Cultura.Sul47Julho

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José Eduardo Agualusa

Derrapagens da Memória

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JUL | 2012 • Nº 47 • Mensal • O Cultura.Sul faz parte integrante da edição do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente

Quatro anos em prol da cultura Edição especial de aniversário

JULHO • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO www.issuu.com/postaldoalgarve

9.511 EXEMPLARES


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Cultura.Sul

06.07.2012

Um espaço que dá relevo a uma fonte de actividade literária que fervilha, muitas vezes, à margem dos circuitos convencionais.

blogosfera

Jady Batista

Ter Razão Henrique Dias Freire Editor do CULTURA.SUL

Cultura.Sul comemora 4º aniversário Já lá vão quatro anos que mensalmente os algarvios têm acesso ao Caderno de Artes e Ideias Cultura.Sul através do jornal POSTAL e distribuídos nas bancas algarvias em conjunto com o PÚBLICO, tendencialmente, todas as primeiras sextas-feiras de cada mês. Nesta difícil odisseia de já termos dados à estampa 47 edições, o especial agradecimento vai para todos os nossos actuais colaboradores e aos muitos outros que deram a sua prestigiada colaboração num projecto único na região. Esse empenho e espírito de abnegação, em prol de uma causa maior que é de todos e para todos, tem feito do Cultura.Sul uma referência entre os medias regionais de índole cultural do nosso país. Têm sido várias as personalidades, entidades e instituições culturais que têm dado corpo a um projecto independente que tem procurado dar voz à região, afirmando-se junto dos vários agentes culturais e da população em geral. Tem havido uma preocupação crescente em não nos deixarmos cair na tentação do elitismo fácil onde os interlocutores apenas se relacionam entre eles e pouco mais. É vital incentivar e dar voz aos criadores das várias áreas artísticas. É essencial que a nossa região saiba aproveitar e valorizar a nossa entidade cultural.

Ficha Técnica Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire

1. Eu quero acreditar que ambos temos razão... O contrário seria considerar que pelo menos um dos dois seria um símio! 2. Ok... mas eu já ouvi o teu ponto de vista... julgo mesmo que já o entendi! Mesmo antes de o entender já o tinha aceite. Mesmo depois de insistires em repeti-lo, por me acusares de não te estar a entender... eu voltei a ouvir-te, sem retorquir que serias tu que não te estavas a fazer entender e não eu que não estaria a perceber. Porém... isto não implica que eu desista da minha visão das coisas... que abdique dela

em beneficio da tua! Aliás eu consigo viver com a minha opinião e com a tua. Não me incomoda que as duas coexistam. Não te chega que te aceite? 3. Há pessoas que por estarem tão cheias de si próprias não têm espaço disponível para mais nada... Agora, não façam de mim seu vasilhame! 4. Ok... tens toda a (tua) razão! Blog: http:// omeuegoemaiorqueovossorabo.blogspot.pt Postagem: http://www.omeuegoemaiorqueovossorabo.blogspot.pt/search/label/ RAZ%C3%83O

Espaço CRIA

Registar marcas em época de crise…?

Natércia Pereira

Colaboradora do Gabinete de Apoio à Promoção da Propriedade Industrial, CRIA, Universidade do Algarve

No atual contexto, em que, diariamente, assistimos ao fecho de empresas, o que justifica a necessidade de se registarem marcas? O que motiva os empresários a protegerem as suas marcas, se este registo não constitui nenhuma imposição para exercer uma atividade? Para quê incorrer neste custo “acessório” quando tantos outros custos e obrigações batem à porta dos empresários todos os dias? Porquê registar marcas

Paginação: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: » blogosfera.S: Jady Batista » livro.S: Adriana Nogueira » momento.S: Vítor Correia » panorâmica.S: Ricardo Claro » patrimónios.S: Isabel Soares

se não é o registo que dá a qualidade ao produto ou ao serviço? A resposta é simples. Porque o custo de não as registar pode ser muito superior ao de registar. Porque a concorrência é feroz num mercado com recursos cada vez mais escassos. Porque a concorrência é global. Porque o consumidor é cada vez mais exigente e pondera melhor onde aplica o seu dinheiro. Porque a qualidade não é garantida com o registo mas, se existir, é facilmente identificada. Porque o consumidor é emotivo. Todos nós somos diariamente “bombardeados” com marcas desde o momento em que nos levantamos até ao deitar. Tomamos decisões sempre que decidimos adquirir um produto/serviço para o nosso consumo próprio. E se escolhemos aqueles e não outros é porque alguma vantagem trará para nós e conseguimos identificar essa vantagem. Pois bem, é aí que a marca se impõe. Não conseguiríamos fazer as melhores opções se não conseguíssemos identificar os produtos através das suas marcas, não conse-

guiríamos identificar aqueles que melhor qualidade/utilidade têm para nós, não conseguiríamos alimentar o nosso ego e ser fiéis àquilo que gostamos… É grande o poder que as marcas assumem! As empresas enfrentam hoje grandes dificuldades a vários níveis, e para vencer num mercado global é necessário não descuidar alguns aspetos: a proteção de marcas, logótipos ou outros sinais poderá ser, para muitas, a única forma de se promoverem e valorizarem e, por isso, deverá ser encarada como um investimento e não como um custo como tantos outros. A proteção destes ativos intangíveis justifica-se não só pela valorização do esforço financeiro e intelectual de se criar algo novo, permitindo à empresa/empresário o direito exclusivo de exploração ou comercialização de determinados produtos, como também pelo direito de impedir terceiros de utilização indevida de direitos registados. Para além de que o registo também pode servir à própria empresa como garantia de que não está a violar di-

reitos atribuídos a outras pessoas (singulares ou coletivas), que lhe são desconhecidos e que por isso não teria intenção de infringir. Neste âmbito, a Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia – CRIA da Universidade do Algarve, através do seu Gabinete de Apoio à Promoção da Propriedade Industrial (GAPI), tem procurado apoiar os empresários, empreendedores, inventores e criadores no registo dos seus direitos de propriedade industrial, com vista à valorização das suas atividades. O esforço tem sido notório e os resultados começam a surgir, seja pela criação de novas empresas de base tecnológica, assentes em patentes de invenção, seja pelas empresas já existentes que procuram inovar em novos produtos, processos, novos serviços ou novos mercados (ex. internacionalização). A propriedade Industrial deverá ser utilizada em prol da estratégia empresarial, seja ela de que natureza for!

Colaboradores: AGECAL, ALFA, CRIA, Cineclube de Faro, Cineclube de Tavira, DRCAlg, DREAlg, António Pina, Pedro Jubilot. Nesta edição: Carlos Gama Cruz, Luís Guerreiro, Natércia Pereira e Patrícia Batista

Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve

on-line: www.issuu.com/postaldoalgarve

e-mail: geralcultura.sul@gmail.com

Texto elaborado ao abrigo do novo acordo ortográfico.

Tiragem: 9.511 exemplares


Cultura.Sul

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cinema Cineclube de Faro

Noites de verão! Cinema ao ar livre sempre foi uma tradição do Cineclube de Faro. Antes do 25 de Abril, usando a mais ampla esplanada de cinema ao ar livre da Península Ibérica – o Cine-Esplanada São Luís Parque, ao pé do Mercado Municipal. Depois do 25 de Abril, de uma maneira regular a partir dos anos 80. Andámos nestes quase últimos 30 anos um pouco com a casa às costas, mas o mais mágico local sempre foi aquele em que a Mostra vai decorrer este ano: os Claustros do Museu Municipal. E será mesmo o Melhor Cinema ao ar livre, por duas razões: a primeira, porque é uma bela seleção do que melhor estreou este ano no nosso país; a segunda, porque passou a ser a única no Algarve, nestes moldes, depois de os nossos colegas do Cineclube de Tavira se terem visto obrigados a anular as duas que tinham previsto – no que consistia o mais significativo evento cinematográfico do verão algarvio! – por falta

PROGRAMAÇÃO

www.cineclubefaro.com O MELHOR CINEMA AO AR LIVRE CLAUSTROS DO MUSEU MUNICIPAL DE FARO ¦ 22 horas ¦ Preço por sessão: Sócios 2€, Estudantes 3,5€, outros 4€ ¦ Passe para os 10 dias: sócios 15€; não-sócios 25€ 16 JUL ¦ Em Câmara Lenta, Fernando Lopes, Portugal, 2011, 71, M/12. Presença de Maria João Seixas, presidente da Cinemateca Portuguesa

de apoio da respetiva Câmara Municipal. A eles a nossa solidariedade, o nosso apreço e a nossa esperança de que para o ano possam voltar. Quanto a quem seja de Faro ou por cá passe, que possam aproveitar dez fabulosos filmes, de diferentes géneros e origens, com a chancela da qualidade da programação do Cineclube de Faro!

Uma exposição evocativa de Fernando Lopes, o insigne realizador recentemente falecido, inaugurada pela sua viúva e presidente da Cinemateca Portuguesa, Maria João Seixas, no dia 16 de Julho, bem como uma Feira do Livro com publicações de cinema, acompanharão os filmes. Sejam pois muito bem-vindos a tudo isto!

17 JUL ¦ Um Amor de Juventude, Mia Hansen-Løve, França/Alemanha, 2011, 110 , M/12 18 JUL ¦ Rafa, João Salaviza, Portugal, 2012, 25 + NANA, Valerie Massadian, França, 2012, 68 , M/12 19 JUL ¦ A Minha Semana com Marylin, Simon Curtis, Reino Unido/ EUA, 2011, 99 , M/12 20 JUL ¦ Shame, Steve McQueen, Reino Unido, 2011, 101, M/18

23 JUL ¦ Midnight in Paris, Woody Allen, EUA/Espanha, 2011, 100 , M/12 24 JUL ¦ A Vingança de uma Mulher, Rita Azevedo Gomes, Portugal, 2012, 100 , M/12 25 JUL ¦ Melancolia, Lars von Trier, Dinamarca/Suécia/França/ Alemanha, 2011, 136, M/12 26 JUL ¦ O Cavalo de Turim, Béla Tarr, Hungria/França/Alemanha/ Suécia, EUA, 2011, 146, M/12 27 JUL ¦ A Invenção de Hugo, Martin Scorsese, EUA, 2011, 127 , M/12 16 a 27 JUL ¦ Exposição evocativa de Fernando Lopes

Cineclube de Tavira

Julho sem Mostras mas com cinema

destaque

É com enorme desgosto que o Cineclube de Tavira se viu obrigado a cancelar a 13ª edição da Mostra de Cinema Europeu e 8ª edição da Mostra de Cinema Não-Europeu, que estavam previstas para o Verão de 2012. O cancelamento significa um lamentável retrocesso na vida cultural de Tavira, e será certamente uma desilusão para os milhares de visitantes e apoiantes (nacionais e estrangeiros) dos eventos. O cancelamento justifica-se pela ausência de uma resposta atempada da autarquia tavirense às nossas cartas e aos projectos dos eventos, que começaram a ser comunicados à edilidade, pelas vias formais, há três meses. Os nossos sucessivos pedidos de reunião resultaram infrutíferos até ao início deste mês, quando já era tarde demais para iniciar o moroso processo de organização das mostras. Por outro lado, a precária situ-

PROGRAMAÇÃO

www.cineclube-tavira.com 281 320 594 ¦ 965 209 198 ¦ cinetavira@gmail.com

SESSÕES REGULARES Cine-Teatro António Pinheiro ¦ 21.30 horas

22 JUL ¦ The Artist (O Artista), Michel Hazanavicius, França/Bélgica 2011 (100 ) M/12

8 JUL ¦ Les Femmes du 6ème Étage (Os Encantos do 6º Andar), Philippe Le Guay, França 2010 (104 ) M/12

26 JUL ¦ Hadewijch, Bruno Dumont, França 2009 (105 ) M/16

12 JUL ¦ Michael, Markus Schleinzer, Áustria 2011 (96 ) M/18 15 JUL ¦ The Avengers (Os Vingadores), Joss Whedon, E.U.A. 2012 (142 ) M/12 19 JUL ¦ Cosmopolis, de David Cronenberg, França/Canadá/Portugal/Itália 2012 (108 ) M/16

ação financeira da nossa associação não permite que a mesma suporte sozinha os custos inerentes à realização destes eventos.

Apesar das razões invocadas serem totalmente alheias ao Cineclube de Tavira, sentimos que é nosso dever pedir-vos desculpa pelo incómodo.

“À DESCOBERTA DO MEU ESTILO” Até 14 JUL | Galeria Municipal de São Brás de Alportel Exposição de pintura revela o percurso de Caetano Ramalho pelo mundo das artes, numa descoberta contínua de estilos e paixões artísticas

Durante este mês de Julho continuamos com as nossas sessões semanais no Cine-Teatro António Pinheiro, pelo menos dois títulos teriam sido

29 JUL ¦ Intouchables (Amigos Improváveis), Olivier Nakache & Eric Toledano, França 2011 (112 ) M/12

integrados no programa da Mostra de Cinema Europeu. Por motivo de descanso dos funcionários, no mês de Agosto não haverá sessões.

“NOITES AO PIANO” 7 JUL | 22.30 | Casino de Vilamoura Rita Guerra sobe ao palco do Casino de Vilamoura para apresentar um concerto a solo em formato acústico, durante o qual a cantora cria uma atmosfera musical intimista e exclusiva


Cultura.Sul

06.07.2012

Ricardo Claro

Especial Aniversário

• Estudo sobre Cultura, Criatividade e Turismo

Programa Knowing analisa Economia do Conhecimento A Economia do Conhecimento é hoje definitivamente entendida como uma área fundamental na análise da evolução, potencialidade e riqueza de um país ou região. Não obstante, a mensurabilidade do peso da Economia do Conhecimento na economia real é ainda difícil, dado o estado embrionário da evolução dos estudos e resultados científico-estatísticos disponíveis sobre a matéria. Se esta realidade é um facto um pouco por toda a Europa, em Portugal é, mais do que uma dificuldade, um problema. A resposta à necessidade de saber o peso da Economia do Conhecimento passa pelo avanço e aprofundamento dos estudos científicos na área e pela criação de ferramentas que permitam - a par de uma aturada noção de quem são os respectivos actores e políticas fundamentais - enformar um verdadeiro enquadramento da realidade. No âmbito do Programa MED, um programa transnacional europeu de cooperação que abrange várias regiões mediterrânicas da União Europeia, o Projecto Knowing (acrónimo inglês para Conhecimento, Inteligência e Inovação para um Crescimento Sustentável) é uma das armas para criar um verdadeiro conhecimento sobre a relevância daquele segmento da economia numa determinada unidade territorial. No Algarve o Knowing tem como parceiro a Universidade do Algarve que, a par da Anglia Ruskin University em Cambridge (Reino Unido), coordena cientificamente os trabalhos desenvolvidos nas sete regiões envolvidas no projecto, Valência (Espanha), Ática (Grécia), Calábria, Sicília e Lazio (Itália). Plataforma transnacional A aposta reside na criação de uma plataforma transnacional de diálogo sobre políticas, instrumentos e estratégias para atrair e gerar know-how e inovação, que funcione como uma ferramenta-chave no reforço da cooperação entre actores institucionais e económicos capaz de promover a Economia do Conhecimento. No âmbito do Knowing cada uma das regiões abrangidas dedica os seus esforços a um cluster preferencial escolhido com base no perfil económico da sua realidade. A aposta algarvia centra-se nas “Indústrias Culturais e Criativas e Turismo”, enquanto a

Maria Cabral, coordenadora científica do projecto

Cultura.Sul escolhido como actor fundamental das Indústrias Culturais O trabalho e o esforço em prol da Cultura nas suas mais variadas vertentes e expressões, desvinculado e independente compensa. Depois de José Carlos Vasconcelos, director do JL - Jornal de Letras, Artes e Ideias, considerar o Cultura.Sul como o melhor caderno cultural editado pela imprensa regional e de a Associação Portuguesa de Museologia ter atribuído ao projecto do POSTAL a Menção Honrosa para o Melhor Trabalho Jornalístico a par, na categoria, com o Público e o Câmara Clara da RTP2, o Projecto Knowing escolheu agora o Cultura.Sul para integrar os 13 actores fundamentais

“Moda” foi a escolha no caso de Lazio, e o “Artesanato Ecológico e Comércio Justo”, no de Calábria. A Sicília optou pela “Inovação” e a Ática preferiu o “Edutainement” (educação pelo entretenimento). Já Valência apostou nas “Energias Renováveis”, tendo Cambridge definido como enfoque as “Indústrias Culturais e Criativas”. Gerar conhecimento que permita um efectivo desenvolvimento destes clustrers nas respectivas regiões em

do Cluster das Indústrias Culturais e Criativas e Turismo enquanto player determinante na categoria de Indústrias Culturais sub-categoria Imprensa. De acordo com Maria Cabral, coordenadora científica do projecto pela Universidade do Algarve, a escolha dos 13 actores regionais considerados determinantes para o cluster escolhido para a região no âmbito do knowing, “baseou-se nas propostas da obra A Economia da Cultura, publicada pela Comissão Europeia (2006)”. “Um dos pontos de partida para o estudo nacional sobre o sector cultural” (realizado por Mateus &

simultâneo com um diálogo transfronteiriço tendente à criação e aproveitamento de sinergias entre as regiões europeias envolvidas é o que se propõe o knowing. Publicações científicas vão desenhar a realidade do Algarve Neste momento o grande desafio está em lançar três publicações dedicadas a compilar e analisar três

Associados, em 2010, sob a coordenação executiva da economista Sandra Primitivo), refere Maria Cabral, “o documento propõe a organização do sector cultural e criativo em três áreas fundamentais: actividades nucleares, indústrias culturais e actividades criativas. As entidades e empresas escolhidas como exemplo são as que desenvolvem actividade nas áreas fundamentais do sector cultural e criativo, de acordo com a categorização publicada no documento Economia da Cultura, Comissão Europeia (2006), e cuja acção constitui uma contribuição para o Turismo Criativo.

eixos fundamentais da Economia do Conhecimento em cada uma das regiões abrangidas pelo projecto. Assim, vão analisar-se por um lado as políticas, por outro, as ferramentas e, num terceiro enfoque, os actores que são mais determinantes em cada um dos clusters escolhidos. No Algarve a análise recai nos três eixos referidos para o cluster das Indústrias Culturais, Criativas

e Turismo, numa visão que pretende enquadrar como estas áreas da Economia do Conhecimento se comportam na economia real e como são estabelecidas entre as três ligações tendentes ao desenvolvimento. Na área das políticas estarão em análise as medidas de promoção da inovação e criatividade de carácter e incidência regional como o Eixo 1 do POALGARVE21 (Programa Operacional Regional no âmbito do Quadro de Referência Estratégico Nacional) e o PRECALG (Plano Estratégico de Cultura para o Algarve). No âmbito das ferramentas estarão em análise dois exemplos regionais, o extinto programa Allgarve e a Via Algarviana, enquanto meios de promoção da Cultura e Criatividade com reflexos na área do turismo e no que respeita aos actores determinantes para o cluster escolhido pela região estão a ser seleccionadas 13 entidades, entre as quais se encontra o POSTAL através do caderno cultural mensal Cultura.Sul, enquanto actor preponderante na categoria Indústrias Culturais, subcategoria Imprensa. As acções Knowing no Algarve No que respeita aos actores estes serão classificados no estudo em três categorias: a referida Indústrias Culturais (que além da Imprensa se subdivide em Filme e Vídeo, Televisão e Rádio, Música e Livros) e as categorias de Artes (englobando Artes Visuais, Artes Performativas e Património) e Indústrias Criativas (Arquitectura, Design, Publicidade e Software). Recorde-se que pelo projecto Knowing já foram desenvolvidos um concurso para a criação de um Storyboard destinado a um vídeojogo sobre a região, um seminário internacional onde participaram as diversas delegações das regiões envolvidas e um laboratório criativo, que será repetido novamente este ano. Foi ainda lançado pelo CRIA (Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da Universidade do Algarve) um Helpdesk destinado a ajudar as entidades algarvias, públicas e privadas, interessadas no desenvolvimento de projectos no âmbito da Economia do Conhecimento a terem e aproveitarem instrumentos e canais de desenvolvimento afinados para o referido cluster.


Cultura.Sul

06.07.2012

Especial Aniversário CLARO

Henrique Dias Freire

A Cultura é um fim, não um meio

Mário Laginha

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MIRA DRÉ CA ROSA ME SILVA CA ANABELA É LOURO O · NUNO · LUÍS DE ACATARINA OLIVEIRA AR RR EIA ÃO · JOS · ANTÓNIOMÁRIO SPENCER · AN · ANTÓNIO MONTEIR RAMOS JORGE SO NUEL CO SER RA CARNAÇ BR AZÃO S · SAR A GELO EN · EDUARDO· IDÁLIA FARINHO · AM JUNQUEIR A · EN RENA · S · EMMA S · ROBERTO IVINHO S SANTO TE · ÂN GALH ÃE NUNO LO NANDO CABRITA LLI · JOSÉ RURO NETO DO ISGA MARQUE LUÍS VIC EIR A MERO MA DRO WI FER NARDO · MANUEL MES · NUNO BICHO IM ROSA · · PAULO PEN A · SAN NIO PER VIEGAS TARINA TEMTEM INAS · BER RFÍRIO · ANTÓ GO A · JOAQU CALADO MESQUIT CA TE A · MP NUEL EIR NA AR A IRA CA CH MA RR HE DU EIR RO · I PA S PO ENTE PES · JOSÉ VIE RLOS VIL LA FERRO · SÓNIA PER NDES LO ADO · RU MES · VIC S · CARLO · ELVIRO DA JOSÉ CA TER ESA LO PIRES CO FERNA FINO · PAU IO CONR ADO RO MACH XEIRA-GO DE PASSO CRUZ · XANA · FR ANCIS DO · PAU NARDO JÚL JOSÉ PED O · MANUEL TEI · NUNO RU GASTÃO RLOS · · AR · · AS BER S CA ES · RIC É NT SA ETA NE BA RO JOS LUÍSA A NU UNO ALV DA COSTA · JÚLIO DA INHO · DE CASTR RAMOS ES · ANTÓNIO S · SUSAN OS · BR VICENTE · EMILIANOIRIA · JOÃO DE DEUSJÚDICE · ANTÓNIOAS · ANABELA MOUTTÓNIO ROSA MEND MEDEIRO JOSÉ BARR ADAS MARR EIR COSTA · ER REIRO · AN NO IA MARIA VARG · ANDRÉ ALBERTO · GOMES DANUEL GOMES GUER SER RA · TEIXEIRA NÇALO ISTA · NU O · GLÓR SPENCER REIRO · PAULO ES PAULA · MA RDO EL BAPT DRÉ · GO · MÁRIO L SANCH ND O GU UA · NU AN UE ME RD ED IXO A I NA IDO · MA AN UA · RE ALE ED EM · AN ITA CÂND A · RU NUNO LO O CABR IA JORGE ISGA AFONSO ANTÓNIO · ANCO · LAGINH MOS · ZÉ · ND LÍD PEN FR RO EL RA IRA · ÇA NA LO O RE NU PED RO TER AN FER MA ER E· PED · PAU S· RIO LYS NIO ALEIX LUÍS EN · PAULO MO UITA EIROZ · · ASSIS ESP CIO · MÁ · LIA VIEGAJOSÉ VIEIRA CALADO A · ANTÓ JOÃO BENTES · NA MESQ NOBR E RIANO · JORGE QUÍSA MONTEIRO DE SÁ JOÃO LÚ INTINH · S VILHE ITO · BARROS NEVES · JOÃO MA IÃO QU LU É CARLO MARTINS · CATARINA NENÉ · LEONEL IRO · JUL NA · JOS · CARLOS BRTTI · JOSÉ CARLOSEIDA CARR APATO · UR SABETE PEREIR A TEM A · TIAGO GUER RE NDA · XA LUZ · ELI DE BRITO ILO ES · SÓNIA ARTE TEM VIEGAS NUEL VE SIMIRO RCATO DA RO BART · JÚLIO ALMPINTO · JOÃO VENT · PAULO PIR· PAULA FERRO · DUROCHA GOMES PES · CA TÓNIO MA IÇO · TU IO · PED DO GR ADE AN AN O AR CÉL · ES S MP ND RITA LO EV RIC DA S CA EST ÍSA FINO A RAMIRE ES · VASCO O DIAS · FERNA NANDO GAS · LU · JOAQUIMS ES · CARLO · NUNO RU CONR ADO · ELVIRO NS FER NAND GE · LOLIT AR · FER JOÃO VIE NUNES GONÇALV PARREIRA IÃO · AFO JOSÉ BIV PEDRO JOR GUERREIRO · JÚLIO · SUSANA · O · RUI · CAMPINA BR AZÃO OZ S AD O TE ETA LH OTELO FAB SCO VIDIGAL · ÍS IRO CH RD EN BA GA MA MEDE A · LU · EDUA MARIA ALIETE ÍRIO · VA MES · VIC ANTÓNIO É PEDRO LAGINH SANA DE OS PORF · CAPEL A . 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O “bê-à-bá” do século XXI por toda a Europa vai no sentido de que a Cultura não é um problema mas uma solução. Segundo a Comissão Europeia, as indústrias culturais e criativas representam já 4,5% do PIB europeu e criam 3,8% de emprego na União Europeia. Tem sido um dos sectores que mais crescimento tem conhecido no seio da Europa e é considerado um dos poucos sectores com potencial para continuar a crescer nos próximos anos. Em Portugal o entendimento não tem sido esse ou pelo menos não tem sido essa a prática dos nossos governantes. Dos 27 países da União Europeia, Portugal e a Hungria são os únicos dois países a não ter Ministério da Cultura. Mais grave é olharmos para a fatia da Cultura que este ano apenas representa 0,2% do nosso Orçamento de Estado. Tal como a Educação e a Ciência, a Cultura significa capital humano e outros capitais a longo prazo. Não se consegue desenvolver uma sociedade com poucos recursos naturais e com uma acentuada população envelhecida sem produção e criação artística Em Portugal continuamos a desvalorizar o potencial da Cultura. Estamos a negligenciar a vital importância do conhecimento de nós próprios e dos outros. Do seu valor de coesão social e do seu enorme impacto na imagem externa do país. E pior do que tudo, continuamos a não pensar a longo prazo. Repetimos vezes sem conta os mesmos erros: por cada novo decisor

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dos nossos agentes culturais.

primeira sexta-feira de cada mês. Para motivo de orgulho para todos nós algarvios, a sua qualidade foi salientada numa crónica sobre os suplementos culturais como o melhor Caderno Regional do género pelo jornalista mais premiado de sempre, José Carlos Vasconcelos, ediretor do «JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias» e coordenador editorial da revista «VISÃO». O «CULTURA.SUL» tem procurado cumprir o seu papel de responsabilidade social com uma oferta independente de conteúdos, apesar da quase sempre demorada e desinteressada resposta de muitos agentes políticos com responsabilidades nas áreas da Cultura e Educação. É tempo de se deixarem as desconfianças de lado. De deixarmos de olhar para o nosso umbigo. De todos assumirem com a maturidade exigida este desafio europeu: proporcionar o acesso à Cultura, como proporcionar o acesso à Educação. Ao longo destes quatro anos de edição, acreditamos que já demos provas do nosso empenho com o crescimento consolidado que o «CULTURA. SUL» tem demonstrado. Mas, mais importante, demonstrámos que a união de mais de cinquenta colaboradores ajudam a fazer a diferença, sobretudo perante a indiferença de alguns que felizmente são cada vez menos. Bem hajam todos aqueles que têm incentivado e apoiado o «CULTURA.SUL» na sua difícil e complexa missão com os escassos recursos que a nossa região tem disponibilizado.

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Espaço ALFA

Carlos Gama Cruz

Membro da Direcção da ALFA ‒ Assoc. Livre Fotógrafos do Algarve

Desde há quatro anos que a ALFA – Associação Livre Fotógrafos do Algarve tem apostado na organização regular de iniciativas, abrangendo encontros sociais, sessões de demonstração, tertúlias, exposições, workshops de formação sobre os mais diversos temas da fotografia e “photo walks” às mais diversas paragens. Temos organizado e desenvolvido múltiplos eventos, fruto do apoio de parceiros e do envolvimento dos nossos sócios, voando sempre com os pés assentes na terra. Deste leque de atividades, os passeios fotográficos têm sido considerados dos mais populares e têm proporcionado aos participantes momentos mágicos de convívio e partilha de conhecimentos. Genericamente “photo walk” é

ALFA - voa com os pés na terra um acto de passear com uma camera com o principal propósito de tirar fotografias a coisas que o fotógrafo considera interessantes. Temos apostado em programas organizados, acompanhados de um fotógrafo guia e de um parceiro conhecedor do terreno, da história, do ambiente e cultura locais. Assim aconteceu na escapada fotográfica às praias de Aljezur, nos passeios aos centros históricos de Faro e Olhão, à Ilha da Fuseta, às amendoeiras em flor em Pechão, na viagem ao Pulo do Lobo em Mértola, entre outros. Alguns destes passeios acabam em exposições coletivas como foi o caso das “Mouras Encantadas” que em Maio passado esteve patente em Paris. Consideramos que não há razão para vermos tantos amantes da fotografia, que investiram umas largas centenas de euros em máquinas e lentes, a tentar interpretar os manuais ou a descobrir por si só todas as funcionalidades e funções. Lançamos-te desde já um desafio. Participa num próximo passeio. Aprende em equipa e convive. Qualquer um é bem vindo. Não precisas de ter uma camera “ xpto” ou de ter conhecimentos de fotografia. Bem… se quiseres evoluir sugerimos que frequentes uma oficina de fotografia digital ou mesmo um workshop de formação inicial de curta duração.

A ALFA apresenta uma programação com mais de vinte iniciativas durante o ano de 2012, metade das quais decorreram no primeiro semestre. Para o segundo, a

Associação dos amantes da fotografia vai continuar a privilegiar a formação, o entretenimento, os passeios e a economia social. Entretanto aproveitamos para te re-

velar a programação para os meses de Verão: - Fotografia a alta velocidade Sessão de demonstração organizada pela ALFA em parceria com a Niobo na Galeria ARCO, dia 6 e repete a 7 de julho. Entrada livre. - Assembleia Geral no Espaço ALFA na Galeria ARCO para a aprovação das contas de 2011, dia 12 de julho. Acesso limitado a sócios. - Passeio fotográfico “caça aos golfinhos”, a bordo do Yellow One, uma experiência única com golfinhos com partida do Club Naval de Portimão, dia 15 de julho. - Passeio fotográfico numa embarcação de pesca à procissão pelo mar, inserida nas Festas da Nossa Senhora do Carmo, padroeira da Fuseta. Percurso pela Ria Formosa, do Livramento até ao cais da Fuseta, dia 21 de julho. - Exposição coletiva da ALFA, Ria Formosa: entre a terra e o mar, no Paparazzi em Faro, patente até 30 de agosto. - Jantar de verão da ALFA com degustação de ostras e apelativos do mar, dia 25 de agosto. - Exposição Costa Vicentina: paraíso para viver, no âmbito da iniciativa as 7 Maravilhas – Praias de Portugal, inauguração dia 5 de setembro. Mais informações e programas em www.alfa.pt ou através do telemóvel 917 560 960.


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06.07.2012

Espaço Educação

Sucesso educativo – medidas e projetos No quadro da autonomia e esfera organizacional da escola está a possibilidade de estruturar grupos de alunos e equipas docentes de acordo com o ciclo de estudos, de forma a assegurar maior eficácia no apoio e acompanhamento do percurso escolar dos discentes e na conclusão do respetivo ciclo de ensino, “incentivando-se a liberdade das escolas para concretizar a promoção do sucesso escolar dos alunos e dos objetivos educacionais fundamentais”. Sendo a escola um espaço plural, do ponto de vista social e cultural, onde as motivações, interesses e capacidades de aprendizagem dos alunos são diferenciados, esta Direcção Regional de Educação (DREAlgarve) em harmonia com as orientações do Ministério da Educação e Ciência (MEC), procura garantir junto das escolas os dispositivos de organização e gestão do currículo que sirvam a diversidade discente, constituindose a Educação como uma oportunidade que forneça a cada aprendente os meios para atingir o sucesso, quer colmatando as dificuldades sentidas

pelos alunos, quer desenvolvendo e potenciando as suas capacidades. Neste contexto, no âmbito das suas caraterísticas específicas, coloca-se à escola a possibilidade de tomar decisões, nomeadamente na implementação das ofertas formativas promotoras do sucesso escolar. Assim, e dentro de um quadro alargado de possibilidades, destacam-se algumas ofertas formativas, como por exemplo, as turmas com Percursos Curriculares Alternativos (PCA), o Programa Mais Sucesso Escolar (PMSE), nas suas tipologias Fénix e TurmaMais, os Cursos de Educação e Formação (CEF), entre outras. Se nos PCA se procura servir grupos de alunos nos quais foram detetadas caraterísticas comportamentais e de aprendizagem muito problemáticas e que correm o risco de abandono precoce, no PMSE estão subjacentes ideias matriciais, sendo de destacar a melhoria das condições organizacionais escolares de ensino e aprendizagem, a melhoria de resultados escolares sem que-

Alberto Almeida, diretor regional de Educação do Algarve bra de exigência, onde o princípio “agrupar e reagrupar para incluir” constitui uma das questões chave deste programa. Quanto aos Cursos de Educação

e Formação (CEF), destinados a um leque muito específico de alunos, constituem-se como resposta de dupla certificação (escolar e profissional) que visa responder aos inte-

resses e expectativas de um público mais vocacionado para a vida ativa, permitindo a aquisição de competências profissionais e o prosseguimento de estudos.

Espaço Cultura

Há séculos à sua espera! Desde finais do século XVIII, os Estados europeus criaram dispositivos institucionais para a preservação da memória histórica. No Algarve, o Estado português exerce a sua autoridade direta sobre um conjunto de monumentos classificados como bens culturais imóveis mediante a sua «afetação» à Direção Regional de Cultura, que para esse conjunto criou a marca «Monumentos do Algarve». Um património a visitar, que há séculos espera por si. O recentemente publicado Decreto-Lei n.º 114/2012, de 25 de maio, atribui à Direção Regional de Cultura do Algarve a gestão dos monumentos que lhe forem afetos, de modo a assegurar as condições para a sua fruição pelo público. Desde finais do século XVIII, os estados europeus têm procurado acertar metodologias para inventariar os bens culturais herdados e definir regras para os administrar. A gestão desse legado histórico envolve questões como a da sua conservação, valorização e transmissão às gerações

futuras, convertendo assim a administração do património cultural num assunto da política de Estado e num meio de reprodução da sociedade. Os estados criaram, assim, dispositivos institucionais para a preservação da memória histórica e passaram a produzir sistematicamente uma memória autorizada, aumentando os seus poderes regulamentares, intervindo mesmo diretamente na gestão de alguns dos monumentos histórica e socialmente mais relevantes, garantindo a respetiva posse. No Algarve, o Estado exerce a sua

Monumento megalítico de Alcalar autoridade direta sobre um conjunto de monumentos classificados como bens culturais imóveis, de grau nacional, mediante a sua «afetação» à Direção Regional de Cultura, feita por portaria dos membros do Governo responsáveis pelas áreas das finanças e da cultura. Isto é, o Estado assegura a gestão desses monumentos através de um serviço periférico da administração central. A última atualização desse rol foi objeto da Portaria n.º 829/2009, publicada no Diário da

República, 2.ª série, n.º 163, de 24 de Agosto de 2009, e nele se incluem, de Barlavento a Sotavento: o Castelo de Aljezur, a Fortaleza de Sagres, a Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe, os monumentos megalíticos de Alcalar, a villa romana da Abicada, o Castelo de Paderne, o Castelo de Loulé e a villa romana de Milreu. Desse conjunto (veja-se http://www.youtube.com/ watch?v=w0EpOssv3Z8), três imóveis são geridos em parceria com as

respetivas autarquias (os monumentos megalíticos de Alcalar e os castelos de Paderne e de Loulé). Em outros três (Sagres, Guadalupe e Milreu), a Direção Regional de Cultura administra esse legado cultural com infraestruturas locais de interpretação, possibilitando a melhoria das condições de visita e a fruição dos sítios e o incremento da oferta cultural aos utentes. Nos restantes (Castelo de Aljezur e villa da Abicada), que não se encontram ainda dotados de infraestruturas explicativas, o Estado português realizou, nos últimos anos, substancial investimento público, no sentido de garantir as melhores condições de conservação desse património e facilitar a sua melhor fruição. Para esse conjunto de monumentos, a Direção Regional de Cultura criou a marca «Monumentos do Algarve», procurando contribuir ativamente para a melhoria de condições de sustentabilidade desses espaços culturais. Informações sobre a sua história e serviços disponibilizados aos visitantes podem ser pormenorizadamente obtidas em www.cultalg.pt. Direção Regional de Cultura


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Contos de Verão na Ria Formosa

‘Quien Sabe Donde’

Pedro Jubilot

pjubilot@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt

Selma preferia passar as férias na praia, bronzear-se, dar passeios à beira-mar. Ou mesmo ir para o campo, andar de bicicleta, descansar à sombra das árvores, tomar banhos na piscina. Dias passados a comer bem e a dormir melhor. De preferência a sul onde as temperaturas são mais amenas. Mas Filipe tem a mania das viagens sem rota, sem destino, ao sabor da vontade. Gosta de conduzir por estradas desconhecidas até se sentir cansado. Diga-se que sente mesmo algum prazer em se perder, ainda que por instantes. Para ele o importante é deixar por algum tempo os lugares de todos os dias e de todas as noites. Mudar o cenário do quotidiano, esquecer as ruas de volta para casa. Só quando passa os subúrbios em direção ao interior ou ao litoral consegue começar a sonhar. Selma acha que se perde demasiado tempo nesses joguinhos do namorado, que podia ser melhor aproveitado. Desta vez tentavam conciliar estes dois tipos de lazer. Partiram cedo como ela sempre queria, mas por estradas secundárias por desejo dele. Atravessaram o Alentejo mais profundo junto à fronteira com Espanha, que cruzaram para petiscar umas tapas de presunto, ficando lá a pernoitar. Visitaram lugarejos que para Selma deixavam de ter nome à medida que ficavam para trás, e as fachadas das igrejas e as árvores que Filipe fotografava pareciam-lhe todas iguais. Passados três dias de andar naquele sem rumo resolveram parar a pedido de Selma, para pensar num sítio para onde ir e ficar algum tempo, calmamente, a aproveitar os restantes dias de férias. Ele, obviamente, já sabia que para ela só havia um destino. Fil, já chega de vaguear. Tu também já estás cansado. Vamos para o Algarve, se não vamos ao Algarve, é como se não tivesse havido verão. A rapariga saiu do carro para respirar o ar puro como aquele que não tinha na grande cidade e para desentorpecer dos quilómetros já percorridos. Não gostava de passar as férias metida dentro dum carro. Já lhe bastava o escritório de todos os dias. Ele ficou por ali, no seu banco de condução acabando um daqueles cigarros de cheiro intenso que trouxera do lado de lá do rio Guadiana. Fumando, apreciava o jeito de andar da sua companheira. Está bem, vamos para o Algarve. Deixa-me

só descansar um pouco. Filipe encostou a cabeça e assim adormeceu por alguns minutos. O suficiente para sonhar com um apresentador de bigode que falava de um crime horrendo passado ali perto, em Huelva. Depois acordou sobressaltado, agarrou a garrafa de água à sua frente e saiu do carro. Lavou a cara para despertar e molhou o cabelo, penteando-se para trás com as pontas dos dedos. Bocejou e espreguiçou-se longamente. Respirou fundo… e quando olhou em redor não avistou Selma. Começou a andar em frente, para junto das árvores onde a tinha visto antes de adormecer. Mas onde é que ela se tinha metido? Como não a encontrava

guém fazia mal a ninguém. Já dentro do jipe da guarda em andamento, vieram-lhe à cabeça as histórias do programa que vira no hostal na noite anterior no canal estatal de ‘nuestros hermanos’- TVE2, quando estava à espera que Selma se despachasse do banho. Raptos, assassínios, desaparecimentos misteriosos, violações… e o coração a bater cada vez mais forte a cada novo cigarro que acendia. E na sua cabeça ecoava a voz rouca do apresentador quando repetia a frase que dava nome ao programa líder de audiências da televisão ibérica: “Quien Sabe Donde?”. As lágrimas de Filipe já secavam

sono e com os cabelos desalinhados, dizia em sua própria defesa correndo à volta do carro parado entre as árvores. Por fim apanhou-a e abraçou-a com força. Mais do que o habitual. A seguir partiram mas Selma não esquecera que lhe faltava a resposta. Mas quanto tempo é que eu dormi, o que é que os guardas queriam? De novo ao volante, o refeito rei Filipe, o aventureiro, não quis dar parte de fraco. Disse-lhe que… nada, só queriam saber se estava tudo bem, se precisávamos de alguma informação e que não podíamos acampar por ali. A ‘Luz’ do trompete de Laurent, também Filipe, tocava de novo no

Pousada do Forte de São João da Barra em Cabanas de Tavira foi caminhando pelo campo fora e depois por vezes correndo e chamando-a. Teria ficado chateada? Tanto andou que chegou a uma pequena povoação. Não teria ela ouvido ele concordar que iam logo a seguir para o Algarve? Perguntou às poucas pessoas com quem se cruzou se não tinham visto por ali uma rapariga de vestido branco, morena com cabelo comprido, castanho. Entrou depois no primeiro café que viu. Toda a gente teria reparado num forasteiro a entrar num café de aldeia, mas neste caso ninguém mais tirou os olhos do rapaz que tinha acabado de entrar. Estava com um ar tresloucado e muito ansioso. Também não a viram?, perguntou Filipe. Não entrara ninguém no café na última hora, foi-lhe dito. E não seria uma rapariga assim tal como ele a descreveu que perderia em atenção para umas retangulares pedras brancas com pintinhas pretas alinhadas sobre uma mesa quadrada com tampo de mármore. O dono da tasca achou melhor encaminhar o rapaz para o posto da GNR, que ficava mesmo ali abaixo no outro lado da rua. Estava tão nervoso que mal sabia dizer onde tinha deixado o carro. Os soldados de serviço pediram ao jovem que se acalmasse. Sugeriram que tentassem fazer juntos o percurso de volta para o carro, pois dessa maneira haveriam de o encontrar e à rapariga, que não se preocupasse, que ali por aquelas bandas nin-

quando quase ao pôr-do-sol, com muito esforço e a ajuda dos guardas lá encontraram um carro no meio das árvores, que parecia o descrito pelo Sr. Soares. O soldado que primeiro se apeou do jipe informou: está uma senhora deitada no banco de trás, meu sargento. Filipe saltou para fora do veículo, correu, e quando abriu a porta de trás do seu carro, Selma abriu os olhos e disse com voz de quem tinha acordado de uma longa e merecida sesta. Por onde andaste? Já é quase de noite!, sussurrou Selma. Fui dar uma volta por aí pelo campo… tirar umas fotografias, foi o melhor que Filipe conseguiu dizer. E nem me trazes flores… meu amor, gracejou ela. A seguir a um bocejo ainda ralhou com ele. Já estava a ficar preocupada Fil! ...Fili !? …de quem é aquele carro ali? Está tudo bem, senhores agentes. Boa tarde e muitíssimo obrigado por tudo! agradeceu Filipe Soares, o nome e apelido com que há pouco se tinha identificado no quartel. Mesmo ainda estremunhada Selma estranhou tamanha simpatia para com os homens de farda. Não costumas ser assim tão amistoso com as autoridades. O que é te deu ? …Tens os olhos muito vermelhos… não dormiste nada ? Estás cansado, não estás !? Para não responder às perguntas começou a fotografar Selma que não queria ser fotografada pois estava com cara de

leitor do autorrádio. O jovem criativo, que trocara o curso de arquitetura pelo de marketing e publicidade era um amante da música jazz portuguesa contemporânea. Tinha uma teoria baseada na minimalização do texto publicitário, que se tornara a sua marca de trabalho. Para ele, ‘a fotografia ou as imagens são como uma peça de música instrumental. Se ao ouvi-la se verifica que essa precisa de um texto adicional, de um poema, então essa não é a melhor das composições. É boa quando as notas musicais espalham pela partitura a poesia necessária. Ideal, se o título da peça contiver em si toda a mensagem’. Em breves minutos alcançaram o desejado reino dos Algarve. Iam ficar na pousada do Forte de S. João da Barra. Alguns metros abaixo da saída anunciada na rotunda, Filipe parou o carro para mais uma fotografia ao pórtico gótico-manuelino da fachada da igreja do século XVI que avistara na descida ao seu lado esquerdo. Esta tem mesmo que ser. É a última Sel, prometo. Sentados na esplanada do terraço frente ao mar viam as luzinhas verdes e vermelhas das bóias do canal a piscar na ria. Uma leve e fresca brisa marítima soprando de sudoeste faziase sentir nos rostos do jovem casal. Fil, vou-me deitar, vens? Amanhã tenho de estar em forma para estrear o meu biki-

ni novo. Já vou querida, disse. Acendeu mais um cigarro e leu um pouco do folheto que explicava que a fortaleza é uma construção de planta em estrela, com um núcleo quadrangular rematado nos quatro cantos por baluartes a que se acede por rampas próprias e que estão ligadas por um caminho de ronda… e que tinha ainda uma capela dedicada a S. João Baptista, que já não existe. Mas deteve-se a olhar o céu nesta altura do ano em que tem um brilho especial. As estrelas cintilam muito mais. Estão tão perto que às vezes até parecem falar. E também se torna assim mais fácil pronunciar desejos. As estrelas cadentes riscam o céu a tão baixa altitude que se acredita ser provável que nos ouçam. Fez um esforço para localizar a norte as constelações de Perseus e Andrómeda. Diz-se que se encontram lado a lado para celebrar o amor e a beleza e mostrá-los como exemplo à Terra… mas era melhor ir deitar-se, antes que a sua companheira acordasse e se assustasse por o não ver também a seu lado, julgando-o levado por alguma Cassiopeia. Estava cansado, mas passou na sua cabeça o filme dos acontecimentos desse dia, como sempre fazia antes de adormecer. Apesar do susto, tinha sido um dia fantástico, já que acabara bem. Abraçou e beijou Selma, que mesmo já estando a dormir reagiu com um pequeno suspiro. Ironicamente veio-lhe à cabeça aquela frase cliché, que por se considerar um bom publicitário, muito o irritava e tantas vezes a tinha recusado: «A maior parte das vezes aquilo que mais procuramos está mesmo ali ao nosso lado». Não conseguia adormecer. Foi beber um copo de água. Procurou na mochila o pequeno caderno castanho que trazia sempre consigo e tentou escrever uma dúzia de grupos de palavras ou frases muito melhores que o fizessem esquecer aquela outra. No dia seguinte Filipe estava exausto, pelo que Selma o arrastou sem qualquer protesto para um improvisado cais onde apanharam um pequeno bote a motor que os levou para um imenso areal… um longo dia de praia… sem igrejas, sem árvores. Tentou dormir à sombra de uma palhota. Selma bronzeava-se como era seu desejo. Uma avioneta voando baixinho sobre a água anunciava um novo condomínio de luxo frente à praia. Filipe Soares não podia acreditar na frase escrita na faixa. Outra vez a mesma! Mas esta gente não tem criatividade para mais, gritou. Ela reparou que a respiração dele se tornara mais ofegante. Só podia estar a sonhar. Foi Selma quem o acordou. Fil, está muito calor aqui. Anda, vamos ali ao barzinho tomar qualquer coisa fresca. Para ajudar a resfriar a exuberante felicidade que sentia por esses dias, pensou.


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06.07.2012

livro

Teoria Geral do Esquecimento Adriana Nogueira

Classicista Professora da Universidade do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com

É muito difícil dizer as razões porque pensamos que um livro é bom. Para além das fundamentações mais académicas que podem ajudar a qualificar um livro, há aquelas que qualquer leitor estabelece como critério próprio. Pessoalmente, considero que uma característica fundamental para colocar uma obra na categoria dos bons livros é o fazer-me ficar a pensar nela durante muito tempo. Acabar de ler um livro e andar a remoer o que li, a relembrar alguns passos, algumas personagens, alguns ditos ou reflexões, e até excertos que não percebi bem, é um prazer que não dispenso. Este último livro do angolano José Eduardo Agualusa (que esteve, no passado mês de maio, em Portimão e em Faro), Teoria Geral do Esquecimento, tem tudo isso. Um mês depois de o ter lido, com várias outras leituras de permeio, aquelas personagens ainda convivem comigo, ainda me fazem meditar. Neste momento, ao folhear as páginas para encontrar um ou outro passo que gostaria de citar, o narrador mostra-me partes que me escondera na primeira leitura. E isto é outra característica que me agrada. Lusofonias Não compreendo as línguas que me chegam lá de fora, que o rádio traz para dentro de casa, não compreendo o que dizem, nem sequer quando parecem falar português, porque este português que falam já não é o meu. (p.37)

destaque

Ludovica, ou Ludo, como lhe chamam, é uma jovem mulher de Aveiro, que acompanha a irmã, professora de liceu, para Angola, quando esta se casa com um mestiço, engenheiro de profissão. Desde cedo «nunca gostou de enfrentar o céu» (p.13), tendo

a profunda mudança de vida (casa, clima, país, cultura) sido difícil de suportar. Quando se dá a revolução e a família decide regressar, Ludo fica. Se permanecer lhe parece difícil, sair ainda mais a assusta. E é no apartamento de onde já pouco saía que, após uma tentativa de assalto, se barrica e constrói uma parede que a separa do mundo durante décadas. Acompanhada por um cão, de significativo nome «Fantasma», sobrevive ao tempo. Lá fora, o mundo que observa através de «uma comprida caixa de cartão, na qual recorta dois orifícios, à altura dos olhos, para espreitar, e outros dois, mais abaixo, para libertar os braços» (p.75), continua a adaptar-se às transformações políticas e sociais provocadas pela independência e pelas guerras. Falar de Angola e de Portugal sem lamentos ou ressentimentos, ao mesmo tempo sem branquear a crueldade (e crueza) da realidade, é arte da sensibilidade de Agualusa. Aquilo que todos sabemos é dito em poucas linhas: «Nos meses que se seguiram à Independência viu sucederem-se tragédias que [ele, Horácio, funcionário da alfândega] havia vaticinado: a fuga dos colonos e de uma boa parte da burguesia nativa, o encerramento das fábricas e do pequeno comércio, o colapso dos serviços de água, de eletricidade e de recolha de lixo, as prisões em massa, os fuzilamentos» (p.213). A muito disto Ludo assiste, quer como observadora, da varanda do décimo primeiro andar, quer como participante, subsistindo à falta de água, de luz, e também de comida. Mas não é a única personagem que tem de encontrar estratégias de sobrevivência: com algum humor, o narrador (que vai deixando pistas de que faz parte da história, usando «eu» aqui e acolá) conta-nos esta fuga da prisão: escondido num caixão, o Pequeno Soba, de 19 anos, ganhou «o hábito de visitar a campa, no aniversário da suposta morte, levando flores a si mesmo: Para mim é uma reflexão sobre a fragilidade da vida e um pequeno exercício de alteridade, explica aos amigos. Vou lá, e tento pensar em mim como num parente próximo. Sou, na verdade, o parente mais próximo de mim» (p.194). Uma outra fuga, desta vez por estrada, evitando barricadas, foi organizada por uma mulher de coragem,

 DA MINHA BIBLIOTECA

O caroço de azeitona de Erri de Luca. Assírio & Alvim, 2009

a enfermeira Madalena, e é a minha preferida: o homem (o nome deste não posso dizer, para não estragar a leitura) ia numa velha carrinha, «estendido, atrás, oculto por vários caixotes de livros. Livros infundem respeito, explicou a enfermeira: Se levasse caixotes carregados de garrafas de cerveja, os soldados iriam revistar o veículo de uma ponta a outra. Além disso, chegaria a Mossâmedes sem uma única garrafa. O estratagema revelou-se acertado. Nos numerosos controles pelos quais passaram, os militares perfilavam-se aos verem os livros, pediam muita desculpa a Madalena, e deixavam-na seguir» (p.57). «Um homem com uma boa história é quase um rei» Esta frase, com que termina um dos capítulos (p. 157) da Teoria Geral do Esquecimento, remete para um universo em que a oralidade impera, onde as histórias, o conhecimento do mundo, a fantasia e as realidades ainda são transmitidos em comunidade. Neste caso concreto, um menino conta um caso fantástico, sobre um homem que desapareceu sob um chapéu, dando início àquilo a que muitos chamam lendas urbanas, mas a que os especialistas da área gostam de chamar apenas lendas, ou lendas vivas. No meio de uma outra história, a propósito de um outro assunto, e quando já nem nos lembrávamos deste mistério, ficase a saber o que realmente se passou com este desaparecimento. E há crenças que, sem querer me-

“TEMPOS QUE PASSAM... RECORDAÇÕES QUE FICAM” Até 30 JUL | Galeria de Arte Pintor Samora Barros - Albufeira Mostra de fotografias de Albufeira de outros tempos, captadas pela objectiva de Vítor Sousa. O autor vai expôr imagens da sua colecção particular e brindar os visitantes com algumas surpresas

nosprezar os que nelas acreditam, são de tal modo cândidas que nos inspiram ternura, como a Kianda, «uma entidade, uma energia capaz do bem e do mal. Essa energia se exprime através de luzes coloridas emergindo da água, das ondas do mar e da fúria dos ventos. Os pescadores prestamlhe tributo». Ludo vem a contribuir «para reforçar a crença dos luandenses na presença e na autoridade das Kiandas» (p.48), ao conseguir roubar uns galináceos. As pequenas histórias Os vários capítulos do livro vão introduzindo novas personagens, contando novas histórias, espalham-se pelo enorme território que é Angola e abordam temas como as prisões políticas, os assassínios, os abusos de poder (nas suas diferentes escalas, desde o militar ao miúdo de rua). Mas, pouco a pouco, as peças vão-se juntando e terminam à porta de Ludo, que teve, por fim, de se abrir. As pequenas narrativas de que se compõem os capítulos conduzemnos pelo mundo da culpa e da inocência, das fraquezas e da coragem, do crime e da redenção, seja esta uma nova vida ou a morte. Os momentos de violência são contextualizados, o que não nos permite emitir juízos de valor. Como num baile bem ordenado, em que os dançarinos se juntam e afastam em passos estudados, neste romance entram homens, mulheres, crianças, animais e pássaros que, de

Em junho do ano passado escrevi aqui sobre um outro livro do italiano Erri de Luca, O dia antes da felicidade, e no texto referi este O caroço de azeitona. Se hoje volto a ele é porque o livro de Agualusa me fez sentir assim, com vontade de pensar nele, como quem fica com um caroço de azeitona na boca, para o ir roendo, de modo a não perder uma pitada do seu sabor, que se mantém por muito tempo. Esta é a ideia do livro, de um autor comunista, não crente, mas estudioso de hebraico e leitor assíduo das Escrituras. Diz ele: «Leio as histórias sagradas, e aí recebo a imensidão de um sentido, ainda que permaneça à superfície das palavras». Palavras, aliás, sobre as quais afirma: «sou um molestador de palavras, de não as deixar em paz, de voltar atrás a partir delas com um punhado de cinzas quentes». O caroço de azeitona é, portanto, uma coletânea de reflexões sobre trechos bíblicos. Deixo-vos este, sobre Cristo: «Nascesse hoje, e seria num barco de imigrados, atirado ao mar juntamente com a mãe, à vista da costa de Puglia ou da Calábria. Talvez continue a nascer assim, sem sobreviver, e o vinte e cinco de Dezembro seja apenas o mais célebre dos seus aniversários. Depois dele, o tempo reduziu-se a um entretanto, a um parêntesis de vigília entre a sua morte e a sua nova vida. Depois dele, ninguém é residente, mas todos são refugiados à espera de um visto. Somos nós, bem nutridos do ocidente, a coluna de estrangeiros e, fila para lá do último guichet». uma forma ou de outra, vão fazer parte da vida de Ludo e daqueles que com ela cruzaram os seus destinos.

“IVETE SANGALO - O ‘FURACÃO’ DA BAHIA” 28 JUL | 22.00 | Estádio Municipal de Portimão O espectáculo, com a duração de cerca de três horas, fará uma viagem por todos os grandes sucessos da carreira da artista


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património

• VIVÊNCIAS NO ALGARVE - PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL

Algarve interior: Herança e Tradição

FOTOS: ANA MESTRE/JORNAL DE MONCHIQUE

Maria Luísa Francisco

Investigadora e doutoranda em Sociologia

Práticas simbólicas e património oral

O património cultural imaterial representa um conjunto de experiências acumuladas e transmitidas de geração em geração, tais como rituais, falares, danças, música, artesanato, artes culinárias e práticas agrícolas. Esta herança representa os saberes e a partilha comunitária, fluindo permanentemente de uma geração para a outra. Como assinala Arantes,(1) a preservação da cultura imaterial, revela que o património pertence às comunidades e está imbuído em processos sociais e culturais pelos quais a vida social é produzida e transformada. O património imaterial de Monchique O património imaterial deste concelho do interior algarvio é composto por um manancial de conhecimentos, de saberes-fazer associados a actividades como a cestaria, a doçaria, a gastronomia, a tecelagem, os bordados, a “estila”, a apicultura e os trabalhos em madeira. A cestaria representa uma arte que desde há muito se pratica em Monchique, sendo a matéria-prima, vime e verga, produzida também no concelho. Esta arte continua a ser praticada e tem alguns seguidores de gerações mais novas. Na doçaria destaca-se o Bolo de Tacho ou Bolo de Maio como bolo tradicional de Monchique que é feito para se comemorar o dia 1 de Maio. É confeccionado com alguns produtos do concelho como por exemplo mel, azeite, banha de porco e aguardente. Aliás, a aguardente de medronho está sempre presente para acompanhar uma fatia deste consistente e

vívio e às danças tradicionais.

Cadeiras de tesoura de Monchique apreciado bolo. Na “estila” são usados métodos ancestrais, que têm passado de geração em geração, e hoje ainda tem um significativo número de produtores em Monchique. A existência de um Roteiro das Destilarias, de uma loja no centro da vila que comercializa aguardente de medronho de quase todos os produtores concelhios e a criação recente da Confraria do Medronho são iniciativas que merecem ser salientadas como formas de valorizar um produto forte de Monchique e a identidade local. Quanto à gastronomia são muitos os pratos típicos confeccionados a partir da carne de porco, aliás o saber-fazer associado a todo o processo da matança do porco, ou como se diz em Monchique, “morte porc”, sempre acompanhou estas populações.

O porco é a base alimentar das gentes da serra, sendo todas as partes aproveitadas e consumidas ao longo do ano. Os principais produtos são presunto, banha, toucinho, carne e enchidos. A importância destas iguarias na gastronomia local levou à criação de certames como a Feira dos Enchidos e a Feira do Presunto. A arte da tecelagem tradicional teve muita expressão no concelho até há cerca de meio século. Actualmente existe apenas uma tecedeira embora já pouco activa. Há um saber-fazer em risco de se perder, que se não for transmitido às gerações mais novas, correr-se-á o risco de ninguém saber um dia o que é e como funciona um tear. Os saberes associados à arte de trabalhar a madeira têm perdurado ao longo dos tempos. Ainda podemos

MÁRIO DUARTE

Destilação de aguardente de medronho

Envergamento de garrafa

encontrar quem faça colheres de pau em madeira de urze e medronheiro e cadeiras em madeira de amieiro. Estas cadeiras, designadas como cadeiras de tesoura de Monchique, com origem romana, têm alcançado sucesso além-fronteiras. Na Artechique, feira que se realiza na vila de Monchique sempre em Setembro, e que este ano leva a efeito a sua 18ª edição, é possível adquirir produtos tradicionais e assistir à execução de peças do artesanato mais típico do concelho. Este evento é uma forma de valorização do saber-fazer e da identidade monchiquense. Ainda como património cultural imaterial não podemos esquecer as memórias e saberes-fazer ligados à ancestral arte de trabalhar a terra, aos processos de rega, à debulha do milho nas eiras, aos modos de con-

A religiosidade no concelho é bastante marcada por procissões como a de São Sebastião e Nossa Senhora da Conceição (freguesia de Monchique), a de São Romão (freguesia de Alferce) e a de Santo António (freguesia de Marmelete). As práticas simbólicas, como por exemplo o “banho do 29”, continuam a existir. Esta prática foi retomada com base na antiga tradição da ida das populações da serra até ao litoral na noite de 29 para 30 de Setembro (Dia de São Miguel). A tradição inclui a partilha de farnéis, as danças e culmina com um banho de mar que, como diziam, “valia por 29”. A cultura oral continua a existir com vitalidade sendo os falares e dizeres como um elemento diferenciador de Monchique a par dos costumes e tradições rurais. A diversidade e riqueza do património oral transmitido de geração em geração passa também por um vasto leque de contos, histórias e lendas, que fazem ainda parte do imaginário de tantos monchiquenses, tais como, a Lenda do Barranco do Demo, a Lenda da Moura da Serra de Monchique, a Lenda da Princesa D. Branca e a Lenda da Cruz da Fóia. De referir a este nível um trabalho de recolha feito pelos alunos do 8º ano da EB2,3 de Monchique realizada no ano lectivo 2006/07. A recolha foi editada pela Junta de Freguesia de Monchique com o título Lendas, histórias e contos de Monchique. É um contributo importante para a valorização da memória colectiva preservando a voz da tradição. Cabe a todos a tarefa de transmitir os valores e saberes adquiridos, fazendo a diferença entre a perda e a preservação da cultura e identidade local. As gerações mais velhas são portadoras de um saber-fazer que é o sustentáculo do artesanato existente. É de extrema importância o registo do património cultural imaterial junto dessas gerações que são depositárias de tantos saberes. Como refere o historiador António Rosa Mendes “a vida é mudança e aquilo que permanece é a nossa identidade”. (1) ARANTES, António (2006). “Diversity, Heritage and Cultural Politics”. Theory, Culture & Society 24 (7-8), pp: 290-296. Versão electrónica consultada em http://tcs.sagepub.com


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Cultura.Sul

06.07.2012

António Pina Convida

Preservemos aquilo que é nosso ‘’Toda a viagem de 1000 léguas depende do primeiro passo, porque é o que marca a direcção’’ (Ditado chinês)

Luís Guerreiro

Chefe de Divisão de Cultura e Museus

Perante um mundo crescentemente globalizado, onde tudo tende a ser igual em qualquer parte do mundo, é muito importante que saibamos defender, preservar e valorizar as nossas diferenças, aquilo que verdadeiramente nos caracteriza e nos confere identidade. O Algarve, como toda a gente sabe, é a principal sala de visitas do nosso País. Milhares de pessoas de todo o mundo vêm todos os anos a esta região, aqui permanecendo alguns

dias, atraídos por motivações e gostos diversificados. Também se sabe que a competitividade entre as regiões turísticas é muito grande, quer em matéria dos preços praticados, quer na qualidade dos produtos oferecidos. Os visitantes, está provado, são cada vez mais exigentes, cultos e esclarecidos. Neste enquadramento assume especial relevo uma atenção muito cuidada ao nosso Património Cultural, entendido como realidade dinâmica entre herança material e imaterial, monumentos e tradições, costumes e mentalidades e criação contemporânea. Em 2005, em Faro, foi aprovado um Documento do Conselho da Europa, designado por Convenção – Quadro do Conselho da Europa sobre o valor do Património Cultural na sociedade contemporânea, onde pela primeira vez se reconhece a importância do património

cultural, como atrás o definimos, para o desenvolvimento humano das sociedades, numa perspectiva de respeito pela dignidade humana, da diversidade cultural e do pluralismo, contra a homogeneização e a harmonização. Nos últimos tempos tem saído diversa legislação nacional no sentido de envolver entidades públicas e privadas, bem como cidadãos em geral, na gestão e preservação do nosso património cultural, dando orientações e sentidos de actuação, partindo do princípio que esses bens e valores representam um sinal de presença, um testemunho, uma herança de quem nos antecedeu, mas também porque contribuem positivamente para enriquecer a nossa vida, a nossa existência, em suma, reforçam a nossa identidade cultural. Actualmente já não nos revemos nas palavras do 1º Tenente da Marinha, Carlos de Sousa

Leal, quando em 1917 escreveu: «A província merece ser visitada, mas o touriste não vai encontrar que admirar, mais que belos campos e formosas praias. Monumentos faltam. Os povos que outrora habitaram o Algarve, não deixaram templos ou construções monumentais, que hoje nos poderiam dar uma ideia do seu poder e do seu valor artístico. Uns pobres restos de umas termas, lanços de muralhas sem nada de notável, algumas igrejas e está feito o balanço». Este discurso perfeitamente datado correspondia a um modelo de turismo assente em grandes monumentos e tesouros artísticos, coisa que realmente o Algarve não possuía. Como dizia Guilherme de Oliveira Martins, actual presidente do Tribunal de Contas e um dos responsáveis pela Convenção de Faro: «Não estamos sós; em cada momento, a História faz-se com os

contemporâneos e com aqueles que tornaram possível a nossa existência e constituíram as gerações que nos antecederam». O Algarve está a viver uma das maiores crises de que há memória. O Turismo nas suas diversas vertentes, o dito «tradicional» de sol e praia, o turismo cultural, o turismo residencial, o turismo sénior e o turismo de golfe, podem dar uma ajuda muito séria para combater esta crise, atraindo receitas para o País, criando emprego e fomentando o crescimento económico. Para isso é preciso que haja um grande consenso nacional em torno de uma estratégia para o sector, que o Governo aposte forte no Turismo e que todos os agentes económicos e entidades públicas e privadas estejam irmanadas nos mesmos princípios, porque matéria prima, está mais que provado, existe e de qualidade internacional.

Espaço AGECAL

Para uma história do turismo do Algarve

Patrícia Batista - Historiadora Sócia da AGECAL ‒ Associação de Gestores Culturais do Algarve

Falar de Algarve é hoje sinónimo de praia e de férias, no entanto nem sempre foi assim! Até meados do século XIX os banhos de mar destinavam-se, exclusivamente a fins terapêuticos, prescritos pelos médicos de então, a talassoterapia estava em voga, e os “ares do mar” também eram considerados saudáveis. O próprio conceito de viagem e de turista era bastante diferente do actual. Viajar sempre fora apanágio dos mais abastados, sobretudo nos séculos XVIII/XIX onde se cultivava o gosto pelas viagens como parte integral da formação do indivíduo, bem ao gosto romântico da época. No caso particular do Algarve, existem diversos relatos de viajantes

que aqui se deslocaram, essencialmente, por motivos profissionais, como o alto funcionário francês do Ministério da Guerra, Leopold Alfred Gabriel Germond de Lavigne, ou Hermann Friedrich Joachim Freiherrn Von Maltaz, que empreendeu uma viagem científica à região, na qualidade de presidente da Sociedade dos Amigos da História Natural de Mecklenburg. O turista, tal como hoje é entendido, começa a ganhar expressão a partir dos anos 30 do século XX, com a introdução de férias pagas, em França. O que em Portugal só viria a acontecer décadas mais tarde. De forma gradual a “ida a banhos” desliga-se da sua função meramente medicinal e começa a fazer parte do calendário social da elite endinheirada. Os banhos de mar, para além de recomendáveis para a saúde, tornam-se, igualmente, momentos de fruição e lazer, complementados por uma intensa actividade social e cultural. O Algarve de início do século XX é uma região pouco turística, sobretudo, devido às escassas e difíceis acessibilidades, que tornavam a viagem bastante penosa, apenas uma estrada que atravessando a serra do Caldeirão, ligava ao Alentejo e resto do país, o mar mantinha-se

O Hotel Guadiana foi edificado nas primeiras décadas do século XX como principal via de acesso. Falava-se então numa tríade turística: Portimão – Monchique e Sagres. Monchique atraía muitos viajantes, quer pela sua exuberante vegetação, quer pelos seus banhos termais. Sagres pela sua carga mística e simbólica ligadas à figura do Infante e da Expansão. E Portimão, em particular, a Praia da Rocha, devido ao seu clima ameno ao longo de todo o ano, rivalizando com as famosas estâncias internacionais como Biarritz.

Também a ausência de unidades hoteleiras dignas de tal designação constituíam um entrave ao turismo na região. As primeiras unidades hoteleiras, como o Hotel Guadiana, em Vila Real de Santo António, ou o Grande Hotel na capital da província são edificadas nas primeiras décadas de 900. O grande surto edificatório, e que alterará completamente a fisionomia do litoral algarvio, coincide com o boom turístico dos anos 60, reflexo da inauguração do aeroporto

de Faro em 1965, que irá colocar o Algarve definitivamente nos circuitos turísticos internacionais. De paraíso perdido de difícil acesso o Algarve torna-se num centro cosmopolita, destino turístico de figuras públicas de renome internacional, o aeroporto, segundo Manuel da Fonseca, torna a região “um arredor da capital do País. Os estrangeiros, então, mal chegam a Lisboa, daí a nada, estão a tomar banho nas praias algarvias”.


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