Cultura.Sul36Agosto

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AGOSTO • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO

12.813 EXEMPLARES www.issuu.com/postaldoalgarve

• Convento das Bernardas

Tereza Salgueiro em solo maior AGO | 2011 • Nº 36 • Mensal • O Cultura.Sul faz parte integrante da edição do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente

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momento

Vítor Correia

Inauguração da galeria ÚNICA,Lagoa

cinema

Cineclube de Tavira

Cinema não europeu em noites de Verão As noites de Verão em Tavira são, cada vez mais, sinónimo de sessões de Cinema ao Ar Livre. Tal como nos anos anteriores, notamos que cada vez mais pessoas marcam de facto as suas férias em Tavira nas datas em que decorrem as nossas mostras de cinema. Portugueses oriundos de todo o país, holandeses, alemães, dinamarqueses, franceses, canadianos, italianos, espanhois e noruegueses acabam por voltar, noite após noite, às nossas sessões. Depois de um breve descanso a seguir da Mostra de Cinema Europeu estaremos de volta, no mesmo local, com o programa da 7ª Mostra de Cinema Não-Europeu.

Ficha Técnica Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Paginação: Postal do Algarve

Todos os anos muitas pessoas colocam a mesma pergunta: “quais os teus filmes preferidos?” Bem, a meu ver apresentamos um dos programas mais fortes em termos qualitativos das últimas edições de ambas as nossas mostras. Filmes com sensibilidade em termos de tratamento do tema, sólidos em termos de argumento e realização, na grande maioria impressionantes nas caracterizações dos personagens. Ainda assim, os destaques vão para o emocionante EL PERRO e o hipnotizante BIUTIFUL nessa parte não-europeia. Espero que tanto a nossa selecção como o ambiente criado vos agradem!

Responsáveis pelas secções: » baú.S: Joaquim Parra » livro.S: Adriana Nogueira » momento.S: Vítor Correia » museu.S: Isabel Soares » palco.S: João Evaristo » políticas.S: Henrique Dias Freire » panorâmica.S: Ricardo Claro

PROGRAMAÇÃO

www.cineclube-tavira.com 281 320 594 ¦ 965 209 198 SESSÕES REGULARES Cine-Teatro António Pinheiro ¦ 21.30 18 AGO ¦ No One Knows About Persian Cats (Os Gatos Persas), Bahman Ghobadi, Irão 2009 (106 ) M/12 21 AGO ¦ Carlos, Olivier Assayas, França/Alemanha 2010 (165 ) M/12 25 AGO ¦ Águas Mil, Ivo M. Ferreira, Portugal 2009 (90 ) M/12 28 AGO ¦ Hanna, Joe Wright, Reino Unido/Alemanha/E.U.A. 2011 (111 ) M/12 7ª MOSTRA DE CINEMA NÃO EUROPEU ‒ AR LIVRE Claustros do Convento do Carmo ¦ 21.30 5 AGO ¦ The Social Network (A Rede Social), David Fincher, E.U.A. 2010 (120 ) M/12

Colaboradores: AGECAL, ALFA, CRIA, Cineclube de Faro, Cineclube de Tavira, DRCAlg, DREAlg, António Pina, Pedro Jubilot. Nesta edição: Ana Lúcia Cruz, Helena Correia, Rui Pinto, Filomena Branco.

6 AGO ¦ Biutiful, Alejandro González Iñárritu, México/Espanha 2010 (147 ) M/16 7 AGO ¦ Rango (V.O.-O.V.), Gore Verbinsky, E.U.A. 2011 (107 ) M/6 8 AGO ¦ Inside Job (A Verdade da Crise), Charles Ferguson, E.U.A. 2010 (120 ) M/12 9 AGO ¦ Sin Nombre (Sem Nome), Cary Fukunaga, México/E.U.A. 2009 (96 ) M/16 10 AGO ¦ Shi/Poetry (Poesia), Lee Chang-Dong, Coreia do Sul 2010 (139 ) M/12 11 AGO ¦ El Perro (Bombón: El Perro), Carlos Sorin, Argentina/Espanha (97 ) M/12 12 AGO ¦ Blue Valentine (Só tu e eu), Derek Cianfrance, E.U.A. 2010 (112 ) M/16

Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve e-mail: geralcultura.sul@gmail.com

13 AGO ¦ Black Swan (Cisne Negro), Darren Aronofsky, E.U.A. 2010 (108 ) M/16 14 AGO ¦ Away We Go (Um Lugar para Viver) Sam Mendes, E.U.A./Reino Unido 2009 (98 ) M/12 15 AGO ¦ The Tree of Life (A Árvore da Vida) Terrence Malick, E.U.A. 2011 (138 ) M/12

on-line: www.issuu.com/postaldoalgarve Tiragem: 12.813 exemplares


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Quotidianos poéticos

Bryan Ferry

Algures num espaço e tempo do Algarve, a vida e a ficção intrometeram-se na poesia de Bryan Ferry

Pedro Jubilot

pjubilot@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt

(1) Oh lá vem de novo - aquele velho tédio - eu espero que não dure muito - se te sentes em baixo - e nada está a correr bem - tu tens de pedir um desejo. (2) Às vezes estou bastante divertido - a ver isto a rodar e virar - a saborear - ambos doce e seco. (3) Isto não é - o fim do mundo - e o jogo continua - como nós sabemos. (4) Mais do que isto - não é nada - foi divertido por um bocado - não havia maneira de saber - como um sonho na noite - quem possa dizer para onde estamos a ir. (5) Bem este é um tão - triste encontro - eu tenho escancarado o meu coração - tantas vezes - mas agora está fechado. (6) É tão fácil, acreditem-me ‒quando te precisas divertir - primavera verão ou qualquer altura - eu farei qualquer coisa para te impressionar.

Espaço CRIA

Ana Lúcia Cruz

destaque

Gestora de Ciência e Tecnologia do CRIA ‒ Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia

Em pleno ano da revolução dos cravos de 1974, Bryan Ferry instalava-se incógnito algures na costa do barlavento algarvio, aliando o lazer à intenção de se inspirar para escrever temas para um novo disco, para o qual apenas tinha um vago título, que se formaria com as palavras ‘country’ e ‘life’. - Oh here it comes again -That old ennui - I hope it won’t stay long - If you’re feeling low - Nothing’s going right - You just make a wish.(1) ‘Country Life’ acabaria mesmo por ser o nome do álbum seguinte dos Roxy Music, cuja relva representada na capa pertence a chão algarvio, naquela que seria a mais ousada da sua discografia em contraponto com o menos conseguido long-play da banda, apesar de neste se incluir o sucesso ‘Bitter Sweet’. A canção que usa versos em língua alemã, foi inspirada na convivência com Eveline Grunwald e Constanze Karoli, as duas raparigas alemãs (também na capa) que o letrista conheceu por cá. Ferry, que estava acompanhado por Anthony Price e Eric Boman, respectivamente desenhador de moda e fotógrafo oficial do colectivo musical anglo-saxónico, encontrou as duas ‘valquírias’ num bar, transportando debaixo do braço discos em vinil dos RM. Elas eram

Bryan Ferry, vocalista dos Roxy Music namorada e prima de Michael Karoli guitarrista dos Can, banda alemã precursora do movimento krautrock. Mas foi quando se passeavam com elas de barco por entre as grutas das rochas, que os ingleses perceberam que aquelas criaturas eram perfeitas para o cenário soft-porn que desejavam para a capa. Sometimes I´m quite amused - To see it twist and turn - To taste - both sweet and dry.(2)

Mas um belo dia, o dever (isso também acontece com as estrelas de rock) chamou o cantor de volta para a frenética ex-Swinging London, através de um telefonema do seu agente a exigir trabalho de estúdio e promoção. Despediu-se com pena de deixar as suas musas germânicas, pedindo-lhes que traduzissem para um guardanapo de papel que guardou no bolso, um par das suas famosas

últimas palavras: - Das ist nicht - Das ende der welt - Und das spiel geht weiter - Wie man weiss.(3) Em 1982, o poeta Bryan voltaria ao Algarve, mesmo que apenas por uma só noite, desta vez como cabeça de cartaz de um concerto inesquecível no estádio de São Luís, em Faro. - More than this - there is nothing - It was fun for a while - There was no way of knowing - Like dream in the night - Who can say where we’re going.(4) Com Phil Manzarena, Andy McKay e a restante orquestra Roxy M., Ferry impôs o seu charme de crooner numa noite tropical, através das canções pop de ‘Flesh&Blood’ e ‘Avalon’, o último disco de originais lançado pelo grupo inglês e aquele que mais vendas e êxito obteve. -Well this is such - A sad affair I´ve opened up my heart - So many times - But now it´s closed.(5) Agora BF continua a cantar em resorts de luxo e a passear-se com os seus filhos ou com as namoradas pela relva dos melhores campos de golfe do mundo, no Allgarve, claro! - It’s so easy, believe me - When you need fun - Spring Summer whenever - I’d do anything to turn you on.(6)

Doce empreendedorismo Não bebo café! Mas confesso que adoro tirar aqueles pacotinhos lindos dos meus colegas e levar para casa. Tantos motivos para o fazer! O design, o açúcar (cuja quase ausência no último Natal nos levou à histeria total) e melhor ainda, a excelente combinação, através de frases e pensamentos célebres, entre o tradicional e o moderno. Tantas coisas boas num simples e inovador pacote de 7cmx4cm. Só vejo um problema nisto tudo: a ideia não foi minha! Reparem neste hipotético, mas natural, encadeamento de acções: alguém olhou para um pacote de açúcar (não interessa quem, caso contrário perde o

encantamento), teve a ideia e prosseguiu avante com o seu plano maquiavélico de melhorar este produto. Nestas três acções só uma se revela bastante complexa: colocar uma ideia em prática. Sejamos realistas, criativos há muitos! Empreendedores ou pessoas que tenham a capacidade de colocar as suas ideias em prática… já entramos em zona VIP. Normalmente, para entrar nesta zona são necessários imensos requisitos e, por vezes, parece que temos de implorar pela bendita entrada. Contudo, quando falamos em adoptar uma atitude empreendedora o caso muda de figura. Esta está ao alcance de cada um e, por

“LEVA-ME AOS FADOS” 5 AG O | 2 1 . 4 5 | H e r d a d e dos Salgados – Albufeira Ana Moura apresenta um repertório de fados tradicionais que se mesclam com interpretações originais de criações de conceituados autores contemporâneos

favor, percebam que depende apenas de nós. Não vale a pena centrarmo-nos no vasto leque de desculpas e dificuldades que todos nós conhecemos. Por outras palavras, e exclusivamente para os pacotes de açúcar, Beethoven escreveu: “O Génio é composto por 2% de talento e 98% de perseverante aplicação”. Desde esta constatação que fiquei obcecada com o meu próprio umbigo. Então ando para aí a apregoar Empreendedorismo e Criatividade, mas muito possivelmente de empreendedora não tenho nada?! Pior!!! Sou tão multifacetada, que ironicamente não consigo identificar qual o meu talento. Mas de uma coisa

estou certa, a partir de agora irei concentrar uma grande parte do meu tempo a descobrir o meu talento, pois “não conhecer o próprio valor é ignorar-se a si mesmo”; e vou, igualmente, cultivar a minha atitude empreendedora, não só a nível profissional mas também pessoal. É que “uma pessoa para compreender tem de se transformar”. A busca por estes dois pensamentos e respectivos autores, deixo ao critério do leitor. Mas fica aqui uma dica: Obrigada pacotinhos de açúcar! Vocês são, sem sombra de dúvida, doces, sábios e representam a minha nova fonte de inspiração, criatividade e empreendedorismo.

“CANTO NONO” 9 JUL | 21.30 | Centro Cultural de Vila do Bispo O Canto IX de Os Lusíadas surge na narrativa épica de Camões essencialmente como corolário de festa pagã, prémio que a venerável Vénus entende ser devido aos portugueses


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panorâmica • REGRESSO À MINHA TERRA

Tereza Salgueiro a solo em Tavira O Convento das Bernardas em Tavira acolhe neste início de mês dois momentos raros de excelência musical, com as vozes de Tereza Salgueiro, dia 5, e de Carlos do Carmo, dia 11. O registo inconfundível de Tereza Salgueiro pode assim ser ouvido em “Voltarei à minha

Terra”, o espectáculo/projecto onde a cantora que se popularizou como vocalista dos Madredeus se encontra com uma sonoridade mais sua no percurso que iniciou a solo em 2007. O ensemble de instrumentos promete momentos raros e, depois, quem pode resistir ao reCultura.Sul - Estará dia 5 de Agosto em Tavira para dar a provar ao público as sonoridades do projecto “Voltarei à minha Terra”. Voltar à sua terra é um caminho para uma sonoridade mais sua e as letras que estão na raiz da sua identidade artística mais basilar? Tereza Salgueiro - “Voltarei à minha Terra” é, antes de mais, o título de um tema que integra o meu último trabalho Matriz. Originalmente uma guitarrada da autoria de Armandinho - um guitarrista do início do século passado - o tema foi arranjado por Pedro Jóia e foi criada uma letra pelo Tiago Torres da Silva, este tema foi o mote para este projecto. Trata-se de uma canção de que eu gosto muito e que me faz todo o sentido, além de que foi escrita para

quinte vocal de Tereza Salgueiro neste percurso que agora faz de solo magistral. O Cultura.Sul entrevistou a intérprete e trazlhe as palavras de uma das mais reconhecidas vozes femininas do panorama nacional em entrevista.

mim, e quis que integrasse desde o início este projecto. Neste espectáculo o tema é tocado já não como no Matriz pelo Lusitânia Ensemble, mas pela formação que me acompanha no projecto e ganha por isso uma nova sonoridade. Quanto à sonoridade e letras neste espectáculo, este projecto nasce em parte duma necessidade que tinha de encontrar uma sonoridade que me fosse mais próxima e um ambiente musical com o qual me identificasse mais profundamente. É um espectáculo que resulta de uma recolha do repertório português de clássicos do século xx, todos eles temas bem conhecidos do público português, como composições de José Afonso e Fausto Bordalo Dias e temas populares, como as canções de trabalho Cantiga da Ceifa e a Canção da Roda, que fui buscar às recolhas de Fernando Lopes Graça e Michel Giacometti, alguns temas da tradição do fado, e a apresentação de um original que integra o meu próxima trabalho. Este é pois um projecto que foi o ponto de partida para esta recolha de temas que me interessavam há muito e que eu gostava de cantar. Reconhecimento internacional O espectáculo une a sua mais do que reconhecida capacidade vocal a sonoridades que embora portuguesas encontram nos arranjos temperos de outros territórios sonoros e tem tido um sucesso notório fora de portas. O percurso que trilha neste momento é em termos de sonoridade um caminho em que se sente cidadã do mundo enquanto intérprete? É uma sonoridade bastante portuguesa e mesmo no novo trabalho que estamos a preparar a sonoridade tem esse cunho português. Ser uma cidadã do mundo na música resultará mais porventura do facto de há tantos anos percorrer o mundo pela mão da música a cantar português e a dar a conhecer a sonoridade portuguesa a tantas culturas diferentes. Tive a oportunidade de cruzarme com esta diversidade cultural e creio que cidadãos do mundo todos somos e sê-lo-emos, tanto mais quanto mais disponíveis estivermos para este encontro com outras realidades. Mas

primeiro que tudo sou e serei sempre portuguesa. O sucesso que este espectáculo tem obtido além fronteiras parece não ser da mesma expressão que aquele que tem em Portugal, onde não apresenta espectáculos com a regularidade que muitos fãs desejariam… O Voltarei estreou em Setembro do ano passado no Estoril e já percorreu a Sérvia, Brasil, Colômbia, Polónia, Itália e muitas cidades em Portugal e estou bastante contente com a reacção do público, em Portugal e no estrangeiro. Não sinto dificuldade no reconhecimento do meu trabalho em Portugal, o que sinto é que há uma situação global, e em Portugal particularmente, de grande dificuldade económica e as coisas estão a mudar dia-a-dia para uma nova realidade, o que torna as apresentações em público mais difíceis. Mas não noto qualquer falta de receptividade aos meus trabalhos a solo por parte dos portugueses, o Você e Eu e La Serena foram trabalhos que tiveram um grande acolhimento por parte do público em Portugal, tal como o Matriz. Não sinto dificuldade nenhuma, nem falta de adesão do público em Portugal, muito pelo contrário. Por outro lado, Portugal é um espaço territorial e o estrangeiro são muitos espaços, cada um com o seu circuito. Circuitos que enquanto estive nos Madredeus e nos trabalhos a solo tive possibilidade de conhecer e no qual tive a oportunidade de me dar também a conhecer, não creio por isso que esteja pouco presente em espectáculos em Portugal, nem sinto falta de interesse no meu trabalho, as circunstâncias é que determinam o número de concertos que se fazem. Novo disco Matriz é o seu último trabalho discográfico e data de 2009. Voltarei à minha Terra também revisita este trabalho mas espraia-se numa maior abrangência de músicas portuguesas, que vão desde a origem popular a nomes incontornáveis de poetas nacionais, é um espaço de definição do que será o próximo trabalho a solo? O Voltarei é a continuidade de um percurso que é o meu e simul-


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Ricardo Claro

Frank Sinatra na voz de Carlos do Carmo As grandes vozes não se temem antes se admiram e se reinterpetam. Não surpreende por isso que a voz do fado, Carlos do Carmo, traga a Tavira, no próximo dia 11, os temas interpretados pela voz de Frank Sinatra. O Convento das Bernadas acolhe assim um espectáculo raro onde a admiração de Carlos do Carmo pelo repertório de Sinatra ganha corpo e se materializa numa reinterpretação que o grande fadista faz à sua maneira [My Way] daquelas que são algumas das canções mais conhecidas do mundo e popularizadas para a eternidade por Frank Sinatra. Aos temas do monstro da música norte-americano, o gigante do fado português empresta o clássico da sua voz, o timbre inconfundível e o ambiente de uma interpretação única. Ao público Carlos do Carmo oferece neste espectáculo uma faceta mais jazzada, retrato de uma vida em

taneamente um espaço de desenvolvimento de um projecto que me une a estes músicos, nomeadamente no sentido de criar o novo trabalho discográfico. Nos discos Eu e Você e La Serena, bem como no Matriz, estamos perante verdadeiros trabalhos de parceria entre mim e os músicos com quem tive a felicidade de partilhar esses trabalhos e essas experiências. No Voltarei estamos perante um projecto que nasce da necessidade de encontrar e construir uma sonoridade mais próxima da minha identidade de música e de intérprete, como lhe disse, e que permite em simultâneo desenvolver com estes músicos - bateria e precursão, Rui Lobato, acordeão, Carisa Marcelino, contrabaixo, Óscar Torres, e guitarra clássica, André Santos - uma maior proximidade, um conhecimento e uma experiência que são a base do desenvolvimento do novo trabalho discográfico. Neste espectáculo, que tem apenas três temas do Matriz, a sonoridade é outra. Os arranjos do Matriz estiveram a cargo do director do Lusitânia Ensemble, o violinista Jorge Varrecoso Gonçalves, e tinham uma estética diferente dos arranjos feitos para o Voltarei. No novo trabalho discográfico será esta nova sonoridade que estará presente, mas num registo diferente, uma vez que se trata de um trabalho integralmente constituído por originais. Quando poderão os portugueses ver chegar aos escaparates esse próximo trabalho? Tive a felicidade de através dos Lusitânia Ensemble encontrar e partilhar experiências musicais com estes músicos que constituem o suporte musical

que também estes temas acompanharam desde sempre o grande senhor do fado. Conhecedor profundo das músicas e letras cantadas por Sinatra, Carlos de Carmo reinventa com cunho pessoal, aos 71 anos de idade e 45 de carreira, alguns dos temas ícone da cena musical mundial de todos os tempos. Uma vez mais, o rigor, a estética vocal cuidada e uma presença de palco irrepreensíveis são as propostas de Carlos do Carmo, que se faz acompanhar pela Claus Nymark Big Band nesta reposição de um espectáculo memorável realizado em 2010 no Pavilhão Atlântico. Surpreendente?! Não arrebatador, porque esta é a característica que nos surpreende sempre em Carlos do Carmo. Este é mais um concerto que marca, a par do de Tereza Salgueiro, no dia 5 e no mesmo local, que integra a programação do Allgarve.

do Voltarei e do novo trabalho. Estes encontros permitiram-me convidar estes excelentes músicos a integrar este projecto. O novo trabalho é o resultado da vontade de ter um trabalho de originais, que ainda não tinha encontrado o momento ideal para se concretizar,

morado porque é necessário que cada músico encontre o seu espaço, mas também que esse espaço corresponda às necessidades de uma linguagem comum, um trabalho colectivo e moroso para atingir um resultado final que se enquadre naquelas que são as nossas expectativas para o ambiente musical

mundo. Ambiciona o mesmo para a carreira a solo? Penso que não devo fazer comparações. São 25 anos de percurso que tenho na música e as coisas são indissociáveis, cada momento foi um momento diferente e particular, mas integra este caminho que tenho vindo a fazer. É impossível ambicionar a esta altura o resultado atingido num percurso de 21 anos com os Madredeus, que constitui uma coisa rara. Gostaria muito de poder continuar por muitos anos com este músicos a desenvolver trabalho, mas cada momento vive-se passo-a-passo. O que ambiciono, espero e desejo, é ter saúde para, dia após dia, continuar a perseverar neste caminho da música e estar disponível para continuar a explorar novas experiências e novas realidades. Daqui a 20 anos veremos o que é que fiz… O que esperar do concerto em Tavira

nem os músicos ideais para ser uma realidade. Paralelamente ao Voltarei estamos assim a dar forma ao novo trabalho que conta com a mesma formação de músicos, excepção feita à guitarra clássica, que será no disco substituída pela sonoridade de uma guitarra eléctrica, a cargo de André Filipe Santos. Desde Janeiro que estamos a trabalhar intensamente, é um labor de-

que queremos criar. Acho que foi um percurso muito feliz e agrada-me muito entrar agora em estúdio a preparar este trabalho e o espectáculo que o levará até ao público no princípio do próximo ano. Vinte e um anos de Madredeus marcaram um capítulo incontornável da música portuguesa e da sua expressão nos quatro cantos do

Em Tavira o que pode o público esperar do espectáculo, um regresso ou uma surpreendente viagem a caminho do futuro? O que o público pode esperar é seguramente uma noite em que cada um de nós vai procurar dar o seu melhor, interpretar com toda a entrega e amor pela música os temas que nos propusemos interpretar, com todo o respeito pelos próprios temas e pelos autores que os criaram. Uma experiência musical que os músicos tiveram muito gosto em construir juntos e que partilham com o público com esse mesmo enorme gosto.

O enquadramento do espectáculo é uma obra do estirador de um nome incontornável da arquitectura portuguesa - Souto de Moura - nascida do antigo Convento das Bernardas, agrada-lhe a ideia conceptual da envolvência? Sem dúvida, eu gosto muito, antes de mais, de cantar em espaços ao ar livre, apesar de tornar mais complicado o espectáculo do ponto de vista técnico, nomeadamente no que respeita à qualidade do som. Mas gosto de estar ao ar livre, de poder olhar as estrelas e o céu e sentir se está vento ou não – e realmente é melhor não estar por causa do som – e as pessoas têm também uma atitude mais descontraída que me agrada. Depois, o facto de se tratar da inauguração de um espaço tão especial, sem dúvida que também é algo que me agrada muito e que me honra pelo convite que me foi feito. Por outro, lado o espectáculo ganha com a inspiração do espaço e do momento. Há um intimismo que os portugueses têm como imagem de marca do seu traço interpretativo, esta é uma das marcas identitárias do espectáculo que traz ao Algarve? Eu canto tudo aquilo que me faz muito sentido cantar e sou movida pelas palavras que canto, que são muito importantes para mim e que são verdades em que acredito e que gosto de dizer aos outros. Trata-se da expressão de emoções e de uma humanidade que se partilha com o público. O que eu procuro são as emoções que são geradas pela música e a partilha dessa experiência humana do encontro com o outro, com os nossos próprios sentimentos e com os dos outros.


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baú

Bora ó banho… Joaquim Parra

Professor de História e coleccionador baudopostal@gmail.com

Estamos em Agosto. Mês de férias e, principalmente, mês de praia. Razão pela qual fui dar uma volta ao Baú para ver o que por lá haveria relacionado com a época balnear. Foram poucos os objectos que encontrei… Mas as memórias… Foi um nunca mais acabar. E é este conjunto, que venho partilhar convosco em mais um número do BAÚ. É certo que são as minhas memórias, os meus objectos, a minha praia (Monte Gordo), mas para as crianças dos anos 60 e 70, não serão muito diferentes. In illo tempore a praia era o remédio santo para uma série de maleitas e o

Sol, quanto mais, melhor. Curava-se a anemia, os adenóides, o raquitismo, a sinusite, a escrofulose, a depressão, problemas de ossos e toda uma vasta panóplia de doenças. Cancros de pele? Melanomas? Havia escaldões, isso sim. Até porque a moda (principalmente a feminina) exigia um bom bronzeado e, para tal, havia um remédio san-

to: Bronzaline, uma pomada entre o castanho e o laranja, que “bronzeava” tudo em que tocasse e com um cheiro inconfundível. Lembro-me da minha mãe me contar que levou algum tempo a juntar o dinheiro necessário para a comprar. Claro que havia soluções mais baratas, como por exemplo juntar ao óleo de coco, tintura de iodo. Para nós, miúdos, isso pouco importava. Mas dificilmente escapávamos ao “banho” de Nívea, o creme da latinha azul (faz este ano 100 anos que nasceu na Alemanha, em 1911, pela mão do Dr. Óscar Troplowitz, e cujo nome deriva do adjectivo latino “niveus/nivea/niveum”, que significa branco como a neve. A latinha azul com o logótipo NIVEA em cor branca apareceu em 1925). Chegado à praia, procedia-se ao ritual do “besuntamento”: braços, pernas, barriga, peito, costas e cara, nada escapava ao creme branco. Cla-

ro que aqueles fantasmas assim que caíam na areia se transformavam em assustadores croquetes andantes. Mas valia a pena, afinal na compra de uma lata, ganhava-se uma enorme bola azul de encher. Mesmo assim, apanhavam-se belos escaldões e, nesse caso, também havia a solução: Caladryl, um líquido cor-de-rosa, que nos

transformava em irmãos da famosa Pantera homónima. A maioria das pessoas deslocavase para a praia nas camionetas

vermelhas e cinzentas da olhanense Empresa Rodoviária do Algarve, ou então, de charrete (as mesmas que agora, devidamente adulteradas para terem um aspecto mais modernaço, passeiam os turistas por Monte Gordo). Uma vez chegados à praia podia-se alugar uma sombrinha, um toldo ou, simplesmente, estender a toalha no areal. No meu caso (e de outras pes-

soas), os paus e o pano eram nossos, pelo que saía mais barato. No final da época balnear, o pano vinha para casa, para ser lavado, enquanto que os paus maiores ficavam a cargo do banheiro até à próxima época. Cada toldo tinha direito a umas cadeiras de tabúa, que nós miúdos monopolizávamos para construir casinhas, com a ajuda das toalhas, para desespero dos banheiros e da vizinhança. Quando já não tínhamos as casinhas, entretínhamo-nos a jogar ao Prego, com o Vai – Vem, a fazer corridas de caricas (que preparávamos em casa, enchendo-as com sabão, para ficarem mais pesadas e, portanto, com maior aderência à pista), uma futebolada (que normalmente acabava quando, numa jogada de ataque, a bola ia disparada às costas de alguém) ou lançávamos papagaios ou aviões ao vento. Quando vinha a autorização… Bora ó banho… E lá íamos “dar banho”. Para os nadadores, havia a Prancha, uma plataforma flutuante, colocada a uns 200 ou 300 metros da praia, com uma prancha para dar saltos para a água. Mas

era preciso ter muita atenção, porque na maré vazia era facílimo nadar até lá e regressar, mas com a maré cheia era complicado. Muitas vezes, cabia ao banheiro fazer regressar a terra os mais incautos (penso que terá sido a razão porque a Prancha acabou por desaparecer). Para os que não sabiam nadar era a hora das lições de natação dadas pelo banheiro que, recorrendo mais à força do que à pedagogia, conduziam a resultados espectaculares de aproveitamento ou sucesso educativo (como se diz hoje em dia). Do nadar à prego saltava-se para o nadar à cão e, a partir daí, cada um evoluía a seu jeito. Entre o meio-dia e a uma, fazia-se uma pausa para o almoço. A marmita saía do saco, embrulhada em

jornal, para manter a comida quente. Com sorte em vez de água, podíamos, uma vez por outra, beber um refrigerante (ÁUA, Belfruto, Fruto Real, Canadá Dry, Sumol…).

Depois do almoço era a hora da sesta. O que significava dormir na praia (pouco provável) ou regressar a casa (o mais provável). E terminava o dia de praia. Por lá continuariam os vendedores de gelados a apregoar o “Rajá fresquinho, melhor não há” ou “Olá é fruta ou chocolate”, (que vieram substituir o Sr. Firmo que vendia uns barquilhos com gelado e as famosas “molas” também de gelado a $50 e 1$00), os ardinas a gritar “Diário Popular, Diário de Notícias, A Capital, Diário de Lisboa, A Bola”, o Sr. Veia com os seus barquilhos, trans-

portados num bidão de lata, e que exigiam técnica para se comerem, sob pena de se desfazerem na mão, o Mexicano das bolas de Berlim, que de mexicano só tinha o chapéu, os “doces regionais, especialidades do Algarve”…


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política

Personagens de ficção Sou tão esperto que, às vezes, não consigo perceber uma palavra do que estou a dizer Oscar Wilde, escritor e dramaturgo irlandês (1854-1900)

António Laginha Jornalista

No verdadeiro circo em que este (hipermediático) Mundo se transformou – desde a política às artes, passando pelo desporto e religião – nunca, como hoje, reinaram tantas personagens vindas do universo da ficção. A grande maioria, por incrível que pareça, poder-se-á dizer, mesmo, auto-inventadas, e todas, a cavalgar a onda do mais execrável dos oportunismos. São, em geral, aquilo que se pode chamar de arrivistas, na maioria dos casos, verdadeiros parasitas da sociedade que, com actividades e comportamentos mais que reprováveis, por incrível que pareça, tornam excluídos (e “perdedores”) todos aqueles que utilizam a força do seu trabalho, a sua sabedoria e o comprometimento e a seriedade das suas convicções, como lema de vida! No que toca à política, pode-se, com toda a propriedade, falar em podridão e desmoronamento moral, sem grande perigo, ou problemas, de diabolizar uma classe (com muito pouca classe, acentue-se) que tudo tem feito para que o comum dos cidadãos lhes devote um verdadeiro desprezo ou lhes cause verdadeira alergia. É muito possível que numa área, como a artística, em que a promiscuidade está há muito instalada, esta lamentável situação tenha prejudicado muitos artistas e, em última análise, a boa imagem do país dentro e fora das suas fronteiras. Não há grandes dúvidas que estamos numa sociedade do descartável em que os valores vigentes parecem totalmente pervertidos, utilizando-se formas facilitistas e falsamente intelectuais escondendo fragilidades e, sobretudo, qualquer laivo de substância. Onde antes havia trabalho e investimento agora há apenas sede de visibilidade e fome de imediatismo, trocando-se tudo e todos como se o mercado de trabalho, desregrado e antropófago, se tivesse tornado numa qualquer feira em que vale tudo e quase tudo é permitido. Respeito, verticalidade, dignidade e sentimentos, caem por terra perante toda a espécie de interesses, alguns dos mais sórdidos. Ainda há pouco tempo um insuspeito investigador francês elaborou um aturado estudo sobre Portugal em que, sem qualquer surpresa, afirma que, actualmente, nenhum cidadão consegue entrar pelos seus méritos num esquema implementado nas últimas décadas pelos políticos. Já que o sistema está inquinado e apenas um cartão de partido, ou a afiliação em associações mais ou menos visíveis (e tão minori-

tárias como poderosíssimas), dá acesso a trabalhos que deviam ser obtidos por uma virtude que, praticamente, desapareceu do nosso quotidiano, a meritocracia. E o pior é que o contribuinte apático e embrutecido continua a permitir um staus quo em que alguns “tiraram senha”, vão, continuadamente, recla-

sido financiados pela dita comissão. E depois vêm ministros e secretários de estado, sem qualquer pudor, falar em cortes em orçamentos, que, desde logo, se afiguram miseráveis. Outro tema mais recente são as trapalhadas e a falta de vergonha que tem atravessado as actividades de Guimarães Capital Europeia da Cultura. Todos são

continente à ilhas - e atravessa transversalmente a sociedade portuguesa. Uma qualquer técnica de terceira categoria pode ir de Lisboa ao Algarve nos fins-de-semana fazer curriculum a namorar e, depois, tornar-se na mais poderosa programadora da parvónia, para deslumbre de muito ignorantes presidentes de câmara.

los, a meritocracia nunca terá lugar num país de charlatões que apenas parecem destinados a sugar o Estado e a criar injustiça e desigualdade. A mais pura, e triste, das verdades é que hoje qualquer poucochinho safado com a amizade de ministro, secretário de estado, presidente de câmara ou director de instituição pública se transforma num D.R.

mando prémios a que não têm qualquer direito e… mudando um pouco para que tudo permaneça igual, por muitos e longos anos! Porém, aquilo que há muito alguns se têm esforçado por alertar e (não poucas vezes denunciar) está, finalmente a vir um pouco à superfície através de uma subtil e quase silenciosa “revolução” operada pela Internet Alguns protestos começam a ser recorrentes e a produzir algum efeito porque, em tempos de profunda crise, até o mais cego dos cegos percebe na bandalheira e no oportunismo em que estamos mergulhados. Basta ler certas mensagens que circulam no espaço virtual e alguns artigos de jornais que põem a nu números chocantes. Uma dos que quase fez explodir o ecrã dos nossos computadores foi a fortuna gasta com as Comemorações do Centenário da República - a “módica” quantia de dois milhões e trezentos e tal mil euros. É claro que os abutres que têm amigos em lugares de “posição” muito antes de se saber para onde vão certos dinheiros públicos, já estão a preparar os projectos que futuramente já têm a certeza que vão ser apoiados. Por essa e por outras, não é de estranhar que até espectáculos (de dança) de uma vietnamita e de uns italianos tivessem

culpados e todos deviam responder e ser punidos pelos seus actos. Fechem a televisão e abram os olhos (grafitto francês) Há uns anos os dois directores de uma conhecida instituição cultural estatal foram condenados a restituir verbas que se haviam evaporado do erário púbico – será que a palavra roubo poderá ofender as boas consciências? – e até houve quem achasse normal que esta gente, depois disso, tenha sido promovida e ascendesse a posições ainda mais elevadas na hierarquia do Estado. Coisa a que nenhuma destas personagens se furta é a não se integrar em lóbis e fazer, desde logo, os contactos certos para nunca mais se desligarem do poder e do elevado estatuto económico e laboral a que ascenderam, com determinação e alvos bem definidos. Mais do que apostar em trabalho, elevação e seriedade. Nos países anglo-saxónicos chamamlhes “civil servants”. Em Portugal “funcionários públicos” e a diferença começa logo na semântica! Lá implica missão, aqui significa – na maioria dos casos - catorze meses de salário para o resto da vida, incompetência, malandragem e chico-espertice. Esta está em todos os quadrantes geográficos nacionais – do

Qualquer engenheiro que chegue ao sul sem ter onde cair morto e sem qualquer formação específica pode mandar “sapientes” palpites em jornais, fazer audições para orquestras e até vir a dominar muita da gestão cultural que se faz à sua volta. Um simples técnico de contabilidade pode ascender a invejáveis categorias na área da Cultura apenas por se colocar na dianteira das “jotas”. E depois há sempre as universidades da treta (suportadas por edis corruptos) que lhes conferem diplomas de cursos que deviam ter sido tirados décadas antes para servir de formação e não para caucionar cargos obtidos por nomeação e por puro compadrio. Enfim, no meio de tanto circo ainda há quem se esforce por aprender alguma coisa enquanto enche os bolsos, mas, o que é certo é que o regabofe é geral e não há páginas de jornais que cheguem para o número de caracteres que todas essas aberrações necessitam para serem denunciadas. Curiosamente, de um outro lado da barreira encontra-se uma pequena facção – ainda que pouco dispendiosa para o erário público – a denominada corja dos “subsídio-dependentes”. Mas isso é um capítulo à parte... Enquanto em Portugal estas personagens de ficção surgirem como cogume-

intelectual “de primeira água” e pode ser promovido (para não mais descer do pedestal e de salário) ao estatuto presidente ou director de instituição cultural pública! E mesmo que façam um reconhecidamente mau trabalho ou sejam mesmo condenados em tribunal, têm lugares cativos e reformas garantidas! De uma coisa não parece haver quaisquer dúvidas. Tal como Nacho Duato – antigo director da Companhia Nacional de Dança de Espanha - afirmou relativamente ao Ministério da Cultura espanhol, que os seus dirigentes não se interessam absolutamente nada pela Cultura (e por isso ele trocou o trabalho em Madrid por uma companhia de Moscovo) também no Governo da nação, no seu extinto Ministério da Cultura, na Secretaria de Estado da Cultura e na Direcção Geral das Artes não se conheceu uma única pessoa que tenha tido algum interesse no desenvolvimento e valorização, por exemplo, da Dança portuguesa aquém e além-fronteiras. Se tivesse havido, a situação não era o que é e nem existiria a “pobreza cultural” que temos em frente dos nossos olhos em áreas menos “populares” e em que é preciso muita visão, planeamento e investimento para se ter resultados a médio e a longo prazo.


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museu

• MUSEUS – A VEZ E A VOZ DO VISITANTE

Isabel Soares

Museu Municipal de Arqueologia de Loulé

Museóloga/Arqueóloga

Num dos giros pelo Algarve visitámos uma cidade do interior algarvio, Loulé. Ao percorrermos a zona histórica desta terra, observámos que se mantêm as ruas estreitas e as casas brancas que lhe conferem uma fisionomia de outros tempos. De entre esse casario, encontrámos as torres do seu castelo, de origem árabe, e diversos monumentos e espaços culturais que enriquecem a cidade. Aqui e acolá, durante o passeio, descobrimos conventos, ermidas, capelas e igrejas. Percorrermos todos os recantos pitorescos e monumentos históricos, experimentando um calor sufocante, que não deixa esquecer que estamos no rigor do Verão. Mas esta cidade, para além dos monumentos, preserva a cultura e as suas tradições, surpreendendo-nos, no decurso da nossa visita, com música e cantares tradicionais que entoavam as ruas, “chamando à roda” turistas e transeuntes. Tratava-se, pois, do grupo de rancho folclórico da terra. Vestidos a rigor, com trajes tradicionais, rodopiavam a um ritmo veloz, sem que o calor os fizesse abrandar. Os cantares lembravam as tradições da região e as heranças dos “velhos tempos”. Mas a nossa viagem continuou e, desta vez, fomos surpreendidos pelo burburinho e rebuliço provocado pela multidão, formada por turistas e moradores, que animava, num sábado de manhã, o mercado de Loulé e as ruelas adjacentes, abarrotadas de bancas com produtos tradicionais. Falamos de um edifício colorido, de inspiração árabe, onde presenciámos o pitoresco das bancas repletas de fruta, de produtos tradicionais

As mais antigas evidências da actividade humana encontradas em Loulé da região e onde também podemos comprar uma variedade de objectos de artesanato (palma, esparto, latoaria, olaria, etc.) feito pelos louletanos, não fosse esta terra considerada a capital do artesanato algarvio! Mas não acaba aqui a nossa visita a Loulé. Falta espreitar o Museu Municipal de Arqueologia de Loulé, instalado no edifício da antiga alcaidaria do castelo. Este foi remodelado no século XVII e encontra-se assente sobre estruturas islâmicas, como testemunham as ruínas de construções islâmicas que observámos numa das salas, através do pavimento de vidro. O edifício apresenta, ainda, a particularidade de se encontrar adossado a um tramo de muralha alcáçova. As suas salas integram elementos arquitectónicos e técnicas cons-

A presença romana e islâmica em Loulé

trutivas representativas do local, das quais destacamos as bonitas abóbadas de pedra e tijolo, que cobrem duas das salas. Depois deste breve apontamento, foi tempo de entrarmos e desfrutarmos da exposição, de longa duração, patente neste espaço. Esta deu-nos a conhecer a história do Município desde a Pré-História até à Época Moderna, através de diferentes núcleos temáticos, distribuídos e organizados cronologicamente por três salas. No início da visita, numa primeira sala, deparamo-nos com representações da evolução humana e com a exposição das mais antigas evidências da actividade humana encontradas no território de Loulé. Estes artefactos pertencem às primeiras comunidades (Paleolítico e Epi-

paleolítico) com uma economia “predadora”, baseada na recolecção e na caça. Dos “instrumentos” apresentados, assinalamos uns pequenos seixos lascados, com gumes rudimentares, que permitiam cortar ou raspar e outros capazes de perfurar. Nesta sala, admirámos, ainda, os testemunhos da cultura material das sociedades produtoras de alimentos (do Neolítico à Idade do Bronze), observando, entre eles, os seguintes utensílios do quotidiano e votivos: machados, enxós, mós manuais, recipientes de cerâmica, uma placa de xisto e uma conta de colar, uma bracelete e alguns alfinetes. Ainda deste primeiro momento da visita, salientamos a presença de lápides epigrafadas, provenientes de contextos funerários, com informações imutáveis, que

Os períodos Medieval Cristão e Moderno

testemunham que Loulé era um território com escrita, durante a Idade do Ferro. Na sala seguinte, a exposição partilha um conjunto de objectos e materiais da época romana. Para além de elementos arquitectónicos (capitéis, fragmentos de fustes de colunas), aras votivas e objectos relacionados com as actividades económicas desenvolvidas neste sítio, outrora conhecido por Loulé Velho, encontrámos, igualmente, instrumentos ligados à pesca (agulhas e pesos de rede) e objectos ligados às fábricas de preparados de peixe, como os grandes contentores de cerâmica (ânforas) que funcionavam como as “latas de conserva” da antiguidade. Acresce, a tais vestígios arqueológicos, um conjunto variado de objectos que apreciámos: agulhas, cossoi-

ros, fusos, pesos de tear, taças de Terra Sigillata, jarros, lucernas e moedas. Numa outra zona, está representado o período Islâmico. Neste reconhecemos vestígios provenientes do Cerro da Vila, do Castelo de Salir, da cerca do Convento do Espírito Santo e da Rua Cândido dos Reis. Entre os objectos arqueológicos expostos, destacamos as cerâmicas comuns (taças, púcaros, jarros, lamparinas, panelas); as cerâmicas vidradas e esmaltadas, de cor verde; marcas de jogo; balas de funda; agulhas; cossoiros; fusos de fiar; entre outros objectos que nos dão a conhecer aspectos da vida quotidiana dos árabes e as suas influências nos usos e costumes algarvios. Numa terceira sala, visitámos um espaço reservado ao período medieval cristão. A presença da comunidade cristã encontra-se documentada através do conjunto de estelas discóides, de utensílios (púcaros, tachos, panelas, infusas, lamparinas, entre outros) e de elementos arquitectónicos, recolhidos durante as obras efectuadas na alcáçova. O percurso presenteou-nos, finalmente, com a mostra de algumas peças da Época Moderna, designadamente um prato majólica italiana, mostrando as armas da família Médicis, ânforas, fragmentos de faianças e também um sinete de prata e marfim. A visita terminou numa pequena sala do piso superior. Ali visitámos uma cozinha tradicional algarvia, onde se recordam objectos rústicos como a mó, as panelas, os tachos de cobre, os aventais e os garrafões de vidro que, entre outros utensílios, nos fazem recordar o tempo dos nossos avós. Concluímos, assim, esta viagem cultural à cidade de Loulé, um sítio digno de uma visita atenta!

Cozinha tradicional algarvia


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Lívia & Júlia

livro

tam a narrativa e contribuem para a construção de que não estamos a ler ficção, mas sim história verdadeira. As descrições de refeições simples, de banquetes, de lutas de gladiadores, de castigos a escravos, de violência doméstica, de amor sensual, são, ao mesmo tempo, explícitas e subtis, nunca roçando a vulgaridade ou a vontade de impressionar o leitor com a sua sabedoria, como por vezes acontece neste tipo de obras. O facto de a narradora nos fazer crer, em certos momentos (determinados pela mudança de fonte nos caracteres usados), que estamos a ler um diário da personagem principal, aproxima-nos ainda mais desta mulher que, tirando as devidas distâncias a que a História obriga, não está muito distante de nós. O convívio com Julia abriu o apetite para o que aí vem, sim, porque, felizmente, a autora revelou que estão mais «frescos» a caminho. Duas últimas observações, desta vez para a Editorial Presença: a primeira serve para dar os parabéns por apostarem nesta nova escritora; a segunda,

Adriana Nogueira

Classicista Professora da Universidade do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com

destaque

Lívia e Julia (no texto, em latim, sem acento). Dois nomes romanos de duas mulheres fortes. Lívia, uma mulher real, farense, do século XXI, conta a história de Júlia, também uma mulher real, romana, do séc. I. A história de Julia é ficcionada por Lívia. Partindo de uma pequena referência arqueológica a uma tal Iulia Felix, dona de uma grande propriedade em Pompeios*, constrói a personagem, do nascimento à morte. Que as cerca de 500 páginas não assustem o leitor, pois nem vai dar por elas. Posso confessar que, quando acabei, fiquei com a sensação de que «soube-me a tanto/ portanto/ hoje soube-me a pouco» (como tão bem canta o Sérgio Godinho). A cidade de Pompeios é tristemente conhecida por ter ficado soterrada por uma erupção do vulcão Vesúvio, no ano 79 da nossa era. Entre as ruínas (em que só uma parte é hoje visitável), podemos encontrar belíssimos frescos (pinturas murais comuns em toda a antiguidade) que representam cenas da vida quotidiana. Inspirada, provavelmente, por estes pequenos retratos de um mundo perdido, o livro de Lívia Borges consegue o propósito do subtítulo: «Frescos de Pompeia», pois o romance pinta com cores variegadas a vida de Julia Vinicia Galla, conhecida como Julia Felix, por decisão da própria personagem. Na época imperial (a do romance), já era frequente as raparigas terem um nome próprio (antes, tinham apenas o nome da família do seu pai, a gens, na forma feminina). Menos vulgar era que esse nome fosse o da mãe, mas neste romance também se retrata um amor eterno de um homem pela sua esposa, algo incomum (mas não impossível, como o revelam alguns testemunhos históricos) na Roma antiga, em que os casamentos eram arranjados pelas famílias. E assim temos Julia Vinicia Galla, filha de Julia e de Spurius Vinicius Galla, que escolhe o cognome (como era hábito os homens fazerem) de Felix (feliz), como distintivo, marcando uma felicidade por si construída.

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para pedir mais atenção à revisão (não é indicado o nome de nenhum revisor na ficha técnica), pois um livro desta qualidade merece toda a atenção e cuidado. Uma curiosidade onomástica: quanto Lívia se tornou Júlia Livia Drusilla (filha de Marcus Livio Drusus) foi mulher do primeiro imperador de Roma, Gaius Julius Caesar Augustus (conhecido também como Octavius Caesar Augustus) e mãe do imperador Tibério. Quando entrou para aquela família, mudou de nome e passou a ser conhecida como Julia Augusta. * Pompeios – a minha formação de classicista obriga-me a esta nota. A cidade vesuviana, em Latim, é Pompeii, um nome masculino plural. O nome «Pompeia» foi um erro de tradução do popularíssimo romance de Edward Bulwer-Lytton, de 1834, The Last Days of Pompeii, por Os últimos dias de Pompeia. O nome da cidade, em português, é Pompeios.

• DA MINHA BIBLIOTECA A educação antiga Esta Julia teve uma educação muito mais próxima da que seria normal para um rapaz do que para uma rapariga. Não se esquecendo de lhe dar também formação para se portar como uma senhora, que se deveria casar, procriar e ser esposa, o pai de Julia, por não ter tido um filho varão, concedeu à filha a graça da educação dos rapazes: um professor grego ensinou-lhe aquela língua, bem como todas as matérias que formavam o cidadão activo na sociedade, para, citando Spurius (p.66), saber «como se comportar, como agir, como se defender no mundo onde nasceu». A educação é a arma para isso tudo (não só no tempo dos romanos). Spurius sabe o que quer para a filha, logo aos cinco anos (p.56): «Julia irá aprender a ler e a escrever, aprender literatura, poesia, mitologia, história, geografia, matemática, grego e latim e também aprender a falar em público». Armada deste modo, quando Julia fica sozinha, viúva e órfã, são estes saberes que a salvam de uma vida em

que dependeria obrigatoriamente de um marido ou de um tutor (como mais tarde lhe acontece, não sem que deixe de conseguir dar a volta por cima… mas não vou contar o fim). Frescos As cores dos frescos vão variando: cores garridas com a glória de Julia e o esplendor da vida que erige na sua Campânia amada; cores desmaiadas pelas cinzas do Vesúvio; cores agressivas de uma Roma imperial, que sufoca os seus habitantes com intrigas e terror. As intrigas são, precisamente, outro elemento muito bem explorado por Lívia Borges: enrola-nos em acordos e tratos velados ou a descoberto, desvenda-nos conluios interesseiros, mas mostra-nos também amizades verdadeiras, que sobrevivem a todas as intempéries. Outro elemento que dá prazer na leitura é a vivacidade com que a autora nos dá a conhecer as personagens e a sua vida de todos os dias. Os salpicos de palavras em latim em nada dificul-

“MÉMÓRIAS DE TI” Entre 6 e 30 AGO | 17.00 às 23.00 | Galeria de Arte Pintor Samora Barros – Albufeira Exposição homenageia o percurso artístico de António Cavaco Silva, falecido no passado ano de 2010

Ésquilo, Oresteia: Agamémnon, Coéforas, Euménides. Lisboa: Edições 70. 1998 Na página 430 do romance de Lívia Borges, Julia lê a peça de Ésquilo, Agamémnon. A tradução portuguesa, feita directamente do grego por Manuel de Oliveira Pulquério, já falecido professor catedrático da Universidade de Coimbra, está disponível nas Edições 70, com a trilogia em que se encontra inserida. Os gregos concorriam a concursos literários com quatro peças, 3 tragédias e uma comédia, não tendo elas que ter coerência entre si. Esta foi a única trilogia completa, com unidade temática, que chegou até nós. Além de ser uma excelente leitura, o conhecimento destas peças irá permitir compreender muitas outras coisas: por que chamou Carl Gustav Jung «complexo de Electra» à versão feminina do «complexo de Édipo»; que têm «As Moscas», de Jean-Paul Sartre a ver com o Orestes

desta história; e até por que devemos recorrer a tribunais e não devemos fazer justiça por nossas próprias mãos. Está tudo aqui. Três peças, com introdução, notas e bibliografia, tudo em curtas 241 páginas.

“RUI VELOSO” 17 AGO | 22.00 | Quartel da Atalaia Tavira Em 2010, Rui Veloso comemorou 30 anos de uma carreira ímpar que começou com um álbum intitulado Ar de Rock


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Espaço AGECAL

Helena Correia ‒ Designer

S ó c i a d a AG E C A L ‒ A s s o c i a ç ã o de Gestores Culturais do Algarve

Quem hoje pisar pela primeira vez o Aeroporto de Faro deparar-se-á com um ambiente diferente. O calor do Verão aguça os sentidos e ao sair em direcção ao exterior é confrontado com um mar de mensagens e imagens de um ‘lifestyle’ português com referências ao ambiente, gastronomia e lazer, ou seja, o que o Algarve terá para oferecer. No átrio espera-o uma obra, a

Espaço ALFA

Rui Pinto

www.alfa.pt

Desde cedo que sempre me interessei por fotografia, vendo e revendo os álbuns de fotos de família, no entanto, só após a compra da minha primeira máquina (uma Fuji compacta analógica) é que o gosto pela mesma se começou a revelar. Foram precisos ainda alguns anos até o “bichinho” se começar a desenvolver mais rapidamente. Nos primeiros tempos o interesse era bastante reduzido, pois apenas um rolo de 24 ou até 36 fotos durava praticamente um ano, no entanto, com o uso diário do comboio como meio de transporte, comecei a interessar-me mais por este meio de transporte e comecei a explorar este gosto através da fotografia. 1999 foi, para mim, um ano de mudança e alguma evolução na fotografia… e tudo começou com umas simples fotos que quis tirar em Lagos, quase à entrada da estação de comboios, ao querer fotografar um comboio a fazer uma curva mais apertada. Pretendia tirar três fotos (uma antes da curva, outra durante e outra já no final da mesma), mas a máquina revelou ser demasiado lenta,

Comunicar Cultura instalação ‘Tutti-Frutti’ da autoria de Joana Vasconcelos, composta por elementos alusivos ao Verão e à Gastronomia. Cria “água na boca” pela sua monumentalidade e sugestões sensoriais. Mas será que a escultura ‘Tutti-Frutti’ é uma forma de comunicar a cultura portuguesa? Diria que o trabalho da Joana Vasconcelos é hoje uma das “marcas” de Portugal que gera milhões no mercado da arte. A artista reinventa e diverte-nos com os símbolos nacionais, o ‘Coração de Viana’ ao som do fado “coração independente” de Amália ou o sapato gigante ‘Marilyn’ feito de tachos e panelas, que diz respeito ao estatuto da mulher. É um discurso atento às idiossincrasias contemporâneas, às dicotomias artesanal/industrial, privado/público, tradição/modernidade e cultura popular/cultura, retratadas pela apropriação de elementos, descontextualização e subversão de

objectos pré-existentes e realidades do quotidiano português. Além destes exemplos de património contemporâneo, não podemos esquecer o Património Cultural material e imaterial mais antigo, os lugares especiais com séculos de história, museus com espólios invulgares, templos com uma riqueza estética única e representativos da nossa evolução como povo, as festividades que fazem parte da memória colectiva de Portugal. Precisamos comunicar melhor o que Portugal e o Algarve têm para oferecer. Por vezes, bastaria um banner visível no átrio da Biblioteca ou sinalética a indicar à entrada do espaço cultural, um sorriso à saída de um Museu para tornar a experiência cultural mais agradável e para repetir. Hoje, graças às novas tecnologias da informação, é possível comunicar com os públicos pelas mais diversas

formas. A internet é o meio de comunicação de excelência, com crescente utilização do iPad, iPhone, entre outros equipamentos móveis que revolucionaram o modo como trabalhamos e experienciamos a ‘cultura’ visual ou sonora em qualquer lugar. Podemos visionar um vídeo da Mariza no ‘Youtube’ ou o trailer do ‘Desassossego’, filme de João Botelho, ou ainda visitar o Louvre sem sair de casa. Os meios só se tornam eficazes com uma constante actualização. Os sites deixarão de ser visitados se os utilizadores encontrarem sempre as mesmas informações e imagens. Graças à constante actualização dos conteúdos nos sites, blogs, páginas do facebook, notícias, ’newsfeeds’ e eventos, são geradas experiencias interactivas, mantendo o interesse dos utilizadores na informação e no diálogo. A “Gagosian Gallery`” criou recentemente uma aplicação para o iPAD que facilita e actualiza a informação

ao segundo, possibilitando ler as últimas entrevistas de artistas, escritores, críticos e curadores. Apresenta obras de arte num ambiente de realidade virtual através de fotografias a 180º e a 360º. Experienciar a evolução das obras de arte através do toque activado, entre outras funcionalidades, revela os processos de criação e etapas nos trabalhos dos artistas. Hoje, a internet, redes sociais, ‘blogs’, revistas e programas de televisão especializados, anúncios publicitários, imprensa, convidam o próximo visitante a descobrir um mundo de arte com séculos de histórias por contar, aqui tão perto. O Algarve tem um enorme potencial de patrimónios, naturais, paisagísticos e culturais. Uma comunicação eficaz melhorará a nossa relação com o mundo. Realçando a identidade da região aumentará o interesse para a visita e o conhecimento.

mente), através de experiências e sempre sozinho, adquiri o primeiro modelo DSLR e que ainda hoje continua a dar provas de ter sido uma excelente compra. Cada vez mais se tornou evidente que, para continuar a evoluir, seria necessário aprender com alguém com mais experiência (e conhecimento) que eu e para isso nada melhor do que um curso. Decorria o ano de 2008, quando ouvi falar de uma associação recémcriada ligada à fotografia (Alfa). Passado pouco tempo tornei-me associado e comecei (timidamente) a participar em passeios e alguns eventos que começaram a organizar, permitindo trocar

ideias e também experiências com outros amantes da arte. Passado algum tempo comecei a frequentar os workshops que têm sido ministrados, desde o nível básico (iniciação) até aos mais avançados, tendo passado também por alguns intermédios, através dos quais foi possível adquirir muitos mais conhecimentos e começar (finalmente) a tirar partido da máquina. Em 2009 decidi avançar um pouco mais e comecei a fotografar alguns espectáculos, os quais me têm permitido adquirir ainda mais conhecimentos, especialmente sobre a iluminação do palco, velocidade.

Recordações impossibilitando-me de obter o efeito desejado, pelo que decidi comprar uma melhor… Após algum tempo de pesquisas, a escolha acabou por recair sobre uma Canon, também analógica mas já reflex, a qual já permitia mudar de lente sempre que necessário e era bem mais rápida do que a anterior… Isso fez com que começasse a tirar cada vez mais e mais fotos, as quais permitiram começar a explorar a máquina e algumas das suas funções, pois na altura os conhecimentos que tinha ainda eram escassos. Entretanto, resolvi mudar de “assunto fotográfico” e passar a outro mais interessante: a f lora. Com o passar do tempo fui tentando melhorar os conhecimentos que ia adquirindo ao testar as diversas funcionalidades da máquina (iso (ou asa)) e um pouco de fotografia (quase) macro. Digo quase macro, pois a lente não era feita especificamente para macro, tendo os comboios passado para um segundo plano, pois até essa altura o material que circulava na linha do Algarve era sempre o mesmo (máquinas a diesel que puxavam carruagens de passageiros, umas vezes vermelhas e brancas, dos vulgarmente chamados comboios correio, pois em tempos idos ainda chegaram a transportar a correspondência entre estações, outras vezes eram carruagens metalizadas e ainda outras vezes eram as automotoras). Com o passar do tempo, o gosto pela fotografia de comboios foi esmorecendo, pois o material que circulava era sempre o mesmo. Em 2003, e depois de muito ponderar, optei por uma máquina digital

compacta, mas com uma pequena particularidade… permitia fotografar no modo infravermelho, isto é, mesmo sem luz, permitia ver os motivos (desde que muito próximos) a fotografar. No final de 2003 os comboios voltaram a despertar em mim, uma grande vontade de os fotografar, pois com a remodelação da linha Lisboa-Algarve (e sua electrificação), foi possível começar a conhecer o novo material que, com o Euro 2004, começou a circular, pelo menos até Faro e com isto refiro-me às máquinas eléctricas e às “Lilis” (automotoras eléctricas). Passados cinco anos a evoluir (lenta-


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Espaço Educação

“Bibliotecas escolares: Que desafios?”

Filomena Palma Branco

Responsável na Direcção Regional de Educação pelo Programa da Rede de Bibliotecas Escolares

Neste emergente contexto informacional em que vivemos, marcado por bruscas mudanças nos aspectos económico, social, político, científico e tecnológico, resultado do desenvolvimento das tecnologias e da internet, em particular, é fundamental que a escola e os seus agentes também se adaptem a estes novos desafios. O Programa da Rede de Bibliotecas Escolares, lançado em 1996 com o objectivo de instalar e desenvolver bibliotecas em escolas públicas de todos os níveis de ensino, capazes de se constituírem como estruturas de apoio às aprendizagens, ao desenvolvimento das literacias e à formação global dos alunos, foi portador de uma enorme expectativa traduzida em atitudes de mudança/inovação na escola. A biblioteca escolar não pode con-

tinuar a ser vista como um mero repositório do conhecimento. Ela terá que assumir-se, cada vez mais, como um espaço central da escola. O apoio ao currículo, os projectos e parcerias, a promoção da leitura, as literacias e as actividades de gestão constituem as grandes linhas estruturantes do seu desempenho. O professor bibliotecário e a equipa da biblioteca respondem a estes desafios gerindo e dinamizando as bibliotecas escolares de acordo com um plano de acção que articula com o projecto educativo e curricular da escola. O reconhecimento institucional da figura do professor bibliotecário evidencia já o caminho percorrido na afirmação do papel da biblioteca como centro potenciador de mudança e como estrutura pedagógica fundamental e na escola. Também é de salientar o contributo dado por um grupo de professores bibliotecários (coordenadores interconcelhios) que acompanham e dão apoio técnico no terreno às bibliotecas escolares. De acordo com muitos estudos científicos, o trabalho colaborativo do professor bibliotecário com os docentes/educadores, fazendo da biblioteca um prolongamento da sala de aula (envolvendo toda a organização escolar), é um meio privilegiado para o desenvolvimento do currículo e para que se obtenham melhores resultados nas aprendizagens dos alunos. A leitura (analógica ou digital), considerada um “desígnio nacional”, e as literacias são áreas primordiais das actividades de uma

Encontro de professores bibliotecários e directores das Escolas com o Gabinete da Rede de Bibliotecas Escolares biblioteca escolar. Por um lado, a implementação de um plano centrado na transversalidade da leitura ao currículo e na promoção das literacias permitirá a diversificação de estratégias visando o desenvolvimento da leitura por prazer e a formação de leitores. Por outro lado, esse plano deve focar-se também na utilização consciente, criteriosa, crítica e segura das novas tecnologias da informação e da comunicação, pois esta nova geração, apesar da perícia no uso da tecnologia, demonstra muitas debilidades na apropriação da informação para a transformar em conhecimento mobilizável.

destaque

I Mostra Concelhia das Bibliotecas de Faro num projecto de promoção da leitura

“WORLD PRESS PHOTO” Entre 4 e 28 AGO | 22.00 | Museu de Portimão Exposição apresenta a perspectiva dos melhores fotojornalistas de todo o mundo sobre os acontecimentos mais marcantes do ano passado

Pretende-se assim um apoio aos utilizadores na sua formação leitora, tornando-os consumidores críticos da informação em diferentes suportes, dotando-os de competências que promovam o sucesso na escola e nas aprendizagens ao longo da vida. A gestão é outro vector estruturante da biblioteca escolar. O professor bibliotecário gere o espaço e os equipamentos, os recursos humanos e financeiros, planifica a sua acção, faz o tratamento documental do fundo que disponibiliza e, como gestor da informação, preocupa-se particularmente com uma gestão equilibrada da colecção que responda às necessidades dos seus utilizadores, articulando com os demais professores, proporcionando ambientes de aprendizagem diversificados e capazes de responder à concretização do Projeto Educativo do Agrupamento/Escola. Como gestor de práticas inovadoras, o professor bibliotecário esboça um plano de marketing visando a divulgação na escola e na comunidade dos recursos e produtos (exposições, publicações e eventos) que a biblioteca oferece aos seus utentes. No sentido de cumprir eficazmente a sua missão, a biblioteca escolar reforça as parcerias com outros programas, nomeadamente com o Plano Nacional de Leitura e o Plano Tecnológico de Educação. A cooperação com outras entidades, autarquias, universidades, bibliotecas da rede de leitura pública e ou instituições afins é um bom exemplo de

trabalho colaborativo em que se rentabiliza os recursos existentes agindo numa perspectiva de rede com base em objectivos e serviços comuns. As redes concelhias e a progressiva existência de portais e catálogos colectivos demonstram o avanço realizado. Perante toda a multiplicidade de funções com que a biblioteca se depara, o professor bibliotecário na sua actuação deverá ser um agente da mudança ao serviço da escola e do currículo, pois possui formação para apoiar todas as áreas curriculares e promover acções culturais. Estes aspectos da acção da biblioteca e do professor bibliotecário têm sido um eixo de trabalho na região do Algarve, onde encontramos bibliotecas e serviços de biblioteca em todas as escolas e agrupamentos, dispondo de cerca de 100 professores bibliotecários a coordenar estes serviços técnico pedagógicos dos agrupamentos e escolas não agrupadas. As redes concelhias de bibliotecas em articulação com a Direcção Regional do Algarve têm-se revelado um factor de sucesso e facilitador de parcerias com diversas instituições, sendo exemplo os concursos literários e de leitura, as mostras concelhias e outros eventos de grande abrangência, como sejam os Encontros de Bibliotecas e apoio a projectos regionais. As bibliotecas são um serviço pedagógico que fazendo uso de contextos mais informais de aprendizagem têm como objetivo contínuo formar leitores cada vez melhores.

“JOE COCKER – 15ª GALA DE VERÃO” 7 AGO | 22.30 | Pine Cliffs – Albufeira Oportunidade única para recordar grandes sucessos como “With a little help from my friends”, “You can leave your hat on” e “Unchain my heart”


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Cultura.Sul 0 4.08. 2011

Espaço Cultura

O legado andalusino no Algarve Depois de, durante várias gerações, ter procurado desmerecer a herança moura – mormente porque divergente da ideologia católica a que se amparava a intolerância dos poderes então dominantes – o país enfim democratizado começou, em meados da década de 1970, a descobrir a essência do seu passado muçulmano. Sem alaridos, os arqueólogos foram, aqui e além, resgatando dos arquivos da terra frágeis construções, utensílios outrora usados por gente comum, cacos de loiças partidas, confirmando e aprofundando afinal aquilo que, nos arquivos literários e nas expressões do imaterial de há muito haviam apreendido os historiadores: que entre o século VIII e o século XIII da nossa era o país a sul do Douro revelava, nas suas formas de cultura, os velhos saberes herdados da Antiguidade clássica, adotando uma expressão arabizada e islamizada, assimilada e difundida nos meios citadinos e mercantis, obviamente aquela que melhor lhe garantia a subsistência dos hábitos num contexto de produção e de comércio globalizado em torno do Mediterrâneo. Na extremidade sudoeste do continente europeu, a Hispânia muçulmana – o al-Ândalus do Mediterrâneo arabizado – sempre esteve geograficamente destacada tanto da Europa como do Norte de África, o que, como judiciosamente sublinharam Dodds e Walker1 , lhe «conferiu um lugar privilegiado nas histórias e mitos do Islão e da cristandade medieval, mas que também a isolou e separou desses dois mundos» – de tal modo que «quando os últimos muçulmanos foram expulsos da Península – e o al-Ândalus deixou de existir – converteu-se numa enteada da História». O Algarve, desde sempre mais próximo do Magrebe em termos de tradições e de lendas de mouras encantadas mas distraído pela intransigência fascista, começou nos primeiros anos do exercício democrático a redescobrir as veredas do seu passado muçulmano, que, na esteira de Herculano, historiadores como David Lopes, Garcia Domingues e Borges Coelho, numismatas como Rodrigues Marinho e raros arqueólogos, como Abel Viana, tinham desbravado. Nos inícios da década de 1980, enquanto em Mértola os arqueólogos congregados em torno de Cláudio Torres já esgravatavam a terra em busca das materialidades desse passado, também na algarvia Silves se davam os primeiros passos de um conjunto de ações plurianuais de investigação programada que configuram, hoje, um dos mais sólidos projetos de investigação2 do passado islâmico peninsular, incidindo sobre o que, à época, foi o mais relevante núcleo urbano do extremo sudoeste do al-Ândalus. A progressiva afirmação, em Por-

tugal, de uma arqueologia medieval islâmica desencadeou no extremo Sul do país uma série de intervenções e de projetos de pesquisa que contribuíram para o conhecimento que hoje temos do passado muçulmano da região. Para além da velha Xilb/ Silves, núcleos urbanos antigos, ermados ou ocupados até ao presente,

através do Programa de Incremento do Turismo Cultural (Ministério da Economia)5, qualificava a oferta turística numa mudança de paradigma desencadeada pela forte concorrência de outros destinos de sol e praia. No dealbar do novo milénio, o projeto «Rede dos Centros Históricos de Influência Islâmica no Sul da Penín-

nado pela UNESCO e concretizado por iniciativa da Fundação Pública Andaluza do Legado Andalusino, de Granada, chefe de fila do projeto – que será posto em prática até 2013 e irá certamente contribuir para uma melhor divulgação internacional do legado andalusino no Algarve, apostando na qualificação da oferta cul-

tais como Aljezur, Loulé, Faro, Tavira ou Cacela Velha, fortalezas como o Castelo Belinho, Salir ou Paderne, e sítios verdadeiramente excecionais, como a Arrábida da Ponta da Atalaia, na Arrifana – assento do mahdi Ibn Cací –, puseram de manifesto os testemunhos materiais de um caráter andalusino que a topografia urbana já denunciava3. O retorno social deste notável esforço de investigação, incentivado pelas entidades de tutela do património cultural e levado a cabo por universidades, museus, departamentos municipais e associações culturais, nem sequer se fez esperar muito: Logo no início da década de 1990, o itinerário «Moçárabe em Peregrinação a São Vicente», integrado no projeto «Sete Itinerários Medievais» promovido pela Associação Caminus4, que propõe um itinerário de descoberta das áreas de baixa densidade do Algarve tendo por fio condutor os vestígios materiais do seu passado islâmico e o património imaterial dele herdado. No final da década, o itinerário-exposição «Terras da Moura Encantada» no âmbito do Museu Sem Fronteiras, um programa de valorização do património histórico e artístico euro-mediterrânico, impulsionado em Portugal

sula Ibérica e Norte de Marrocos», impulsionado com fundos FEDER através da Ação Piloto de Cooperação Portugal, Espanha, Marrocos6, no qual se incluiu o projeto «Os Caminhos do Gharb: Itinerários Islâmicos no Algarve», promovido pela CCDR, propunha quatro itinerários – arqueológico; da água; etnográfico; das memórias e ressurgimentos7, complementados pelos itinerários da arquitetura de terra e da poesia dos autores de expressão árabe no Gharb al-Andalus8– e a instalação de núcleos de apoio com centros de interpretação, em Faro e Silves. Finalmente, muito recentemente, estendeu-se a Portugal (e ao Algarve) o «Itinerário Cultural dos Almorávidas e Almóadas», impulsionado pela UNESCO desde a década de 1990 e posto em prática pela Fundação Pública Andaluza do Legado Andalusino, de Granada, com o Itinerário 6, «Do Estreito ao Ocidente do Ândalus»9. Nesta senda, a Direção Regional de Cultura do Algarve acaba de ver aprovado no âmbito do POCTEP, com co-financiamento FEDER, o projeto «Rota de Al-Mutamide», inserido no programa «Rotas de alÂndalus»10 grande itinerário cultural do Conselho da Europa, patroci-

tural e turística da região. Outro importante marco foi a assinatura, entre o Município de Albufeira e a Direção Regional de Cultura do Algarve, em 2011, de um protocolo de cooperação para a gestão conjunta do Castelo de Paderne. Esta fortaleza do período almóada, da segunda metade do século XII e primeiras décadas do XIII, é um dos mais significativos elementos do património arquitetónico islâmico na região, e um notável exemplo da construção militar em taipa no território hoje português, bem visível desde a A22/Via do Infante junto ao nó de Albufeira. O recinto fortificado, um hisn irregularmente trapezoidal, protegia um entramado de vivendas – com seus pátios interiores, alcovas, salas de estar e oficinas – unidas por vielas de traçado linear com disposição regularmente ortogonal. Tomado o castelo em 1240 pelas hostes de Dom Paio Peres Correia, restam da época de vivência cristã no recinto as ruínas de uma ermida, Nossa Senhora do Castelo, edifício que remonta ao século XIV mas que se manteve ao culto até bem depois de o sítio ter sido ermado, estando já despovoado nos finais do século XVI. Verdadeiro lugar mágico, acredita-se que o novo

modelo de gestão agora encetado contribua para conferir uma maior visibilidade ao passado islâmico do Algarve. 1 J. D. Dodds & D. Walker, in Al-Andalus. Las Artes Islamicas en España, New York/Madrid: Metropolitan Museum of Art/Ediciones El Viso, 1992, p. XIX. 2 Dirigido por Rosa e Mário Varela Gomes, da Universidade Nova de Lisboa, com intervenção do Município de Silves coordenada por Maria José Gonçalves. Ver por exemplo de Rosa Varela Gomes Silves (Xelb), uma cidade do Gharb Al-Andalus, 3 volumes editados na série Trabalhos de Arqueologia pelo Instituto Português de Arqueologia. 3 Ver p. ex. a síntese de Cláudio Torres & Santiago Macias, O Legado Islâmico em Portugal, Lisboa: Fundação Círculo de Leitores, 1998; ver também os diversos estudos sobre o Algarve islâmico apresentados nos Encontros de Arqueologia do Algarve e publicados nos volumes da revista Xelb, editada pelo Município de Silves. 4 Moçárabe em Peregrinação a São Vicente: De Mértola ao Cabo de S. Vicente (A. Perestrelo de Matos & J. Sousa Machado, ed.), Lisboa: Associação Caminus, 1990. 5 Terras da Moura Encantada: Arte Islâmica em Portugal, Porto: Livraria Civilização Editora, 1999. 6 Centros Históricos de Influência Islâmica: Tavira, Faro, Loulé e Silves (Valdemar Coutinho, ed.), Portimão/Mértola: ICIA/CAM. O Legado Arquitectónico Islâmico no Algarve (Natércia Magalhães, ed.), Faro: IPPAR-DRF, 2002. 7 Ver por exemplo, de Maria da Conceição Amaral, Caminhos do Gharb, Estratégia de interpretação do património islâmico no Algarve: o caso de Faro e de Silves, Faro: CCDR-Algarve, 2002. 8 Ver os cadernos da autoria de José Alberto Alegria e de Mostafa Zekri, respetivamente, ambos editados pela CCDR-Algarve em 2002. 9 Do Estreito ao Ocidente do al-Ândalus, Sevilha: Junta da Andaluzia/Fundación El Legado Andalusí, com a colaboração do Centro Nacional de Cultura, 2010. 10 Já editados pela Fundación El Legado Andalusí os seguintes livros-guia: Ruta de los Almorávides y Almohades (de Algeciras a Granada); Ruta de Washington Irving (de Sevilha a Granada); Ruta de los Nazaríes (de Navas de Tolosa a Jaén e Granada); Ruta del Califato (de Córdova a Granada). Direção Regional de Cultura


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