covid-19, registando um crescimento de 19 por cento nas quantidades enviadas para reciclagem face ao ano anterior"

This article is from: