Distribuído mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO
• O mundo encantado de Sylvain Bongard » p. 11 • Muito para além de Saramago » p. 12 • Algarve forma jovens actores » p. 13 • Vítor Guerreiro: O Algarve pode exportar cultura » p. 14 e 15
Olhão,
a revolução silenciosa 1 | JUL | 2010 • Nº 23 • Mensal • Este caderno faz parte integrante da edição nº994 do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente
» p. 4 e 5
Com o apoio de: Direcção Regional de Cultura do Algarve • Câmara Municipal de Alcoutim • Câmara Municipal de Olhão • Câmara Municipal de S. Brás de Alportel
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Diálogos – final inacabado Um diálogo nunca acaba. Quando é verdadeiro e não um simulacro. Quando é uma troca de palavras cujo primeiro objectivo é compreender a razão do outro. Quando é uma demanda pela alteridade para lograr algo de novo. Por um diálogo nunca acabar, embora possa ser interrompido, se chama a este quarto comentário “final inacabado”. Escritos para acompanhar a publicação de trabalhos dos dois cursos de jornalismo de cultura realizados no Algarve, tendo eles terminado e neste número se publicando mais um texto resultante do segundo curso é o momento de os interromper.
• REGISTÁMOS Songlines distinguiu Goran Bregovic no Festival Med
D.R.
destaque
Goya, gravura da série Os Caprichos
Neles se procurou colocar as questões da cultura, da política do Estado para a cultura e do jornalismo de cultura numa perspectiva dialéctica. Aqui interrogámos o alcance das ditirâmbicas apologias sobre a extraordinária mais-valia económica do “sector cultural e criativo”, primeiro pela ministra da Cultura, depois pelo Presidente da República. Talvez a derradeira ocasião em que se vislumbrou uma expressão da “cooperação estratégica”, pois a perda de rumo da governação tem frequentemente colocado o Governo a dizer uma coisa e o Presidente da República outra. Não só opostas como antagónicas. Governo e Presidente da República em uníssono parece que só no discurso sobre o vazio. Só quando as palavras significam nada, aprisionadas no seu significante de mera propaganda política. A apologia da extraordinária cadeia de valor do “sector cultural e criativo” não resistiu à realidade da crise. O orçamento do Ministério da Cultura teve um corte de 13 milhões de euros num total de 65 milhões, o que terá consequências nefastas na actividade de muitos agentes e criadores e na recepção pelos públicos. Em duas palavras: menos cultura. Tal como haverá menos educação, menos saúde, menos apoio social, menos tudo o que suponha investimento público. Sobre vazios estão Governo e Presidente da República de acordo: o ilustre professor de finanças considera “insustentável” o esforço de investimento estatal, o Governo corta no orçamento do Estado. À parte apologias e demagogias, a cultura e a acção cultural no Algarve não seguirão imunes aos cortes orçamentais, o do Ministério e o das autarquias também elas atingidas e que têm sido um sustentáculo do sector na região. Resta aos criadores e aos agentes culturais não cruzar os braços e procurar diálogos, diálogos para a acção. Os cursos de jornalismo de cultura promovidos pela Agecal e pelo Cenjor, com o apoio dos municípios de Loulé e de Tavira e a adesão deste jornal, foram um passo dos muitos necessários para mais e melhor cultura no Algarve. José Luiz Fernandes
Ficha Técnica Direcção: Gorda Editor: João Evaristo Design e paginação: Mário Coelho
Goran Bregovic actuou no dia 24 de Junho no Palco Matriz do Festival Med, em Loulé, acompanhado da sua Wedding
& Funeral Band. No f inal da actuação o músico foi distinguido pela Songlines, uma das mais
conceituadas publicações internacionais de música, com o Songlines Music Awards na categoria de Melhor Artista.
• TEATRO/DANÇA
ACTA estreia Insustentável Leveza
Insustentável Leveza é uma produção da ACTA, com direcção artística de Carlos Matos, que cruza a dança contemporânea, a música e a poesia.
Concepção gráfica: Ricardo Claro Responsáveis pelas secções: panorâmic a . S - Ric ardo Claro | cinema.S - Cineclube de Faro, Cineclube de Olhão e Cineclube de
O espectáculo pretende conduzir o público numa viagem até à origem da palavra Saudade.
Tavira | biblioteca.S - Paulo Izidoro | livro.S - Adriana Nogueira | palco.S - João Evaristo | política.S Henrique Dias Freire | estratégia.S - Direcção Regional de Cultura do
D.R.
2 Julho |21h30 |Teatro Municipal de Faro|€7»€12 3 Julho |21h30|Auditório Municipal de Olhão |€8»€10
Algarve Revisão de texto: Cristina Mendonça e-mail: geralcultura.sul@gmail.com Tiragem: 11.701
• TEATRO DE RUA
Do Do Land D.R.
Rêve d’Herbert pela Compagnie dês Quidams
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• TEATRO AÉREO
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A companhia Grupo Puja da Argentina/Espanha apresenta Do Do Land, um espectáculo baseado no conto Alice no País das
Maravilhas que mistura as linguagens do teatro, dança, circo, desportos em altura, multimédia, música ao vivo, arquitectura e engenharia.
Simplesmente imperdível. 1 Julho |22h30 |Largo de Carmo/Tavira|Entrada Livre
• ESCULTURA
R êve d ’Herbert é u m espectáculo da companhia francesa Compagnie dês Quidams criado em 1997 e representado mais de 400 vezes por todo o mundo. Nestas actuações incluemse as realizadas no âmbito do Mundial de Futebol de 1998
e do Europeu de 2000. Evocando o espírito de união e de encontro, cinco figuras transformam-se em seres etéreos deslumbrantes que nos convidam a uma viagem de emoções, a um ritual mágico que nos transporta a um mundo
imaginário como num sonho… 17 Julho |22h | Largo do Carvoeiro /Lagoa |Entrada Livre
• MÚSICA/JAZZ
Escultura Abstracta nas Décadas de 1960-1970 da Colecção da Fundação de Serralves
McCoy Tyner em Loulé D.R.
A exposição centra-se na escultura produzida na década de 1960, mas também nos anos 1970, por artistas ligados ao contexto artístico portuense, avançando hipóteses sobre a relação da actividade
escultórica portuguesa com a arte anglo-saxónica. Comissariada por João Fernandes, apresenta obras de Alfredo Queiroz Ribeiro, Ângelo de Sousa, Armando A lves, João Machado, Joaquim Vieira, Jorge
Pinheiro, José Rodrigues e Zulmiro de Carvalho. A partir de 10 Julho Das 16.00 às 23.00 Espaço Multiusos de Albufeira
McCoy Tyner, um dos mais prestigiados pianistas e compositores de jazz vivos actua no dia 31 de Julho no Festival Internacional de Jazz de Loulé. Com uma musicalidade influenciada por Art Tatum, Thelonious Monk e Bud Powell, Tyner
concilia na perfeição a técnica com o lirismo e as inovações harmónicas. Tem o estatuto de lenda viva, especialmente marcado pela sua colaboração enquanto pianista na formação do saxofonista John Coltrane, na qual começou com apenas 17
anos. Tocará com o seu trio e contará com a participação especial de Joe Lovano no saxofone. 31 Ju l ho | 2 2h | Monumento Engº Duarte Pacheco/Loulé | €20
destaque
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• OLHÃO
A revolução silenciosa Por Ricardo Claro
P
panorâmica
ensamento estratégico foi a base da política adoptada pelo município de Olhão para a cultura desde que em 1993, Francisco Leal tomou as rédeas dos destinos da autarquia. Um projecto cultural, uma estratégia pensada, uma execução criteriosa e o resultado está à vista. Dezassete anos depois, Olhão sofreu uma «revolução silenciosa», expressão que o autarca aceita como descrevendo na perfeição a acção da Câmara em termos culturais. Quando Francisco Leal tomou posse, Olhão tinha uma diminuta representatividade cultural na região e o panorama cultural local apresentava carências da mais variada ordem, enquanto que hoje a cidade e os seus equipamentos culturais, bem como, a própria cultura popular e a programação e produção culturais locais, apresentam toda uma nova pujança. Uma mudança que o autarca não nega ao Cultura.Sul, mas que esclarece se deu “paulatinamente”. “A política cultural que implementámos teve por base uma estratégia que def inimos no início do nosso mandato e que tem vindo a ser concretizada paulatinamente”. Para o presidente há que ter em conta que quando tomou posse, “Olhão tinha enormes carências noutras áreas, muitas delas de prioridade absoluta e que o concelho tem recursos limitados, o que implicou uma política de desenvolvimento cultural à medida das possibilidades”. “O que se fez foi uma rigorosa gestão dos recursos e uma aplicação criteriosa dos fundos comunitários, disponibilizando assim verbas para a área cultural, também esta uma prioridade para o modelo de desenvolvimento que tínhamos em mente”, diz o autarca em jeito de análise do trabalho feito. Relativamente aos fracos dividendos que a cultura traz para os políticos, Francisco Leal é claro: “o que está no centro das decisões de política cultural da Câmara não são os dividendos políticos directos e imediatistas”. “As decisões
obedecem a uma estratégia de política geral de desenvolvimento que deve ser vista globalmente e aos critérios de prioridade e oportunidade”, esclarece, concluindo que “o retorno dos investimentos enquadra-se numa política de médio e longo prazo”. Aliás, clarifica o presidente, “quando se cumpre uma estratégia pensada, consistente e consequente, os resultados sentem-se com o tempo e o reconhecimento aparece com eles de forma paulatina e natural”. E sem hesitar remata, “quando começámos
Outro marco foi a recuperação do antigo Compromisso Marítimo de Olhão, que alberga hoje o Museu Municipal e que constituiu, de acordo com autarca, “outro projecto emblemático para a cidade e para a preservação da memória colectiva”. Paralelamente, a autarquia esteve presente nos projectos de recuperação das igrejas que, numa cidade recente em termos históricos, constituem parte determinante do património. Para o presidente, “havia que aproveitar ao máximo todo este D.R.
Francisco Leal, presidente da Câmara de Olhão em 1993/94 pensávamos com 2005 como horizonte, tal como hoje a nossa estratégia está pensada para o horizonte 2025”. O percurso Rever o percurso da política cultural da autarquia num mandato tão extenso não é obra fácil, mas Francisco Leal tem-no perfeitamente presente e recorda, sob proposta do Cultura.Sul, os principais feitos do seu consulado. “A primeira acção de relevo em termos de política cultural foi a recuperação dos mercados”, recorda. “É uma das grandes obras de recuperação do património edificado e que tem hoje uma importância fundamental, quer como um dos espaços turísticos âncora da cidade, quer no que respeita à utilização do espaço público pela comunidade”, destaca.
património, valorizá-lo e devolvê-lo à comunidade, maximizando a sua expressividade no cômputo cultural e patrimonial”. Um esforço que se estendeu a todas as freguesias e que, além das intervenções sobre os edifícios, se fez também com intervenções de carácter urbanístico e paisagista, como na recente intervenção na envolvente da Ig reja de Moncarapacho. A biblioteca marca outro momento f undamenta l. “Aproveitámos o antigo edifício do Hospital de Olhão e criámos uma biblioteca, aproveitando o património e valorizando-o”, relembra Francisco Leal. “Criámos uma infra-estrutura indispensável, bem
equipada, numa zona nobre da cidade e em particular junto das escolas, permitindo uma fácil fruição do equipamento”, destaca. A última intervenção foi o Auditório Municipal, também ele feito na mesma linha de recuperação e reconversão do património da cidade. “Um edifício que ocupa o lugar de uma antiga fábrica de conservas, da qual mantivemos a espectacular chaminé”, afirma, relembrando a política integrada, “criámos com as novas zonas industriais condições para transferir as instalações industriais, libertando espaços para serem dedicados aos mais variados fins, nomeadamente à cultura”. Muito mais do que obra feita Mas a cultura em Olhão é muito mais do que os espaços culturais criados, é acima de tudo uma identidade social e cultural fortíssima que Francisco Leal reconhece claramente e valoriza de forma particular. “Ao longo dos anos sempre apoiámos as iniciativas populares, sabemos que aí reside a nascente da força de ser olhanense e a identidade cultural do concelho”, destaca. “Damos apoio desde os santos e marchas populares, que têm em Olhão e nas freguesias grande relevo e demonstram grande vitalidade, até às iniciativas de todas as organizações, da cultura e do desporto até à educação”, refere, concluindo que “atrever-me-ia a dizer mesmo que tudo o que mexe em Olhão é apoiado pela Câmara”. “Exemplos disto mesmo são o apoio que demos sempre ao Carnaval de Moncarapacho, que o tornou numa festa mais popular e mais aberta aos olhanenses e aos visitantes”, refere o presidente. Outro exemplo, mais recente, foi a recuperação da festa que tinha lugar antigamente na segunda-feira de Páscoa no Cerro da Cabeça. “Recuperámos esta tradição e está a crescer enquanto evento popular, representando mais uma recuperação do pat r i món io en for mador da identidade colectiva dos olhanenses”, destaca.
O futuro cultural “Muito há ainda por fazer”, confessa Francisco Leal. As próximas apostas na área cultural passam pela recuperação da zona histórica de Olhão, uma intervenção colossal para a qual já há fundos e que valorizará o espaço público ao mesmo tempo que será, de acordo com o autarca, “o elemento agregador das valorizações parcelares da cidade que temos vindo a realizar”. Esta é uma intervenção que mudará de forma radical a cidade, porque une sob um discurso coerente em termos patrimoniais e urbanísticos os diversos espaços e enquadramentos, e que terá profundos efeitos no desenvolvimento de Olhão. Outros dois projectos em que apostamos a médio e longo prazo são a recuperação do Forte de São Lourenço, onde a investigação patrimonial subaquática já está a dar passos, e a reconversão do antigo matadouro para acolher um museu directamente relacionado com o mar, a pesca e a relação única de Olhão com a Ria Formosa.
O caíque atracado em Olhão hoje é uma réplica daquele que, em Julho de 1808, zarpou com 17 olhanenses para o Brasil levando consigo o correio que daria ao Rei D. João VI notícias da expulsão dos franceses que haviam invadido o país e tomado a capital provocando o exílio da família real.
A réplica mandada fazer pela Câmara de Olhão representa a memória viva dos feitos do povo de Olhão naquela época e constitui um ícone da História da cidade e do seu povo. Custo: 500.000 € Junho de 2002
Compromisso Marítimo
Hoje Museu da Cidade, depois da recuperação patrimonial levada a cabo pela autarquia, o Compromisso Marítimo de Olhão, a confraria marítima dos homens do mar criada em 1765 e responsável pela administração da Capela de Nossa Senhora da Conceição na Igreja Matriz.
Instalada no edifício do antigo hospital de Olhão, criado em 1884, a Biblioteca Municipal de Olhão alberga um acervo que compreende mais de 25 mil documentos, sendo cerca de 15 mil oriundos da antiga biblioteca fixa n.º 5 da Fundação Calouste Gulbenkian. A renovada infra-estrutura,
cuja área ultrapassa os 2.600 metros quadrados divididos por três pisos, conta com um auditório e representa uma ferramenta de importância notória para a população e para a comunidade estudantil olhanense. Custo: 3.000.000€ Setembro de 2008
Mercados
Desde Junho de 2001 que o museu serve a população olhanense, constituindo um dos pontos de interesse da cidade. Alberga agora uma exposição no âmbito do projecto regional “Algarve do Reino à Região”. Custo: 1.000.000 € Junho de 2001
Os oito torreões dos mercados de Ol hão são a imagem mais distintiva da cidade. Construídos em 1915, são um dos ícones da cidade e o lugar por excelência para um encontro com a alma olhanense. Depois de a sua recuperação ter sido desejada sob a forma de centro cultural, a manutenção
da sua função original provou ter sido a decisão mais acertada, deixando aos olhanenses um espaço público que é seu e que os representa de forma ímpar. Custo: 1.500.000€ Julho de 1998
Auditório Municipal A sala maior da cidade de Olhão abriu portas há pouco mais de um ano com uma capacidade para 414 pessoas. O Auditório Municipal determinou a entrada de Olhão para a rota
nacional dos grandes espectáculos e a possibilidade do público olhanense assistir em casa às maiores produções das mais diversas áreas culturais. Constr uído a partir de uma velha fábrica conser veira, o Auditório Municipal determinou a requalificação de uma zona urbana cuja nova vida devolveu maior dignidade àquela parte da cidade. Saído do estirador do arquitecto
António Meireles, o projecto reflecte nos pormenores de arquitectura o cubismo associado à cidade e mantém a original chaminé fabril, apesar de nos seus três pisos interiores encerrar uma das mais modernas e versáteis salas da região e do sul do país. Custo: 5.000.000€ Março de 2009
panorâmica
Uma política de apoio às iniciativas populares que nunca pôs em causa a realização de eventos de outras características por parte da Câmara, nomeadamente concertos, exposições, feiras e mostras que determinam a abrangência de públicos que vão desde os habitantes de Olhão e do concelho até aos visitantes de forma transversal na sociedade.
Biblioteca Municipal
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Caíque Bom Sucesso
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• Cineclube de Faro
• Cineclube de Olhão
Vico Reis Ughetto Presidente do Cineclube de Olhão e técnico de comunicação audiovisual
• Cineclube de Tavira
André Viane Presidente do Cineclube de Tavira
Os cineclubes do Algarve estão vivos
Curtas e Documentários – Os mal amados das salas de cinema
11ª Mostra de Cinema Europeu de Tavira
O Cineclube de Faro, ao longo dos seus 54 anos de vida, está totalmente firmado na realidade local, regional e nacional. Não são pois de estranhar as múltiplas colaborações que nos são pedidas, nem as co-organizações que fazemos com entidades tão díspares como a Sociedade Recreativa Artística Farense ou o Teatro Municipal de Faro. Mantemos a pujança da juventude, porque jovem é o espírito que nos move. Mantemos o orgulho de fazer o melhor, porque razões de orgulho pela História que nos antecede é o que não nos falta. Mantemos, também, só que neste caso infelizmente, os crónicos problemas de instabilidade e sufoco financeiro que, uns mais do que outros, são triste apanágio da realidade cineclubística nacional. Perguntar-se-à o leitor como é possível sobreviver assim, numa actividade cultural tão onerosa quanto a da exibição cinematográfica, cada sessão a rondar os 300 ou 400 euros, e tendo-as todos nós uma vez por semana. Falando pelo CCF, com muita angústia e credo na boca… contando cada espectador que irá despender 3,5€ num bilhete… rezando que mais um ou outro sócio pague quotas em atraso… Mas também com muita imaginação, diversificando a oferta, seja do tipo de filmes, seja nos locais de exibição, como o programa do mês de Julho exemplifica. Anunciamos desde já que em finais desse mês e durante o início de Agosto, regressaremos com o nosso habitual Ciclo de Cinema ao Ar Livre, mas desta vez composto por 20 filmes em 10 noites consecutivas, no aprazível espaço da Fábrica da Cerveja. “Curtas Portuguesas recebem os Amigos Americanos”.. E, em finais de Agosto e início de Setembro, o luar de CacelaA-Velha acolherá, pelo terceiro ano consecutivo, um ciclo de cinema (este ano, só português ) que tudo tem a ver com o Algarve. Porque, para além de Farenses, somos algarvios. É nesta região que existimos e trabalhamos. É por ela que damos tudo o que sabemos, tudo o que podemos – mesmo que conseguíssemos muito mais. Assim nos dessem as condições... Gratos ao Caderno CULTURA.SUL por, pela sua parte, nos estar a melhorar as condições de divulgação.
Apesar de termos vindo a assistir a um crescimento da produção de curtas-metragens e documentários nacionais, estes continuam a passar ao lado das salas de cinema e sobretudo ao lado do público. Várias curtas-metragens portuguesas têm sido premiadas em importantes festivais. Depois de “Arena” ter vencido em Cannes em 2009 este género ganhou algum fôlego extra, mas não fora uma inteligente campanha de promoção, com a inclusão de “Arena” como extra de uma longa-metragem de primeira linha e talvez quase ninguém a teria visto numa sala de cinema. O documentário tem um pouco mais de sorte no processo. Pela sua duração, próxima de uma longametragem, e por ser um género que atrai, nem que seja pontualmente, alguns realizadores conceituados, o mesmo acaba por ter mais saída no circuito das salas. Mas a adesão do público não é tão genuína como se poderia esperar. O mês passado o Cineclube de Olhão (CCO) apresentou o ciclo “Documentários portugueses (menos 1)” no qual exibiu 4 filmes documentais de grande qualidade, relevância e atualidade (Pare, Escute, Olhe; Bobby Cassidy; Ruas da Amargura; Ruínas e a fechar (o menos 1) “The Cove”, vencedor do Óscar de melhor filme nessa categoria. A adesão do público deixou-me algo desanimado. Registámos quebras de espetadores na ordem dos 30 a 40%. A seleção das obras foi boa, todos eles foram premiados em festivais e eram estreias em sala no Algarve. Será que existe a ideia de que “não vale a pena ver documentários no cinema, porque dão na televisão”? Espero que não, e por isso o CCO volta a insistir e a abrir a programação de Julho com o documentário “Fantasia Lusitana” de João Canijo. Um documento etnográfico realizado a partir de imagens de arquivo e que nos dá um retrato, e uma outra visão, de Portugal durante a 2ª grande guerra e da nossa controversa neutralidade. A não perder portanto…
O Cineclube de Tavira realiza, de 16 a 26 de Julho de 2010, a Mostra de Cinema Europeu, pelo 11º ano consecutivo. Desde o primeiro ano temos privilegiado uma rigorosa selecção de cinema de qualidade produzida por Europeus, aliando a esta programação uma atmosfera única e mágica, proporcionada por espaços ao ar livre. As Mostras já passaram pelos Claustros do Convento da Graça , em 2000 e 2001, pela esplanada do Palácio da Galeria em 2002 e pelos Claustros do Convento do Carmo, desde 2003. A programação escolhida para este ano é bastante rica. Procurou-se diversificar em termos das nacionalidades de produção dos filmes, sempre dependente da oferta disponível no mercado nacional de distribuição, que continua a ser limitada. Esperamos receber muitos visitantes e apreciadores de bom cinema, neste evento que já é uma das marcas culturais do Verão em Tavira. O cineclube proporciona, ainda, um serviço de bar junto ao local de projecção para permitir o convivo entre os presentes, a troca de impressões e emoções, num ambiente de diálogo e boa disposição, na prossecução daquele que é um dos nossos objectivos principias: divulgar o cinema de elevada qualidade e, simultaneamente, contribuir para a construção de uma consciência cinéfila com sentido crítico.
The Boat that Rocked de Richard Curtis
Agenda do Cineclube de Faro
Agenda do Cineclube de Olhão
Agenda do Cineclube de Tavira
• Ciclo Já Não Se Fazem Heróis Como Antigamente
• Sessões Regulares
• Sessões Regulares
5 Julho | Bobby Cassidy, Counterpuncher de Bruno Almeida
6 Julho | 22h | Fantasia Lusitana de João Canijo
1 Julho | Soul Kitchen de Fatih Akin
12 Julho | Tony Manero de Pablo Larrain
13 Julho | 21h30 | Estômago de Marcos Jorge
4 Julho | Youth in Revolt de Miguel Arteta
19 Julho | Mother - Uma Força Única de Joon-ho Bong
20 Julho |21h30 | As Ervas Daninhas de Alain Resnais
26 Julho | A Nova Vida do Senhor O’Horton de Bent Hamer
27 Julho |21.30h | O Segredo dos Seus Olhos de Juan José Campanella
8 Julho | Como Desenhar Um Círculo Perfeito de Marco Martins
www.cineclubefaro.com
Instituto Português da Juventude | 21.30 | Sócios: €1 | Não sócios: €3
• Ciclo Tenham Medo - A Obra Completa de Michael Haneke Esplanada d’Os Artistas | 22.00 | Entrada Livre
www.cineclubeolhao.com
Ria Shopping - Sala 2 | Sócios: €1 | Não sócios: €3
O Cineclube é apoiado pela CM e JF de Olhão e pelo ICA (REDE 2010)
Cine-Teatro de Tavira | 21.30 | Sócios: €2 | Não sócios: €4 |
11 Julho | Humpday de Lynn Shelton
• 11ª Mostra de Cinema Europeu de Tavira
Claustros do Convento do Carmo | 21.30 | Sócios: €2,50 | Não sócios: €4,50
1 Julho | Brincadeiras Perigosas | Brincadeiras Perigosas (remake USA)
16 Julho | The Boat that Rocked de Richard Curtis
8 Julho | Código Desconhecido
17 Julho | An Education de Lone Scherfig
15 Julho | A Pianista
18 Julho | Los Abrazos Rotos de Pedro Almodóvar
22 Julho | O Tempo do Lobo
19 Julho | Pranzo di Ferragosto de Gianni di Gregorio
29 Julho | Nada a Esconder
20 Julho | Welcome de Philippe Lioret
• Ciclo O Mundo Aos Nossos Pés
21 Julho | Ruas de Amargura de Rui Simões
3 Julho | Home – O Mundo é a Nossa Casa de Yann Arthus-Bertrand | Comentário e debate com Élio Vicente, biólogo marinho
22 Julho | The Soloist de Joe Wright
Pátio das Letras | 22.00 | Entrada Livre
cinema
www.cineclube-tavira.com|cinetavira@gmail.com
Com legendas em Inglês e na presença do Realizador 23 Julho | Fish Tank de Andrea Arnold 24 Julho | Das Weisse Band de Michael Haneke
10 Julho | O Primeiro Choro de Gilles de Maîstre Comentário e debate com Herberto Neves, obstreta
25 Julho | The Straight Story de David Lynch
17 Julho | O Estado do Mundo de Apichatpong Weerasethakul e outros | Comentário e debate com Ana Soares, CIAC-UAlg
26 Julho | New York, I Love You de Mira Nair [et al] 29 Julho | The Time That Remains de Elia Suleiman
Fantasia Lusitana de João Canijo
A exibição decorrerá ao ar livre, nos Claustros do Convento
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Julho 3, 4, 10 e 11 Festas de Ferreiras Junto ao Estádio da Nora | 20h00 10/07 a 05/09 Exposição de Escultura Abstracta Espaço Multiusos de Albufeira 17h00 às 23h00
21 a 25 21 22 23 24
Festival Al-buhera Deolinda Macaco Bonga The Original Wailers Centro da Cidade
27 Albufeira Summer Cup Benfica – Sunderland Estádio Municipal | 21h15
28 e 29 Ensaio Aberto ACTA/OA
Largo dos Paços do Concelho | 22h00
30/07 a 1/08 XXIII Festa do Frango da Guia Junto ao Estádio Arsénio Catuna | 19h00
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lançar um olhar mais profundo sobre estes e outros monumentos da nossa região.
• Castelo de Paderne (Albufeira)
• Castelo de Alcoutim
• Castelo de Castro Marim
Este Castelo é um dos que figuram na Bandeira de Portugal e foi conquistado aos mouros por D. Paio Peres Correia em 1248 e desactivado em 1858. Classificado como Imóvel de Interesse Público desde 1971, o Castelo está a ser objecto de estudo por parte do IPPAR - Instituto Português do Património Arquitectónico e Arqueológico, com vista à sua valorização e classificação das áreas envolventes à Ribeira de Quarteira como Área de Paisagem Protegida.
Esta fortaleza foi construida no séc. XIV, no reinado de D. Dinis, arrasando quaisquer vestígios de épocas anteriores, nomeadamente do periodo compreendido entre a Idade do Ferro e o período romano republicano. Foi classificado Imóvel de Interesse Público em 1973, sendo alvo de um projecto de recuperação e valorização em 1992/3, levado a cabo pela Câmara Municipal de Alcoutim.
A primeira fortaleza de Castro Marim deveria ter consistido num castro familiar ou de povoamento do período neolítico, levantado na coroa desse monte. Mais tarde, no reinado de D. Dinis, compensando a perda de Ayamonte que passou para o domínio de Castela, manou o reio reforçar a fortificação, ampliando-a com a construção da Muralha de Fora, para abrigo e defesa da população, atraindo-a com a confirmação e ampliação dos privilégios atribuidos pelo seu pai D. Afonso III, concedendo-lhe nova Carta de Foral em 1282.
• Castelo de São João de Arade (Lagoa)
• Forte Ponta da Bandeira (Lagos)
• Castelo de Loulé
O castelo de S. João do Arade, constitui, pela sua antiguidade um conjunto patrimonial de valor nacional. A sua localização na foz do Rio Arade, sobre os rochedos de uma península, confere-lhe um valor paisagístico único no nosso país, tornando-se num dos marcos mais emblemáticos do Concelho de Lagoa. Possui planta trapezoidal, torre de menagem ameada, várias construções escalonadas em altura, dependência virada para o mar e guarida
Também conhecido por Forte de Nossa Senhora da Penha de França, Forte do Pau da Bandeira ou Forte do Registo. Construído entre 1680 e 1690, defendia o acesso ao cais e os flancos sudeste e nascente da muralha da cidade, cruzando fogo com o baluarte da Porta da Vila e com o baluarte do Castelo dos Governadores. Concebido, ao tempo, como uma das fortalezas tecnicamente mais avançadas de todo o Algarve. É um dos melhores e mais bem conservados exemplares do século XVII existentes em todo o Algarve, constituindo um autêntico ex-líbris das fortificações marítimas da antiga Praça de Guerra em Lagos.
O castelo de origem árabe, reconstruído no séc. XIII, possuía umas muralhas impressionantes, parte das quais ainda se podem ver, e 3 torres de alvenaria. A vila de Loulé era originalmente cercada pelas muralhas, constituindo este espaço o núcleo político, religioso e habitacional. No entanto, o crescimento da população levou a que a então vila se expandisse para além daquelas e formasse os pilares da cidade que hoje conhecemos.
• Fortaleza de Sagres (Vila do Bispo)
• Castelo de Silves
• Ponte Romana de Quelfes (Olhão)
Tem sido difícil de determinar com precisão a data inicial da construção da fortaleza e das suas muralhas, indicando-se como data mais provável o ano de 1443, data em que D. Henrique, filho do Rei D. João I, recebeu da parte do seu sobrinho, D. Afonso V, a região de Sagres para nela edificar uma Vila, destinada a prestar apoio à navegação que cruzava estas águas. A Fortificação, que recebeu grandes obras durante o Século XVI, foi fortemente danificada pelos ataques de Francis Drake, corsário Inglês, em 1587, bem como pelo Terramoto de 1 de Novembro de 1755.
Situado no cimo da colina, rodeado por uma cortina de muralhas com onze torreões, ocupando uma área de doze mil metros quadrados, este castelo que remonta ao século XI é considerado o maior castelo da região algarvia e o melhor exemplo da arquitectura militar islâmica existente em Portugal. Apesar dos estragos provocados pelo terramoto de 1755, actualmente é considerado como um dos mais bem conservados monumentos nacionais, graças à obras da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais.
De origem romana é constituída por um arco de volta perfeita, tem uma extensão de 23,65 m. Foi sendo restaurada ao longo dos tempos, sofrendo várias reconstruções. É considerada imóvel de interesse público. Neste local, em 1808, deu-se o confronto entre o povo de Olhão e as tropas napoleónicas, levando à sua expulsão.
www.cm-albufeira.pt
www.municipiodelagoa.net
www.cm-alcoutim.pt
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Riqueza Maior
O Património histórico edificado é uma das maiores riquezas do Algarve. Ao longo das próximas edições iremos
CULTURA . SUL
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Património
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são cuidadosamente esculpidos e pintados para ganharem uma nova vida Por
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do de fábulas. A natureza ganha força e expressa-se em forma de arte. Pássaros, cavalos-marinhos, gafanhotos gigantes, camaleões
Nélia Sousa
D.R.
A primeira impressão com que ficamos ao entrar no ateliê de Sylvain Bongard é a de que entramos num mundo povoado de animais e plantas exóticas, onde a imaginação não tem limites. Nascido na Suíça em 1959, Sylvain Bongard cedo veio viver para o Algarve com os pais. Mais tarde decidiu ir estudar para Inglaterra e Alemanha. Porém o clima, o mar e as pessoas atraíram-no novamente ao Algarve onde permanece, dedicando-se à pintura, decoração, escultura e à arte do azulejo. Considerado um dos mais multifacetados artistas do Algarve foi em Ferragudo que montou o seu ateliê. A arte do azulejo é uma das suas paixões. Como surgiu esse gosto pelo azulejo? Foi em 1987 quando comprei um forno pequeno, uns azulejos, umas tintas e comecei a pintar mesmo só como passatempo. Passados alguns meses já tinha uma enorme colecção de quadros em azulejo. Foi então que surgiu a oportunidade de, em 1988, ir à Feira de Artesanato, Turismo, Agricultura, Comércio e Indústria Sylvain Bongard no seu ateliê rodeado de algumas das suas inúmeras peças do Algarve (Fatacil) fazer a primeira exposição onde consegui mais cor, é mais impermeável e vivendas. Diria que 95 por cento também a sorte de decorar o vender algumas peças. Apercebi- permite fazer trabalhos de maior são estrangeiros, dos quais 80 por fundo de uma piscina com 100 metros quadrados. É uma imagem cento são alemães. me que dava para conseguir viver porte. subaquática enorme. Há uns anos da arte. Passados três anos, estava já Os motivos naturais são Porquê este interesse por tive também o privilégio de fazer, a viver unicamente da pintura. em Miami, uma floresta tropical aqueles que lhe agradam parte dos alemães? Portugal tem menos poder de em azulejo. Levei mais de um C o m o t e m s i d o o s e u mais na concepção das obras compra. O português, em termos ano a pintá-la com centenas de artísticas? percurso? Sim, o animal, o vegetal e gerais, se pagar um valor mais alto animais e plantas. Foi um trabalho Não tenho apenas trabalhado em painéis de azulejo, tenho também também a fisionomia das pessoas. por uma peça quer que o artista de três mil azulejos incrivelmente seja português, conceituado porque pormenorizados. feito trabalhos em escultura em grés Gosto muito de caras. é a maneira de impressionar a e pintura mural. O meu trabalho passa também pela decoração de Em que se inspira para idealizar nível social. Já os estrangeiros são diferentes. O alemão, de uma restaurantes, quartos de crianças, os seus objectos artísticos? Vem tudo da memória passada, maneira geral, se gosta e acha que inclusivamente convidaram-me para decorar os corredores da da minha infância. Eu sempre vivi o preço é justo, compra, não quer ala psiquiátrica do Hospital do rodeado de animais. Primeiro na saber o que eu faço, onde vivo, não Barlavento Algarvio com flores, Suíça, e depois aqui no Algarve. Eu precisa do currículo do artista nem plantas, insectos. Foram 100 sempre vivi embrenhado no meio de diploma. Pode interessar-se por metros de corredor que ganharam natural. Daí ter feito uma peça isso mais tarde. Mas não é por outra vida e dão alento a quem lá com passarinhos sem me basear isso que ele vai comprar a peça. está. Mas o azulejo teve durante em nenhum livro ou fotografia. Não compra para impressionar Acha que faltam galerias de 20 anos um papel importante na Toda a inspiração sai da minha ninguém. É para o seu próprio arte no Algarve? minha vida. O azulejo é muito memória. É impressionante como a prazer. Si m. C on sidero q ue no flexível e eu acabei por encontrar memória ficou com tudo lá dentro Algarve fazem falta galerias de desde os tempos de criança. São Os estrangeiros levam as arte sérias. um estilo próprio. memórias do passado que vêm suas peças para os países de origem? Isto significa que está sempre agora à superfície da mente. Os artistas não reclamam uma Alguns levam, mas muitos maior divulgação dos seus a inovar e a encontrar novos Em que está a trabalhar deles têm cá vivenda ou negócios. trabalhos? materiais? Por exemplo, acabei de fazer um De tal maneira que agora estou actualmente? Não de uma maneira que Estou a trabalhar na escultura trabalho com perto de 40 painéis de funcione. Há uma associação de centrado na escultura em grés cerâmico. É o que quero fazer. Isso em grés. Estou a fazer os últimos azulejos para um empreendimento artistas do Algarve constituída mas não significa que tenha abandonado trabalhos. São insectos gigantes. turístico no concelho de Lagoa a meu ver o problema prende-se sobre os pássaros e as árvores de também com a selecção. Tem de a arte do azulejo. O grés cerâmico é barro. A diferença em relação Q u e m p r o c u r a o s s e u s fruto do Algarve. Uma sugestão haver uma selecção de trabalhos minha que foi bem aceite. Nesses e de artistas. É certo que todas ao barro normal é que é cozido a trabalhos? São mais os particulares que painéis desenhei lontras, raposas, as pessoas que desenham têm o temperaturas mais altas e é mais resistente ao frio, tem mais textura, me contactam, sobretudo donos de o lince ibérico. Antes disso tive direito de expor e vender. Não
“Fazem falta galerias de arte sérias”
vamos impedir ninguém de fazer o que gosta. Porém há que fazer a distinção entre uma réplica comercial e um trabalho genuíno. Numa exposição colectiva há tanta coisa que não interessa... Esse é o problema que eu tenho neste momento. Tenho todas estas peças na minha galeria e gostava de poder mostrá-las a pessoas que têm galerias e que querem ganhar dinheiro com obras de arte. Este tipo de trabalho que desenvolve não é muito comum? Eu acho que não há. Algumas pessoas que me conhecem e sabem de arte dizem que não há. E é fácil dizer porque não há. O meu passado não é nada comum. Influenciou-me muito. Há algumas pessoas que terão tido também um passado muito ligado à natureza, mas não viraram escultores. Como vê a relação dos algarvios com a arte e a cultura em geral? Acho que está a haver um maior interesse, tendo em conta que não havia praticamente nenhum há 40 anos. De momento as pessoas têm tendência ainda a serem muito materialistas. O dinheiro é dirigido sobretudo para a obtenção de bens materiais. Para arranjar um público português acho que só vou conseguir em Lisboa.
arte
A exuberância da arte está à vista para quem entra no ateliê Bongard. Cada um dos objectos por que passamos parece retira-
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A arte de Sylvain Bongard
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«Nem tudo de mim morrerá» • Da minha
biblioteca
Horácio, Odes, Edições Livros Cotovia, Lisboa, 2008. Tradução de Pedro Braga Falcão. Horácio é um dos poetas latinos que deixou alguns conceitos que perduraram na nossa cultura, literária sobretudo, como o carpe diem, «aproveita/colhe o dia», ou a mediania sensata (a aurea mediocritas, que defende que a vida deve ser vivida com tranquilidade), que tanto influenciaram Ricardo Reis, o heterónimo de Fernando Pessoa.
Adriana Nogueira
professora universitária de Estudos Clássicos adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com
Esta é a minha primeira colaboração no cultura.sul, que eu gostava que fosse marcada por um texto de felicidade. Contudo, a morte recente de José Saramago (relativamente à data em que escrevo, foi ontem) alterou os meus planos. Quando soube do acontecido, veio-me à ideia a carta cor de violeta de As Intermitências da Morte, invenção da morte (com letra pequena, como ela fez questão em afirmar), enviada aos seres humanos, dando-lhes uma semana para organizarem a sua despedida da vida. O livro está repleto de humor, crítica social (como não poderia deixar de ser, num homem tão comprometido politicamente, nas várias acepções da palavra) e beleza. A mor te dei xou-se seduzir por aquele que já lhe pertencia. E foi este contexto que me levou para os meus primeiros meses a viver no Algarve, terra de antepassados (de onde herdei o meu Mendonça), onde pela primeira vez apertei a mão a José Saramago. Aconteceu na Biblioteca de Portimão (numa noite em que também lá estava Gonzalo Torrente Ballester), exactamente a 3 de Maio de 1996, relembra-me o meu Ensaio sobre a Cegueira. Quando se apercebeu que lhe trazia para assinar mais do que um exemplar, Saramago comentou, com ironia complacente: «Com tantos autógrafos, os meus livros não assinados vão valer mais do que os assinados!» Não li todos os livros de José Saramago nem é o meu autor preferido (talvez porque não tenha um), mas é o autor de um dos meus livros preferidos: O Ano da Morte de Ricardo Reis. Enquanto o lia e ia vendo que faltava cada vez menos para acabar, ia também entristecendo por pensar que
José Saramago (1922 - 2010)
• Itinerários:
livro
• 2 Julho |21h30 | Livraria Pátio de Letras (Faro)
Álvaro Cunhal - Sete Fôlegos de um Combatente. Memórias, de Carlos Brito, apresentado por Almirante Martins Guerreiro e Carlos Luís Figueira.
• 9 Julho | 22h | Livraria Pátio de Letras (Faro)
O Professor que o Adolescente deseja, de Maria Gabriela Sousa e Silva, • 24 Julho |22h | Livraria Pátio de Letras (Faro)
A Maçonaria Desvendada, Luís de Matos (Ed. Zéfiro), apresentado por
teria de deixar a companhia daquelas personagens. Nunca nenhum outro livro me fez ter saudades do convívio com a história que era contada, muito menos quando a sua leitura nem tinha ainda terminado. José Saramago domina as palavras com mestria, tratandoas com afabilidade, e para nós, leitores, constrói um texto que nos obriga ficar totalmente envolvidos, a respirar onde ele decide, a dar a entoação exigida pelo sentido e pela força das palavras, e não apenas por uma marcação gráfica: «as palavras, se não o sabe, movem-se muito, mudam de um dia para o outro, são instáveis como sombras, sombras elas mesmas, que tanto estão como deixaram de estar, bolas de sabão, conchas de que mal se sente a respiração, troncos cortados» (As Intermitências da Morte, 2ª ed. p.118). A terminar, recordo-me do poeta latino Horácio, que escreveu, há cerca de dois milénios, a propósito da sua própria obra literária, mas que aqui tão bem se ajusta: «Erigi um monumento mais duradouro que o bronze, | mais alto do que a régia construção das pirâmides | que nem a voraz chuva, nem o impetuoso Vento do Norte | nem a inumerável série de anos, || nem a fuga do tempo poderão destruir. | Nem tudo de mim morrerá (…)».
José António Barreiros. • Até 15 Agosto
“Cantos e Encantos da Minha Terra” – Concurso de Poesia Popular da Fundação Inatel da Região Alentejo e Algarve.
• Biblioteca.s Paulo Izidoro Coordenador Interconcelhio da Rede de Bibliotecas Escolares pauloizidoro@gmail.com
Lenta revolução nos livros digitais Está longe de ser tão popular como ver um vídeo no Youtube ou ouvir uma música no leitor de Mp3 mas a leitura de livros em formato digital está a entrar na vida das pessoas. Se olhar em volta dificilmente vai encontrar provas desta situação e em Portugal o livro digital ainda é uma curiosidade. Já encontram à venda leitores que permitem ler sem computador e em plena luz do dia. Mas a questão não é tecnológica: são os conteúdos que dão corpo às revoluções no mundo digital. É um facto que hoje as novas edições estão em formato digital, com livros mais baratos e disponíveis antes mesmo da edição em papel. Do mesmo modo existem trabalhos de digitalização de várias bibliotecas consagradas mundialmente. Apesar disto tudo existe uma barreira: a língua. As editoras portuguesas, o estado e as instituições não investem na publicação em formato digital e assim quase só temos acesso a livros em inglês. Livros de literatura escritos ou traduzidos em português europeu não passam de poucas centenas. E este começa a ser um problema cultural, uma falha na defesa da língua portuguesa no mundo dos cidadãos digitais. Literatura gratuita e em português? - BDC: http://cvc.instituto-camoes. pt/conhecer/biblioteca-digital-camoes. html - BLD (3 os 13 anos): http://e-livros. clube-de-leituras.pt
Leitor digital de trazer no bolso
Livros digitalizados e Livros digitais O livro digitalizado é uma reprodução de um livro existente recorrendo a imagens obtidas por scanners. Destinase a preservar e a permitir o acesso aos documentos. Já o livro digital é uma versão de um livro criado normalmente a partir da versão informática para impressão. Possibilita a leitura áudio e utilização em leitores digitais que não emitem ruído e possuem ecrãs de tinta digital (e-ink) para leitura até ao sol. Os formatos de distribuição são semelhantes e o mais comum é o PDF, podendo ser lidos em qualquer computador.
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• ALGARVE FORMA JOVENS ACTORES
por João Evaristo
Até 2007, os jovens algarvios do ensi no se c u nd á r io que quisessem forma r-se como actores viam-se obrigados a sair da região onde nasceram para realizar o seu sonho. A situação modificou-se com a abertura do primeiro Curso Profissional de
Artes do Espectáculo, variante I nt e r p r e t a ç ã o , n a E scol a Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro e, no ano seguinte, na Escola Secundária de Albufeira. Tendo uma base idêntica, os dois cursos apresentam algumas diferenças que aumentam as opções de
escolha dos alunos. Ana Cristina Oliveira e Paulo Moreira, responsáveis pelos Cursos de Faro e Albufeira, respectivamente, revelam ao Cultura.Sul o que distingue a oferta das duas escolas e quais as suas perspectivas a nível
do mercado de trabalho no Algarve. Nos dias 6 e 7 de Julho, das 9h às 17h, no IPJ, em Faro, catorze jovens finalistas do curso da Pinheiro e Rosa prestam provas públicas, perante um júri que os avaliará.
Em 2010/2011 o curso abre apenas na Escola Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro. As inscrições têm início a 14 de Julho, para alunos com o 9º Ano.
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Do sonho ao palco
• Quais os motivos de insucesso? ACO Os alunos acabam por desistir e seguir outros percursos ao se verem confrontados com a dificuldade do curso e com algum engano. É necessário um grande investimento na parte científica e não só na parte prática.
PM Abandono escolar puro. Os cursos não são exigentes do ponto de vista cultural, académico ou intelectual, mas são cursos práticos eminentemente presenciais. O que acontece é que alguns alunos têm o “vício” de faltar às aulas, o que dificulta a aprovação nessas disciplinas.
• Existe mercado no Algarve para esses alunos?
Ana Cristina Oliveira, directora do Curso Profissional de Artes do Espectáculo, variante Interpretação, na Escola Secundária Pinheiro e Rosa, em Faro.
Paulo Moreira, director do Curso Profissional de Artes do Espectáculo, variante Interpretação, na Escola Secundária de Albufeira.
• O que distingue, em termos de estrutura, os curso oferecidos por Faro e Albufeira? ACO O curso de Faro está mais virado
para a obtenção de ferramentas na área do teatro. Quero que os alunos trabalhem a fundo a construção da personagem. O cinema e a dobragem têm técnicas muito específicas que eles poderão apreender noutras formações.
ACO Existe a possibilidade de integrarem produções de companhias profissionais existentes. Ou de se formarem estruturas alternativas. O Algarve tem uma população interior que está muito carenciada relativamente a projectos culturais e essa poderá ser uma aposta. A nível de projectos de teatro considero que não é suficiente mas acho que existe muita diversidade. Houve uma grande evolução nos últimos anos. Há 10 anos não havia nada.
PM A razão pela qual eu considero
Os alunos da Pinheiro e Rosa integraram, durante o estágio, produções como Maria Adelaide (na foto) e As Vedetas pela Música XXI, A Cova dos Ladrões pela ACTA, Chama Devoradora pelo Te-Atrito e Min.Mal Show pelo Al-Masrah.
Momento de reflexão numa aula de Movimento, na Secundária de Albufeira. No dia 8 de Julho, os alunos de Albufeira apresentam na ESMAE, no Porto, o espectáculo de teatro físico Via Agem inspirado na obra Os Bichos de Miguel Torga.
PM Em Albufeira optámos por organizar o curso de modo a oferecer quer a vertente de Teatro, quer a vertente de Cinema e TV, com a consciência que existe mais mercado de trabalho nessa última área.
importante a existência destes cursos no Algarve não se prende com a existência de um grande mercado de trabalho mas sim com a falta de escolas para os alunos que o queiram fazer. Obviamente que quem quiser fazer carreira tem que sair do Algarve. O número de companhias de teatro no Algarve está limitado por factores de ordem demográfica e sociológica (o teatro continua a ser uma actividade cultural frequentada por uma minoria da população) e não é razoável acreditar que todos os nossos alunos possam integrar-se nelas.
• Como está delineado o estágio para este curso? PM O estágio é distribuído pelos 3 anos.
No 10º ano, os alunos fazem 100 horas em simulação de contexto de trabalho, num projecto a nível de escola, ficando logo de início com a noção do que é montar um espectáculo. No 11º ano fazem mais 100 horas de estágio numa área diferente do teatro, nomeadamente no cinema ou na TV. As restantes 230 horas são utilizadas no estágio do 12º ano, em teatro, numa companhia profissional.
• Quantos alunos integram as turmas? ACO No início do curso tinham-se inscrito
24 alunos. Chegaram ao fim 14. Acho que é um número razoável que corresponde, aliás, à média habitual nestes cursos profissionais.
PM Entraram o ano passado 24, passaram
16 para o 11º e neste momento temos 11 a transitar para o 12º ano. Em relação à turma que entrou este ano no 10º ano a taxa é muito parecida.
• Itinerários: • 1 Julho |22h30 |Largo de Carmo/Tavira|Entrada Livre
Teatro/Circo | Do Do Land | Grupo Puja (Argentina/Espanha) • 3 Julho | 17h | Fnac /Algarve Shoping da Guia/
Música/Rock | The Mad Dogs |Six Pack Of Trouble • 4/5 Julho |22h | Convento do Carmo - Tavira
Teatro |Minim.Mal Show | Al-Masrah
• 10 Julho |21h30 |Teatro Municipal de Faro|€7
Música |B. Fachada |Ciclo “Os Novos Românticos” • 17 Julho |22h | Largo do Carvoeiro /Lagoa |Entrada Livre
Teatro de Rua | Rêve d’Herbert | Compagnie dês Quidams (França) • 17 Julho |21h30|Jardim da Verbena /São Brás de Alportel |€20
Música/Jazz|Kurt Elling • 22 Julho | 21h30 | Teatro Municipal de Faro|€7»€10
Música | Sean Riley & The Slowriders
• 23»31 Julho | Academia de Música de Lagos
Música | III Estágio para Orquestra de Cordas • 24 Julho | 22h | Monumento Engº Duarte Pacheco/Loulé | €35»€40
Música/Jazz | Diana Krall • 29»31 Julho | 21h30 | Teatro Municipal de Faro|€10
Dança |Azul |VII Festival Internacional de Dança do Algarve
palco
ACO O estágio é feito só no 12º ano. Em conversa, nomeadamente, com os responsáveis da ACTA e do ALMASRAH chegámos à conclusão que era mais vantajoso um estágio de 3 meses com 430 horas. Em que dois meses são de ensaios e um mês é para andar com a peça em itinerância. Isto permite aos alunos conhecerem de facto como é o trabalho numa companhia de teatro, de uma forma muito aproximada da realidade.
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• VÍTOR GUERREIRO, VEREADOR DA CULTURA DA CÂMARA DE SÃO BRÁS DE ALPORTEL
O Algarve pode exportar cultura Por Henrique Dias Freire*
Temos agentes culturais de grande qualidade, que produzem produtos culturais de excelência, capazes de ser apreciados fora da região. Quem o diz é Vítor Guerreiro, vereador da Câma-
ra de São Brás de Alportel, que explica como pode uma autarquia, com um dos orçamentos mais “apertados” do Algarve, garantir animação e até eventos culturais de grande qualidade. Para
o autarca, é preciso apostar forte no apoio aos agentes culturais da região, com critérios rigorosos e na união entre as entidades que podem apoiar a cultura. JOÃO EVARISTO
CULTURAL.SUL – Em termos culturais, o que é mais relevante no concelho de São Brás de Alportel? Vítor Guerreiro – Temos um património natural e etnográfico de enorme riqueza. Preservar a beleza das nossas paisagens e o vasto património etnográfico são por isso as nossas grandes prioridades. A história de São Brás de Alportel é feita pela sua gente de trabalho. Somos o mais jovem concelho do Algarve, com “apenas” 96 anos. Até 1914 éramos uma freguesia rural do concelho de Faro, que deve à indústria da cortiça a sua projecção a concelho.
política
O que tem sido feito para preservar toda essa história? A edição de publicações sobre f iguras incontornáveis são-brasenses, que foram uma referência a nível nacional e mesmo até internacional tem sido nossa preocupação. São disso exemplo Roberto Nobre, João Rosa Beatriz e Estanco Louro, que nos deixaram um importante legado e que procuramos dar a conhecer às jovens gerações. Temos ainda apoiado várias publicações que retratam a nossa etnografia e a nossa história, mas estamos cientes que há ainda muito por fazer nesta área, nomeadamente a nível do nosso património oral. Preservar a poesia popular e o falar algarvio é extraordinariamente importante porque estes são tesouros culturais de valor incalculável. Este trabalho foi iniciado há muito anos com a publicação do livro do Alportel, de autoria de Estanco Louro. Um ilustre professor e investigador são-brasense que foi viver para Lisboa e cuja preocupação com a cultura da sua terra serve de exemplo para todos nós. A sua obra, uma monografia sobre S. Brás de Alportel, editada em 1929 ainda hoje serve de base a estudos e teses de mestrado e doutoramento sobre o Algarve. E em termos de património edificado? Para além do trabalho que vimos fazendo, em termos de sensibilização dos proprietários para a recuperação dos edifícios, temos feito nos últimos anos um investimento significativo, na requalificação e, mais do que isso, na revitalização do nosso Centro Histórico. A preservação deste núcleo da nossa vila é extremamente importante e é uma matéria muito sensível. As intervenções efectuadas nesta zona,
quer pela autarquia quer pelos proprietários, devem ser feitas de uma forma muito cuidadosa e neste sentido, para acompanhar estas intervenções criámos recentemente uma “Comissão de Preservação e Rev ita l ização do Cent ro Histórico”. O património rural é outra área da maior importância e a este nível estamos a proceder à limpeza e sinalização de antigos caminhos, criando toda uma rede de percursos pedestres e outra das nossas apostas tem sido a recuperação de antigas fontes, espaços de grande importância na memória colectiva. Nestes espaços de lazer muito agradáveis, temos colocado trechos de poetas sãobrasenses, criando uma verdadeira rota poética. A i nd a rel at iv a mente ao património edificado, não posso deixar de sublinhar o Centro Explicativo e de Acolhimento da Calçadinha. Recuperámos um antigo matadouro, instalando aí este centro, onde se inicia a visita para a “Calçadinha de S. Brás, o nosso ex-líbris arqueológico que tem ainda 2 troços a descoberto. Referir o Museu do Trajo é incontornável… O trabalho do Museu do Trajo tem sido muito bem conduzido. Neste momento, tem patente uma interessante exposição que integra
o projecto “do Reino à Região”, integrado na Rede de Museus do Algarve. Este Museu, propriedade da Santa Casa da Misericórdia, é actualmente uma referência a nível nacional, com um espólio de trajos valiosíssimo, e por isso merece da parte da autarquia um importante apoio, através da atribuição de uma verba mensal, para o seu funcionamento.
produto cultural. Foi criada para dar a conhecer o concelho, dando especial ênfase ao nosso património natural, às nossas paisagens e ao nosso ar puro. A nossa história assenta na importância da cortiça. Daí que a rota tenha cada vez mais visitantes nacionais e estrangeiros, sendo também bastante procurada pelas escolas da região.
Como tem sido a evolução da biblioteca? A biblioteca só foi inaugurada em 2001 e teve desde logo uma forte adesão por parte da população. Hoje, o trabalho da Biblioteca vai muito para além do seu espaço, com uma rede de bibliotecas escolares, uma rede de “cafés com livros” e todo um vasto trabalho itinerante que tem contribuído deter mina ntemente pa ra a promoção do livro e da leitura. Também com este propósito foi lançado o Prémio Literário Juvenil João Belchior Viegas, em homenagem a esta figura sãobrasense que projectou o nome do concelho, uma iniciativa dos seus herdeiros, que pretende sensibilizar os mais jovens para a leitura e para a escrita.
Qual é o itinerário oferecido aos visitantes? A visita começa no Museu do Trajo, onde se aborda a história da cortiça. Segue-se para o campo, através de autocarros e veículos todo-o-terreno ou a pé. Quanto aos circuitos, são vários e à medida do tipo de visitante. Essencialmente, mostramos o nosso património natural e industrial, desde as fábricas que existiam no passado, e q u e c ont i nu a m a l a b or a r, mostrando a tradição, mas dando também um passo para o futuro, com indústrias actuais do nosso concelho que têm tecnologias de ponta, como a Nova Cortiça que exporta os discos de cortiça que estão nas rolhas dos melhores c ha mpa n hes do mu ndo. E visitamos também a Pelcor, u ma ma rc a de a r t igos em pele de cortiça que é já uma referência mundial.
Que balanço faz da Rota da Cortiça? A Rota da Cortiça é um produto turístico mas também um
Temos que apoiar o que é nosso
Qual é a vossa política de apoios aos agentes culturais? Defendo que as autarquias têm de apoiar o que se produz no concelho e na região. É fundamental apoiar os bons projectos regionais, como a Orquestra do Algarve, a Orquestra de Guitarras, a ACTA ou o Al-Masrah Teatro, a Companhia de Dança do Algarve e muitos outros projectos. Infelizmente, no nosso caso particular e com um orçamento municipal de apenas 16 milhões de euros, um dos mais pequenos do Algarve, os apoios concedidos têm de ser bem menores do que gostaríamos e, naturalmente, muito criteriosos. Não se estará a dar relevância aos produtores culturais fora da região em detrimento aos nossos? Em vez de comprar produtos culturais fora, deveríamos mais vezes apostar em espectáculos produzidos na região. Quem melhor do que os produtores que estão no Algarve para conhecer os seus públicos assim como as nossas autarquias?!!, temos que dar esse voto de confiança aos nossos agentes culturais e em São Brás de
O Algarve Central é uma boa oportunidade? O Algarve Central é uma excelente opor t unidade, se aproveitarmos para produzir algumas coisas que não sejam efémeras. Temos de aproveitar para dar condições a alguns agentes para que, a partir daí, tenham maiores possibilidades de vingar. Numa altura de dificuldade, é essencial procurar soluções em conjunto. O Programa Allgarve está a dar melhor visibilidade cultural à região? Sem dúvida, esta é uma aposta certa em tornar o Algarve uma referência não apenas a nível turístico, mas também a nível cultural. E penso que este programa está no bom caminho ao passar a ser programado directamente pelo Algarve.
Que outros eventos constituem a animação do concelho? Temos, na Páscoa, a Festa das Tochas Floridas, uma iniciativa conjunta do município, da Paróquia e da Associação Cultural Sambrasense, que traz no domingo de Páscoa milhares de pessoas a São Brás. É uma tradição única, algo de muito nosso que tentamos preservar. Há cerca de seis anos revitalizámos as Festas dos Santos Populares, com o programa A Festa Sai à Rua que leva a festa a vários sítios do concelho. Também nos temos empenhado em preservar a tradição musical das charolas, com o divertido programa A força da tradição. Em Agosto, diversas actividades culturais de música e dança preenchem o programa Gostos d’Agosto, num espaço muito interessante e de grande valor patrimonial, que é o Jardim da Verbena, o mais representativo espaço de eventos do concelho.
Os públicos Feira da Serra atrai educam-se duas vezes mais O que é que levou a autarquia a avançar com a criação de uma que a população escola de dança? Foi um projecto que se iniciou residente com uma professora que dava
Qual é o evento de grande referência? A Feira da Serra, que se realiza no último fim-de-semana de Julho, e que junta mais de 25 mil visitantes, é o maior evento do concelho. Mais do que uma feira de artesanato ou de gastronomia, aqui aliamos as várias manifestações culturais, desde as artes plásticas à música, à dança, ao artesanato e à história, num único evento. A gastronomia marca também presença até porque preservar a nossa gastronomia mediterrânica é uma das nossas grandes apostas.
aulas de ballet aos mais pequenos. Passados 10 anos, temos 3 professoras e 150 bailarinos de todas as idades, dos 3 aos 30 anos. Inicialmente as pessoas não aderiam muito, mas hoje trazemos qualquer espectáculo de dança ao Cine-Teatro e esgotamos, o que bem mostra de que a semente da dança encontrou um terreno fértil e hoje dá os seus frutos. Os públicos educam-se e este é um trabalho constante. Nos primeiros espectáculos de música clássica tínhamos 30 a 40 espectadores, quase todos estrangeiros. Hoje trazemos a
Tem outros exemplos dessa educação do público? Este ano trou xemos, em colaboração com a Orquestra do Algarve, a Caixa Geral dos Depósitos e Direcção Regional de Educação, os Mega Concertos Promenade para os mais pequenos, com o André Sardet, no pavilhão municipal, com a presença de 3 mil alunos vindos de todo o Algarve. No âmbito da música clássica, esta parceria com a Orquestra do Algarve tem resultado muito bem. A educação para a cultura começa com que idade? Trabalhamos a cultura desde a primeira infância. Contamos com uma professora de música no pré-escolar bem como com uma professora de dança, o que certamente contribuiu para que os mais pequenos cresçam com outra sensibilidade cultural. Que impor t ância t em a Primaver a J o vem nes t e contexto? É a grande aposta na promoção de actividades para os mais jovens, com um programa que se estende de Abril a Junho. Na edição de 2010, o programa integrou um espectáculo de stand-up comedy, vários workshops e diversas actividades desportivas, sempre com a colaboração das associações e entidades do concelho.
Estrangeiros são mais-valia cultural para o concelho
A comunidade estrangeira também é bastante participativa… O concelho tem uma comunidade estrangeira bastante significativa. Um desses exemplos é o Grupo de Amigos do Museu, uma associação formada quase exclusivamente por estrangeiros que junta diversas nacionalidades, e que tem mostrado uma enorme dinâmica, com um grupo coral, um grupo de jazz e um grupo de teatro e com toda uma série de actividades. E é interessante ver a troca de experiências, como por exemplo um coro que canta a 5 línguas! São uma mais-valia que temos de acarinhar e apoiar para que eles, fazendo o que gostam, continuem a dar muito ao concelho. *com Helga Simão
A opinião de Vitor Guerreiro sobre o caderno Cultura.Sul A existência de um caderno como o CULTURA.SUL é de extrema importância para o Algarve. Não basta informar e divulgar os eventos e os agentes culturais da região. É necessária uma publicação de âmbito regional que aborde de forma transversal as questões da cultura de forma isenta e com o rigor próprio do jornalismo para assim formar e consolidar novos públicos. Felizmente, são já muitos os temas desenvolvidos na imprensa regional,
mas quanto à cultura, era uma lacuna que existia e que passou a ser preenchida desde há dois anos com o CULTURA. SUL que espero ver a crescer por muitos mais anos. É preciso que se saiba o que está a ser produzido com qualidade na região. O Algarve não necessita de importar tudo. Produz-se cá muita coisa boa e pode-se “exportar” produções de grande qualidade que são feitas na região. O CULTURA.SUL pode e deve fazer
esse trabalho importante para a cultura da região e ser um grande incentivador para as entidades que trabalham nesta área. O CULTURA.SUL pode e deve dar-nos referências do passado. Contribuir para que saibamos porque é que hoje somos como somos; dar-nos uma consciência plena da nossa história, porque só assim poderemos dar passos mais sólidos no futuro.
• Apontamento.s
Miguel Godinho Técnico Superior de Património Cultural Sócio da AGECAL
Lugares antigos, novos usos:
a reinvenção da memória
Aqui descansaram vidas anónimas. Gentes incógnitas que o tempo fez esquecer. Foram estes os filhos antigos de uma geração que viveu filha do seu próprio tempo, da sua realidade periférica, de um Algarve antigo, esquecido num cantinho do mundo. Aqui repousaram em segredo as vozes de uma outra era, num tempo de renovação mental. Uma recente preocupação – a saúde pública – resultante de uma moderna consciência europeia, viria a ditar por esta altura uma nova obrigatoriedade: doravante, não mais se poderiam enterrar corpos no interior das igrejas ou nas suas imediações. Conquista difícil de se alcançar, já que os enterramentos nas igrejas garantiam o acesso aos céus, mas muitos eram agora os vizinhos, cada vez mais, e, por isso mesmo, havia que perceber que os cemitérios públicos eram de facto uma necessidade. Foi assim em Cacela e em muitos outros sítios, e foram estas as premissas que viriam a impor a construção do Cemitério Antigo. Corria a década de trinta do século XIX quando se ergueram aquelas paredes brancas que passariam a delimitar o espaço de enterramentos das populações locais, essas que não viriam a resistir um século depois, nos inícios do século XX, em finais da segunda década, à violência epidémica da gripe pneumónica. Muitos foram os que sucumbiram à sua força, que dizimou praticamente toda a população, transformando aquele rectângulo de um branco imaculado numa vala comum para onde dezenas, talvez centenas de corpos foram atirados sem vida, sem nome, sem história e sem memória, à semelhança do que em muitos outros locais se passou. Destes dias difíceis resta agora um espaço vazio, já que depois deste pesado momento histórico, haveria de ser construído o actual cemitério de Cacela Velha. Quase cem anos depois da última utilização, impera agora a necessidade de valorização de um importante espaço de memória, a sua dignificação, a atribuição de um novo uso, a revitalização. Os cemitérios sempre tiveram uma carga simbólica que raras vezes permitiu a alteração do uso para o qual foram concebidos, e não é fácil, pelo respeito que merece a morte nas nossas concepções mentais, a atribuição de uma nova utilização a um espaço que está intimamente associado ao sagrado. Na sua essência, são locais de projecção da memória, onde, de alguma forma, se torna possível a descodificação da nossa identidade e a percepção do sentido último da existência: vivemos porque morremos. Mas o que fazer com um espaço cuja função se perdeu já no tempo? Para além da absoluta necessidade de recuperação desta interessantíssima forma de expressão de arquitectura tradicional, Cacela Velha tem necessidade de um espaço polivalente, de um local que permita a fruição cultural, que interfira e dialogue com a sua beleza, com a essência do lugar. É isso que se tem já tentado fazer, enquanto o projecto de reabilitação não avança, através da realização de exposições, sessões de cinema ao ar livre, concertos, espectáculos de teatro, palestras, convidando a comunidade a (re)descobrir-se e os visitantes a valorizar o património local. É discutível, sem dúvida, o caminho escolhido. Mas é uma forma de se evitar que o tempo impossibilite de vez a dignificação deste local e de facilitar a Cacela e à comunidade a reinvenção da sua memória através da reutilização de um espaço que, na sua origem, pretendia celebrar o passado. E que melhor forma de dar continuidade a esse propósito que não aproveitar o mesmo para proporcionar uma oferta cultural às populações?
15 CULTURA . SUL
Orquestra do Algarve e os 340 lugares do Cine-Teatro esgotam.
01. 07.10
Quais são as principais ofertas para este ano? A feira oferece um espaço de restauração, onde não falta a boa gastronomia tradicional, animação infantil, zona dos animais, arte equestre no picadeiro, a Praça da Cultura onde estão artistas a trabalhar ao vivo, a Aldeia Serrana que é o coração da feira onde está patente o artesanato e os doces tradicionais, com 112 expositores que vêm do Algarve e Alentejo. A animação será uma constante, nos dois palcos do recinto. Mas este ano, o mel será o convidado especial, na mais doce de todas as edições da Feira da Serra.
política
Alportel pugnamos por isso. Quais são os principais agentes culturais do concelho? Temo 2 ranchos folclóricos, 3 grupos de música popular portuguesa, o grupo de dança municipal e uma banda filarmónica. Existem ainda duas escolas de música, que têm uma grande dinâmica, projectos de duas associações culturais do concelho (ACREMS e ACS). Os grupos musicais da nossa terra são parceiros da autarquia, no desenvolvimento cultural do concelho, com os quais estabelecemos protocolos de colaboração mútua. As escolas são também importantes agentes culturais, com quem temos vindo a trabalhar, assim como agentes privados, como é o caso do Zém Arte ou do Café da Vila.
• DIRECÇÃO REGIONAL DE CULTURA DO ALGARVE
• Convidado.S D.R.
João Palmeiro Presidente da Associação Portuguesa de Imprensa
Camões e Vieira tinham razão – não podemos perder a YDreams!
01. 07.10
CULTURA . SUL
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Concerto da Orquestra do Algarve na ermida de Guadalupe, Raposeira, Vila do Bispo, no Dia Internacional dos Monumentos e Sítios
estratégia
Um instrumento estratégico para a Cultura no Algarve Um dos principais indicadores que distinguem hoje as sociedades desenvolvidas é o peso que estas atribuem à Cultura na construção democrática da cidadania e como meio de desenvolvimento social. O Plano Regional de Ordenamento do Território (PROTAlgarve) definiu para a Região uma Política com claros objectivos estratégicos e um conjunto de eixos de desenvolvimento sectoriais. A qualificação e diversificação do ‘cluster’ turismo/lazer; o robustecimento e qualif icação da economia; o impulso de actividades intensivas em conhecimento; a promoção de um modelo territorial equilibrado e competitivo; e a consolidação de um sistema ambiental sustentável e durável, identificam o Algarve como Região com enorme ambição e potencial futuros. No cumprimento das opções e or ient a ções est r atég ic a s, devemos reconhecer que houve na Região, nos anos mais recentes, um significativo incremento de equipamentos sócio-culturais. Trabalhar em rede, promover o diálogo dos agentes culturais, e apostar na herança histórica como factor de desenvolvimento – gerador de conhecimento, de auto-estima e de riqueza - são porém questões pendentes que se constituem agora como um enorme desafio. Complementando as «janelas de oportunidade» oferecidas pelo Turismo – principal vector do desenvolvimento económico da Região para os próximos anos –, as práticas culturais inserem-se
numa opção de desenvolvimento sustentável que assume a Cultura como factor de desenvolvimento e as marcas identitárias com um valor acrescentado. Como cada empresa, as regiões estão em permanente competição entre si: e, sobretudo, quando se assumem como «destino turístico». Valorizar a identidade diversifica a experiência do Algarve para quem nos visita, e contribui para consolidar o potencial endógeno e para a sustentabilidade do tecido económico regional. Pensar o papel da Cultura no desenvolvimento regional com um horizonte de dez anos, até 2020, fez reconhecer a necessidade de um Plano que se enquadrasse nos instrumentos estratégicos da Região. Caracterizar com rigor a realidade actual, def inir onde queremos chegar no final da próxima década, consolidar os modos e os meios para alcançar essas metas, avaliar os actos através de um conjunto de indicadores de desenvolvimento sustentável para a vertente cultural da Região: como qualquer plano estratégico, o PECALG (Plano Estratégico para Cultura do Algarve) deve ser encarado como um processo, mais do que como um instrumento operativo. Construído com, não para, as comunidades, colocando questões transversais e debatendoas responsavelmente, de forma multissectorial. É tarefa da Direcção Regional de Cultura do Algarve impulsionar a constituição de redes de conhecimento e animação, apostando na capacidade
dos criadores e agentes locais. Impulsionar o trabalho cultural continuado, por contraste com a «cultura de eventos». O PECALG institui-se assim como instrumento de governabilidade, articulado de uma forma inteligente com os instrumentos de planeamento e com a ambição dos cidadãos. Numa primeira fase, para a recolha de informação, adoptaramse instrumentos metodológicos produzidos no âmbito da UNESCO, conceitos operativos como Domínios Culturais (Património Cultural e Natural, Celebrações e Festejos, Artes Visuais e Ofícios, Livro e Imprensa, Audiovisual e Multimédia, Design e Serviços Criativos e transversalmente, Património Cultural Intangível) e Ciclo de Cultura, vulgo Funções Culturais (Criação, Produção, Divulgação/ Difusão, Exibição e Consumo). O Plano articula-se em sete áreas: Música, Teatro e Dança, Livro e Bibliotecas, Bens Culturais, Arquivos e Património Documental, Indústrias Culturais, Museus e Audiovisual. Na página web da Direcção Regional de Cultura do Algarve (www.cultalg.pt) se encontra uma ligação dedicada ao tema, que tem sido – e se deseja continue a ser - receptáculo de vários e prestimosos contributos para o PECALG. Participação alargada, visão, confronto de ideias, pragmatismo, consenso e monitorização estratégica: palavras-chave que constituem a base axial orientadora do PECALG, na promoção de qualidade nas condições de vida dos cidadãos.
Estrear a coluna do caderno CULTURAL.SUL é uma honra. O momento não poderia ser mais oportuno para partilhar com os leitores alguns momentos e pontos de vista que considero importantes para as Indústrias Culturais e Criativas. Tendo em conta o âmbito deste caderno, não posso deixar de referir dois momentos que devem ser assinalados. A Declaração de Madrid saída da conferência sobre os Media da Presidência Espanhola da EU e a nota estatística do Gpeari (http://www.gpeari.pt/) do Ministério da Cultura português. Estes momentos procuram estabelecer um traço de união entre uma Europa ou um Portugal envelhecidos, agarrados ao cimento, ao aço e ao ferro para uma Sociedade da Informação em que a liderança dos conteúdos seja assegurada por quem se considera – de uma forma ou outra - guardião dos valores culturais e da sua preservação. A nota estatística do Gpeari (tão pouco promovida e noticiada) ajuda-nos a perceber. Entre 2001 e 2009 esta indústria cultural e criativa vendeu 7 mil e 500 milhões de euros de direitos de aquisição e utilização de marcas e patentes, royalties e copyright, de produtos audiovisuais, de serviços de informação, de serviços de arquitectura, engenharia, consultoria técnica e informática e de serviços de publicidade e estudos de mercado e opinião pública. Boas noticias sobretudo porque raramente pensamos na cultura e na criatividade a olhar para o porta-moedas! Nas indústrias criativas mais culturais (com referência à memória, à maneira de estar, à língua, ao engenho da arte) o panorama é desolador e as taxas de cobertura raramente ultrapassam os 30%. E não é de agora, nós lá introduzimos no Japão as armas de fogo e o fabrico do pão, mas a língua portuguesa ficou de fora, e mesmo o cristianismo que lá chegou pela palavra dos jesuítas portugueses rapidamente passou a ser falado em flamengo, em italiano ou em inglês. E, finalmente, também por tudo o que atrás escrevi que vem a propósito falar da Declaração de Madrid do passado dia 4 de Junho. Para além da evidente importância política para quem se preocupa com o futuro da indústria dos Media, o pluralismo e a sua diversidade, esta declaração mostra-nos que, europeus como nós, ibéricos também, os espanhóis não hesitaram – mesmo perante as perplexidades britânica e germânica e a desconfiança francesa – em incluir numa declaração política global europeia os seus problemas, as suas questões a sua visão do impacto de certas questões na Sociedade da Informação que é afinal o grande objectivo desta proposta europeia – dar conteúdos europeus, multulinguisticos e multiculturais ao engenho que a tecnologia neutra e cega nos oferece. JOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS O próximo convidado desta coluna é o director do JL, Jornal de Letras, A r tes e Ideias, coordenador editorial da revista VISÃO e presidente do Conselho Geral do Sindicato dos Jornalistas. José Carlos Vasconcelos, cujo contributo pa ra a div ulgação da cultura e da língua portuguesa não tem precedente, é uma das personalidades que tem incentivado a continuação do nosso jornal CULTURAL.SUL. Foi o único até hoje a quem foram atribuídos todos os Prémios de Carreira, ou ‘equiparados’, de jornalismo e media: do Clube Português de Imprensa, da Casa de Imprensa (no ano do Centenário), o Manuel Pinto de Azevedo (Fundação Século XXI - O Primeiro de Janeiro), o Gazeta Mérito do Clube de Jornalistas. Além de outros como, na sua 1ª edição, o de Cultura e Ciência, da Fundação Luso-Brasileira para o Desenvolvimento dos Países de Língua Portuguesa.