Cultura.Sul37Setembro

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12.190 EXEMPLARES

SETEMBRO • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO

SET | 2011 • Nº 37 • Mensal • O Cultura.Sul faz parte integrante da edição do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente

www.issuu.com/postaldoalgarve

• Património

Maria de Medeiros integra cartaz cultural da região em Setembro p. 4

Florbela Espanca no ‘exílio’ de Quelfes p. 5

Há mouro na costa p. 10

As fortificações costeiras do Algarve, enquanto encruzilhada de povos e de navegadores, determinaram a resistência e a afirmação de Portugal e dos portugueses frente a mouros e outros tantos povos que, século após século, se cruzaram com os caminhos trilhados pelo povo luso. Proteger, conservar e dignificar a herança patrimonial que representam as fortificações costeiras algarvias representa um imperativo


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Cultura.Sul 01.09. 2011

momento

Vítor Correia

blogosfera

Jady Batista

Henrique Dias Freire

Editor do CULTURA.SUL

Reconhecer quem de direito Quem faz o quê e verdadeiramente em prol da Cultura na região algarvia é uma questão a que qualquer algarvio não deve ficar alheio. Se é hoje um facto que esse papel tem sido assumido pelas autarquias e outras entidades, convém realçar e evidenciar o empenho e dedicação, muitas vezes sem o merecido reconhecimento, dos nossos agentes culturais e de várias pessoas que quase passam anónimas para o grande público. Na origem da criação do Caderno de Artes & Letras CULTURA.SUL esteve essa preocupação. Dar voz e dignidade às nossas gentes da Cultura. E apesar da lamentável falta de sensibilidade e de apoios das entidades públicas a este projecto, é gratificante e honroso o incentivo dado por José Carlos Vasconcelos, director do JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, ao escrever que este era o melhor caderno regional dedicado à Cultura em Portugal. Mais do que um importante reconhecimento, são palavras que assumem uma acrescida responsabilidade por parte de todos nós. Com a presente edição inicia-se um novo ciclo ao assumir, na dupla função de dirigente da GORDA e director do POSTAL, a edição deste projecto, após João Evaristo ter passado a dedicar-se a outras funções na associação - GORDA - que dirige o CULTURA.SUL. Fiel à sua origem, irá manter a mesma linha editorial que traçámos conjuntamente há cerca de um ano, e que João Evaristo soube executar de forma exemplar com extrema sensibilidade e qualidade. Este é o momento para prestarmos homenagem a ele e a todos os regulares colaboradores do CULTURA. SUL que abnegadamente engrandecem com os seus importantes contributos a nossa entidade cultural como gentes e região.

Ficha Técnica Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire

Feira Medieval de Silves

Um espaço que dá relevo a uma fonte de actividade literária que fervilha, muitas vezes, à margem dos circuitos convencionais.

Ler aos 16, carreira profissional melhor aos 33 Uma investigação recente veio revelar que a única actividade extracurricular de adolescentes com 16 anos com efeitos benéficos na sua carreira profissional é a leitura de livros, tanto para rapazes como para raparigas. Outras actividades típicas dos 16 anos: fazer desporto, socializar, ir a museus ou a galerias ou ao cinema ou a concertos, ou quaisquer outras actividades (desde cozinhar até costurar). Que efeitos na futura carreira profissional? Nada de significativo. E quanto aos jogos de computador? Reduzem as chances de chegar à Universidade. Pelo contrário, ler livros já implica uma maior probabilidade. Explicações possíveis: características únicas ligadas à leitura por prazer; empregadores preferirem contratar pessoas com nível de literacia semelhante ao seu; ou então

Paginação: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: » baú.S: Joaquim Parra » livro.S: Adriana Nogueira » momento.S: Vítor Correia » museu.S: Isabel Soares » panorâmica.S: Ricardo Claro

simplesmente porque adolescentes já destinados a uma melhor carreira profissional tendem a ler mais.

Colaboradores: AGECAL, ALFA, CRIA, Cineclube de Faro, Cineclube de Tavira, DRCAlg, DREAlg, António Pina, Pedro Jubilot. Nesta edição: Pedro Branco, Eurídice Cristo

(University of Oxford (2011, May 9). Reading

at 16 linked to better job prospects. ScienceDaily.

Retrieved May 9, 2011, from http://www.sciencedaily. com /releases/2011/05/110504150539.html

Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve e-mail: geralcultura.sul@gmail.com

Site: http://ondemudar.blogspot.com/

Post: http://ondemudar.blogspot. com/2011/05/ler-aos-16-carreira-profissional-melhor.html

on-line: www.issuu.com/postaldoalgarve Tiragem: 12.190 exemplares


Cultura.Sul 01.09. 2011

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cinema Cineclube de Faro

Re/começar em força, após umas merecidas (relativas) férias Almodovar em Agosto, Canijo em Setembro e Outubro – para enquadrar a aguardada estreia de Sangue do Meu Sangue, oferecemos na sede a hipótese de re/ver todos os filmes de ficção de um dos mais, incontestavelmente, brilhantes realizadores portugueses. Mas Setembro também nos possibilita iniciar um ciclo, que intitulámos Vidas, pois delas vamos tratar num total de sete filmes. Desde já, mais um extraordinário trabalho de

uma realizadora, ímpar por cá e não só, de seu nome Susana Sousa Dias: estes seus 48 foram os nossos, os do tempo da ditadura. Depoimentos de presos políticos sobre um trabalho artístico de fi ligrana nas suas fotos quando arrestados pela PIDE. Durante o fim, uma outra vida – a do escultor Rui Chafes pela mão e pelo olhar de João Trabulo. (este último filme foi o pretexto para um Ciclo de nove documentários sobre artistas portugueses que vamos dar

em Outubro e Novembro no Museu Municipal… Mas depois contamos melhor!...) E, para o fim, a primeira quinzena do mês – com todo o prazer aceitámos o renovado convite do Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela, e lá vamos nós dar (óptimo) cinema Sob as estrelas em Cacela Velha! Contamos convosco… como sempre.

PROGRAMAÇÃO

www.cineclubefaro.com CICLO SOB AS ESTRELAS EM CACELA VELHA Cacela Velha, Cemitério Antigo ¦ 22 horas ¦ 2m 6 SET ¦ Cidade dos Mortos, Sérgio Tréfaut, Portugal, 2010, 63 8 SET ¦ Lixo Extraordinário (Vik Muniz), Lucy Walker João Jardim e Karen Harley, Brasil, 2010, 99 13 SET ¦ A Ilha, Mauro Amaral e Carlos Fraga, Portugal, 2010, 54 15 SET ¦ Sinfonia Imaterial, Tiago Pereira, Portugal, 2011, 60

CICLO VIDAS (continua em Outubro) IPJ ¦ 21.30 horas ¦ Sócios 2m, estudantes 3,5m, restante público 4m 19 SET ¦ 4 8, Susana de Sousa Dias, Por tugal, 2010, 93 , M/12 26 SET ¦ Durante o Fim, João Trabulo, Portugal, 2003, 70 , M/12 CICLO RE/CONHECER JOÃO CANIJO (continua em Outubro) Sede ¦ 21.30 horas ¦ Entrada livre 21 SET ¦ Mal Nascida, 2007, 117 28 SET ¦ Noite Escura, 2004, 94

Cineclube de Tavira

Nove filmes em Setembro As nossas Mostras de Cinema ao Ar Livre (12ª Europeia e 7ª NãoEuropeia), mais uma vez foram um sucesso em termos de afluência de público, porém, este ano tornaramse algo mais complicadas em termos de apoios e interesse por parte das entidades públicas, o que poderá pôr em causa a sua continuidade. De volta ao cine-teatro tavirense, este mês propomos mais um programa interessante e bastante diversificado, a começar com o segundo filme do jovem canadiano Xavier Dolan (o primeiro que estreou em Portugal): Les Amoures Imaginaires. Um total de 13 países diferentes

Espaço AGECAL

Pedro Branco

Técnico Superior de História S ó c i o d a AG E C A L - A s s o c i a ç ã o de Gestores Culturais do Algarve

Parente pobre das rubricas do orçamento de Estado ao longo dos anos, a Cultura perdeu agora o seu Ministério, com a consequente subalternização

produziram ou co-produziram os nove filmes que queremos apresentar-vos neste mês. Dois documentários nacionais: A Cidade dos Mortos, de Sérgio Tréfaut (quem viu Lisboetas não irá perdê-lo), e 48, de Susana Sousa Dias. Quem viu Pranzo di Ferragosto (Almoço ao 15 de Agosto) certamente não irá perder Gianni e le Donne, a mais recente comédia de Gianni di Gregorio. E para quem gosta de pintura, mais precisamente de graffiti ou artes da rua, há Exit Through the Gift Shop, com o título português algo infeliz Bansky: Pinta a Parede! Cinema para (quase) todos os gostos...

Cena do filme Gianni e le Donne

PROGRAMAÇÃO

www.cineclube-tavira.com 281 320 594 ¦ 965 209 198 SESSÕES REGULARES

15 SET ¦ Gianni e le Donne (Gianni e

Cine-Teatro António Pinheiro ¦ 21.30

as Mulheres), Gianni di Gregorio, Itália

horas

2011 (90 ) M/12

1 SET ¦ Les Amours Imaginaires (Amo-

18 SET ¦ Carancho (Carancho - Abu-

res Imaginários), Xavier Dolan, Canadá

tres), Pablo Trapero, Argentina/Chi-

2010 (95 ) M/16

le/França/Coreia do Sul 2010 (107 )

4 SET ¦ Life Above All (A Vida, Acima de

M/12

Tudo), Oliver Schmitz, África do Sul/Ale-

22 SET ¦ 48 Susana Sousa Dias, Portugal

manha 2010 (100 ) M/12

2010 (93 ) M/12

8 SET ¦ A Cidade dos Mortos, Sérgio

25 SET ¦ Exit Through The Gift Shop

Trefaut, Portugal/Egípto/Espanha 2009

(Bansky: Pinta a Parede!), Bansky, Rei-

(62 ) M/12

no Unido/EUA 2011 (87 ) M/6

11 SET ¦ Barney s Version (A Minha Ver-

29 SET ¦ Les Petits Mouchoirs (Peque-

são do Amor), Richard J. Lewis, Canadá/

nas Mentiras Entre Amigos), Guillau-

Itália 2010 (134 ) M/12

me Canet, França 2010 (154 ) M/12

Fazer amigos lá fora compensa das prioridades deste sector a nível de decisão executiva. Num país em que o sector cultural ainda apresenta uma boa dose de “subsidiodependência”, o impacto poder-se-á revelar bastante negativo a médio prazo. Posto isto, os diversos agentes culturais devem olhar com maior atenção para uma ferramenta de financiamento e desenvolvimento bastante importante: as parcerias internacionais. Num mundo altamente globalizado, em que a criação de limites nacionais, sejam eles físicos, económicos ou culturais, revelam um anacronismo em relação ao zeitgeist, é o contacto com os nossos pares internacionais que pode criar balões de oxigénio, quer a nível económico, quer no domínio da inovação. Um dos grandes auxiliares à promo-

ção de parcerias europeias actualmente é o Programa Cultura (2007-2013) da União Europeia. No Algarve poder-se-á dar o exemplo do Museu de Portimão no que respeita ao uso desta parceria europeia como prática de trabalho a nível de desenvolvimento e financiamento cultural. Este museu faz parte da WORKLAB, associação composta por vários museus europeus. O contacto entre todos os membros deste grupo tem sido constante ao longo dos anos, com uma série de parcerias a terem sido consideradas. Com coordenação do Museu do Trabalho da Suécia, começou a tomar forma o projecto “A taste of Europe”, que visou reflectir sobre os hábitos de produção e consumo alimentar na Europa contemporânea,

com cada museu participante a acolher uma exposição comum a todos e criando uma exposição local dedicada a um produto significativo da sua cultura alimentar nacional. Este projecto veria a sua aprovação por Bruxelas, em Abril de 2009, contando com a participação de nove museus da Suécia, Portugal, Dinamarca, Hungria, República Checa, Estónia, Reino Unido, Finlândia e Eslovénia. Depois de reuniões de trabalho relativas à candidatura (na Suécia), planeamento e calendarização (na Eslovénia) e definição conceptual e componente educativa (na Escócia), cada um dos membros colaborou na produção final, assim como nas suas exposições locais, tendo todos inaugurado a exposição no mesmo dia (26 de Janeiro de 2011),

data que agora assinala o arranque de uma iniciativa inovadora na museologia europeia, fazendo ver que o trabalho internacional em rede pode ter sucesso e que, mediante um trabalho prévio e bem estruturado, poderá colher frutos junto das autoridades com o poder de distribuir verbas, permitindo ainda um incremento da integração europeia do público que a visitou. Uma boa oportunidade para acompanhar a génese, desenvolvimento e prática deste projecto, com alguns dos seus responsáveis, terá lugar no Museu de Portimão, com a realização de um seminário a 30 de Setembro. Não se esqueçam que, como se disse no início deste artigo, e se pode “ouver” nos nossos noticiários, o dinheiro está lá fora.


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panorâmica

Ricardo Claro

• REGRESSO À MINHA TERRA

Vigor cultural mantém-se em Setembro Até dia 3

Cataplana Experience A arte de cozinhar em cataplana, um dos utensílios de cozinha tradicionais da região, e o prazer de degustar pratos preparados por chefes de renome ao vivo é a proposta do Allgarve para a Marina de Vilamoura. Dia 1 de Setembro o palco é dos chefes Luís Américo e Rogélio Jorge, no dia 2 presença para Paulo Morais e Justa Nobre, e dia 3 são protagonistas os chefes Henrique Sá Pessoa e Luís Baena. Entrada livre - 23 horas.

Dias 2 a 11 Feiras, festas e festivais Setembro é também mês de feiras, festas e festivais um pouco por todo o Algarve. O Cultura.Sul destaca a Festa dos Pescadores, de 2 a 4 de Setembro, com propostas gastronómicas, artesano e muita animação, marcada para a Praça dos Pescadores em

É verdade que em Agosto o número de eventos culturais que têm lugar um pouco por todo o Algarve é enorme e que se a estes juntarmos os eventos da denominada animação é impossível tentar acompanhar o ritmo da agenda regional. A este panorama em muito dá a mão o Programa Allgarve, que apresenta este ano, uma vez mais, um calendário repleto e diversificado de eventos. Albufeira. Monchique convida nos mesmos dias a visitar a Arte Chique e a conhecer o que de melhor se faz naquela serra, da comida, aos doces e ao artesanato. De dia 2 a 4, lugar ainda para a Feira dos Frutos Secos a realizar em Alcantarilha e que propõe conhecer melhor as utilizações destes frutos na cozinha algarvia entre outras atracções. Alcoutim propõe, entre os dias 9 e 11 deste mês, as suas festas. O Cais da Vila promete animação sem descanso e muito para provar e experimentar durante três dias, com o Guadiana como pano de fundo.

Dia 17

Mas e depois do fim do mês de férias por excelência que é Agosto? Se por acaso se pensa que a região morre ou definha culturalmente, a verdaede é que a agenda cultural regional se mantém activa. Há muito para ver em todas as áreas da expressão artística e em todos os segmentos da actividade cultural. O Programa Allgarve volta a dar cartas e as autarquias desenvolvem, de barlaven-

to a sotavento, um sem-fim de iniciativas que prometem não dar descanso a quem procura emoções, saber, descoberta e talento. O Cultura.Sul traz-lhe alguns destaques de uma agenda cultural pós-Agosto que promete não deixar arrefecer o ímpeto cultural do Algarve.

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O Festival de Flamenco de Lagos sobe ao palco do Centro Cultural de Lagos e promete mostrar a arte de nuestros hermanos andaluzes por terras do Algarve. Salero a não perder por nada deste mundo.

Até ao fim do mês Tutti Frutti e Fora de Escala

Farra Fanfarra

Joana Vasconcelos trouxe para visitar a Gare do Aeroporto de Faro a gigante Tutti Frutti, que se apresenta sob a forma de um gelado imenso e colorido. A escultura que se constrói a partir de formas plásticas alusivas à praia está patente até 30 de Setembro. Gigantes são também as esculturas de Manuel Baptista que estão patentes no Centro Cultural de Lagos. A proposta é a de sentir as emoções de elementos escultóricos de grandes dimensões saídos da mão do grande mestre até um pouco mais que o fim do mês, encerra a 8 de Outubro.

Toca a rufar, a ritmar por entre a performance circense, a música e o humor, a 10 de Setembro no centro histórico de Alcoutim. A promessa de momentos de grande animação e muito entretenimento é a proposta dos Farra Fanfarra, um grupo nascido em 2008 e que está a dar cartas um pouco por todo o país com um espectáculo diferente do habitual e arrebatador.

Observação de Aves

A multifacetada artista apresenta-se na área musical e mostra o último trabalho “Penínsulas e Continentes”. O convite é o de encontrar sonoridades e palavras, ritmos e interpretações que unem as penínsulas Ibérica e Itálica às terras de além-mar de África e das Américas. O concerto tem lugar às 21.30 horas em Olhão e os bilhetes custam 15 euros.

Flamenco em Lagos

Dia 10

Dia 30

Maria de Medeiros

Dias 15 a 17

Sagres acolhe, a partir de 30 de Setembro e até 2 de Outubro, a segunda edição do Festival de Observação de Aves, numa organização da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, da Almargem e da autarquia de Vila do Bispo. Cegonhas, falcões, águias e grifos estão entre os muitos espécimes alados que os participantes podem admirar nos percursos desenhados a pensar nos amantes do birdwatching. A Península de Sagres é o local escolhido, dada a sua localização estratégica para a observação de aves nesta altura do ano em que se encontra na rota das migrações das aves de rapina. Momentos a não perder, porque a natureza é única e absolutamente inimitável..

Dias 16 a 18

GT Open O Autódromo Internacional do Algarve acolhe mais um evento desportivo de grande renome. Com preços a partir de dez euros, adrenalina e muita competição é o que se pode esperar sentir na pista com as evoluções dos pilotos do Internacional GT Open. Os monolugares marcam também presença com o Open Europeu de Fórmula 3 a decorrer nos mesmos dias.


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Quotidianos poéticos

Florbela Espanca

Algures num espaço e tempo do Algarve, a vida e a ficção intrometeram-se na poesia de Florbela Espanca

Pedro Jubilot

pjubilot@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt

Nenhuma poetisa poderia querer viver em 1918 numa pacata terrinha como Quelfes (freguesia de Olhão), ainda que aconselhável pelos bons ares, muito menos Florbela Espanca que já pouco vivia por esses dias. “Estou cansada, cada vez mais incompreendida e insatisfeita comigo, com a vida e com os outros. E é isto que me traz sempre desvairada, incompatível com a vida que toda a gente vive...” Sabia desde logo que esta espécie de retiro forçado era mais um exílio que de nada serviria à sua instabilidade emocional, mas tivera de ceder a vontades matrimoniais, e já que por questões de saúde (um aborto) se sentia fraca e febril (desconfiava-se de uma tuberculose) e queria voltar a estar forte… “Estou farta disto tudo. Se me vejo daqui para fora não acredito, mas o raio do médico diz que se me vou embora não duro seis meses...” Percebera de antemão que de nada serviria a uma pessoa deslo-

car-se para um sítio isolado e desinteressante, longe de tudo e todos. Se ela no seu corpo e alma é já uma ilha rodeada de um espírito solitário e incompreendido. “O silêncio é às vezes o que faz mais mal quando a gente sofre”. “Sou bem diferente, sou, das outras mulheres todas. Eu quero antes os meus defeitos que as virtudes de todas as outras”. A parte afectiva do casamento com Alberto Moutinho estava irremediavelmente perdida, a separação do casal já se vislumbrava e Florbela começa a perceber que dificilmente poderia vir a ser mãe devido à sua frágil saúde. «E este amor que assim me vai fugindo - É igual a outro amor que vai surgindo, - Que há-de partir também... nem eu sei quando...» Dali da casa perto do largo da igreja sente de repente o apelo do cheiro a iodo vindo da ria e deseja ter um automóvel, para tomar a estrada longa da fantasia, no acidentado caminho que a leve até ao grande pinhal de Marim. Mas ela como poetisa ilustre, grande, fez um voto de pobreza, e não tem automóvel, aliás não tem nada, foi o que escreveu numa carta ao seu amigo e editor Guido Batelli. “Tenho que aprender o que ainda não sei: a ser humilde e modesta. Perdoe sempre o meu ridículo orgulho de pobre soberba; mas o orgulho tem sido a minha suprema

tes é a tristeza - a alegria irrita-os”. A amenidade do clima algarvio apenas reforçou as saudades da vida citadina e cultural e do meio intelectual em que desejava participar. Isso fê-la odiar o lugar onde estava retida por esses dias, a que simplesmente chamava Algarve. “Eu não sou boa nem quero sêlo, contento-me em desprezar quase todos, odiar alguns, estimar raros e amar um”. Tinha de voltar aos estudos e à criação poética. A partida estava iminente. Da sua fugaz passagem ficou na estrada junto à casa, uma lápide colocada em Março de 1985, homenagem dos seus admiradores, a assinalar o edifício onde viveu um dos maiores poetas portugueses de todos os tempos. “Apesar de tudo, a loucura não é assim uma coisa tão feia como muita gente julga. Há tantas loucas felizes!”

Florbela Espanca defesa, tem sido o meu amparo e a minha força”. À margem chegada resta-lhe seguir com o olhar as gaivotas de asas pardacentas no seu voo planado e tranquilo sobre a laguna salgada mas calma demais aos olhos de para quem o mar só pode ser agitado como toda a vida natural e humana de que sente rodear-se. «Falo às gaivotas de asas desdo-

bradas, - Lembrando lenços brancos a acenar, - E aos mastros que apunhalam o luar - Na solidão das noites consteladas»; Ali, frente à ilha barreira da Armona, e mesmo perante a beleza de tal idílica paisagem não consegue refazer-se do desgaste acumulado pela situação física e psicológica em que se encontrava. “A única coisa que consola os tris-

Bibliografia: Vilhena Mesquita FE na vila de Olhão, separata de A Voz de Olhão , 1996; Cartas e poemas de Florbela Espanca

Espaço CRIA

Empreendedorismo e Empreendedor

Eurídice Cristo

Gestora de Projectos de Ciência e Tecnologia no CRIA ‒ Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologiaa

A 12ª Conferência Europeia de Criatividade e Inovação (ECCI XII) realiza-se no Algarve, de 14 a 16 de Setembro. Inscrições em http:// www.eaci.net/eccixii/

É hoje consensual que o empreendedorismo é um importante motor da inovação, da competitividade e do crescimento. Muitas têm sido as interpretações do conceito de empreendedorismo. A que geralmente é difundida, no dia-a-dia, pelos meios de comunicação, é a que associa empreendedorismo às empresas. O empreendedorismo é entendido como empresarialismo e “empreendedor” é visto como aquele ou aquela que está em processo de criação de empresa, ou seja, o sujeito que há-de ser empresário. No entanto, quando se aplica a palavra “empreendedor” como adjectivo, como algo que o indivíduo é, ou pode ser, a palavra remete-nos para uma outra dimensão, para uma noção de

atitude, de comportamento e já não de “profissão”. A definição vigente na U.E. é a seguinte1: “O espírito empreendedor é a capacidade dos indivíduos de converter ideias em actos. Compreende a criatividade, a inovação e a assunção de riscos e, bem assim, a capacidade de planear e gerir projectos com vista a alcançar objectivos. Esta competência é útil a todos na vida de todos os dias, em casa e na sociedade, aos indivíduos que trabalham por conta de outrém, tornando-os conscientes do contexto do seu trabalho e aptos a aproveitar oportunidades, aos empresários porque serve de base para o estabelecimento de uma actividade social ou comercial.”

O guru da Gestão Peter Drucker refere-se ao empreendedor como aquele que “procura a mudança permanentemente, responsabiliza-se por essa mudança e explora-a como uma oportunidade”. O empresário português Belmiro de Azevedo alerta para não se confundir empresário com empreendedor. Empresário é o proprietário ou o accionista de empresas e “esse estatuto pode nada ter que ver com o que eu considero ser o conceito de Empreendedor” - diz Belmiro. “Porque só é empreendedor aquele que é capaz de conceber, de pôr em prática, e de instilar nos que o acompanham uma atitude de desafio permanente, e de vontade de superação da indiferença. E, se assim é, o empreendedor pode

também trabalhar por conta de outrém, e por conta do dito empresário”2. Belmiro acrescenta que podemos nos deparar com empresários pouco empreendedores e com empreendedores que não são empresários e também com funcionários públicos com vocação empreendedora.

1

Commission Communication “Fostering entre-

preneurial mindsets through education and learning”. COM(2006) 33 final. 2

Belmiro de Azevedo; 2004 (26 de Fevereiro);

«Inovação e Empreendedorismo», intervenção profe-

rida no âmbito do Ciclo de Conferências “Empreender Coimbra 2004”.


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Cultura.Sul 01.09. 2011

baú

Bom dia, senhora professora Joaquim Parra

Professor de História e coleccionador baudopostal@gmail.com

Setembro. Adeus praia, olá escola. Para muitos é uma vida nova que começa, para outros é o regresso ao convívio com colegas e professores e, para outros, é outra vez, o início da chatice da escola e da “pachorra” para aturar os “pressores” (ou “stôres”, como se diz nas grandes urbes). Mas nem sempre foi assim. Procurando no BAÚ, encontrei um calendário escolar de 1945/46 (e que se manteve mais ou menos inalterado até ao 25 de Abril) que estipulava o início das aulas a 8 de Outubro, terminando o primeiro período a 23 de Dezembro. O 2º Período, ia de 7 de Janeiro até 14 de Abril (com paragem no Carnaval de 2 a 6 de Março) e o 3º Período, de 28 de Abril a 14 de Julho. As memórias que hoje aqui trago, dizem respeito à Primária, “à minha primária”,, de escola “paga”, numa cidade, substancialmente diferente da escola pública e da rural, mas nem por isso tão diferente. A minha tinha casa de banho, não se utilizava a ardósia, substituída por pequenos cadernos, todos íamos calçados, as instalações eram confortáveis (o o único problema era o cheiro da fábrica de farinha de peixe, a SAFOL, mas até funcionava como ex-libris de Olhão), tínhamos lanche, almoçávamos em casa e morávamos relativamente próximo da escola, situação que não acontecia em muitas escolas rurais e com muitos alunos que frequentavam a escola pública. Mas uma coisa tínhamos em comum: por causa das tentações, as escolas estavam divididas em escolas para os meninos e escolas para as meninas, em muitos casos divididas por um alto muro. A minha era exclusivamente para meninos. O início das aulas era aguardado com alguma expectativa, senão mesmo, com alguma alegria (ainda que ela se fosse esfumando com o passar das semanas). Havia o ritual de comprar os livros escolares e abri-los para os cheirar, mas os alunos com irmãos mais velhos nem sempre se podiam dar a este luxo, uma vez que “herdavam” os manuais que, por esta época, eram únicos e adoptados por anos e anos consecutivos). Depois, havia que os forrar (um livro estragado era quase sempre sinónimo de reguada). Seguiam-se os cadernos de linhas (para as cópias e os ditados) e que na 1ª e 2ª classe eram de duas linhas, porque a letra era para ser disciplinada e perceptível, uma vez que ainda não se tinha chegado à conclusão que o aluno não deve ser espartilhado na sua criatividade caligráfica sob pena de ficar psico-

logicamente afectado. Depois havia os de quadrados para as contas e os lisos para o desenho. Também não podia faltar o lápis, a borracha, o apara-lápis, a régua, os lápis de cor (também se podia comprar canetas de feltro, em que as mais procuradas eram as Carioca, com 6, 12 e 24 cores) e a caneta de aparo (que no meu caso foi substituída por caneta de tinta permanente desde que um colega entornou o tinteiro da sua carteira por cima de outro). As BIC só começaram a ser utilizadas na minha escola na 4ª classe. E claro, para rematar o livrinho da Tabuada, porque calculadoras eram umas máquinas enormes em que se carregava nuns botões, dava-se a uma manivela e aparecia o resultado. Claro que havia a possibilidade de se conseguir apanhar aquele lápis da VIARCO que trazia a tabuada gravada, e que dava para utilizar no dia-a-dia, mas nunca no dia das chamadas (normalmente ao Sábado). Seguro era mesmo sabê-la de cor “e salteado” para evitar algum castigo mais vigoroso. Tudo isto cabia

perfeitamente na pasta, que se transportava na mão ou às costas. Numa época em que, ainda que sub-repticiamente, se seguia a famosa divisão proclamada em 1934 pelo então Ministro da Educação, Eusébio Tamagnini, ao Diário de Notícias e segundo o qual a população escolar se dividia em cinco grupos: 1º - Inducáveis (8%); 2º - Normais estúpidos (15%); 3º - Inteligência média (60%); 4º - Inteligência superior (15%); 5ºNotáveis (2%). Consequentemente, não havia lugar para alunos hiperactivos ou com dificuldades de aprendizagem. Havia, isso sim, alunos maleducados e “burros” para os quais existiam medidas e instrumentos pedagógicos adequados. A “menina dos cinco olhos” (uma palmatória com cinco furos para deixar escapar o ar e dessa forma assentar que nem uma luva na palma da mão) e a régua, eram uma presença assídua no nosso

dia-a-dia de aluno. Erros ortográficos, mau comportamento, não saber uma pergunta, falar com o colega do lado eram sancionados com um par de reguadas ou palmatoadas. Nestes casos, nós alunos experientes nas artes de atenuar as reguadas, partilhávamos segredos, como encovar ligeiramente a mão ou então, autêntico segredo alquímico, colocar um pelo de cavalo

recreio. Este último era, para nós, na minha escola, o menos eficaz, uma vez que, na maior parte dos dias o intervalo servia para terminar alguma tarefa que tivesse ficado atrasada. Mas havia intervalo, até porque tínhamos que lanchar (mesmo que fosse na sala de aula a trabalhar e muito cuidadinho com as nódoas de gordura no caderno ou livro, porque senão, lá estava a ré-

misturado com azeite, remédio garantido para partir a régua (nunca comprovado). Já não apanhei as “orelhas de burro” (uma coroa, normalmente de cartão, com duas enormes orelhas e que se destinava a ornamentar a cabeça daqueles que, por exemplo, não sabiam de cor, os rios e seus afluentes ou as produções económicas das nossas Províncias Ultramarinas ou a tabuada), mas apanhei o castigo de ficar virado para a parede (o tempo dependia da gravidade da infracção). Outras “medidas pedagógicas” eram as ponteiradas (no meu caso era uma fina e comprida cana de bambu, que a professora manejava com mestria e pontaria), umas bofetadas, puxões de orelhas (em que a minha professora se tornara exímia, pois dava-os com as pontas das unhas) e claro, ficar sem

gua para as limpar). Não havia essas modernices de Bolicaus, Panrico ou Coca-Cola e, muito menos, ir ao café da esquina lanchar. O lanche era trazido de casa, normalmente pão com fiambre, queijo ou marmelada ou simplesmente com manteiga, uma peça de fruta e, excepcionalmente, uma latinha de Compal. Uma grande inovação na nossa dieta alimentar foi o aparecimento das Bom-Bocas (que era uma espécie de Pirilampo Mágico coberto de chocolate). O lanche era transportado num cestinho de verga ou num saquinho de pano (porque os sacos de plástico eram novidade e não se podiam desperdiçar). Na minha escola havia duas salas: uma albergava a primeira e a segunda classe e a outra a terceira e a quarta. Cada sala tinha uma professora, o que na prática significava que as duas classes se interligavam e as perguntas podiam ser disparadas tanto para uma como para a outra. Tínhamos carteiras de madeira com um tampo inclinado e éramos obrigados a manter as costas direitas, caso contrário, lá vinha o ponteiro corrigir a postura.

Canhotos não havia, uma vez que isso era um defeito que podia ser facilmente corrigido amarrando o braço esquerdo atrás das costas ou então o ponteiro ou a régua demonstravam as vantagens de se ser dextro. Por cima do quadro, ao centro estava um crucifixo e, de cada lado, as fotografias do Senhor Presidente do Conselho e do Senhor Presidente da República (assim não havia lugar a equívocos quando nos perguntavam quem era um ou o outro). A secretária da professora ficava sobre um pequeno estrado, uma vez que a professora devia estar num plano superior ao do aluno. Quando a professora chegava já todos os alunos deviam estar presentes, sentados e em silêncio, e a sua entrada devia ser saudada com um sonoro colectivo: Bom Dia Senhora Professora… Quem chegava atrasado, ou tinha uma boa desculpa (uma justificação assinada pelo pai ou mãe) ou então era castigo certo. Mas para entrar na sala tinha que se esperar ordem da professora (normalmente quando interrompia o que estava a fazer) e depois, pedir autorização: A senhora professora dá licença que eu entre? Aos Sábados, o programa era mais descontraído, desenhava-se, cantavase o Hino Nacional, rezava-se e, por vezes (muitas), havia chamadas, ou seja, a professora, de régua na mão ou unhas arranjadas, fazia perguntas sobre as matérias leccionadas no dia anterior ou no início do ano ou, até, no ano transacto. Felizmente já não apanhei a obrigatoriedade da Mocidade Portuguesa, senão lá se ia a matiné do cinema, uma vez que as suas actividades decorriam nesse dia depois do almoço. A título de curiosidade poderei acrescentar : 1 de Janeiro - Fraternidade Universal; 31 de Janeiro - Precursores da República; 3 de Maio Descoberta do Brasil; 10 de Junho - Morte de Camões; 1 de Dezembro Restauração de Portugal e Dia da Mocidade Portuguesa; 25 de Dezembro - Consagração da Família. Mantêm-se em vigor o 5 de Outubro - Implantação da República; 1 de Novembro - Todos os Santos e o 8 de Dezembro - Imaculada Conceição. In illo tempore era assim.


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museu

• MUSEUS – A VEZ E A VOZ DO VISITANTE

Museu da Cidade de Olhão Isabel Soares

Museóloga/Arqueóloga

Partimos, desta vez, com o propósito de visitar uma pitoresca terra da costa algarvia, a cidade de Olhão. Em terra de pescadores começámos, então, o nosso passeio. Nas primeiras paragens fomos à descoberta do património construído por entre as ruas, ruelas e becos da cidade. De entre as habitações destacamos o conjunto de casas que formam os mais antigos bairros de Olhão, com características mouriscas. Na verdade, ficámos estranhados com estes traços “cubistas”, pois segundo o que sabemos, não são conhecidas construções deixadas pelos árabes nestas paragens. Por isso, após a visita, “passeámos” pelas páginas da história da terra e descobrimos que esta arquitectura “cubista”, típica dos bairros mais populares habitados por gentes do mar, semelhantes aos do norte de África, é herança dos emigrantes e comerciantes olhanenses. Estes, em tempos modernos, partiram para outros lugares à procura de melhor sorte. Assim, regressam com estas criações de arquitectura típica que reflecte o intercâmbio cultural entre os povos. Mas deixemos o casario e sigamos rumo à zona mais animada da cidade: a zona ribeirinha e o porto de pesca. Aqui encontrámos dois mercados (de peixe e de hortaliças) construídos nos inícios do século XX e reabilitados nos finais da década de noventa do mesmo século. Estes são considerados o exlíbris da cidade, e destacam-se do cenário pictórico daquela zona marcada pelos tons contrastantes do verde dos jardins (Jardim do Patrão Joaquim Lo-

Barcos

pes e o Jardim do Pescador) e do vermelho dos mercados. O burburinho e a agitação do local é vivida intensamente, as gentes simples e hospitaleiras da terra juntam-se aos muitos turistas que animam a zona ribeirinha da cidade. Neste local até é possível apreciar uma réplica do caíque Bom Sucesso, que em

Senhora do Rosário. Esta cidade, para além de combinar os vários pontos de interesse já referidos, surpreendeu-nos igualmente com um edifício, que para nós caracteriza a vida e o espírito do lugar de Olhão. Trata-se da Casa do Compromisso Marítimo de Olhão, concluída em 1771.

necessidade dos pescadores de Olhão, proporcionando aos marítimos e às suas famílias médico, cirurgião, sangrador, botica e socorros pecuniários em caso de doença, velhice e pobreza. A casa, com dois pisos, possuía no primeiro, o açougue, onde se cortava e vendia a carne para os mareFoto: Arquivo Museu Cidade de Olhão

Compromisso Marítimo de Olhão 1808 se atreveu a partir para o Brasil, para anunciar a expulsão do exército napoleónico do Algarve, provando, desta forma, a coragem e o espírito aventureiro dos homens da terra. Mas o nosso passeio continuou, percorrendo todos os recantos históricos, durante os quais também notámos que esta terra, para além da longa tradição na faina da pesca, reflecte o seu saber na arte da conservação do peixe. Calcorreando as ruas deparámo-nos ainda com as duas igrejas da terra: a Igreja Pequena ou a Igreja da Nossa Senhora da Soledade, que segundo reza a história, foi o primeiro edifício em pedra a ser construído em Olhão, e a Igreja Matriz, ou da Nossa Foto: Arquivo Museu Cidade de Olhão

Segundo nos contaram os moradores da terra, a pesca habita a alma desta cidade de feição marítima e este edifício, por sua vez, simboliza a ousadia e o heroísmo inerente a uma vida de sacrifício e de determinação, onde a voz dos aventureiros marítimos desvenda a história das viagens, que intercala episódios de azar (o desaparecimento de entes queridos ou a escassez do pescado) com a alegria dos reencontros, depois de cada jornada... Na fachada do dito edifício encontrámos uma inscrição que refere o seguinte: “Esta obra foi feita à custa dos mareantes da Nobre Casa do Corpo Santo deste lugar de Olhão”. Isto é, o edifício foi construído às custas e por vontade e

Sala de arqueologia

antes e a botica. No andar nobre, onde se localizava a Sala de Despachos, reuniam-se os mesários para a tomada de decisões, e restantes compartimentos administrativos. Nos finais da primeira metade do século XX passou a ter a função de casa dos pescadores, e já neste século foi recuperada e restaurada, dando lugar ao Museu da Cidade de Olhão. O museu, enquanto “contentor”, é património valiosíssimo, por se tratar de um símbolo identitário da terra, e por outro lado, o “conteúdo” não é menos importante, pois guarda no interior as memórias e a história do concelho. Quanto ao seu acervo, este espaço de memórias é constituído por diversas áreas temáticas tão distintas

como: património cultural marítimo, arqueologia, numismática, indústria conserveira, artes plásticas e decorativas, fotografia e metrologia. Na verdade, sentimos que o primeiro momento da visita ao museu começa no seu exterior, no confronto com a fachada simétrica do edifício, onde figuram duas janelas com sacadas de ferro forjado e ao centro um nicho com a imagem da Virgem com o menino. Admirável foi, naquele momento, observar-se um marítimo a contemplar a imagem e a benzer-se. Ao que parece, nos momentos de escassez de peixe, os pescadores ofereciam velas e azeite para alumiar a santa, para que ela lhes trouxesse melhor sorte. Os anos passaram e o lugar de Olhão passou para vila e esta, por sua vez, deu lugar à actual cidade. A pesca e a indústria de conservas perderam a sua importância para o comércio e o turismo. Tudo se alterou, mas esta imagem contínua no mesmo sítio e com a mesma importância, sendo venerada e respeitada pelos marítimos da terra. Tratámos de visitar as exposições no interior do edifício do Compromisso. Iniciámos o percurso pela sala de arqueologia, no piso inferior. Esta exposição retrata a presença romana no território de Olhão. Aqui são visíveis os aspectos do quotidiano, da pesca e do comércio, sem esquecer a arquitectura e a morte neste período. Em seguida, uma outra mostra, cuja temática retrata a “Pesca: Pelos mares do Tempo”, informa-nos sobre a evolução da pesca iniciada na Pré-História. Neste espaço ilustram-se as técnicas e os métodos utilizados nesta actividade, ao longo dos diferentes períodos históricos. A nossa viagem continuou no 2º piso, onde encontrámos uma outra exposição que apresenta “Os

Compromissos Marítimos no Algarve”. Aqui foi-nos dado a conhecer a história das associações de mareantes no Algarve, também conhecidas por Irmandades ou Confrarias do Corpo Santo. Também neste espaço compreendemos que as comunidades ribeirinhas e a actividade piscatória se encontram representadas em diferentes sítios do Algarve, formando um mosaico cultural e identitário da região. A pesca, por anos e anos, passou de pais para fi lhos, de fi lhos para netos. Muitas famílias viveram do mar. Por isso, a classe de mareantes foi importante e unida. A entreajuda era a forma de sobrevivência destas comunidades, que resistiam às agruras de uma vida difícil, em que os ritmos de vida eram exigentes e se trabalhava ao sabor das marés, quando o mar deixava ou o tempo permitia. Por isso, estes homens fizeram nascer estas associações, apelidadas de compromissos marítimos, que lhes prestavam serviços e assistência. Do passeio, salientámos sobretudo o que é invisível, mas que acabámos por sentir ao percorrer os seus espaços: a memória colectiva das comunidades piscatórias de Olhão. Só a voz e o olhar destes “ousados” pescadores nos podem falar acerca das coisas do mar… Para isso é preciso estarmos atentos e ouvirmos os fios de conversas que ainda se soltam pelas ruas e ruelas dos bairros habitados. Estes homens ligados à faina da pesca conhecem histórias, lendas, falam-nos de ondas gigantes, ventos e correntes, e sobretudo do que lhes habita na alma. Esta é a verdadeira riqueza patrimonial …a identidade destas gentes.

Exposição “Os Compromissos Marítimos no Algarve”


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livro

«Não agarres as minhas palavras: elas calam-se nas tuas mãos» antiguidade clássica (que eu tanto prezo e que percorrem o livro no seu geral), à literatura universal, à pintura e às suas personagens (quer ficcionais quer reais), não impedem que se apreenda um (dos) sentido(s) do texto. E é essa a sua beleza e a sua universalidade. Vou dar um exemplo retirado da parte «2 – Vozes Alheias». O próprio título do capítulo remete para o que nele podemos ler: as vozes de personagens literárias, como Ana Karenina ou Romeu; de gente «real», como Edith, a mulher de Egon Schiele; ou de «retratos» que se descrevem, como Santa Cacilda ou a infanta Margarida Teresa, filha de Filipe IV, que veio a ser imperatriz da Áustria e morreu com 21 anos.

Adriana Nogueira

Classicista Professora da Universidade do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com

Este é o início de um poema (p.34) que Ivone Costa incluiu no livro que agora editou: Ordem Breve. Conheci a Ivone Costa através do seu blogue, espaço que recomendo vivamente (ver abaixo «Pelas suas palavras»). Por isso, não me espantei quando soube que muitos dos seus poemas tinham saído do espaço virtual e passado para o papel: Ordem Breve, um discreto livro, de um grafismo sóbrio e elegante, condizente com as palavras dos poemas que nos oferece. Composto por um Prefácio/estudo, por José Ribeiro Ferreira (também ele poeta), professor catedrático de Clássicas – recentemente jubilado – da Universidade de Coimbra, o livro organiza-se em 7 partes, de tamanho desigual, mas de igual beleza: 1 – Ordem Breve; 2 – Vozes Alheias; 3 – Liturgia das Horas; 4 – Fragmenta; 5 – Contos de Fadas; 6 – Romance epistolar e Epílogo (não numerado como 7). Várias são as razões que me fazem gostar de um poema: a sonoridade conseguida (às vezes, posso nem o perceber muito bem, mas gosto de o ler ou de o ouvir, de tão belas que são as frases); a originalidade (na maior parte das vezes obtida pela simplicidade); os sentimentos e pensamentos provocados (se o que leio não me faz pensar nada ou sentir nada – e neste sentir pode

Sobre o retrato de Margarida de Áustria por Juan del Mazo As flores que me pintaram no cabelo deixei-as num quadro no Prado, desta moldura agora já não hei-de sair. Agora, o Sacro-Império ordenou as minhas tranças e as meninas saíram em silêncio. Nos meus espelhos só os espectros se revêem. estar o prazer da sonoridade atrás referida, por exemplo –, penso sempre que foi uma perda de tempo); gosto especialmente da sensação de estar perante «coisa reconhecida» (a alegria de perceber as possibilidades de leitura que o poema permite, a

sensação de compreender o que ali é dito, enfim, o achar que estou em sintonia com o poeta); e muitas outras razões tão subjectivas como as enunciadas acima. E os poemas de Ivone Costa têm isto tudo. As referências que faz à

podemos deduzir que se trata de uma personagem aí retratada com flores no cabelo e que neste quadro já não as tem; que no outro estaria acompanhada das outras meninas e neste estaria sozinha; que o espelho, que no quadro de Velásquez mostra os pais reflectidos, aqui, supõe-se que refl icta aqueles que já não existem; que um poder superior agora a governa, explicitamente nomeado: o Sacro-Império Romano Germânico. Mais uma leitura Podemos ler no poema um quadro de tristeza. Um sujeito poético que é uma menina dominada, que se sente presa, morta (desta moldura agora/já não hei-de sair), obrigada a crescer (é forte a imagem da desordem de um cabelo com fl ores a ser espartilhado numas tranças por um poder superior). A imagem do abandono, da solidão, também se faz sentir, com a ausência dos outros que a deixaram (as meninas saíram em silêncio) ou que só subsistem como imagens espectrais em espelhos, numa representação da morte conseguida por estas palavras: «espelhos», que são o vazio, que só ref lectem se houver algo a ref lectir, algo que exista, e os «espectros», isto é, aqueles que já não existem e que, portanto, não se reflectem.

Uma leitura

Outras leituras

O título anuncia-nos um retrato. O texto remete-nos para outro, expressamente indicado como situado no Museu do Prado. Sendo «As Meninas» de Velásquez uma pintura sobejamente conhecida,

E há todas as outras leituras que, se conhecermos o quadro em causa e a história que o envolve, dão novos sentidos a isto tudo. É essa a matéria de que é feita a grandeza da poesia.

• Ivone Costa, pelas suas palavras Nasci em 59 e vivi em Faro até ir para Coimbra. Não nasci em Faro porque os meus pais tinham ido passar o fim-de-semana a casa dos meus avós, em Pereiras, perto de São Marcos da Serra. Eu nasci num domingo à tarde, já os caçadores tinham chegado da caça. O meu lado paterno é de Silves. Escola primária e liceu em Faro. Em Coimbra fiz Línguas e Literaturas Clássicas e foi um belo tempo. Fiz em Aveiro a parte curricular do mestrado em Estudos Clássicos, mas não defendi tese. Voltei a Aveiro, onde acabei, desta vez, o mestrado em Línguas, Literaturas e Culturas com a dissertação As (re)citações de Eurípides na Medeia

de Mário Cláudio. Sou professora na Secundária do Entroncamento há 27 anos, onde dou aulas de Português a um pessoal com quem tenho tido sorte. Quando os deuses estão para aí virados, tenho uma turma de Latim ou de Literatura Portuguesa. De Grego, já faz muito tempo que tive a última. Vivo sozinha em Torres Novas, uma cidade muito agradável (demoro 6 minutos até ao portão da minha escola), e tenho um filho com 25 anos, o Guilherme, que estuda Engenharia Biomédica em Lisboa. Tenho uma vida muito tranquila, saio muito pouco de casa. Vou para a

escola, vou ao café ler o jornal e conversar com os amigos. São as minhas únicas saídas. Leio muita literatura portuguesa, da estrangeira prefiro sempre ler no original e há quem diga que é snobismo meu. A intertextualidade é a área de estudo a que dedico a maior parte do meu tempo. Um fascínio que nunca acaba. Todos os dias descubro uma coisa nova. Gosto desalmadamente de cinema e de pintura. Adoro museus, era capaz de viver num. Do séc. XIX para trás tudo me interessa. Pondo de parte os gregos e os romanos, que são outro departamento, tenho uma especial predilecção pela renascença

italiana. A história de Portugal também ocupa grande parte do meu tempo. Gosto de uma história factual, com pessoas lá dentro. Abomino o Verão e o calor. Detesto praia e as paisagens exóticas não me dizem rigorosamente nada. Gosto das cidades. Sou profundamente europeia. Gosto muito de cozinhar e, pelo que tenho ouvido dizer, cozinho bem. Gosto de casacos de Inverno e de sapatos de salto alto. Às vezes escrevo poemas noutras línguas, o que é de uma enorme inconsciência. Em prosa, faço umas short-stories de vez em quando.

O meu blogue A Ronda dos Dias (http://arondadosdias.blogspot.com/) dá-me um prazer imenso, não só porque é uma “casa” onde vou colocando as minhas coisas, os meus pequenos prazeres, os meus aborrecimentos, os meus interesses, mas também porque, como casa que é, é também o espaço onde recebo a gentileza de muitos amigos, alguns de quem até desconheço o rosto. Recentemente, arranjei uma segunda casa: escrevo, às vezes, no Delito de Opinião (http://delitodeopiniao.blogs.sapo.pt/). Eu poderia ter sido arquitecta, gosto de casas. Se não tivesse feito Clássicas, tinha feito Direito. Já me arrependi algumas vezes.


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Espaço Cultura

Há mouro na costa! Toda a costa algarvia constitui uma encruzilhada de rotas marítimas. Desde o século XIII região de fronteira, nacional e da Cristandade europeia, o Algarve manteve durante séculos um papel de charneira cultural e geopolítica. Ao longo do século XV e dos inícios do XVI, a Cristandade europeia empenhou-se na ofensiva militar contra os muçulmanos, na percepção de que enquanto houvesse um Islão forte não poderia haver paz nos reinos da Europa meridional. Com a ocupação das praças do Norte de África, Lagos e Tavira constituem-se como praças de apoio à navegação e conquista. Se a utilização da pólvora na artilharia com armas de fogo (pirobalística) remonta a meados do século XIV, o seu uso corrente generalizou-se apenas a partir dos finais do século XV e acarretou modificações nos dispositivos defensivos, que passaram a prepararse quer para a proteção dos ataques com canhões, quer para fustigar com estes as posições dos atacantes, mediante o rebaixamento dos torreões de flanco, o espessamento dos muros e a criação de plataformas para artilharia de fogo. O aperfeiçoamento dos dispositivos é ensaiado nas praças do Mediterrâneo (designadamente no cenário de guerra da Itália meridional e da Sicília), mas também nas praças portuguesas de Marrocos e do Índico e no traquejo da guerra naval. No século XVI a revolução pirobalística e o aperfeiçoamento dos sistemas abaluartados1 acompanham as mudanças na conjuntura internacional, com a inversão do sentido dos ataques mouros, a que se juntam turcos e corsários europeus. Sob Dom João III alterou-se a política africana, que toma a partir de então um rumo mais defensivo. Nesse âmbito se concebeu novo projeto de fortificação de Lagos, cuja Cerca Nova, da primeira

Foto: igespar / Alberto Alvim

Fortaleza de Sagres: o promontório visto do lado norte metade do século XVI, permite ainda hoje, pelo seu estado de conservação, a leitura integral dessa moderna «máquina de guerra» desenhada segundo as então mais avançadas técnicas da arquitetura militar renascentista. Dom Sebastião procurou alterar o rumo político militar externo, aliás, como se sabe, com consequências desastrosas. Mas, numa conjuntura internacional em que a aliança franco-turca impulsionada por Francisco I, rei de França (1515-1547), e Soleimão, o Magnífico, sultão do Império Otomano (1520-1566), punha em risco as possessões imperiais dos Áustrias, reforçaram-se sob os Filipes numerosos dispositivos de defesa da costa algarvia2. Neste âmbito se inscreveu a ação do napolitano Alexandre Massay, falecido em 1638, com um papel admirável no panorama da engenharia militar do primeiro quartel do século XVII e cujo contributo para a definição da linha de defesa marítima da costa algarvia (e alentejana) ficou plasmado em dois álbuns, de 1617 e de 1621, formados por desenhos de fortificações e apreciações corográficas de quanto examinou no terreno. A restauração da independência

nacional obrigou, desde meados do século XVII, a um esforço acrescido de construção e reconstrução das fortalezas costeiras, com a criação de estudos próprios para a arte de fortificar no Colégio de Santo Antão e na denominada Aula de Fortificação e Arquitetura Militar, de Lisboa, sendo numerosas, no Algarve, para além das obras de conservação, as estruturas militares então criadas de raiz. No século XVIII, a reforma do Conde de Lippe inscreve no esforço de disciplina militar a obrigatoriedade dos inventários da artilharia em uso nas praças, produzindo-se então vasta documentação cartográfica e epistolar entre as praças e respetivo comando, maioritariamente ainda por investigar3. É neste contexto que se destaca José de Sande Vasconcelos (falecido em Tavira em 1808), com uma obra ímpar no domínio da engenharia militar portuguesa da segunda metade do século XVIII e autor de completíssimos levantamentos dos dispositivos defensivos existentes no Algarve4. No século XIX, os ataques piratas à população e à rentável atividade piscatória eram já passado. Com a generalização dos navios a vapor, a navegação ficou independente do regi-

me dos ventos. As fortalezas perderam importância funcional e a maioria delas foi desativada e entrou em rápido processo de degradação, que se acentuou ao longo do século XX. A proteção, valorização e uso das fortalezas costeiras do Algarve, seja com objetivos sociais, como fonte de conhecimento ou com propósitos didáticos, implica não só reparar a ruína como proceder à investigação e à transmissão da informação que ela encerra, recuperando o seu valor enquanto símbolo identitário cultural e territorial de uma coletividade; o objetivo da valorização deve ser o de perpetuar estes dispositivos militares na sua integridade e autenticidade, promovendo a sua preservação, conhecimento e reabilitação para novos usos. Nesse esforço de preservação e reabilitação dos dispositivos de defesa costeira algarvios destaca-se a ação do Estado, que, através da DireçãoGeral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN)5, promoveu numerosas intervenções em fortalezas costeiras do Algarve, com destaque para os dispositivos da Praça de Sagres6 e para a Fortaleza da Ponta da Bandeira, em Lagos7. Igualmente a ação das populações e das autarquias tem sido fundamental, nas décadas mais recentes, para a preservação das fortalezas costeiras que lhes estão afetas. Menção merece ainda a intervenção do Polis Litoral Sudoeste, atualmente em curso no Forte da Arrifana e prevista para o Forte de São Luís de Almádena. Presentemente, a ação da Direção Regional de Cultura do Algarve faz-se sentir nos domínios do apetrechamento para intervenção nas fortalezas costeiras da região, umas vezes a título consultivo, outras preparando os pareceres tutelares vinculativos ou organizando o Plano Regional de Intervenções Prioritárias no Algarve, PRIPALG8, e através das obras na Fortaleza de Sagres,

património de propriedade estatal que lhe está diretamente afeto e constitui um espaço cultural. No âmbito de uma vasta operação de Requalificação e Valorização do Promontório de Sagres, e com o apoio do QREN e do Turismo de Portugal, foi recentemente concluída a reabilitação do torreão central da Fortaleza de Sagres, remanescente do primitivo dispositivo da cerca da Vila do Infante e mais tarde (adaptado às contingências da pirobalística) dotado de um terraço para artilharia e integrado, como cavaleiro, no dispositivo abaluartado traçado por Sande de Vasconcelos - estando também em curso intervenções de reabilitação nas cortinas, baluartes e baterias da Fortaleza. 1 Natércia Magalhães, 2008, Algarve: Castelos, Cercas e Fortalezas, Letras Várias: Faro, p. 19. 2 É sobretudo sob Filipe IV (terceiro de Portugal) que se verifica um intenso surto construtor, sendo governador do Algarve o conde do Prado, Dom Luís de Sousa. 3 De destacar as pesquisas de Carlos Pereira Callixto, cujos resultados foram sendo divulgados em inúmeros artigos dispersos em publicações periódicas. 4 Acerca de Sande de Vasconcelos ver, p. ex., a nota de Miguel Soromenho em Tavira, Patrimónios do Mar, Câmara Municipal de Tavira, 2008, p. 153-157. 5 Criada pelo decreto n.º 16791 de 30 de Abril de 1929, sob a dependência do então Ministério do Comércio e Comunicações para «restaurar e conservar com verdadeira devoção patriótica os nossos monumentos nacionais para que eles possam influir na educação das gerações futuras» (ver Boletim da DGEMN, n.º 1, 1935) e impulsionada na dependência do Ministério das Obras Públicas, sendo ministro o algarvio Duarte Pacheco. Foi extinta em 2007, dividindo as suas atribuições pelos atuais Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico, IGESPAR, no que diz respeito à intervenção sobre o património imóvel classificado, e Instituto da Habitação e Reabilitação Urbana, IHRU, no que diz respeito à intervenção sobre o património habitacional não classificado e ao desenvolvimento e gestão do Sistema de Informação para o Património, SIPA (http://www.monumentos.pt/). 6 Ver Boletim da DGEMN, n.º 100, 1960. 7 Ver Boletim da DGEMN, n.º 104, 1961. 8 Disponível em linha em http://www.cultalg. pt/PRIPAlg/PRIPALG_2010.pdf

Direção Regional de Cultura

Min-Arifa espaço de projectos A Associação Min-Arifa nasceu em Dezembro de 2010 e com ela Paula Ferro, uma das fundadoras e motor fundamental do dinamismo da associação, deu corpo a uma ideia maturada durante muito tempo. Mais do que uma ideia trata-se de um projecto, porque ao ideário Paula Ferro juntou um substrato tangível, porque como faz questão de realçar, “uma postura perene perante o desafio da concretização da ideia foi condição base para a criação de um projecto concretizável”. No percurso, “as participações foram tudo”, realça Paula Ferro, dando exemplos, “as ajudas das muitas pessoas individuais e de associações como a Colaboranisto e a Associação Desportiva e Cultural de Faro, foram determinantes”.

O projecto, definamo-lo assim, é o da criação de um espaço - a sede da associação Min-Arifa, situada em Tavira e que assume o nome homónimo - que é arena para muitos espaços e que vão para além da dimensão física e, na mesma medida, arena para o desenvolvimento de muitos projectos. “O que se pretendeu e pretende é criar um palco para o desenvolvimento das mais variadas actividades”, afirma a artista plástica e jornalista. A associação é o suporte organizacional de um projecto que se quer multidisciplinar, sem determinantes apriorísticas e onde a paleta de cores e as palavras, os actos e acções se exprimam independentemente das fórmulas a que se recorra para dar corpo a essa expressão”, refere a responsável associativa.

Não se trata de falta de rumo ou de consciência de objectivos, mas antes de um acto determinador de liberdade criativa. Uma liberdade que Paula Ferro vê como essencial ao desenvolvimento da arte, da cultura e das pessoas, e são estas três vertentes e o seu crescimento, em todas as dimensões do plano, que o projecto Min-Arifa tem em vista. Pensar a dimensão humana e as várias dimensões do pensamento e da expressão parece à partida um plano megalómano e destituído de foco catalizador, mas o que Paula Ferro anteviu e concretiza na associação e de um só acto no seu percurso, quer como artista, quer como jornalista, é que o elemento catalizador é em si mesmo o acto de pensar e/ou levar a pensar a realidade e o Homem.

Pintura ao vivo na abertura do Espaço Min-Arifa

Dar espaço a que este pensar se manifeste é o desafio e, seis meses depois do início, a Min-Arifa é uma realidade consubstanciada em trabalho e em

realizações. Sem limites no percurso que se desenha porque o pensamento não tem ele mesmo limite. Ricardo Claro


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