ABRIL • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO
ALGARVE E ALENTEJO
11.891 EXEMPLARES www.issuu.com/postaldoalgarve
• Património
Reinventar o sentir
ABR | 2011 • Nº 32 • Mensal • O Cultura.Sul faz parte integrante da edição do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente
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Rui André quer afirmar Monchique como destino cultural » p. 8
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Cultura.Sul 07.0 4. 2011
momento
Simplex dictum
Vítor Correia
João Evaristo
Editor Cultura.Sul
Natal em Abril Abril! Tempo de festas e comemorações! É como o Natal, uns comemoram a 24, outros a 25. Há quem não comemore. Depende da tradição. Da família de que se provém. Gastos excessivos para uns. Oportunidade de negócio para outros - para as f loristas, por exemplo - a ver se a coisa anima a economia. Tempo de reflexão, das reuniões de família. Quadra de liberdade. Libertinagem. Conquistas. Excessos. Derrotas. Muita Cultura. Promovem-se recitais. Entoam-se bonitas melodias. Muitas cantigas. Cantigas de intervenção, abrileiras, revolucionárias, datadas, intemporais. Cantigas a florir, como cravos! Cantigas cravadas na alma! E enquanto se espera a chegada do Menino, do Salvador, do FMI, do FEEF, do SARL, do D. Sebastião - o que seja! recordam-se os clássicos: «Estás desiludido com as promessas de Abril, né? As conquistas de Abril! Eram só paleio a partir do momento que tas começaram a tirar e tu ficaste quietinho, né filho? E tu fizeste como o avestruz, enfiaste a cabeça na areia, não é nada comigo, não é nada comigo, né? E os da frente que se lixem... E é por isso que a tua solução é não ver, é não ouvir, é não querer ver, é não querer entender nada, precisas de paz de consciência, não andas aqui a brincar, né filho? Precisas de ter razão, precisas de atirar as culpas para cima de alguém e atiras as culpas para os da frente, para os do 25 de Abril, para os do 28 de Setembro, para os do 11 de Março, para os do 25 de Novembro, para os do... que dia é hoje, hã?» [FMI (excerto) - José Mário Branco]
Pormenor de Escultura de Bailarina em Quinta dos Vales - Estombar
biblioteca
Elisete Santos
3ª Mostra de Bibliotecas Escolares de Faro Durante os dias 2, 3 e 4 de Abril, o Forum Algarve recebeu, pelo 3º ano consecutivo, a Mostra de Bibliotecas Escolares de Faro, que se realizou no âmbito do Mês da Leitura com o tema «As Imagens Têm Texto». Esta iniciativa efectuou-se através de uma parceria estabelecida entre a Direcção Regional de Educação do Algarve, o Forum Algarve e o Grupo de Trabalho da Rede de Bibliotecas Escolares do Concelho de Faro. O piso zero do Forum Algarve transformou-se durante três dias numa biblioteca escolar, com o objectivo de divulgar a Rede de Bibliotecas Escolares, sensibilizar a comunidade, em particular as famílias, para “a importância que este programa desempenha no suporte às aprendizagens, no desenvolvimento de competências de informação, na formação de leitores e na promoção de hábitos de leitura”. Durante estes três dias foram realizadas actividades como: retratos de época, atelier de escrita criativa, construção de textos, oficina de imagens, construção de brinquedos ópticos e oficinas de Photo Story, que conta-
Representantes da RBE de Faro, DREAlg, Câmara de Faro e Forum Algarve reunidos no encerramento da mostra ram com a significativa participação dos utentes do Forum Algarve e de algumas turmas das escolas que visitaram este espaço. O encerramento desta Mostra decorreu no dia 4 de Abril pelas 15.30 horas, assistindo-se à apresentação do
grupo de teatro “Tou(en)Cena”, contou com a presença do Dr. António Nogueira, representante do gabinete da RBE, Dr. Eduardo Dias, Director Regional de Educação Adjunto, Dr.ª Sandrine Pires, representante da Administração do Forum Algarve,
Dr.ª Alexandra Gonçalves, Vereadora da Cultura da CMF, Dr.ª Filomena Branco, representante pelo sector das BE da DREAlgarve, Dr.ª Madalena Santos, coordenadora Interconcelhia das BE de Faro e professores bibliotecários.
Colaboradores: António Pina, Cineclube de Faro, Cineclube de Olhão, Cineclube de Tavira, AGECAL, ALFA, Maia Coimbra, Helena Tapadinhas, Maria Cabral, Marta Dias, Pedro Jubilot.
Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve.
on-line: www.issuu.com/postaldoalgarve
Ficha Técnica Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: João Evaristo Paginação: Postal do Algarve
Responsáveis pelas secções: » panorâmica.S: Ricardo Claro » biblioteca.S: Elisete Santos » livro.S: Adriana Nogueira » palco.S: João Evaristo » momento.S: Vítor Correia » baú.S: Joaquim Parra » políticas.S: Henrique Dias Freire » museu.S: Isabel Soares
e-mail: geralcultura.sul@gmail.com
Tiragem: 11.891 exemplares
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cinema ‘Hotel Abril’
Cineclube de Faro
Pedro Jubilot
Eh Companheiros, Aqui Estamos! Assim que foi noticiado para Março o Mês Godard, iniciativa da Midas Filmes, associámo-nos ao evento mas transferindo-o para o mês mais adequado para nós: o de Abril, nosso aniversário. Truffaut, presidente honorário da Federação Portuguesa de Cineclubes desde a criação desta, em 1978, até ao falecimento do malogrado realizador, em 1984, com apenas 52 anos, não é só, a par de Jean-Luc Godard, o fundador da Nouvelle Vague; não é só, a par de Jean-Luc Godard, o brilhante teórico e crítico; não é só, a par de Jean-Luc Godard, o consumidor de filmes na cinemateca francesa e nos cineclubes parisienses. Truffaut e Godard são os patronos da nossa existência, são os
companheiros do mesmo caminho, são os faróis que nos iluminam e os arquitectos que nos alicerçam. Truffaut e Godard, na nossa história, são 9 e 21 sessões, respectivamente, 14 e 20 títulos na nossa filmoteca, respectivamente também. Destes, e com a excepção da opção provocatória – que a semana santa assim o obrigou – de Je Vous Salue Marie, escolhemos obras de pendor policial. É noir bebido do americano nada tendo a ver com o americano. É pulsão narrativa a mover arrojos formais. É marginalidade e irreverência e loucura de personagens para além da vida. Como eles, como nós, cineclube resistente e perseverante há 55 anos. E, para iniciar Maio, a remarcação de um filme cuja distribuidora
PROGRAMAÇÃO
18 ABR ¦ Pedro, o Louco, Jean-Luc Godard, França/Itália, 1965, 110
ABRIL
20 ABR ¦ Finalmente, Domingo!, François Truffaut, França, 1983, 110
www.cineclubefaro.com
CICLO EH COMPANHEIROS, AQUI ESTAMOS! Sede ‒ 21H30 ‒ ENTRADA LIVRE
22 ABR ¦ Eu Vos Saúdo, Maria, Jean-Luc Godard, Suíça/França, 1985, 105
11 ABR ¦ A Noiva Estava de Luto, François Truffaut, França, 1968, 107
MAIO
13 ABR ¦ O Bando à parte, Jean-Luc Godard, França, 1964, 95
CICLO POESIA? POR ELA VAMOS! IPJ ‒ 10H30 e 21H30
15 ABR ¦ Disparem sobre o Pianista, François Truffaut, França, 1960, 92
2 MAI ¦ O Mágico, Sylvain Chomet, Reino Unido/ França, 2010, 80 , M/6
nos fintou em Março… O MÁGICO, a comandar uma programação
dedicada à… poesia, que por ela vamos!
Cineclube de Tavira
Exibir cinema nacional é difícil Durante a primeira semana de Abril irá decorrer uma pequena obra de manutenção no Cine-Teatro António Pinheiro, pelo que não haverão sessões nos dias 3 e 7. Já no domingo, dia 10, estaremos de volta com o último filme de Danny Boyle (Trainsporting, Slumdog Millionnaire, entre outros). Exibir cinema nacional é difícil, todos o sabemos e também conhecemos as razões. Também conhecemos o sucesso do conceito “supermercado” em Portugal, no entanto, é raro ver um filme português programado num multiplex, os supermercados do cinema. Os únicos que continuam a demonstrar interesse em exibir cinema feito por cá são os cineclubes e ainda bem que assim seja. Todos nós
o sabemos, incluindo os realizadores e produtores. Só que estamos a enfrentar cada vez mais dificuldades, tentando cumprir a nossa nobre missão. Aqui vem a última: cada vez mais, os fi lmes nacionais apenas são disponibilizados em formato digital. Por vezes, a distribuidora disponibiliza uma cópia dvd para exibição pública, outras vezes não... Os cineclubes podem estar bem equipados (pelo menos alguns têm esta sorte), mas o que não temos é verba para adquirirmos equipamento de projecção digital, que continua a ser bem caro (entre 50 e 60 mil euros). Mais um caso triste é o fi lme BUDAPESTE, com co-produção
PROGRAMAÇÃO
www.cineclube-tavira.com
Sessões Regulares Cine-Teatro António Pinheiro ¦ 21.30 10 ABR ¦ 127 Hours (127 Horas), Danny Boyle, E.U.A./Reino Unido, 2010, 94, M/16 14 ABR ¦ Um Funeral à Chuva, Telmo Martins, Portugal, 2010, 129 , M/16 17 ABR ¦ Toy Story 3 (versão original), Lee Unkrich, E.U.A., 2010, 103 , M/6
entre Hungria, Brasil e Portugal, de Walter Carvalho, que muitos de nós queremos ver e exibir. Apenas há cópias digitais para exibição, portanto, e por enquanto, ficamos
21 ABR ¦ Du Levande (Tu, Que Vives), Roy Andersson, Suécia/Alemanha/ França/Dinamarca/Noruega/Japão, 2007, 95, M/12 23 ABR ¦ Winter s Bone (Despojos de Inverno), Debra Granik, E.U.A., 2010, 100 , M/12 28 ABR ¦ Another Year (Um Ano Mais), Mike Leigh, Reino Unido, 2010, 129 , M/12
à espera de resposta sobre o nosso pedido para disponibilizarem uma cópia dvd ou blu-ray para exibição pública em Tavira. A ver e a seguir...
Cineclube de Olhão
Ciclo Oriente Após duas sessões com entrada livre para duas selecções de curtasmetragens do Festival de Avanca’10, gentilmente cedidas pelo organizador deste Festival de renomeada – O Cineclube de Avanca, o CCO regressa às exibições mais habituais neste mês de Abril. Mais concretamente irá fazer um pequeno ciclo com dois filmes, dedicado ao Oriente, mercado normalmente marginal nas nossas salas de cinema, mas com um cinema quase sempre muito interessante, para além dos clichés do Animé ou das artes marciais. No caso concreto é exibido, a abrir o ciclo, o filme Tóquio, uma
PROGRAMAÇÃO visão de três realizadores sobre esta imponente e muito sui generis cidade, ultimamente muito noticiada pelas questões nucleares devidas à catástrofe que ocorreu naquele país. São três visões diferentes onde nenhum dos realizadores é japonês mas, por isso, apresentam uma perspectiva singular num único filme. Poesia é o título do segundo filme a exibir. Um filme de um realizador coreano – Chang-dong Lee – que tem no seu curriculum poucas, mas boas, longas-metragens, sempre com um lado humano e dramático, ao mesmo tempo que intenso e inspiracional, bem ao estilo oriental. Vencedor na edição
www.cineclubeolhao.com Bilhetes a um e três euros para sócios e não sócios, respectivamente Ciclo Oriente Sala 2 do Ria Shopping ¦ 21.30 5 ABR ¦ Tóquio, Joon-ho Bong, Leos Carax, Michel Gondry, elenco: Ayako Fujitani, Ryo Kase, Ayumi Ito, 2008, 112 , Comédia, Drama, Fantástico, França, Japão, Coreia do Sul, Alemanha, M/16
deste ano em Cannes, na categoria de melhor argumento, será, com certeza, juntamente com Tóquio,
19 ABR ¦ Poesia, Chang-dong Lee, elenco: Jeong-hie Yun, Nae-sang Ahn, Da-wit Lee, 2010, 112 , Drama, Coreia do Sul, M/12
um filme a não perder.
Vico Ughetto
(Presidente da Direcção)
Premiado no Concurso Literário Francisco Guerreiro, de Pechão, em 2010
O Portugal de 1973 era um país já demasiado triste e cansado, à espera de algo que acontecesse. Nos estádios de futebol, o Pantera Negra, que já dera o seu melhor, continuava exilado num país de que há muito o obrigaram a ser. Não podia sair da Luz, mas já começava a entrar no túnel da inevitável decadência. A Diva, de tanto lhe doer a voz e a alma, incluía já no seu repertório, canções de vários géneros e línguas, que se desviavam da essência do seu fado, indirectamente afastando-se da forçada colagem ao destino do seu país. No entanto, essa perda de identidade criativa, é que a mantinha ainda livre. Na televisão, ainda a preto e branco, Nossa Senhora de Fátima continuava a proteger semestralmente a nação de todos os males com a benção de um estado que continuava a chamar-se novo, ao fim de 48 anos. E… havia uma juventude, que tinha de tornar-se adulta por força das circunstâncias da guerra ultramarina, da falta de estudos e de uma estimulante vida cultural, e de ter de arranjar um trabalho, pois que nesses anos os pais não ganhavam o suficiente para se poderem manter os filhos no sonho etéreo da adolescência por muito tempo. ‘Trrrriiiiin…..trrrriiiiin….trrrriiiiin….’ tocavam assim os telefones num som grave, orgânico, terrestre, subterrâneo e utilizavam-se para se dizerem coisas realmente importantes. Boas ou más. Por isso Augusto sentia um arrepio de cada vez que o ouvia. Tremia só de pensar, que lhe iam comunicar o dia e a hora de embarque para as colónias portuguesas do Ultramar. Ainda para mais agora que estava tão perto de completar os seus vinte anos de idade. O serviço militar obrigatório era a sua sombra mais negra. Não conseguia equacionar a possibilidade de atingir a idade adulta sem chegar a realizar-se como homem. Que desespero e opressão sentia ao pensar que poderia ser mais um nas intermináveis listas de anónimos desaparecidos em combate que o seu irmão às vezes mencionava em conversas com os amigos. Nunca mais esquecera a memorável noite que juntou no pavilhão de Cascais todos aqueles monstros sagrados do Jazz. Ficara deslumbrado com a arte daqueles fabulosos músicos afro-americanos. Um festival que em cartaz tinha nada mais nada menos que uma miríade de estrelas que incluía Ornette Coleman, Dexter Gordon, Keith Jarrett, mas sobretudo Miles Davis, o grande inventor de estruturas sonoras cheias de modernidade. Aquela noite foi uma autêntica pedrada no charco movediço da sua existência, mas não apenas em termos musicais. Tudo nele e à sua volta transbordava de emoções. Desde a Continua na página 5
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panorâmica • NA SENDA DAS PEDRAS FALANTES
Os novos sentidos do património Há ideias assim, geniais, porque diferentes, porque desafiantes e porque, acima de tudo, propõem momentos únicos em espaços de memória para, mais tarde, recordar. Imaginar a brisa do Atlântico, o rugir do mar de encontro às escarpas rochosas, num enquadramento histórico como o da Fortaleza de Sagres, e deixar-se levar pelas sonoridades da música e da leitura de poemas e excertos literários e pelo ritmado único dos staccato e fluidos do ler e pelos allegros, andantes e pianos das melodias, parece uma proposta tentadora. Adicionar a esta tentação o vigor ou o relaxamento de uma massagem taylor made, por entre aromas de incensos e óleos essenciais, propõe um idílio que poucos acreditam ser conciliável quando o mote para esta proposta irrecusável é o património. Mas é exactamente disso que se trata quando se fala da iniciativa que une o projecto Experiment’arte e a Direcção Regional de Cultura do Algarve, momentos idílicos e únicos vivenciados em espaços patrimoniais do Algarve. Para o efeito foram escolhidas quatro localizações, a Fortaleza de Sagres [o evento realizou-se a 27 de Março], os Monumentos Megalíticos de Alcalar, a 18 de Abril, a Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, a 23 de Abril, e a Villa Romana de Milreu, a 4 de Junho. Uma visita a estes monumentos regionais significa, nestas datas, usufruir do património regional com a possibilidade de ouvir lerem-lhe literatura em português, ao som de música nascida de um acordeão ou de instrumentos inusitados, ao mesmo tempo que pode usufruir de uma massagem.
A leitura, a música e as massagens num trabalho interdisciplinar no mínimo original enquanto se visita o património é uma das políticas que temos seguido e que assenta no entendimento de que o património só faz sentido se o integrarmos na nossa vida quotidiana”, diz Dália Paulo, para quem a intenção base é a de fidelizar e criar novos públicos para estes quatro monumentos, escolhidos por estarem abertos ao público e disponibilizarem todas as valência necessárias a uma visita de qualidade.
O nome da iniciativa nasce do conceito. Pedras [as dos monumentos] que falam, que ganham novas vozes e sons e que apelam a serem escutadas e vistas, porque perscrutadas, de novo e de uma nova forma. A senda pelo caminho, o dos vários eventos por um turno e o da literatura e da história, por outro, porque como diz Sónia Pereira, “pensar o futuro e o presente exige saber quem somos e isso é muito mais do que os livros de
A ideia, património e sentidos
destaque
A ideia base da iniciativa é promover a literatura portuguesa, esse é o âmago da acção do projecto Experiment’arte, a que se une sabiamente a vontade férrea da actual directora regional de Cultura, Dália Paulo, de dar ao património a sua verdadeira função social, revitalizandoo e dando-o a usufruir às pessoas. Acresce-se às performances de Sónia Pereira (leitura) e Paulo Pires (música) a arte das mãos de Lúcia Guerreiro (terapeuta massagista), em palcos únicos, e nasce um conceito interdisciplinar cuja grande aposta é a de proporcionar uma vivência do património de forma inovadora e deixar uma marca indelével nos visitantes. “Experimentar diversas sensações
história nos podem dar”. Os sentidos são o foco das performances. O apelo à audição, ao olfacto, à visão e ao tacto são a palavra de ordem para quem deixar uma impressão para a memória, vivida dentro de um espaço de memória. Os poemas e excertos literários, as músicas e as massagens foram pensados sob medida para cada monumento e para cada pessoa, para cada momento único. Literatura contemporânea ou não, mas sempre de qualidade e desafiante em si mesma, aromas secretos, massagens de ‘perder’ os sentidos e música em que os sons envolventes nos deixam ir nas asas dos tons são as armas da multidisciplinaridade para que todos os sentidos participem nesta aventura. Não, não se esqueceram do paladar, é que dar de comer à alma e ao corpo um pouco de tudo isto tem um sabor muito especial. Um mundo fora do tempo
Acordeão e percursão ao ritmo das mãos EXCERTOS DE UM SER 4 a 12 ABR | Galeria de Arte Pintor Samora Barros (Albufeira) Através da pintura, Nelson Teixeira explora o universo do corpo humano.
Transportar os visitantes para um tempo fora do tempo num mundo escondido, que é deles porque se vivencia só no meio da multidão, e que é raro, porque o pensamento incentivado pelas palavras e pelos sons e em relaxe, pelas
massagens, é coisa que não passa a todos, todos os dias, é o desafio que se faz. Como diz Paulo Pires, “a disponibilidade mental para interiorizar o património é assim criada por uma interdisciplinaridade que se prova a si mesma como frutuosa. Quando os veículos para tal são a literatura, a música e as massagens estamos num encontro perfeito de vontades em prol de um fim comum”. O segredo, diz Lúcia Guerreiro, “está em ter um momento que foi pensado só para si” e a verdade é essa mesmo, porque a massagem dada a cada visitante é pensada naquele momento para o próprio. A música e a leitura seguem o passo da massagem e o todo perfeito e harmónico é assim criado para cada um em exclusivo. Depois de uma primeira parte pensada para todos e que faz o enquadramento ao monumento através da literatura e da música, depois, o convite é viver uma experiência única. Como confessou Dália Paulo ao Cultura.Sul “é fantástico estar em lugares carregados de história e juntar-lhe uma experiência carregada de contemporaneidade”, “uma experiência quase perfeita”, conclui a directora regional de Cultura sobre a sua experiência na iniciativa decorrida em Sagres.
O PRIMEIRO 15 ABR | 21.30 |Centro Cultural de Lagos 16 ABR | 21.30 |Teatro Municipal de Portimão A ACTA apresenta o espectáculo “O Primeiro”, com texto de Israel Horovitz e encenação de Elisabete Martins.
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Na Senda das Pedras Falantes, um projecto feito de gente: O projecto e a ideia têm alma, mas mais do que isso têm alma de gente, três pessoas que são as mãos, a voz e os sons de uma iniciativa inovadora que a directora regional de Cultura, Dália Paulo, classifica rara e original, conheça um pouco mais sobre quem é quem a dar novos sentidos ao património regional: As letras e a música:
Sónia Pereira e Paulo Pires têm formação superior em Línguas e Literaturas Modernas (Estudos Portugueses) e especializações, respectivamente, nos campos da Promoção e Mediação da Leitura e dos Estudos Musicais e Artísticos. São programadores e coordenadores/ dinamizadores de acções e projectos de promoção da leitura em bibliotecas públicas (e noutros espaços de índole/ vocação cultural), e, ao longo do seu percurso profissional, têm vindo a trabalhar, em formatos diversos, com várias figuras reconhecidas do panorama literário e cultural português, como Eunice Muñoz, João Grosso, Nuno Júdice, Lídia Jorge, Gonçalo M. Tavares, valter hugo mãe, José António Furtado, Simone, Tozé Brito, Ângela Pinto, Diogo Dória, José Fanha, Jorge Reis-Sá, Maria do Céu Guerra, António Torrado, Álvaro Magalhães, José Mário Silva, Miguel Real, Daniel Sampaio, Mário Zambujal, Vera Mantero, entre muitos outros. Formam desde 2006 o projecto Experiment arte, dedicado à promoção interdisciplinar da leitura junto dos públicos jovem e adulto. Em 2007 conceberam e dinamizaram o projecto Letras ao Sul , coordenado pela Direcção Regional de Cultura do Algarve.
Os Monumentos: Monumentos Megalíticos de Alcalar - Monumento Nacional do Neolítico final/Calcolítico (32001200 a.C.) trata-se de um conjunto de templos funerários, edificados e usados ao longo de séculos. Constituem uma necrópole relacionada com um vasto habitat situado na proximidade imediata dos túmulos, que foi o centro hegemónico do território ocidental do Algarve no 3º milénio a.C.. Nos arredores, localizam-se grutas e criptas artificialmente escavadas na rocha (hipogeus), que, na mesma época, foram usadas como sepulcros colectivos. Situa-se na estrada entre a Penina e Casais.
Fortaleza de Sagres - A imponente fortificação de Sagres é o prolongamento humano do rochedo natural e foi durante séculos a principal praça de guerra de um sistema defensivo marítimo geoestratégico, é hoje monumento nacional. A política da Expansão portuguesa nos séculos XV e XVI levou à fundação da Vila do Infante. Assim, Vila do Infante e Sagres confundem-se no desenrolar dos tempos. Integrando o Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina, o Promontório de Sagres apresenta uma interessante biodiversidade faunística e florística e endemismos únicos que todos os visitantes podem observar. Situa-se em Sagres.
Villa Romana de Milreu - Monumento nacional, revela uma ocupação continuada desde o século I e até ao século XI. Terá sido habitada por famílias de elevado estatuto social e político. No século IV, foi erguido um edifício religioso ricamente decorado e ainda hoje conservado até ao arranque das abóbadas. Cristianizado no século VI, o templo serviria também o culto no período islâmico e até ao século XI. Entre os séculos. XVI e XIX, e sobre a antiga casa romana, foi erguida uma casa rural. A riqueza desta villa rústica está patente no volume de achados arqueológicos. Situa-se em Estoi, a oito quilómetros de Faro.
As mãos:
Lúcia Guerreiro, convidada do ciclo Na senda das pedras falantes , é terapeuta, massagista, engenheira alimentar e possui uma pós-graduação em Saúde, Nutrição e Exercício Físico, e um mestrado em Agricultura Sustentável. É docente universitária e formadora. Desde Janeiro de 2009 é gerente do Amazing Day Spa, em Silves, espaço onde corpo e mente se equilibram na busca de bem-estar e saúde.
Ermida de Nª Senhora de Guadalupe - Monumento Nacional do Neolítico final/Calcolítico (32001200 a.C.) trata-se de um conjunto de templos funerários, edificados e usados ao longo de séculos. Constituem uma necrópole relacionada com um vasto habitat situado na proximidade imediata dos túmulos, que foi o centro hegemónico do território ocidental do Algarve no 3º milénio a.C.. Nos arredores, localizam-se grutas e criptas artificialmente escavadas na rocha (hipogeus), que, na mesma época, foram usadas como sepulcros colectivos. Situa-se na estrada entre a Penina e Casais.
imagem atemorizante da polícia de choque que rodeava o recinto, passando pela dedicatória de Charlie Haden aos movimentos de libertação de Angola e Moçambique, ovacionada por uma audiência sedenta de mudanças e de apoios do exterior, até à resposta do público com a exibição de panos pintados com curtas frases apelando ao fim da guerra colonial. A ousadia do músico valeu-lhe uma visita às instalações da PIDE na rua António Maria Cardoso. A efervescente assistência quase acabou espancada e sem espectáculo. Mas aí Augusto percebeu que não estava só. É certo que tinha mais inimigos invisíveis do que amigos visíveis, o que nem sempre é uma desvantagem, mas tudo aquilo que foi presenciando ao longo desses dias foi claramente importante para formar a sua personalidade como indivíduo. Desde então ficou com a certeza de que a polícia já o havia referenciado como uma das regulares presenças nos festivais de música contra a corrente opressora do regime que continuava a ter a eterna aura do estadista mais discreto do mundo. Decidiu-se finalmente a levantar o pesado auscultador do telefone mas descansou ao ouvir a voz do seu amigo Jorge. Sentiu-se reconfortado. Esta chamada era das boas. O que de melhor se podia arranjar por aqueles dias. Assim, um conjunto musical tão recentemente formado por quatro músicos de Lisboa que nem nome ainda tinha, vai abrilhantar a passagem de ano a um hotel do Algarve. A noite de Reveillon correu tão bem de animada que no dia seguinte acabam por ser convidados, e logo passando a contratados para banda residente da época baixa, isto é, até ao dia 31 de Maio. Nada mau naqueles difíceis tempos. Poderiam assim amealhar alguns escudos, que muito bem-vindos seriam para todos eles. Embora os primeiros dias do novo ano da graça de 1974 tenham sido chuvosos, e depois também um pouco frios, fustigados pelo vento norte – logo o céu se limpou dando lugar a belos e azuis dias. Dias de Algarve, como costumavam chamar àqueles dias amenos. Janeiro fora já se notava que o dia tinha uma hora mais de sol, e Fevereiro denunciava o aumento das temperaturas mínimas e máximas no mercúrio dos termómetros expostos junto à porta da sala de refeições que dava acesso à esplanada. Daí a vista do alto hotel sobre a praia permitialhes admirar os navios que cruzavam o Oceano Atlântico em direcção ao Estreito de Gibraltar para entrarem no Mar Mediterrâneo ou então navegando para ocidente. O olhar de Augusto dotava-se de um novo brilho ao imaginar-se a bordo dum qualquer barco que o levasse a caminho de França, de preferência, pois aí encontraria músicos e outros artistas seus conterrâneos por ali exilados, mas tanto lhe fazia desde que conseguisse chegar a porto livre. Já tinha pensado que poderia tentar embarcar nos cais de Lisboa como passageiro clandestino, mas disseram-lhe que era muito arriscado porque as docas estavam cheias de bufos informadores da DGS.
O rapaz sentia-se feliz na companhia dos amigos mas por vezes mostrava-se bastante nervoso e impaciente. Nos tempos livres jogam às cartas ou tentam conhecer turistas estrangeiras que lhes proporcionem novas experiências. E profissionalmente até têm um local de ensaio com bom material de som disponível. Contudo, nos momentos em que fazem longos passeios pela praia, o seu semblante modifica-se, pois é aí que espera encontrar a mulher que enviada pelo irmão lhe trará informações para o seu contacto para o salto para Espanha. Tudo parece correr às mil maravilhas, quando no fim do mês de Março são informados pelo gerente que ocorrera um problema nos bancos e não lhes podia pagar já. Mas só que não tinham nada a temer que o patrão era homem de palavra, para mais muito rico e muito importante. Tinham de ter paciência e esperar alguns dias. Estas coisas às vezes acontecem no mundo dos negócios. E não lhes faltaria nada como até ali, foi-lhes dito pelo senhor Ramos, que desde aí passaria a ser conhecido entre os músicos por ‘lambe-botas’. Durante Abril, mesmo sem receber há quase um mês, teimam em honrar a sua palavra, embora já a muito custo suportassem a monotonia que se começava a instalar naquela sua especial estadia numa unidade hoteleira que não se percebia estar à beira da falência. Os ‘standards’ de hotel, canções-êxito ao género romântico de Sinatra ou Nat King Cole, que o contrato indicava que repetissem noite após noite, revelavam o pouco conhecimento do ignorante gerente Ramos perante a mudança de gostos musicais dos seus clientes estrangeiros, e também dos portugueses. Estes pediam aos músicos para tocar Beatles, Stones, Shadows, ou mesmo Bob Dylan e Led Zeppelin. Os músicos acediam. Como já pouco tinham a perder não viam porque não ignorar esse ponto do acordo e era isso que ainda os conseguia animar a cada dia e noite que ali passavam. Tanto que numa dessas noites o metódico Ramos lhes perguntou que raio de série musical era aquela que agora lhes tinha dado para tocar há já alguns serões. ‘Nada de jeito, coisas que os clientes nos pedem, já se sabe como são os ingleses, têm gostos estranhos’, desculparam-se airosamente perante a falta de informação musical demonstrada pelo ridículo homenzinho, que de dia para dia se mostrava mais preocupado com a situação do hotel. Então estava bem assim. Na verdade ninguém se queixara. Já que os clientes queriam, isso era bom para o negócio, acabou por concordar o mesquinho Ramos. Lá para o fim do mês numa noite que estivera pouco animada, a banda recolheu-se mais cedo mas desanimada com a situação, terminada que estava a sua primeira e única série de temas da noite, pois todos os poucos clientes já se haviam retirado. Pouco habituados a dormir cedo ainda ficaram por ali estendidos a conversar e a ouvir rádio no quarto que os albergava a todos. A meio da tertúlia, ouve-se a canção portuguesa concorrente ao Festival Eurovisão da Canção desse ano.
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Espaço ALFA
Maia Coimbra
Presidente da ALFA - Associação Livre Fotógrafos do Algarve www.alfa.pt
A cor é usada pelo ser humano há milénios. Cada cor tem a sua própria vida, vibração e significado social, segundo o conhecimento “Feng Shui” pode até ser usada como tratamento de doenças humanas. O Homem vê a cor através do seu aparelho visual e trata-a no seu enorme cérebro. Nós humanos, possuímos um complexo sistema de reconhecimento e aferição das cores e desde muito cedo despertamos o interesse por elas,
A Calibração da Cor reproduzir e entendê-las foi sempre um desafio. Newton teve um papel fulcral neste vasto cenário e depois dele a ciência tem vindo a permitir a calibração da cor como nunca visto. Porque é que necessitamos de calibrar a cor, ou seja, calibrar os nossos equipamentos? É porque nesta sociedade moderna e Tecnocrática há cada vez mais uma vasta gama de equipamentos electrónicos e de vários fabricantes que têm como função representar ou trabalhar no mundo cromático, quer seja numa televisão, numa revista ou numa máquina fotográfica a cor está presente e a sua fiel representação de suporte para suporte pode variar. O seu domínio é complicado e moroso e é uma verdadeira ciência. Neste sentido, a ALFA - Associação Livre Fotógrafos do Algarve, decidiu criar um Workshop dedicado à Calibração da Cor em equipamentos utilizados no mundo da fotografia a fim de esclarecer os seus associados como podem estabelecer uma mais fiel ponte entre o que vemos e o que imprimimos, permitindo-lhes melhorarem a sua plataforma de trabalho e
ALFA cria Workshop dedicado à Calibração da Cor os seus resultados, reduzindo, entre outros, também as difracções e aberrações cromáticas. Elevando o conhecimento dos
amadores e profissionais da “Praça Algarvia” no mundo da fotografia, a ALFA está também a prestar o seu contributo positivo
como entidade que pretende ser a referência na área da fotografia no Algarve. Abraços e Boas Fotos
Espaço AGECAL
AGECAL elegeu novos órgãos sociais para o triénio 2011-2014 No dia 25 de Março, a AGECAL - Associação de Gestores Culturais do Algarve, elegeu em Assembleia Geral realizada em Faro novos órgãos sociais para o triénio 2011-2014. A AGECAL é uma associação socioprofissional fundada em Abril de 2008, possui expressão regional e associados distribuídos por 13 dos 16 concelhos do Algarve. São objectivos centrais contribuir para a qualificação regional, dando maior ênfase à dimensão cultural do desenvolvimento do Algarve e do País, a formação e profissionalização dos gestores culturais com especial atenção para a integração dos mais jovens, a internacionalização da cultura portuguesa e a participação nos movimentos internacionais e estruturas representativas que possam contribuir para políticas de paz, cooperação e respeito pelos direitos culturais dos povos. Para além da colaboração com a Universidade do Algarve na estruturação e apoio ao Mestrado em “Gestão Cultural”, a funcionar nos últimos dois anos lectivos, e da aceitação do convite paras participar no Conselho Económico e Social da UAlg, a AGECAL realizou seminários temáticos em
Os novos órgãos sociais: Assembleia geral Efectivos: António Rosa Mendes (Presidente) Catarina Oliveira (Vice-Presidente) Elena Moran (Secretária)
Suplentes: Cristina Braga Luísa Ricardo Pedro Bartilotti Jorge Rocha Tela Leão
Suplentes: Rita Manteigas Veralisa Brandão Swantje Seumer
Conselho fiscal
Direcção Efectivos: Jorge Queiroz (Presidente) Emanuel Sancho (Vice-Presidente) Marta Santos (Tesoureira) Rui Parreira (Vogal) Pedro Nascimento (Vogal)
Faro (2008), Tavira (2009) e Lagos (2010) e dois Cursos de “Jornalismo de Cultura” (Loulé e Tavira), certificados e com o apoio do CENJOR. No plano internacional, a AGECAL integra a direcção da AIGC - Associação Ibérica de Gestores Culturais, criada com as congé-
Efectivos: Salomé Horta (Presidente) José Barradas (Secretário) Miguel Godinho (Vogal) Suplentes: Manuela Palma Teixeira Isabel Neto Soares Luís Gordinho dos Santos A AGECAL existe desde 2008
neres espanholas da Andaluzia e Extremadura. Participou como associação co-organizadora no 1º Congresso Internacional de Gestão Cultural realizada em El Ejido - Almeria (Novembro de 2009). Nesse congresso, a AGECAL foi uma das entidades subscritoras do importante documento sobre
a criação de uma Organização Mundial de Gestores Culturais e para a elaboração da Carta Mundial da Gestão Cultural e dos Direitos Culturais. Para o novo mandato, a AGECAL, com a questão da sede já estabilizada, pretende aprofundar a sua relação com as instituições e sectores económicos e sociais do Algarve e do País, conceber um Código Deontológico dos Gestores
Culturais, manter uma participação activa e colaboração na formação dos gestores culturais e outros profissionais da cultura. A AGECAL mantém activo o site www.agecal.pt. A AGECAL mantém há dois anos um protocolo com o semanário “Postal do Algarve”, que garante a publicação mensal de artigos de opinião e informações sobre a gestão cultural do Algarve.
Cultura.Sul 07.0 4. 2011
palco
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• ABSENCE I, II, III DE JOSÉ LAGINHA
Performance e instalação no Auditório de Olhão O auditório Municipal de Olhão recebe no próximo dia 29 de Abril, pelas 21.30, o espectáculo ABSENCE I, II, III, concebido e dirigido por José Laginha, composto por uma parte performativa, “não temos Pátria, temos barbatanas 011” (absence I), “a encomenda” (absence II), e uma instalação, “valsa lenta” (absence III). Para José Laginha, “ainda que pouco óbvia, existe uma ligação de complementaridade entre os três momentos que compõem este espectáculo. Apesar de distintos e aparentemente antagónicos eles formam um todo. Uma frase projectada em valsa lenta (instalação de vídeo/luz/som), pode ter dado origem, despoletado a acção, a imagem, ou o movimento em não temos Pátria, temos barbatanas (que termina com a exibição de um excerto de “Jaime”), ou ter justificado a utilização de um determinado objecto em a encomenda. Do objecto à imagem, do movimento à acção, da personagem ao discurso, tudo no decurso deste trabalho tem um momento complementar”. Sobre o trabalho, José Laginha revela ainda que, “mantendo o processo de criação que tenho vindo a desenvolver e a aplicar nas minhas últimas incursões na criação, trabalhámos sobre uma estrutura que assenta num discurso fragmentado, que convida ao retorno e permite múltiplos reencontros. Nada é linear,
LUÍS DA CRUZ
FICHA TÉCNICA: concepção e direcção: José Laginha criação de texto/ interpretação: André E. Teodósio co-criadores/ intérpretes: Bruno Alexandre, José Laginha, Marlene Vilhena, Marta Lobato Faria, Pedro Ramos, Sérgio Matias criadores música/intérpretes: Filipa Pais, Jacinto Lucas Pires, João Paulo Esteves da Silva, Mazgani, Vera Mantero concepção visual/instalação: José Laginha desenho de luz/projecções: Hugo Coelho, António Martins, José Laginha som: Luís Guerreiro direcção de produção: Ana Rodrigues
SINOPSE não temos Pátria, temos barbatanas.
tudo desafia o espectador a encontrar sentido no que aparentemente pode parecer solto e desconexo, suspenso e inacabado”.
José Laginha dedica este trabalho a José Ribeiro da Fonte, que lhe ensinou que na dança cabe tudo, até o sentido cívico e político.
somos um país que não sabe, o hospital é aqui! de pijama rodopiamos num desnorte que não incomoda. o nosso espaço é de vidro e tem a turva densidade das águas. aqui não há esforço, porque este mata o passado e condiciona o futuro. não há sofrimento, porque não há direcção e há pouca razão. não há alegria, ela existiu pouco e é uma promessa para o “futuro”. não há som, não há esforço, não há sofrimento, não há alegria porque nos esquecemos de querer melhor, há tudo isto mas dentro, mesclado com a ironia dos sobreviventes e a alegria dos loucos, dos atletas, dos sprinters que na partida avistam a meta. - a festa é já ali. … longe daqui, tudo isto parece um circo.
• CURTA METRAGEM: FAMINTO
Lagos é o palco para triller/terror «Numa garagem, ao fim da noite... por entre a madrugada e o crepúsculo, uma bela mulher a caminhar em direcção ao seu carro... também lá estão três homens, assaltantes de banco que decidem que se querem divertir um pouco... mas estes são a menor das suas preocupações... algo mais se esconde na escuridão... algo bem pior!»
Este é o mote para a mais recente produção da Paradoxon Produções, uma curta metragem com realização de Hernâni Duarte Maria e Pedro Noel da Luz e argumento de Tiago Inácio. O novo projecto desta produtora Algarvia conta com a participação especial do actor Philippe Leroux.
PARADOXON PRODUÇÕES
consegue obter o seu primeiro prémio neste concurso local de curtas-metragens, com uma realização de Hernâni Duarte Maria. A partir daí, a pequena produtora realizou e produziu várias curtas-metragens, todas elas com presença em festivais de vídeo e cinema em Portugal e no Estrangeiro. Para além disso tem contribuído para a divulgação do cinema independente.Com o apoio do Espaço Jovem em Lagos desenvolveu várias mostras de cinema e extensões de festivais onde tinha participado, desde uma extensão do Festival Internacional de Vídeo do Algarve, ao Videolab Coimbra, ao Festival de Super 8mm, Faro Capital da Cultura, mostra de curtas-metragens locais. Todos estes eventos tiveram como pressuposto a divulgação do cinema de curta-metragem.
A Paradoxon Produções surgiu no Algarve, em Lagos, no ano de 1997, quando um conjunto de jovens entusiastas pelo cinema decidiram formar uma pequena estrutura, com o intuito de produzir e realizar curtas-metragens. A concepção deste projecto teve como seu principal impulsionador, o então jovem Hernâni Duarte Maria que propôs a todos a elaboração de um projecto de cinema para o Algarve, com o objectivo principal: a realização de curtas-metragens. Entre 1997 e 2000, a Paradoxon passou por período mais experimentalista a nível de técnicas e estéticas de imagem e som. “Dissimulados”, a primeira produção, nasce no âmbito do Maio Jovem, do IPJ, em 2000, a partir do tema Sexualidade na Juventude. A Paradoxon,
Prémios: - Manhã Triste 2009 - Melhor Produção
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Segundo Hernâni Duarte Maria, realizador habituado a trabalhar em cinema independente de baixo orçamento, a participação deste actor, com vasto trabalho reconhecido a nível de cinema, teatro e televisão, é uma maisvalia para esta nova produção. As filmagens começam no final de Abril, na cidade de Lagos. Bragacine 2010 ( adaptação de um conto de Urbano Tavares Rodrigues ) - Insónia 2007 - Melhor Filme Nacional Festival Internacional de Cinema de Arouca 2008
‘ FAMINTO ‘ Produção Paradoxon Produções 2011 Realização Hernâni Duarte Maria e Pedro Noel da Luz Argumento Tiago Inácio Elenco Sofia Reis Henrique Pereira Phlippe Leroux Hugo Costa Ramos Inês Tarouca Patrícia de Abreu Castello Branco Miguel Rufino Rodagem Locais : Início da Rodagem: Lagos - última semana de Abril (Locais de rodagem: Parque Estacionamento Futurlagos sito na Praça D’Armas e Luna Bar Tivoli Hotel Lagos) Patrocinadores Oficiais até à presente data: Futurlagos (cedência do local da rodagem: parque de estacionamento) Tivoli Hotel Lagos (alojamento e local de rodagem - bar) Palloram (cedência de guarda-roupa)
‘ O Pau lo tem uma grande voz, não
acham?!’ ‘É! Mas gostava mais de o ouvir nos Sheiks. Ainda cheguei a ensaiar com eles uns dias’. ‘Eu acho que não! Aquilo era uma imitação da música inglesa, ao jeito dos Beatles. Temos que defender a nossa música, a nossa língua’. ‘Pois, e a nossa pátria, as nossas colónias, o império…’, escarneceu o nervoso Augusto levantado o tom de voz. ‘Ei, amigos, calma, não estamos aqui para isso, mas para esquecer isso’. ‘Como é que eu me posso alhear disto Jorge, mais cedo ou mais tarde, vêm buscar-me e vou lá bater’, continuou Augusto. ‘Vamos com calma pessoal, temos de manter este contrato até ao fim. E já falta tão pouco. Deixem-se disso, amanhã é outro dia .‘ ‘Talvez… o primeiro dia do resto da minha vida… estou aqui tão perto de Espanha, tenho um contacto para arranjar alguém que me passe pelo rio Guadiana. Eu quero ser músico… e poder expressar a minha arte e as minhas ideias livremente. Não quero ser animador de presos em Peniche. Nunca mais me vou esquecer da primeira vez que fui a um concerto. Eu estava lá na noite em que prenderam o Charlie Haden no festival de Cascais. Desculpa-me só te dizer isto agora, mas foi mais por causa disso que eu vim para cá… e claro porque somos amigos há tantos anos, mas Rui, por favor vê lá se consegues falar amanhã com o forreta do Ramos, e arrancar-lhe algum deste dinheiro’. ‘Calem-se lá por favor, deixem ouvir isto’, pediu o Mário. ‘Isto não é possível, isto…não é possível… o Zeca Afonso na Rádio Renascença? Passa-se ali algo de estranho, isso é o «Grândola Vila Morena» malta, e eu que pensava que isto estava censurado’ ‘Então rapazes, eu sou o vosso agente, arranjei-vos este emprego, dou-vos comida, cama lavada e whisky todos os dias, e mesmo assim não se acalmam? Vamos mudar de assunto, sim?! ’ Nisto batem à porta do quarto. ‘Porra! Não vos disse para se calarem…Quem é?’ perguntou Rui. Abriram a porta ao recepcionista que trazia um recado para o Sr. Augusto Lacerda, uma chamada de Lisboa. Era o seu irmão que lhe queria dar uma palavrinha. Quando Augusto volta do telefonema, deita-se na cama, calado mas sereno e parecia mais feliz do que quando saíra porta fora. ‘Está tudo bem?’ Querem saber, como se fossem um coro e não instrumentistas. ‘Sim. Está! Está tudo bem! Mas não desliguem a telefonia… desculpa Rui, ter reagido assim, mas tenho andado muito tenso… eu não queria ir para a tropa, mas oxalá as coisas mudem esta noite…’ ‘Porque é que estás a dizer isso? Continua na página 9
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Cultura.Sul 07.0 4. 2011
política
Henrique Dias Freire
• ENTREVISTA COM RUI ANDRÉ, PRESIDENTE DA CÂMARA DE MONCHIQUE
Uma aposta que vai passar por projectos inovadores Para Rui André, presidente da Câmara de Monchique, a falta de espaços físicos não impede a produção de cultura. Ela vai fluindo e acontecendo mesmo sem espaços culturais como auditórios ou cinemas. O concelho que começou a ter uma programação cultural regular vai agora avançar para projectos únicos como grande aposta diferenciadora. A propósito do Allgarve, afirma que a política cultural do Algarve está ao contrário… CULTURA.SUL – O seu percurso pessoal tem influência no modo como encara as questões culturais? Rui André – Tive um percurso pessoal e profissional muito ligado às artes. O meu contexto familiar é muito artístico. A minha mulher é música e professora de música e eu, durante muitos anos, fiz pintura, fotografia e escultura. Para mim, a cultura não é um mero apêndice de qualquer programa político ou eleitoral, é uma parte da identidade das pessoas e muito importante no meu dia-a-dia.
destaque
C.S – Porquê este interesse pela cultura? RA – A cultura é uma coisa que se cultiva e, apesar de Monchique ser uma zona serrana, ela acaba por ser mais dinamizada do que nas zonas do litoral. Temos perto de mil estrangeiros que têm uma sensibilidade acima da média. Escolheram Monchique para viver por ser uma zona com vários tipos de património. O nosso património imaterial é fabuloso. Tem um passado rural que representa uma riqueza enorme, com uma série de conhecimentos, de saber fazer, de ofícios e tradições. Temos um património religioso muito interessante. Ainda se continua a celebrar a Páscoa como há cem anos atrás. No ano passado, a Câmara fez uma aposta clara de tornar este período um período de celebração da fé das pessoas de Monchique e um factor turístico. Há muita gente que procura destinos culturais como destinos de férias. Este mercado tem vindo a aumentar de ano para ano e Monchique tem feito uma aposta clara nesse sentido, não só na Páscoa mas durante o ano todo.
C.S – A arte assume especial interesse para as pessoas? RA – A arte é, para muitas pessoas, uma peça importante no seu dia-a-dia. Pessoas para quem um concerto, uma exposiçao, uma peça de teatro é um alimento para a sua alma e melhoria da sua qualidade de vida. Os autarcas por vezes esquecem essa parte importante nas suas políticas. Em Monchique, isto assume especial importância pelo número crescente de pessoas que dá atenção a estes temas mas também porque, em termos turísticos, Monchique deve-se afirmar como um destino cultural muito interessante. Monchique quer ser “Cidade da Arte” C.S – Que passos estão a ser tomados nesse sentido? RA – Estamos a desenvolver contactos para que Monchique seja a primeira European Art City (Cidade Europeia da Arte) no país. Esta é uma lista de cidades na Europa que têm um cuidado especial com a cultura e com algum tipo de estruturas que são divulgadas a nível europeu. Há um tipo de turista muito interessante, que faz questão de visitar todas ass cidades europeias desta lista. Queremos afirmar Monchique como um destino cultural. C.S – Que medidas estão a ser tomadas? RA – Quando cheguei à Câmara havia poucas actividades. Quero que a cultura tenha futuro, que as pessoas ganhem hábitos e para isso tem de haver uma programação permanente. Desde Agosto que estamos a fazer uma agenda cultural, que não existia, para que as pessoas se habituem a saber o que vai acontecer e quando vai acontecer. C.S – O que é que está a ser feito na Páscoa? RA – Estamos a apostar num conceito novo, com um simpósio de escultura em cera. Investigando os antepassados, descobrimos que muitos espanhóis se vieram fixar em Monchique na altura da Expansão Marítima e se dedicavam à exploração de mel, havendo por isso uma grande produção de cera no concelho. Essa cera era vendida para a betumagem dos navios e imperme-
Rui André quer criar equipamentos culturais para ampliar a oferta abilização das velas. Por isso achei importante que na Páscoa, em que a religiosidade assume a questão do mistério, das velas e da cera, organizar este simpósio, que este ano vai ter a sua segunda edição. É um simpósio internacional com cinco escultores, um de cada país, que durante 10 a 12 dias desenvolvem um trabalho sobre um tema. No ano passado, o tema foi a Páscoa e este ano será a Liberdade, porque o dia 25 de Abril será muito próximo da Páscoa. Allgarve tem pouco retorno C.S – O que pensa do Allgarve? RA – No caso do Allgarve, o retorno é muito pouco e muitas vezes mal feito. No Verão passado tivemos alguns eventos que foram um erro. Os sítios foram mal escolhidos, houve concertos que não tiveram praticamente público nenhum, como o que decorreu em Alcoutim. O turismo tem de trabalhar muito de perto com as instituições locais, as autarquias e as necessidades de cada concelho.
SAFRA – ANTOLOGIA POÉTICA 16 ABR | 18.30 | Auditório da Caixa de Crédito Agrícola Mútuo de S. B. de Messines Manuel Neto dos Santos publica a sua antologia poética de 1988 a 2008, com prefácio de António Cândido Franco.
C.S – Como é que isto pode ser feito? Temos também de conhecer o turista que nos procura. O último estudo que foi feito refere que o turista que vem para o Algarve tem como uma das principais razões da vinda a gastronomia. Curiosamente, só no fim da lista é que vêm os grandes eventos musicais, que são onde tem sido feito o maior investimento. A política cultural do Algarve está ao contrário. Se calhar, onde temos esse grande potencial não é gasto nem 1% daquilo que é gasto nos grandes eventos, nos grandes concertos, de que muitas vezes resulta muito pouco. C.S – E o que é que está a ser feito em Monchique? RA – Nem sequer é preciso um grande investimento. Tinhamos uma galeria, que estava fechada e era uma dor de cabeça cada vez que se tinha de fazer uma exposição. Tinha de se pedir à Câmara, que emprestava o espaço, e a própria pessoa é que abria a exposição. Fiz um protocolo com uma associação local com o objectivo de que a galeria
municipal tivesse uma programação regular com uma exposição diferente todos os meses. Isso tem acontecido, de há um ano a esta parte, sendo uma surpresa para a população e para quem nos visita. Monchique vai ter primeira Artoteca do país C.S – O concelho precisa de mais equipamentos culturais? RA – Pretendemos criar equipamentos culturais para ampliar esta oferta. O espaço da Casa do Povo carece de obras há muitos anos e não temos um espaço para um concerto, um cinema ou um teatro de mais qualidade. Queremos, ainda este ano, realizar obras na Casa do Povo para criar um espaço onde estes acontecimentos possam ter lugar. Queremos criar uma espécie de mini-auditório. Também queremos criar uma Artoteca, uma espécie de galeria e biblioteca onde as pessoas podem levar para casa, em vez de livros, uma peça de arte, uma pintura, uma escultura, uma serigrafia. Será a primeira Artoteca do país.
EXPOSIÇÃO DE VITOR DO Ó 4 a 29 ABR | Casa da Juventude de Olhão O Corredor das Artes da Casa da Juventude de Olhão revela mais um jovem talento de Olhão, desta vez na área da fotografia.
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livro
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• DA MINHA BIBLIOTECA
Muito mais do que uma guerra Adriana Nogueira
Classicista Professora da Universidade do Algarve
Neste número de Abril não podia deixar de pensar no dia 25. Numa época conturbada como a que agora passamos, trauteio a canção de Sérgio Godinho «Só há liberdade a sério quando houver/a paz, o pão/habitação/saúde, educação» e apetece-me falar da História da Guerra do Peloponeso, de Tucídides, cuja primeira tradução portuguesa, directamente do grego, foi publicada há poucos meses pela Fundação Calouste Gulbenkian. Este livro, pela sua actualidade, faz parte dos programas de ciência política das mais prestigiadas universidades do mundo ocidental. Tucídides foi um historiador grego que viveu no século V a.C. e escreveu sobre a guerra que opôs Atenas a Esparta durante 27 anos (de 431 a.C. a 404 a.C.), levando à derrota dos Atenienses e ao fim da democracia. O seu texto vivo, enérgico e cheio de ensinamentos sobre a natureza humana, leva-nos a concluir que, passados 25 séculos, a essência do homem não mudou: cometemos os mesmos erros, somos assolados pelas mesmas paixões, alegrias e tristezas. E muitas das preocupações são as mesmas. Mudemos um pouco o cenário e reconhecemos cenas do passado e da actualidade. Pena de morte Atenas, 427 a.C.. Já se passaram quatro anos de guerra entre aquelas duas cidades e respectivos aliados. Os cidadãos estão tão furiosos com a ousadia da cidade de Mitilene, na ilha de Lesbos, de se ter revoltado contra Atenas, que decidem mandar matar todos os homens e escravizar as mulheres e as crianças. No dia seguinte arrependem-se da decisão tomada, pois acham-na «monstruosa e cruel, ao mandarem destruir uma cidade inteira em vez dos culpados» e voltam a debater o assunto. Um dos generais mais influentes (e também «o mais violento dos cidadãos»), Cléon, insiste que a medida tomada está correcta, pois deve-se fazer de Mitilene um exemplo, para que ninguém pense que pode trair Atenas. Contudo, o general Diódoto pensa o contrário, baseado no conhecimento que tem da natureza humana. Ao falar sobre a inutilidade da pena de morte, vemos como as suas palavras são tão actuais: «É provável que antigamente as penas fossem mais suaves para os grandes crimes, mas como continuavam a ser cometidos, a maior parte era punida pela morte. Mesmo assim, os crimes continuavam da mesma forma. Por consequência, ou se encontra um horror mais terrível do que a morte, ou esta em nada evita o crime». Pobreza gera violência E continua, enunciando aquilo que todos sabemos, mas pouco ou nada fizemos para alterar a situação: há 2500
anos, este general ateniense afirmava «É a necessidade ligada à pobreza que leva a humanidade à violência». Portanto, enquanto existirem as condições que geram os conflitos, não adianta condenar à morte, pois, conclui, «é impossível e sinal de grande inocência que haja quem pense que a natureza humana, quando está empenhada cegamente em qualquer empreendimento, dele se afaste, seja pela força da lei, ou por qualquer outra ameaça». Muito se pode reflectir sobre a democracia neste livro. Seleccionei um excerto de um discurso que um «cabecilha do povo» de Siracusa faz à população: «democracia significa todo o povo, enquanto oligarquia significa apenas uma parte; depois, muito embora os ricos sejam os melhores guardas das fortunas, são os judiciosos que dão os melhores conselhos, mas para decidir uma disputa depois de ter ouvido os assuntos a discutir, o povo é o melhor. E em democracia, todos estes, considerados em parte ou em conjunto, têm privilégios iguais». Para terminar, nesta era tecnológica, em que o factor humano parece perder relevância, as palavras do general Nícias: «As cidades são os homens e não as muralhas, nem os navios vazios de homens!» A tradução é de Raul Miguel Rosado Fernandos e Maria Gabriela Palma Granwehr. Quem é ele? Professor catedrático jubilado, da área do Grego, da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Lembram-se de um mediático e polémico presidente
da Confederação dos Agricultores Portugueses? É ele. Recordam-se da cena do eurodeputado português que agrediu um eurodeputado dinamarquês, por se ter sentido atacado na sua honra? É ele. Este homem, que
publicou em 2006 as suas Memórias de um rústico erudito, afirmou, há bem pouco tempo, num programa de televisão, que “as classes que não lêem os clássicos ficam mais burras”. Sem papas na língua. É ele.
• APONTAMENTOS: DUAS ESCOLAS EXEMPLARES Clube de Teatro Tapete Mágico A Escola Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro, tem um clube de teatro dirigido há 15 anos por Ana Cristina Oliveira, docente de Filosofia. Para celebrar a data, vai ser lançado um livro, no próximo dia 9 de Abril, pelas 18 horas, no Teatro Lethes. Tive acesso a uma versão ainda por acabar e gostei do que li. Ana Oliveira faz um relatório do trabalho que desenvolveu com os alunos ao longo de 28 produções e apresenta um grande número de peças que escreveu. Este pareceu-me o aspecto mais interessante, não só pela variedade de temas, que, por um lado, interagem com diversas disciplinas curriculares do ensino secundário e, por outro, abordam temáticas problemáticas para os adolescentes e jovens adultos, como as relações sexuais, o uso de preservativos, as bebedeiras, os desencontros amorosos, a droga, a orientação sexual, a relação com os pais, etc. As peças primam pelo cuidado com a adequação da linguagem ao tema e ambiente escolhido. Assim, as personagens tanto usam linguagem popular, como se expressam
com uma linguagem elevada ou com a informalidade dos jovens da actualidade, tanto podem ser mais prosaicas como mais grandíloquas, mais directas ou mais subtis, podem inspirar-se em personagens da literatura ou serem reflexos da vida quotidiana. Um trabalho extracurricular, apoiado pela direcção de uma escola que demonstra uma visão esclarecida do que pode enriquecer a formação de um jovem. Parabéns à criadora do Tapete Mágico, a todos quantos por ele passaram e à escola que o acolheu.
Grego em Portimão Não é de um livro que trata, mas de um facto já raro neste país e que demonstra clareza de espírito por parte dos dirigentes da Escola Secundária Manuel Teixeira Gomes, em Portimão. É sabido que Mark Zuckerberg, o fundador do Facebook (que tem uma fortuna de muitos zeros à direita), estudou Latim e Grego, reconhece a importância dos estudos clássicos e cita publicamente textos nestas línguas. No mesmo Facebook, alguns alunos da
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referida escola (que está de parabéns, pois mostrou ser um estabelecimento de ensino exemplar, abrindo este ano lectivo uma turma de Grego com o número fantástico de 20 alunos), criaram mais um grupo, onde apresentam «10 razões para aprender Grego»: 1 - A Grécia Antiga foi a civilizaçãoberço de todo o Ocidente. 2 - Contactar com a língua dos grandes filósofos. 3 - Conhecer a fundo a mitologia grega. 4 - Aumentar a cultura geral. 5 - Descobrir a permanência da cultura grega na atualidade, no cinema e na internet. 6 - Aprofundar os conhecimentos de português (origem das palavras, história das línguas, na Europa). 7 - Relacionar a língua grega com o vocabulário de várias áreas científicas (biologia, química, medicina, astronomia...). 8 - Conhecer as palavras básicas do grego moderno. 9 - Iniciar uma nova língua permite adquirir, facilmente, mais competências linguísticas. 10 - Aperfeiçoar a expressão escrita, em português, e a capacidade de raciocínio. Com jovens assim, o país tem futuro.
Porquê esta noite? Quem é que te ligou? O que é que se está a passar, Augusto? ‘…bem, é que hoje faço anos e o meu irmão mais velho, que estava de serviço no quartel, fez questão de ser o primeiro a dar os parabéns ao benjamim da família’. Aí os músicos entoaram a sua versão da canção mais ouvida em todo o mundo. Esse ‘Parabéns a Você’ só foi silenciado quando se ouviu a voz colocada de Joaquim Furtado que ao microfone do Rádio Clube Português anunciava: “Aqui posto de comando do Movimento das Forças Armadas, que desencadearam esta madrugada uma série de acções com vista à libertação do país do regime que há longo tempo o domina”. Passam a noite a beber whisky de ouvidos colados à telefonia até de manhã. Depois descem à recepção para o pequeno-almoço e aí, a caixinha que mudou o mundo passa a sê-lo realmente. A monótona e desinteressante RTP, terá tido nesse dia a maior audiência de sempre em Portugal, superando de longe a daquela noite em que Neil Armstrong pisou a lua. Lisboa, é então o centro do mundo, por uma vez, nesse dia. Um grupo de militares portugueses tomou o poder, sem derramar sangue. E isso é mesmo História. Mas os músicos não podem, não devem, e concluem que essa não é a melhor hora de regressar a Lisboa. Estão eufóricos e querem celebrar. Inspirados pelos acontecimentos tomam conta do palco da sala de baile do hotel e começam a tocar ainda a meio da tarde, fora do habitual horário de trabalho. Tocam o que bem lhes apetece mas sobretudo muita música portuguesa pela primeira vez. E assim vão tocando pela tarde fora, enquanto a revolução se começa a confirmar. Os hóspedes, que estão de regresso ao hotel e aos seus quartos são surpreendidos pelo ambiente festivo e vão ficando por ali a ouvi-los em silêncio. Ao início da noite é levado do quartel do Largo do Carmo, um tal chamado de professor Marcelo Caetano, que na sua qualidade de presidente do conselho de ministros do estado português tinha a mania de chamar Conversas em Família a monólogos para a câmara de televisão, e a quem inclusivamente fora atribuída descabidamente uma primavera com o seu nome. Dada a circunstância, muito indignado com o rumo dos acontecimentos, o miserável gerente Ramos informa que vai abandonar o hotel dizendo que o país vai cair numa anarquia. Comunica aos empregados que agora os revoltosos comunistas vão tomar conta dos bancos e não lhes pode pagar nem mais um tostão, a ninguém mesmo, nem aos músicos da capital, pois que o dono daquele e de outros hotéis, já se foi embora para o Brasil. Ninguém por ali se parece importar muito com o discurso do execrável Ramos. Mas já que era assim, então o bar, a garrafeira e a cozinha passam a estar abertos a todos. São agora posse
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Espaço Cultura
Só se ama aquilo que se conhece
destaque
Embora tal nem sempre seja reconhecido, tem sido por iniciativa estatal que o património histórico e artístico do Algarve tem vindo a ser sistematicamente inquirido desde a segunda metade do século XIX. Foi por incumbência do governo da monarquia que Estácio da Veiga preparou as duas folhas da Carta Archeologica do Algarve à escala 1:200000, em 1883 (Tempos Pré-históricos) e em 1889 (Tempos Históricos), e a sua correspondente descrição nos vários volumes das Antiguidades Monumentais do Algarve. Essas obras forneceram, desde logo, um apreciável elenco de sítios arqueológicos que estaria na base dos inventários regionais sistematizados do património arqueológico efectuados até praticamente aos finais do século XX. Com efeito, os dois volumes da Arqueologia Romana do Algarve de Maria Luísa Santos, publicados em 1971 e 1972 e que contêm um amplo inventário de sítios romanos, baseiam-se nos dados de Estácio da Veiga, bisavô da autora. E quando, em 1988, Jorge de Alarcão publica o seu levantamento de sítios romanos em Portugal, assente em grande parte em trabalhos de seminário executados pelos seus alunos e por si orientados no Instituto de Arqueologia da Universidade de Coimbra, basicamente repete muitos dos dados coligidos por Maria Luísa Santos. Além disso, pode-se dizer que são também os dados que Estácio da Veiga reuniu por incumbência do Estado que subjazem à sistematização dos testemunhos megalíticos algarvios, concretizada no corpus preparado pelos alemães Vera e Georg Leisner e editado em 1943, 1959 e 1965 nos volumes de Die Megalithgräber der Iberischen Halbinsel. Em 1977 a então Direcção-Geral do Planeamento Urbanístico retomou um programa de estudos básicos sobre os bens culturais imóveis do Algarve que, entre outros temas, incluíam a Arqueologia, a História Urbana e a Sistematização e Classificação da Paisagem Urbana, procurando organizar a informação acerca das preexistências de origem socio-histórica que pudessem influir nas opções de ordenamento urbanístico e do território. Na área disciplinar da Arqueologia foi então constituído um grupo de trabalho especializado para o «Levantamento Arqueológico para o Planeamento Urbanístico», coordenado por D. Fernando de Almeida, professor catedrático jubilado de Arqueologia da Universidade de Lisboa (e, após o falecimento deste, em 1979, pelo seu antigo assis-
Menir pré-histórico em Vale Fuzeiros, Silves tente, José Luís de Matos). Até 1981, data em que os trabalhos do LAPU foram interrompidos, haviam sido reunidas cerca de 900 fichas correspondentes ao Algarve. Paralelamente, o Gabinete de Planeamento do Algarve (GAPA), antecessor da CCRA, financiou em larga medida e apoiou institucionalmente o projecto Carta Arqueológica do Algarve – CAALG, um trabalho realizado pela Unidade de Arqueologia do Centro de História da Universidade de Lisboa (Uniarq), que se concentrou, na prática, no Alto Algarve Oriental. Finalmente, criado em 1979, o então Instituto Português do Património Cultural, constituiu um serviço de documentação e informação arqueológica no âmbito do seu Departamento de Arqueologia e, entre 1986 e 1988, a Delegação de Faro da Secretaria de Estado da Cultura promoveu o Levantamento Arqueológico-Bibliográfico do Algarve, editando em 1988 um inestimável repositório de referências textuais publicadas sobre os sítios arqueológicos algarvios - uma obra, preparada sob a orientação de Mário e Rosa Varela Gomes, que beneficiou de uma colaboração com o IPPC e do trabalho entretanto
desenvolvido pelo seu Departamento de Arqueologia. E, a partir dos finais dos anos Oitenta, por um lado numa iniciativa da Delegação Regional do Sul da Secretaria de Estado da Cultura e, por outro, numa parceria entre o Instituto Português do Património Cultural e a Direcção-Geral de Ordenamento do Território, começam a publicar-se cartografias do património histórico e arqueológico dos Municípios algarvios. As cartas resultam, no essencial, da transposição sistemática para uma base cartográfica (Carta Militar de Portugal à escala 1/25.000) dos dados compilados a partir da bibliografia. Em 1995, a criação do Instituto Português de Arqueologia (desde 2007 integrado no IGESPAR) contribuiu positivamente para a sistematização desses dados e para a melhoria da cartografia arqueológica com a aplicação do sistema de informação e gestão arqueológica designado como Endovélico, anteriormente criado no âmbito do então IPPAR. A sua base de dados georreferenciada aumentou a qualidade da informação e, simultaneamente, o número de sítios patrimoniais conhecidos, incluindo os locais de achados do riquíssimo
ARTÊXTIL 2011 4 ABR | Vila Real de Stº António 14 intervenções têxteis produzidas por artistas plásticos, em exibição no espaço público da cidade.
património cultural submerso nas águas frente às costas do Algarve. Desenvolvido para prossecução das atribuições da tutela do património arqueológico, e embora o seu uso assíduo permita facilmente verificar as limitações deste sistema de informação, com uma cartografia baseada substancialmente nas informações retiradas da bibliografia, não confirmadas no terreno e, por isso, pouco fiáveis, o Endovélico passou a assumir um papel fundamental enquanto instrumento não só de planeamento e administração da actividade arqueológica mas também de apoio à pesquisa. Já o inventário do património artístico algarvio revela um panorama mais modesto. A parte relativa ao Algarve do Inventário Artístico de Portugal promovido pala Academia Nacional de Belas-Artes, de que esteve incumbido o professor Pinheiro e Rosa, não foi jamais publicada. Mas os imóveis históricos classificados dispõem de dois inventários realizados por iniciativa da administração pública, cujas bases de dados estão disponíveis em linha, nos sítios de internet do IHRU e do IGESPAR, respectivamente. E,
mais uma vez, foi por iniciativa estatal, através da então Delegação Regional da Secretaria de Estado da Cultura, que o património integrado da quase totalidade dos edifícios religiosos algarvios – retábulos e imaginária – foi sistematicamente levantado e publicado por Francisco Lameira, que a este tema tem posteriormente vindo a dedicar numerosos estudos. Constituindo uma competência legal da Direcção Regional de Cultura do Algarve «apoiar e colaborar na inventariação sistemática e actualizada dos bens que integram o património arquitectónico e arqueológico» [Decreto Regulamentar n.º 34/2007 de 29 de Março], bem como «colaborar na actualização do inventário e do cadastro dos bens imóveis classificados ou em vias de classificação» [Portaria n.o 373/2007 de 30 de Março], é esta política patrimonial de registar para conhecer que se tem procurado incentivar, ciente de que é a sistemática inventariação dos bens culturais que está na base das opções da salvaguarda e do conhecimento, valorização e divulgação da herança cultural da região. Direcção Regional de Cultura do Algarve
“(H)à Pincelada” 7 ABR | JUN |Museu Municipal de Tavira – Palácio da Galeria Curso de iniciação à pintura acrílica, sob a orientação da artista plástica Patrícia Gonçalves.
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Espaço Educação
Lontra Bernardina avistada nas Fontes de Estombar Helena Tapadinhas
Coordenadora da DREALg Programa Regional de Educação Ambiental pela Arte (PREAA)
No passado dia 18 de Março, mais de 600 alunos pertencentes ao Agrupamento Padre Martins de Oliveira, tinham agendado uma jornada no Sítio das Fontes de Estombar, na expectativa de aí se avistarem com a famosa Lontra Bernardina. No entanto, mesmo na véspera, através do seu site em www.lontrabernardina.blogspot.com, Bernardina invocou dificuldades de agenda e cancelou a aparição. Em alternativa, os seus fãs reorganizaram-se e resolveram receber os seus colegas mais novos das escolas das redondezas nos vários espaços da Escola Jacinto Correia para lhes dar conta das aventuras daquela bizarática criatura. Por entre panelas, caldeirões, extractos de ervas muitas e algas da baixa-mar, os ensinamentos da química saltaram para cima das improvisadas bancas para tentar recriar à vista de todos as poções mágicas com que a Lontra sonhava criar asas e voar.
Alunos do segundo ciclo iniciam os colegas mais novos nos mistérios químicos das “poções mágicas”. A criação de laços tutorais entre os diferentes níveis etários presentes na escola é um dos propósitos do PREAA constitui a espinha dorsal do PREAA – Programa Regional de Educação Ambiental pela Arte, uma iniciativa da DREAlg que tem vindo a ser continuamente implementada na região desde 1997.
nação de 4 técnicos, 47 formadores, e cerca de 600 professores e 20 mil alunos. Abrange a maioria dos agrupamentos do Algarve e conta com a colaboração de um vasto leque regional de entidades, FOTO: DN
Contos do Mago
A par de muitas outras, a odisseia da Lontra Bernardina faz parte dos Contos do Mago, um livro editado em 2009 pela Direcção Regional de Educação do Algarve (DREAlg), da autoria da professora Helena Tapadinhas. Os contos do livro constituem o fio condutor de uma estratégia educativa que procura alternativas pedagógicas para promover nos alunos das escolas algarvias a compreensão dos conceitos mais importantes na abordagem da questão ambiental. A estratégia não é de agora. Ela
A Operação Lágrimas Negras levou às ruas algarvias mais de 20 mil alunos de todos os concelhos da região Os Contos do Mago (www. contosdomago.com) são o 5º ciclo temático deste projecto regional. Envolve uma equipa de coorde-
públicas e privadas. Antes, outros ciclos houve, como os Guardiões da Água e a Operação Lágrimas Negras.
Operação Lágrimas Negras Os promotores do PREAA usam o imaginário criador e a expressão artística como “cavalo de Tróia” para o debate de questões ambientais tão pertinentes quanto a conservação das zonas húmidas, a gestão do freático ou a defesa de marés negras. Um dos seus propósitos tem sido de extravasar a escola, levando, através dela, estas questões até às comunidades em que se inserem. No próximo dia 11 de Maio, por exemplo, a DREAlg irá assinalar no Farol da Ponta do Altar, em Ferragudo, o 11º aniversário da Operação Lágrimas Negras. Nesse dia, alunos de todo o Algarve saíram à rua nas suas localidades vestindo de negro em sinal de alerta para o risco de uma maré negra na costa algarvia. Simultaneamente, Daniela Luz, então aluna do 3º ciclo da Escola Jacinto Correia, entregava a Sua Exa. o presidente da Assembleia da República uma petição promovida por todas as escolas da região e que congregou 33 mil assinaturas. O objecto da petição consistia exactamente no afastamento dos corredores marítimos ao largo de Sagres e na instalação de um sistema de vigilância costeira. Ambos os objectivos foram atingidos. As torres de controlo VTS, como a instalada na Ponta do Altar, simbolizam o sucesso de outra das premissas centrais do PREAA: uma educação para o exercício de uma cidadania activa.
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de todos. Dos hóspedes, dos trabalhadores e também dos seus convidados. As bebidas alcoólicas disponíveis no bar atenuam a já por si só inebriante felicidade natural. O hotel é ocupado pelo povo em festa. São três dias e três noites, de uma alegria imensa para compensar não de um carnaval atrasado de dois meses, mas já de muitos anos. De tantos anos de tristeza. Os hóspedes maioritariamente estrangeiros não percebem nada do que se está a passar naquele momento, ali naquela bonita e soalheira região de clima temperado às portas do Mediterrâneo, nessa ofuscante primavera, nem muito menos naquele pacato país de brandos costumes à beira mar plantado. Ao princípio ficam um pouco apreensivos e perguntam: ‘What the hell is going on here? A revolution? …What kind of revolution? Cada um tenta uma explicação no melhor inglês possível. ‘Freedom’, ‘Power to the people’. ‘Death to the fascists!’ Como se de um exercício de chuva de ideias relacionadas com a revolução se tratasse. Os estrangeiros acham tanta piada ao exotismo da situação, que decidem juntar-se à festa e, à banda lisboeta, que apenas era a ‘banda do hotel’ passam a chamá-la ‘The Red Carnations’, porque como toda a gente trazem ao peito cravos vermelhos. Os músicos ficam nessa festa popular até 29 de Abril. Até um momento solene como as despedidas costumam ser, se pauta nessa hora pelo contentamento de todos. É nesse ambiente de natural felicidade que regressam a Lisboa para junto dos seus familiares e amigos, anunciada que está a maior concentração de sempre do povo português que teria lugar nesse dia Primeiro do mês de Maio de 1974, e que a partir daí seria dia feriado também em Portugal, celebrando-se o dia do trabalhador, nesse tempo em que o povo unido jamais seria vencido. Na ressaca do corpo e do espírito desses revolucionários dias, Augusto regressa à casa dos pais e decide recomeçar as aulas de piano e composição. Tem de novo gosto e vontade em tocar e aprender ao mesmo tempo que a ex-banda de hotel se mantém unida. Depois de algumas semanas de ensaios começam então a tocar no Hot Clube de Portugal, interpretando nas suas versões de jazz instrumental os temas dos novos cantautores da então chamada música popular portuguesa. O sucesso sorriulhes. ‘Os Cravos Vermelhos’ foram nesse ano a banda que mais tocou nesse e em muitos outros palcos portugueses. Em 1980, Portugal era um país ainda alegre, onde tudo poderia ainda acontecer. Augusto tornouse o compositor principal e líder do quarteto que evoluiu tanto que começou a ser também conhecido e apreciado fora de Portugal. Podia agora passar a fronteira do país, também fisicamente, e não
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baú
Quando as moedas eram… notas Joaquim Parra
Professor de História e Coleccionador
Há dias, conversando com uns amigos e remexendo nos nossos “baús” de recordações, alguém se lembrou dos rebuçados ou pastilhas elásticas que a senhora da mercearia dava como troco por não ter moedas ou quando, nos correios, as ditas eram substituídas por selos. Situação puxa situação, gargalhada puxa gargalhada, como a daquele que, pacientemente, foi juntando os rebuçados, as pastilhas elásticas e os pequenos chocolates e, quando já tinha um saco cheio foi à mercearia trocar por uma nota, perante a estupefacção da dona. Lembrei-me então que esta
situação já tinha acontecido, de uma forma mais séria, muitos anos antes com a emissão das cédulas. De facto, embora não fosse um caso inédito (já tinha acontecido no século XIX). Com o fim da guerra de 1914 – 1918 as cédulas fazem a sua aparição triunfal Aparecem emitidas por Câmaras, Misericórdias, Hospitais, Juntas de Freguesia, Associações Comerciais, cafés, restaurantes, casas comerciais, etc. A escassez de moeda a isso obri-
gava. Com efeito, as moedas (ou melhor, o metal de que eram feitas, cobre, bronze, cuproníquel) eram açambarcadas ou utilizadas para fins industriais. São normalmente de valores muito baixos: 1 a 5 centavos. De valores mais altos só por volta de 1922, com a grande inflação. O curioso desta situação é que eram ilegais Nunca saiu legislação que autorizasse a sua emissão, com excepção para as que eram emitidas pela Casa
da Moeda. Só em 1924 o Governo toma medidas mais rígidas para acabar com esta situação, argumentando com a sua fácil falsificação, o custo do papel, a necessidade de uma constante renovação causada pela sua rápida deterioração e ainda o facto de serem anti-higiénicas. Mas o problema persistia: a moeda não aparecia, ou melhor, ela aparecia mas, açambarcada, rapidamente desaparecia de circulação. Só em 1926, as cédulas começariam a sair de circulação com a emissão das novas moedas de $10, $20, $50 e 1$00.
destaque
Frente e verso de um exemplar da emissão feita pela Câmara de Castro Marim, no valor de um centavo
RETICÊNCIAS 1 a 30 ABR | Galeria Municipal de Albufeira Mostra de pintura e escultura, da autoria de Júlio Antão.
OS MITOS DA VIRGEM NEGRA 2ª a 6ª feira das 10h00 às 16h30 | Centro de Interpretação de Vila do Bispo A mostra composta por 19 painéis aborda a temática da lenda da Virgem de Guadalupe e dos mitos das Virgens Negras da Europa Ocidental.
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• DA IMPRENSA REGIONAL
Da Imprensa Local – Olhão (I) Dando continuidade ao trabalho iniciado desde o primeiro número desta rubrica, aqui fica mais uma referência bibliográfica, desta vez relativa à imprensa de Olhão: A Imprensa Periódica no Concelho de Olhão (18881983), Antero Nobre, Olhão, 1983, edição de «A Voz de Olhão». O primeiro periódico de Olhão foi O Porvir (1888), que saiu à rua a 28 de Outubro, sendo o seu proprietário Roque Féria que, em 1889, cedeu a propriedade a Gustavo Cabrita. No seu cabeçalho ostentava: «Direito, Liberdade, Humanidade». Apresentava algumas secções regulares como: Cor-
1956; Boletim Informativo do “Bom Sucesso” – Clube Náutico de Olhão, 1980; O Sporting Olhanense, 1963), escolares, (O Caíque, 1969; O João Ratão, 1961; O Mirante, 1969) e até jornais manuscritos, copiografados e fotocopiados. Devido à extensão deste artigo, ele será dividido em duas partes.
respondência, Noticiário, Folhetim, Livros e Jornais etc. Custava 20 réis. A sua precoce suspensão deve-se ao conteúdo dos artigos nele publicados, uma vez que, não só atacava a monarquia e o rei, como veiculava ideais republicanos e anarquistas, pouco consentâneas com as mentalidades da época e da região. Exactamente por isso é um jornal importantíssimo para o estudo desta cidade e da política republicana, socialista (e mesmo anarquista) da época, não só na região, como do país. Desde O Porvir até à actualidade
foram muitos os títulos que Olhão viu nascer (mais de três dezenas) não só de carácter noticioso mas abrangendo diversas áreas, como o espectáculo (O Écran, 1919), a política (O Racional, 1922; Cruzeiro do Sul, 1976; O Povo de Olhão, 1975), o desporto (Boletim do Clube Desportivo “Os Olhanenses”
O Futuro (1888) - Semanário Democrático (mais tarde, Semanário Democrático Algarvio) - De carácter, noticioso, literário e republicano, sucedeu ao O Porvir, sendo seu Director Gustavo Adolfo Manuel Cabrita. Apresentava um bom conjunto de colaboradores onde se destacam Luciano Cabrita, António Cabreira, José Bacelar, Heliodoro Salgado, João Chagas, Homem Cristo, Nuno de Bulhão Pato, Marcos Algarve, António José de Almeida, Magalhães Lima, Henrique Galvão,Teofilo Braga, Higino Craveiro Lopes entre muitos outros. Custava 20 réis. Tinha várias secções regulares, como por exemplo: Folhe-
tim, Curiosidades, Governo Civil de Faro, Tuna académica etc. Foi um dos mais importantes paladinos dos ideais republicanos algarvios, razão que o torna de incontornável importância para a história do republicanismo em Olhão, no Algarve e em Portugal. Terminou em 1909, por morte do seu Director.
Correio Olhanense (1921) - Semanário independente (com o nº50), mais tarde bi-semanário independente, volta depois à designação inicial. Noticioso, literário, cultural, regionalista e republicano, era seu Director João Lobo de Miranda Trigueiros, substituído em 1924 por José de Sousa Ferradeira. João Trigueiros voltará a este cargo em 1929, o mesmo sucedendo com José Ferradeira. João da Silva Nobre é outro nome que aparece nos cargos de chefia deste jornal, nomeadamente como Redactor e Editor. Entre os colaboradores são de destacar algumas figuras femininas, como é o caso de Lúcia de Lemos, Josefina Cláudia, Maria Otília Lima e Maria Odete Leonardo. Entre as figuras masculinas são de destacar entre muitos: Marcos Algarve, Antero Nobre, João Trigueiros, Francisco Fernandes Lopes, Abílio Gouveia, Francisco e José Dentinho Júnior e Henrique Cruz. São inúmeras as secções que apresentava, nomeadamente: Noticiário, Vida Desportiva, Folhetim, Crónica Religiosa, Coisas Antigas do Algarve, Tribuna dos Novos, Arabescos etc. No entanto, a grande alma deste jornal é sem sombra de dúvida, João Trigueiros. Custava $10. Surge numa época em que Olhão começava a despontar como um dos maiores centros comerciais e industriais. Para a sua publicação foi mesmo constituída uma sociedade por quotas, a Editora Olhanense Lda.. Foi provavelmente um dos melhores, ou mesmo, o melhor jornal olhanense. Apesar de procurar ser imparcial e defensor da sua terra, viu a censura fechar-lhe as portas, por um ano, em 1929/30. Mas o seu corpo redactorial rapidamente contornou a situação, fazendo sair um outro jornal em tudo idêntico, apenas divergindo no título que era agora O Olhanense e apresentava como Redactor e Editor, Abílio Gouveia. Este jornal suspendeu a sua publicação em 1930 quando o Correio Olhanense foi amnistiado. Terminou a sua publicação em 1933. Olhão, tem gravado na sua toponímia o nome deste jornal, atribuído pela Câmara Municipal de Olhão, em 23 de Novembro de 1969. (Continua na próxima edição)
seria só para África. Nunca esqueceu o que às escondidas ouvira numa conversa lá em casa, numa distante noite de inverno. Tornara-se realidade a frase profetizada por um amigo dos seus pais: ‘Quando o teu puto tiver idade para ir para a tropa já a guerra acabou, vais ver, acredita no que te digo Lacerda’, palavras essas que durante anos o encheram de esperança e força para continuar a acreditar que um dia seria livre. O A. Lacerda Quarteto começou a tocar por toda a Europa como representante do novo país e da sua música. Por exigência da profissão que abarcara Augusto passava cada vez mais temporadas lá fora, tendo vivido em Madrid, Paris e Berlim, dedicando-se posteriormente a uma bem sucedida carreira a solo. Durante muito tempo apenas visitava Portugal a espaços para fazer férias e rever a família e os amigos. Mas depois de muitos anos de discos, gravações e longas digressões, sentiu de repente uma estranha vontade de regressar à sua terra. Conseguiu assim chegar mesmo a tempo de adquirir a casa dos seus pais, onde crescera. O Portugal que Augusto encontra em 2004, é um país já a ficar deprimido, onde pouco poderá ainda acontecer, a não ser tudo o que a globalização e a comunidade europeia deixarem para nos entreter. Quando, no dia em que Augusto teve outra vez tempo para se sentar em casa a ler o jornal e ligou a televisão, era o dia do jogo da final do campeonato, que celebrava aquele que consideravam ser o maior evento desportivo jamais realizado no país. Nos estádios de futebol, o Menino de Ouro, que ainda viria a dar o seu melhor, regressaria de novo à ilha, não do país que o viu nascer, mas onde nasceu o desporto do qual diziam ser ele o melhor. Não podia sair de Old Trafford, mas já começava a entrar na esfera da inevitável e exagerada exposição pública da sua vida privada. E nessa tarde de Junho, mesmo estando dentro do relvado, foi apenas mais um entre os milhões de portugueses vestidos de camisola grená e calções verdes, que não conseguiu festejar um único golo, apesar de tantas bandeiras penduradas nas janelas por esse país fora. A Cantora de ascendência crioula que foi promovida ao estrelato meteoricamente, deseja ir instalar-se em Nova Iorque para indirectamente se ir afastando do forçado rótulo de nova diva da canção de Lisboa, e do destino do seu país. Enfim, da essência do nosso fado. No entanto, essa abertura de identidade criativa, é que a poderá manter ainda famosa e independente por mais algum tempo. Na televisão plasma por cabo, o nosso senhor Primeiro-Ministro anunciaria a sua partida para Bruxelas como se de um dever patriótico se tratasse, lançando o país numa crise política e social que estará para durar. Através dessa caixa que o mundo transformou num painel estreito de alta definição, os políticos vindouros continuarão a mentir semanalmente ao povo de uma nação cheia de
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altas taxas de desemprego, fome e corrupção, apesar de todos nós quereremos ainda acreditar num estado que continua a dizer-se de direito democrático, mesmo depois do que fomos assistindo ao longo destas últimas décadas. E… uma juventude, que tem de demorar-se a ficar adulta por força das circunstâncias da crise, por o curso não ter saída no mercado, tendo de arranjar trabalhos precários e temporários, pois enquanto não conseguem nada melhor os pais lá fazem por manter os filhos no sonho visionário da adolescência por mais algum tempo. ‘Tchalalalalaúuuu….Tchalalalalaúuuu….Tchalalalalaúuuu….’ tocam assim os telefones num som agudo, digital, sem fios, demasiado estridentes e utilizam-se para se dizerem coisas realmente normais. Boas ou más. Por isso Augusto sente um arrepio de cada vez que os ouve. Treme só de pensar, que lhe vão perguntar onde está e o que está a fazer ou a estafada senão paradoxal pergunta sobre que projectos tem para o futuro - esse tempo que cada vez se sabe ser mais incerto. Decidiu-se finalmente a apanhar o leve telefone móvel. Esta chamada era das más. Sentiu-se devastado. O que de pior se podia esperar ouvir por aqueles dias. A voz profunda e triste do Rui num som nítido como se estivesse ali mesmo a seu lado, dizia que já tinha descansado o seu amigo Jorge. Ficou imóvel junto à janela da sala da velha casa onde nascera, agora restaurada e com vidros duplos, o que lhe permitia compor sem a interferência do ruído contínuo que vinha daquela movimentada artéria da cidade. Dali podia ver o seu jardim, ou o que restava desse pequeno jardim público e relembrar nostalgicamente quando nos fins de tarde ou noite ali se sentava nos bancos com o amigo a falar das pequenas grandes coisas da vida. Passaram mais de trinta anos em apenas alguns minutos. Apesar de tudo o que de bom e mau envolve o acto de recordar, era preciso continuar a ensaiar, a tocar, a resistir à morte. Pisando as tábuas do soalho de madeira que gostava de ouvir ranger, foi engolindo em seco para não se comover demasiado. A sua profissão exigia era que emocionasse os outros. Dirigiu-se para o piano tocando algo que poderia assemelhar-se a excertos de ‘Mantra’ de Karl Stockhausen, premindo com força nas teclas de modo a libertar aquela tensão que se lhe alojava na alma. E assim se refez daquela sensação sufocante, terminando nessa mesma madrugada a peça começada ainda em Londres, no dia em que se decidiu pelo regresso a Lisboa e que às primeiras notas trazia colado o título provisório ‘A Sort of Homecoming ’. Tinha estado a trabalhar esta composição nestas últimas semanas, dedicando-a ao seu velho amigo Jorge, desde que soubera da sua doença. Tomara então naturalmente o nome ‘Uma Espécie de Regresso a Casa’ e ia estreá-la no concerto que daria em breve no Centro Cultural de Belém, para o lançamento do disco de retrospectiva dos seus 25 anos de carreira a solo. Exausto, adormeceu no sofá ao lado do piano. FIM
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museu
Museu de Portimão Testemunhos: Porque faço parte da equipa deste museu, ofereço, nesse caso, a vez e a voz a quem colaborou cedendo peças e testemunhando saberes que hoje fazem parte do museu de Portimão: O “Museu de Portimão”, constitui uma das obras mais marcantes e emblemáticas que o Município concretizou, aproveitando o espaço, equipamentos e material da antiga fábrica de conservas de peixe. Trata-se de relevante mais-valia que honra o concelho de Portimão e justifica expressivo agradecimento a quem o concebeu, nomeadamente o seu actual director, José Gameiro, e os autarcas que o tornaram possível. Para mim, que trabalhei cerca de vinte anos, na antiga Fábrica de Consevas “Feu Hermanos”, é sempre emocionante percorrer aqueles espaços, “viver o ciclo de produção”, apreciar como foram tão bem aproveitadas as antigas máquinas e materiais, rever os filmes da pesca e do fabrico, ver e ouvir antigos trabalhadores nas projecções de grande utilidade, alguns dos quais comigo conviveram.
Isabel Soares
Museóloga/Arqueóloga
Hoje não sou viajante porque vivo nesta terra e vou falar da minha gente. Trata-se de Portimão, uma localidade de vocação marítima e com uma larga tradição na faina da pesca e nas artes de conservação do peixe. Ao longo das margens do Rio Arade despontaram moinhos de maré e fumeiros, edificaram-se fábricas de salga e de conserva de peixe, construíram-se marinhas de sal e estaleiros navais. Também a exploração da terra marcou este lugar. Na agricultura, sobretudo, a produção de frutos secos e a actividade dos fumeiros complementaram as actividades marítimas. Actualmente, a evolução e o desenvolvimento urbano de Portimão transformaram a paisagem das comunidades ribeirinhas, rurais e urbanas. Já não ouvimos o toque das “sereias” das fábricas, nem ouvimos o barulho das gaivotas no ambiente da antiga lota onde nos leilões se ouvia gritar “chui”. Agora restam as memórias e alguns dos vestígios desse quotidiano como os velhos edifícios fabris de conservas. É precisamente sobre uma fábrica de Portimão que vos vou falar. Refirome à antiga Fábrica de Conservas de Peixe Feu Hermanos recentemente convertida e adaptada no museu. Aqui podem visitar a história associada ao Município, observando e admirando as exposições que habitam as salas por onde, em tempos idos, muitos homens e mulheres passaram e deixaram o seu saber. Neste espaço a história prolongase no tempo e nas memórias. Os mais velhos recordam o que muitos viveram e os mais novos descobrem e aprendem a evolução histórica do município, desde as origens à actualidade. Este Museu oferece um conjunto de temáticas diversificadas que envol-
Secção do Cheio, enlatamento vem, na sua maioria, memórias e quotidianos de um passado recente (indústria conserveira, pesca, construção naval, litografia, fumeiros) e ainda nos leva a uma viagem mais longínqua, abordando as primeiras comunidades em torno de testemunhos arqueológicos do Município. Destaca-se, também, do acervo a colecção Manuel Teixeira Gomes (antigo Presidente da República, natural de Portimão e notável do Município). A Exposição de longa duração “Portimão Território e Identidade” desenvolve-se em torno de três percursos principais: “Portimão – Origem e destino de uma comunidade;
A vida industrial e o desafio do mar; Do fundo das águas”. Para além desta existem mais duas salas onde podem ser visitadas exposições temporárias nas quais são abordados temas relacionados com a história e também no domínio da expressão artística. Actualmente, encontram-se patentes duas exposições temporárias: “Portimão nos Alvores do Século XX”, que nos retrata os principais aspectos da evolução de Vila Nova de Portimão entre 1900 e 1925, e o “Azeite – Saberes com Sabor”, inserida no projecto “Taste of Europe” sobre a alimentação e resultante da cooperação entre nove museus europeus.
Espero que o “Museu de Portimão”, galardoado com o prémio Europeu em 2010, continue a prestigiar o concelho, a cidade e o País! António Feu (sócio-gerente da antigaSociedade Feu Hermanos)
O museu está muito bonito e bem representado! Conheço tudo quanto lá está. Um dia visitei o museu onde vi um rádio a fazer propaganda às conservas “La rose” e por isso lembrei-me de oferecer ao Museu de Portimão uma grafonola e um rádio, que era do meu pai, porque é uma recordação da minha infância e também porque quero que seja relembrado o tempo em que se faziam matinés e bailes com os rapazes e
raparigas. Este era o único divertimento que havia a não ser no carnaval, alguns bailes das Sociedades.
Maria Paula Faustino
A minha contribuição para o museu é precisamente por causa da montagem da máquina da litografia, pois ajudei a montar e ensinei como funcionava. Trabalhei desde miúdo nesta máquina por isso conheço-a bem. E ainda hoje sempre que é preciso chamam-me para ensinar. Quando visitam o museu e vêem a ilustração nas latas “Marie Elisabeth”, fui eu que as imprimi, o que me deixa orgulhoso por estar exposto o meu trabalho no Museu. Lourival Monteiro Arez (antigo impressor litográfico)
Creio que uma das funções dos museus é preservar e divulgar os testemunhos históricos. Ao fazê-lo está a dignificar, revitalizar e até certo ponto eternizar essas memorias para que as gerações presentes e futuras se possam culturalmente enriquecer na contemplação e conhecimento dessas realidades. Porquê doar a Mercearia Bia Floro ao Museu de Portimão? Um museu é obra do seu director e de todos os seus colaboradores. Essa obra é reconhecida quando transborda as paredes do museu, invade ruas e cidades e convida a população a visitá-lo. Se ao apreciarem o trabalho desses profissionais sentirem vontade de participar, o que deveria ser o dever de qualquer cidadão, passa a ser uma alegria, um orgulho. Por todas estas razões e também para homenagear da melhor forma os nossos pais doamos com muita alegria e orgulho a Mercearia Bia Floro, ao Museu de Portimão. Joaquim Ramos Xavier
(Todos os testemunhos são de colaboradores do Museu)
António Pina Convida
Cultura Algarvia: o que somos e o que queremos ser Quando se fala de cultura é comum dizer-se que o conceito refere um sistema de signos que enquadra a actividade dos membros de uma comunidade. Esse sistema é ‘alimentado’ pela história, pelas memórias e crenças, pelas convenções e pelas normas que regem as práticas sociais dessa mesma comunidade. De acordo com esta acepção, na reflexão sobre a actividade cultural de uma região, devemos obrigatoriamente olhar para todas as actividades que contribuem para o aumento da consciência de identidade dos seus habitantes e para o aumento do seu próprio conhecimento sobre os modos
de vida, o património e a história das comunidades que nela residem. Na definição do que é cultura no Algarve teríamos, então, de considerar as actividades realizadas tanto pelas pequenas comunidades rurais como pelos habitantes das cidades mais densamente populadas. A cultura algarvia, como qualquer outra, é assim como que uma rede ou teia construída com os factos da história, os costumes e as ideias dos seres que aqui vivem. Afinal, somos um povo com raízes numa terra que já foi agrícola, num mar que já foi sustento e na história de um país que muitas vezes nos esqueceu. Apesar disso, ou talvez
por isso mesmo, invertemos o rumo das expectativas e tornámo-nos numa região cosmopolita, que se habituou desde há muito a aceitar diferentes modos de ser e de estar, e aonde se verificam índices mais altos do que a média nacional em termos de educação e qualidade de emprego. Se é verdade que a cultura algarvia mais genuína se inscreve, ainda hoje, nas peças teatrais representadas por pequenas comunidades, nos bailes em dias de festa de freguesia, nas feiras e nos mercados do barrocal e das serras, na actividade das filarmónicas e dos agrupamentos musicais populares, também é verdade que
no Algarve acontece também uma outra cultura, umas vezes mais erudita, outras vezes mais próxima do lazer e do consumo do efémero. Dessa outra cultura, falam as estatísticas e as brochuras editadas por vários municípios do Algarve. Aí se afirma que esta é uma região que privilegia a actividade cultural. Particularmente no caso das cidades com maior índice populacional, a análise dessa oferta cultural releva que a maioria dos programas inclui sobretudo espectáculos de música ao vivo, embora neles também ocorram, com uma frequência bastante menor, algumas actividades de teatro, con-
certos de música erudita e espectáculos de dança. As actividades culturais mais massificadas correspondem ao que os públicos preferem, dir-me-ão os responsáveis pela oferta anunciada. Todavia, se consideramos a actividade cultural como instrumento de coesão social e como factor de promoção da identidade dos povos, então julgo que será um dever ético rejeitarmos as políticas que atribuem à cultura a mera função de produto de consumo, em época de Verão. Maria Cabral Professora universitária