8.754 EXEMPLARES
MAIO • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO
www.issuu.com/postaldoalgarve
Quotidianos Poéticos
revisitam Lídia Jorge
MAI | 2012 • Nº 45 • Mensal • O Cultura.Sul faz parte integrante da edição do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente
p. 9
Sarau Instável convida Beatriz Batarda a Silves p. 4
Câmara de Olhão mostra Maio Jovem p. 5
Costa Vicentina: paraíso fotográfico p. 7
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Cultura.Sul 0 4.05. 2012
Um espaço que dá relevo a uma fonte de actividade literária que fervilha, muitas vezes, à margem dos circuitos convencionais.
blogosfera
Jady Batista
Tantas vezes eu já sorri
Henrique Dias Freire
Editor do CULTURA.SUL
Que Liberdade de Imprensa? Comemorou-se, no passado dia 3 de Maio, o Dia Mundial de Imprensa. Pela primeira vez, Portugal assinalou “Um Dia com os Media” com o objectivo de reflectir a importância dos media no dia-a-dia das nossas vidas. Lamentavelmente, as regiões e as autarquias em particular perderam uma boa oportunidade para celebrar a unidade e entidade das regiões na sua expressão mais nobre e essencial para o funcionamento são na promoção e desenvolvimento da democracia. Ainda não perceberam que quanto mais fragilizada a nossa imprensa regional estiver maior é a dependência imposta pelo centralismo de Lisboa. O Algarve também se revelou a continuar insensível ou distraído. Mas a responsabilidade também passa por todos nós. Passa por nos afirmarmos como região coesa e com entidade própria. Passa por cada um de nós, na sua vida social e profissional assumirmos, de forma clara, o nosso papel em prol do exercício das nossas próprias liberdades. Antes de mais, estejamos bem conscientes de que existe uma ligação estreita entre o trabalho dos jornalistas da imprensa regional e o exercício das nossas próprias liberdades. O desafio passa por cada um de nós. Passarmos a participar com maior empenho na imprensa regional, quer todos nós como leitores atentos e interessados, quer as nossas empresas como anunciantes na região que queremos melhor para nós e para as gerações vindouras. Só assim saberemos proteger o direito fundamental da pessoa humana que é a liberdade de expressão.
Ficha Técnica Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire
As palavras custam a sair, Nem sempre encontro o melhor termo, Nem sempre escolho o melhor modo, Pensei que se falasse era fácil de entender, Para resolver o meu problema de expressão, Não digo o que estou a sentir, Não sei porquê este embaraço, Quando os teus olhos me ignoram, Passo por ti, tu nem me vês, O teu mundo está tão perto do meu, Transforma minha tristeza em ouro precioso, Toca as minhas lágrimas com seus lábios, No meu mundo está na ponta dos teus dedos, Porque nunca é tarde, Para alguém sonhar, Eu só queria poder acordar, Num sonho teu, Que eu quero dizer-te, Sei lá eu o que quero dizer, E o que digo está tão longe, E é tão difícil dizer amor, E mesmo quer que sejamos mais do que amigos, Eu sei que queres tentar… eu também,
Podes dizer que é um sonho meu, Mas os sonhos não deveriam se realizar? Qual o caminho que irá dar, A esse teu mundo onde eu queria entrar?
Tantas vezes eu já sorri À espera de um gesto... de um sinal À procura de um toque... de um olhar Tentando saber se algum dia os nossos mundos se irão cruzar...
Vem esta noite… Blog: http://lobomisterioso.blogspot.pt/ Postagem: http://lobomisterioso. blogspot.pt/2011/08/tantas-vezes-euja-sorri.html
Espaço CRIA
O Empreendedorismo e o Mar
Alexandra Marques
Gestora de Ciência e Tecnologia do CRIA ‒ Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia
Paginação: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: » blogosfera.S: Jady Batista » momento.S: Vítor Correia » panorâmica.S: Ricardo Claro » patrimónios.S: Isabel Soares
Desde a sua fundação, a Universidade do Algarve sempre apostou forte no Mar. A riqueza única que a Ria Formosa representa para a região do Algarve, só por si, justifica essa aposta. As ciências marinhas são, nas suas diversas vertentes, desenvolvidas com entusiasmo e dedicação pelos investigadores da UAlg, nacionais e estrangeiros. Mais recentemente, a UAlg tornou-se membro do Cluster do Conhecimento e da Economia do Mar, um cluster reconhecido como Estratégia de Eficiência Coletiva pela Autoridade de Gestão do Programa Compete. O cluster envolve um “vasto e diversificado conjunto de entidades representativas dos interesses regionais e nacionais, pertencentes aos principais setores do agregado económico subjacente a esta estra-
tégia de eficiência coletiva, tendo em vista a diversificação da base económica regional, criando, desta forma, novas atividades e serviços, fomentando assim o aparecimento de mercados alternativos com maior valor económico, o reforço da competitividade e da produtividade das indústrias do mar e o aumento do emprego qualificado”. Que tipo de emprego qualificado pode resultar do Mar? Como podem associar-se o Mar e o Empreendedorismo? Ideias não faltam, tal como demonstrou o último concurso de ideias do CRIA em 20102011. Cerca de um terço das muitas ideias apresentadas foram de novos negócios relacionados com o Mar. Desde o desenvolvimento de novos produtos, à aplicação de novas tecnologias e ao cultivo inovador de
espécies, os empreendedores algarvios apresentaram as suas ideias de negócio baseadas em conceitos em que o Mar era o ator principal. Mas se já se sabe que os Portugueses são inventivos, então o que falha depois? Começar uma nova empresa exige uma dedicação quase exclusiva e a maioria das ideias inovadoras na área do Mar surgem de docentes e investigadores da UAlg que têm de assegurar o seu trabalho principal de docência e/ou investigação, sobrando pouco tempo para a criação e gestão da empresa. Por outro lado, a procura de financiamento para o arranque da empresa é um processo moroso e longo. No atual cenário de crise que todos conhecemos o risco de criar o autoemprego é agora maior mas por outro lado nunca foi tão justificado.
Colaboradores: AGECAL, ALFA, CRIA, Cineclube de Faro, Cineclube de Tavira, DRCAlg, DREAlg, António Pina, Pedro Jubilot. Nesta edição: Alexandra Marques, José Viegas, Luís Costa, Marta Santos, Sónia Pereira
Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve
on-line: www.issuu.com/postaldoalgarve
e-mail: geralcultura.sul@gmail.com
Tiragem: 8.754 exemplares
Cultura.Sul 0 4.05. 2012
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cinema Cineclube de Faro
Futuro do cineclube em causa Está em causa o futuro imediato da nossa associação! Por dificuldades financeiras em conseguir fazer face aos seus compromissos com aluguer de filmes no presente ano, e por forma a não aumentar essa dívida ainda mais, decidiu a Direção do Cineclube de Faro anular três das sessões já anunciadas para o mês de Maio (dias 1, 8 e 14). Tal facto nunca tinha acontecido na história da nossa associação. A inexistência de apoios à nossa atividade anual por parte da autarquia e, no presente ano, do Instituto do Cinema, que nem sequer abriu concursos de apoio à Rede Alternativa de Exibição, de que são beneficiários os cineclubes portugueses, ditaram esta penosa situação que não tem sido invertida por receitas próprias. A média de espectadores tem sido insuficiente para cobrir essas despesas de aluguer de filmes que rondam, em média, os 200 euros por filme, e os
sócios não têm correspondido, ou não têm conseguido corresponder, ao esforço de manter as suas quotas em dia. Assim, fazemos o apelo a todos os sócios que regularizem o mais urgentemente possível a sua situação e contribuam para a mobilização em
torno do Cineclube de Faro, motivando outros a tornarem-se sócios ou retomando a sua condição de antigos sócios, beneficiando de uma campanha com condições muito vantajosas que temos em vigor. Retomamos as sessões comerciais no IPJ no dia 22 de maio com o filme Enter the Void, de Gaspar Noé, seguido do multi-premiado documentário português É na Terra, não é na Lua, de Gonçalo Tocha. Dia 5 de junho damos a ver o filme Além de ti, do realizador algarvio João Marco e, finalmente, dia 12 de junho, o ansiado Tabu, de Miguel Gomes. Contamos com a vossa solidariedade, a vossa presença maciça e a vossa participação em iniciativas de recolha de fundos que em breve anunciaremos. Obrigado!
PROGRAMAÇÃO
www.cineclubefaro.com
CICLO VIAGENS IPJ ¦ terças-feiras ¦ 21.30 horas ¦ Entrada paga
24 MAI ¦ Tristana, Amor Perverso, Luis Buñuel, Espanha/Itália/França, 1970, 95
22 MAI ¦ Enter the Void - Viagem Alucinante, Gaspar Noé, França/ Alemanha/Itália/Canadá, 2009, 161, M/16
31 MAI ¦ A Via Láctea, Luis Buñuel, França/Alemanha/Itália, 1969, 98
29 MAI ¦ É na Terra, Não é na Lua, Gonçalo Tocha, Portugal, 2011, 180 CICLO BUÑUEL, O HEREGE SEDE ¦ 21.30 ¦ Entrada livre 10 MAI ¦ Viridiana, Luis Buñuel, Espanha/México, 1961, 90’ 17 MAI ¦ A Bela de Dia, Luis Buñuel, França/Itália,1967, 101’
CICLO O QUE É NACIONAL, É BOM! CINE-TEATRO DE ESTOI ¦ 21.30 horas ¦ Entrada livre Co-organização com a Junta de Freguesia de Estoi 11 MAI ¦ História de um Segredo, Mariana Otero, França, 2003, 95 25 MAI ¦ Milagre Segundo Salomé, Mário Barroso, Portugal, 2004, 105
Cineclube de Tavira
Sinais dos tempos que correm...
destaque
Como era de esperar, a exibição em Tavira de Shame (Vergonha), o último trabalho de Steve McQueen, foi desmarcada no final do mês anterior. É que, deste filme que todos querem ver, só existe uma cópia em 35mm no país, e essa cópia continua a ser exibida na mesma sala onde estreou a 1 de Março. A nova data para Tavira é domingo, 27 de Maio. Um dos sinais dos tempos que correm... A última obra existencialista (obra prima...) de Terrence Malick (quem não se lembra do seu Badlands (Noivos Sangrentos - 1973), The Tree of Life, já exibimos na 7ª Mostra de Cinema Não Europeu em 2011, mas achamos que sem qualquer dúvida vale a pena re-exibir esta delícia e em cópia de 35mm! Este formato (o velho celuloid, a não confundir com cópias em nitrato - um material altamente inflamável - lembram-se de Cinema Paradiso) está em fase de extinção, não só em Portugal mas em todo o mundo. Pois
PROGRAMAÇÃO
www.cineclube-tavira.com 281 320 594 ¦ 965 209 198 ¦ cinetavira@gmail.com
SESSÕES REGULARES Cine-Teatro António Pinheiro ¦ 21.30 horas 6 MAI ¦ The Tree of Life (A Árvore da Vida),Terrence Malick, E.U.A. 2011 (138 ) M/12 10 MAI ¦ Home (Lar, Doce Lar), Ursula Meier, Suíça/França/Bélgica 2008 (98 ) M/12 13 MAI ¦ Last Night (A Última Noite), Massy Tadjedin, E.U.A./França 2011 (93 ) M/12
é, uma cópia de 35mm pesa entre 15 e 30 kgs (dependente da sua duração), tem custos elevados de produção (já que fechou o nosso único laboratório, o Tobis em Lisboa, as cópias para distribuição em Portugal hoje são
feitas em Espanha...) e de transporte. Uma cópia digital sai bem mais barata ao distribuidor (basicamente é um disco, parecido ao dvd), mas para o exibidor a diferença é pouca ou nula, sobretudo tomando em
“CONCERTO COM RITA REDSHOES” 11 MAI | 21.30 | Centro Cultural de Lagos Em “The Other Women – O mundo nas canções d’Elas”, Rita Redshoes evoca alguns dos grandes nomes da música mundial - uns mais recentes, outros menos, da tradição folk à canção de autor europeia, do pop ao soul
17 MAI ¦ Crazy Horse, Frederick Wiseman, E.U.A./França 2011 (134 ) M/16
conta o investimento astronómico do equipamento de projecção digital... No final deste mês (que sortudos que somos!), iremos exibir Tabu, o filme
20 MAI ¦ The Woman in Black (A Mulher de Negro) de James Watkins, Reino Unido/Canadá/Suécia 2011 (95 ) M/16 24 MAI ¦ Attenberg, Athina Rachel Tsangari, Grécia 2010 (113 ) M/16 27 MAI ¦ SHAME (Vergonha), Steve McQueen, Reino Unido 2012 (101 ) M/18 31 MAI ¦ Tabu, Miguel Gomes, Portugal/Alemanha/Brasil/França 2012 (110 ) M/12
de Miguel Gomes que foi tão falado no último Festival de Berlim, e em 35mm! Aproveitem enquanto podem e enquanto ainda cá estamos!
“6ª GALA MARIA CAMPINA” 4 MAI | 21.30 | Auditório Pedro Ruivo - Faro Espectáculo com as “Moças Nagragadas”, Grupo Coral da Casa do Povo de Messines e as classes de dança clássica do Conservatório Regional do Algarve. Os fundos revertem para a Sociedade Portuguesa de Esclerose Múltipla - Faro
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Beatriz Batarda no Sarau Instável Uma das mais notáveis actrizes portuguesas é a convidada do “Sarau instável” de 4 de Maio, pelas 21.30 horas, na Biblioteca Municipal de Silves. Nesta edição da rubrica regular da biblioteca municipal, a reconhecida actriz e encenadora Beatriz Batarda dá a conhecer ao público em geral – a sessão é aberta e tem entrada livre – um pouco mais sobre o seu universo de actriz e encenadora, numa conversa que, como é habito no Sarau Instável, se espera intimista e peculiar. O desafio lançado pela biblioteca à convidada, para mote da sessão, é o tema: “Como se faz uma actriz?”. Num tom informal, intimista e confessional, Batarda revisitará o seu percurso, formação, experiência,
Espaço AGECAL
referências, concepções e sensibilidade nas áreas do cinema, teatro e televisão (ao nível das realidades portuguesa e inglesa), e, em jeito de complemento, a actriz falará ainda sobre três livros que marcaram a sua vida. Beatriz Batarda nasceu em 1974, é filha do pintor Eduardo Batarda e é casada com o músico e compositor Bernardo Sassetti, de quem tem duas filhas. Frequentou a Guildhall School of Music & Drama, em Londres, onde se graduou em 2000 com a medalha de ouro do curso de teatro. Estreou-se no cinema em 1988, no filme “Tempos Difíceis”, de João Botelho, tendo participado depois em vários trabalhos de Manoel de
Oliveira. A sua primeira aparição teatral foi pelas mãos dos encenadores Luís Miguel Cintra e Diogo Dória, destacando-se desde logo o seu talento e versatilidade na arte da representação. Só mais tarde, em 2011, encetou o seu percurso como encenadora, com a peça “Azul longe nas colinas”, de Dennis Potter, no Teatro Nacional D. Maria II. Ao longo da sua carreira, e para além de diversas nomeações e reconhecimentos, recebeu três Globos de Ouro, na categoria de Melhor Atriz em cinema, em 2003 (“Quaresma”, de José Álvaro Morais) e 2004 (“Noite Escura”, de João Canijo, e “A Costa dos Murmúrios”, de Margarida Cardoso).
Em 2010 foi condecorada pelo Presidente da República Cavaco Silva com o grau de Comendador da
Ordem do Infante D. Henrique. Momentos a não perder com uma actriz singular.
O futuro das Bibliotecas Públicas
“Estarmos juntos: é um começo Continuarmos juntos: é um progresso Trabalharmos juntos: é a chave do sucesso!”
(autor desconhecido)
Sónia Pereira
Programadora e mediadora de leitura Sócia da AGECAL - Associação de Gestores Culturais do Algarve
destaque
Coberto praticamente todo o país com a Rede Nacional de Leitura Pública a uma velocidade e abrangência incríveis (em cerca de três décadas, ela oferece conhecimento, lazer e informação a leitores dos 0 aos 100 anos), e embora a nível regional as bibliotecas tenham ainda de estreitar uma política concertada de cooperação interinstitucional, a realidade americana de extinção de alguns destes equipamentos culturais e a inglesa com atuais campanhas, por parte de leitores de todas as idades, profissões, nacionalidades, sexo e religiões, pela defesa destes
organismos que acrescentaram mais saber e sabor às suas vidas, impõenos a questão da transformação das bibliotecas vs extinção. Diálogo, estratégia, coordenação e complementaridade são, portanto, palavras-chave na vida das bibliotecas, sendo que para evitar esta situação nos próximos 15, 20 anos é crucial que a Biblioteca responda, cada vez mais, às necessidades das pessoas e acrescente valor à vida dos leitores, caminhando também cada vez mais para a prática do “Just in time” em detrimento da prática “Just in case”, em termos de aquisição e tratamento documental. Estes aspetos não espelham senão a necessidade de uma abordagem centrada sobretudo no leitor e não no livro: uma biblioteca de e para pessoas, com repercussões
quer na (re)estruturação de formações profissionais e académicas da área (felicita-se, nesta ótica, a abertura da Pós-Graduação em Promoção e Mediação de Leitura, em 2009, na Universidade do Algarve, uma vez que em território português mesmo as formações nesta área apenas contemplavam o público infantojuvenil, descurando o adulto), quer na arquitetura do edifício, design do mobiliário, arrumação documental e conceção de projetos. Ao desafio desta viragem definitiva parecem-nos imprescindíveis: 1 - profissionais qualificados e apaixonados [com a dose de empenho, constante atualização e uso de técnicas e ferramentas oriundas também de outros quadrantes do conhecimento (como o benchmarking,
“CAVALO MANCO NÃO TROTA” 5 M A I | 21. 3 0 | B ibl iote c a Municipal de Tavira O actor Luís Vicente irá estar em cena durante hora e meia, ocupando o espaço de um metro quadrado para interpretar o papel de um homem que está em tribunal a ser julgado
o CRM – Customer Relation Management - ou a análise SWOT) para o funcionamento das bibliotecas, e a imprescindível dose de criatividade e inovação que os caracteriza]; 2 – uma efetiva formação de públicos (com os necessários estudos prévios e regulares do mesmo, em termos de caracterização educacional e sócio-etária, gostos e tendências, afluência geral e afluência às atividades culturais), numa relação equilibrada entre opções estéticas, éticas e fi losofia da Biblioteca e o seu público; 3 - uma política de financiamento assente no pagamento, por parte dos leitores, de certas atividades culturais ou de uma simbólica taxa anual de leitor, a aposta no mecenato, na organização de grandes eventos com
recurso a outsourcings (como o Festival literário da Madeira, que contou com os Booktailors), valorizando-se mais, desta forma, o ato cultural; 4 – melhoria das estratégias comunicacionais da Biblioteca, através de sinalética clara e das novas Tecnologias de Informação para ampliar a possibilidade de espraiar a informação por novos públicos e através das redes sociais desenvolver discursos certeiros. É que se pensar é existir, ler é ter maior consciência da nossa existência e humanidade neste jogo da vida que, se não for sentido, refletido e constantemente reformulado, não é devidamente valorizado e é só da mais genuína vida que afinal a literatura, os livros e bibliotecas condensam…
“CARTOONS ON STAGE” QUA a DOM | 22.30 | Casino de Vilamoura Dick Tracy, Pantera Cor-de-Rosa, Batman, Branca de Neve, Flash Gordon, Happy Feet e Madagáscar juntam-se nos palcos dos Casinos do Algarve para recriarem um espectáculo encantador e divertido
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panorâmica
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Ricardo Claro
• CÂMARA OLHANENSE DÁ LUGAR DE DESTAQUE À JUVENTUDE
Olhão convida os jovens a mostrarem-se Maio em Olhão tem um pulsar jovem. O mês em que se comemora o aniversário da Casa da Juventude de Olhão (CJO) é, uma vez mais, um mês dedicado aos jovens e às suas formas de expressão nas mas variadas áreas e a cidade cubista preparou 31 dias de verdadeira adrenalina com uma programação variada, pensada para dar aos olhanenses mais jovens espaço para se mostrarem. “Mostra-te” foi o nome escolhido para esta verdadeira mostra de juventude. A cidade abre os palcos públicos à arte e ao desporto, à cultura e ao conhecimento pelas mãos dos jovens, num mês feito por jovens e para os jovens em que os grandes objectivos são o de que cada rua seja um plateau, que em cada canto haja o vibrar da juventude e que em todos os momentos se respire a força dos verdes anos. Envolver a comunidade nesta celebração que comemora os oito anos da CJO, mas que é acima de tudo um momento de verdadeira convivência intergeracional, foi o desafio que a autarquia liderada por Francisco Leal e em particular o titular da pasta da Juventude no executivo, António Pina, lançaram aos olhanenses. Com a CJO à cabeça da organização municipal, 40 entidades do concelho arregassaram as mangas à boa maneira olhanense e deram corpo a uma programação recheada de matizes e de qualidade que se abre a todos os olhanenses ou não como uma montra da força e do saber fazer dos jovens olhanenses. AMO mostra-se jovem
destaque
Sala maior do concelho, o Auditório Municipal de Olhão (AMO), recebe Maio e a juventude que se comemora no concelho com uma exposição de Pedro Figueiredo. A escultura ocupa o foyer do espaço a partir do dia 12, o mesmo dia em que a sala estreia “Grão de Bico”, do grupo teatral o Bando. Momento alto do humor está marcado para o auditório a 19, com o jovem Bruno Nogueira e o jovial Miguel Guilherme a fazerem as delícias da arte de fazer rir com “Como diz o Outro”. Para os amantes da música clássica, o AMO encerra a programação de Maio a 26 com António Rosado ao piano.
Desfiles de moda integram as actividades Numa parceria entre a CJO e o AMO surgem ainda em Maio as “Curtas de Olhão”, antecipação da CAL Mostra de Curtas do Algarve, o grande evento do género na região.
para Ocupação dos Tempos Livres. Saber onde se pode fazer o quê e a quem recorrer em cada caso é o desafio da mostra que decorre a 17 e 20 deste mês e conta com 27 entidades.
A biblioteca à conversa
Notas soltas pela cidade das açoteias
Gonçalo Cadilhe, o escritor viajante, é o homem com quem se pode conversar dia 23 de Maio na Biblioteca Municipal, o mesmo espaço que a 18 recebe um encontro com David Machado. Na senda das letras, lugar ainda para a apresentação da Antologia de Novos Autores de Olhão, com os novos artistas da escrita a darem nas vistas fora das portas da biblioteca. A obra é o resultado de um desafio de escrita lançado à população do concelho e será apresentada no dia 13, na Sociedade Recreativa Olhanense por Adriana Nogueira, da Universidade do Algarve.
Sons para todos os gostos é o que se propõe no mês da juventude em Olhão. O projecto Palco de Talentos mostra os resultados do projecto de formação de bandas de música da CJO, com os grupos a actuarem todas as quintas feiras
na Sociedade Recreativa Olhanense. A cereja do bolo está marcada para dia 25 com todas as bandas a actuarem em conjunto na zona ribeirinha, com a Ria Formosa como pano de fundo. Ainda na área dos amantes da música, espaço para concertos ao vivo nos dias 17, 18 e 19, no Jardim Pescador Olhanense, com propostas a não perder.
cola Secundária. Este ano com uma surpresa extra, os Prémios Floripes, uma aproximação aos Óscares mas direccionado para os jovens de Olhão. Ao longo do mês de Maio a comunidade terá oportunidade de nomear os jovens entre os 14 e 20 anos para as categorias de: teatro, dança, moda, fotografia, desporto, estilo, simpatia, popularidade.
Deportistas e aficionados da mente sã em corpo são
O saber não ocupa lugar
As actividades desportivas em destaque este mês iniciam-se com a III Gala de Artes Marciais Cidade de Olhão, no dia 12, mas Olhão oferece muito mais. Passeios de BTT, de 17 a 20 de Maio, com a secção de BTT dos Leões de Olhão, ateltismo na zona ribeirinha, promovido pelos jogos de Quelfes, dia 20, uma prova de velocidade em Kart, pelo Algarve Indoor Kart Center, no dia 25, e a 2ª prova de dressage, pela associação de Arte Equestre, no dia 27. Os amantes das duas rodas motorizadas têm espaço para dar asas ao convívio na oitava edição do convívio do Grupo Motard Restauração, entre 11 e 13 de Maio. Moda e distinções Quase a terminar o mês, mais uma edição do Miss e Mister Olhão, uma parceria da Casa da Juventude com a Associação de Estudantes da Es-
A CJO mostra os resultados de um ano de trabalho
Lugar a quem apoia a juventude São muitas as instituições olhanenses que se dedicam a apoiar a juventude nas suas mais variadas abordagens e o mérito reconhece-se na 3ª Feira Formativa Profissional e de Actividades
Espaço para o saber e o conhecimento com a quinta edição das Francisquiadas. A Escola Secundária Dr Francisco Fernandes Lopes de Olhão realiza a gala do evento a 16 de Maio no AMO e mostra à comunidade o trabalho de um ano dos alunos. Conhecer a Ria Formosa em barco tradicional, aprender a entender os ventos e as marés, a fauna marítima, as actividades comerciais, as artes de pescas, observar as aves ou contactar com o cão de água é a proposta da Casa da Juventude em parceria com a Rota das Ilhas. Do terceiro ao 12º ano de escolaridade este é o desafio lançado aos alunos do concelho a partir de dia 17 de Maio. A educação para a citadina e a promoção da reflexão cultural, política e social e a participação activa na comunidade, ganham destaque a 30 de Maio na Escola Secundária Dr Francisco Fernandes Lopes, pela mão da CJO e dos alunos desta escola. Sob a orientação da professora Teresa Geraldo a ordem é para reunir e debater.
Espaço para o saber e o conhecimento
“PINTURA DE CARMELITA FALÉ” Até 25 MAI | Antigos Paços do Concelho de Lagos Nasceu e vive em Lagos. Sempre desenhou, tendo pintado até aos 17 anos. Em 1977 fez-se arquitecta e em 2000 volta a pintar, integrando colecções privadas no país e estrangeiro
Nenhuma altura poderia ser melhor para mostrar à cidade e ao concelho o resultado de um ano de trabalho da CJO do que o mês da juventude. Exactamente por isso iniciativas como o Corredor das Artes, Oficinas de Moda e Fotografia, Desenho, Pintura, BD, Artes de Circo ou o Programa de Formação Teatral, de que resultaram a apresentação de quatro peças de teatro a serem vistas nas escolas, no Auditório Municipal e outros espaços da cidade, mostram-se aos olhanenses dando nota da arte dos jovens da terra. “SENSUALIDADES” Até 26 MAI | Galeria Municipal de Albufeira Arlindo Arez, natural de Portimão, vem a Albufeira apresentar uma mostra de escultura em diversos materiais como a madeira, a pedra, o ferro e o bronze
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Cultura.Sul 0 4.05. 2012
património
• VIVÊNCIAS NO ALGARVE - PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL
Que lugar é este que habitamos? FOTOS:
CIIPC/CMVRSA
Quando localmente identificamos e estudamos as manifestações do património imaterial, deverá interessar-nos não a legitimação de algo que hipoteticamente seria “só nosso”, mas pensarmos o que nelas há de particular e de universal, o que distingue a comunidade local e o que partilhamos com a região ou mesmo com o global, o que se mantém e o que foi transformado e alterado. As tradições não são imutáveis, existem e alteram-se nas relações sociais.
Catarina Oliveira
Arqueóloga e investigadora Responsável pelo Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela / Câmara de Vila Real de Santo António
O setestrelo no céu indicando ao pastor a alvorada, bênçãos para o mal de lua, os ouvidos curados com mezinhas de ervas, uma praga, o entrançar da palma, secar e encher os figos, o misterioso poço da moura… tantos elementos de um património ainda vivo nos usos, nas falas ou tão só nas memórias, que nos ajudam a ir ao encontro desse “Algarve antigo e essencial”. Heranças frágeis, valiosas, reveladoras de profundo conhecimento e respeito pela natureza, seus ciclos e matérias disponíveis.
Experiências de salvaguarda com as comunidades
A singularidade do local Há mais de 100 anos surgiram no País, no contexto do movimento romântico europeu, os nossos primeiros etnógrafos, afirmando identidades e qualidades locais a partir do estudo de um património imaterial, ainda longe do actual reconhecimento universal: tipos populares, festas, cantares, adivinhas, contos, usos e costumes. Entre os finais do século XIX e inícios do XX multiplicaram-se, também no Algarve (Ataíde Oliveira, Estácio da Veiga, Estanco Louro…), estudiosos da história e etnografia, provenientes de profissões diferenciadas, padres, médicos, advogados e muitos autodidactas. Movidos pela curiosidade científica e desejos de afirmação regionalista, desenvolvem pesquisas monográficas e levantamentos de lendas, crenças, superstições, falares, botânica, descobrem e escavam estruturas arqueológicas. Acreditavam que se conservava, entre as populações rurais isoladas e menos instruídas, as tradições “mais puras” que definiam o carácter e a “alma da nação”, privilegiavam por isso o contacto directo com o povo. Em Loulé, a presença de Ataíde Oliveira era notada nos mercados entre as gentes humildes. Ao longo do séc. XX as representações da “cultura algarvia” foram redefinidas e colocadas ao serviço de interesses ideológicos, políticos e turísticos. Mais do que compreender a riqueza e diversidade, o dinamismo destas heranças na relação com a história e o território, o processo de patrimonialização e folclorização simplificou, manipulou e criou o “típico”. Contudo, devemos a essa primeira geração de estudiosos um valioso cor-
Crianças entrevistando empalhador de cadeiras na aldeia de Santa Rita pus de registos que conferem profundidade temporal aos estudos actuais sobre o património imaterial e a possibilidade de sairmos da escala local e estabelecer relações comparativas com escalas mais amplas e dinâmicas de transformação. O que nos distingue e aproxima Aquilo que poderemos reconhecer como património imaterial de Vila Real de Santo António são de forma mais evidente as memórias e saberes-
fazeres ligados à pesca e indústria conserveira, ao trabalho da terra e pastoreio no interior, as religiosidades e práticas simbólicas como os banhos santos de final de Agosto na Manta Rota, ou as festas de N. Sra das Dores em Monte Gordo, artes de cura em Santa Rita, artes de entrançar a cana, a palma ou a tabua, lendas de mouras, tesouros e encantamentos, … São também comuns ao Algarve, às vivências entre o mar e a serra, ao histórico reencontro de culturas ancestrais, ao seu imaginário colectivo, ciclos agrários e festivos.
Como pensar e trabalhar localmente estas heranças? Muitas práticas, expressões, representações, conhecimentos e competências remetem, na perspectiva das comunidades locais, para contextos de pobreza e dureza de vida, o que conduz ao não reconhecimento dos patrimónios a preservar. Só um envolvimento efectivo da comunidade nos diversos momentos da salvaguarda permite a consciência de valores internos à comunidade. Em Vila Real de Santo António, especialmente no Centro de Investigação e Informação do Património de Cacela / CMVRSA, têm sido diversas as dinâmicas de identificação, documentação e pesquisa, interpretando e valorizando recursos patrimoniais. O envolvimento comunitário é sustentado também em projectos educativos temáticos. Na verdade, de forma complementar à identificação e investigação, o trabalho de educação e sensibilização para o património temse afirmado como um eixo de intervenção imprescindível. Não apenas levar os mais novos a viajar para tempos idos, para aprenderem como se fazia, como se celebrava ou comia, mas partir
Percurso interpretativo sobre os últimos barcos e artes de pesca em Cacela
do conhecimento dos lugares, de usos antigos e valores patrimoniais (saberesfazeres, contos e lendas, usos, festas, crenças…) para dinâmicas de afectividade com o território, aprendizagem, fruição e intervenção criativa. A par de outras atividades de investigação desde 2006 se concretizaram a partir do CIIPC projetos educativos como “Patrimónios do Nosso Brincar”, uma aproximação ao património lúdico das infâncias e brincadeiras do tempo dos avós a partir de brinquedos populares e das memórias orais; “Mouras Encantadas e Encantamentos no Algarve” a partir de lendas recolhidas por Ataíde Oliveira, e mais recentemente em Cacela; “Velhos saberes, novos fazeres. Atividades profissionais no litoral, barrocal e serra Algarvia”, envolvendo testemunhos materiais e imateriais (memórias, saberes, competências técnicas) relacionados com o trabalho; “Para que servem as plantas? Usos antigos da flora algarvia”, explorando os seus usos na alimentação, medicina popular, artesanato, construção tradicional; e “O que comiam os nossos avós? Alimentação no Sotavento Algarvio”, em curso, dando a conhecer antigas tradições alimentares, na sua ligação ao território, ciclo agrícola e calendário festivo. A metodologia passa pela motivação de alunos e professores com diaporama sobre o tema; concepção e entrega de materiais pedagógicos com vista ao trabalho de pesquisa que as crianças fazem junto dos seus familiares e vizinhos; saídas ao campo, oficinas artísticas e temáticas. A devolução dos resultados à comunidade tem estado na origem de diversas exposições temáticas e edições como o livro “Patrimónios do nosso brincar: brinquedos e jogos das 4 cidades”, o CD interactivo “Mouras encantadas e tesouros” ou o jogo de memória “Para que servem as plantas? Usos antigos da flora algarvia”. Para o público em geral existe uma oferta regular de percursos interpretativos - “Passos Contados”-, conversas, exposições, oficinas onde temáticas ligadas ao património imaterial têm marcado presença: embarcações tradicionais e pesca artesanal, pragas, contos populares, usos da flora, tradições populares ligadas aos astros, práticas alimentares, saberes-fazeres e profissões antigas… Procura-se que os discursos possam desencadear na comunidade local, visitantes e investigadores novas dinâmicas de diálogo, de activação de memórias e avanços no reconhecimento mais profundo do que é o património, em suma, de quem somos.
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Vítor Correia
“Alcalar, um dia na Pré-História”
Espaço ALFA
Luís Costa
Vogal da Direcção da ALFA ‒ Associação Livre Fotográfos do Algarve
Meu refúgio fotográfico de eleição, uma das razões é por ser uma enorme zona natural e não ter a mão do homem a destruir a natureza, por enquanto, pois já se vão vendo umas zonas habitacionais onde não deveriam estar. O Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina abrange o litoral sudoeste de Portugal Continental, no sul do litoral alentejano e no barlavento algarvio em redor do Cabo de São Vicente. Tenho o prazer de conhecer essa costa toda desde Sines até Lagos, fotografando por essas praias afora. Na área do parque encontram-se diversos tipos de paisagens e habitats naturais e seminaturais, tais como, arribas e falésias abruptas e recortadas, praias, várias ilhotas e recifes (incluindo a ilha do Pessegueiro e um invulgar recife de coral na Carrapateira, que ainda não co-
Costa Vicentina é um refúgio fotográfico de eleição nheço pessoalmente), o estúario do Mira, o Cabo Sardão, o promontório de Sagres e Cabo de São Vicente, sistemas dunares, charnecas, sapais, estepes salgadas, lagoas temporárias, barrancos (vales encaixados com densa cobertura vegetal), etc. Das muitas vezes que já percorri esses caminhos, todas essas passagens foram diferentes, tanto a nível fotográfico como de clima, clima esse mediterrânico, mas com forte influência marítima. As temperaturas mantêm-se amenas todo o ano excepto em períodos de ventos de levante, quando estas podem subir ou descer vertiginosamente. O regime de ventos é um importante factor no clima da região. Os ventos dominantes são os do quadrante norte. Por vezes, ocorrem ventos de sudoeste, principalmente no Inverno, enquanto os de levante ocorrem com baixa incidência o ano todo. Nas tardes de Verão são comuns brisas marítimas intensas e carregadas de humidade. O mar apresenta-se, regra geral, mais revolto do que o do Algarve, esse é um dos momentos que gosto de fotografar nessa zona, apreciar o espectáculo das ondas, embatendo nas rochas e parecendo no meio do silencio misturado com o som do mar que ele fala... tentando captar o momento para depois poder trans-
mitir nas fotos o que vi... e também arriscando muitas vezes na aproximação, para estar dentro do momento e tentar o melhor ângulo. Além do mar, a Costa Vicentina é também constituída por uma den-
- planalto litoral, com vegetação mais diversificada, nas dunas, charnecas e áreas alagadiças; - serras litorais e barrancos, mais frescos e húmidos, com densa vegetação arbórea e arbustiva adeando
nidificação em falésias e arribas marítimas é uma característica da área do parque, com destaque para a cegonha-branca, o falcão-peregrino e a gralha-de-bico-vermelho. É o único local do mundo em que as
sa flora e fauna. A flora do Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina distribui-se por três tipos de ambientes geomorfológicos: - barrocal ocidental, no planalto vicentino a sul, com vegetação típica de solos calcários, numa zona de clima seco e quente;
as ribeiras. A Fauna do parque é uma área de passagem para aves planadoras e para os passeriformes migradores transarianos, nas suas deslocações entre as zonas de invernada em África e de nidificação na Europa. É a última área de cria da águiapesqueira na Península Ibérica. A
cegonhas nidificam nos rochedos marítimos. Muitas vezes... que já perdi a conta, chegava para fotografar o nascer e o pôr-do-sol e era fintado pelo tempo, mas devido à imensidão da área e de possibilidades acabava por fotografar a flora e a fauna que é bastante viva.
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Espaço Educação
Ensinar para empreender
destaque
A Escola de hoje é, por excelência, o espaço de vida, de socialização e de formação dos jovens. O professor, inserido neste contexto, é um empreendedor por natureza e constitui o agente determinante na construção dos saberes e de novas competências, cabendo-lhe a missão de preparar os jovens para um futuro exigente, de incertezas, quer nos domínios do trabalho, quer da cidadania ativa e responsável. Integrando as aprendizagens e programas nos objetivos e processos de trabalho, caberá, também, ao professor valorizar o esforço dos seus alunos, analisar os seus projetos e propor metodologias que sejam motivadoras e orientadoras da ação em sentido da sua realização, bem como a avaliação dos riscos e resultados. Incitar e levar os alunos a saírem da sua área de conforto e segurança, comprometê-los com novos desafios e escolhas, numa atitude e prática empreendedora, contribuirá, também, para uma constante procura da qualidade ligada à vontade de inovar e de fazer coisas que ainda ninguém fez. O desafio que se coloca à Escola é o de desenvolver a formação dos jovens, através de propostas pedagógicas inovadoras, capazes de transferir competências básicas em competências empreendedoras e necessárias ao desenvolvimento pessoal e profissional em contextos de incerteza e de risco. Com efeito, o momento económico atual impele para o engenho e criatividade na resolução dos problemas financeiros que se colocam a todos e, em particular, aos jovens na preparação para a sua entrada no mercado de trabalho. É cada vez mais importante educar e formar jovens cidadãos capazes de se adaptarem a um mercado de trabalho complexo e competitivo. O compromisso da Europa, nesta área, surge definido nos princípios do Small Business Act e na Agenda de Oslo sobre a Educação para o Desenvolvimento do Empreendedorismo na Europa, em que os diferentes estados deverão criar um ambiente dentro do qual empresários e negócios familiares possam florescer e que o empreendedorismo seja recompensado. É necessário acalentar o talento
e o interesse pelo empreendedorismo, especialmente nos jovens e nas mulheres. É recomendado, ainda, o desenvolvimento de um espírito inovador e empreendedor entre os jovens, através da integração do empreendedorismo como competência fundamental nos currículos escolares e do devido reconhecimento da importância da formação de professores neste domínio. As escolas, permeáveis aos problemas do mundo que as rodeia, têm vindo a acolher iniciativas e projetos que, integrados na linha estratégica do Projeto Educativo, contribuem para a disseminação de uma cultura
de empreendedorismo, fazendo com que os jovens “rompam”com a cultura de dependência e passividade em relação ao mundo atual e se apropriem da autonomia e competências necessárias para a nova Era, em matéria de emprego. O projeto Empreender na Escola (ENE, 2003) surgiu a partir da reflexão de problemáticas ligadas ao empreendedorismo juvenil, no sentido de proporcionar “uma resposta alternativa aos programas curriculares existentes no ensino secundário português que privilegiasse sobretudo a participação ativa dos alunos e a responsabilização dos mesmos na conce-
“ARTE CONTEMPORÂNEA DA PORTUGAL TELECOM” Até 1 SET | Palácio da Galeria Tavira Tendo como balizas cronológicas os anos 60 do séc. XX e o momento actual, colecção integra trabalhos significativos de autores desse período
ção dos seus próprios percursos”. Esta iniciativa foi aplicada em dez escolas do Algarve e foi considerada pela Iniciativa EQUAL “como o segundo melhor projeto a nível nacional”, tendo sido apresentado em Bruxelas num workshop sobre Empreendedorismo. Como “exemplo inequívoco de sucesso”, foi posteriormente disseminado a nível nacional e a metodologia ENE disponibilizada para utilização dos docentes. O concurso INOVA - Jovens Criativos, Empreendedores para o século XXI, promovido pelo Instituto de Apoio às Pequenas e Médias Empresas e Inovação (IAPMEI), que procura envolver jovens e atividades ligadas ao empreendedorismo, com enfoque na comunidade escolar, levou à participação de dez escolas da região do Algarve. Em 2012, o Prémio Ilídio Pinho com o tema “Valorizar os recursos naturais e locais para a resolução de problemas concretos” conta com a participação de oito escolas do Algarve, em dez projetos, que vão desde o pré-escolar (A diversão está no poupar, no reciclar e no negociar), ao secundário (Combate à desertificação da Serra Algarvia), passando pelos segundo e terceiros ciclos (Libertando-se das sombras da penúria – projeto de recuperação do solo algarvio, recorrendo a técnicas de permacultura, entre outros projetos). A Rede nacional de mediadores de capacitação para o sucesso escolar,
programa promovido pela EPIS (Empresários pela Inclusão Social), com envolvimento das autarquias e Ministério da Educação, centrou a sua ação no combate ao insucesso e abandono escolar, fundamentandose na forte convicção de que este é o ponto de partida para o desenvolvimento individual de todos os jovens, com vista à sua inclusão social e tendo por aspiração a construção de um modelo coletivo de cidadania moderna, através da prevenção e da remediação de fatores de risco dos alunos e famílias, da promoção de fatores de proteção e através da indução de fatores externos de sucesso nas organizações escolares. A sul do Tejo, apenas duas escolas do Algarve aderiram a esta iniciativa. Mais recentemente, a EPIS tem vindo a dinamizar um conjunto de encontros/seminários propondo, à comunidade educativa e à sociedade civil, um debate sobre as competências de aprendizagem dos cidadãos e profissionais, dos pais e alunos, dos professores e líderes das escolas. Neste âmbito, realizou-se no dia 11 de abril, em Faro, um Seminário com o objetivo de dar a conhecer a metodologia do projeto EPIS, promover a reflexão crítica e perspetivar o alargamento da rede de escolas, tendo em vista a efetiva consolidação da inclusão social. Este evento, integrado no 1º Encontro Regional de Educação Algarve/Alentejo, foi promovido pela Direção Regional de Educação do Algarve e contou com a participação de professores, autarquias e associações de pais. Estiveram em análise as políticas promotoras de sucesso escolar e a construção de novos caminhos, a reflexão de novas abordagens, com impulsos de inovação e de trabalho colaborativo, contribuindo para a formação dos participantes, instigando e fomentando neles a postura empreendedora. O encontro evidenciou o papel da Escola na construção da interface do mundo que a rodeia e integra e, ainda, que os movimentos nela gerados terão que produzir a energia necessária à mudança, permitindo que cada agente, carregado do potencial adquirido, se coloque no trilho do desenvolvimento para um mundo melhor.
“ASPECTOS HISTÓRICOS DOS MOVIMENTOS FEMINISTAS” Até 8 M AI | Biblioteca Municipal de Monchique A presente exposição mostra a evolução da Mulher e as lutas que foram travadas pela sua emancipação
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Quotidianos poéticos
Lídia Jorge
Algures num espaço e tempo do Algarve, a vida e a paisagem intrometeram-se na ficção de Lídia Jorge
Pedro Jubilot
pjubilot@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt
Lídia Jorge nasceu em Boliqueime em 1946. Em 1980 lançou o seu primeiro livro ‘O Dia dos Prodígios’. Este romance terminado pela autora em agosto de 1978, teria forçosamente que nomear o mais marcante, e então recente facto, da história. Faz-se assim alusão à revolução dos cravos: «não sabe ainda que em Lisboa os soldados fizeram uma revolução para melhorarem a vida de toda aquela gente(…) afirmam a pés juntos que só há música, flores e abraços. Dizem.»; e também à guerra colonial: «Guerra, que guerra? Oh gente ignorante, será preciso ter um filho, ou um afilhado no serviço, para se poder falar nessas coisas sem dar explicações». Mas para além das mudanças centrais/gerais, as personagens inquietam-se com as mudanças regionais/pessoais nos usos e costumes, referindo-se a produtos locais, objetos do dia-a-dia, as transformações observadas na relação com a natureza ou consigo próprias…: «Antes o arreeiro trazia outro peixe(…) toda a gente só falava da frescura dele. (…) Antes mesmo em Agosto, não me fazia impressão o lenço. (…) Antes bebia-se mais Lagoa, porque nesta venda falava-se de coisas simples.(…) Agora pouco se interessam pelo meu bandolim. Parece que andam a ouvir outra música. (…) Antes o raio das cigarras calavam-se quando eu passava calçado.(…) Agora parece que os bichos já não têm medo das pessoas.(…) Antes eu ficava a dormir nos dias minguados, mas agora o meu sono é de pedra». A própria vivência pessoal e familiar da autora na sociedade rural do barrocal algarvio dos anos sessenta, dá-lhe o poder de espetadora privilegiada, que lhe permite escrever algo remanescente da infância como: «(…)crianças que se empoleiraram antes do meio-dia. Comendo pães com azeite e açúcar. Sobre os escombros das casas contíguas(…)»; ou o lembrar das histórias e crenças que sempre impressionam as crianças: «antes dos meus avós isto aqui era um deserto. Só havia ali na curva do rio um moinho velho, onde de noite, apareciam medos». O mais provável é que nunca as gentes do barrocal tenham sido tão
O Dia dos Prodígios foi o primeiro romance de Lídia Jorge, publicado em 1980 bem descritas no seu meio arcaico como nestes prodigiosos dias em que Lídia Jorge lhes escreveu as rotinas. Como é o caso das mulheres : « (…)de preto, chapéu e lenço, pernas magras, cruzadas, dedilhando baracinhas de palmas na boca e nas unhas. Uma fieira delas sentadas sobre o banco de pau e pinho. A última abana-se com um lencinho nas mãos». Ou no modo como as pessoas se relacionam na sua pequena comunidade abandonada (já muito reduzida pela emigração) e um pouco isolada do mundo: «Ah que linda missa. A gente sente o coração lavadinho. Tenho a garganta apanhada de cantar a miraculosa rainha dos céus.»; e mesmo com os animais «(…) uma revoada de cães que se cheiravam puseram as patas no portal. E a taberneira disse. Xô canzoada.(…) ergueu um pau que lhe ficava à mão, e mesmo sem se levantar enxotou os cães. Ladrem nos montes, seus perros». Embora com o nome ficcional de Vilamaninhos, o espaço onde a ação decorre revela-se muito real aos olhos dos seus leitores, sobretudo os que conhecem as pequenas aldeias da região.
Mas mesmo os que não a conhecem muito bem conseguem captar a imagem como se de um filme antigo se tratasse: «(…) das paredes, espessas como muralhas. Montões de pequena argamassa saibrosa, de pedras caliças redondas como de valado, ajoujadas sob o peso das grandes coberteiras talhadas pela língua de um alferce de cavador. (…) e as casas a aparecerem resplandecentes de musgo e sombras de antiga cal». A escritora também refere outros elementos constantes da paisagem algarvia, herdados de civilizações antigas, como a árabe: «o poço tão fundo e tão estreito (…) mesmo assim, porque os mouros o fizeram. De outra forma, ter-se-ia morrido de sede assim que o rio secou». Caricata parece a estranheza das populações serranas aos novos meios de transporte: «E muita gente quando voltava de Faro vinha amarela e tonta como se (…) acabasse por dar uma volta ao mundo inteiro. A camioneta era verde e cinzenta, e todos os que sabiam ler diziam chamar-se Eva». Também a natureza marca presença quer através do mais rico dos frutos:
«(…) na aba de uma figueira frondosa, prenhe de figos irisados e granitosos que àquela hora do meio-dia abriam o olho, derretendo um pingo de melgaço.»; ou através das mal-amadas flores de malva: «(…) dos vasos e das latas onde estão plantadas. Cor de fogo. Nesses nem é preciso o cuidado da água. As malvas crescem como ervas daninhas. Sem criação.» Por outro lado a riqueza linguística característica do Algarve é usada na caracterização das personagens através do seu modo de falar: «Só que em tu começandes a almarear. A almarear e a olhar de revés. Já ninguém tem mão na tua natureza». Há coisas e lugares sobre os quais não se pode escrever, sem as termos vivido, vivenciado, observado, visitado ou lá ter estado. O barrocal algarvio tal como outros lugares encravados no tempo é um deles. ‘O Dia dos Prodígios’, de Lídia Jorge, é a sua caracterização por excelência, ainda mais porque a ação está ali naqueles importantes anos antes da revolução de Abril em 1974. Isso é o suficiente para que nenhum algarvio deixe de ler esta obra ímpar. Ao mesmo tempo que continua a ser um dos mais importantes livros da literatura portuguesa contemporânea, do qual ficou célebre a seguinte passagem: «Ninguém se liberta se não quiser libertar-se. (…) Como ninguém sabe ler os sinais, ficam todos pelos lamentos das coisas.»… tão local como universal, tão antiga como atual.
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livro
Daan. Um cão português com patinhas de veludo Adriana Nogueira
Classicista Professora da Universidade do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com
Já passava eu dos trinta anos quando um amigo encontrou uma gatinha abandonada e a levou para minha casa, para que tomasse conta dela, e tinha os quarenta feitos quando encontrei a cadelinha que é hoje a menina dos meus olhos. Nunca tinha tido um cão; porém, ao ver aquela bichinha tão magra, tão magra, à beira da estrada, não resisti, parei o carro e adotei-a. Sou, portanto, uma quase recém-chegada a este mundo dos amantes de animais, mas estou completamente rendida: tenho cães, gatos e aves. Posto isto, é natural que um livro sobre cães me agrade. Acabado de sair na Bertrand Editora, Daan, com o subtítulo «Um cão português com patinhas de veludo», não é bem um livro sobre cães em geral, mas sobre um cão em particular – Daan, um spaniel bretão (épagneul breton, épagneul bretão), que acompanhou Tessa de Loo (escritora holandesa residente nesta região) durante vários anos, e algumas das aventuras que viveram juntos. Na verdade, em algumas delas, Daan torna-se, discretamente, um figurante para deixar brilhar uma paisagem, um outro cão, ou para nos mostrar o caráter dos humanos que o rodeiam. Muitas vezes, Daan é um pretexto literário. Divididas em 20 capítulos de tamanho desigual, mas nunca muito grandes, pelas 219 páginas do livro passam cães, cadelas, gatos, gente nova e menos nova, boa e menos boa, cidades, aldeias, aeroportos, veterinários, jardins, serras, ribeiras, lagoas, praias, enfim, fragmentos de quotidianos de uma escritora e do seu cão. Sim, a narradora das histórias é uma escritora holandesa que vive no Algarve, mas, apesar de sabermos a «coincidência» de alguns factos entre a autora e a narradora (assumida na contracapa), é importante estarmos atentos ao facto de que estamos perante uma obra literária e fazer por não cair na tentação de, porque o espaço é o Algarve, procurar sempre na escrita as marcas de veracidade (distraindo-nos e não saboreando devidamente a história). Podemos, contudo, ser um pouco «voyeurs literários», descortinando no texto tessituras da vida real, sem nos esquecemos de que uma das belezas da literatura é conseguir levar-nos para o seu mundo, independente da vida que existe para além das letras
Livro conta história de amizade entre a escritora Tessa de Loo e o cão português Daan impressas no papel. Os espaços Dar conselhos é fácil, mas confesso aqui a minha fraqueza: quando leio um livro biográfico ou com toques de biografismo, fico com vontade de visitar os espaços aí referidos. É um gosto meu. Correndo o risco de nada disto existir (ou, pelo menos, não como nos é descrito – o que é uma prerrogativa de escritor), ou de não ser tão idílico (facto para o qual a narradora também nos chama a atenção), admito que fiquei com vontade de visitar «uma pequena ribeira pouco profunda, rodeada por caniços: a ribeira do Algibre. De água cristalina e com o leito forrado por seixos redondos das cores que têm as pedras por aqui. Uma delícia de paisagem» (p.143); também me apeteceu ir conhecer um outro espaço (do qual já vi fotografias e que não será longe de onde moro): «No interior de Tavira existe uma modesta maravilha natural que dá pelo nome de Pego do Inferno. Um pequeno rio precipita-se da altura de cerca de uma dezena de metros numa bela lagoa arredondada, de cor turquesa, rodeada por árvores vetustas e bambus» (p.136); confesso ainda que gostaria que a sábia Dona Cândida, provavelmente agora já nos seus 80 anos, me mostrasse o caminho para o Castelo, me indicasse a pedra milagrosa e me deixasse ver os inexplicáveis peixes no fundo de uma caverna: «Reparei que existia uma cavidade por baixo da parede rochosa.
Eu e a minha amiga inclinámo-nos para a frente e, na semiobscuridade, vimos que aquilo era um tanque cheio de água cristalina. E nele havia peixes a nadar (…). Água, ali, numa região seca, onde, por vezes, não caía uma gota durante seis meses? Numa rocha? E ainda por cima, com peixes? Ficámos abismadas. (…) Peixes no cimo de uma colina, num buraco da rocha – de onde teriam vindo? Como sobreviveriam? A que estariam ligados? Não teriam inimigos naturais?» (p.167-168). E fiquei com vontade de voltar à serra: «A principal atração de Alte é a nascente de um pequeno rio. É daí que brota água cristalina por entre as pedras. É uma bênção nesta região que, no verão, é atormentada por fortes secas. Nos anos cinquenta foi construído um passeio público ao longo do pequeno rio, ladeado por plátanos e ciprestes» (p.85). Nós e os outros/ os outros e nós Quando lemos um livro estrangeiro, em que a ação se passa em qualquer país que não conhecemos, nem pensamos como se sentirão os que aí são retratados. Quando o autor é português e escreve sobre portugueses, podemos concordar ou discordar das suas ideias, mas damos-lhe esse direito. Agora, quando um estrangeiro escreve sobre gentes e espaços portugueses, toda a nossa atenção se concentra para ver se, nas entrelinhas ou diretamente, está a dizer bem ou mal. É curioso ver como a narradora não se preocupa com isso e
rodar sobre si mesmo, veloz como um raio, para me impedir. (…) Eu mudava de estratégia e escapava-me furtivamente para trás dele, para tentar agarrar-lhe a cauda fora do seu ângulo de visão. Ele fingia que não se apercebia, mas quando eu estava prestes a conseguir o que queria, virava-se, dando uma volta de 180 graus, e eu voltava a falhar» (p. 141); é bom parceiro em passeatas pelos campos, descobrindo caminhos impossíveis de encontrar por humanos, e «um companheiro de viagem perfeito. Não desejava partilhar continuamente as suas impressões connosco e concordava sempre com o itinerário a seguir (p. 197)». É ele que afugenta um ladrão que ia roubar a casa e protege a sua dona. Ao ler este livro, lembrei-me de uma reflexão de Konrad Lorenz. Este prémio Nobel da Medicina/Fisiologia em 1973, considerado o fundador da nova etologia (o estudo do comportamento animal no seu ambiente natural e não em laboratório) escreveu um livro, em 1950, intitulado E o homem encontrou o cão, onde afirma (na p.189 da edição portuguesa, de 1997, da editora Relógio d’ Água): «O facto de o meu cão me amar mais do que eu o amo a ele é inegável, e enche-me sempre de um certo sentimento de culpa. O cão está sempre pronto a dar a sua vida pela minha. Se um leão ou um tigre ameaçassem atacar-me, [todos os meus cães] ter-seiam, sem um momento de hesitação, lançado numa luta inglória para defender a minha vida, nem que fosse apenas por breves segundos. E eu?»
• DA MINHA BIBLIOTECA
diz o que tem a dizer das personagens, sejam elas portuguesas ou holandesas: as pessoas são o que são. Daí ser um ponto de interesse os olhares que vai lançando sobre os outros e, até, sobre si própria. Daan e os outros Além de Daan e da sua dona, cruzam-se com eles alguns animais e outros tantos humanos. Mas Daan é, sem dúvida, o ser mais doce desta história: é um amoroso para a sua namorada, uma cadelinha com quem esburaca o jardim de casa, numa solidariedade imensa; é brincalhão com a sua dona: «quem julga que os cães não possuem sentido de humor, engana-se. Quando eu fingia que queria agarrar-lhe a cauda, ele começava a
Antologia de Novos Autores Olhanenses
A Casa da Juventude de Olhão e a Câmara Municipal da mesma cidade editaram um pequeno livrinho, de 76 páginas, com poemas, contos, pranchas de BD, de 12 autores, com idades compreendidas (pelo que consegui apurar), entre os 16 e os 68, tendo como condição serem «nascidos ou a viver em Olhão, sem trabalhos publicados nas modalidades que integram esta antologia», como se lê na contracapa. Este mosaico de contribuições revela-se muito interessante e justifica uma leitura atenta. No dia 13 de maio, às 18 horas, na Sociedade Recreativa Olhanense, partilharei alguns comentários convosco.
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Espaço Cultura
Tempo de reflexão O Teatro das Figuras, em Faro, acolheu nos passados dias 28 e 29 de abril, as “I Jornadas de Teatro Amador do Algarve”, uma iniciativa conjunta da Direção Regional de Cultura do Algarve, do CIAC – Centro de Investigação em Artes e Comunicação da Universidade do Algarve, do Teatro Municipal de Faro E.M. e da A Peste – Associação de Pesquisa Teatral. O encontro, organizado em mesas temáticas e ‘masterclasses’, procurou reunir o maior número possível de membros de grupos de teatro do Algarve, disseminados por toda a região, e envolver o público em geral. Possibilitando a troca de opiniões e experiências, constituiu uma oportunidade de refletir, nomeadamente, sobre as relações entre o teatro amador e o teatro profissional, a importância da formação no desenvolvimento da atividade, os recursos de financiamento das atividades e equipamentos, a relevância do trabalho em rede, ou os constrangimentos sentidos na área da produção. Na sessão inaugural, deram as boas vindas aos participantes a diretora regional de Cultura do Algarve, o diretor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais em representação
António Pina Convida
José Viegas
Gestor Cultural e Coordenador Principal da Unidade Técnica de Comunicação, Cultura e Turismo da Câmara de Lagos
destaque
Num país, e numa região, onde se vive uma profunda crise, não só económica mas também de valores, são diversas as convulsões e as mudanças a que assistimos na sociedade. No setor do turismo, os paradigmas das décadas de 80 e 90 estão claramente ultrapassados perante a emergência de uma nova filosofia,
FOTO: RICARDO CLARO
José Louro é um dos mais profundos conhecedores da realidade do sector na região da Universidade do Algarve e o presidente do Conselho de Administração do Teatro Municipal de Faro E.M.
O encontro contou com a participação de atores, investigadores e gestores das artes cénicas. Na sessão
de abertura marcaram presença Fernanda Lapa, atriz e actual diretora do Departamento de Artes Cénicas da
Universidade de Évora, e José Louro, professor, encenador e profundo conhecedor do teatro que se faz no Algarve. A moderar as várias mesas temáticas estiveram os professores e investigadores da UAlg, Mirian Tavares, Pedro Ferré e Vitor ReiaBaptista, o programador do TMF E.M, João Carrolo, a administradora executiva do TMF E.M, Anabela Afonso, e a produtora Cristina Braga. Na sessão de encerramento intervieram a atriz Manuela de Freitas, a professora e investigadora Eugénia Vasques e António Branco, diretor da Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da UAlg, que fizeram uma reflexão crítica sobre os dois dias de debates. A Direção Regional de Cultura do Algarve produziu um levantamento dos grupos de teatro (profissional, amador e escolar) com atividade na região, com base nos elementos do Diretório Algarve Cultural (uma edição da DRCAlg, de 2006), que tem vindo a atualizar. Presentemente, existem cerca de meia centena de grupos de teatro no Algarve, na sua maioria amadores, e quatro companhias profissionais. Direção Regional de Cultura
Cultura e Turismo Criativo como paradigmas do desenvolvimento para o Algarve designada por turismo criativo, apontado como um estado mais avançado do turismo cultural, e onde a criatividade e a interatividade estão sempre presentes, quer na fase de produção do produto, quer durante o seu consumo. O Algarve, mercê da sua história e de um rico património, móvel e imóvel, bem como do investimento crescente efetuado no domínio da cultura nos últimos anos, em especial na defesa e recuperação do património histórico edificado, na construção e apetrechamento de equipamentos culturais mas igualmente no apoio à criação e à produção artística e na organização ou participação em grandes eventos, dispõe de uma oportunidade única que passará por uma nova abordagem da dinâmica existente na região, assim como na gestão destes
espaços históricos e culturais, mais centrada na experiência e nas motivações do visitante, seja ele local, regional, nacional ou internacional. A cultura afirma-se, pois, como uma alternativa mas também um complemento aos produtos turísticos tradicionais, e um importante instrumento no combate à sazonalidade, assumindo esta particular relevância para os visitantes que, ao contrário do passado, demonstram uma tendência clara para estadias de curta duração, beneficiando, entre outros, da democratização e incremento das viagens “low cost”. O novo turista está longe de se contentar com o tradicional “Sol e Praia”, e procura cada vez mais experiências autênticas, educativas e de entretenimento, que proporcionem o seu desenvolvimento pessoal e a aquisição de novas competências.
“FADO COM CUCA ROSETA” 18 MAI | 21.30 | Centro Cultural de Lagos Cuca Roseta é uma das mais aclamadas vozes da nova geração do fado. O seu disco homónimo de estreia, editado no ano passado, foi produzido por Gustavo Santaolalla, prestigiado produtor detentor de vários grammy’s e dois óscares de Hollywood
Este apresenta-se mais consciente e conhecedor dos padrões de qualidade, procurando a autenticidade, o tradicional mas também o moderno, numa busca constante de iniciativas que lhe permita quebrar a rotina e intensificar as suas experiências durante a viagem, combinando ações mais exigentes com outras mais relaxadas na área da “saúde e bem estar”. Este tipo de experiências personalizadas e individualizadas, em alternativa aos produtos “fast food” produzidos em série, de forma homogénea, e sem identidade definida, são uma garantia para um turista mais instruído, mais exigente e mais experiente e que, acima de tudo, pretende ser mais participativo. Neste sentido, a cultura, o património e as indústrias criativas afiguram-se como fatores de desenvolvimento económico e social, pelo que
importa definir uma nova estratégia estruturante de crescimento para o Algarve, de diversificação dos produtos e da oferta turística, de forma segmentada, inovadora, personalizada e flexível, alicerçada na cooperação efetiva entre os municípios e os responsáveis pelas políticas de desenvolvimento na região, as universidades, os agentes económicos e culturais, as empresas e os diversos players a atuar no setor do turismo. Só remando no mesmo sentido será possível garantirmos níveis elevados de desenvolvimento económico, social e cultural, com vantagens diretas para o aumento de receitas, para a criação do emprego, reforço da imagem externa, bem como para a valorização do património, da cultura e da identidade desta região, enquanto destino turístico de excelência.
“SUPERBANDS” 6, 13, 20 e 27 MAI | 22.30 | Casino de Monte Gordo Um espectáculo irreverente com a banda sonora inspirada na música das maiores bandas de rock de todos os tempos “The Doors”, “Beatles”, “Queen” e “Rolling Stones”