SET | 2012 • Nº 49 • Mensal • O Cultura.Sul faz parte integrante da edição do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente
SETEMBRO • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO
9.469 EXEMPLARES
www.issuu.com/postaldoalgarve
Entrevista
Mário Laginha: Desmitificar o Jazz
p. 4 e 5
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Cultura.Sul
07.09.2012
Um espaço que dá relevo a uma fonte de actividade literária que fervilha, muitas vezes, à margem dos circuitos convencionais.
blogosfera
Jady Batista
Ler aos 16, carreira profissional melhor aos 33
Henrique Dias Freire Editor do CULTURA.SUL
A urgente recuperação de monumentos O Algarve é uma região rica em património cultural. Apesar de ter havido, nos últimos anos, um esforço considerável na sua preservação e recuperação, estamos ainda longe de responder às reais necessidades. Com a actual conjuntura económica era essencial saber quais as prioridades no investimento a fazer em obras de preservação e segurança. Foi o que foi feito por iniciativa da Direcção Regional de Cultura do Algarve. De acordo com a radiografia do estado do património cultural da região, feita através do Plano Regional de Intervenções Prioritárias do Algarve (PRIPAlg), só a concretização das dez obras mais urgentes representam um investimento superior 1,5 milhões de euros. Segundo o estudo encomendado, foram identificados 59 monumentos, dos quais 13 são da Igreja Católica, 14 de privados e os restantes 32 imóveis são de propriedade estatal ou municipal. A sua recuperação aponta para um custo total de 14 mil milhões de euros. Trata-se de uma verba considerável a aplicar que só poderá ser concretizada a longo prazo com recurso a fundos comunitários mas de difícil concretização por falta de contrapartida nacional. Até lá, teremos provavelmente que continuar a assistir à degradação do nosso património cultural... ou então... empenharmo-nos todos numa nova solução mais participativa na defesa daquilo que é nosso.
Ficha Técnica Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire
Uma investigação recente veio revelar que a única actividade extracurricular de adolescentes com 16 anos com efeitos benéficos na sua carreira profissional é a leitura de livros, tanto para rapazes como para raparigas. Outras actividades típicas dos 16 anos: fazer desporto, socializar, ir a museus ou a galerias ou ao cinema ou a concertos, ou quaisquer outras actividades (desde cozinhar até costurar). Que efeitos na futura carreira profissional? Nada de significativo. E quanto aos jogos de computador? Reduzem as chances de chegar à Universidade. Pelo contrário, ler livros já implica uma maior probabilidade.
Explicações possíveis: características únicas ligadas à leitura por prazer; empregadores preferirem contratar pessoas com nível de literacia semelhante ao seu; ou então simplesmente porque adolescentes já destinados a uma melhor carreira profissional tendem a ler mais. (University of Oxford (2011, May 9). Reading at 16 linked to better job prospects. ScienceDaily. Retrieved May 9, 2011, from http://www.sciencedaily.com /releases/2011/05/110504150539.htm)
Site: http://ondemudar.blogspot.com/ Postagem: http://ondemudar.blogspot. com/2011/05/ler-aos-16-carreira-profis-
Espaço CRIA
A Ciência e o Desporto, num dia a não esquecer!
Ana Lúcia Cruz
Gestora de Ciência e Tecnologia no CRIA ‒ Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da Universidade do Algarve
A ciência está em todo o lado! Nas nossas casas, nas nossas escolas, na rua, no carro, na saúde... no desporto. Eu arrisco-me inclusivamente a afirmar que todos temos a capacidade inata de querer saber mais, explorar... investigar, embora, cada um à sua maneira, mediante os seus recursos e área de atividade. Agora, vocês questionam: “Ana, o que é que isso tem a ver com empreendedorismo?” Tudo! Se encararmos o empreendedorismo como uma atitude, todo o investigador é um po-
Paginação: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: » blogosfera.S: Jady Batista » livro.S: Adriana Nogueira » momento.S: Vítor Correia » panorâmica.S: Ricardo Claro » patrimónios.S: Isabel Soares
tencial empreendedor: arrisca, gera conhecimento e transforma-o em algo útil para a sociedade, que pode ser ou não comercializado. E é agora que vou buscar o desporto, porque quero falar-vos um pouco da ciência no desporto no âmbito de um evento muito especial, organizado pela Universidade do Algarve. Nem mais nem menos do que a Noite Europeia dos Investigadores de 2012. Esta iniciativa ocorre em várias cidades da Europa e, mais uma vez, a cidade de Olhão vai ser o palco principal deste evento no Algarve. O dia 28 de setembro vai ser mágico e tudo de forma gratuita. Apenas tem de aparecer no Ria Shopping entre as 10 e as 22 horas. Este dia pretende unir a ciência à comunidade, mostrar como o papel do cientista (investigador) tem contribuído para tornar o nosso quotidiano mais simples e divertido, focando-se (este ano) no desporto e através de experiências interativas. Parece-me um bom motivo para ir passear com a família e amigos. Educação e Diversão tudo no mesmo lugar. Como é que a ciência contribui para o desporto? Por exemplo, já fui atleta de competição em ginástica acrobática e uma das tecnolo-
Colaboradores: AGECAL, ALFA, CRIA, Cineclube de Faro, Cineclube de Tavira, DRCAlg, DREAlg, António Pina, Pedro Jubilot. Nesta edição: Ana Lúcia Cruz e Mauro Rodrigues
gias que mais me impressionou foi o pó de magnésio. Claro que não foi inventado de propósito para as meninas de maiô! Mas aquele “pózinho” está para os ginastas (e para outros desportistas) como as asas estão para os pássaros. Sem ele era queda na certa, pois transpira-se bastante e o pó impede-nos de escorregar. Outra tecnologia ao serviço do desporto que me impressiona, e esta já desenvolvida propositadamente, foi o fato de banho para a natação. Pelos vistos pode fazer toda a diferença e que o diga Michael Phelps, que segundo uma notícia do Público em 2009, viu o seu adversário Paul Biedermann a fazer-lhe adeus com o novo recorde. “É que o alemão envergava um dos fatos de nova geração da Arena, o X-Glider, com cobertura integral de poliuretano, enquanto o seu rival norte-americano se mantinha fiel ao agora obsoleto equipamento LZ Racer, da Speedo”. Mais um exemplo, é a bola de futebol inteligente da Adidas, criada em parceria com outras empresas e que permite saber se a bola entrou ou não na área do golo (cada vez que me lembro daquele jogo... Sim. Esse mesmo!). Onde é que eu quero chegar!? Per-
guntam vocês. Explico: Bola, Adidas... Adidas, Inovação... Inovação, Investimento... Investimento, Tecnologia... Tecnologia, Ciência... Ciência, Cientista... Cientista, Noite Europeia dos Investigadores 2012, Ria Shopping, Olhão, 28 de Setembro, Gratuito, Família e Amigos. Esqueçam as histórias de cientistas malucos, até porque de malucos temos todos um pouco, e apareçam no Ria Shopping com a família, amigos e se for preciso inimigos. O importante é aparecer e ver com os próprios olhos que afinal os investigadores não são “bichos do mato”, não andam despenteados, de óculos e de batas brancas, são pessoas altamente sociáveis e bem penteadas, têm hobbies e comem mais do que a mera massa com atum (ah, esta última é mais para os estudantes universitários. Peço desculpa!). Os cientistas foram os responsáveis por desenvolver tecnologias como: a melhor bola de futebol usada pelo Cristiano Ronaldo, o melhor fato de natação usado por Paul Biedermann, as melhores próteses de lâminas de fibra de carbono usadas por Oscar Pistorious, entre outras maravilhas no âmbito do desporto.
Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve
on-line: www.issuu.com/postaldoalgarve
e-mail: geralcultura.sul@gmail.com
Tiragem: 9.469 exemplares
Cultura.Sul
07.09.2012
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cinema Cineclube de Tavira
Cineclube de Tavira à espera da Câmara
Nos últimos meses nada mudou: o Cineclube de Tavira continua a enfrentar graves dificuldades para pagar as facturas e continuamos também à espera, desde há meses, de uma reunião esclarecedora e construtiva com o responsável pela autarquia. Por todos os meios tentamos manter viva a nossa associação, que no próximo mês de Abril irá celebrar 14 anos. Nesse clima de incerteza total em relação ao futuro, em breve iremos anunciar mais umas campanhas de angariariação de fundos para garantir a nossa sobrevivência por mais uns meses. Chegámos à esse ponto: um mês de cada vez... Felizmente para Outubro teremos apoio do Parlamento Europeu para a maioria dos filmes a exibir... Iniciámos Setembro com uma bela homenagem ao Cinema pelas mãos de Martin Scorsese, paixão pelo sonho que é e continua a ser a Sétima
PROGRAMAÇÃO
www.cineclube-tavira.com 281 320 594 ¦ 965 209 198 ¦ cinetavira@gmail.com
SESSÕES REGULARES Cine-Teatro António Pinheiro ¦ 21.30 horas 9 SET ¦ Salmon Fishing in the Yemen (A Pesca do Salmão no Yemen), Lasse Hallström, Reino Unido 2011 (107 ) M/12 13 SET ¦ Estrada de Palha (na presença de Vítor Correia), Rodrigo Areias, Portugal/Finlândia 2012 (90 ) M/12
Suíça/E.U.A. 2011 (146 ) M/12 23 SET ¦ The Dictator (O Ditador), Larry Charles, E.U.A. 2012 (83 ) M/12 27 SET ¦ Tony Manero, Pablo Laraín, Chile/Brasil 2008 (97 ) M/16 30 SET ¦ Magic Mike, Steven Soderbergh, E.U.A. 2011 (110 ) M/12
16 SET ¦ Marley, Kevin Macdonald, E.U.A./Reino Unido 2012 (144 ) M/12
Arte. Dois filmes com Sacha Baron Cohen: A Invenção de Hugo (2) e O Ditador (dia 23). Também conseguimos marcar o novo filme de - Caramel - Nadine Labaki (dia 6); o novo
filme de Rodrigo Areias, com o tavirense Vítor Correia no papel principal (dia 13); Marley, o documentário fascinante sobre o músico que globalizou o reggae (dia 16); o muito
20 SET ¦ A Torinói Ló - The Turin Horse (O Cavalo de Turim), Béla Tarr, Hungria/França/Alemanha/
esperado O Cavalo de Turim (dia 20) Mike. Aproveitem para ver cinema de e iremos fechar o mês com o último qualidade na vossa cidade enquanto trabalho de Steven Soderbergh: Magic houver... Até breve!
Espaço AGECAL
A AGECAL e a situação do setor cultural
destaque
A AGECAL - Associação de Gestores Culturais do Algarve, constituída por profissionais da cultura do setor público e privado em atividade na região algarvia analisou na sua última Assembleia Geral realizada em Faro a situação da área cultural no País e na região, decidindo tornar públicas as seguintes conclusões: - O Estado e as autarquias, cumprindo o estipulado na Constituição da República Portuguesa investiram, sobretudo nas últimas duas décadas, verbas consideráveis em infraestruturas (bibliotecas, museus, arquivos, teatros, centros de ciência, …) e em atividades que permitiram o acesso à cultura e à educação de centenas de milhares de cidadãos de todas as idades e em diferentes regiões do País. Muitos jovens portugueses fizeram as suas aprendizagens e alguns esco-
lheram profissões na área da cultura, bibliotecários, museólogos, técnicos do património e arqueólogos, gestores e produtores culturais, … - Este trabalho de desenvolvimento cultural corre agora o risco de ser debilitado ou mesmo destruído pela demissão do Estado de funções sociais fundamentais para a coesão e o progresso social. Trata-se ainda de desperdício de investimentos realizados com evidentes resultados positivos patentes nos diversos indicadores de desenvolvimento social. - Verificou-se em 2012, também no Algarve, a suspensão de atividades culturais, encerramento temporário ou definitivo de infraestruturas, cortes de apoios a estruturas profissionais e associações culturais, não renovação de contratos de trabalho… - O Algarve com uma economia predominantemente turística, sem
estratégia para a cultura, um inquestionável fator de atração e desenvolvimento, sem criação artística regional, sem museus, teatros, património protegido e valorizado, poderá transformar-se a curto prazo numa região em perda de identidade, desqualificada comparativamente a outras regiões. - Falhado o modelo do “betão e do asfalto”, dos “empréstimos fáceis a países, autarquias e famílias”, surge agora a par do discurso da austeridade a defesa de um modelo tecnocrático para a cultura, a “janela de oportunidade” que tudo mercantiliza, reduzindo as actividades e bens culturais a um valor exclusivamente económico, perspetiva contrária ao humanismo que, na segunda metade do século XX, fez evoluir muitas regiões do mundo para sociedades de paz e participação, com respeito
“XI FESTIVAL DE FLAMENCO” Dias 13, 14 e 15 SET | 21.30 | Centro Cultural de Lagos Trata-se de um evento composto por concertos nos quais estão representadas as distintas artes do flamenco: guitarra, cajón, canto e baile
pelos direitos sociais, protecção da diversidade cultural e da participação das comunidades nas práticas culturais, valores assumidos pela UNESCO e principais organizações internacionais. Para evitarmos o regresso a um País de emigrantes e mão-de-obra barata, de populações excluídas, sem educação e cultura, deveremos
manter e reforçar a coesão do tecido cultural profissional em estreita ligação com as estruturas representativas das comunidades e associativas, com interesses e perspetivas comuns, apoiando os cidadãos na defesa dos seus legítimos direitos, nomeadamente de formação e acesso à cultura, educação e ciência. A Assembleia Geral da AGECAL
“MARÉ VAZIA” Até 29 SET | Museu do Mar e da Terra da Carrapateira - Aljezur O fotógrafo/surfista/shaper Daniel Costa apresenta 17 fotografias, três pranchas shaipadas pelo próprio e a visualização de um leque de documentários clássicos sobre a prática do surf
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Cultura.Sul
07.09.2012
panorâmica
• MÁRIO LAGINHA EM ENTREVISTA
Desmistificar a ideia de inacessibilidade do Jazz Pelo segundo ano consecutivo, Mário Laginha exerceu as funções de director artístico do Festival Internacional de Jazz de Loulé, naquela que foi a 18ª edição do evento.
Com uma forte ligação familiar a esta cida- zzístico nacional, sobre a sua carreira e o de algarvia, o músico faz o balanço daquele desaparecimento do amigo e colega Bernarque é um dos mais emblemáticos festivais do Sassetti. de jazz do país e fala sobre o panorama ja- Eis Laginha de regresso ao Cultura.Sul.
Cultura.Sul (CS) - Que balanço faz desta 18ª edição do Festival Internacional de Jazz de Loulé (FIJL)? Mário Laginha (ML) - Se tivermos em conta a enorme crise com que todos nos debatemos e com que o Festival se debateu, uma enorme redução do orçamento e de apoios, já que os sponcers também desapareceram, acho que o Festival correu muito bem. Houve um esforço de todas as partes para que o Festival não morresse. Digamos que a crise levou a que não fosse possível este ano termos músicos a vir do estrangeiro porque, para além dos cachets, há o problema das viagens que são muito caras. Este ano não foi possível mas para o ano estaremos melhor. Na minha opinião conseguiu fazer-se com que viessem aqui grupos de jovens, alguns que não são conhecidos e cujos músicos estão agora a sair dos cursos superiores. Porque em Portugal já há escolas de jazz, com um nível surpreendente. CS - Fale-nos um pouco mais sobre esses novos talentos. ML - Quem cá esteve testemunhou isso. São músicos que agora não são conhecidos, daqui a uns anos tocarão muito próximo daquilo que tocam hoje e, de repente, já toda a gente os vai conhecer. Ser testemunha de um momento em que eles ainda não eram conhecidos mas que já eram brilhantes é também um privilégio. Tivemos três bandas, a primeira em que nenhum músico era conhecido, a segunda era mista, e a terceira já é uma banda com valores dados. Portugal já tem muitos músicos de jazz muito bons, que podem estar em qualquer festival de jazz internacional. CS - E acha que o festival perdeu pelo facto de não ter esses nomes estrangeiros? ML - Em termos de qualidade não perdeu. Apetece-me quase lançar um apelo para que os portugueses percebam que para se ser bom não tem que ser de fora. Claro que acho
mo. Este festival tem que ter esse perfil de juntar o público local, português, com o público estrangeiro. Muitos dos turistas gostam imenso de jazz por isso é importante ver essa oferta. CS - Gostam mais de jazz do que os portugueses? ML - O problema é que, muitas vezes, as pessoas não são estimuladas a gostar. E outras vezes dizem que não gostam mas nem sequer conhecem. Algum jazz é mais difícil e complexo e outro jazz é super comunicativo e fácil de chegar. Gostava de desmistificar essa ideia de inacessibilidade do jazz. O jazz pode ser uma música popular e já foi uma música muito popular.
Mário Laginha é o director artístico do Festival Internacional de Jazz de Loulé que a diversidade é uma coisa maravilhosa e que é bom que venham cá músicos estrangeiros ao mesmo tempo que músicos portugueses. Sou da opinião que tem de haver sempre músicos portugueses aqui neste festival, pelo menos enquanto eu for director artístico. Temos de nos habituar à ideia de que, por vezes, não há músicos estrangeiros e não é por isso que deixa de ser igualmente bom. CS - Este é o segundo ano em que é director artístico deste festival. O que é que uma figura como o Mário Laginha vem mudar num evento que já tinha muitos anos? ML - Não sei se vim mudar… Sou músico e quero continuar a ser músico. Este foi um convite honroso mas uma das razões fortes para o aceitar é que me sinto ligado a Loulé. A minha mãe nasceu em Loulé, o meu lado Laginha é de Loulé. Achei que havia uma espécie de
dever… A minha ideia é fazer um trabalho honesto. O objectivo para três concertos era ter sempre um grupo americano (não necessariamente da América do Norte, este ano até houve a ideia de trazer um grupo argentino), um grupo europeu e um grupo português. Depois a ideia até era vir um quarto grupo, também, português, e que fosse ou do Algarve ou de jovens promissores (mesmo que não fossem do Algarve). Só que este ano isso não foi possível. Mas acho que seria um formato diversificado e que acabava por ter 50% de músicos portugueses e 50% de estrangeiros. Por vezes pode haver a tentação do director artístico convidar os grandes nomes e dizer no fim “vejam como eu trouxe estes nomes!”. Eu não tenho nada essa necessidade, talvez por ser músico. Não me importo de trazer músicos que ninguém conhece… Claro que não é desprezível trazer artistas que chamam o
público. Mas a ideia é que se tragam bons músicos aqui, que as pessoas saibam que há essa garantia. O FIJL tem músicos bons, que vale a pena vir ouvir. O que eu espero é estar aqui uns anos e depois passo o testemunho a outros. E daqui a uns anos posso voltar a tocar aqui, porque é óbvio que enquanto for director artístico não me vou pôr no cartaz. Desmistificar o género CS - Qual é o tipo de público que vem a este festival? ML - Acho que o público é misto, entre pessoas de Loulé e de perto de Loulé que são apreciadoras de jazz e que já sabem que em Loulé há uma programação séria, sempre houve, os meus antecessores sempre foram pessoas muito sérias, que fizeram um óptimo trabalho e como tal não me vejo como alguém que melhorou. E depois há muito turis-
CS - Na actualidade, figuras como Diana Krall desmistificaram essa ideia elitista do jazz, comercializaram mais o estilo? ML - Sim, foi também um fenómeno porque ela canta muito bem, toca bem, é bonita, teve todo um mercado à sua volta. Mas ainda há que ir mais longe. Às vezes a música instrumental, que não tem um cantor, também pode ser muito acessível, muito comunicativa. Gostaria que, aos poucos, se quebrasse essa barreira e que as pessoas aproveitassem até porque não há muitos concertos de jazz. Vamos lá aproveitar já que temos os concertos ao pé de nós. CS - Quem é que ouve jazz, pessoas mais jovens ou mais velhas? MG - Todas! Quem eu acho que não ouve, de uma maneira geral, são os adolescentes, a faixa etária dos 12 aos 16, que vêem os “Morangos com Açúcar” e não estão para aí virados. Mas há excepções, basta se calhar que tenham pais que se interessam e que até ouvem jazz em casa e já não olham para o jazz como uma música difícil de gostar, complexa. Mas acho que a partir do jovem adulto começam a gostar. Neste festival a audiência é muito mista, jovens, adultos, pessoas com mais idade.
Cultura.Sul
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panorâmica deste ano? ML - Sim, seria no grupo do André Fernandes. No álbum apresentado, “Motor”, quem toca piano é o Bernardo. Convidei o grupo todo antes de Janeiro. O disco ia sair por isso fazia sentido vir o grupo todo.
CS - E em relação aos músicos de jazz, como descreve o panorama actual em Portugal? ML - Estamos bem. Uma das coisas boas desta edição do festival é que se viram aqui bandas com músicos muito novos e que tenho a certeza absoluta que são músicos que vão dar que falar. Saíram agora das escolas mas estão ao nível dos estrangeiros. CS - E há muitas escolas de jazz em Portugal? ML - Sim. Toda essa qualidade dos músicos é fruto de, nos últimos 10 ou 15 anos, terem aparecido mais escolas de jazz, cursos superiores de jazz e os frutos estão a começar a aparecer. A minha esperança é que as escolas, tal como as universidades, não formam só os especialistas. Muitas vezes formam pessoas que, mesmo que não se dediquem a 100% à música, serão bons ouvintes, vão querer consumir. Nessa medida, começam a tornar possível alguma autonomia no meio do jazz, para que não seja possível estar sempre à espera de subsídios ou de sponcers. O ideal é pensarmos que temos aqui salas esgotadas, e que os bilhetes são pagos. Acho fundamental que as pessoas percebam que têm de pagar porque os músicos são profissionais, é assim que ganham dinheiro. Se na bilheteira fosse recuperado o investimento, a vida seria mais fácil para todos nós. Os festivais de jazz em Portugal CS - Há cada vez mais festivais de jazz em Portugal? ML - Já houve! Agora podemos dizer que há cada vez menos. Mas durante muito tempo, até há bem pouco tempo, houve um acréscimo enorme de festivais de jazz. Também por causa das escolas. O jazz é uma música que vive muito dos espectáculos ao vivo, da improvisação. Quem gosta de jazz gosta muito e há assim uma espécie de luta para que torne possível haver concertos ao vivo. Basta que apareça um carola numa cidade do interior para perceber que a única maneira de trazer espetáculos de jazz ao vivo naquela terra é organizar um festival, por mais pequeno que seja. E à conta disso foram aparecendo festivais, alguns ganharam uma dimensão maior como o de Loulé, outros mais pequenos mas que também têm um papel muito importante. Estou a lembrar-me de Valado dos Frades, um festival muito pequeno, num sítio pequeno ao pé de Leiria, mas que já tem uma história de alguns anos. Depois há o de Portalegre, em Faro também houve, em Tavira… Têm havido imensos. CS - E nesse contexto, qual é a imagem do FIJL? ML - Tem óptima imagem. É um
CS - Foi uma grande perda, não só como amigo, mas também para a música portuguesa? ML - Foi uma perda enorme. Para o ano tem de ser pensada uma homenagem neste festival. Este ano, porque é muito em cima, não o quis fazer. Em muitos festivais e eventos vem sempre uma fotografia e uma homenagem ao Bernardo. Não acho nada mal, é um impulso que todos temos. Mas acho que ele tem que ser relembrado ao longo dos anos todos que aí vêm à frente e, neste momento, acho que algum recato não é pior. Pelo enorme amor que tenho por ele e por tudo o que ele fez, um enorme amigo do peito, sou padrinho de uma das filhas dele, este ano, nem me apetece falar disso.
Mário Laginha tem uma forte ligação a Loulé festival que tem uma solidez e uma história. Isso foi um dos meus argumentos para que não se interrompesse. Tem uma história forte que é marcante até para a comunidade e a imagem é óptima. No meio do
jazz, os músicos viram que Loulé é prestigiante. CS - Loulé é o “Sudoeste” dos festivais de jazz? ML - Sim, está ao nível dos festivais
fortes como Cascais. Bernardo Sasseti CS - Estava prevista a presença de Bernardo Sasseti na edição
Novo trabalho com Maria João chega em Outubro Para quando o lançamento de um novo trabalho? Tenho feito muita coisa. Este ano tive uma encomenda para a “Guimarães Capital da Cultura”, escrevi um concerto para clarinete e orquestra, no qual sou compositor mas não toco. Correu muito bem e vai ser gravado em breve. Eu e a Maria João tocámos na Gulbenkian um novo repertório e gravámos, o disco vai sair em outubro. Trata-se de um quinteto, tem um acordeonista algarvio que se chama João Frade, um harpista que se chama Eduardo Raon, que é português mas que vive na Eslovénia, e um percussionista norueguês que se chama Helge Norbakken. O “Mongrel” que é um disco que fiz dedicado ao Chopin foi editado este ano na Alemanha, Áustria e Suíça.As críticas têm sido muito
boas, portanto, estou com esperança para ver se toco com esse trio lá fora. Aliás, o Cine-Teatro Louletano foi inaugurado com um concerto do “Mongrel”. Deixou-me muito feliz, foi uma grande honra. Há dois projectos que este ano acabaram – os Três Pianos, que eu adorava, e o duo com o Bernardo.
Nisso eu não quero mexer. Fui tocar com um pianista brasileiro que se chama André Mehmari, cheguei há uma semana do Brasil. Correu muito bem e fizemos um repertório que nada tem a ver com o que eu fazia com o Bernardo, é uma coisa mais brasileira. Pode ser que venha a ser editado no Brasil.
CS - Tem uma forte ligação a Loulé. Costuma vir cá muitas vezes? ML - Venho de vez em quando, o meu tio e padrinho (irmão da minha mãe) vive aqui em Loulé. Estas ligações não se perdem… Emocionalmente sinto-me muito ligado a Loulé. Já antes sentia e mesmo depois de ser director artístico deste festival vou continuar a sentir essa ligação. Um dia gostava de arranjar uma casa aqui perto, mais na serra, porque sinto que tenho muito a ver com o Algarve. Quando me aproximo do Algarve e começo a sentir o cheiro a estevas fico feliz, é um cheiro maravilhoso. CS - Sendo um homem ligado à Cultura, como olha para o concelho de Loulé nessa área? ML - O concelho de Loulé já tem um historial cultural, uma ligação forte à cultura, com vários festivais, um dinamismo invulgar. A crise está a pôr um bocado em causa tudo isso mas acho que se está a fazer um esforço, pois não se pode mandar abaixo o edifício que se construiu. O FIJL, o Festival MED (que ganhou uma imagem fortíssima), workshops, seminários de vários tipos, muita animação cultural em vários sectores… Isso é maravilhoso porque há muitas cidades, até maiores do que Loulé, que não têm esse tipo de dinamismo. Nesse aspecto, a Câmara de Loulé pode orgulhar-se de ter tido um papel forte nos últimos anos de apoio à cultura, o que nem sempre acontece. CS - Para o ano contamos consigo aqui? ML - Claro que sim! Gostava de estar neste barco mais uns anos, fazer parte desta frente de luta para que continue a haver boa Cultura em Loulé.
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Cultura.Sul
07.09.2012
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Vítor Correia
Feira Medieval de Silves
Espaço ALFA
Mauro Rodrigues
Vogal da Direção da ALFA
Um dos primeiros desafios a que os aspirantes a fotógrafos são confrontados é conseguir capturar uma espécie de beleza única nas suas fotografias. Mas eu não estou a falar da beleza intrínseca: uma flor, um cãozinho fofinho, uma modelo profissional ou uma paisagem de outono são bonitas por si mesmas, estou a falar de como certos elementos dentro da fotografia que, parecendo que não, estão posicionados de forma ordenada a criar um equilíbrio que vai fazer no final, absoluta diferença entre a beleza que estamos a ver no momento, e a que a maioria das pessoas irá mostrar, um momento banal do tipo “snapshot”. Por isso um olho treinado irá sempre conseguir reunir, ou ver, esses elementos mais rapidamente do que um leigo na matéria. Estou a falar obviamente da composição fotográfica, mas o que é propriamente isso e como se pode “ver” isso na realidade de forma a poder apli-
Conseguindo a composição perfeita cá-la nas nossas fotografias. Para quem não gosta de história de arte, lamento desiludi-los, mas terão de começar a gostar ou no mínimo a observar os quadros com a atenção devida. Muita da percepção e construção da composição fotográfica deve-se ao facto de haver uma série de linhas imaginárias, ou formas geométricas, que percorrem de forma harmoniosa a totalidade do quadro ou pintura, Rembrandt, o famoso pintor neerlandês, utilizou essa técnica extensivamente em retratos, paisagens e outras situações, como por exemplo em pinturas de grandes grupos de pessoas. Se observarem a fotografia ao lado vão notar que está dividida em 9 partes, por duas linhas verticais e duas horizontais igualmente espaçadas entre si, que subsequentemente têm quatro pontos de cruzamento. Estes pontos são chamados pontos de interesse, que em termos de composição fotográfica vão ser os sítios que vocês irão colocar os elementos supostamente mais importantes da vossa leitura da cena que estão a fotografar. A regra dos terços como é vulgarmente conhecida foi descoberta e estudada pelos pintores clássicos nos seus quadros, mas, pode ser aplicada nos mais diversos meios: cinema, revistas, fotografia, entre outros, tudo o que implique composição, esta técnica estará lá mascarada entre as suas linhas imaginárias. Neste caso a ilha do lado esquerdo é o centro de atenção da fotografia, mas pode ser qualquer coisa, um grupo de pedras
Regra dos Terços - Mina de S. Domingos - Mértola no chão, uma estrada, um reflexo, uma casa, uma montanha… desde que esses pontos de interesse sejam cruzados ou que haja uma harmonia de uma forma geométrica, garanto-vos que a “beleza” nas vossas fotografias irá começar a ter mais “presença”. Outra dica importante que quero partilhar com vocês é que na impossibilidade de esses elementos estarem no local, procurem-nos, por exemplo: acham a montanha com gelo no topo bonita, procurem um rio nas redondezas para ajudar na composição, ou uma estrada ou um grupo de
árvores, procurem essas linhas, adicionem, componham, sejam criativos e não preguiçosos. Mas sabem como são as regras, são feitas para serem quebradas, por isso, tenham sempre atenção, porque por vezes em certas situações, a leitura da cena pede para que sejam quebradas as regras, pensem antecipadamente, perguntem a vocês mesmos, como posso tornar esta fotografia mais interessante? São os elementos cuidadosamente colocados ou alinhados por vocês na fotografia que proporcionam a
unicidade do momento. A simplicidade é também outra das situações a explorar, ao colocar demasiados elementos na fotografia, não vão ter pontos de interesse identificáveis, tentem fazer com que o olhar do público percorra a fotografia nessa simplicidade, senão vão ter os olhares perdidos e subsequentemente aborrecidos. Mas como a fotografia não vive só da composição, tenham em conta outros elementos importantes, como por exemplo a forma, cor, textura e repetição.
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Cultura.Sul
07.09.2012
Espaço Educação
Ano letivo 2012-2013: o futuro é agora!
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Com a chegada do mês de setembro, inicia-se o novo ano escolar, prevendo-se que as aulas comecem na segunda semana, mais propriamente entre os dias 10 e 14, em função do calendário escolar definido pelo Despacho nº 8771-A/2012. O fim do ano letivo não é igual para todos os alunos. Acabará a 7 de junho para quem frequenta os 6.º, 9.º, 11.º e 12.º anos – anos de exames nacionais; e a 14 do mesmo mês para os alunos dos 1.º ao 4.º, 5.º, 7.º, 8.º e 10.º anos. Para os alunos do 4º ano de escolaridade, que venham a ter acompanhamento extraordinário, as atividades poderão prolongar-se até 5 de julho, devendo as escolas/ agrupamentos adotar as medidas organizativas adequadas. Servindo de referência e de conciliação das necessidades educativas dos alunos, o calendário escolar constitui-se como elemento necessário às escolas/agrupamentos para planificação das atividades a desenvolver, tendo em vista a execução dos seus projetos educativos e plano de atividades, sendo também utilizado como instrumento no reforço da autonomia das escolas. No que diz respeito a medidas de política educativa, entretanto encetadas, estas conferem maior flexibilidade à organização do currículo dos alunos, possibilitando às escolas a flexibilização da duração das aulas desde que se cumpram os tempos mínimos estabelecidos no DecretoLei nº 139/2012. Elimina-se a obrigatoriedade dos tempos letivos de quarenta e cinco minutos ou múltiplos e permite-se ajustamentos em função das necessidades do grupo de alunos/turma, bem como a criação de oferta complementar nos 2º e 3º ciclos do ensino básico. O papel estruturante das aprendizagens essenciais é reforçado nas disciplinas de Português e Matemática, bem como o rigor científico indispensáveis ao prosseguimento de estudos e necessidades do mundo atual. Neste âmbito, foram, também, apresentadas as metas curriculares do ensino básico para as disciplinas de Português, Matemática, Educação Visual, Educação Tecnológica e Tecnologias de Informação e Comunicação, que constituem para as
escolas e docentes, juntamente com os programas, o referencial na organização das aulas e avaliações. Para os encarregados de educação as metas constituem uma referência de apoio no acompanhamento dos seus educandos. Outra das medidas prevista é a possibilidade das escolas poderem promover a coadjuvação nas áreas de expressões no 1º ciclo e o reforço do acompanhamento dos alunos em referência a necessidades específicas; no 2º ciclo é garantido o apoio diário ao estudo. A concretização destas medidas permite às escolas disponibilizar e encaminhar os apoios para as necessidades reais dos alunos, aumentando, deste modo, a eficácia na gestão dos recursos humanos de que dispõem. O despacho normativo nº 13A/2012 constitui o mecanismo de operacionalização das medidas educativas anunciadas, o qual prevê e confere maior flexibilidade à gestão das escolas/agrupamentos na organização das atividades leti-
vas, ao mesmo tempo que a impele para decisões de maior optimização de recursos na distribuição de serviço, com ganhos de eficácia e eficiência e valorização dos resultados escolares. É nesta dicotomia, de princípios orientadores, regras e margens de liberdade e responsabilidade na escolha das soluções que melhor respondem às necessidades da comunidade educativa, sempre potenciadas em função de melhores resultados escolares, que se reconhece, concretiza e se reforça a autonomia pedagógica e organizativa da escola, para além de apelar a métodos e estratégias inovadoras. Com efeito, as nossas escolas planearam o ano letivo 2012/2013, com a autonomia reforçada que aquele normativo concede, orientando o crédito (concedido às escolas) para o exercício de cargos de natureza pedagógica e para o reforço e desenvolvi-
“CAVALO MANCO NÃO TROTA” 15 SET | 21.30 | Cineteatro Sambrasense - S. Brás de Alportel No momento em que o juiz pergunta se o réu se considera culpado ou inocente, Miguel Torres é remetido para um turbilhão de memórias que começam na infância, precisamente aos oito anos, e terminam agora quase com quarenta anos
mento das capacidades dos alunos, designadamente nas disciplinas de menor sucesso escolar, quer através do aumento da carga curricular, quer através de estratégias de apoio, como por exemplo a coadjuvação dentro da sala de aula ou a constituição de grupos de alunos com dificuldades homogéneas para incremento das suas aprendizagens. É neste aspeto que reside inovação na organização e planeamento do ano escolar, uma vez que à escola é permitido utilizar os tempos decorrentes de ajustamentos letivos e a componente não letiva dos professores para assegurar o apoio necessário à consecução de aprendizagens e recuperação dos ritmos das mesmas, canalizando recursos humanos para projetos que, em sintonia com o Projeto Educativo, concorram para a melhoria do sucesso. Por outro lado, à gestão das escolas é possibilitada a alteração ao planeamento inicial dos horários, em tempo oportuno e adequado, sempre que o contexto o exija e estejam em causa as necessi-
dades reais dos alunos. Alheias a um tempo e contexto de lazer, as escolas/agrupamentos da região algarvia preparam, com afinco, o ano letivo para que este se inicie no calendário previsto. É, de facto, importante e de toda a justiça realçar o esforço e profissionalismo que as equipas de gestão e grupos de trabalho/docentes emprestaram e emprestam a esta causa para que nada falhe e o ano letivo de 20122013 arranque nas melhores condições, com a esperança dos melhores augúrios nos resultados escolares dos nossos alunos. A Direção Regional de Educação do Algarve, na pessoa do seu diretor, deseja a todos aqueles que direta ou indiretamente colaboraram nas tarefas de organização e arranque do ano (equipas de gestão, professores, pessoal não docente) um bom 20122013. Para os pais/encarregados de educação e especialmente para todos os alunos da região votos dos maiores êxitos escolares e pessoais.
“PINTURA DE OLAVO CAVACO” Até 29 SET | Galeria de Arte Pintor Samora Barros - Albufeira O artista, arquitecto de profissção, desenvolve os seus trabalhos através de inúmeras técnicas, entre as quais destacam-se os acrílicos e as aguarelas
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07.09.2012
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Contos de Verão na Ria Formosa
Livros de Areia
Pedro Jubilot
pjubilot@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt
Interrogava-se Xavier, acerca do porquê de se levarem livros para a praia, quando nesta raramente se consegue a tranquilidade necessária para o acto de ler. São os grãos de areia que aparecem nas diversas páginas e que parece que vão riscálas, vindos naturalmente dos passos dos banhistas e de toalhas que se sacodem por perto, ou de uma ou outra rajada de vento ainda que fraca e breve. …E se as crianças sempre correm e levantam os grãos de areia como microscópicas balas enviadas ao acaso. Gritam excitadas por muitas razões e sem razão. O que fazer? No fundo a praia é o pedaço de mundo por excelência que foi inventado para elas, e que nós tomamos de assalto em cada verão, para ver se ainda conseguimos trazer à memória esse tempo de quando éramos reis. O mar, quente ou frio é ainda e sempre do seu domínio, por isso constroem castelos e fortalezas à beira-mar, num árduo trabalho de vai e vem de carregar baldes de água e areia. A tarefa é sempre recompensada com bolas de Berlim e gelados. O seu a seu dono. Mochila arrumada, seguida de retirada estratégica para a esplanada, onde o gosto que se saboreia na mistura conseguida num cappucino, bebido frente ao mar da tarde na praia, é o que agora de mais parecido Xavier consegue ter de infância. Abre o livro tentando libertar-se dos grãos de areia adquiridos e começa a leitura, agora que a maior parte dos veraneantes está de saída. Atingida a página 76, acontece algo que filmado seria depois forçosamente misturado em câmara lenta: - são três raparigas de uma mesa atrás da sua que se levantam de repente uma atrás da outra, sendo que a última das raparigas ao passar toca no braço de Xavier, fazendo cair o livro ao chão, com a capa virada para cima, e essa mesma rapariga, aflita com o disparate provocado, apronta-se para apanhar o livro. Mas estranhamente fica de joelhos agarrando-o com muita força em ambas as mãos. Xavier diz-lhe que não há pro-
blema, não tem razão para se preocupar, que está tudo bem. Mas quando a rapariga levanta a cara, ele percebe que o seu rosto é o título do livro: Olhos Verdes Cabelo Castanho. Ele estende então a mão direita para receber o livro, mas a rapariga não esboça qualquer intenção em o devolver. Não te posso dar o livro, perdi o meu há mais de seis meses e desde então tenho tentado desesperadamente comprar um novo livro para o acabar de ler, desabafa ela nervosamente. Dê-me o seu contacto, posso emprestá-lo quando terminar, daqui a dois dias talvez, o livro é pequeno e se calhar ainda vai cá estar de férias, tentou Xavier, para amenizar o estado da rapariga. Mas é que é muito importante para mim saber o resto do livro, não percebes. Xavier sabia como encontrar livros, mesmo os difíceis, e começou a ceder quando se apercebeu que a bela rapariga à sua frente, parecia saída do romance. Eu já ia na página 100, tens de mo emprestar, posso lê-lo todo hoje, e amanhã venho aqui devolvê-lo à hora que quiseres. Não me podes fazer isto, tem de ser… Como é que te chamas? Xavier Almeida… e tu? Madalena. E virando-se para as amigas que tinham ficado estarrecidas perante a situação, como que na presença não de um, mas de dois desconhecidos, disse-lhes com um sorriso meio amarelo, podem ir andando, eu já lá vou ter. E então Xavier, vais emprestá-lo ou não? Por favor, peço-te por tudo o que de
mais sagrado, pela tua saúde… Pronto, calma… E como é que eu sei que já leste o livro, que não se trata apenas de uma coincidência? Preciso de uma prova… dá-me uma prova qualquer… Está bem, de acordo. Confia em mim, mas mesmo antes de me emprestares o livro tens de o ler também até à página 100, como eu. Vou dar um mergulho com as minhas amigas. Depois venho aqui… está bem? Espera por mim, por favor. Promete. Xavier anuiu com a cabeça, recebeu o livro das mãos de Madalena, que não o havia largado durante a conversa, e continuou a leitura atentamente. Quando ela regressou já ele a esperava de livro fechado sobre a mesa e marcado na página 100 como combinado. Vês como o livro é importante. Num instante devoras-te as páginas com curiosidade. Xavier levantou-se, agarrou o livro e esticou o braço na direcção de Madalena inquirindo-a acerca da prova previamente acordada. Madalena, não o fez esperar. Deu um passo em frente. Beijou-o, durante alguns segundos. Página 98, disse ela agarrando o livro. Seguiu depois confiante levando na mão o tão desejado objecto. Venho cá trazê-lo de volta amanhã. Xavier, que pouco dormiria na noite, na seguinte manhã foi a primeira pessoa a chegar à porta da biblioteca municipal, esperando que a abrissem, debaixo de um sol que já se sentia muito quente. Seria mais fácil, encontrar ali um exemplar do livro do que procurá-lo nas poucas livrarias da pequena cidade.
A sorte, pode dizer-se, estava do seu lado, já nas suas mãos, ali à frente dos seus olhos. No entanto sabia que tinha todo o dia para acabar o livro, e que a melhor maneira era lê-lo devagar, saboreando cada página atentamente. Comeu qualquer coisa, viu algumas revistas e até adormeceu num dos sofás. Depois de terminada a leitura verificou que era tempo de partir para o seu encontro. Foi lavar a cara para despertar. Penteou os cabelos e seguiu para a praia. Esperou na esplanada, mais ou menos na mesma mesa do dia anterior. Quem chega primeiro sempre pensa que o outro vai faltar. E por isso sentiu-se um pouco triste, à semelhança do rapaz que não conseguiu rever a sua amante no fim da história. Madalena sentara-se sozinha numa mesa atrás de Xavier, que pressentiu estar a ser observado, e quando a descobriu, reparou que a rapariga estava agora feliz. Ela levantou-se calmamente e foi sentar-se junto dele, devolvendo-lhe o livro tal como prometido. E agora? Perguntou-lhe Xavier com um semblante triste e cansado. Agora precisas descansar, mas eu vou contigo, meu amigo. Quero mostrar-te outras páginas do livro de que te privei, esclareceu Madalena. Deu-lhe a mão e foram-se embora juntos. Afinal, …ele já lera o livro, ficando bastante animado com o esclarecimento. Nessa noite abraçaram-se como na página 105, beijaram-se como na página 114 e fizeram amor como na página 120. Foi o que ele lhe disse de manhã, tentando surpreendê-la.
Não, disse Madalena. Não se mostrando surpreendida, zangada ou arrependida. Foi melhor, muito melhor... nem tudo tem de ser como no livro, há vida para além dos livros e sempre melhor, acrescentou a rapariga. Na semana que se seguiu amaram-se como noutras páginas que já foram escritas para outros livros ou que estão ainda por escrever. O vento de hoje varria as nuvens que no dia anterior apenas ameaçaram a chuva que não chegou a acontecer e veio ajudar a limpar a costa que tinha ficado com algas, assim como refrescar os corpos que tinham ficado muito quentes e secos com o calor dos magníficos dias mediterrânicos anteriores. Depois que Madalena partiu, o vento começou a soprar muito forte de sudoeste, ou seja, do lado do farol do Cabo de Santa Maria. Quando assim é, a areia da praia fica varrida e apesar de não estar frio, o desconforto provocado pelos finos grãos a picar no corpo faz com que as pessoas deixem a praia mais cedo e até os pequenos guerreiros do areal são obrigados a bater em retirada, com promessas de novos reinos encantados algures perto dali. A falta desse burburinho neste fim das férias de Verão faz Xavier sentir-se mais só e introspectivo. E voltar a pensar porque é que se lêem livros na praia ou mesmo porque é que se levam livros para a praia? A resposta não está na praia, nos grãos de areia, nem nas crianças, nem nas bolas de Berlim ou na mistura correcta dos ingredientes dum capuccino. Agora já sabe Xavier. Está tão somente nos livros e no que se pode viver com eles.
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Cultura.Sul
07.09.2012
livro
Leituras para a Alice foi uma impaciência de medos esculpida na inquietação dos sentidos. Esperar por ti foi um exercício inefável de emoções arrancadas à terra.
Adriana Nogueira
Classicista Professora da Universidade do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com
Há uns tempos, a Alice pediu-me que lhe aconselhasse um livro, pois não tinha muitos hábitos de leitura e gostava de os adquirir. Na altura, não assumi a responsabilidade, pois uma coisa é escrever num jornal e falar de livros de que gosto, não sabendo quem são os meus leitores, outra coisa é recomendar a alguém em concreto: uma aluna do primeiro ano da faculdade, provavelmente cheia de expetativas. É muito mais difícil. Podia ir aos clássicos da literatura, mas este mês até li dois livros, ambos editados em 2012, que me pareceram bons para a Alice e, por isso, não se ofendendo os amáveis leitores, a ela dedico esta página. Canto Imperecível das Aves António Vilhena (Caracol Edições, junho 2012) Imagino, Alice, que já te disseram que ler poesia era difícil, que já tentaste (porque estudaste na escola), mas afirmas que percebeste pouco, correspondendo ao aviso que te haviam feito. A mim também me disseram que não te devia recomendar um livro de poesia em primeiro lugar. Pois é exatamente um livro de poesia que trago para te mostrar. Repara como a capa é discreta, branca, com as letras a preto, exceto a da palavra Poesia, que se destaca em cor de mel. Depois, abres, e o poeta oferece-te a sua arte, para que a leias com os teus olhos, a tua cabeça e o teu coração. Começo por poesia, pois as palavras dos poetas levam-nos mais depressa para outros lugares – os nossos lugares – que podem ser completamente diferentes dos do poeta ou de qualquer outro leitor. Ler poesia é também ler a nossa história pessoal.
destaque
Leio-te um poema: Este é o teu primeiro cais onde estranhas os sons frios de uma ternura anunciada. Esperar por ti foi mais que uma viagem:
Que leste aqui? Que te dizem estas palavras? Falam de uma chegada e de uma espera. O resto, como dizia Fernando Pessoa, «sinta quem lê». Podemos ler a chegada de um ser amado, há muito ausente, pelo qual esperámos com ansiedade, mas também receio que ele chegasse diferente (uma impaciência de medos/ esculpida na inquietação dos sentidos). O poema está mais centrado naquele que espera e pouco no que chega (sobre este se diz apenas que estranha os sons frios de uma ternura anunciada): é quem espera que faz a viagem e demonstra as suas emoções. Podemos ler aqui um poema a um primeiro amor. Aquele amor que esperamos que nos aconteça; que receamos, mas desejamos, com igual intensidade; que sentimos que, com ele, podemos deixar que as nossas emoções se libertem do íntimo (emoções arrancadas à terra). Para aquele que chega, o nosso amor é o primeiro cais onde sente ternura, pois em outros regaços anteriores não a terá sentido. Mas também podemos ler como o autor quis. A sua leitura (sabemo-lo por entrevistas e por uma dedicatória no poema anterior «O Dia da Luz», onde se lê «ao Rudolfo e à Susana») remete para o momento do nascimento dos filhos. O que a poesia tem de belo é que todas as leituras (estas e muitas outras) são válidas. A liberdade que o verso dá transforma a leitura que se faz em distintos momentos da vida. Neste livro tens 46 poemas, de diferentes extensões e formas: uns têm estrofes separadas por linhas em branco, dando-nos tempo para respirar; outros formam um bloco, sem divisão de verso, onde a poesia se torna mais intensa; a mancha gráfica de alguns ocupa quase a página inteira; outros, recatados, servem-se apenas de dois versos. O que encontras em todos é a emoção. Por eles passam o branco, a doçura, a luz, a paixão, o sol… Nos cinco capítulos que o compõem, vais poder encontrar-te, entre outros, com o sul, com o Alentejo onde o Autor nasceu e sobre o qual escreve; vais ainda encontrar referências aos clássicos gregos (além de Psicólogo, o au-
tor também está a fazer uma tese em Clássicas, em Coimbra), que tão bem servem para intensificar as imagens. Termino com um poema que tem um pouco disto tudo: Horizonte O horizonte é a metáfora da eternidade, passo a passo, a caminhada sem fadiga, a esperança que chega com a Primavera. Há em cada alentejano uma Tróia incendiada, um exílio de amor secretamente renovado. Fica sempre uma papoila no olhar, uma inefável emoção, atravessando os braços de tanto Alentejo. Todas as cores do vento Miguel Miranda (Porto Editora, março 2012) Quando, em fins de maio, este autor foi (a Gambelas, à Biblioteca Mu-
“JOSÉ DA CÂMARA” 7 SET | 22.30 | Casino de Vilamoura Fadista iniciou a sua carreira profissional aos 17 anos na revista “Lisboa, Tejo e Tudo”, dando continuidade à sua tradição familiar
nicipal de Faro e à de Loulé) falar sobre este livro (que marca os seus 20 anos de carreira literária), escreveume na dedicatória que era um «romance sobre preconceitos avulsos». Gostei da definição. A tua juventude, Alice, não te deixa ser preconceituosa e talvez nem conheças na pele o conceito (espero que nunca o conheças!), mas o mundo está cheio destes juízos que fazemos a priori, quase sempre baseados em ideias feitas que nos impedem de avaliar as situações como elas são. Este pareceu-me um bom livro para quem não tem muitos hábitos de leitura: em 198 páginas tens 42 capítulos, o que faz com que não possam ser muito grandes, permitindo ao narrador ir contando, em cada um deles, o que se passa com as personagens que vivem num prédio insonorizado e resistente,
no centro de uma cidade. É de relações humanas que esta história trata, das manias e gostos das pessoas com que nos cruzamos e das quais pouco sabemos, se não através do contacto, da conversa. Se não dermos oportunidades ao Outro, nunca o iremos conhecer. Cada personagem tem uma história pessoal e herdada, formada pela sua cultura, religião, país, profissão, etc., que condiciona a maneira de se relacionar com as demais. É assim que um muçulmano e um judeu se agridem, atirando sacos de lixo e pedras, porque caíram uns vasos da varanda de um para a do outro, derrubados por um gato. Mas eles não sabiam que tinha sido um simples gato (considerado como seu por cada um dos moradores, também sem saberem que o David de um era o Faisal de outro, ou o Quincas, ou o Napoleão, consoante a casa que o acolhesse naquela dia) o autor da façanha, e, «Extremadas as posições, de nada adiantaram as tentativas de conciliação. Ibraim não podia deixar de sentir ódio ao recordar a morte dos seus entes queridos. Anan Barakat não podia esquecer a situação de opressão que o seu povo sofria, escorraçado da sua própria terra, refugiado no seu próprio país (…). Para além disso, Ibraim recordava as suas ceroulas, todas estraçalhadas à pedrada. E Anan Barakat não podia esquecer que quase o tinham morto com um vaso na cabeça.» (p.75) E assim se reforçaram preconceitos que poderiam levar a uma enorme tragédia. Vais ver que vais gostar. O livro tem outros ingredientes suculentos, como o humor, a luta pela libertação dos medos que não nos deixam ser felizes, uma digressão sobre a curiosa personagem dos Brás Cubas (já leste o livro de Machado de Assis, As Memórias Póstumos da Brás Cubas? Aconselho-to vivamente!), culminando num final muito bem conseguido, sobre o qual, claro, nada te direi. Não te sei dizer quais são todas as cores do vento (que só se conseguem ver «em momentos de especial abertura de espírito ou motivação poética»), mas posso citar-te uma frase do texto que te vai ajudar: «Naquele instante, a brisa era incolor e inaudível, sinais substantivos de um amainar interior do processo de paixão».
“TANGO MILONGUERO” 15 SET | 22.30 | Auditório Municipal de Olhão “Milonguero” é uma forma de ser, de sentir e dizer o tango da maneira mais genuína; é uma forma sentida de tocar tango e de dançá-lo, com origens em Buenos Aires, Argentina
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07.09.2012
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património
• VIVÊNCIAS NO ALGARVE - PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL
Um olhar sobre o Património Cultural Imaterial de Lagoa FOTO: MARIA LUISA FRANCISCO
Maria Luísa Francisco
Investigadora e doutoranda em Sociologia luisa.algarve@gmail.com
A Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial aprovada em 2003(1) foi ratificada por Portugal em 2008. Trata-se de uma Convenção que tem por base a importância do património cultural imaterial como fonte de diversidade cultural e garantia de desenvolvimento sustentável, considerando a profunda interdependência que existe entre o património cultural imaterial e o património material cultural e natural. De acordo com o artigo nº 2 da Convenção considera-se património cultural imaterial as práticas, representações, expressões, conhecimentos e aptidões – bem como os instrumentos, objectos, artefactos e espaços culturais que lhes estão associados – que as comunidades, os grupos e os indivíduos reconheçam como fazendo parte integrante do seu património cultural. Esse património cultural imaterial, transmitido de geração em geração, é constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função do seu meio, da sua interacção com a natureza e da sua história, incutindo-lhes um sentimento de identidade e de continuidade, contribuindo, desse modo, para a promoção do respeito pela diversidade cultural e pela criatividade humana. Património imaterial de Lagoa O concelho de Lagoa nos finais do séc. XIX e primeiras décadas do séc. XX foi marcado pelo dinamismo na produção de vinho, na pesca e na indústria conserveira. Existe um saberfazer associado à prática vitivinícola, às artes de pesca, à olaria, à gastronomia, à doçaria e ao artesanato que tem passado de geração em geração.
em Lagoa se realiza anualmente uma Mostra do Doce Conventual, precisamente no Convento de S. José. O vinho de Lagoa é sobejamente conhecido tal como a sua Adega Cooperativa. O saber-fazer ligado à produção artesanal de vinho não se perdeu e ainda há alguns locais do concelho onde a produção familiar se mantém. Identidade e comunidade
Moldagem de peça em barro, Lagoa Lagoa é um concelho com tradição e com um interessante dinamismo associativo. A Associação dos Artesãos do Algarve tem a sua sede neste concelho. Em termos de Artesanato não se pode deixar de referir uma das mais importantes Feiras de Artesanato a sul do país que se realiza anualmente em Lagoa: a FATACIL (Feira de Artesanato, Turismo, Agricultura, Comércio e Indústria de Lagoa). Em Estombar existe o Cantinho do Artesão, espaço da Junta de Freguesia de Estombar, onde se reúnem artesãos locais para executar os seus trabalhos, sendo simultaneamente um local de exposição e venda ao público. Foi neste espaço que encontrámos uma das mais antigas artesãs do concelho que ainda trabalha a empreita. Na História do Concelho de Lagoa da autoria de Rossel Monteiro Santos(2) é referido que “em Lagoa, a confecção da empreita e da tamiça constituíam usos e cos-
tumes bastante antigos, que estiveram desde tempos muito recuados, a cargo das mulheres, que sentadas nas tradicionais cadeiras de atabúa, junto à porta das suas residências ou nas soleiras destas, geralmente ao sol, resguardadas pelo inseparável chapéu preto do seu homem, quase sempre muito usado, trabalhavam a palma com alegres e suaves movimentos de dedos (…). Em Estombar fabrica-se, ainda, a mais fina empreita da Europa, executada com técnica apurada, verdadeiro trabalho artístico que teve o seu início por volta do ano de 1915, a cargo da Associação das Filhas de Maria”. As cadeiras de atabúa também fizeram parte das manifestações de artesanato do concelho. O seu último artífice faleceu recentemente. As gerações mais velhas são portadoras de um saber-fazer que por vezes se perde sem ter havido registo desse património cultural imaterial. É de extrema importância tal
registo junto dessas gerações que são depositárias de tantos saberes. A olaria é uma marca do concelho de Lagoa. Desde tempos imemoriais que se pratica esta arte de trabalhar o barro, especialmente em Porches. A Escola de Artes de Lagoa tem ministrado, entre diversos cursos, o curso de formação em olaria e cerâmica através de um dos mais antigos artesãos do concelho. É um exemplo de boas práticas, de valorização e de salvaguarda do saber-fazer que foi passando entre várias gerações. A tradição gastronómica de Lagoa é muito rica e variada. A doçaria à base de figo, amêndoa, ovos e alfarroba também tem grande tradição em Lagoa. Ainda existem algumas doceiras no concelho que têm transmitindo os seus saberes embora já não se façam “florados de Lagoa”: pequenos bolos confeccionados à base de fios de ovos e miolo de amêndoa. De salientar que
MARIA LUÍSA FRANCISCO
Execução de trabalho em empreita, Estombar
INÁCIO GRAVANITA
Procissão de Nossa Senhora da Luz, Lagoa
A identidade de uma comunidade passa também por momentos festivos na sua vertente religioso-cultural, a esse nível um dos momentos altos em Lagoa são as Festas de Nossa Senhora da Luz, Padroeira de Lagoa, celebradas a 8 de Setembro com procissão, ao fim da tarde, pelas ruas da cidade. Em Ferragudo, freguesia piscatória do concelho de Lagoa, realiza-se a 15 de Agosto a procissão de Nossa Senhora da Conceição, que inclui uma parte de percurso terrestre e outra de percurso marítimo. Na freguesia de Porches, realiza-se a procissão de Nossa Senhora da Rocha, no primeiro domingo de Agosto, procissão que segue da Ermida de Nossa Senhora da Rocha até à praia. Os Contos e Lendas também fazem parte da memória e identidade de uma comunidade. Existe um conjunto de Contos e Lendas ligado a vários pontos do concelho, tais como a Lenda da Senhora da Rocha, a Lenda da Sereia do Cabo de Carvoeiro, a Lenda da Encantada de Porches, a Lenda de Estombar, o Conto da Ponta do Altar e o Conto de São Pedro e os Figos. A vivência dos nossos antepassados nas suas múltiplas facetas constitui património imaterial de valor histórico e cultural. Os Ranchos de Folclore desenvolvem um trabalho de recolha no terreno, seja de artefactos de trabalho, peças de vestuário, seja de informação sobre usos e costumes ou aspectos da tradição oral, e todos esses registos mantêm vivo o património imaterial. O Rancho Folclórico do Calvário tem feito uma interessante recolha a este nível e tem representado o concelho de Lagoa em inúmeros certames nacionais e internacionais contribuíndo para a preservação da memória e da identidade deste concelho. (1) UNESCO (2003) Convenção para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial, Decreto nº 28/2008 de 26 de Março, DR nº 60 1685-1704 (2) SANTOS, Rossel Monteiro (2001) História do Concelho de Lagoa, Lisboa: Edições Colibri e Câmara Municipal de Lagoa
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Cultura.Sul
07.09.2012
Espaço Cultura
Jornadas Europeias do Património 2012 - O Futuro da Memória As Jornadas Europeias do Património (JEP) são uma iniciativa anual do Conselho da Europa e da União Europeia, envolvendo cerca de 50 países, que tem por objetivo a sensibilização dos cidadãos para a importância da salvaguarda do Património. Neste sentido, cada país elabora, anualmente, um programa de atividades a nível nacional, a realizar em setembro, acessível gratuitamente ao público, na sua grande maioria. A Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), enquanto autoridade nacional de tutela administrativa dos bens culturais, é a entidade responsável pela coordenação do evento a nível nacional e propôs, para as JEP2012, o tema «O Futuro da Memória». Com isso, pretende promover a aproximação do público ao património cultural, no seu sentido mais amplo, realçando a sua importância enquanto memória e documento da história e do desenvolvimento das sociedades, e sublinhando também o seu
«O Futuro da Memória» é o tema proposto para as JEP2012. Com isso, pretende-se promover a aproximação do público ao património cultural, no seu sentido mais amplo, realçando a sua importância enquanto memória e documento da história e do desenvolvimento das sociedades, e sublinhando também o seu papel para a construção de um futuro melhor. papel para a construção do futuro. À semelhança dos anos anteriores, estendeu o convite aos vários agentes públicos e privados, no sentido de se associarem a esta iniciativa através da realização de atividades apelativas e diversificadas. No Algarve, a Direção Regional de Cultura preparou, em parceria com outras entidades, toda uma série de atividades para os Monumentos do Algarve que tem diretamente a seu cargo.
Assim, nos próximos dias 28, 29 e 30 de Setembro, terão lugar diversas iniciativas, com livre acesso do público: espetáculos de teatro, recitais de música, recriações históricas, observações astronómicas, leituras encenadas com histórias da História – que irão acontecer da Fortaleza de Sagres às Ruínas Romanas de Milreu, nos Castelos de Aljezur e de Paderne, na Ermida de Nossa Senhora de Guadalupe e nos templos megalíticos de Alcalar. São seis monumentos, que terão uma
variada oferta de atividades, dirigidas a públicos diversificados, que traduzem a aposta
da Direção Regional de Cultura na memória histórica e nos bens culturais como fator de
educação, de lazer e de desenvolvimento. Direção Regional de Cultura
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