Cultura.Sul Maio33

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algarve e alentejo

mai | 2011 • Nº 33 • Mensal • O Cultura.Sul faz parte integrante da edição do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente

maio • Mensalmente com o postal em conjunto com o público

10.014 exemplares www.issuu.com/postaldoalgarve

• 7º aniversário

Casa da Juventude de Olhão: Gerador de talentos » p. 4 e 5

Vereadora Ana Branco aposta nos artistas locais

» p. 7

Serra Ribeiro expõe «iLUZão» em Almancil

GORDA sobe ao palco do Auditório Municipal » p. 11

» p. 6


Cultura.Sul 05.05. 2011

momento

Simplex dictum

Vítor Correia

João Evaristo Editor Cultura.Sul

Burcas, Biocos e Mascarinhas No início do século XX, vagueavam por Olhão umas mulheres envoltas em biocos. Dizem que eram mulheres. Podiam ser homens, contrabandistas! Os biocos escondiam o contrabando… e a pobreza envergonhada. Raul Brandão refere-os em Os Pescadores (1922): «É um trajo misterioso e atraente. Quando saem, de negro, envoltas nos biocos, parecem fantasmas». Depois veio a evolução. E a Liberdade.

Passaram a proibir as mascarinhas de cara tapada, nos bailes de máscaras. Proibição só para homens. As mulheres podiam. Eram conduzidas a uma sala reservada onde retiravam a máscara para comprovar o género sexual. Foi há 20 anos. Em Abril de 2011, a França proibiu «a dissimulação do rosto em espaço público». A lei não se refere às plásticas nem às variações pilosas ou cromáticas da face. Terra onde fores ter faz como vires fazer!

É antigo o ditado. Antigo como o preconceito. Há que ser igual entre os (des)iguais. Aceitamos todos os que vêm de fora, desde que eles se tornem iguais a nós! O preconceito é carrasco do multiculturalismo

O mundo avança mais depressa do que as mentalidades. A grande vantagem é permitir mesurar o nível evolutivo em que cada um se encontra com base nas ideias que professa. Felizmente há lugar para todos: para os que vêem o mundo por uma fresta e para os que andam de olhos tapados.

Tim, num concerto intimista em Estombar

Um espaço que dá relevo a uma fonte de actividade literária que fervilha, muitas vezes, à margem dos circuitos convencionais.

blogosfera

Jady Batista

A ilusão triste de um robô (Parte 1) Era uma vez um robô muito alto, com os seus olhos de ferro castanhosclaros como a terra, cara lisa blindada como prata. A sua cara tinha sempre a mesma feição, boca igual à pedra sem qualquer tipo de demonstração sentimental. Ele não vivia, ele não respirava, ele não sentia. Apenas se limitava a caminhar em busca de algo que nem ele sabia o quê. Num mundo estranho era onde ele estava, rodeado de nada, abaixo do senso comum. Sem saber o que era a liberdade, ou o que não é a liberdade. Um dia investe em procurar algo novo, caminhando, caminhando e caminhado pelo seu caminho fora. Até ver algo parecido a ele, diferente, algo desconhecido, onde havia tanto por descobrir. Ele muito impressionado

olhava, e tocava nele mesmo, à procura do que via em sua frente. Um corpo com cor, com expressão de sentimento, com olhar aquecido. Ele se dirige a ela querendo expressar-se, pretendendo sentir o que ele não conhecia. No momento, ele coloca a sua mão fria de ferro, sobre aquela cara bela, quente e brilhante. Aproximando em seus lábios, muito pasmado interiormente. E a Blia “assustada”, sem nada dizer, sem nada fazer. Limitando-se a fazer o mesmo que o robô lhe concebia, a tocar e a olhar para algo que aparentava ser irreal. Nisto se prolonga algo de outro ciclo, variado de descobrimentos sensíveis.

Responsáveis pelas secções: » arte.S: João Evaristo » baú.S: Joaquim Parra » blogosfera.S: Jady Batista » livro.S: Adriana Nogueira » momento.S: Vítor Correia » museu.S: Isabel Soares » panorâmica.S: Ricardo Claro » políticas.S: Henrique Dias Freire

Colaboradores: António Pina, Cineclube de Faro, Cineclube de Tavira, AGECAL, ALFA, Marta Dias, Pedro Jubilot, Swantje Seumer, João Nuno Neves, Elisete Santos, Augusto Miranda, Olga Neves

http://teugenioescritas.blogspot.com/

Ficha Técnica Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: João Evaristo Paginação: Postal do Algarve

Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve. e-mail: geralcultura.sul@gmail.com

on-line: www.issuu.com/postaldoalgarve Tiragem: 10.014 exemplares


Cultura.Sul 05.05. 2011

cinema Cineclube de Faro

Manifestos Poéticos

PROGRAMAÇÃO

www.cineclubefaro.com

UFF! Tanta actividade deixa-nos sem palavras - mas com muitas imagens e sons para oferecer ao nosso público! De salientar a recente estreia da grande maioria dos filmes do nosso ciclo “importante”, sendo que “Manifestos Poéticos” é sem dúvida um título muito adequado para as propostas, ficcionais ou documentais, que nos apresentam. A Poesia vive no e pelo cinema, não é meramente feita de palavras impressas… Ambientes, fotografias, réplicas, silêncios… Histórias também.

E se Mel foi um filme revelação na estreia comercial em Portugal, o seu realizador fê-lo como terceira parte de uma trilogia. Como tal, cabe-nos como cineclube dar a ver as outras duas anteriores partes… na sede, com entrada livre. A saudada e saudável colaboração com a Associação Académica encerra-se este mês (esperando nós que se venha a repetir!), seja com a conclusão do Ciclo “Mentes Perigosas” (uma obra-prima do mestre Buñuel) seja com a colaboração na Noite Azul que decorrerá no Centro

Histórico no dia 6 com actividades em diferentes áreas. Cinema? É connosco! “Curta a rir!” será uma sessão com belas comédias de cinema mudo. Por último, jovens alunos da Escola Secundária João de Deus pediramnos filmes sobre Direitos Humanos. Ei-los, escolhidos por eles. Saliente-se ainda que é com muito prazer e todo o gosto que todas as sessões a decorrer no IPJ estão integradas no Maio Jovem! Pois não é esse mesmo o espírito que nos anima?

CICLO MANIFESTOS POÉTICOS IPJ | 21.30 9 MAI | O Tio Boonmee Que Se Lembra das Suas Vidas Anteriores, Apichatpong Weerastethakul, Reino Unido/ Tailândia/ Alemanha/ França/ Espanha, 2010, 113’, M/12 16 MAI | A Cidade dos Mortos, Sérgio Tréfaut, Portugal, 2010, 63’, M/12 23 MAI | Poesia, Lee Changdong, Coreia do sul, 2010, 139’, M/12 30 MAI | Mel, Semih Kaplanoglu, Turquia/Alemanha, 2010, 103’, M/12 CICLO OS OUTROS DOIS DA TRILOGIA Sede Cineclube de Faro 21.30 | Entrada Livre 11 MAI | Ovo, Semih Kaplanoglu, Turquia, 2007, 97’, M/12 25 MAI | Leite, Semih Kaplanoglu, Turquia/França/Alemanha, 2008, 102’, M/12

E AINDA: CURTA A RIR! Co-organização NOITE AZUL AAUAlg Museu Municipal 21.00 | Entrada Livre 6 MAI | Programa de curtas-metragens com grandes comédias de cinema mudo de Charles Chaplin (O Imigrante), Buster Keaton (One Week), Harold Lloyd (Haunted Spooks), Charles Bowers (There it is), Max Linder (Be my wife) e Stan Laurel (The sleuth). CICLO MENTES PERIGOSAS Co-organização AAUAlg IPJ | 22.00 | Entrada Livre 20 MAI | EL, Luis Buñuel, México, 1953, 92’, M/18. apresentação Dr Vitor Reia Baptista. CICLO DIREITOS HUMANOS Co-organização Escola Secundária João de Deus IPJ | 21.30 | Entrada Livre 24 MAI | Hotel Ruanda, Terry George, Canadá, Reino Unido, Itália, África Sul, 2004, 121’ 26 MAI | Diamante de Sangue, Edward Zwick, EUA, 2006, 143’

Cineclube de Tavira

Cinema de Bairro

destaque

Enquanto continuamos à espera de podermos exibir “Budapeste” de Walter Carvalho, no mês de Maio iremos exibir um documentário nacional chamado “Cinema de Bairro”. Trata-se de uma produção do Inatel, na qual 25 jovens (conduzidos pelos realizadores João Pinto Nogueira, Leonor Areal, Pedro Sena Nunes, Rui Simões e

Marta Pessoa) pegaram nas câmeras para contar histórias que decorrem nos bairros sociais onde residem, entre outros: Mataduços (Guimarães), Bairro da Rosa (Coimbra), Casal da Mira (Amadora), Bairros I e II (Beja) e Bairro da Rua da Armona e das Panteras Cor-de-Rosa (Olhão). Filmar histórias reais foi o motivo do encontro...

Mais destaques para este mês são “Blue Valentine” (“Só Tu e Eu”), com o maravilhoso mas relativamente desconhecido (pelo público português) Ryan Gosling; o último trabalho de Sofia Coppola (filha de..., sim) “Somewhere” (“Algures”), o multipremiado “Black Swan” (“O Cisne Negro”) do enfant terrible do cinema americano Darren Aronofsky (“Requiem for a Dream”, “Pi”, “The Foutain”, “The Wrestler”…) que agora os tavirenses poderão apreciar em cópia 35mm em vez de digital; o Palma de Ouro em Cannes 2010 “ O Tio Boonmee que se lembra das suas vidas anteriores” e last but not least “Micmacs à Tire Larigot” (“Micmacs – Uma brilhante confusão”) do criador de obras tão fantásticas e cómicas como “Delicatessen e Le Fabuleux Destin d’Amelie Poulin”. Filmes que apenas no grande ecrã poderão ter o impacto intencionado e desejado pelo realizador...

ÁGUA, ELEMENTO VITAL Até 28 MAI | Galeria de Arte Pintor Samora Barros (Albufeira) Através da pintura, Francisco Graça explora o universo da água.

PROGRAMAÇÃO

www.cineclube-tavira.com 281 320 594 | 965 209 198 SESSÕES REGULARES Cine-Teatro António Pinheiro | 21.30 5 MAI | Der Räuber (O Assaltante), Benjamin Heisenberg, Alemanha/ Aústria 2010 (90’) M/12 8 MAI | Blue Valentine (Só Tu e Eu), Derek Cianfrance, E.U.A. 2010 (112’) M/16 12 MAI | Cinema de Bairro, em colaboração com INATEL, 25 jovens, Portugal 2010 (96’) M/12 15 MAI | Somewhere (Algures), Sofia Coppola, E.U.A. 2010 (97’) M/12

19 MAI | Made in Dagenham ( A igualdade de sexos), Nigel Cole, Reino Unido 2010 (113’) M/12 22 MAI | Black Swan (O Cisne Negro��������������������������������� ), Darren Aronofsky, E.U.A. 2010 (108’) M/16 26 MAI | Long Boonmee Raleuk Chat (O Tio Boonmee que se lembra das suas vidas anteriores), Apichatpong Weerasethakul, Tailândia/Reino Unido/França/Alemanha/Espanha/Holanda 2010 (114’) M/12 29 MAI | Micmacs à Tire Larigot (Micmacs - Uma brilhante confusão), ����� JeanPierre Jeunet, França 2009 (105’) M/12

CARAS Até 31 de Maio | Galeria-restaurante Artebúrguer, na vila da Luz (Lagos) Catorze trabalhos de Doris Gaspartic retratam ícones do cinema e da música.


Cultura.Sul 05.05. 2011

• Casa da Juventude de Olhão

panorâmica

Sete anos a gerar talentos As iniciativas valem na exacta medida dos seus resultados e se esta é uma verdade de todos os tempos para as intervenções na área do social e em particular no apoio à juventude, ganha especial acuidade em tempos de crise e quando se trata de investimentos realizados pela administração pública. Sete anos volvidos sobre Maio de 2004, a Casa da Juventude de Olhão (CJO) é o exemplo acabado de como o investimento público no apoio à juventude pode constituir, e constitui no caso concreto, uma valência fundamental nas áreas da ocupação dos tempos livres, da educação e formação e na aquisição de competências para os jovens olhanenses. A ideia inicial cresceu, consolidou-se e ganhou recentemente novo fôlego com novos projectos a serem desenvolvidos numa aposta clara da autarquia de diversificar e magnificar a oferta que faz aos jovens do concelho. A promoção e divulgação dos novos talentos de Olhão tem estado desde sempre nos objectivos primordiais da CJO, bem como o estão a formação artística, cultural e desportiva e o grande desiderato que é o de deixar em cada um dos jovens que passa pelo espaço municipal a semente para um futuro artístico e pessoal enriquecido, seja através da expressão da sua arte, seja através da ampliação das suas capacidades intelectuais e sensitivas para a arte e cultura do ponto de vista do fruidor. Encontrar uma oferta compaginável com as necessidades e os caminhos artísticos escolhidos pelos jovens olhanenses numa perspectiva de liberdade de escolhas quanto àqueles que os jovens consideram ser os seus próprios desafios pessoais nestes capítulos, foi o desafio que desde a primeira hora se colocou aos profissionais que trabalham na CJO. Um trabalho diário de acompanhamento que alia a audição de cada um dos jovens com a capacidade criativa de encontrar as respostas acertadas em cada momento. “Um trabalho que o executivo autárquico reconhece”, afirmou ao Cultura.Sul António Pina, vereador da Cultura da autarquia. Para o autarca, “a Casa da Juventude trata-se de uma aposta ganha, mas todos os bons projectos carecem de uma constante revitalização para garantirem a excelência da sua prestação, ainda mais numa área como a da juventude, em que as necessidades do público-alvo evoluem a um ritmo especialmente elevado”. “É este dinamismo que queremos imprimir à CJO”, garante António Pina, “é esta evolução constante nas soluções que satisfaçam os jovens do concelho que apostamos”, conclui o vereador. A Fanzine De entre as iniciativas da CJO escolhemos algumas que nos parecem permitir uma melhor visão geral das activi-

Uma vez mais, o aniversário da Casa da Juventude de Olhão está este ano associado à semana da juventude do concelho. A semana dedicada aos jovens olhanenses conta com a organização da Câmara local, da CJO e da Associação Movimento Juvenil em Olhão (MOJU). A programação promete e o Cultura.Sul destaca na página ao lado os eventos em cartaz. Actrizes de FACE, a primeira produção do Clube de Teatro dades do espaço juvenil por excelência da Câmara olhanense e de entre elas destaque para uma cuja regularidade e função têm especial relevo para levar até aos jovens as notícias da ‘sua casa’. A Fanzine é o porta-voz bimestral em suporte papel que leva fora de portas o trabalho da CJO e guarda espaço para tudo. Da BD humorística, ao espaço para os passatempos e para a informação, a Fanzine contém um mar de dicas e sugestões a pensar no público mais jovem. Os clubes Espaços criados a pensar em quem gosta de determinada área e que a quer experimentar e partilhar com regularidade, os clubes - entre eles os de desenho e BD, pintura e teatro - têm tido uma enorme adesão, espelhando a importância de um lugar especial para fazer aquilo de que mais se gosta. Programa de formação teatral A CJO dinamiza várias actividades formativas direccionadas para os jovens, entre elas o teatro, onde o desafio é o de que todos possam ter espaço para exprimir-se nas artes de palco, num misto entre a formação continuada dos jovens que já fazem parte do projecto e a entrada de novos rostos em que a aposta está no alargamento do espectro de abrangência do programa A arte como veículo para a saúde Formar e educar para a saúde sem complexos nem preconceitos e com uma

atitude comunicacional voltada para os jovens é um dos projectos da CJO. O programa de educação para a saúde através da arte é a resposta encontrada para promover hábitos, comportamentos e atitudes saudáveis nas camadas mais jovens da população do concelho. A arte é o meio escolhido para formar e educar como o é para que os jovens se expressem no âmbito dos seus problemas e das suas respostas para as questões nesta área. A este caminho se junta o aconselhamento e as sessões de informação e esclarecimento que abarcam os universos dos utilizadores da CJO e das escolas e que apostam em estar onde estejam os jovens. Workshops e oficinas Lugar a aprender metendo mãos à obra. São inúmeras as oficinas e os workshops promovidos para colocar os jovens perante a realidade de levar a cabo uma tarefa em determinada área. Neste capítulo a actividade da CJO não tem tempos mortos e já em Maio arranca mais um workshop sobre efeitos especiais para teatro e cinema. Acompanhar o ritmo aqui é a palavra de ordem e as portas da CJO estão abertas para os jovens olhanenses procurarem informação sobre tudo o que está para acontecer e darem sugestões sobre o que desejam que seja

uma realidade no espaço que lhes é especialmente dedicado pela autarquia. Porque acima de tudo é disso que se trata, de espaço e de tempo criados

a pensar na juventude, feitos pela juventude e em que o domínio do resultado final é o produto da expressão dos jovens.


Cultura.Sul 05.05. 2011

Ricardo Claro

O corredor das artes Uma das iniciativas da Casa da Juventude de Olhão (CJO), que desde o início integra o trabalho da instituição, é o “Corredor das Artes”, um espaço onde, de acordo com António Pina, vereador da Cultura do município, se dá a oportunidade aos jovens de darem mostras das suas qualidades artísticas, ao mesmo tempo que se lhes abre uma janela para o mundo num espaço onde a exposição pública se adequa ao início da sua actividade expositiva. Jovens artistas que deram nota do seu trabalho através de mais de 50 exposições em áreas tão diversas como a fotografia, pintura em acrílico, óleo e

vidro, aguarela, cerâmica, artesanato, bijutaria, cartoon e banda desenhada, serigrafia e escultura. Para o vereador que tutela a CJO, a iniciativa é para manter, “como tudo o que na instituição é para manter quando a qualidade dos resultados prove a sua validade”, adiantando que “a nova vitalidade que se quer imprimir pelas mudanças na CJO visa cumprir um objectivo primordial, estar a par do que os jovens querem e desejam, dos seus objectivos e ambições”. Algumas das exposições que passaram pelo Corredor das Artes podem agora ser vistas ou revistas

Novos desafios

Cena da curta DREAMS OF YESTERDAY Entre as novas iniciativas da CJO destaque para o desafio lançado aos olhanenses maiores de 14 anos para a produção de trabalhos de poesia, prosa, texto dramático e banda desenhada. Com o objectivo de promover a produção e divulgação literárias de autores olhanenses, sem limite de idade, porque afinal a arte não escolhe um tempo para se manifestar. A iniciativa é dirigida à população em geral, que tenha nascido ou viva em Olhão e que não tenha ainda trabalhos publicados nas modalidades a que se refere a antologia. Os trabalhos deverão ser entregues até dia 8 de Maio e, depois analisados por três personalidades olhanenses das áreas da cultura e das letras, os seleccionados serão revelados no dia 22 de Maio, sendo posteriormente editada uma antologia. Noutra vertente surge o CAL - Festival de Curtas Algarvias, uma iniciativa do Auditório Municipal de Olhão e da CJO que tem como objectivos incentivar a produção e divulgar curtas-metragens produzidas no Algarve ou por algarvios. A participação é aberta ao público em geral, de forma individual ou colectiva, com a apresentação a concurso de um ou mais trabalhos. O CAL decorrerá no Auditório Municipal, no dia 8 de Outubro, e pretende dar lugar a mostra da expressão artística em suporte audiovisual numa época em que esta forma de arte está ao alcance de todos de uma maneira nunca antes experimentada. Lugar a quem tem veia para a imagem sem as limitações de meios técnicos sofisticados, porque afinal uma curta neste festival é um espaço de expressão para qualquer um.

nas escolas escola que já aderiram à iniciativa: EB 2, 3 Prof. Paula Nogueira, EB 2, 3 Dr. Alberto Iria, EB 2, 3 José Carlos da Maia e EB 2, 3 João da Rosa. Um corredor que ganha um duplo sentido de galeria e de caminho para mais altos voos, para outras realidades expositivas e que constitui o primeiro passo de muitos na confiança para se afirmarem junto de um público mais lato. Afinal, um corredor para o mundo, na exacta medida em que a Casa da Juventude de Olhão é uma janela aberta para o mundo através das mais diversas formas de expressão da juventude olhanense.

Corredor das Artes na Casa da juventude de Olhão


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palco • A GORDA, no Auditório Municipal de Olhão

«… e a velha lá continuava a descascar ervilhas !»

Depois de três anos em cena com a peça «Mê Menine e o Tê Pai», que ultrapassou as 50 apresentações públicas, a GORDA apresenta o seu mais recente espectáculo de teatro «… e a velha lá continuava a descascar ervilhas!». Esta é a primeira vez que a companhia de Olhão sobe ao palco do Auditório Municipal de Olhão (AMO) e promete um espectáculo com o Ficha técnica (1995//2011) Quando “O Casaquinho” estreou, em 1995, o elenco era composto pelos veteranos do Grupo Teatro da Vida. Ao longo dos quatro anos em que esteve em cena, alguns actores tiveram que se afastar por motivos pessoais, tendo sido substituídos. Os actores presentes na estreia e que, em parte, inspiraram a construção das personagens e do enredo foram: Adriana Alves; Ana Sofia Rodrigues; Carlos Coke; Fer-

humor e a qualidade com que tem habituado o público que a acompanha. A não perder, nos dias 13 e 14 de Maio, pelas 21.30. Os bilhetes já se encontram à venda pelo preço de cinco euros. A peça Uma velha que tricotava um casaquinho de malha azul foi o mote para uma peça de teatro nando Cabral; Hugo Sancho; Humberto Fernandes (voz off); Janeth Carlos; Joaquim Parra; João Evaristo. Voltar ao “Casaquinho” foi sempre uma promessa adiada. Dada a especificidade da peça, era necessário reunir uma série de requisitos. Em 2010 foi possível. O texto foi revisto, os actores foram integrados no universo da peça, de tal forma que uma actriz engravidou e um actor apanhou Erisipela. A peça sobe ao palco nos dias 13 e 14 de Maio de 2011 no Auditório Municipal de

escrita e encenada, em 1995, por João Evaristo, numa produção do Grupo Teatro da Vida. O texto e a encenação apresentaram, na altura, aspectos inovadores, face ao que existia no Algarve. O humor inteligente, a dinâmica de cena, a interacção com o público levada ao limite, os figurinos, com destaque para as cabeleiras, hipérboles das características psicológicas das personagens, e um imprevisível final trágico/sangrento são ingredientes que cativaram os públicos que ao longo de quatro anos assistiram a esta peça. Revisitado o texto, 15 anos depois, agora, numa produção da GORDA, amadureceu-se a narrativa mas manteve-se o conceito do espectáculo. A velha deixa o casaquinho e passa a descascar ervilhas. Ainda o mesmo pretexto, expor as relações de amor e morte entre mulheres e homens, filhos e bastardos, príncipes e princesas, segredos e mentiras, inveja e mau olhado, o quebranto e o quebrantado, o poder e o já não poder mais. Tudo isto visto aos olhos de uma velha, vivida, que na rotina diária de um horrível quotidiano lá continuava a descascar ervilhas. A encenação procura revelar a teatralidade dessas relações. Os figurinos não são inocentes. Também não o são as personagens. O resultado é uma divertida comédia, com momentos de tensão, em que o público

Olhão com a seguinte ficha técnica: Texto e encenação: João Evaristo Interpretação: Billy Guerreiro, Hélder Diogo, Henrique Dias, Joaquim Parra, João Evaristo, Marta Vargas, Nicole Lissy, Paulo Moreira (voz off) e Sabrina Ildefonso. Cenografia e figurinos: João Evaristo Adereços: Joaquim Parra Direcção técnica: Sousa Anotação e técnica: Zeta Duarte Colaboração: Vítor Dias

revendo-se em uma ou outra situação acaba por rir de si próprio e, já agora, dos outros. O percurso

A GORDA nasceu em 2005, na Sociedade Recreativa Olhanense, pela vontade de Sousa em dinamizar culturalmente aquela instituição. Para o efeito, convidou João Evaristo, com quem já havia trabalhado noutras iniciativas e juntos avançaram com o projecto, promovendo actividades em várias áreas, em particular na área do teatro. A estes juntaram-se outros elementos, nomeadamente Zeta Duarte (técnica) e Joaquim Parra (actor). Em Março de 2005, o nú-

cleo produziu e apresentou ao público a sua primeira peça - «Bailarinas e Pezinhos de Xumbo» - à qual se seguiu, em Junho, «Trê Mérré Bald’xoque», espectáculo comemorativo do dia do município. Em Novembro de 2005 teve início uma oficina de formação, da qual resultou, em 2006, a apresentação de dois espectáculos «52 - Happy Family Special» e «O Testamento da Velha». Em 2007, foi produzida a peça «Ladrão que rouba ladrão… come sopinhas de feijão» e deu-se início à recuperação de uma das salas da Sociedade Recreativa, cedida ao núcleo, onde foi construído um palco e um anfiteatro com capacidade

para 50 lugares. A inauguração aconteceu em Março de 2008 com uma sequela do 1º trabalho do grupo, «Bailarinas e Pezinhos de Xumbo II». Em Setembro de 2008, estreou: “Mê menine… e o tê pai?” e, em simultâneo, foi produzido e apresentado o primeiro trabalho fotográfico «Femmes: Fotodrama 2008». Em 2 de Abril de 2009, a GORDA foi constituída Associação Sócio-Cultural. Em 2010 produziu a sua primeira curta-metragem «Dreams of Yesterday». Já este ano estreou a peça «Hoje Não Há Teatro!», a origem da série de peças «Bailarinas e Pezinhos de Xumbo I e II ». publicidade


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política

Henrique Dias Freire

• Entrevista com Ana Branco, vereadora da Cultura da Câmara de Lagoa

Uma aposta que vai passar por projectos inovadores

procurado manter uma programação regular no auditório, dedicando mais atenção aos projectos desenvolvidos localmente, sem descurar, sempre que tal se mostra possível, a apresentação de projectos nacionais de reconhecido valor.

A componente cultural associada e como complemento da oferta turística de Lagoa assume particular importância. Também o franco crescimento populacional fez do concelho uma zona residencial privilegiada, com uma vasta oferta cultural, quer como forma de complemento de bem-estar, quer como veículo de envolvência de valores e tradições. Quanto à contenção, ela é geral mas a aposta passa agora mais pelos agentes locais e da região algarvia. CULTURA.SUL – Quais são as maiores apostas da autarquia na área cultural? Ana Branco - Definimos um programa de contratualização de apoios que permite às associações poderem apresentar propostas que sabem, antecipadamente, merecer apoio, dinamizando por todo o concelho actividades, que tanto são de inovação e criação cultural, como de preservação das raízes e tradições. Mas também, através dos protocolos e parcerias com instituições como a Orquestra do Algarve, a Acta, o programa Allgarve, a Associação Ideias do Levante ou o Conservatório de Música de Lagoa e a Academia de Música de Lagos (onde aquele se integra), desenvolvemos projectos por forma a apresentar programas culturais que contribuam para o permanente desenvolvimento dos gostos culturais e para a formação de públicos, além de, evidentemente, constituírem interessantes complementos da oferta turística local.

destaque

C.S. - E em termos de eventos directos? AB - Destacamos o Festival Lagoa Jazz, no sítio das Fontes, já com lugar firmado no panorama regional, a Mostra de Doce Conventual, no Convento de S. José, e, naturalmente, a Fatacil, além dos concertos com grandes nomes nacionais e estrangeiros no âmbito do Allgarve. Destacamos ainda o nosso cuidado na preservação do património histórico e natural do concelho, que mantemos como espaço de disfrute, mas enten-

A Cultura tem que ser vista como um direito de cidadania

Para Ana Branco tem que haver uma consciência nacional da importância da cultura demos também associá-lo a muitos dos eventos que realizamos, permitindo assim um mais abrangente contacto e conhecimento desses espaços. Municípios têm que trabalhar em rede C.S. - Pensa que as autarquias deviam apostar mais no intercâmbio de actuações de grupos dos diferentes concelhos da região? AB - Obviamente que o intercâmbio cultural exige-se e impõe-se e só assim conseguiremos que os nossos grupos culturais sobrevivam nos dias de hoje. É preciso manter as nossas tradições regionais e nacionais e é com muitos carolas que esses grupos culturais conseguem captar jovens que continuem a mostrar os costu-

mes das nossas terras de autarquia em autarquia. É esta política cultural que nós defendemos e temos em atenção na nossa programação anual. Em qualquer circunstância, os municípios do Algarve têm que trabalhar em rede, mas a actual difícil situação económica justifica ainda mais a atenção aos artistas locais e aos grupos apoiados pelos diversos municípios. C.S. - Já fizeram alguns ajustamentos em termos de apoio e promoção de iniciativas culturais? AB - Tivemos que repensar estratégias de actuação, definindo prioridades e redução de custos. Assim, na nossa planificação anual, repensámos quais dos considerados eventos âncora se mantinham e quais os que

A MAGIA DOS PASTÉIS 7 de Maio a 12 de Junho | Galeria de Arte da Praça do Mar (Quarteira) Magaly Gouveia apresenta pinturas realizadas na técnica do pastel seco, abordando várias temáticas.

por força das medidas de contenção não eram possíveis realizar. C.S. - Como por exemplo? AB - Tivemos que suspender (é assim que gostava que se visse) o Festival Sons do Atlântico, porque face aos custos e ao retorno e por se realizar em pleno Agosto, onde a oferta cultural e turística é maior, achámos que não fazia sentido, nas actuais circunstâncias fazer, preferindo afectar essas verbas à restante programação, por forma a viabilizá-la. Seguindo a nossa estratégia de programação de Verão, mantivemos as Festas de Animação Popular em todas as freguesias, assim como, o apoio à animação das festas religiosas, embora com redução de custos. E também, com algumas dificuldades, temos

C.S. - Qual é para si a importância do futuro Plano Estratégico de Cultura para o Algarve (PECAlg), que pretende mapear a região do Algarve e definir uma estratégia até 2020, para que o Algarve possa reivindicar, a uma só voz, o que precisa para este sector? AB - Utilizando as palavras referidas quando da apresentação do PECAlg espero que contribua para a cultura ser vista como um direito de cidadania e para a conservação do património material e imaterial. Espero ainda que o plano ofereça uma gestão pública moderna, eficiente e eficaz, tornando-a mais uma componente da oferta turística e contribuindo para a economia da região. No fundo, esperamos que, finalmente, haja um instrumento que sedimente e sistematize aquilo que, de forma individual e casuística, os municípios têm feito um esforço por concretizar, mas se não houver uma consciência nacional da importância da cultura, sobretudo na província e com as dificuldades que as pessoas enfrentam, terá muita dificuldade em produzir resultados práticos. C.S. - Qual é para si a importância para o Algarve do Caderno de Artes & Letras «Cultura.Sul»? AB - Com este caderno especializado aumentou-se a atenção e a divulgação do trabalho dos seus agentes e protagonistas, disponibilizando mais e melhor informação sobre os mesmos. Veio complementar-se a informação disponibilizada pelos meios de comunicação generalistas através de uma comunicação mais específica e temática, produzida com conhecimento da região.

TRIO TUNIKO GOULART 15 Maio |17.00 | Museu do Trajo - São Brás de Alportel Tuniko é um guitarrista que colaborou com vários músicos como Gilberto Gill e Cesária Évora, entre muitos outros.


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Quotidianos poéticos

Leonard Cohen

Pedro Jubilot

pjubilot@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt

O músico de hoje já era antes o poeta de sempre entre muitas outras coisas. Depois passou a ser também o músico, e foi vivendo o seu tempo mas às vezes também fora do tempo ele próprio; outras vezes fora do lugar, ou dos lugares onde tudo parece que acontece - os media, esses instantâneos palcos deste mundo sem memória. Um livrete de um dos seus discos

denuncia-o nessas poucas horas que terá estado retido num dolente terraço em Tavira recitando uma pequena e doce canção: You go your way I ‘ll go your way too para um livro que se viria a chamar do Desejo por uma outra Marianne, Suzanne ou Alexandra, ou qualquer

Além de poeta Leonard Cohen popularizou-se como músico

Factor Desenvolvimento

Cristian Valsecchi

Economista da cultura e Gestor Factor Desenvolvimento Lda. cv@factordesenvolvimento.pt

A Europa observa atentamente os recentes acontecimentos portugueses e avalia com extrema severidade o advento de uma crise política que comprometeu seriamente a credibilidade de Portugal no contexto internacional. O primeiro e expectável efeito passou pelo corte brusco da notação financeira de Portugal e dos seus ban-

outra amante para quem se dirige. Observando o casario de telhados de tesoura, recortados sobre um rio que ninguém sabe porque tem dois nomes, ou onde um acaba para o outro começar… ficar compondo ou escrevendo versos de saudade ou ânsia que: Também tu cantarias se desses por ti

num lugar como este (…) Cantarias não para ti mas para criar um eu a partir do velho alimento que apodrece na entranha astral e na pancada surda, sem amor, da tua própria respiração (…) espreitando a rua através das frestas da reixa das portas típicas da cidade.

Leonard Cohen num terraço em Tavira

As raízes da crise cos pelas sociedades de rating. Uma coisa é certa: a União Europeia deverá reflectir seriamente sobre a possibilidade de constituir uma agência de rating independente em virtude de salvaguardar os estados-membros e as suas empresas do juízo de S&P’s e Moody’s, cuja credibilidade - precedentemente comprometida pela incapacidade de prever a bolha financeira - se encontra minada pela presença, no seu capital accionista, dos maiores gestores de fundos a nível internacional: Berkshire Hathaway (onde o principal accionista não é mais do que Warren Buffet), Fidelity, State Street BlackRock Vanguard, Invesco, Morgan Stanley Investment per Moody’s, Blackrock, Fidelity e Vanguard per Standard&Poor’s. É uma macroscópica anomalia o facto que os grandes gestores de fundos sejam proprietários do capital de quem ava-

lia os bond emitidos das sociedades que por norma os mesmos gestores compram e vendem! Não é por acaso que o corte da notação financeira dos bancos portugueses pelo S&P’s contraste com os resultados do último stress test, que por sinal evidenciaram uma substancial fiabilidade do sistema bancário português. O que, no entanto, parece preocupar mais os observadores internacionais é a fraqueza de Portugal no que é cada vez mais globalmente considerado o principal factor competitivo de um país: o conhecimento. Charles Forelle, um reputado jornalista do The Wall Street Journal, afirmou: “Portugal is the poorest country in Western Europe. It ������ is also the least educated, and that has emerged as a painful liability in its gathering economic crisis”. Estas declarações ecoaram na

imprensa internacional que criticou fortemente a escassa preparação cultural e profissional da força de trabalho nacional bem como da sua classe empresarial, às quais são atribuídas poucas oportunidades de contribuir para uma retoma da crise económica. Apesar dos significativos passos dados nos últimos cinco anos, a força de trabalho portuguesa encontra-se entre as menos qualificadas entre os países da OCDE. Apenas 14% da força de trabalho possui formação superior e, dado ainda mais preocupante, apenas 28% completou o ensino secundário contra 85% da Alemanha e 91% da República Checa. A taxa de abandono escolar é de 37%, sendo a média europeia de 16,6%. Por conseguinte, a desconfiança que se tem vindo a criar a nível internacional relativamente a Portugal não reside apenas nos indicadores

económicos e financeiros propriamente ditos mas sim na ausência de um sistema qualificado do ponto de vista educativo e cultual que saiba abrir o País a uma visão moderna, capaz de gerar novos cenários sociais e económicos. Senão, veja-se que com base num recente estudo da OCDE realizado pelos professores Eric Hanushek (Stanford University) e Ludger Woessmann (University of Munich), a aplicação dos parâmetros educativos do mais eficiente sistema finlandês (inteiramente público) ao português, conduziria a um aumento a longo prazo do crescimento económico em 1,5 pontos percentuais. Um sinal incontestável de que a cultura e a instrução não se podem considerar um custo, mas sim um investimento para o desenvolvimento de um país.


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livro

Prosas seguidas de diálogos Adriana Nogueira

Classicista Professora da Universidade do Algarve

A editora Quatro Águas publicou, em Janeiro deste ano, Prosas Seguidas de Diálogos, de António Ramos Rosa, um dos mais importantes poetas portugueses vivos, a quem foi atribuído, em 1988, o Prémio Pessoa. Este livro resulta da compilação de textos originalmente editados por outras publicações (destacando-se maioritariamente o JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias), entre 1990 e 1993, sendo a excepção a estas datas três textos: um de 2000, outro de 2003 e outro de 2005. Os textos aqui indicados como «prosas» (que são quatro) só o são de um ponto de vista formal, porque não estão em verso. Mas, quanto ao conteúdo e à sua função, são quase poesia: são textos curtos, com uma linguagem poética, com belas sinestesias («a suavidade azul do seu silêncio») e metáforas (a sombra estende «a sua asa escura»), e profundamente reflexivos: sobre a vida, a poesia, a liberdade, mas com uma ligação profunda à realidade que, em vários momentos, traz o poeta ao mundano, com gestos do quotidiano: confessa sonhos e desejos. Destes temas, aquele a que o poeta mais se refere é ao da liberdade, a que se associam as reflexões sobre o ser – sendo escritos de pendor poético não estão desligados do mundo, pois só este nos permite avaliar a presença ou ausência da própria liberdade: «Compreendia agora que não poderia haver liberdade sem autonomia pessoal, sem essa integração profunda nas raízes do ser» (p.16); «Se tenho a coragem de escrever é porque sei que não há nenhuma entidade totalitária atrás de mim e que à minha frente está o puro vazio que cada palavra terá de defrontar impregnando-se dele.» (p.19) «O Poeta»

destaque

O terceiro texto das «Prosas» chamase «O Poeta» e é um texto sobre a criação poética, sobre as meditações de um poeta outro/ poeta eu, em que o narrador sabe o que o outro/ele sente e pensa. O início remete imediatamente para

o tema recorrente: «O que é a liberdade quando se escreve?» As dúvidas de um «ele», o «poeta» que, afirma, «não escreve a partir de imagens formadas na mente ou na imaginação». Esta negação de uma definição de poesia consciente torna-se ainda mais interessante quando sabemos de uma outra faceta do poeta: a acompanhar as apresentações do livro, foi também organizada uma exposição de desenhos de António Ramos Rosa, intitulada «Rostos da Escrita»: já esteve em Faro, na biblioteca que leva o seu nome, e está agora na biblioteca da Universidade do Algarve, em Gambelas. Sobre os desenhos, diz Gisela Ramos Rosa (sobrinha do autor e coordenadora da exposição, que é comissariada por José Bivar), na brochura que os acompanha: «Nas mãos do poeta havia um poema cujo traço extravasou as margens e se elevou na página». Como que antevendo, ou revelando (o texto «O Poeta» foi escrito em 2000), o poeta afirma que a poesia existe no momento em que se concretiza, pois: «essas imagens surgem ao nível da escrita…» (p.22). Ser poeta não significa estar desligado da realidade mundana, que não valoriza a poesia: «Havia razões para desistir de escrever, pensava, uma vez que a maioria das pessoas estava virada para outros interesses e considerava a poesia como uma singularidade gratuita», mas entendê-la, para se fortalecer nas suas convicções de que o que escrevia tinha valor universal. «A Composição dos Mundos» Neste último texto das «Prosas» ecoam os primeiros versos do poema de Fernando Pessoa, «D. Sebastião», da Mensagem, «Louco, sim louco»: «Frágil, sim, sou frágil, sempre fui extremamente frágil». Esta fragilidade, contudo, uma vez reconhecida, é mais um passo para a conquista da liberdade. O narrador escreve na 1ª pessoa e demonstra aí a compreensão do mundo e do Outro, da pertença, com a liberdade sempre como pano de fundo. Um texto em que o poeta se expõe, revela sonhos e desejos profundos do seu ser, expõe a ligação do homem à natureza como forma de atingir o absoluto do ser e apresenta a arte como canal condutor para a realidade desse mesmo ser.

O espaço físico é sugerido como relevante e mais ou menos propiciador da criação. Uma certa nostalgia de um campo criador (Ramos Rosa nasceu em Faro, em 1924, e foi para Lisboa nos anos 40): «Na cidade em que vivo, o firmamento apagou-se e, quando abro a janela para ver as estrelas, ou não vejo nenhuma ou vejo apenas uma, na sua solidão cintilante (…). Na minha terra, onde quase todas as casas têm açoteias, deitava-me, nas noites de Verão, sobre o ladrilho e contemplava, deslumbrado, o coro universal das constelações vibrantes no leque total do firmamento.» (p.29) Diálogos Os diálogos, em número de doze, são muito interessantes. Voltam a referir questões abordadas nas prosas (o vazio, a poesia, o Ser, a liberdade, a arte, a linguagem) e outras aqui mais desenvolvi-

música no TEMPO 7 MAI | Dead Combo 17 MAI | Kaki King 20 MAI | Frankie Chavez

das: o corpo, deus, eros, o mito…), mas a própria estrutura dialogante, entre o

narrador (aqui completamente assumido como identitário com o autor biográfico e biografável) e o interlocutor – Mário – torna a sua leitura viva e, confesso, satisfaz-nos alguma curiosidade: Ramos Rosa fala de si, da sua família, da sua vivência em Faro e em Lisboa, dos seus amigos, das suas memórias. Alguns textos são mais filosóficos, implicando uma leitura vagarosa e atenta, ajudada pelas interpelações de Mário, que dá voz às nossas perplexidades. Foi-me difícil seleccionar um preferido. Hesitei muito e decidi-me por aquele que intitula «Vergílio e eu» (p.73-80). Para terminar, ficam aqui as respostas de António Ramos Rosa a duas perguntas que estão sempre a ser respondidas: O que é a linguagem poética? «A linguagem poética (…) origina-se numa abertura silenciosa ao mundo, ou, por outros termos, na percepção aberta da natureza ou ainda na percepção do Aberto, para usar uma expressão de Rilke. A linguagem poética, e não só ela, vive do inexprimível e o inexprimível não existiria sem a linguagem.» (p.99) E o que é a poesia? «Estava longe de supor, comentou Mário, que fosses um pessimista tão radical, porque nos teus poemas, sobretudo nos ais recentes, o que predomina é uma relação feliz e tranquila com a natureza. Sim, retorqui, mas não te esqueças que a poesia é, essencialmente, ficção, e nunca a expressão directa de uma realidade presente» (p.75) A ler!

• Da minha biblioteca Rainer Maria Rilke, Poemas. As Elegias de Duíno. Sonetos a Orfeu. Publicados, em 5ª edição, pela ASA, com prefácio, selecção e tradução de Paulo Quintela (1905-1987). Esta edição é de 2000, mas a 1ª é de 1942, tendo o falecido professor da Universidade de Coimbra sido um dos grandes germanistas portugueses a traduzir Rilke (Praga, 1875 - Valmot, Suíça, 1926). Não é nada fácil traduzir poesia e a deste poeta, que passou por várias fases até se tornar um dos expoentes do expressionismo, tendo procurado sempre uma voz individualizada (não é isso que procuram todos os

poetas?). O poema que trago é da primeira fase. É todo vosso: A vida, não tentes compreendê-la, e então ela será como uma festa. E que cada dia te aconteça como a uma criança que, ao caminhar, de cada sopro do vento vai recebendo presentes de flores. Apanhá-las e guardá-las, nem nisso pensa a criança. Tira-as devagar do cabelo onde se sentiam tão bem, e estende as mãos aos jovens anos para receber novas flores.

Afonso Cruz |Escritor 27 MAI | 21.30 Biblioteca Municipal de Silves


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Espaço AGECAL

Uma Carta Cultural para Aljezur

Swantje Seumer

Sócia da AGECAL – Associação de Gestores Culturais do Algarve

A cultura é a essência da identidade de um povo, e para que as gerações futuras conheçam e protejam a sua identidade esta deve ser preservada através da promoção e acesso à cultura. A nossa história mostra que os poderes não lhe ficaram in-

Espaço ALFA

diferentes, e uma das provas disso é o que consta na Constituição da República Portuguesa de 1976, que estabelece os princípios elementares que regem a sociedade e o Estado e onde o património cultural é um dos princípios basilares. Aljezur tem potencial para facultar esse direito ao acesso à cultura, pois ostenta as suas singularidades neste âmbito. Os testemunhos culturais herdados são de inigualável valor, tomando por exemplo o Ribāt da Arrifana, o Povoado Islâmico de Pescadores da Carrapateira ou o Castelo de Aljezur. Outros espaços culturais existem ou serão criados brevemente. Não obstante, este município acusa características típicas

da interioridade. Manifesta a urgência de desenvolver equipamentos como uma Biblioteca Pública, assim como tem falta de um fio condutor que justifique e crie e de uma rede que gira, interligando-os, todos os equipamentos, produtores e serviços culturais locais imprescindíveis, como estratégia económica de autovalorização. É neste sentido que urge a criação de uma Carta Cultural para o município de Aljezur que, à semelhança da Agenda 21 Local, seja, a nível cultural, uma ferramenta de análise, estudo, investigação, observação e crítica, que facilita o diagnóstico da capacidade de resposta às exigências sociais. Esta Carta consiste num

plano para combater as falhas e as assimetrias. Deste modo, a articulação e cooperação entre os vários serviços torna-se mais sustentável através da rentabilização e revitalização de espaços, criadores e equipamentos culturais. Em termos económicos, serve para direccionar e fundamentar investimentos. Não transpõe a cultura em números, mas facilita o entendimento do seu valor e de como o investimento nesta área pode ser benéfico para o desenvolvimento local, para a criação de riqueza num município e como pode ser um factor de coesão social e de valorização de uma sociedade. Promovendo desta forma a descentralização do acesso

à cultura, actualmente localizado nos grandes municípios algarvios do litoral. Embora os seus benefícios financeiros tenham sido comprovados recentemente por alguns estudos, é impossível obter um efeito imediato - e por isso talvez pouco apreciado - uma vez que exibe resultados a médio e longo prazo. É necessário intervir. Aljezur é um município com potencial, onde uma Carta Cultural daria um novo rumo à cultura e tudo o que ela implica, de modo que resulte num município como Centro Cultural. Assim sendo, enquanto tivermos um sonho, é essa utopia o motor que nos move e que faz ir mais além.

ALFA Photo Skills - O passo em frente

João Nuno Neves

Secretário do Conselho Fiscal da ALFA - Associação Livre Fotógrafos do Algarve - www.alfa.pt

A ALFA vai realizar um ciclo de formação intermédia na área da fotografia – “ALFA Photo Skills”, que se inicia no mês de Junho de 2011 e termina no primeiro semestre do próximo ano. Este ciclo compreende um workshop inicial de nível intermédio, transversal a todas as “artes e temas” fotográficos, e que faz a ponte para os workshops temáticos, entre seis e oito, mais específicos, e destinados aos diversos públicos-alvo. O local dos workshops vai ser o novo espaço da ALFA, no Centro Histórico da cidade de Faro. Ao nível dos workshops, desde a sua criação que a ALFA tem tido um papel mais activo na formação inicial, deixando os restantes níveis de competências fotográficas para o mercado externo à associação. Acompanhando a evolução e necessidades técnicas dos associados, o posicionamento deste ciclo será ao nível do desenvolvimento das competências intermédias/avançadas dos fotógrafos do Algarve. Desta

forma, este ciclo de formação surge para colmatar a necessidade de desenvolvimento técnico que os associados da ALFA, e restantes fotógrafos e interessados pela arte fotográfica, sentem, e precisam de ver suprida. Os principais temas a abordar nos workshops temáticos supra-referidos vão ser os seguintes: retrato, paisagem, stock, fotojornalismo, estúdio, moda, entre outros, divididos em

sub-temas. A duração dos workshops será de um dia, realizando-se preferencialmente ao sábado (sete horas), com excepção do workshop inicial, que se vai realizar em Junho, em dois sábados seguidos (com o total de 14 horas). Os formadores vão ser fotógrafos de referência, com conhecimento específico comprovado em cada um dos temas (e subtemas), sendo este

um esforço significativo a diferentes níveis (financeiro, organizativo, entre outros), por parte da ALFA. Assim, podem e devem participar todos os fotógrafos e interessados em fotografia que já possuem os conhecimentos básicos/iniciais na fotografia, que já passaram pela formação inicial, e/ou que já dominam os conceitos principais da fotografia. A participação pode ser na sua totalidade, ou em

parte dos workshops, de acordo com as necessidades dos participantes. A ALFA garante o certificado de participação a todos os participantes de todos os workshops. Caso existam apoios, as melhores fotos feitas durante os diferentes eventos poderão ser reunidas numa exposição a fazer no novo espaço da ALFA, e a inaugurar no fim do primeiro semestre de 2012.


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João Evaristo

«iLUZão» de Serra Ribeiro no Atelier de l’art

26 MAI | 18.00 Atelier de l’Art Centro Comercial Doza (em frente ao Deutsh Bank de Almancil) Aberto de terça a sexta-feira, das 10.00 às 19.00. - Inauguração da exposição de fotografia Fine Art «iLUZão» do fotógrafo Rui Serra Ribeiro. - Tertúlia com o autor. -Prova de vinhos por About Wine – Vinhos & Gourmet. - Animação teatral por alunos do Clube de Teatro da Escola Secundária de Albufeira, coordenados pelo professor Paulo Moreira. - Musica ao v ivo pelos DDD’s! - Declamação por Hélder Semedo.

Exposição patente de 26 de Maio a 22 de Julho em Almancil, no Atelier de l’Art No dia 26 de Maio, pelas 18 horas, tem lugar no Atelier de l’Art, em Almancil, a inauguração da exposição «iLUZão» de Rui Serra Ribeiro.

destaque

A exposição acontece, segundo Serra Ribeiro, através do convite da pintora e galerista Adérita, proporcionado por «um encontro de dois olhares sobre arte. Afinidades no exprimir, através de formas diferentes. Sinergismos numa aposta pela divulgação da Arte e Cultura». O artista visual, nasceu em Lisboa, a 9 de Dezembro de 1960, e desde cedo se interessou pela expressão artística. Actualmente encontra o seu espaço no mercado de Fotografia Fine Art.

O que mais o motiva é, a partir «das formas dos elementos, ref lexos, texturas e contrastes, criar grafismos pintados com luz!». E acrescenta: «Procuro que as minhas imagens façam parte do quotidiano de pessoas e valorizem os seus ambientes. Gosto de partilhar através do Olhar, os meus afectos!». Uma outra dimensão da fotografia Para Serra Ribeiro, captar uma imagem não depende apenas do equipamento que se utiliza. O �� artista cita mesmo Ansel Adams (1902-1984): «We don’t make a photograph just with a camera,

we bring to the act of photography all the books we have read, the movies we have seen, the music we have heard, the people we have loved». No que diz respeito à edição e impressão, o artista considera que «a Fotografia não acaba no filme nem no monitor, os processos de edição, impressão e preservação, são da maior importância nos meus trabalhos, em grandes formatos, conferindo às imagens uma nova dimensão, permitindo mostrar as obras de uma forma moderna e com elevados padrões de qualidade. Os certificados técnicos internacionais Digigraphie® e Diasec® valorizam a fotografia artística em séries limitadas numeradas e assinadas».

“Dama de Jornal” Até 31 de Maio | Galeria Municipal de São Brás de Alportel Projecto artístico de reciclagem de materiais da autoria de Suzana Mendez que os transforma em objectos utilitários entre os quais acessórios de moda

O PERCURSO Momentos mais marcantes 1983 – Início da formação no curso de Fotografia Profissional, Ar.Co - Centro de Arte e Comunicação Visual | Monitores: José Soudo e Manuel Silveira Ramos (antigo fotógrafo da Fundação Calouste Gulbenkian, uma das referências na formação fotográfica nacional). 1990 – Convite de Carlos Guimarães: inicia a actividade profissional na Quatro Ponto Quatro, publicidade e fotografia industrial. Como director de estúdio realiza fotografia de produto e reprodução documental, com câmaras de médio e grande formato. 1991 – Para o designer Henrique

O artista visual Serra Ribeiro Cayatte, exposição no Cinema Éden em Lisboa. Fotografia de reprodução documental sobre o espólio da vida e obra do Arquitecto Cassiano Branco, referência fundamental da arquitectura modernista em Portugal. 2010 – Certificados de Impressão e Preservação de Obra de Arte - Parceria para produção, com o laboratório JHRT - Comércio de Art fotográfica, Lda, distinguido e recomendado pela Epson Digigraphie® Europa e patente exclusiva no processo Diasec®, na Península Ibérica. 2010 – Publicação de fotografias na premiada revista Egoísta Edição Especial Fotografia. “cordas à conversa” 6 MAI | 21.00 | Café Inglês Silves Duo multi-instrumentalista João Cuña e Ricardo Fonseca


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baú

Refrigerantes há muitos… Joaquim Parra

Professor de História e Coleccionador

Quando entramos num café da cidade, vila ou aldeia do sul, centro ou norte do país e pedimos um refrigerante, o leque de escolha (com excepção para as regiões autónomas) não é muito variado: Coca – Cola, Pepsi, Seven Up, Sumol e/ou algumas variantes destas marcas. Se perguntarmos a um jovem algarvio se sabe o que significa Jaguar, a resposta será “Clare, é um carre bué care!”; o mesmo acontecerá com Cristina “É uma boazona da minha rua! ou Simão “ É o gaje que joga à dos turques! Serão apenas, provavelmente, os jovens de 40 /50 anos a identificar nestes nomes, marcas de refrigerantes.

De facto, in illo tempore, quase poderíamos dizer que cada terra tinha a sua marca de refrigerantes. A nível do Algarve, entre os anos 50 e 70, tínhamos indústrias de refrigerantes que se estendiam de Vila Real de Santo António a Portimão, cada uma com as suas marcas, garrafas e bebidas próprias. Na primeira tínhamos José Dominguez Vieira Velasco, que na Fábrica Simon (mais tarde designada por Fábricas Reunidas de Refrigerantes do Sotavento e Barlavento Lda.) fabricava os refrigerantes Simon, 2 Frutos e Algarvia (1). Em Tavira, O Melhor (2), era fabricado por Manuel Pires Mateus.

Em S. Brás de Alportel (Vilarinhos), A. P. da Luz (Simão), fabricava a Gasosa Simão (3). Em Olhão, sei que havia uma fábrica de refrigerantes em Brancanes, Patinha, pertença de Domingos Rodrigues Medeiros Júnior, mas desconheço o nome do refrigerante, o mesmo acontecendo em relação a Silves e relativamente à fábrica de João José Duarte, Filhos Lda. Em Loulé, C. de Sousa Guerreiro produzia a Sóbom (4). Em Faro, existiam vários fabricantes e marcas: Vitoriano de Brito Barrote, produzia a Restauração (5); João Pires & Filho Lda., a Jaguar (6); José Custódio, os refrigerantes Quintódio (7), Belfru-

to (8) e Sofrutos (9); Francisco Joaquim de Brito, produzia a Frutassã; J. A. Costa a Supersumos e em 1966, com a criação da Cialbe, surgirá no mercado algarvio, além da ÁUA, a marca do momento, a Sumol. Em Portimão temos as Indústrias Cristina, responsáveis pela produção da Vitalima e da Laranjada Popular (10). Nunca vi nenhuma garrafa, mas sei que também existia a Foia, fabricada pela Sociedade de Refrigerantes Portimonenses Lda. Desconheço o fabricante e o nome do refrigerante, mas a garrafa que aparece sem qualquer identificação é de Monchique (11) (está gravado no fundo). É provável

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• DA IMPRENSA LOCAL que houvesse mais fabricantes, mas para já não conheço. O interessante é que esta situação se passava por todo o país, existindo centenas de marcas que, infelizmente, na actualidade se resumem a cerca de uma dezena. A colecção deste tipo de garrafas é muito interessante, não só pelas diferentes tipologias, como pelas diferentes cores que uma mesma marca pode apresentar (algumas, só por si, davam uma colecção), não esquecendo que muitas delas também produziam garrafas de litro e de outras capacidades. O único inconveniente é o espaço que requer e a fragilidade. Quanto a

preços, podem variar de 50 cêntimos a 100 euros (ou mais) dependendo da raridade da peça.

Jornais de Olhão (II)

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Para as referências bibliográficas desta rubrica escolhi um livrito diferente, não de imprensa local, mas sobre a história da imprensa periódica portuguesa. Tratase da História da Imprensa Periódica Portuguesa – Subsídios para uma Bibliografia, José Manuel Motta de Sousa e Lúcia Maria Mariano Veloso, Coimbra, 1987, Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Catálogos e Bibliografias – 4.

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O Provinciano (1909) – Folha de notícias, anúncios, literária e charadística. É um daqueles casos difíceis de explicar em jornalismo. Era constituído apenas por uma meia folha de papel no antigo formato Z4, muito mal impresso, com constantes gralhas, mas que só vai suspender em 1921 por morte do seu fundador e director, Jaime Quirino Chaves (que anteriormente já tinha sido proprietário de um outro jornal olhanense Enciclopédia Literária Antiga e Moderna, de que apenas terão saído três números em 1905).Era um jornal semanal, custava 20 réis e contou com a colaboração de alguns nomes da cultura olhanense, como Luciano Cabrita, Raul Pousão Ramos, José Dentinho Júnior, Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, Dr. Francisco Fernandes Lopes e Honorato Santos entre outros. Das diversas secções é de destacar, pela sua importância para a história do Algarve, “Coisas Antigas do Algarve”, da autoria de Honorato Santos, que por si, tornam este jornal importante para o estudo desta província. O João Ratão (1961)

também orientava a sua redacção. Foi um jornal de efémera duração (suspendeu no ano seguinte, com o nº 8), mas com um apurado aspecto estético. Custava $50. Trata-se essencialmente de um jornal feito por crianças e para crianças. Entre os seus colaboradores contava com os nomes, entre outros, de Virgílio da Conceição Ramos, Maria do Carmo Charneca, Maria Lucinda de Jesus Conceição e Maria Emília da Conceição Quitério.

sável o Cónego José Vieira Falé e como directores, Jorge Laborinho e Joaquim Mata Artur, a que se seguiram António Gandara e Rui Águas, auxiliados por João Chaves, Carlos Farinha, António Anselmo e Carlos Afonso. Apesar de se tratar de um jornal copiografado, sobreviveu mais de dez anos, chegando a ter tiragens de mil exemplares.

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Este pequeno jornal de carácter estudantil, educativo e recreativo era publicado pela Escola Masculina nº 3 de Olhão, de que era director José Raminhos Correia Dourado e que

O Sporting Olhanense (1963) É o jornal olhanense de maior longevidade, pois ainda se publica. Propriedade do Sporting Clube Olhanense, foram seus directores, entre outros, o Dr. Francisco Inácio Reis e o Eng. Vítor Manuel Louro Neves. Dos seus colaboradores destacamse Diamantino Augusto Piloto, António Henrique Cabrita, Ofir Chagas, João Trigueiros, Antero Nobre, Abílio Gouveia, Fernando Cabrita, José Tomás da Graça, José Raminhos Correia Dourado, entre uma lista enorme de 48 anos de publicação. De todos eles, há um que se destaca e é mesmo inseparável do nome do jornal: Herculano Valente, durante anos a alma e o corpo deste periódico. Começou por custar 1$50 (actualmente custa €1,20). De grande importância para a história de Olhão, do Algarve e do desporto regional e nacional A partir de 1970, sob a direcção de Antero Nobre, passou a incluir um suplemento: A Voz de Olhão que, salvo erro, actualmente tem uma periodicidade anual para garantir o título.

O Farol (1973) Propriedade do Centro Juvenil da Paróquia de Olhão, tinha como respon-

Cruzeiro do Sul (1976) – Por uma Esquerda Unida. De inspiração marxista – leninista, apresentava-se com grandes pretensões, propondo-se ser «um baluarte da luta anti-fascista, não só em Portugal mas também em todos os países de expressão latina». Em formato A5, mais aparentado com uma revista, era impresso por Manuel & Diós Lda. Tinha como director Manuel Tapadinha e no corpo redactorial contava com Isménio, Eduardo Calado, Joaquim Luís e Raimundo de Souza. Apenas saiu o primeiro número.

Por curiosidade, aqui fica aquele que foi o primeiro boletim informativo municipal, Informação Municipal da Câmara de Olhão (1979) Era de reduzidas dimensões, em formato A5 e apenas com quatro páginas.


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museu

Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira Isabel Soares

Museóloga/Arqueóloga

A viagem da descoberta e do inesperado por terras algarvias ainda não terminou. Regresso à cidade de Albufeira, por onde já passei inumeráveis vezes, e onde existe sempre motivo para “voltar a passar”. Desta vez, disfarçada de turista, por entre as dezenas, centenas ou até milhares dos transeuntes, que calcorreiam as ruelas estreitas, e as travessas da zona mais velha desta antiga vila piscatória, procuro, assim, a essência dos lugares. Sem mapas, sem grupos de excursionistas, sem lojas de souvenir, sou hoje a “viajante” que se aventura e mergulha na cultura local e desembarca num dos principais centros turísticos do país, a cidade de Albufeira. Este sítio pitoresco presenteia-nos com a beleza das paisagens da costa, das falésias e das praias, mas também, não nos deixa indiferentes à riqueza da sua História. O património cultural, desta antiga vila de feição marítima, combina vários pontos de interesse. Aqui ergueram-se outrora edifícios religiosos - igrejas, capelas e ermidas, assim como sistemas defensivos - muralha, torre e castelo, embora estes últimos se

Pesos de tear

encontrem praticamente desaparecidos. Apesar da beleza e do interesse de todos estes elementos arquitectónicos, reservei o meu apego e afeição para um dos edifícios sobranceiros ao mar, também ele parte da história: o Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira. O Museu Municipal de Albufeira fica situado no núcleo antigo de Albufeira, na Praça da República. Este Museu foi instalado nos antigos Paços do Concelho. O espaço foi retomado e reabilitado para integrar o património arqueológico do Município de Albufeira. Ao que parece o próprio edifício assenta em estruturas islâmicas, como testemunha o silo escavado na rocha que podemos observar, quando visitámos o museu. Este edifício, constituído por dois pisos, encerra na sua arquitectura especificidades do século XIX. No piso térreo encontrámos a exposição de longa duração que nos deu a conhecer a história do Município desde a PréHistoria até ao século XVII, através de diferentes núcleos temáticos, organzados cronologicamente: Pré-História; Período Romano; Período Islâmico e, por fim, a Idade Moderna. No segundo piso visitámos um espaço reservado a exposições temporárias, onde estava patente a mostra “Outras Viagens,

Museu Municipal de Arqueologia de Albufeira Outros Olhares”. Esta exposição, composta por painéis ilustrativos sobre o turismo no Algarve, relata-nos o nascimento do fenómeno turístico que, de forma geral, transformou a região algarvia e, em particular, o território de Albufeira, fazendo esta região parte de um dos roteiros turísticos mais conhecidos do País. A nossa visita começou pelo piso térreo. No início do percurso deparámo-nos com representações de modelos da evolução humana e com o espólio ligado às primeiras comunidades que habitaram o território de Albufeira. Desta sala, destacamos os testemunhos mais antigos da ocupação humana do Município, como as “ferramentas” utilizadas pelos grupos de caçadores-recolectores nómadas. Outros elementos deram-nos a conhecer os vestígios da cultura material das comunidades que se fixaram, progressivamente, na terra, e habitaram o território de Albufeira, introduzindo no seu quotidiano actividades como a agricultura e a pastorícia. Ainda do primeiro momento da visita salientamos a presença de dois menires do período do Neolítico Antigo, encontrados nesta localidade. No núcleo seguinte, a exposição partilha um conjunto de elementos arquitectónicos e objectos da época romana. Deste espólio ressaltamos os fragmentos de grandes contentores de cerâmica: as ânforas. Estes, funcionando como um género de grandes “latas de conserva” da época, possibilitavam o transporte marítimo e fluvial de produtos alimentares, tais como, os preparados de peixe; a árula votiva de calcário dedicada ao deus Silvanus; um capitel de mármore e, por fim, porque assume um particular interesse e, por

isso, merecendo um espaço próprio, descrevemos o mosaico romano da Retorta, achado de relevante importância, decorado com hexágonos definidos em tesselae de cor escura. Numa outra zona está representado o núcleo que corresponde ao período Islâmico. Nesta reconhecemos vários vestígios do período Islâmico, provenientes de Albufeira, Castelo de Paderne e também de outros aglomerados rurais. Do espólio arqueológico exposto evidenciamos, pela sua importância, a placa apotropaica de Albufeira, objecto de carácter religioso a que os árabes atribuíam a protecção da muralha. Acresce a tais vestígios arqueológicos, a variedade de elementos arquitectónicos da antiga Igreja Matriz de Albufeira (capitéis, cachorros, pilastras e o arco triunfal da matriz), que o museu partilha com o visitante. Ao longo de toda a visita observámos os diferentes aspectos da evo-

lução da população de Albufeira. Os painéis informativos, os desenhos de peças e as representações esquemáticas completam a informação e permitem compreender, ao longo do tempo, as diferentes ocupações humanas e as transformações ocorridas no território de Albufeira. Trate-se, portanto, de um museu dotado de equipamentos modernos adequados à exposição da colecção de cariz, eminentemente, arqueológico. Nos seus espaços impera uma variedade de materiais arqueológicos, que nos contam de forma simples e clara a História de Albufeira. Assim, esta “viagem no tempo e no espaço” proporcionou-nos um momento de lazer, de descoberta, e de aprendizagem, que deve ser repetido e que aconselho a experimentar. Se percorrerem as ruas e gavetos desta antiga vila piscatória, lembrem-se que ela é “dona” de uma riqueza arqueológica e patrimonial que testemunha toda a sua história.

Núcleo temático da Pré-História


Cultura.Sul 05.05. 2011

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Espaço Educação

Programa de Estágios Profissionais da Administração Central

Olga Neves

Assessora de Direcção Coordenadora do PEPAC na DREAlg

O Programa de Estágios Profissionais da Administração Central (PEPAC) enquadra-se no âmbito das políticas de juventude, promovendo a emancipação dos jovens, apoiando a sua saída da casa de família, o desenvolvimento de experiências formativas e profissionais, assim como o empreendedorismo e emprego jovem. Objectivos Criado através do Decreto-Lei n.º 18/2010 de 19 de Março tem como objectivos: - Possibilitar aos jovens com qualificação superior a realização de um estágio profissional em contexto real de trabalho que crie condições para uma mais rápida e fácil integração no mercado de trabalho; - Promover novas formações e novas competências profissionais que possam potenciar a modernização dos serviços públicos; - Garantir o início de um processo de aquisição de experiência profissional em contacto e aprendizagem com

as regras, boas práticas e sentido de serviço público, e - Fomentar o contacto dos jovens com outros trabalhadores e actividades, evitando o risco do seu isolamento, desmotivação e marginalização. Destinatários O Programa destina-se a jovens à procura do primeiro emprego, desempregados à procura de novo emprego ou jovens à procura de emprego correspondente à sua área de formação e nível de qualificação, que tenham até 35 anos de idade e possuam uma qualificação de nível superior correspondendo, pelo menos, ao grau de licenciado. A Direcção Regional de Educação do Algarve, enquanto entidade promotora, tem como função a gestão e coordenação do contingente de estagiários afectos à sua área de jurisdição. Os Estágios Profissionais desenvolvem-se, prioritariamente em escolas, tendo havido por parte desta entidade a preocupação de auscultar as escolas da região, de modo a conhecer as suas necessidades em

termos de pessoal técnico especializado. Tentou-se, assim, estabelecer uma boa adequação entre o perfil do estagiário e a função a cumprir, a par das características do trabalho a desempenhar. Inserção no Ambiente de Trabalho

ção do Algarve acolhe 41 estagiários, distribuídos por várias Escolas e Agrupamentos da região, estando três na própria DREAlg. Decorridos sete meses, o Programa de Estágios Profissionais no Algarve tem, na opinião de estagiários e orientadores, sido um trabalho muito produtivo, quer pelo bom nível de integração dos estagiários

nas respectivas unidades orgânicas, quer pela elevada qualidade das actividades realizadas, respondendo da melhor forma aos princípios conceptuais do referido Programa, como seja, potenciar conhecimentos e saberes em prol do trabalho das Escolas e proporcionar aos jovens uma boa experiência em contexto de formação de trabalho.

O estágio é acompanhado por um orientador na escola, a quem compete, entre outras funções, inserir o estagiário no ambiente de trabalho e efectuar o seu acompanhamento técnico e pedagógico, supervisionando o seu progresso face aos objectivos e plano definidos. Essa orientação é co-adjuvada por um técnico superior da DREAlg. No fim do estágio será efectuada a avaliação do estagiário, tendo em conta o cumprimento dos objectivos e do plano de estágio, obedecendo a uma escala de 0 a 20. O Programa de Estágios tem a duração de 12 meses, tendo-se iniciado na região a 1 de Setembro de 2010 e terminará a 31 de Agosto de 2011. A Direcção Regional de Educa-

Distribuição dos estagiários pelas várias áreas

Área de Educação/formação Local

Conteúdo funcional

Arquitectura e Urbanismo Ciências da Educação Ciências Informáticas Contabilidade e Fiscalidade Terapia e Reabilitação Trabalho Social e Orientação

Planos de Emergência e Segurança das Escolas Actividades de leitura e promoção de leitura Apoio informático aos utilizadores Contabilidade Pública Apoio a alunos com multideficiência Serviços de apoio a crianças e jovens – 18 Projecto Escola Activa - 3

Gabinete de Segurança Bibliotecas Escolares EMDTE/DREAlg Serviços Administrativos Unidade de Multideficiência Gabinetes de Apoio ao Aluno e à Família

Número de estagiários 5 10 1 3 1 21


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Cultura.Sul 05.05. 2011

A cultura não se afirma - vive-se, pratica-se e sente-se No âmbito da missão cometida, no Algarve, à Direção Regional de Cultura (Decreto regulamentar n.º 34/2007, de 29 de Março), contam-se nomeadamente a criação de condições de acesso aos bens culturais e o acompanhamento das atividades culturais. Caracterizar com rigor a realidade atual, definir onde queremos chegar no final da próxima década, consolidar os modos e os meios para alcançar esses objetivos, avaliar os atos através de um conjunto de indicadores de desenvolvimento sustentável para a vertente cultural da Região: são algumas das metas a alcançar pelo PECALG (Plano Estratégico para Cultura do Algarve), atualmente em curso. Trata-se de um Plano que deve ser encarado como um processo, mais do que como um instrumento operativo, construído com (e não para) as comunidades, colocando questões transversais e

debatendo-as responsavelmente, de forma multissetorial. A Cultura em Conferência Para a elaboração do Plano, a Direção Regional de Cultura promoveu, em colaboração com a Universidade do Algarve, um conjunto de ciclos de debate, «A Cultura em Conferência», para incentivar a reflexão sobre as condições da vida cultural, os problemas, as dificuldades e as oportunidades que se colocam aos agentes e criadores culturais no Algarve. A iniciativa decorreu entre Outubro de 2010 e Janeiro de 2011, em várias cidades algarvias, contando com a presença e a colaboração de vários especialistas nacionais que abordaram e debateram temas como a gestão e as políticas culturais, as cidades criativas e as indústrias culturais, a produção e difusão cultural, a relação entre o património

cultural e o turismo, o papel do associativismo na cultura e o património cultural imaterial da Região. Das mesas de debate então realizadas, evidencia-se a necessidade de aprofundar as ligações com o tecido cultural, criando dinâmicas e sinergias entre as instituições públicas, as entidades privadas, os agentes culturais e as comunidades, definindo estratégias e políticas culturais, por forma a corresponder, crescentemente, às expetativas culturais das comunidades no Algarve. Compilados em livro, os importantes contributos recebidos nesses debates serão editados em finais de Maio, passando assim a constituir uma relevante referência para o PECALG e para o futuro das políticas e práticas culturais na região.

Regional de Cultura na primeira linha do impulso ao debate sobre o «Livro Verde das Indústrias Culturais e Criativas», cuja consulta pública foi promovida entre nós pelo Ministério da Cultura, através do Gabinete de Planeamento, Estratégia, Avaliação e Relações Internacionais. Não por acaso, nas conclusões dessa consulta pública, a Comissão Europeia destacou, pelo número de contribuições enviadas, o importante papel de Portugal – e, assim, do Algarve – nessa discussão, que enriqueceu com pertinentes sugestões e observações o projeto inicial. Inegavelmente, a participação elevada (pouco habitual entre nós) será também devida às sessões de divulgação organizadas em Faro, por iniciativa da Direção Regional de Cultura.

Livro Verde das Indústrias Culturais e Criativas

Quintas de Cultura

Paralelamente, esteve a Direção

dar os aspectos relacionados com as atividades criativas que, também em colaboração com a Universidade do Algarve, a Direção Regional de Cultura promove atualmente um conjunto de conversas informais sobre a riqueza, a diversidade, os problemas e as oporunidades da criação cultural na região. Esta iniciativa, «Quintas de Cultura», decorre em várias localidades algarvias, sempre na última quinta-feira dos meses de abril, maio, junho, outubro e novembro. Aberta a todos os interessados e contando com a presença e a colaboração de alguns dos mais destacados criadores e dinamizadores culturais do Algarve, a iniciativa procura promover uma política de proximidade, indo ao encontro das carências e expetativas dos agentes culturais.

É ainda no sentido de aprofun-

Direção Regional de Cultura do Algarve

ORGANIZAÇÃO

COMISSÁRIOS Dália Paulo, Mirian Tavares, João Pedro Bernardes, Luís Filipe Oliveira e Rui Parreira

APOIOS A Universidade do Algarve e a Direcção Regional de Cultura do Algarve vão promover um conjunto de conversas informais sobre a riqueza, a diversidade, os

problemas e as oportunidades da criação cultural na região. A iniciativa decorrerá em várias cidades e vilas, sempre na última quinta-feira de cada mês.

Será aberta a todos os interessados e contará com a presença e a colaboração de alguns criadores e dinamizadores culturais da região.

António Pina Convida

“ALLGARVE” um programa para o Algarve

Augusto Miranda Coordenador “Allgarve”, um programa no Algarve

Os destinos turísticos estão condenados à inexorabilidade de manter sobre si a permanente atenção de mercados cada dia mais competitivos. Num mundo em que a evolução dos transportes, das comunicações e das novas tecnologias alterou profundamente a forma como cada um de nós é atraído por determinado destino, os responsáveis pelos destinos turísticos têm a obrigação da sua constante reinvenção. O Algarve não foge à regra. Se é verdade que a imagem “sol e praia” é um valor elevado na sua afirmação como destino de excelência, é também verdade que visitantes cada vez mais exigentes, para quem a fruição cultural e a animação são factores que contri-

buem para a atractibilidade deste ou daquele destino, esperam uma oferta mais diversificada. Essa fruição cultural e animação devem mesclar a modernidade com a afirmação dos nossos valores identitários, através da valorização do nosso património, quer material, quer imaterial. Durante muitos anos o Festival Internacional de Música do Algarve e o Cross das Amendoeiras afirmaram-se como eventos marcantes dessa oferta diversificada para quem nos visitava. Só! E tantos espectáculos fabulosos o FIMA nos proporcionou. Num Algarve sem estruturas de cultura e sem espaços para a sua fruição, o FIMA era um verdadeiro oásis na oferta

cultural da região. O aparecimento da Acta e outras Companhias de Teatro, da Orquestra do Algarve, de Companhias de Dança, de Conservatórios, do Teatro das Figuras, do Tempo, de Auditórios em Olhão, Lagoa, Loulé, de novos espaços museológicos e, sobretudo, o trabalho relevante das Autarquias vêm criar condições para uma oferta mais qualificada para a afirmação de excelência que todos queremos para o Algarve. Importa valorizar e potenciar esse trabalho acrescentando-lhe valor diferenciador. Importa dar-lhe coerência regional. Importa dar-lhe unidade na diversidade. Importa projectá-lo com uma marca que o identifique. Com esse propósi-

to surgiu o “Programa Allgarve” que se propõe, em articulação com Autarquias e outras Entidades Públicas e com empresários do Sector Turístico, realizar eventos em áreas tão diversas como a Música, a Gastronomia, o Desporto, a Animação de Rua e a Arte Contemporânea. Devemos ser capazes de o fazer em locais de charme, mas também em sítios históricos classificados; devemos ser capazes de o fazer trazendo até nós figuras incontornáveis do mundo artístico mundial, mas também relevando o que é nosso e o que de melhor temos para mostrar; devemos ser capazes de o fazer surpreendendo quem nos visita com experiências que marcam.


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