Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o público
FEVEREIRO 2013 | n.º 54 8.662 exemplares
www.issuu.com/postaldoalgarve conceição agostinho
Panorâmica: d.r.
Tradição & Modernidade p. 5
Espaço Educação: d.r.
Luísa Monteiro:
ACTA prepara subidas a palco p. 10
Uma opinião, uma visão:
d.r.
A Insuperável mudez da borboleta
p. 11 d.r.
Bom tempo para as indústrias Culturais e Criativas? p. 10 Espaço Cultura:
Contos de Inverno na Ria Formosa:
2020: um horizonte para a Cultura p. 9
Prunus Dulcis p. 8
01.02.2013
Cultura.Sul
Editorial
Espaço CRIA
Mais e melhor Cultura.Sul
O empreendedorismo na oportunidade
Ricardo Claro
Editor ricardoc.postal@gmail.com
O Cultura.Sul assume nesta edição uma nova imagem, que se deseja mais clara e com uma maior aposta na fotografia. Em termos de conteúdos apostamos, neste novo ciclo deste que é o único caderno cultural da região em formato jornal, tornar mais presentes um maior número de áreas da Cultura, numa procura incessante por uma cada vez maior abrangência do fenómeno cultural. Espaço por isso para a entrada de uma secção reservada às bibliotecas regionais, “Sala de leitura”, de um novo espaço dedicado às grandes salas de espectáculo do Algarve e aos respectivos programadores, “Aqui há espectáculo”, bem como, de uma secção dedicada, alternadamente em cada mês, à música e ao teatro, sob as designações “Notas soltas” e “Boca de cena”. Queremos oferecer aos nossos leitores, mais e melhor, diversidade e pluralidade, em áreas que no Algarve precisam de destaque, a Cultura e os agentes culturais. Quem pode almejar uma sociedade mais desenvolvida, conhecedora, sapiente e por isso mais democrática, livre e completa, sem que a Cultura desempenhe um papel central na vida da comunidade e por maioria de razão também na imprensa regional algarvia? O desígnio de colaborar, mesmo desempenhar um papel fulcral na divulgação cultural na região, é uma aposta que o Cultura.Sul faz desde há mais de quatro anos e que com a nova imagem renova como objectivo e como linha mestra de um caminho em que contamos com o imprescindível apoio de todos os nossos colaboradores. A eles se deve o que o Cultura. Sul é e será, à sua pena as centenas de peças que ao longo do tempo trouxemos às páginas deste caderno cultural e o muito que demos e prometemos dar em prol da Cultura da região e do desenvolvimento cultural do Algarve.
José Gonçalves Gestor de Ciência e Tecnologia no CRIA - Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia
No âmbito da presente conjuntura económica, caraterizada pelo aumento do volume de impostos e a consequente quebra do poder de compra, as famílias e as empresas apresentam-se no seu limiar de sustentabilidade, sucumbindo por vezes perante as dificuldades. Consequentemente, e frequentemente numa tentativa de sobrevivência, as dificuldades sentidas pelo setor empresarial resultam na eliminação de postos de trabalho, intensificando a diminuição do poder de compra dos agregados familiares, num ciclo indigno, que é imperativo ser invertido. Conforme é percetível na vida diária, o desemprego sobressai como principal flagelo social, afetando não apenas enquanto questão económica mas também como fator de alienação social de uma parte significativa da população ativa, nor-
malmente jovem e qualificada. Deste modo, várias têm sido as dinâmicas propostas no sentido da ativação de mecanismos de valorização da inovação e do conhecimento como forma de auto emprego, objetivando um impulso positivo à economia nacional. Através do CRIA, a Universidade do Algarve tem vindo a desempenhar um relevante papel na promoção da empregabilidade e valorização do conhecimento, apoiando quer os novos licenciados e pós-graduados que procuram novas oportunidades de emprego através da criação do próprio posto de trabalho, como aqueles que embora alvo do flagelo do desemprego, procuram criar da adversidade uma oportunidade, consolidando novas ideias de negócio assentes na experiência profissional. Face às exigências associadas ao arranque de um novo percurso profissional, o CRIA tem vindo a disponibilizar apoio institucional na área do empreendedorismo, desde a validação da ideia de negócio, à sua implementação no mercado, procurando valorizar as competências e experiência de cada promotor, reforçando as carências identificadas. No entanto, importa cada vez mais realçar e otimizar as
Ficha Técnica: Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural
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Paginação: Postal do Algarve
ferramentas disponíveis no apoio ao empreendedorismo e à criação de empresas, adaptando-as às necessidades dos promotores e consolidando o seu papel alavancador. Ferramentas de apoio ao investimento, quer especificamente direcionadas a públicos desempregados, como o Programa de Apoio ao Empreendedorismo e à Criação do Próprio Emprego (PAECPE), ou a setores de atividade, como o Quadro de Referência Estratégica Nacional (QREN), o Programa de Desenvolvimento Rural (PRODER), ou o Programa Operacional das Pescas (PROMAR), devem assentar a sua atuação na promoção de um empreendedorismo de oportunidade e não de necessidade, impulsionando financeiramente, e numa fase de desenvolvimento, projetos
que demonstrem potencial de geração de receita e de criação de emprego. Em suma, e muito embora as enormes limitações com que nos deparamos diariamente, é ainda possível transformar obstáculos em oportunidades, e oportunidades em sucesso, como muitos empreendedores e empresas continuam a demonstrar. Associado ao conhecimento gerado nas Universidades, à reação perante uma situação de desemprego, ou ao reconhecimento de uma oportunidade, o empreendedorismo precisa-se, bem como a sua promoção e desmistificação. Importa porém que todos consigamos confluir para um resultado comum e que as ferramentas colocas ao dispor da sociedade civil cumpram a sua missão.
Juventude, artes e ideias
Cada vez mais inteligentes!
Rui Monteiro
Hipnoterapeuta
“O aumento sistemático de, pelo menos, três pontos por década, no nível médio dos quoficientes de inteligência tem sido constatado em todos os países ocidentais”, chegando a registar-se aumentos de seis a oito pontos. As crianças e os jovens estão cada vez mais inteligentes. Razões? Melhor alimentação, escolarização mais
alargada e maiores exigências cognitivas do meio. Na verdade, qualquer um pode aperceber-se de que um jovem hoje sabe fazer muito mais coisas do que um de há 30 ou 40 anos. Portanto, a afirmação de que hoje os jovens são mais ignorantes e incapazes do que os dessa época é injusta e não tem nada que a sustente. Apesar disso, as pessoas que hoje acham que têm motivos para pensar que são pouco inteligentes, não devem esquecer duas coisas: 1º - há muitos modos de ação inteligentes que não se vêem; 2º - que, para apreciar o nosso grau de inteligência,
Editor: Ricardo Claro
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Inteligência está a crescer não é necessário fazer comparações com outros. Repito: os jovens estão cada vez mais inteligentes.
Logo, isto significa que podem fazer coisas bem melhores que as gerações anteriores. Na verdade, qualquer jovem, independentemente do seu nível de inteligência pode sempre atingir o patamar do extraordinário. Como? Simples (e difícil ao mesmo tempo, claro está, mas realizável por qualquer um). A pessoa deverá: Manter-se atenta, interessada e ligada aos outros; Estar disponível para responder adequada e protamente às necessidades desses outros; Procurar o melhor desempenho possível em tudo o que fizer. Experimentem!
Responsáveis pelas secções: • Contos da Ria Formosa: Pedro Jubilot • Espaço ALFA: Raúl Grade Coelho • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Espaço CRIA: Hugo Barros • Espaço Educação: Direcção Regional de Educação do Algarve • Espaço Cultura: Direcção Regional de Cultura do Algarve • Grande ecrã: Cineclube de Faro Cineclube de Tavira • Juventude, artes e ideias: Jady Batista • Da minha biblioteca: Adriana Nogueira • Momento: Vítor Correia • Panorâmica: Ricardo Claro • Património: Isabel Soares • Sala de leitura: Paulo Pires Colaboradores desta edição: Carlos Campaniço José Gonçalves Ricardo Moreira Rui Monteiro Rui Parreira Vítor Azevedo Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com e-mail publicidade: anabelagoncalves3@gmail.com
on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve
Tiragem: 8.662 exemplares
Cultura.Sul
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Grande ecrã Cineclube de Faro
Programação: cineclubefaro.blogspot.pt
O Samba também mora aqui… * IPJ | às terças-feiras | 21.30 horas 12 FEV | Caramuru A Invenção do Brasil (comédia), Guel Arraes, Brasil, 2001, (85’) 19 FEV | Amarelo Manga (drama), Cláudio Assis, Brasil, 2003, (103’) 26 FEV | Edifício Master (documentário), Eduardo Coutinho, Brasil, 2002, (110’) Chris Marker - Artista Total Encontros à volta de Chris Marker Sede | às 21.30 horas 14 FEV | SEM SOL, “Sans Soleil”, França, 1983, (100’) 21 FEV | NÍVEL 5, “Level 5”, 1997, França, 1997, (106’) 28 FEV | O PONTÃO, “La Jetée”, França, 1962, (28’) * a confirmar em cineclubefaro.blogspot.pt
Fevereiro com quatro filmes europeus Enquanto ficamos à espera da disponibilidade da cópia para podermos exibir Amour e Detachment, este mês propomos quatro filmes europeus, entre os quais Deste Lado da Ressurreição, o último de Joaquim Sapinho. Com a digitalização gradual dos filmes distribuídos em Portugal, cada vez se torna mais difícil programar sem termos o equipamento necessário para exibir filmes nesse formato (um investimento que continua a milhas do nosso alcance). Com excepção de Guimarães, os cineclubes portugueses continuam limitados a exibir em 35 mm – celuloid (cada vez mais raro, por exemplo existe uma cópia em Portugal de Amour, Detachment que estreou entre nós no formato digital). A segunda opção é exibirmos em dvd ou bluray, mas também recorrer a esta opção depende das distribuidoras e por vezes leva vários meses. Continuamos ansiosamente à espera de notícias positivas do Instituto do Cinema e do Audiovisual sobre a possível abertura do concurso de apoio à exibição de filmes nacionais, europeus e ibero-americanos para 2013. Embora de recursos limitados,
Cineclube de Tavira
Programação: www.cineclubetavira.com 281 971 546 | 965 209 198 | 934 485 440 cinetavira@gmail.com d.r.
SESSÕES REGULARES Cine-Teatro António Pinheiro | 21.30 horas 7 FEV | CIRKUS COLUMBIA, Danis Tanovic, Bósnia Herzegovina / Reino Unido / França / Alemanha / Slovénia / Bélgica / Servia 2010 (113’) M/12 14 FEV | HOLY MOTORS, Leos Carax, França / Alemanha 2012 (115’) M/16 d.r.
Cena do filme Cirkus Columbia este programa (anulado em 2012) tem-se revelado indispensável para a continuidade das actividades cineclubistas. Repetimos, a maneira mais simples, mais agradável, mais enriquecedora e menos dispendiosa de ajudarem a evitar o colapso que ameaça o Cineclube de Tavira é apenas uma: disfrutem das nossas sessões enquanto cá estamos. O valor do nosso bilhete de entrada continua baixo: quatro euros para o público e apenas dois para os sócios e portadores de um cartão de estudante ou de sócio de INATEL.
21 FEV | EDEN À L’OUEST (PARAÍSO A OESTE), Costa Gavras, França / Grécia / Itália 2009 (110’) M/12 28 FEV | DESTE LADO DA RESSURREIÇÃO, Joaquim Sapinho, Portugal 2011 (116’) M/12
Espaço AGECAL
Defender o Património Arqueológico – uma mudança de paradigma? Rui Parreira
Arqueólogo e vogal da AGECAL
Agendar
Até aos anos 70, a «defesa» do património foi bandeiras de resistência de quem se opunha ao progresso descontrolado. Na América, mais avançada que nós em políticas ambientais, começava a falar-se de «gestão de recursos culturais». Nós teimávamos na cegueira, e fingíamos não ver que para lá do Atlântico Norte havia também coisas boas. E organizávamo-nos em
associações, que lá iam autofingindo poder defender o património, em particular o arqueológico, do avanço do betão e dos interesses de lucro fácil. Finalmente, lá tivemos arqueólogos ‘full-time’: os primeiros no pólo industrial de Sines, menina dos olhos do marcelismo, na primeira grande intervenção organizada de arqueologia preventiva. Que, aliás, só éramos capazes de entender como de «salvamento». E depois, no início dos anos 80, a militância converteu-se em responsabilidade institucional. Com os Serviços Regionais de Arqueologia, a «defesa» e o «salvamento» tornaram-se política de património: de um lado os operacionais de terreno, que queríamos salvar o mundo; de um
outro os burocratas, que queriam preparar a sustentabilidade legal das intervenções. Estávamos nós nos anos 90 a salvar o mundo, protagonistas da ‘dirty archaeology’ a acreditar na generosidade de um estado feito à medida dos interesses de uma cidadania consciente e livre (ou daquilo que dele restava), quando nos caiu o Côa nos braços. Em pleno torvelinho de descrença nas bondades do êxito individual e no progresso à custa dos capitais europeus. Foi o ponto de viragem. No lugar e tempo certos para podermos operar a mudança no quadro legal. Com a instituição do princípio da «conservação pelo registo científico» e com a aplicação da máxima ambiental do «poluidor pagador», o Estado
tornava-se garante da defesa do património arqueológico. E recém recrutados agentes, disseminados por todo o país, encarnaram a missão de fazer cumprir escrupulosamente o novo quadro legal pós-Côa. Os promotores imobiliários, os empreiteiros de grandes obras públicas, mesmo o pequeno dono de obra privada tinham agora de contratar serviços de arqueologia. Que o Estado, pela sua vocação e missão, não estava em condições, nem tinha ânimo, de fornecer. A defesa convertera-se em janela de oportunidade, frequentemente amarrada à prática e à mitologia do turismo. O território passou a ser olhado como um arquivo de terra. E os registos de terreno constituíram um acervo que supria as materialida-
des, sacrificadas ao desenvolvimento. E os arqueólogos, imprescindíveis para dar corpo à imposição da arqueologia preventiva, foram capazes de fazer-se ouvir e reivindicar um estatuto à parte no tecido social. Este equilíbrio, cuja fragilidade só uns poucos vislumbraram, rompeu-se com a drástica quebra das operações imobiliárias e do investimento em obra pública. Só então os arqueólogos se deram conta de que o seu papel não é o de prestadores de serviço aos empreiteiros, até então encarados como inimigos, impulsionadores de um progresso cego, destruidor de valores a defender. Só agora os arqueólogos se deram conta de que o seu papel é o de gestores de recursos culturais.
“EXPOSIÇÃO DE JOSÉ MÁRIO CAROLINO”
“O URSO”
Até 10 MAR | Casa do Povo de Santo Estêvão - Tavira “Nihil” não é pintura, não é escultura, é um projecto estético no qual se desvaloriza o existente, procurando uma nova ordem
22 FEV | 21.30 | Campesino RFC - Monte Francisco - Castro Marim Comédia conta a história de uma viúva e de um credor que são envolvidos por uma trama onde se revela a exaltação humana e a sensibilidade nervosa, numa hilariante crítica ao comportamento de homens e mulheres
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Cultura.Sul
Aqui há espectáculo
Carlos Campaniço Programador
Embora o cenário tenha mudado um pouco desde 2005, ainda há poucas salas de espectáculos no Algarve, não se prevendo que esta realidade possa ser alterada nos próximos anos. Dir-se-á que bem contadas até nem
nicípios, a vontade dos programadores e até as exigências dos públicos: a dita crise! Pois bem, esta crise económica e financeira, que o País atravessa, leva a que a Cultura seja fortemente afectada. Primeiro, começou pela ideologia governamental de que a Cultura é um estorvo, uma área de somenos, um luxo de ociosos. E, assim sendo, para que nos serviria um Ministério da Cultura? A importância da Cultura foi reduzida a uma secretaria de Estado. Aí, morou um incapaz Secretário de Estado, até chegar este se-
7 FEV | “História do Soldado”, Igor Stravinsky (música), 12 horas, duração: 1h, preço: entre 5 e 10€ 24 FEV | “A Bela Adormecida”, Russian Classical Ballet (dança), 17.30 horas, duração: 2h20, preço: 28€ (1ª plateia), 25€ (2ª plateia) A Bela Adormecida desperta a magia dos contos de fadas. Um mundo encantado de castelos e florestas, maldições e fadas; somente o beijo do amor verdadeiro conseguirá desfazer o feitiço – a sagração do Romantismo. Baseado no conto “La Belle au bois Dormant”, de Charles Perrault, bem ao estilo francês do século XVIII, é considerado um dos bailados que maior interesse desperta no grande público.
1 FEV | “Fado à Conversa”, com António Pinto Basto convida José Gonçalez (música), 21.30 horas, duração: 1h55, preço: 10€ 3 FEV | “Madagáscar 3” (cinema), 15 horas, duração: 1h33, preço: 3€ 7 FEV | “Conversas à 5.ª”, com António Pinto Ribeiro (ciclo), 21 horas, duração: 1h20, entrada livre 12 FEV | “O samba que mora em mim” (cinema), 21 horas, duração: 1h12, preço: 3€ 14 FEV | “Assim Assim”, de Sérgio Graciano (cinema), 21 horas, duração: 1h37, preço: 3€ 21 FEV | “Improvisos à 5.ª”, com Paulo Machado (ciclo), 21 horas, duração: 1h20, entrada livre
são poucas, mas não me refiro aqui aos anfiteatros com palcozitos de se medirem aos palmos, sem condições mínimas. Refiro-me a infra-estruturas que possam rivalizar com as melhores do País, com equipas técnicas e programação permanentes. Destas últimas, creio que a região merecia muitas mais. Conquanto as poucas salas de espectáculos do Algarve estejam a fazer um trabalho insubstituível, tanto ao nível do que oferecem à Região, como ao nível de uma evidente descentralização – que noutras áreas é quase quimérica – os programadores dos vários espaços (uns mais do que outros) sempre tentaram equilibrar as suas agendas com espectáculos comerciais e eruditos. Porém, há uma variável nova, que entra nas contas da programação, e que afronta as linhas programáticas dos Mu-
nhor anónimo e anónimo se tem mantido. Em ambos os casos não só não houve zelo pela Cultura como é explícito que a ignoram. Depois, apareceu uma violenta Lei dos Compromissos que proíbe o investimento autárquico e deixa as populações órfãs do apoio do poder local, quando órfãs estavam há muito do poder central. É neste cenário que os programadores – sós ou sob direcção superior – têm de gizar as suas programações. Sem dinheiro e na impossibilidade total de fazerem contratações, a cultura erudita dá quase totalmente lugar ao que é comercial. Projectos que enchem salas conseguem facilmente fazer parcerias de bilheteira para viabilizarem os seus projectos. E então a música, a dança e o teatro não comercial, terão de morrer? E que programadores se orgulharão disso?
22 FEV | “Nome” (música), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 10€ O projecto de rock em português NOME nasceu em Faro, em 2004. Foi a banda vencedora da primeira edição do concurso “+Música”, em 2005, promovido pela Câmara de Loulé, e a banda vencedora do concurso para abertura de três concertos dos Xutos e Pontapés no Algarve em 2006. Nesse mesmo ano, os NOME gravaram uma primeira maquete com dois temas, com a
participação especial de Elísio Donas, dos Ornatos Violeta. Depois de alguns concertos em 2007 com bandas como The Gift ou Terrakota, começaram a preparar “Código Pele”, lançado no final de 2009. Em Novembro de 2012 editam o primeiro álbum, “O Pulsar da Matilha”, que conta com a participação especial da cantora Viviane, entre outros nomes da música portuguesa.
24 FEV | “Astérix e Obélix ao serviço de sua Majestade” (cinema), 15.30 horas, duração: 1h49, preço: 3€ 28 FEV | “Balas e Bolinhos 3” (cinema), 21 horas, duração: 2h20, preço: 3€
AMO - Auditório Municipal de Olhão Programação: www.cm-olhao.pt/auditorio Até 28 FEV | Exposição de Aníbal Ruivo – Uma Vida de Arte (escultura), de terça-feira a sábado, das 14 horas às 18 horas, entrada livre 2 FEV | “Não há euros para ninguém” (teatro), 21.30 horas, preço: 12.5€ 23 FEV | “As aventuras do Kiko” (teatro), 16 horas, preço: 8€ / 5€ (crianças até 12 anos)
TEMPO - Teatro Municipal de Portimão Programação: www.teatromunicipaldeportimao.pt 2 FEV | “Fora do Baralho”, com Mário Daniel (magia), 21.30 horas, duração: 1h30, preço: 12€ (balcão), 14€ (plateia) 8 FEV | “Ciclo de Solistas da Orquestra do Algarve” (música), 21.30 horas, duração: 1h, preço: 10€ 15 FEV | “Cinema às 6.ªS – Tabu” (cinema), 21.30 horas, duração: 1.58 horas , preço: 3€
Destaque
A questão é a de saber que lugar tem nos palcos a erudição face aos cortes orçamentais na Cultura
Repleta de romantismo e marcada pelo lirismo, esta obra representa um grande desafio para os bailarinos, sobretudo na interpretação da personagem principal, Princesa Aurora, exigindo um estilo académico cristalino – elegante e frágil. A relação da música de Tchaikovsky com a coreografia de Marius Petipa é de tal forma perfeita que seria difícil imaginar outra leitura da partitura.
Cine-Teatro Louletano Programação: http://cineteatro.cm-loule.pt
Destaque
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Teatro Municipal de Faro Programação: www.teatromunicipaldefaro.pt
Destaque
O desconforto dos programadores
16 FEV | “O deus da matança”, de Yasmina Reza (teatro), 21.30 horas, duração: 1.30 horas, preço: 5€ Dois casais encontram-se para falar sobre um incidente entre os seus dois filhos pequenos: após uma luta, um deles partiu dois dentes ao outro. Ambos os casais con-
cordam que estas coisas acontecem, que o mal pode ser remediado e acreditam no “poder pacificador da cultura” mas, infelizmente, as coisas não são tão simples.
23 FEV | “Lago dos Cisnes”, de Daniel Cardoso (dança), 21.30 horas, duração: 1.30 horas, preço: 10€ (balcão), 12€ (plateia)
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Panorâmica
Tradição & Modernidade A iniciativa Travessas de Cultura, uma parceria entre a Universidade do Algarve e a Direcção Regional de Cultura do Algarve (DRC Algarve), encerrou os encontros promovidos no âmbito deste ciclo de debates informais de reflexão sobre a vida cultural da região quinta-feira da passada semana em São Brás de Alportel, num momento dedicado à temática “Design industrial e artesanato”, mediado por Rui Parreira da DRC Algarve. Depois de em 2010 e 2011 se terem levado a cabo dois ciclos de debates/ conferências sob as designações, respectivamente, de “A Cultura em Conferência” e “Quintas de Cultura”, as Travessas de Cultura, pensadas para o ano de 2012, fecharam a sua actividade já em Janeiro de 2013, depois de sete encontros destinados a debater temáticas tão diversas como a Economia Criativa, a Rádio e Televisão, Artes Performativas, entre outros. Os debates animados, que se desenvolveram um pouco por todo o Algarve, juntaram nesta última edição que decorreu no Centro de Artes e Ofícios de São Brás de Alportel, designers, gestores de projectos públicos de cruzamento do artesanato com o design, agências dedicadas à inovação e criatividade, empresários e muitas outras pessoas para debaterem as questões relacionadas com as potenciais vantagens do encontro entre as artes ancestrais e a modernidade tutelada pela intervenção do design. Com o mote dado pela apresentação dos resultados do projecto TASA – Técnicas Ancestrais, Soluções Actuais, tutelado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve (CCDR Algarve), o debate fluiu, ao mesmo tempo que se salpicou de exemplos de dificuldades e vitórias encontradas
fotos: d.r.
nicação, quase ignorando vertentes como o design industrial e de materiais, entre outros. A par deste desconhecimento, o Algarve apresenta um tecido industrial muito débil, onde as indústrias, além de residuais têm uma baixíssima aposta na inovação e no desenvolvimento de novos produtos. Factor a que se soma, no âmbito do empresariado, uma resistência à inovação, ao desenvolvimento de novos produtos e à conquista de novos mercados e nichos de mercado, em particular tendo em vista a internacionalização. No oposto desta realidade estão alguns empresários que na região apostam em firmar lanças fora de portas e que assumem remar contra a maré como modus vivendi. É o caso, presente na última edição das Travessas de Cultura, da Novacortiça e da brand Pelcor que apostam na diversificação do negócio tradicional da produção de discos para rolhas de cortiça através de uma brand que tem por base a produção de produtos em pele de cortiça e uma clara aposta no mundo da moda como veículo de internacionalização. Desafio
António Correia em representação da Novacortiça no cruzamento do que de melhor a tradição produz com as propostas inovadoras do design. Espaço desde logo, também, para à conversa ter sido trazida a experiência relacionada com o projecto “Design&Ofícios”, uma parceria entre o município de São Brás de Alportel e a Associação de Designers do Sul com o propósito de desenvolver contributos para promover, inovar e recriar alguns
dos artefactos de cariz artesanal, desenvolvidos na região da serra algarvia. A força do artesanato Ao contrário do que se possa porventura pensar, o Algarve tem no artesanato uma panóplia de produtos tradicionais que oferecem uma importante margem de progressão para a majoração das respectivas po-
tencialidades comerciais, haja para tal a capacidade de unir aos sabores ancestrais dos misteres artesãos a inovação e criatividade, bem como o Marketing & Comunicação, o design e a gestão de produtos. Por outro lado, a reactivação das actividades artesanais abre espaço à sobrevivência e salvaguarda das técnicas e das tradições, ao mesmo tempo que cria espaço para a criação de emprego como fim último de projectos que alcancem um grau de desenvolvimento que os viabilize do ponto de vista empresarial, independentemente da escala que se possa atingir. A debilidade do tecido industrial e as resistências do empresariado à inovação
Agendar
Alguns produtos artesanais da região reinventados
Um dos principais problemas encontrados pelos designers da região na imposição da sua actividade profissional como potenciador do desenvolvimento da produção regional prende-se antes de mais com a associação exacerbada que se faz do design ao design gráfico e de comu-
Certo é que os actores regionais, públicos, privados e institucionais, bem como, designers e artesãos, não estão adormecidos perante o desafio de cruzar a tradição e a modernidade apostando num reanimar das actividades artesanais e num desenvolvimento de novas soluções para a reconversão de produtos e saberes ancestrais. Antes falta, isso sim, uma plataforma que agilize as sinergias existentes e as iniciativas no terreno, de forma a permitir completar os ciclos de reinvenção do artesanato e que possa, dotada dos meios para o efeito, unir artesãos e designers, empresas e inovação e todos estes e os mercados finais sob pena do esforço realizado até agora se perder, deitando janela fora o trabalho levado a cabo que, a não ser assim, apenas ficará para a história da investigação, deitando por terra o primado da sua dimensão prática, desiderato final do muito que se vai fazendo neste domínio e no enorme desafio de renovar a tradição dando-lhe cores de modernidade em prol do desenvolvimento integrado e sustentável de um sector que doutra forma sucumbirá com o passar dos tempos. Ricardo Claro
“13º FESTIVAL DE MÚSICA AL-MUTAMID”
“NÃO HÁ EUROS P’RA NINGUÉM”
15 FEV | 21.30 | Centro Cultural de Lagos Masmudi Kebir é um ritmo da música clássica do Egipto, mas também da música para dança oriental. É também o nome de um projecto de música e dança que nos dá a conhecer a dança oriental
2 FEV | 21.30 | Auditório Municipal de Olhão Trata-se de um espectáculo de comédia que tem Octávio Matos encenador, director e actor, ao lado de outros grandes nomes da revista nacional, como Natalina José e Anita Guerreiro
Tentações Guess Valentines Day Silver Preço: 149 € Gold Preço: 159 €
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Cultura.Sul
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Momento
Manif contra a Troika e pela Cultura Foto de Vítor Correia
Espaço ALFA
Fotografia, Arte e Criatividade
Vítor Azevedo
Vice-presidente da ALFA
Agendar
O que é arte, o que é criatividade? Arte - actividade que tem características criativas e estéticas. Criatividade - capacidade de criar. Estas são duas definições muito sintéticas, que quase se fundem, escolhidas de entre milhares de definições e conceitos que têm alimentado e continuarão a alimentar discussões à volta do tema. Estas são opiniões de alguns fotógrafos: “A criatividade é apenas um momento em que olhamos para o ordinário mas vemos o extraordinário”, Dewitt Jones; “Uma vez enquadrada, qualquer coisa pode dar uma boa fotografia”, Cristophe Gilbert; “Quero evocar o que está fora do quadro quero evocar um nexo do caos”, Gerard Castello Lopes; “Naquela fração de
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segundo o seu olho deve captar uma composição ou uma expressão e você deve seguir a sua intuição e fazer a fotografia. É nesse momento que o fotógrafo é criativo. É o instante! Se você o perder, é para sempre”, Henri Cartier-Bresson. O objectivo da ALFA é o de contribuir, através de formação, de tertúlias, de exposições, de palestras, de desafios, da partilha e do convívio entre fotógrafos, para fazer com que os seus associados desenvolvam aptidões criativas a nível fotográfico, passando do simples carregar no obturador em modo automático para um trabalho pessoal em que o fotógrafo domina a técnica e a “máquina”, fazendo dela o que ele quer e não o inverso. Esse é um passo essencial para que a capacidade criativa do fotógrafo aumente, passando o seu trabalho a reflectir as suas escolhas, o seu próprio olhar, a sua capacidade artística e criativa. A ALFA quer contribuir, desafiando a criatividade dos seus associados e divulgando os seus trabalhos, para o engrandecimento e divulgação da arte fotográfica. “FORA DO BARALHO”
“UMA VIDA DE ARTE”
2 FEV | 21.30 | TEMPO - Teatro Municipal de Portimão
Até 28 FEV | Foyer do Auditório Municipal de Olhão
Mário Daniel apresenta um espectáculo de magia para toda a família que mistura a arte da ilusão com a arte cénica
Aníbal Ruivo mostra escultura em ferro, madeira, pedra ou gesso. O pintor e escultor, natural de São Brás de Alportel, tem o curso de Pintura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa
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01.02.2013
Cultura.Sul
Contos de Inverno na Ria Formosa
Prunus Dulcis d.r.
Pedro Jubilot
pjubilot@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt
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«…é por esta razão que no Algarve, ainda hoje, há tantas amendoeiras». E pronto, termina assim a nossa história do rei Ibn-Almundin e da princesa Gilda. E agora, minha princesa linda, são horas de ir dormir que amanhã é dia de escola. Boa noite! Mas pai… e acaba assim? E eles casaram? Sim! Digamos que sim. Eles ficaram juntos… vivem juntos. E foram felizes para sempre? Sim! Eles são felizes, muito felizes… E tiveram muitos filhos!!! Muitos, muitos, não. Alguns! Alguns é quanto, papá? Alguns neste caso são dois. Um menino e uma menina. Assim como eu e o mano. Sim, a menina por acaso também se chama Sonya. A princesa Gilda da história é a mãe, não é, pai? Sim! É ela, minha querida. Deu-lhe um beijo tão terno como só os pais sabem dar. Agora dorme bem. Até amanhã. Bons sonhos. Claro que vou ter bons sonhos, majestade pai-Ibn. Com uma história assim tão bonita! Ivo apagou a luz. Colocou sobre a cómoda o livro, que na capa ostentava o título: ‘Lendas das mouras encantadas no Algarve’, que estava consigo desde a infância e agora passava aos seus filhos. Ivo Almerindo, agora gerente de uma quinta com turismo de habitação rural, já fora rapaz de muitos ofícios. A escola não queria nada com ele, dizia ao tempo de estudante. Ia ao mar com o pai. Trabalhava na terra com o avô. Nas férias de Verão, servia às mesas das esplanadas dos cafés e restaurantes da zona, onde praticava o inglês e ganhava uns cobres que amealhava para uma viagem de comboio à Europa. Foi nessa viagem de sonho que conheceu a mulher dos seus sonhos, quando a ajudou a carregar a mochila na estação de Milão. Nessa tarde de Agosto ambos es-
Amendoeiras em flor tavam de passagem pela capital da Lombardia. Ela que vinha do sul regressava a casa no norte da Europa. Ele vinha do norte e também estava já de volta para o sul. Opostos geográficos e físicos que ali se atraíram num instante mágico. Ivo ficou sobretudo maravilhado com a beleza da loira nórdica, qual princesa de história de encantar, que o deixou desconcertado. A rapariga também ficou deslumbrada com a história de vida do rapaz, aliada à sua tez morena, que misturava traços fisionómicos dos homens dos povos das antigas culturas mediterrânicas. Tudo isto no espaço de algumas horas em que passearam juntos pela cidade. O primeiro e único beijo desse dia aconteceu na imponente catedral. O resto do dia passou muito rápido, demasiado rápido. Num ápice chegaram as duas da manhã, hora a que os seus comboios partiriam com alguns minutos de diferença. Mas quando os altifalantes da estação anunciaram a partida do comboio de Ivo, que estava à janela olhando triste e embevecido para Gylda na plataforma, ele agarrou de repente na sua mochila azul e saltou porta fora. Abraçou a rapariga e disse-lhe que iria com ela, se ela quisesse. Meteram-se no comboio rumo a Estocolmo via Berlin. Ivo ficou maravilhado com a capital da Suécia e os arredores da cidade onde Gylda morava. Com a experiência que tinha de trabalhar em bares e restaurantes e a fluência com que fala inglês, não lhe foi difícil arranjar logo trabalho,
enquanto Gylda acabava o seu curso de enfermagem. Ivo teve no entanto que regressar ao Algarve no início do ano para ajudar os pais, quando recebeu a notícia do falecimento do avô. Mas no princípio de Junho, já Gylda partia para o Algarve. Esse primeiro Verão que passaram juntos foi, assim a bem dizer, algo de idílico. Fizeram tudo o que há para fazer nas férias. Tudo correu bem. Visitaram todo o país sempre junto à costa. Não podiam estar mais felizes. Gylda sentia-se encantada com o céu sempre azul, a temperatura amena e a vida ao ar livre. Decidiram recuperar a velha mas típica casa de campo dos avós no Lacém, frente à barra natural que ali se forma e disforma sazonalmente, para onde foram viver e plantaram uma horta. Mas no final do ano Gylda começava a dar sinais de irritabilidade, infelicidade, insegurança, algo pouco habitual nela. Sentia-se triste e deprimida. Jurava a Ivo que era ali que queria estar. Queria ficar junto dele. Amava-o, mas não sabia explicar o porquê desse seu mal estar. Um dia, em conversa, um amigo alemão explicou-lhes que às vezes as pessoas sofrem de um síndroma que tem a ver com a falta de luz ou excesso dela, se não estão habituadas. Ou podia ser também por causa da falta de frio ou de calor. Seria a falta de… neve ? pensou Ivo, mas não o quis verbalizar, não fosse Gylda ficar a pensar demasiado nisso e querer voltar já para a Suécia. Mas passados alguns dias ela não mostrava sinais de melhorar e o próprio Ivo
“INTERFACE MAKONDE” ”Até 30 MAR | Galeria de Arte do Convento Espírito Santo – Loulé Otelo Fabião apresenta construções sobre algumas fotografias do povo Maconde de Manuel Viegas Guerreiro
também se começava a sentir mal por não conseguir fazer nada para resolver a situação. Uma noite no escritório, quando abriu uma das caixas ainda por arrumar deparou-se com um livro que lhe haviam oferecido na infância. Lembrava-se bem dele. Começou a folheá-lo e parou num
Mas no dia seguinte algo urgia fazer. Tal como Ibn-Almundin, Ivo Almerindo mandou plantar amendoeiras em toda a extensão do seu terreno à volta da casa. Se o rei mouro conseguira libertar a sua princesa Gilda do sofrimento, também ele faria tudo para mantê-la a seu lado vivendo o intenso amor que por ela tinha. Em seguida viajaram para a Suécia. Gylda melhorou rapidamente. Reencontrou a família e os amigos. Deram passeios na montanha, andaram pela capital. Só voltaram no fim da Primavera seguinte. Seguiu-se o Verão que Gylda e Ivo sempre aproveitavam ao máximo sabendo que o Inverno podia trazer momentos menos memoráveis. No entanto, no fim do Outono, Gylda temia voltar a adoecer como lhe acontecera no ano anterior. Ivo encorajava-a dizendo-lhe que nesse Inverno ele tinha esperança que ela já não iria sentir a ‘nostalgia da neve’, mas sem lhe revelar o seu plano. Estava confiante. Tinha chovido bem no Outono. As árvores estavam crescidas. Se tudo corresse como esperava, no início do novo ano estariam em flor. d.r.
Vista de um amendoal florido conto de que costumava gostar particularmente. Tinham-no lido para ele tantas vezes. Leu-o desta vez para si próprio, pela primeira vez. Ficou aterrado na premonição, ao ponto de ficar tão emocionado que os olhos se lhe embaciaram. Mas nesses seus remotos pensamentos foi interrompido por Gylda que o reclamava para junto dela na cama. Assim lhe concedeu o desejo. Que outra coisa não lhe vinha no pensar.
E assim numa bela manhã de Janeiro, quando Ivo já começava a desesperar e Gylda a deixar-se entristecer, tiveram ambos uma florida surpresa. Ivo! Ivo! Vem cá ver, está lindo! Tudo coberto de branco! Está tudo branquinho! Lindo ! , gritou ela ao abrir as janelas e ver aqueles flocos de flor esbranquiçados deixados sobre os ramos, que a partir daí curariam a sua saudade do branco Inverno nórdico.
“ESPECTÁCULO DE NORBERTO LOBO” 8 FEV | 21.30 | Centro Cultural de Lagos Uma das figuras principais da música portuguesa do novo século, Norberto Lobo é dono de um percurso aparte de qualquer meio de ensino académico especializado
Cultura.Sul
01.02.2013
Espaço Cultura
Sala de leitura
2020: um horizonte para a Cultura no Algarve
2013, e agora? d.r.
Paulo Pires
Programador do Departamento Sociocultural do Município de Silves
Parece-me fundamental que a dinâmica desenvolvida pelas Bibliotecas da Rede Pública seja efetivamente (re) conhecida, valorizada e mediatizada, o que passa também pela inserção, nos media, de espaços de informação e reflexão sobre os projetos, desafios e caminhos de futuro das bibliotecas no Algarve, como este que agora se enceta a convite do editor deste suplemento.
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ótica mais ambiciosa, pluridisciplinar e diversificada – e sem perder o devido enfoque no livro –, como epicentros socioculturais e focos de criatividade e de produção de conhecimento que promovam mudanças na comunidade em que se inserem e que correspondam à crescente heterogeneidade de interesses e motivações dos seus utentes; o acesso pago (aplicado com sensatez, seletividade e gradação) a certos serviços e formatos disponibilizados, aspeto muito ligado a uma política de formação de públicos e à moldagem da sua atitude/mentalidade perante a Cultura, e ainda ao modo como as bibliotecas comunicam as suas propostas e persuadem os seus destinatários para os amplos benefícios imateriais (socioeducativos e estético-artísticos) das mesmas, não obstante o seu pagamento – questão que me parece d.r.
85,9% dos turistas querem oferta cultural mesmo num destino turístico de mar A diversificação da oferta cultural e patrimonial nas últimas décadas tem permitido ao Algarve potenciar o desenvolvimento económico, complementando o turismo de sol e mar: estudo recente1 demonstra que 85,9% dos turistas inquiridos considera que uma oferta cultural e patrimonial, mesmo num destino turístico de mar, é fundamental. O documento estratégico Portugal 2020 | Plano Nacional de Reformas, define uma agenda de mobilização da sociedade civil e de focalização das políticas públicas na promoção da inovação, objetivando um maior desenvolvimento e internacionalização das indústrias culturais e criativas, orientadas para a produção, distribuição e consumo de bens e serviços de elevado valor acrescentado, que resultem em sinergias e complementaridades com grande potencial de competitividade, inovação e internacionalização. No Algarve, o cluster das Indústrias Culturais e Criativas precisa de uma aposta de desenvolvimento por parte dos parceiros essenciais: CCDR-Algarve; Universidade, Direções Regionais de Cultura e de Economia, IAPMEI, Autarquias. Contudo, o setor da Cultura é fundamental para a gestão, planificação e perceção do real impacto, direto e indireto, no crescimento económico, na inovação, na competitividade, no emprego e no desenvolvimento sustentável da região. A importância e transversalidade da área da Cultura configuram um horizonte cultural 2020, nomeadamente nos três níveis de conhecimento previstos no Plano Nacional de Reformas, para o Algarve pretende-se: Conhecimento Inteligente: Duplicar o número de doutorados nas instituições culturais da região através da criação de parcerias com as universidades,
Com 2020 como horizonte, o setor da Cultura é fundamental para a gestão, planificação e perceção do real impacto, direto e indireto, no crescimento económico, na inovação, na competitividade, no emprego e no desenvolvimento sustentável do Algarve e promover o aumento de doutoramentos na área Cultural. Atualmente existem cerca de duas centenas de pessoas a trabalhar em instituições culturais na região mas menos de meia dezena de pessoas possui o grau de Doutor. E criar centros de Investigação e de excelência, objetivo já definido no PROT Algarve, instrumento de gestão territorial que também ambiciona desenvolver e uniformizar os instrumentos estatísticos para a área da Cultura, criando bases de dados fiáveis e comparáveis. Conhecimento Sustentável: Promover e implementar medidas de eficiência energética nos equipamentos culturais da região, promovendo as necessárias ações de formação e sensibilização. Possibilitar o desenvolvimento do quarto objetivo estratégico do PROT-Algarve: a articulação Património/Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, visando inverter a tendência de, essencialmente, amarrar a Cultura à prática do turismo e ambicionando
abrir uma perspetiva de futuro, em que o património contribua para a diversificação da base económica, para a coesão social e para a programação do conhecimento e da inovação científica e tecnológica. Conhecimento Inclusivo: A investigação ligada ao património cultural (material e imaterial) permite um conhecimento das estratégias, produtos e técnicas exploradas. Este conhecimento possibilita identificar potencialidades até aqui desconhecidas ou em franco desaparecimento e, com novas abordagens, (in)formar as comunidades, ao incentivar a cultura científica e estimular o desenvolvimento de produtos culturais e criativos. Refira-se ainda que esta questão pode estar interligada a um estímulo da valorização social dos idosos, com a compilação dos saberes que estes detêm. A identificação dos meios existentes e o estabelecimento de plataformas temáticas ligadas à cultura e criação artística (audiovisual, media, publicidade, design e arquitetura), são fundamentais para melhorar a capacidade empreendedora e gerar emprego na região. A criação de emprego qualificado deve resultar da criação de novos produtos turísticos com valor acrescentado associados à cultura e ao património. A reabilitação urbana nos núcleos históricos urbanos existentes também irá criar emprego de forma direta. Uma forte aposta no sector Cultural na região algarvia permite, acima de tudo, melhorar a qualidade de vida das populações, contribuir para um usufruto complementar dos equipamentos existentes e, em última análise, promover uma maior coesão social. 1 Oom do Valle et alli (2011), “The cultural offer as a tourist product in coastal destinations: the case of Algarve, Portugal”, Tourism and Hospitality Research 11 (4) 233-247
A poesia invade as paredes Em 1987 surgiu em Portugal uma política integrada de desenvolvimento da leitura pública, através da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas, a qual constitui – há que assumi-lo e sublinhá-lo – um dos poucos projetos culturais, de iniciativa estatal, de médio-longo prazo realmente consistentes, abrangentes, estruturados, consolidados e de inegável impacto sociocultural/educativo dinamizado nas últimas décadas no nosso país. Cabe-nos agora não ficar sentados à sombra dessa conquista ou então à espera que a crise passe. A atual fase não deve ser encarada como sinónimo de estagnação ou retrocesso culturais, mas como um pretexto, ainda que difícil, para uma atitude de renovação adaptativa, isto é, uma oportunidade de reinvenção para as bibliotecas. Não era a poetisa brasileira Cecília Meireles que dizia que “a vida só é possível reinventada”? Múltiplos são os desafios que se colocam hoje às bibliotecas públicas, talvez resumíveis a cinco: a diversidade de perfis e necessidades dos seus utilizadores, a sustentabilidade financeira, a realidade digital, a cooperação em rede e o marketing cultural. E isso implica abordar tópicos porventura polémicos mas inevitáveis como: o alargamento da oferta e da área tradicional de intervenção das bibliotecas, não já concebidas apenas como locais de leitura, mas também, numa
fulcral; a necessidade de conjugar a tradicional primazia conferida ao livro impresso e os novos suportes digitais de leitura existentes no mercado, e de manter uma ligação atualizada e proativa com as novas tecnologias e inovações; as vantagens da cooperação em rede, do estímulo ao voluntariado e das parcerias entre diferentes bibliotecas (prática tantas vezes esquecida) e destas com o setor privado, a sociedade civil e outras entidades culturais nacionais e estrangeiras, como forma quer de mobilizar mais vontades e influências em prol de objetivos comuns, quer de rentabilizar, partilhar e minimizar os recursos necessários; e ainda uma aposta mais decidida na questão fundamental da difusão, do envolvimento e do marketing, diversificando atores, canais e formatos, e arriscando perspetivas incomuns e surpreendentes. Para fechar, três sugestões de leitura, muito pessoais: a Arte da Viagem, de Paul Theroux (Quetzal), espécie de manual literário, filosófico e prático de viagem; O Anibaleitor, de Rui Zink (Caminho), história improvável, desconcertante e cativante de amor pela leitura, especialmente indicada para quem não gosta de ler; e Agora e na hora da nossa morte, de Susana Moreira Marques (Tinta-da-China), um brilhante livro de estreia que desafia os limites para falar do mais íntimo dos momentos.
10 01.02.2013
Cultura.Sul
Uma opinião, uma visão
Bom tempo para as Indústrias Culturais e Criativas no Algarve? Ricardo Moreira
Consultor e Investigador das Indústrias Culturais e Criativas Economista
Depois do sucesso britânico a União Europeia (UE) encomenda, em 2006, um relatório ao KEA European Affair sobre as Indústrias Culturais e Criativas (ICC), dando-lhes o corpo definido de economia da cultura. Nesse relatório ficaram definidas as áreas de atividade que seriam, ou não, consideradas como pertencentes às ICC, balizando-as em 4 níveis. No primeiro, centro da economia da cultura e motor de inovação, estão as artes e o património. Seguem-se três círculos, o primeiro, das indústrias culturais, indústrias onde o produto provém das artes e se destina ao mercado global, incluindo, desde, a indústria musical até ao cinema. O segundo, das Indústrias Criativas, indústrias onde a criatividade e os produtos culturais são combinados na construção de novos produtos. Por fim, o último círculo o das indústrias relacionadas, que não sendo, nem, marcadas pela criatividade, nem por utilizarem elementos culturais, pro-
duzem ferramentas para os três níveis anteriores. A economia da cultura saía da sua génese anglo-saxónica e ganhava corpo de sector económico europeu. Dois anos depois as ICC chegam a Portugal. A região norte olhando o seu património artístico, material e imaterial, decidiu que urgia transforma-lo num fator de desenvolvimento económico e social. Em 2008 a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDRN), juntamente com Serralves e outros parceiros culturais, encomenda um “Estudo Macroeconómico para o Desenvolvimento de um Cluster das Indústrias Criativas”. O quadro traçado, cria-se a ADDICT – Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas”, a CCDRN abre linhas de investimento sectoriais orçadas em mais de 40 milhões de euros. Prepara-se o futuro com investimentos estruturais, eventos que geram mercado às ICC, agrupam-se empresas e desenvolvem-se estratégias. Descendo no país e avançando no tempo, em 2010 o Ministério da Cultura encomenda um estudo sobre “O Sector Cultural e Criativo em Portugal”. O país vira as atenções para as ICC como uma estratégia de futuro, um sector em que Portugal pode competir internacionalmente com vantagem. Abrem centros de empresas em Lisboa, exige-se respostas às ICC do Norte. A solução deus ex machi-
d.r.
Sinergias precisam que se criem pontes para o futuro na para a crise que galopava não chega. As ICC perdem a aura de sedução. Em 2013, o Norte responde com os projetos infraestruturais a abrirem portas, o Polo das Indústrias Criativas da Universidade do Porto (PINC) a colocar empresas nos mercados externos com sucesso, e a ter lista de espera para incubar lá, a região passou de receitas geradas, em 2008, de 800 milhões para mais de 1,4 mil milhões em 2012, sem contar com a revitalização dos sectores do calçado e têxtil, que incorporam, atualmente, uma forte componente de design. As suas autarquias são as únicas do país a reforçar os investimentos neste sector, contrariando a tendência de redução
acentuada do resto do país. Hoje, em 2013, a região do Algarve, após investir cerca de 6 milhões, por via da CCDR Algarve, em empresas do sector criativo em 2011 e de realizar o Projeto TASA, tem a possibilidade de aprender com os últimos quatros anos de investimentos e daí retirar dividendos. O Algarve, além de deter um núcleo, no que respeita às ICC, de uma diversidade significativa, apresentando a mais valia do seu património demonstrar várias influências, uma universidade capaz de prover de conhecimento e tecnologia inovadora as empresas, conta com três importantes fatores de mercado, que mais nenhuma região do país detém, o
que lhe permite substanciar o desenvolvimento das ICC de forma segura e a ritmos de crescimento superiores aos do resto do país. A elevada presença do sector do turismo, permite às ICC encontrar um mercado, interno à região, onde os seus produtos têm elevada procura, desde artes de palco a objetos de design, que pode ser abordado de forma controlada, incremental, na diversidade e complexidade dos produtos a oferecer, e permite internacionalizações privilegiadas, fruto da presença de cadeias hoteleiras de cariz global. O elevado número de turistas a visitar o Algarve todos os anos constitui um mercado de consumidores finais de nível europeu, permitindo o teste de produtos e internacionalizações sustentadas. Por último, o clima algarvio, juntamente com o elevado número de não nacionais residentes, permite a atração de empresas não portuguesas, que poderão funcionar como âncoras do sector, bem como a atração de talentos e a constituição de empresas portuguesas como fornecedoras de outras na área económica da cultura. As sinergias existem, falta, no entanto, que as autoridades regionais liguem os pontos, permitam o acesso à informação do que existe na região e tracem um plano para que os investimentos aconteçam numa lógica de economia de aglomeração, potenciando o existente e criando pontes para o futuro.
Boca de cena
ACTA prepara subidas ao palco A Companhia de Teatro do Algarve (ACTA) prepara e ultima por estes dias uma nova programação que se rege por uma filosofia de carácter lúdico, mas também de carácter pedagógico, traves mestras do sucesso que têm vindo a promover no teatro algarvio desde a sua formação. Actualmente em cena itinerante nas escolas com o “Auto da Índia”, de Gil Vicente, a ACTA desenvolve em diferentes concelhos da região o propósito de pedagoga previsto no pilar da programação teatral para a educação, de que também é exemplo o projecto de serviço educativo VATe. Mas há mais para ver, ouvir, sentir e apreciar nas produções com o cunho da companhia e o Cultura.Sul foi ouvir Luís Vicente, director da ACTA, que falou sobre a nova programação, mas também sobre a nova fase da companhia, recentemente sediada no Teatro Lethes, cuja gestão e
programação tem agora a seu cargo. Para Luís Vicente, “é cedo para fazer o balanço”, porque não obstante já terem realizado diversos espectáculos no último trimestre de 2012, não estão, segundo o responsável, “a funcionar na plenitude do [nosso] projecto”, assegura. Assente na ideia de que “primeiro continua-se e depois começa-se”, Luís Vicente antevê para meados deste ano poder “começar a falar de uma filosofia de programação do Teatro Lethes”. Contudo, a ACTA não pára e quer seja como promotora e/ou responsável pela realização dos espectáculos em agenda, não tem mãos a medir e apresenta, desde já, uma programação de primeira linha. No dia 27 de Março sobe ao palco do Lethes a peça “O Deus da Matança”, de Yasmine Reza, cuja realização defende, além da característica lúdica, um propósito pedagógico, que
“vem na sequência da recente realização de “Bullying”, sobre violência entre os jovens, sendo que o novo tem como foco os pais”. A 16 de Abril, é a vez de “Obras Incompletas de Gil Vicente” estrearem no teatro farense. Trata-se de um exercício tentador e que promete, uma vez que “serão completadas acrescentando textos actuais, como Gil Vicente os escreveria nos dias de hoje”, refere o director. Não obstante a qualidade dos espectáculos em agenda, a Cultura é também ela vítima da crise económica que assola o país e a ACTA está dependente de financiamentos pedidos à Direcção Geral das Artes, “numa quantia de 250 mil euros”, para realizar novos projectos previstos ainda para 2013, como é o caso da ópera original, co-produzida com a Orquestra do Algarve, “À mesa com Rossini”.
d.r.
ACTA é responsável pela gestão e programação do Lethes Contudo, há muito para ver e ouvir no Teatro Lethes, onde teatro, música, dança, stand-up comedy e diferentes workshops estarão em cena durante
todo o ano. A agenda de espectáculos pode ser consultada online em www. actateatro.org.pt/teatrolethes. Pedro Ruas/Ricardo Claro
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Cultura.Sul
Da minha biblioteca
Luísa Monteiro numa insuperável confissão da cigana Adriana Nogueira
Classicista Professora da Univ. do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com
O título deste artigo mistura os títulos das três novelas que compõem o último livro de Luísa Monteiro: «A Insuperável mudez da borboleta» (que deu o nome ao volume), «A invencível confissão de Úrsula» e «A poeta que amou ciganas (e fadas marrecas)», intercetando tempos, modos e géneros, como a autora. Luísa Monteiro é um caso sério de qualidade. Jornalista durante 17 anos, deixou essas lides e está a fazer um pós-doutoramento, depois de dois doutoramentos (um em Filosofia e outro em Literatura) e um mestrado. Dedica-se ao teatro e a escrever, quer artigos científicos, quer fic-
ção, drama e ensaio não académico, tendo ultrapassado a fasquia das 40 publicações. É uma escritora premiada e temos a sorte de a ter por perto, pois, natural de Vila Nova de Famalicão, vive no Algarve há muitos anos. Falar sobre este livro num jornal não é fácil. Não porque a sua leitura seja difícil e só acessível a um público muito experiente na leitura, mas porque falar das histórias é minimizar a beleza do texto. E estas novelas vivem, essencialmente, do literário que têm em si. O subtítulo do livro encaminha-nos para uma temática recorrente em Luísa Monteiro: «duas confissões sáficas e um desagravo de amor». A contracapa elucida um pouco mais: «três pequenas novelas sobre o amor entre mulheres. Na primeira, encontramos uma professora em final de carreira que se apaixona por uma jovem aluna a quem chama líbia; na segunda, a relação terna e corajosa de Auta e Úrsula, heroínas daquele que ficou na História como o “mas-
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Capa da obra de Luísa Monteiro
sacre das 11 mil virgens”, em Colónia, no ano de 383 d.C.; por último, um desagravo de amor de uma das mais interessantes escritoras do Modernismo português: Judith Teixeira, a que gosta de ciganas (“e fadas marrecas”)». Sugiro que se tomem estas palavras como princípios orientadores da leitura, servindo, inclusive, para não nos distrairmos com a história, dando margem a uma fruição literária. Estas não são histórias de suspense. Nem nos passa pela cabeça interrogarmo-nos sobre como acabam. A escrita flui e somos levados na corrente das palavras. Bebemos as palavras, como Judith e Urdela, personagens da última história do livro: «Volvidos uns segundos de silêncio, a água levantou fervura. Urdela rasgou duas páginas do livro e meteu cada uma na caneca. Gosta de chá de papel, Judith, interrogou Urdela na sua voz bonita, mas séria e pouco amistosa. Falava o português de uma forma escorreita, como se nunca tivesse desvirginado os ouvidos com outro som. Isso não faz mal, chá de papel, com poemas e tudo, gracejou Judith. A outra riu, sem desprender o olhar das folhas que amachucava com os dedos finos dentro das canecas. Depois explicou: cada palavra tem um sabor, embora algumas tenham um paladar mais forte, como as flores. A água lava-lhes a tinta e faz com que o sabor intrínseco a cada palavra se liberte nas papilas» (p.110). Nesta novela, «um desagravo de amor», onde a escritora Judith Teixeira (1880-1959) é a personagem principal, a narrativa não segue uma linha temporal. Sobre Pepita, por exemplo, a cigana que tanto amou, ora estamos perante o seu nascimento, ora acompanhamos a sua menarca, ora percebemos que se deu a sua conceção. Por esta ordem. Mas isso não nos
d.r.
Luísa Monteiro confunde. O narrador (ou narradora) alterna entre vários níveis de realidade: uns, apresenta-os como dados históricos (o homem do regime, embaixador em Madrid, antissemita, responsável pela censura a Judith Teixeira «Ele vencera Judith porque era um vencedor nato. Ele acabava também de vencer Aristides de Sousa Mendes, que andava lá por Bordéus a desbaratar vistos para a ruim corja dos judeus. Mas ele fora lá, ele vira, ele denunciara tudo ao seu amado Salazar. Nem um dos tinhosos entrou em Portugal» - p.80); outros, como dados íntimos das personagens, deixando-nos, por exemplo, ler as cartas de amor trocadas entre Pepita e Judith («Eu não tenho
a tua habilidade em entender a humanidade. Esta pode ser a razão pela qual gosto mais de mulheres que de homens – porque nós fomos contagiadas por esta doença de fazer com que as amizades ganhem corpo» - p.97); outras vezes ainda faz-nos entrar nos sonhos de Judith, acompanhando-a na morte. A história que inicia o volume é narrada na primeira pessoa, intercalando poemas com prosa, que poderia toda ela ser uma longa carta de amor: «Jamais te oferecerei um poema, pequena, jamais, líbia, não… porque o amor é um vinho caro que perde corpo à medida que se bebe, quando o amor deveria ser cacho de palavras, cheio de sol, mosto de
seiva, eterna semente de girassol» (p.24). A temática do amor homossexual, apresentado com a naturalidade que existe no amor heterossexual, sem voyeurismo, ainda não é muito comum no nosso meio literário. Comparável a Luísa Monteiro poderá estar outro nome das letras portuguesas: Frederico Lourenço, que também aborda estes amores de um modo não preconceituoso. Ambos são excelentes autores e o facto dos amores que narram serem entre pessoas do mesmo sexo não retira (nem atribui) qualidade ao que escrevem. Para mim, eles estão bem acompanhados, numa simples estante, sob o nome «Literatura».
“E TUDO O CASAMENTO LEVOU”
“LAGO DOS CISNES”
22 FEV | 21.30 | Auditório Pedro Ruivo - Faro Trata-se de uma divertida comédia, encenada por Heitor Lourenço e protagonizada por Almeno Gonçalves e Maria João Abreu, dupla que promete um serão muito divertido
23 FEV | 21.30 | TEMPO - Teatro Municipal de Portimão Estreia mundial da nova peça do Quorum Ballet, uma companhia que actualmente é referência incontornável na dança contemporânea portuguesa
12 01.02.2013
Cultura.Sul pub
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