Cultura.Sul 27

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4 | NOV | 2010 • Nº 27 • Mensal • Este caderno faz parte integrante da edição nº1008 do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente

Distribuído mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO

Algarve inova na Educação

• CAPa: O espaço criativo » p. 4 e 5 • « Um Homem Singular » da ACTA » p. 11 • O Livro de Casa, de Fernando Cabrita » p. 13

9.597 EXEMPLARES


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• SIMPLEX DICTUM

• DANÇA • DANÇA Laboratory Dance Project AÇORES : LETRAS, MÚSICAS, ARTES E SABORES e Jeon Mi Sook em Olhão Semana Cultural da Casa dos Açores no Algarve DR

João Evaristo Editor Cultura.Sul

«Calhaus cristalizados» O currículo é uma espécie de animal que se alimenta de si próprio. Há quem o sustente com certificados académicos, que certificam que, academicamente, determinado indivíduo está certificado e que tem um grau que comprova o grau de certificação, certificado por outro indivíduo de grau superior (ou não). Há quem o sustente com cargos acumulados. Porque à medida que os acumula, se torna a pessoa mais habilitada a acumulá-los, derivado aos cargos que entretanto acumulou. Há também quem o sustente com os anos de experiência. 20, 30, 50 anos de experiência em determinada área obrigam o comum mortal a uma atitude respeitosa e reverente perante o afirmado mestre. Em qualquer dos casos, rodeiam-se de meia dúzia de iluminados a lamparina, que se auto-elogiam e auto-promovem mas que ignoram que, entretanto, lá fora, já inventaram a electricidade. O pior é que para as pessoas pouco reflexivas, encarneiradas, sem espírito crítico, isso, que não vale nada, passa a valer muito. Simplesmente porque ninguém quer saber. Ninguém se atreve a ir contra ou colocar em causa alguém que é graduado ou se apresenta com 50 anos de experiência. Seria uma heresia. Isso ou questionar se esses anos de experiência são mesmo de experiência, daquela experiência de quem experimentou. É que se não for, o termo correcto é antiguidade. Um indivíduo que levou 50 anos a fazer a mesma coisa da mesma maneira não é experiente.

É antigo, macróbio, velho, vetusto, um «calhau cristalizado». Tornam-se numa espécie de serviço de chá, que se retira do armário para os momentos solenes. À parte disso ninguém se lembra que existem. Recordei no outro dia uma velha história sobre um camião que, devido à sua altura, ficou preso à entrada de um túnel. Na impossibilidade de retirar o camião, sem danificar a estrutura da ponte, reuniram-se técnicos e engenheiros. Entretanto passou uma menina de dez anos e propôs que vazassem os pneus do camião. Heresia! Os espíritos jovens é que abalam isto tudo.

destaque

É a mania de não prestar reverência aos antigos. Vêm agora estes jovens importunar com as suas ideias novas. Ainda se arriscam a ter razão e abalar todo um sistema de verdades insofismáveis, dogmas e teimosias - pôr em causa os estudos, as teses. Bem, isso seria muito triste. Principalmente para quem não tem mais nada.

Ficha Técnica Direcção: Gorda Editor: João Evaristo Concepção gráfica: Ricardo Claro

No Auditório Municipal de Olhão poderá assistir ao que de melhor se faz na dança contemporânea a nível internacional. Laboratory Dance Project apresenta-nos um espectáculo que inclui três performances: No Coment, Modern Feeling e Promise. O evento está integrado

em Kore.A.moves – Korean Dance Tour in Europe e realiza-se no âmbito do projecto «Valados, Formação e Criação Artística em Rede», organizado pela DEVIR. 12 NOV | 21.30 | Auditório Municipal de Olhão

• MÚSICA/ÓRGÃO

Está a decorrer nas cidades de Faro e Olhão a 3ª edição do evento que promove o encontro de culturas entre o arquipélago e a região algarvia. 2 NOV | 21.30 | Biblioteca Municipal de Faro | Lançamento do livro Um país de Floreanos (vol.2) – Ver Santa Maria por um canudo, de José Jorge Melo | Abertura com a presença do Eng. Macário Correia | Apresentação pela Dra. Salomé Horta. 3 NOV | 21.30 | Museu Municipal de Faro | Prova e apresentação do vinho da Adega Coop. Da ilha Graciosa VQPRD PEDRAS BRANCAS 4 NOV | 21.30 | Bibliote-

ca Municipal de Olhão | Apresentação da obra Algum Teatro de Norberto Ávila | Apresentação pela Dra. Dália Paulo, Directora Regional da Cultura no Algarve 5 NOV | 21.30 | Ginásio Clube de Faro | Inauguração da exposição de pintura de José de Melo 6 NOV | 21.30 | Auditório do IPJ (Faro) | Música Tradicional Açoriana com Bartolomeu Dutra (voz) e João Pimentel (Guitarra Clássica) 7 NOV | 20.30 | Casa dos Açores no Algarve | Encerramento: Prova de Gastronomia Açoriana

• EXPOSIÇÃO

IV Festival de Órgão - Faro 2010 «Portimão nos Alvores do Século XX» DR

O «Festival de Órgão» (o único do género no Algarve) compreende a realização de quatro concertos por organistas nacionais e/ou estrangeiros, nos órgãos da Sé e da Igreja do Carmo (Faro), nos sábados do mês de Novembro de 2010. Nesta 4ª edição do evento, continuará a dar-se relevo a combinações de timbres com os órgãos e privilegiar-se-á a apresentação de repertórios bastante distintos. O Festival tem como objectivo central a valorização e divulgação do património musical. Em particular, divulgar este instrumento secular e apoiar os intérpretes na difusão da música original composta para órgão. No sentido de alcançar um público diversificado, os organistas apresentarão programas de concerto com repertório dis-

Design e paginação: Marta Vilhena Responsáveis pelas secções: »panorâmica.S - Ricardo Claro »cinema.S - Cineclubes de Faro, Olhão e Tavira

tinto, abrangendo diferentes estilos e épocas históricas. A música de compositores portugueses estará, desejavelmente, presente em todos os repertórios que serão interpretados. A organização está a cargo de: Associação Cultural Música XXI, Direcção Regional de Cultura do Algarve e Câmara Municipal de Faro. 6 NOV | 21.30 | João Segurado | Largo da Sé (Faro) 13 NOV | 21.30 | Daniel Oliveira + voz soprano | Largo do Carmo (Faro) 20 NOV | 21.30 | Edite Rocha | Largo do Carmo (Faro) 27 NOV | 21.30 | Luca Antoniotti| Largo da Sé (Faro)

»património.S - Joaquim Parra »arte.S - João Evaristo »biblioteca.S - Elisete Santos »livro.S - Adriana Nogueira »política.S - Henrique Dias Freire

Devido ao grande interesse suscitado junto do público, a mostra «Portimão nos Alvores do Século XX» continuará patente na sala de exposições temporárias do Museu de Portimão até 2 de Janeiro de 2011, com entrada livre. «Portimão nos Alvores do Século XX» apresenta alguns dos principais aspectos da evolução da antiga Vila Nova no primeiro quartel do século XX, durante a transição da monarquia para o regime republicano, focando as mais significativas alterações realizadas neste período. Através de um importante acervo documental, são recordados os novos espaços e equipamentos urba-

Colaboraram nesta edição: Direcção Regional de Cultura do Algarve; AGECAL; Cristian Valsecchi; Isabel Soares; Catarina Silva e José Duarte.

nos surgidos de uma nova organização política e social, das necessidades de desenvolvimento e das carências sentidas no quotidiano dos portimonenses. A mostra, que pode ser vista às terças-feiras das 14h30 às 18h00 e de quarta a domingo, entre as 10h00 e as 18h00, resulta do trabalho de investigação da equipa do Museu de Portimão e integra o projecto «Algarve: do Reino à Região», em conjunto com outras onze exposições, patentes de barlavento a sotavento. > 2 JAN | Museu de Portimão

e-mail: geralcultura.sul@gmail.com Tiragem: 9.597


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Até ao dia 20 de Dezembro, o município de Aljezur está a apresentar a quinta edição da exposição «ArteDentro», este ano subordinada ao tema “«A Implantação da República». “ArteDentro, tal como o nome indica, é a Arte de Dentro, de dentro do nosso concelho, de dentro dos artistas e artesões que aqui residem e trabalham”, explica a organização. Nesta exposição de artistas locais, “a arte em termos gerais é concebida por artistas e artesões e estes são aqueles que sonham

• JAZZ/BLUES

• MÚSICA

Bridge Blues Band apresentam

Pinto Ferreira

‘All That Blues’

A Bridge Blues Band é uma banda originária de Portimão fundada pelo guitarrista João Segurado que tem o Blues como inspiração, apesar de viajar por outros géneros musicais como o Jazz e o Rock. Depois do espectáculo apresentado no ano passado, dedicado à banda inglesa CAMEL, no Auditório Municipal de Portimão, este ano prestam tributo

mas que aprendem a controlar o sonho ativamente e a transformá-lo num objeto material que todos podemos ver ou ouvir ou tocar”. Com cerca de 60 participantes, esta exposição irá apresentar trabalhos nas mais diversas vertentes artísticas: da pintura à escultura, da fotografia à cerâmica, da trapologia aos trabalhos em madeira. A exposição «ArteDentro» vai decorrer em três espaços municipais: Espaço + (pintura, escultura, fotografia e desenho e instalação), na Galeria Municipal de Aljezur (artes decorativas – vitral,

estanho, pintura em porcelana) e no edifício dos Paços do Concelho (artesanato – trabalhos em madeira, feltro e cabedal, trapologia).

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ArteDentro: 60 artistas locais expõem em Aljezur

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• EXPOSIÇÃO

Mais informação em www.cm-aljezur.pt > 20 DEZ | Espaço + / Galeria Municipal de Aljezur / Edifício dos paços do Concelho

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aos também ingleses The Beatles. A banda é composta por: João Segurado (Guitarra/Voz); José Pinto (Baixo); Paulo Segurado (Teclados/Voz); Greg Morelli (Saxofone/Flauta Transversal); Vítor Santos (Bateria). 5 NOV | 22.00 | Teatro Municipal de Portimão | Entrada Livre

Os Pinto Ferreira são uma banda. Depois de alguns meses embrulhados na enfadonha vida de escritório, os Pinto Ferreira começaram a aproveitar as horas vagas para gravar o primeiro álbum da banda. O resultado é nove canções que viajam por ambientes bipolares entre sentimentalismos ingénu-

os, amores obsessivos e a estupidez humana. O resultado é também um Pop Rock fresco e feliz por estar vivo. O primeiro single a ser lançado chama-se «Violinos no telhado».

Mais informação em: www.myspace.com/pintoferreira 6 NOV | 18.00 > 19.00 | Megafone – Rádio Universitária do Algarve 6 NOV | 22.30 | Artistas Bar (Faro)

• ORQUESTRA

Ching-Yun Hu

no «Concerto para Manuel Teixeira Gomes»

Além deste espectáculo, a Orquestra do Algarve apresenta uma vasta programação para o mês de Novembro.

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Programação para Novembro: 5 NOV |21.30 |Teatro Lethes (Faro) | concerto no âmbito do Workshop on Arts Research, promovido pelo CIAC/UALG 12 NOV | 21.30 | Teatro Municipal de Portimão | Maestro: Osvaldo Ferreira | Solista: Ching-Yun Hu (Piano) 13 NOV | 21.00 | Centro Cultural de Lagos | Armando Mota (N. 1950): Suite das Descobertas (Estreia Absoluta) |Maestro: Osvaldo Ferreira 14 NOV | 21.30 |Teatro das Figuras (FARO) |Arman-

do Mota (N. 1950): Suite das Descobertas (Estreia Absoluta) |Maestro: Osvaldo Ferreira |Solista: Ching-Yun Hu (Piano) 18 NOV |10.00 | Universidade do Algarve | Masterclass Internacional de Direcção de Orquestra |Maestro: Dejan Savic 26 NOV | Centro cultural de Lagos |Tiago Cutileiro (n.1967): Uma História Única (Estreia Absoluta) | Maestro: Dejan Savic |Solista: Otto Pereira (Violino)

destaque

O último «Concerto para Manuel Teixeira Gomes» é inteiramente dedicado ao compositor alemão Ludwig van Beethoven. O espectáculo tem lugar no dia 12 de Novembro, pelas 21.30, no TEMPO – Teatro Municipal de Portimão e conta com a direcção artística de Osvaldo Ferreira, maestro titular e director artístico da Orquestra do Algarve e com a participação da pianista Ching-Yun Hu, nascida em Taiwan, mas a residir em Munique.


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CAPa

• CAPa - Centro de Artes Performativas do Algarve

O espaço criativo

panorâmica

Por Ricardo Claro

Acima de tudo o que importa no CAPa, Centro de Artes Performativas do Algarve, é o facto de Faro e a região disponibilizarem ao país e ao mundo – ao mundo de facto – um espaço de criação como existem poucos e que em Portugal é quase um caso único. Por detrás do mais conhecido CAPa está a DeVIR, que gere os destinos do centro e que, muito menos conhecida, é a responsável pela realização, no espaço de 9 anos, de mais de uma centena de residências criativas realizadas por artistas portugueses e de todo o mundo em Faro. À cabeça das duas realidades está José Laginha que dirige um grupo de profissionais, muito reduzido diga-se, que foi capaz de colocar o Algarve na rota da criação de arte – dança, música e teatro em particular, mas que não se fecha a nenhuma arte performativa – da Europa e mesmo do mundo. Nascido em 2001, o CAPa surgiu da necessidade de criar um espaço onde os criadores pudessem desenvolver os seus projectos e tomou forma em Faro nos armazéns onde funcionou outrora a empresa João Pires & Filhos, que daria origem à Bacalhôa Vinhos de Portugal, que agrega marcas como Quinta da Bacalhôa, JP e Quinta do Carmo entre outras. O espaço congrega um conjunto de valências que incluem dois estúdios (com dimensões de 10x10 e 12x12 metros), uma zona residencial com 15 quartos, escritório, cozinha e uma sala de espectáculos com 91 lugares e é esta oferta que o torna um caso único em Portugal e que justifica que as residências criativas tenham a duração máxima de 20 dias. “A experiência provou-nos que ao poderem estar aqui 24 sobre 24 horas, os criativos produzem muito mais depressa e que essa intensidade leva a que o lapso de tempo ideal para um projecto criativo seja de 20 dias”, diz José Laginha. As residências iniciam-se com uma candidatura do projecto à DeVIR pelo criador que, depois de aceite, recebe apoio somente para uma parte do projecto criativo. Além da residência criativa propriamente dita os artistas e criadores têm alojamento, lugar para trabalhar e para fazer as suas refeições e apoio para uma refeição diária. Em contrapartida têm de realizar um ensaio aberto que pode ser o espectáculo final

DR

DR

Artistas Unidos - Stabat Mater

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Maria João&Mário Laginha: Chocolate

PATRÍCIA REGO

Dead Combo: quando a Alma não é pequena

RUI MATEUS

Teatro meridional: End Game

José Laginha, director do CAPa ou uma apresentação pública do projecto que decorre na sala de espectáculos do CAPa. São cerca de 20 residências que o CAPa programa anualmente embora cheguem a ser realizadas muitas mais. Um trabalho que conta com o financiamento do Ministério da Cultura, que atribui anualmente à DeVIR 170 mil euros para estes e outros projectos e com o apoio da Câmara Municipal de Faro no pagamento parcial da renda do imóvel. A est r ut u ra tem u m ta l reconhecimento internacional, discreto mas existente de facto, que integra a par de algumas das mais prestigiadas instituições dedicadas à dança o exclusivo grupo de 17 estruturas constituintes da Casa

europeia da Dança. “Recebemos residências que nos são enviadas pelos nossos parceiros da Casa Eu ropeia da Dança por se adequarem melhor à nossa oferta e se os estrangeiros nos procuram é porque efectivamente temos condições que satisfazem as suas necessidades”, realça José Laginha. O dinheiro não abunda, mas como realça o responsável pela DeVIR, “quem nasce com muito pouco sabe tirar proveito do que tem”. Uma frase que se aplica integralmente ao trabalho desenvolvido no CAPa, que compreende além das residências artísticas, uma programação regular que coloca José Laginha numa dupla posição de gestor/

FILIPE FERREIRA

programador, mas que, como o próprio confessa, o preenche. Entretanto, o trabalho continua com residências criativas a decorrer quase em permanência e com o Algarve a ser o berço de criações que fazem cultura um pouco por todos os cantos do globo. Afinal no Algarve cria-se arte, faz-se cultura, no CAPa como noutros lugares da região, mas ali como não se faz em muitos lugares do mundo, num ambiente artificial onde o criar está presente em permanência em cada passo, em cada canto de forma omnipresente por períodos de 20 dias em que a palavra de ordem é fazer cultura.

JP Simões RODRIGO DUARTE

Teatro Garagem: E a vida continua


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• A FORMAÇÃO

N

uma região onde a formação na área das artes é profundamente deficitária, para não dizer inexistente no que concerne a ensino superior, a DeVIR avançou, com base num convite do Algarve Central feito em 2008, com uma acção de formação denominada Projecto Valados que visa a formação e criação artísticas em rede. Um projecto de três anos que compreende 21 workshops anuais nas mais variadas áreas da cultura e do processo artístico e criativo, ministrados por nomes de reconhecido mérito nacional na área e que têm em vista uma qualificação acrescida dos operadores, artistas e criadores culturais da região. Iniciado o ciclo de workshops em Janeiro passado o Valados já contou com a presença de formadores como Maria João Luís, Jacinto Lucas Pires, Francisco Camacho, Delfim Sardo, Carlos Pessoa ou Vera Mantero, entre

outros, e no primeiro semestre – que já decorreu – o mote foi “Como pensar uma criação”. Até Dezembro deste ano decorre o segundo semestre de workshops que completará os 21 processos de formação que decorrem durante o fim-de-semana e que não podem ultrapassar as 15 horas por cada workshop. O fi nanciamento destes três ciclos de formação tem por base os fundos do Ministério da Cultura e do PO Algarve21, cabendo a este último cobrir 45% dos custos. O objectivo mais profundo destas iniciativas é serem mais uma ferramenta para ultrapassar o estado da criação e produção cultural da região. Um estado que José Laginha descreve como “discurso oco”. “No Algarve muitas vezes o que se faz em termos culturais tem pouca qualidade e divulga-se com uma espectacularidade e uma visibilidade que é enganadora e

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Projecto Valados não corresponde à real qualidade da produção”. A for m a çã o é, seg u ndo o r e s p o n s ável d a D eV I R , indispensável para o aumento da qualidade da oferta cultural e para a sua diversidade e inovação, outros dos males que encontra na programação da região. “Faz-se o mesmo que faziam os nossos avós e pouco mais” e “apoiam-se exactamente as mesmas coisas”, afirma. Trazer alguns dos nomes maiores do saber nas mais variadas expressões artísticas ao Algarve para partilharem as suas ideias e ensinamentos com aqueles que produzem e criam localmente o fenómeno cultural, é a proposta de José Laginha, numa participação que mais do que uma pedrada no charco do panorama do ensino das artes a nível regional pretende criar nas mentes e nos espíritos um processo que inove e melhore qualitativamente o fenómeno cultural algarvio a partir de dentro.

• O FUTURO

Vera Mantero

E

os Encontros do DeVIR. O projecto alia a criação artística e a ciência para criar um olhar sobre dois dos principais problemas da região e do país na óptica do criador e responsável da DeVIR. Por um lado, a falta de identidade e a descaracterização das cidades e, por outro, a desertificação do interior. A proposta passa por convidar criadores a fazerem uma residência de curta duração numa localidade da serra algarvia, por exemplo Parises, em São Brás de Alportel, ou Barranco do Velho, em Loulé, vivendo a experiência da realidade do interior do Algarve durante o Inverno. Os criadores de áreas como a música, a dança, o teatro, as artes plásticas e o vídeo partem desta residência para a criação de um olhar próprio sobre a realidade vivenciada, apresentando no final a sua criação como mote para a intervenção da fase Ciência. Todo o processo criativo é acompanhado por um jornalista convidado cuja função, além de documentar o processo, é

estabelecer uma base acrescida de trabalho para que, em conjunto com a criação final, a fase Ciência possa, partindo deste trabalho, projectar o que deve ser o futuro do desenvolvimento das cidades. A proposta é arrojada e pretende mostrar as interdependências entre o processo de desenvolvimento, podendo este ser de crescimento ou de desertificação, do interior das cidades do litoral algarvio. Na óptica de José Laginha, há um futuro partilhado destas duas faces do mundo como o conhecemos que importa discutir, em particular se queremos manter o turismo como uma das actividades fundamentais do Algarve e dar-lhe capacidade de desenvolvimento fora do conceito esgotado do Sol & Praia. A salvaguarda da identidade cultural do Algarve, quer no seu interior, quer no litoral, é a garantia das potencialidades futuras do sector turístico, sob pena de não termos um produto atractivo para o cliente actual, cada vez mais exigente. Mas o trabalho a realizar a

partir do final deste ano pelos Encontros do DeVIR é mais do que isso e trata-se de uma forma de fazer comunicar para um objectivo comum campos do saber que estão, pelo menos aparentemente, de costas voltadas. Artes e Ciência de mãos dadas num diálogo em prol do bem comum da região e do seu progresso sustentável. A necessidade de discutir a questão dos modelos de desenvolvimento que queremos para o Algarve é um factor premente e José Laginha entendeu de forma clara a importância do desafio e criou um conceito que pode inovar na abordagem que fará da realidade actual da região neste capítulo e nas conclusões que poderá oferecer. No caminho dos Encontros do DeVIR estão pensados por José Laginha nomes como Carlos Bica, João Paulo Esteves da Silva, Mário Laginha, Bernardo Sassetti, Vera Mantero, Maria João Luís e Claúdia Galhós, entre outros de uma lista que promete gente de muita qualidade para um projecto de referência.

DeVIR nq u a nto pr e p a r a u m a nova criação sob o título “Não temos Pátria, temos barbatanas”, apoiada pela Direcção Geral das Artes e

cotada pela entidade financiadora como o melhor projecto com financiamento de 20 mil euros, José Laginha não pára e a DeVIR prepara-se para pôr em andamento

panorâmica

Encontros do DeVIR


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• Cineclube de Faro

• Cineclube de Olhão

• Cineclube de Tavira

Um Cineclube Resistente

Um olhar português sobre a China

Novembro e bom cinema em Tavira

E lá vamos, sensivelmente cantando e rindo. As dificuldades continuam mas mexemo-nos para que sejam menores: patrocínios do Governo Civil, co-organizações com a UAlg… Outros mexem-se para que sejam menores: a Civis contactou-nos para nos propor uma parceria… Feitas as contas, duas especialíssimas sessões, daquelas que só são obtidas pelos pergaminhos, vários e vastos, de uma associação tão antiga como a nossa: uma ante-estreia comercial de um dos filmes mais aguardados nos últimos anos – o documentário sobre José Saramago -, uma vinda a Faro de um filme que estava arredado do circuito dos cineclubes que não operem em cine-teatros municipais – até termos dado por isso e conseguido que viesse à capital algarvia. Ambas as sessões nas presenças dos realizadores, o que sempre engrandece e enriquece a actividade. Mais contas feitas, um ciclo muito forte (que termina em Dezembro) e, como sempre, coerente com a temática escolhida: “Não há liberdade sem libertação” (pois não), com títulos a condizer, uns recentíssimos, outros com poucos meses de estreia, uns pesadotes, outros mais leves, uns alegóricos, outros literais, uns no plural, outros no singular. Singularidades de um cineclube resistente. Apareçam, que nós não desaparecemos. A Direcção do Cineclube de Faro

Agenda do Cineclube de Faro www.cineclubefaro.com

> Sessões Especiais

Ivo Ferreira é um realizador que tem tido uma ligação forte com o Oriente. Primeiro através de Macau local onde filmou o seu primeiro documentário “ O Homem da bicicleta – diário de Macau”. A sua primeira longa-metragem teve estreia no Festival de Cinema de Banguecoque em 2002. Agora em 2010 estreia nas salas dois trabalhos seus filmados na China e em Macau, mais concretamente o documentário “Vai com o Vento” e a curta-metragem o “Estrangeiro” encomendada no âmbito das comemoração dos 10 anos de transferência de soberania de Macau para a República Popular da China. O documentário segue os passos de um rapaz Jin Wang Ping - oriundo de uma pequena cidade rural (província de Zhejiang) que quer emigrar para Portugal. Segundo o realizador, grande parte das pessoas que encontrou não têm grandes razões para emigrar, apenas o fazem por tradição e curiosidade. Por isso ditos populares como “Vai com o Vento” ou “Vai para trás da montanha e voltarás mais rico” retratam esta cultura de viagem para o desconhecido à busca de algo diferente e em princípio melhor. Na curta-metragem “O Estrangeiro” já o realizador propõe-se revisitar um lugar longínquo onde Portugal marcou a sua presença e procurar o que levámos connosco e o que deixámos para trás. Na China, quando alguém se despede de quem vai partir numa longa viagem diz-se: “Vai Com O Vento”, no caso, o Cineclube de Olhão pede que os espetadores venham com o vento assistir aos filmes de Novembro.. Vico Ughetto

Biblioteca Municipal | 21.30

17 NOV | Ante-Estreia de JOSÉ & PILAR de Miguel Gonçalves Mendes (125’)(M/12) Grande Auditório de Gambelas | 21.30

17 NOV (M/12)

| Filme do Desassossego de João Botelho (120’)

> Ciclo Não há Liberdade sem Libertação Museu Municipal | 21.30 | Entrada livre

8 NOV | Amintiri din epoca de aur de Hanno Höfer, Razvan Marculescu, Cristian Mungiu, Constantin Popescu, Ioana Uricaru (155’)(M/12)

Agenda do cineclube de Olhão www.cineclubeolhao.com

> Sessões Regulares

Ria Shopping – sala 2 | 21.30 |Sócios:€1 | Não Sócios: €3

2 NOV | Embargo de António Ferreira (83’)(M/12)

Enquanto decorre a 11ª edição da festa de cinema francês, com um programa atraente (a maioria dos filmes programados irão também estrear mais tarde nas salas nacionais) o Cineclube de Tavira continua a apresentar dois filmes por semana: nas Quintas e nos Domingos. O local é o habitual: o Cineteatro António Pinheiro (sessões às 21.30h). São tempos difíceis para exibir cinema de qualidade, de forma nenhuma sinónimo de cinema chato - bem pelo contrário, mas também há sinais positivos no horizonte cinematográfico português. Cada vez mais estreiam documentários nacionais nas salas, o que não só é uma novidade, em contraste com a maioria dos filmes de ficção trata-se de filmes sensíveis e muito bem construidos. Este mês de Novembro iremos exibir LISBOA DOMICILIÁRIA, uma obra imprescindível para se compreender a dura e amarga realidade da velhice numa cidade grande. Ao mesmo tempo para se perceber o nível de desinvestimento, as omissões e ausências de trabalho dos decisores políticos e autárquicos, que continuam a preferir obras de fachada. Uma obra de beleza que magoa mas que nos toca, provoca e convoca para a realidade... Um destaque para mais uma raridade no panorama do Cinema em Portugal: KYNODONTAS (CANINO), uma sufocante e portentosa alegoria sobre o condicionamento do ser humano, um olhar sobre o controlo dos outros e a manipulação do discurso. A acção passa-se na Grécia de hoje, mas fica a percepção que poderia muito bem passar-se noutro local e noutro tempo. Outra raridade com grande interesse é LA TETA ASSUSTADA da realizadora peruviana Claudia Llosa, o primeiro filme peruviano de sempre a ser nomeado para o Óscar do melhor filme estrangeiro em 2010 e galardoado com o Urso de Ouro para Melhor Filme em Berlim 2009. Para mais informações sobre o nosso programa: www.cineclube-tavira.com. Se quiserem receber a nossa newsletter por email, enviem vosso contacto para cinetavira@gmail.com . Bem vindos e até breve! André Viane

9 NOV | Irène de Alain Cavalier (83’)(M/12) 16 NOV | Go Get Some Rosemary de Ben Safdie, Joshua Safdie (100’)(M/12)

Agenda do Cineclube de Tavira www.cineclube-tavira.com

> Sessões Regulares

Cine-Teatro António Pinheiro | 21.30

4 NOV | Kynodontas de Yorgos Lanthinos (94’)(M/18) 07 OUT | John Rabe de Florian Gallenberger (134’)(M/12) 15 NOV

| Kynodontas de Yorgos Lanthinos (94’)(M/18)

23 NOV

| Alle Anderen de Maren Ade (119’)(M/16)

11 NOV | Lisboa Domiciliária de Marta Pessoa (95’)(M/12)

22 NOV

| Irène de Alain Cavalier (83’)(M/12)

30 NOV

| O Estrangeiro de Ivo M. Ferreira (18’)(M/6)

14 NOV | La Teta Asustada de Claudia Llosa (95’)(M/12)

cinema

| Vai com o Vento de Ivo M. Ferreira (58’)(M/6)

18 NOV | La Danse - le ballet del l'opera de Paris de Frederick Wiseman (159’)(M/6)

29 NOV | Go Get Some Rosemary de Ben Safdie, Joshua Safdie (100’)(M/12)

O CINECLUBE é apoiado pela CM e JF de Olhão e pelo ICA (REDE 2010) APOIO: Civis (Associação para o Aprofundamento da Cidadania)

O Cineclube é apoiado pela CM e JF de Olhão e pelo ICA (REDE 2010)

25 NOV

| Embargo de António Ferreira (83’)(M/12)

28 NOV

| The Ghost Writer de Roman Polanski (128’)(M/12)

APOIOS: ICA, Ministério da Cultura, Câmara Municipal de Tavira


Evolução do número de visitas da edição onͲline do CULTURA.SUL 1.400

1.206

1.200 1.000 800

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608 600

411 Letras p. 10 ColĂłquio Carnaval LiterĂĄrio

PatrimĂłnio p. 14 e 15 O Arraial da AbĂłbora

Artes PlĂĄsticas p. 13

MĂşsica p. 7

OpiniĂŁo

Daniel Barroca

GIJOE

por Nuno Faria

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Caderno de artes >> Postal

PortimĂŁo

DistribuĂ­do mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PĂšBLICO

em tons de azul

p. 4, 5, 6

Âť p.12

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ArquipÊlago Allgarve’ 10 p. 14 e 15

Juan Martinez pinta poesia p. 12 e 13

OlhĂŁo,

a revolução silenciosa  p. 4 e 5

1 | JUL | 2010 • NÂş 23 • Mensal • Este caderno faz parte integrante da edição nÂş994 do POSTAL do ALGARVE e nĂŁo pode ser vendido separadamente

23

0 Maio nÂş 21

Âť p. 4 e 5

5 | AGO | 2010 • NÂş 24 • Mensal • Este caderno faz parte integrante da edição nÂş998 do POSTAL do ALGARVE e nĂŁo pode ser vendido separadamente

Daniel Barroca

• Muito para alÊm de Saramago  p. 12 • Algarve forma jovens actores  p. 13 • Vítor Guerreiro: O Algarve pode exportar cultura  p. 14 e 15

Caderno de artes >> Postal

ANTĂ“NIO PINA

• O mundo encantado de Sylvain Bongard  p. 11

] 4&5 ] q /” q .FOTBM q &TUF DBEFSOP GB[ QBSUF JOUFHSBOUF EB FEJà ½P O” EP 1045"- EP "-("37& F O½P QPEF TFS WFOEJEP TFQBSBEBNFOUF

13 exposiçþes fazem uma retrospectiva de 1000 anos da histĂłria e da cultura na regiĂŁo 3 | JUN | 2010 • NÂş 22 • Mensal • Este caderno faz parte integrante da edição nÂş990 do POSTAL do ALGARVE e nĂŁo pode ser vendido separadamente

29| ABR | 2010 • NÂş 21 • Mensal • Este caderno faz parte integrante da edição nÂş985 do POSTAL do ALGARVE e nĂŁo pode ser vendido separadamente

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O Algarve do Reino Ă RegiĂŁo

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DistribuĂ­do mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PĂšBLICO

A cultura ĂŠ cara mas uma prioridade

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p. 2

O Falcão e a Garça

OSVALDO FERREIRA

O maestro de uma orquestra em aďŹ rmação >> p. 4 e 5

200

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Junho nÂş 22

Com o apoio de: Direcção Regional de Cultura do Algarve • Câmara Municipal de Alcoutim • Câmara Municipal de OlhĂŁo • Câmara Municipal de S. BrĂĄs de Alportel

Julho nÂş 23

• O Sorriso Enigmåtico do Javali  p. 13 • Cultura liga Portimão à comunidade  p. 14 • Músicas do Mundo em documentårio  p. 15

Agosto nÂş 24

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Setembro nÂş 25

• Q q )PNPTTFYVBMJEBEF OP &TUBEP /PWP • Q q $BTUSP .BSJN B BVUFOUJDJEBEF • Q

Outubro nÂş 26

• EDIĂ‡ĂƒO ON-LINE

CULTURA.SUL duplicou nĂşmero de leitores em Outubro

E

passou a ser responsåvel pela edição mensa l do Caderno de A r tes CULTURA.SUL, que tem vindo a conquistar um espaço a nível da imprensa regional, no que diz respeito à promoção e divulgação cultural, com base na missão de dotar os seus leitores de ferramentas reflexivas, favorecendo uma forte consciência crítica na årea cultural. S e g u ndo João Ev a r i s to, o CULTURA.SUL foi reforçado a dois níveis: na redefinição de uma política editorial que tornou mais abrangente

m apenas seis meses, a última edição mensal on-line do Caderno de Artes CULTURA. SUL acaba de passar as 1.200 visitas, o dobro da anterior edição de Setembro. O crescimento exponencial deu-se com a última reformulação gråfica e editorial realizada a partir da edição de Julho, com João Evaristo a assumir o cargo de editor pela associação sociocultural a GORDA. Após dois anos de edição regular, a GORDA - Associação Sociocultural

as åreas culturais cobertas por esta publicação; e no convite à participação activa de diversos agentes culturais do Algarve na divulgação cultural e formação de leitores. Algarve Maior exponenciou visitas on-line Com o lançamento da iniciativa inÊdita do semanårio POSTAL, denominada Algarve Maior, o número de visitas on-line disparou para números inimaginåveis. Após a

pelos leitores e pelo pĂşblico em geral e resultarĂŁo na publicação do livro intitulado ÂŤAlgarve MaiorÂť com impressĂŁo de alta qualidade. Desde Abril que o POSTAL passou a disponibilizar gratuitamente as suas ediçþes semanais em PDF’s inteligentes on-line. Para consultar o POSTAL online, bastar clicar em www.issuu.com/ postaldoalgarve, no seu browser de internet.

edição do número 1.000 do POSTAL, as visitas on-line cresceram de 700 para mais de 8.000 num espaço de apenas dois meses. O Algarve Maior pretende contribuir pa ra eleger as 10 0 Personalidades e as 100 Entidades consideradas mais relevantes no Algarve nos últimos 20 anos e foi lançado para comemorar a milÊsima edição do POSTAL, 23 anos após o seu primeiro número ter surgido nas bancas. As nomeaçþes estão a ser feitas

Henrique Dias Freire

Evolução do número de visitas da edição onͲline de Outubro do POSTAL 8.383

9.000 8.000

7.389

7.000 6.000 ENERGIA ALTERNATIVA CARRO ELÉCTRICO TESTADO EM ALBUFEIRA

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13

4.935

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profissional grĂĄfica

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LOULÉ HELIPORTO VAI PASSAR A BASE OPERACIONAL DE SOCORRO > 12 PUB

t. 281 320 902 >> f. 281 320 909 HFSBM QSPǸTTJPOBMHSBǸDB!HNBJM DPN

Director Henrique Dias Freire • Ano XXIII • Edição nÂş 1007 • SemanĂĄrio Ă quinta-feira • 28 de Outubro de 2010 • Preço 1 â‚Ź

FARO 4 PORTIMĂƒO 6 VILA REAL SANTO ANTĂ“NIO, CASTRO MARIM, ALCOUTIM 7 TAVIRA 8 OLHĂƒO 9 LOULÉ, SĂƒO BRĂ S DE ALPORTEL 10 ALBUFEIRA 12

Director Henrique Dias Freire • Ano XXIII • Edição nÂş 1006 • SemanĂĄrio Ă quinta-feira • 21 de Outubro de 2010 • Preço 1 â‚Ź

FARO 5 PORTIMĂƒO 7 VILA REAL SANTO ANTĂ“NIO, CASTRO MARIM, ALCOUTIM 8 TAVIRA 10 OLHĂƒO 11 LOULÉ, SĂƒO BRĂ S DE ALPORTEL 12 ALBUFEIRA 13

4.000

ALGARVE MAIOR NOVOS NOMEADOS PARA UMA INICIATIVA DE SUCESSO > 3 PUB

profissional grĂĄfica ĚŞ Imagem ĚŞ $PNVOJDBà ½P ĚŞ $POUFĂ”EPT ĚŞ 0VUEPPST .VQJFT ĚŞ #SPDIVSBT ĚŞ *EFOUJEBEF DPSQPSBUJWB ĚŞ 'MZFST

Algar ve

t. 281 320 902 >> f. 281 320 909 HFSBM QSPǸTTJPOBMHSBǸDB!HNBJM DPN

Director Henrique Dias Freire • Ano XXIII • Edição nÂş 1005 • SemanĂĄrio Ă quinta-feira • 14 de Outubro de 2010 • Preço 1 â‚Ź

FARO 5 PORTIMĂƒO 7 VILA REAL, CASTRO MARIM, ALCOUTIM 8 TAVIRA 9 OLHĂƒO 11 SĂƒO BRĂ S, LOULÉ 12 ALBUFEIRA 13 LAGOA, SILVES, MONCHIQUE 14 LAGOS, VILA DO BISPO, ALJEZUR 15 REGIĂƒO 17 LAZER 19 CLASSIFICADOS 20 OPINIĂƒO 22

CULTURA.SUL 1Âş ENCONTRO INTERNACIONAL Ă LVARO DE CAMPOS

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PS e PSD jĂĄ escolheram lĂ­deres regionais

> Em

jeito de revisão da matÊria dada, a anålise do presidente da Câmara sobre um ano de mandato à frente da Câmara de Tavira. As contas, a criação de oportunidades de negócio e o colocar Tavira novamente no mapa são alguns dos temas abordados pelo autarca p. 4

Luís Gomes Acção Ê a palavra de ordem

LAGOS

Câmara entrega nova esquadra à PSP

Såbado PS e PSD foram a votos. Miguel Freitas volta a ocupar a cadeira do poder na sede do PS e a Mendes Bota sucede Luís Gomes. Em tempos conturbados de cortes orçamentais para todos, e de provåveis lutas eleitorais, os líderes têm que se preparar para tudo p. 4

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D.R.

BEF OP &TUBEP /

D.R.

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LAGOS

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Temporal Ilha de Faro volta a sofrer agruras do mau tempo

Director Henrique Dias Freire • Ano XXIII • Edição nÂş 1004 • SemanĂĄrio Ă quinta-feira • 7 de Outubro de 2010 • Preço 1 â‚Ź

> A AMAL (Comunidade Intermunicipal do Algarve) decidiu recusar as portagens na A22 atĂŠ Ă requaliďŹ cação da EN 125, mas deixa cair o nĂŁo deďŹ nitivo. Quem nĂŁo desarma ĂŠ a ComissĂŁo de Utentes da Via do Infante, para quem o nĂŁo ĂŠ deďŹ nitivo. O buzinĂŁo ĂŠ jĂĄ esta sexta-feira p. 16

BASQUETEBOL

Supertaça confronta Benfica e FC

MONCHIQUE

Energy Park avança para a produção de energia p. 14

VILA ZZZ DO BISPO

Adelino Soares ouve população no Orçamento

D.R.

>A

PERIGO Jå ninguÊm hesita em considerar de forma aberta que a ilha de Faro corre o risco de ser cortada ao meio por um temporal e abrir uma barra de que se fala hå anos. Macårio Correia quer um novo traçado na estrada da ilha mais para o interor do cordão dunar > 5

caminho do Orçamento Participativo, a Câmara de Vila do Bispo estå a ouvir os munícipes sobre as contas para 2011. A taxa de IMI vai permanecer inalterada p. 15

> Dia 1 de Novembro marca o embate dos dois grandes, o BenďŹ ca pode repetir o tĂ­tulo p. 12

LUĂ?S FORRA

Câmara financia associaçþes com 88 mil euros > A autarquia dirigida por DesidÊrio Silva volta a investir na årea social e apoia as associaçþes do concelho com vista a garantir a sua acção p. 13

ON-LINE

COMÉRCIO TRADICIONAL

ALBUFEIRA

Gås natural do Algarve em banho-maria > Apesar das necessidades nacionais e dos custos de importação de gås natural, a exploração das reservas algarvias continua parada p. 17

São Brås inaugura requalificação do Mercado Municipal Algarve

ALGARVE MAIOR junta cada vez mais adeptos p. 3

> Depois de um investimento superior a 800 mil euros, AntĂłnio EusĂŠbio inaugurou o Mercado Municipal com o secretĂĄrio de Estado da Agricultura e Pescas a ajudar a cortar a ďŹ ta p. 11

D.R.

POSTAL ganha leitores na internet p. 2

FARO

SILVES

AntĂłnio Pina n0meado Provedor

BuzinĂŁo de protesto com fraca adesĂŁo

Câmara procura Aumentos financiamento de Isabel Soares de 50 milhþes chumbados

> Defender os direitos dos alunos da Universidade do Algarve Ê a nova função do exdirector Regional de Educação, uma função de mÊrito p. 18

> Apesar

> O buraco jĂĄ era conhecido mas agora MacĂĄrio revela os nĂşmeros das necessidades ďŹ nanceiras da autarquia da capital de distrito p. 6

da fraca adesĂŁo, de pouco apoio polĂ­tico e de um protesto debaixo de chuva, a luta nĂŁo esmorece, garante a ComissĂŁo de Utentes da A22 p. 17

Veja o anĂşncio na pĂĄgina 23

POSTAL nÂş 1004

LIDERANÇA NĂŁo restam dĂşvidas, o que LuĂ­s Gomes promete na presidĂŞncia do PSD/Algarve, lugar para que foi recentemente eleito, ĂŠ uma liderança forte e eficaz. SĂŁo novos tempos, uma nova atitude e sangue novo Ă frente do partido laranja > 16

> A proposta de aumento das taxas de IMI feitas por Isabel Soares não resistiram à oposição. Menos receitas para a autarca de Silves p. 14

VILA REAL ASSEMBLEIA MUNICIPAL PEDE AO GOVERNO CONTROLO DOS BARCOS ESPANHĂ“IS

TAVIRA HOTELARIA ADERE AO COMBATE CONTRA A SAZONALIDADE

A alegada predação dos recursos costeiros por parte de barcos espanhóis estå na origem do pedido feito pela Assembleia Municipal da cidade fronteiriça ao Governo > 8

Aos esforços da Câmara junta-se agora a hotelaria para fazer frente à sazonalidade no turismo, a aposta Ê pôr Tavira na rota do ano inteiro > 9

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SUPER DEPĂ“SITO CRESCENTE E SDC+

ALBUFEIRA

POSTAL nÂş 1005

D.R.

PORTAGENS

UNIVERSIDADE

COMBUSTĂ?VEIS

0

D.R.

FARO

MacĂĄrio ‘on-line’ disponĂ­vel no Facebook p. 6

> Aberta a 5 de Outubro, a recepção da nova escola pela Câmara consta de um auto onde são enumeradas vårias falhas da obra, nomeadamente na segurança. As dúvidas estão no ar quanto à situação actual e a Câmara mantÊm silêncio p. 16

NOVO CENà RIO A realidade parece estar a mudar, com Faro a deixar de ser apenas o sítio onde os turistas aterram de avião e partem para o resto do Algarve sem sequer conhecer a cidade. Os turistas, em particular os chegados nas companhias de aviação low-cost, começam a ficar na cidade e a agitar a economia > 4

D.R.

> JosĂŠ Viana apresentou propostas para o sector em Tavira com Valentina Calixto na assistĂŞncia. A presidente da RegiĂŁo HidrogrĂĄďŹ ca e do POLIS deixou desaďŹ o Ă cidade p. 8

> PSP e Governo Civil satisfeitos com a obra da Câmara de Lagos que garante melhores condiçþes e operacionalidade aos homens da lei p. 15

D.R.

Turismo Faro ganha turistas com as low-cost

1.000

Salão Imobiliårio de Lisboa Albufeira e ERTA juntas na promoção

p. 10

Escola Tecnopólis gera dúvidas sobre segurança

Ă€S SEXTAS EM CONJUNTO COM O PĂšBLICO POR â‚Ź1,60

LAGOA, SILVES, MONCHIQUE 14 LAGOS, VILA DO BISPO, ALJEZUR 15 REGIĂƒO 16 LAZER 18 CLASSIFICADOS 19 OPINIĂƒO 22

AMAL recusa portagens atÊ à requalificação da EN 125

TAVIRA

Sociedade civil discute futuro do cluster do mar

Agendada para 3 de Novembro, a votação do Plano de Reequilíbrio Financeiro da Câmara de Faro jå conta com uma abstenção, a do recÊm regressado à vereação JosÊ Apolinårio. O ex-autarca discorda do reequilíbrio e preferia a solução do saneamento das contas da endividada autarquia p. 4

>

SĂƒO BRĂ S

BUSP • Q

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Faro prepara Plano de ReequilĂ­brio Financeiro

AntĂłnio EusĂŠbio inaugura complexo de tĂŠnis

Ă?OJP 1BJT FN UF q )PNPTTFYVBMJE

FARO 4 PORTIMĂƒO 6 VILA REAL DE SANTO ANTĂ“NIO, CASTRO MARIM, ALCOUTIM 8 TAVIRA 9 OLHĂƒO 10 LOULÉ, SĂƒO BRĂ S DE ALPORTEL 11 ALBUFEIRA 13

2.000

Ă€S SEXTAS EM CONJUNTO COM O PĂšBLICO POR â‚Ź1,60

Jorge Botelho faz balanço um ano depois

D.R.

3.319

3.000

Ă€S SEXTAS EM CONJUNTO COM O PĂšBLICO POR â‚Ź1,60

LAGOA, SILVES, MONCHIQUE 14 LAGOS, VILA DO BISPO, ALJEZUR 15 REGIĂƒO 16 LAZER 18 CLASSIFICADOS 19 SAĂšDE & BEM ESTAR 21 OPINIĂƒO 22

Ă€S SEXTAS EM CONJUNTO COM O PĂšBLICO POR â‚Ź 1,60

LAGOA, SILVES, MONCHIQUE 14 LAGOS, VILA DO BISPO, ALJEZUR 15 REGIĂƒO 16 LAZER 19 CLASSIFICADOS 20 OPINIĂƒO 22

REPRESENTANTE OFICIAL PARA O ALGARVE

FARO OPOSIĂ‡ĂƒO SOCIALISTA DĂ NOTA NEGATIVA Ă€ GESTĂƒO DE MACĂ RIO CORREIA

PONTE ALCOUTIM/SANLĂšCAR DEPOIS DO APOIO MIGUEL FREITAS DEIXA CAIR A PRIORIDADE

O balanço de um ano de Macårio aos comandos da Câmara feito por João Marques, líder da vereação, PS Ê tudo menos favoråvel > 5

A frase infeliz do líder socialista na rådio deixou muita gente em polvorosa em Alcoutim. Explicaçþes exigidas a quem em tempos apoiou o projecto > 8

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CONTA POUPANÇA CA AFORRO Veja anúncio na påg. 2

POSTAL nÂş 1006

Hospital privado fecha atĂŠ ao licenciamento p. 13 PUB

CONTA POUPANÇA CA AFORRO Veja anúncio na påg. 12

FEIRA INTERNACIONAL DE LISBOA A Entidade de Turismo da Região do Algarve (ERTA) foi a região convidada do certame e Albufeira apresentou dois dos projectos fundamentais para o concelho. A crise do imobiliårio pode ser um momento chave na eficåcia da promoção algarvia no sector > 3

SILVES CENTRO DE REPRODUĂ‡ĂƒO DO LINCE FAZ BALANÇO POSITIVO DE UM ANO DE TRABALHO

TURISMO GOVERNO NĂƒO SE ASSUSTA COM FECHO DA TUI E THOMAS COOK NO INVERNO

O balanço Ê positivo para os responsåveis pelo primeiro centro para o lince em Portugal, mas crias não hå, morreram as duas que nasceram > 14

Bernardo Trindade, secretårio de Estado do Turismo, diz que inoperância dos dois gigantes serå compensda pelos lugares das low-cost > 16

DĂ?VIDA BOTA QUER SABER O QUE TURISMO DE PORTUGAL FEZ COM DINHEIRO DA ERTA SĂŁo 1,2 milhĂľes que faltam Ă Entidade Regional de Turismo do Algarve, Mendes Bota quer saber onde pĂĄra o dinheiro de 2008 > 18 D.R.

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CA & COMPANHIA Veja anĂşncio na pĂĄg. 2

AMBIENTE à GUAS DO ALGARVE E ALGAR PREMIADAS PELA QUALIDADE As empresas receberam o reconhecimento nacional pela qualidade dos serviços que prestam e pela influência determinante na qualidade ambiental regional > 17

RALLYES CASINOS DO ALGARVE FECHA CAMPEONATO NACIONAL A última prova do campeonato nacional disputa-se no Algarve com Bernardo de Sousa na liderança > 6

POSTAL nÂş 1007


• RIQUEZA MAIOR

Fortaleza das Cabanas JOAQUIM PARRA

Nome

JOAQUIM PARRA

04. 11.10

Cultura .Sul

8

Fortaleza da Conceição, Fortaleza de S. João Baptista, Fortaleza de S. João de Tavira, Fortaleza de S. João da Barra ou Fortaleza das Cabanas. Localização

Entrando na povoação de Cabanas, seguir na estrada em direcção a este, pela Avenida da Ria Formosa, paralela à ria, continuando pela Rua da Fortaleza. No final, estacionar e continuar a pé (cerca de 300m) por um caminho de terra. Concelho de Tavira, Distrito de Faro Data de Edificação

Reinado de D. João IV, Dezembro de 1670, pelo conde de Val de Reis. Foi reedificado em 1793

Nótula Histórica O deslocamento da barra de Tavira para leste e a guerra da Restauração parecem estar na origem da construção desta fortaleza. É uma construção de planta em estrela, com um núcleo central quadrangular rematado nos quatro cantos por baluartes a que se acede por rampas próprias e que estão ligados por um caminho de ronda. Os muros são autoportantes e feitos em alvenaria de pedra e que,

originalmente, estariam rebocados. Os muros estreitam, a partir da base e apresentam cunhais reforçados por grandes blocos de pedra aparelhada. De notar a sobreposição, em cada um dos cunhais, de uma guarita de vigia, de estrutura circular. Um cordão percorre a muralha pelo exterior. A entrada era feita num único vão de acesso, no lado Norte, antecedido por um fosso, que circundava toda a fortaleza, e a que se acedia por ponte levadiça. Actualmente, esta já não existe e o acesso, é feito

por um caminho de terra. O portal é de pedra talhada, com arco redondo, ladeado por duas pilastras encimadas com remates de cones arredondados. Por cima da porta estão duas placas epigráficas referentes à data de construção e de reedificação encimadas pelo brasão das armas reais e por um nicho. No seu interior há casas de habitação, que outrora serviram de alojamento à guarnição, destacando-se pela sua volumetria, a do governador da praça. Tinha ainda uma capela dedicada a S. João Baptista,

que já não existe.

Outras notas de interesse Anteriormente (1656) parece ter existido um pequeno forte em terra e faxina. Nos panos este e oeste existem duas guaritas avançadas para o exterior, sobre o fosso, compondo um balcão tipo mata-cães, que serviam de latrinas, conforme se pode verificar, ainda hoje, pela marca deixada pelos dejectos.

Ainda que, com uma reduzida guarnição, manteve as funções militares até 1897. Foi adquirida em 1905 por particulares. Actualmente é uma pousada de Turismo de Habitação (Turismo de Natureza) com 10 quartos. No exterior, encontra-se quase completamente tapada por vegetação, o que dificulta uma visão de conjunto.

• BAÚ

O caderno de duas linhas JOAQUIM PARRA

JOAQUIM PARRA

Joaquim Parra

património

Professor de História e Coleccionista

In illo tempore, quando ter uma letra bonita e legível não era sinónimo de castração gráfica, existiam um cadernitos específicos para uma prática, hoje desconhecida da esmagadora maioria dos alunos (e não só), chamada caligrafia. Eram os “cadernos de duas linhas.” Tinham como objectivo, “domar” a letra e eram, normalmente, auxiliados por uns puxões de orelhas ou umas reguadas, caso o aluno transpusesse as linhas. Eram uns cadernos simples e baratos, na maioria dos casos monocromáticos ou a duas cores, com um formato peculiar (aproximadamente 21x15cm). Havia também de linhas, quadriculados e brancos e, mais tarde, de canto coral, com pautas e linhas. Não faço ideia quando é que apareceram estes cadernos, mas nos anos 20 já existiam, ainda que

não estivessem ao alcance monetário de todos os alunos, e a lousa, mais duradoura, era o suporte de escrita mais vulgarizado. Também havia uns “cadernos” caseiros, feitos (normalmente pela mãe) com folhas de papel, que se compravam na mercearia e que, depois de cortadas ao meio, eram cosidas com linha umas às outras. Mas são as capas que, actualmente, chamam a atenção do coleccionador, do curioso ou do saudosista, particularmente as do Estado Novo, durante o qual atingirão a sua época áurea, como veículo de propaganda política. Com efeito, as capas são autênticos ícones de uma época de exaltação dos sentimentos patrióticos, pautada por valores como a Pátria, o Império, a Mocidade Portuguesa ou os Heróis da nossa História, e ainda do Património, da Educação

etc.. Nelas, podemos encontrar crianças que vão felizes para a escola, local de aprendizagem e de brincadeiras (onde os meninos e as meninas tem as suas próprias actividades), mas no recreio, porque a sala de aula é para estar com atenção. Outras temáticas são os desfiles militares, a Mocidade Portuguesa (masculina e feminina), figuras exemplares da nossa História, as colónias e os indígenas, o nosso património monumental ou etnográfico, a flora e fauna, o desporto, figuras da nossa literatura etc. A contra capa era, por vezes, ocupada com as tabuadas, letras de canções e legendas ou imagens relacionadas com a capa. Quanto a valores, dependendo do estado de conservação e do tema (os da Mocidade são os mais caros) oscilam entre €1 até €5/10.

JOAQUIM PARRA


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11

«UM HOMEM SINGULAR» Aos olhos de uma jovem de 16 anos O CULTURA.Sul desafiou Catarina Silva, de 16 anos, a escrever a sua opinião sobre a mais recente produção da ACTA. A peça de teatro «Um Homem Singular – Retratos de Manuel Teixeira Gomes», produzida pela ACTA, com texto de Alexandre Honrado e encenação

de Luís Vicente, está classificada para maiores de 12 anos e tem como objectivo alcançar privilegiadamente o público jovem que apenas de forma transversal terá ouvido falar de Manuel Teixeira Gomes. Esta parece-nos uma excelente forma de aproximar os mais jovens de uma comemoração cujos

eventos associados não são tendencialmente direccionados para estas faixas etárias. Por essa razão e porque é também objectivo do CULTURA.SUL a criação de novos públicos/leitores e o incentivo à participação activa dos jovens na cultura e na arte, lançámos este desafio a Catarina Silva.

Teixeira Gomes, através de cenas que são registos fotográficos.

do pela cena. E como foi bom ouvir o nosso Hino ser tocado daquela forma tão profunda por José Alegre! No que diz respeito ao vídeo que passou ao longo da peça, com o símbolo feminino da República a vaguear por paisagens desertas, provocou alguma discussão entre amigos meus. A reacção da maioria foi negativa. Consideram não haver razões para uma actriz se expor daquela maneira, para se submeter a essa situação. Eu acho que há: Paixão! O teatro implica entrega. Essa é uma das razões pela qual considero que os jovens não compreendem a essência do Teatro. Porém, questiono:

Esta peça é uma forma interessante de ficarmos a conhecer melhor a nossa história. Catarina Silva, estudante

A essência do Teatro Ao reflectir sobre o desafio de escrever sobre esta peça de teatro várias questões surgiram na minha cabeça. O que será que os jovens de hoje em dia esperam de um peça de teatro? Será que se interessam sequer em ver teatro? Efectivamente, não sinto que os interesses dos jovens da minha idade passem pelo teatro. É o que me apercebo nas conversas e nas suas atitudes. Preferem o cinema, a música, a tecnologia… Talvez esse desinteresse seja devido à falta de hábito, à educação e ao desconhecimento da essência do teatro. Porque se a conhecessem, não tenho a menor dúvida que iriam substituir muitas das suas actividades normais por idas ao teatro. É sempre com agrado que assisto às peças da ACTA - A Companhia de Teatro do Algarve. O tema desta produção não é o mais apelativo para os jovens mas, mesmo assim, acho que é um espectáculo que vale a pena ver. «Um Homem Singular» retrata episódios da vida de Manuel

Principalmente para os jovens, que estão, em princípio, menos informados acerca destes episódios da história do nosso país. Eu aprendi muito. Manuel Teixeira Gomes, presidente na Primeira República Portuguesa, era um homem auto-disciplinado e rigoroso em todas as tarefas que empreendia. Foi o sétimo presidente da República Portuguesa e o primeiro Algarvio. Natural de Portimão, apaixonou-se, aos 39 anos, por Belmira das Neves, uma jovem adolescente de 14 anos. Morreu em 1941, em Bougie, na Argélia. Em relação às diferentes componentes da produção, destaco em primeiro lugar o cenário, que me agradou bastante pela forma como envolvia as personagens. Como se a acção se passasse dentro de uma câmara fotográfica e os actores representassem o momento em que cada uma das fotografias tinha sido capturada.

A música e a dança são outros dois elementos fundamentais na peça. Caracterizam muito bem os valores de libertação e de esperança. A emocionante dança da Ana Filipa Antunes, apenas acompanhada pelo silêncio, deixou-me a mim e pelo que senti, todo o público contagia-

DR

Luís Miranda no papel de Manuel Teixeira Gomes DR

Teria sido necessário focar tanto a ideia da nudez? Não coloco esta questão por razões de pudor. Acho apenas que a imagem da Primeira República Portuguesa é suficientemente conhecida e talvez se tenha tornado um pouco exagerado toda aquela exposição. Teria achado mais interessante a transmissão da mesma mensagem através de outro simbolismo, ou somente não terem realçado tanto este. No cômputo geral, considero uma peça muito divertida que me deu a conhecer muito melhor todos aqueles factos da vida de Manuel Teixeira Gomes. Penso revê-la novamente (talvez no nosso grande Teatro Lethes) para assimilar algumas coisas que não estão ainda muito claras no meu pensamento. Por agora, desejo as maiores felicidades à ACTA. RUI CARLOS MATEUS

O auditório de Albufeira foi pequeno para receber os alunos das escolas do concelho.

Ficha Técnica O espectáculo conta com a participação dos actores Bruno Martins, Carlos Pereira, Elisabete Martins, Glória Fernandes, Luís de A. Miranda, Pedro Mendes e Tânia Silva, da bailarina Ana Filipa Antunes e do músico José Alegre. A coreografia ficou a cargo de Evegueni Beliaev, os figurinos são de Sónia Benite e Ana Rita Fernandes a

Agenda «Um Homem Singular – Retratos de Manuel Teixeira Gomes» estreou no dia 5 de Outubro, em Loulé, integrada nas Comemorações dos 100 anos da Implantação da República. A peça foi, entretanto, apresentada em Albufeira, Lagos e Vila Real de Stº António. Seguem-se apresentações em Olhão, Faro e Portimão. 26 NOV | 21.30 | Auditório Municipal de Olhão

«Uma peça de retratos para um retrato do homem»

04. 11.10

Cultura .Sul

TEATRO

execução cenográfica é de Tó Quintas, as imagens e o vídeo de Marco Mártires, desenho e operação de Luz de Octávio Oliveira, sonoplastia e operação de som de Pedro Leote Mendes, produção executiva de Elisabete Martins, comunicação de Cristina Braga, secretariado de António Marques e direcção de produção de Luís Vicente.

3 /4 DEZ | 21.30 | Teatro Lethes (Faro) 5 DEZ | 16.00 | Teatro Lethes (Faro) 9 /10 DEZ | 15.00 | Teatro Municipal de Portimão 11 DEZ | 21.30 | Teatro Municipal de Portimão 17 /18 DEZ | 21.30 | Teatro Lethes (Faro) 19 DEZ | 16.00 | Teatro Lethes (Faro)

arte


• OLHÃO

II Mostra das Bibliotecas de Olhão – TALIVRENMONTE DR

04. 11.10

Cultura .Sul

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biblioteca

António Pina (Vice presidente da CMO), Paulo Izidoro (coordenador Interconcelhio da RBE) e Teresa Pedro e Rosália Boneco (professoras bibliotecárias)

No âmbito do Mês Internacional das Bibliotecas Escolares, decorreu em Olhão, entre os dias 14 e 16 de Outubro, a II Mostra das Bibliotecas do concelho, uma iniciativa das Bibliotecas Escolares, em colaboração com a Biblioteca Municipal, que contou com o apoio da Câmara Municipal de Olhão e da Sociedade Recreativa Olhanense. O evento, que «tem como objectivo valorizar o papel decisivo da Biblioteca no acesso à cultura e à informação», apresentou, nesta edição, um programa enriquecido com sessões de animação da leitura, destinadas, essencialmente, às crianças do concelho. A sessão de abertura realizou-se na quinta-feira, dia 14, pelas 16 horas, tendo estado presentes a Representante de Educação do Algarve, Dra. Filomena Branco, o Vereador da Educação e Cultura, Dr. António Pina, a Chefe de Divisão da Cultura, Dra. Helena Barreto, o Coordenador Interconcelhio da Rede de Bibliotecas Escolares, Dr. Paulo Izidoro, o Bibliotecário Municipal, Dr. Mário Faria, os Directores e Representantes das estruturas educativas das escolas, Representantes dos Encarregados de Educação, Professoras Bibliotecárias do concelho e elementos das Equipas das Bibliotecas Escolares. Nos discursos de abertura, foi destacada «a coesão da Equipa da Rede Concelhia, a qual se tem envolvido em iniciativas de

promoção da leitura desde a sua constituição, no ano de 2003».

DR

«Num tempo de crise financeira, as Bibliotecas são um meio de acesso gratuito aos bens culturais». Após a Sessão de Abertura, foi oferecido aos convidados um beberete preparado pelos alunos do Curso de Educação e Formação (C.E.F.) de Panificação e Pastelaria, do Agrupamento de Escolas Professor Paula Nogueira; as bebidas foram servidas pelos alunos do C.E.F. de Bar e Mesa do Agrupamento de Escolas Carlos da Maia; o bolo comemorativo foi confeccionado pelos alunos do Curso Profissional de Cozinha e Pastelaria do Agrupamento de Escolas Dr. João Lúcio. Durante os três dias realizaram-se actividades como: Hora do conto, Momento Musical, Troca de Livros, Animação de Rua (com pinturas de rosto e balões) e exposição de trabalhos produzidos nas Bibliotecas Escolares. Segundo a organização, a II Mostra Talivrenmonte foi muita bem acolhida pela comunidade local e espera-se que esta iniciativa tenha impacto nos hábitos de leitura dos visitantes.

Jovens do Curso de Animação Sócio-Cultural da Secundária associaram-se ao evento DR

Feirinha de Artesanato da Sociedade Recreativa Olhanense juntou-se à Mostra


Adriana Nogueira Professora Universitária de Estudos Clássicos adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com

Sinto-me uma privilegiada e não tenho vergonha de o admitir, pois estou a partilhar um bocadinho desse privilégio. Pequenino, é certo, mas daqui a uns tempos dar-me-ão razão. É verdade. Eu e vós, leitores do CULTURA.SUL somos uns privilegiados porque temos aqui acesso a um livro que ainda não está publicado. Tinha pensado escrever este mês sobre aquele que eu julgava ser o último livro de poesia de Fernando Cabrita (Olhão, 1954), galardoado com o «Prémio Nacional de Poesia Mário Viegas - 2008» pela Câmara Municipal de Santarém e publicado em 2009 pela editora Gente Singular (a imagem que acompanha este texto é a capa deste livro, sobre uma pintura do próprio Fernando Cabrita). Mas fui surpreendida com o recente anúncio da atribuição de um novo prémio a este autor.

Ode à Liberdade (e outros poemas)

Este é o título vencedor da 3ª edição em língua portuguesa do «Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica 2010», que a Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e o Ayuntamiento de Punta Umbría, em colaboração

com «Sulscrito – Círculo Literário do Algarve», instituíram para «promover a criação literária e o conhecimento da poesia nas duas línguas» (como se lê na página electrónica da CMVRST). Este prémio tem uma edição em língua espanhola, cujo vencedor (vencedora, por sinal) já havia sido divulgado: a mexicana Aída Monteón. Devido à gentileza de Fernando Cabrita, pude ler e partilho aqui convosco este seu (agora é que é!) último livro de poesia.

gar as labaredas, e tiveste Sherwood por morada, e Wadi Rum por caminho, Nem sempre estas menções são tão explícitas como as do exemplo, mas revelam-se inteligentes

aos fuzilamentos de 3 de Maio, que Goya pintou), a poesia lusófona («É preciso de novo inventar todos os amores com carácter de urgência», fundindo Vinicius – «É preciso inventar de novo o amor» –

desafios aos nossos próprios referentes, renovando as palavras, mas deixando o suficiente para percebermos qual a ligação que está a estabelecer. As fontes são as mais variadas: a Bíblia (recordando milagres de Cristo: «E como desejamos ver-te caminhando para nós/ por sobre as águas»), a história («às mães tristes da Plaza de Mayo», referindo-se às mães argentinas que nessa praça esperam notícias dos filhos desaparecidos durante a ditadura), a pintura («aos fuzilados de Goya», numa referência

e Eugénio – «É urgente o amor»), a música («Cantaste com Verdi no coro dos escravos», relembrando a área «Va pensiero» cantada pelos escravos hebreus na ópera Nabucco) e muito mais.

D.R.

«E o teu nome é Liberdade!»

«Liberdade» é a última palavra do poema principal (os poemas que se seguem – do subtítulo E Outros Poemas não são menores, só porque mais pequenos), todo ele construído e desenvolvido à sua volta. O modo como o poeta se relaciona com ela e a enreda com os outros (posicionando-se, necessariamente, como intermediário) é de uma riqueza profunda. A educação, os gostos, as referências (literárias, históricas, culturais), os pedaços de vida, as lutas, enfim, o que moldou o narrador e faz dele quem ele é está reflectido em cada verso do poema. É um prazer descortinar as citações que fazem parte do imaginário que partilha connosco, a obrigar-nos a aceitar que somos cidadãos do mundo. É assim que nos lembra importantes lutas que se travaram pela liberdade, como a resistência à escravatura no Brasil, nos Estados Unidos da América ou em África, e nos faz sentir que podemos ser personagens de ficção, como Robin dos Bosques ou Lawrence da Arábia: e estiveste em cada Quilombo dos Palmares a quebrar grilhetas, em cada Cabana de cada Pai Tomás, em cada cubata incendiada a apa-

«Sem ti somos Orfeu sem Eurídice»

As referências a clássicos da literatura (e aos da antiguidade – que me são tão queridos – em particular), que já marcavam a «Ode à Casa» (poesia do livro anterior), continuam neste poema, não nos

deixando esquecer a força que emana das raízes da nossa cultura europeia, que nos cria imagens e sentidos: Sem ti somos Or feu sem Eurídice, Argos sem Ulisses, folhas sem árvore, seres só de lama, sem coração que nos valha. Sem ti somos a pequenez das coisas que não prestam, a mais miserável das insignificâncias. Tristão sem Isolda, rosa de Hélder a desfolhar-se antes de murchar, gazela de pernas quebradas que a manada abandona na solidão da planície. E porque a Liberdade é sem Tempo, todo este se funde e ref lui em personagens, lugares, sentimentos, porque «É preciso de novo,/ porque é sempre preciso,/ e nunca é tarde,/ e nunca é cedo, /e toda a hora é a hora,/ porque a todo o instante palpitas em cada pedra/ de cada casa,/ de cada aldeia, de cada cidade,/ de cada mundo conhecido/ e de cada mundo ainda por inventar.» O poema é lindíssimo. Apetece ler e reler. Deixar a fantasia seguir pela mão que nos guia através da história e dos tempos, dos livros e da música, e nos obriga a recordar. Porque este é um poema para gente bem acordada e, quem o não está, ficará. Em tempos de crise é bom termos na liberdade uma aliada, pois, «vencedora e triunfal», é uma inspiração: «Frente a cada tirania ergueste a tua espada fresca de futuro». Aguardo, expectante, a chegada às livrarias da edição bilingue.

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«E o teu nome é Liberdade!»

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• DA MINHA BIBLIOTECA D.R.

Norberto Ávila, dramaturgo açoriano, vai estar dia 4 e Novembro na Biblioteca Municipal de Olhão, às 21h, para apresentar a sua obra que está a ser coligida pela Imprensa Nacional-Casa da Moeda. Um bom pretexto para ir à estante buscar a peça «Uma Nuvem sobre a cama: comédia Erótica em 2 partes». Inspirada na comédia Anfitrião, de Plauto, que conta como Zeus engravidou Alcmena, esposa de Anfitrião, tomando a forma do marido que estava a chegar da guerra, vindo esta, mais tarde a dar à luz luz Héracles (Hércules). O

• Diziam os antigos…

Norberto Ávila, algum teatro. Lisboa. Imprensa Nacional Casa da Moeda. 2010.

O vinho puro especialmente, quando sobe à cabeça e separa os corpos do controlo dos sentidos, deixa o homem perturbado. Os eflúvios de flores são um auxílio admirável contra este tipo de situação, protegem a cabeça da em-

escravo Sósia tinha ido à frente para avisar a ama da chegada do seu senhor, quando o deus Hermes, conluiado com Zeus, não o deixa entrar em casa, visto ter tomado as feições e o vestuário do pobre Sósia. Norberto Ávila introduz várias cenas com muita graça, entre as quais realço o disfarce de Anfitrião em Zeus quando já sabemos que Zeus se está a preparar para se disfarçar de Anfitrião. Os anacronismos também produzem o efeito de cómico, bem como a intersecção cultural, isto é, Hermes dirige-se a Alcmena como o Anjo se dirigiu

a Maria, na Anunciação, ou Alcmena responde a Anfitrião, quando ele está disfarçado do deus: «Senhor, eu não sou digna que entres nesta morada». Até hoje esta história do homem que recebeu um deus em sua casa (com quem a mulher dormiu e teve um fi lho, mas isso não interessa) marcou o vocabulário ocidental: «anfitrião» é aquele que recebe e «sósia» alguém que tem uma pessoa (quase) igual a si.

briaguez como as muralhas protegem a acrópole: as flores quentes relaxam lentamente os poros, dando canais de evaporação ao vinho; e todas as que são ligeiramente frescas, ao aflorarem levemente o vinho, retêm a sua exalação, como a coroa de rosas e de violetas, pois ambas, com

o seu perfume, restringem e reduzem as dores de cabeça.

Plutarco, Obras Morais. No Banquete, 647C; Edição CECHUC, Colecção Classica Digitalia.

livro

«Uma Nuvem sobre a cama»


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• DIRECÇÃO REGIONAL DA EDUCAÇÃO DO ALGARVE

Algarve afirma-se com projectos inovadores Para Luís Correia, os actuais modelos de educação não se podem limitar, como há anos atrás, à transmissão de conteúdos. Num mundo em mudança, o grande desafio é transmitir aos jovens competências e valores que lhes permitam intervir na sociedade de forma eficaz. A protecção do ambiente, do património e a cultura surgem como questões fulcrais nos actuais modelos educativos. O Algarve é um bom exemplo ao desenvolver projectos inovadores que chegam a despertar o interesse nacional e internacional.

Projecto anti-obesidade infantil gera interesse CULTURA.SUL – Quais são os projectos mais importantes em desenvolvimento, na região? Luís Correia – Há projectos que são de âmbito nacional e que são desenvolvidos pela Direcção Regional do Algarve e outros projectos que são específicos da região e que têm sido apresentados a nível nacional e internacional. Apresentámos em Bruxelas, em conjunto com

Por Henrique Dias Freire

CULTURA.SUL – E envolve quantos alunos? Luís Correia – Além de envolver todas as autarquias do Algarve, o ano passado abrangeu mais de 20 mil alunos, envolvendo médicos, nutricionistas e outros profissionais. Está a suscitar muito interesse noutros países europeus, porque este é um problema comum ao conjunto das sociedades desenvolvidas. CULTURA.SUL – No âmbito cultural, qual é o projecto mais recente?

CULTURA.SUL – No caso concreto do Algarve, como vê o binómio cultura/educação? Luís Correia – Como região, o Algarve tem algumas características que facilitam um trabalho conjunto em várias áreas. Tem uma dimensão relativamente pequena, no contexto nacional, o que facilita a existência de projectos conjuntos entre vários parceiros. Hoje em dia, a educação interage com a cultura, com a saúde, a segurança e uma série de áreas. A escola pública não é uma instituição fechada, é uma instituição aberta que recebe todos e, para que haja um processo educativo rico e completo, tem de trabalhar em conjunto com os outros parceiros institucionais, sejam eles autarquias, centros de saúde ou associações culturais.

política

CULTURA.SUL – Como se processa esta articulação? Luís Correia – Temos óptimas relações com as Câmaras, desenvolvendo muitos projectos, com a Direcção Regional de Cultura, com a Administração Regional de Saúde e com outros parceiros. Na relação particular com a cultura, consideramos que a educação hoje não tem nada a ver com a instrução, tal como era entendida há muitos anos atrás. Tem um sentido muito mais lato, que implica um vasto conjunto de saberes, valores e competências que as nossas crianças e jovens devem adquirir e onde a cultura é uma componente da educação. CULTURA.SUL – Que novos valores têm de ser transmitidos aos jovens? Luís Correia – É importante que conheçam o ambiente, o defendam e o saibam preservar, apreciem, conheçam e defendam o património e muitas outras situações que fazem parte do contexto da educação global. A cultura é natural na educação; faz parte do plano curricular em vários anos e do desenvolvimento de competências eminentemente culturais. A educação tem um papel importante se no futuro quisermos ter pessoas mais cultas.

Educação ambien- Teatro, música e tal sensibilizada poesia nas escolas pela arte CULTURA.SUL – Que outros projectos estão em curso? Luís Correia – O Projecto Regional de Educação Ambiental pela Arte (PREAA) que tem mais de 12 anos e que consiste em pôr as escolas a trabalhar, num ciclo de três anos, num projecto na área ambiental. Foi através da apresentação do resultado de um destes projectos na Assembleia da República que resultou na decisão de se colocarem torres de controlo para o tráfego marítimo. O projecto, na altura chamado “Lágrimas Negras”, abordava as consequências sociais e económicas do perigo de um eventual derrame de petróleo junto à costa algarvia. As torres começaram a ser construídas há cinco ou seis anos e entraram em funcionamento há cerca de um ano. CULTURA.SUL – Em que fase está o actual ciclo do projecto? Luís Correia – Neste momento, no âmbito do PREAA, está a decorrer o ciclo “Os Contos do Mago”. No próximo ano será o ano da conclusão.

Luís Correia, director regional da Educação

a Administração Regional de Saúde do Algarve, o projecto anti obesidade infantil a um conjunto de parceiros europeus que se manifestaram extremamente interessados pela experiência realizada no Algarve. O projecto tem outros parceiros, com a Universidade do Algarve e as autarquias e pretende lutar contra o processo crescente da obesidade infantil. Desenvolve-se a nível de várias valências, seja ao nível do controle das ementas nos refeitórios e da actividade física no primeiro ciclo, com o peso dos alunos a ser testado ao longo dos diferentes anos, naquilo que é uma experiência-piloto no Algarve, quer na mensagem aos encarregados de educação, com intervenção do Centro de Saúde, alertando para a obesidade das crianças e dos próprios pais.

Luís Correia – No início deste ano lectivo foi assinado o protocolo com a presença das ministras da Educação e da Cultura para o desenvolvimento de um outro projecto que é também uma experiência-piloto a decorrer no Algarve, sob o mote “Da janela da minha escola… vejo um monumento” e que liga de um modo muito forte a educação e a cultura. Vamos desenvolver, pela primeira vez, o projecto em 15 escolas do Algarve, abrangendo os 16 concelhos do Algarve. O projecto tem a ver com o trabalhar dos alunos do quarto ano do primeiro ciclo, para que eles conheçam o monumento que lhes está mais próximo e o possam trabalhar em diversas áreas como a fotografia, o teatro, o desenho e a escrita. Para que eles o possam conhecer, possam gostar dele e defendê-lo.

CULTURA.SUL – Em que consiste? Luís Correia – Este projecto faz com que, nos vários concelhos do Algarve, tenha sido construída uma história que mostra a evolução geológica da região, através de criações míticas que dão cor, forma e estória à evolução geológica, para que os jovens possam ir aos sítios ver como eram antes e como são hoje para saberem qual foi a evolução. Tudo isto é acompanhado com música e com o contar estórias. Envolvidas estão várias escolas do Algarve, do primeiro e segundo ciclo, que assim passam a conhecer o seu local, ambiente e história, e a valorizarem as coisas que têm. CULTURA.SUL – E como tem decorrido? Luís Correia – Os retornos deste projecto são muito bons, até em termos do gosto que os professores têm em trabalhar nisto. Todos os anos fazemos um número significativo de acções de formação, para que os professores possam saber o que fazer. Todas as várias entidades a que este projecto tem sido apresentado acham-no perfeitamente diferente do que é hábito desenvolver nas escolas. E, sem falsas modéstias, isso deixa-nos muito contentes em termos do que é possível fazer numa região.

CULTURA.SUL – Que outras iniciativas estão em curso? Luís Correia – Temos protocolos com a ACTA – Companhia de Teatro do Algarve e o grupo Te-Atrito no sentido de levar o teatro às escola com peças estudadas para os públicos-alvo a que se destinam. Com a Orquestra do Algarve, para a levar às escolas e juntar muito mais alunos em mega concertos, a decorrer em cada ano, para que os alunos se aproximem da aprendizagem musical. Também levamos poesia às escolas através de protocolos com actores que façam com que isto seja apelativo, como é o caso do Afonso Dias, que tem uma grande capacidade de comunicação e estabelece uma relação muito fácil com os miúdos.

Queremos os cidadãos de amanhã melhores que nós

CULTURA.SUL – Como vê a evolução do desenvolvimento dos projectos educativos? Luís Correia – A educação é um desafio diário. Não há matérias totalmente ganhas ou totalmente acabadas na educação. É um processo que temos de ir adaptando às necessidades e exigências de uma sociedade em rápida mudança. As respostas de hoje podem não ser as de amanhã. O conceito de educação tem de ser maleável e actual, no sentido de fazer dos nossos jovens cada vez melhores cidadãos e mais competitivos. É esse o papel fundamental da educação. Fazer com que os cidadãos de amanhã sejam melhores que nós. CULTURA.SUL – Daí a aprendizagem se basear cada vez menos na apreensão de conteúdos? Luís Correia – A aprendizagem de outras valências, como valores e competências, são questões centrais. O mundo de hoje exige que tenhamos capacidades de aprender a aprender constantemente. Temos que saber dar aos alunos ferramentas para que saibam intervir na sociedade, aprender e acompanhar o que é um mundo em mudança, com âncoras em áreas de conhecimento que são fundamentais. Isto implica um conceito de educação vasto, em que as mais variadas questões, como cultura, património e ambiente têm de ter um lugar na formação dos jovens. Tudo isto é educação, mas também é cultura. As coisas não são, de forma nenhuma, estanques. Tudo na perspectiva de uma educação global.


Isabel Soares Museóloga/Arqueóloga e sócia da AGECAL

Num dos giros pelo interior sulista visitei uma freguesia, afastada do litoral turístico algarvio, no concelho de Loulé, a conhecida e típica aldeia de Alte. Nesta terra distante da “era do betão” e “agasalhada” por montes e ruelas estreitas, onde nascera nos finais do século XIX, o famoso poeta Cândido Guerreiro, desencantei uma verdadeira “casa das maravilhas” talvez até uma versão moderna de um “gabinete de curiosidades”, ainda que os objectos não me tenham pareçido raros ou estranhos.

Ao percorrer as calça-

das e escadarias, notei

por cima da porta de

uma casa, uma pequena placa que dizia “ Museu Regional”.

Espreitei por entre essa porta semicerrada e defrontei-me com

um sapateiro a trabalhar sobre uma pequena bancada, num espaço acanhado onde as paredes eram forradas pelos mais variados e agrupados objectos. O senhor gentilmente convidou-me para conhecer o seu “museu regional”, visita que ficou na minha memória, por torna-se impossível descrever e dificilmente identificar, por mais olhos que tivesse, os milhares e milhares de objectos que habitam e entopem todos os espaços, cantos e recantos livres daquela habitação, escadas, corredores, tudo serve para expor toda a “quinquilharia”. Atenta à visita orientada para que não que me escapassem os pormenores dos engraçados agrupados de objectos expostos, segundo uma lógica muito pessoal e peculiar, verifiquei que tudo se encontra legendado e datado, embora sem qualquer critério cientifico. Acontece que tudo pode ser encontrado numa parede ou corredor, desde os mais desusados e insólitos objectos, a peças e espólios pertencentes a profissões e ofícios que são verdadeiros testemunhos da nossa história recente

e num estado aparentemente bom.

Segundo o responsá-

vel do espaço o “acervo” é resulta do seu gosto por

coleccionar objectos e sobretudo das doações fei-

tas pelas pessoas da terra que admiram a sua de-

dicação e compreendem

museografia são marcas de um conceito museológico moderno e bem distinto, situado mesmo ao fim da rua. Estes “espaços” tantas vezes designados de museus têm as suas raízes na comunidade e ganham relevo na vida das pessoas que representam, no entanto afastam-se do actual conceito de museu que investiga, incorpora, inventaria, documenta, conserva, interpreta e comunica, contribuindo para o desenvolvimento da sociedade.

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“ Museu” ou “Casa das Maravilhas”

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• ESPAÇO AGECAL

O uso indiscriminado

ser este o “museu” da sua do termo e a proliferação Terra.

Tudo isto, reflecte a opinião de um velho sapateiro que com as suas colecções privadas, vive numa aldeia que teima em parar no tempo, mas que não consegue deter os sinais da modernidade, num lugar onde se mistura uma espécie de “casa de curiosidades” com um pólo museológico, “ Cândido Guerreiro”cuja tecnologia e

de espaços auto denominados de “museus” é uma

realidade, no nosso País. Perante este facto, questionamos se estes espaços serão lugares de aprendizagem e deleite ou apenas uma espécie de “espectáculo” onde o público também participa?

• OPINIÃO

Faro. Uma capital sem museu vo, o museu é uma insti- dade. tuição que vive da con-

servação, do estudo e da exposição ao público do Cristian Valsecchi Economista da cultura

e Gestor Factor Desenvolvimento Lda cv@factordesenvolvimento.pt.

seu próprio espólio.

Na realidade, o Mouseion nasceu como um lugar destinado à formação e ao confronto de intelectuais (aquilo que na linguagem contemporânea definir-se-ia como think tank) capaz de gerar ideias e cultura destinadas a estimular a acção dos homens que governam. Através dos séculos, o museu evoluiu e substituiu progressivamente esta dimensão elitista por uma função social alargada.

O museu tornou-se o

lugar privilegiado para

a formação de novos

modos de viver e conviver, onde nasce o sentido

Esta função é ainda mais evidente nos museus de arte contemporânea, que agem através do tempo e do espaço actuais e futuros, contribuindo para a formação da identidade de uma comunidade.

Poderá uma cidade

considerar-se como tal

sem um lugar capaz de valorizar o seu tecido social e a sua própria identidade?

Para quem se confronta todos os dias com a realidade internacional e constata as diferenças entre desenvolvimento e degradação social, a resposta só pode ser uma: não! Experimentemos então aplicar estas breves reflexões no contexto de Faro, uma Cidade que desde há décadas é privada de uma política pública para a cultura e que está a pagar agora as consequências mais dramáticas. Nem o observa-

dor menos atento deixará de notar um sentimento de distanciamento entre a comunidade local e a sua própria Cidade. Uma distância que não pode ser ignorada pelos responsáveis políticos aos quais é apresentado um importante desafio: o de garantir, num quadro de sustentabilidade, novas perspectivas que possam devolver à cidade a sua identidade.

podemos esconder atrás de uma atitude de prudência e pragmatismo racional, sendo necessário sim assumir com coragem que sem uma “revolução cultural”,

Faro não conseguirá

conquistar um papel de

liderança nas políticas de

Com esse intuito, Faro desenvolvimento regio-

precisa de um lugar de- nal e estará tristemente dicado à contemporanei- destinada à degradação. dade, que saiba agir com

visão de cariz internacio-

nal e oferecer novos es-

tímulos para os sistemas político, económico e social a nível regional.

Perante a difícil situação económica herdada das precedentes administrações, agravada pela conjuntura nacional e internacional de resolução ainda longínqua, não nos

A minha experiência profissional levou-me a conhecer autarcas, empresários e gestores de pequenas empresas e de multinacionais que, embora guiados por um pragmatismo fora do comum, conseguiram, mesmo com escassos recursos, dar origem a processos de desenvolvimento em contextos de depressão, graças a um espírito ambicioso e visionário e à força das ideias aplicadas em eficientes sistemas de projecção, gestão e organização. Este é o “espírito” que uma comunidade espera sentir em quem a governa.

apontamento

No imaginário colecti- cívico de uma comuni-


• ESPAÇO DIRECÇÃO REGIONAL DE CULTURA DO ALGARVE

Entesourar o lixo – síndroma de Diógenes ou salvaguarda da memória? Os filmes de aventuras e a BD difundiram uma imagem dos arqueólogos como pesquisadores de tesouros, indagadores de objectos preciosos e, mesmo, como espoliadores de túmulos antigos. O seu quotidiano é, contudo, bem diferente. Basicamente trabalham com coisas que, em algum momento, deixaram de ser úteis: edifícios arruinados, objectos rejeitados, desperdícios. Raras vezes, descobrem instrumentos carinhosamente

litando a sua remoção, minimizando o agravo cultural que esta perda comporta. Esta actividade de gestão cultural e de produção de conhecimento comporta, todavia, um aspecto particular. As investigações no terreno recuperam uma infinidade de pedaços de objectos – de pedra, de cerâmica, de osso, de metal,... – e de restos de lixo orgânico. Esses espólios arqueológicos, cuidadosamente recolhidos e

e fora do Algarve, incorporados em colecções de museus, arrecadados em associações culturais, depositados para estudo em unidades de investigação universitárias ou entregues a empresas de arqueologia, ao cuidado dos seus descobridores, na qualidade de «fiéis depositários». Neste panorama diversificado, preconiza-se que os espólios «algarvios» ainda não incorporados em colecções de museus sejam, tal como prevê a

Fotografia propositadamente desfocada

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estratégia

depositados para sempre em algum lugar, por convicção religiosa ou por costume devocional. Mas é a partir de todas essas inutilidades, e relacionando-as no tempo e com o espaço e os territórios, que os arqueólogos podem chegar a produzir conhecimento. Conferem assim um novo uso às ruínas, aos instrumentos inutilizados, ao lixo orgânico. Convertem-nos em testemunhos do processo histórico, em factor de compreensão dos territórios, e em instrumento relevante para a caracterização da identidade e do modo como sucessivas gerações construíram as paisagens culturais de que nos tornámos herdeiros. Esta actividade científica de interpretação do passado a partir dos seus restos materiais está hoje em dia plenamente profissionalizada e constitui uma tarefa socialmente imprescindível. Os solos são um verdadeiro arquivo de terra, testemunho de muitas civilizações. E quando o progresso os disputa, conferindo-lhes novos usos, os arqueólogos assumem-se como parceiros activos na construção do território – de carácter conservacionista ou desenvolvimentista –, planificando a preservação in situ do património histórico ou (na maioria das vezes) registando-o preventivamente com tecnologia adequada e possibi-

• PRÓXIMO

Teresa Rita Lopes

catalogados, apresentam um enorme potencial de exame científico: porém, na sua larga maioria, o seu reduzido potencial comunicativo inviabiliza que possam ser apresentados em museus ou exibidos em exposições. Os museus do Algarve – onde a transformação do território determina, em cada ano, largas dezenas de intervenções arqueológicas preventivas e um crescimento exponencial dos espólios arqueológicos – vêem-se assim na contingência de ter de conservar para o futuro milhares de peças, centenas de caixas, isto é, toneladas de materiais arqueológicos não utilizáveis para exposição mas que em pouco tempo enchem os espaços de reserva e originam problemas de tratamento, documentação e armazenamento adequado. Consciente desse problema, a Direcção Regional de Cultura do Algarve desencadeou, em articulação com o IGESPAR e o IMC, um plano de actuação em archiving and preserving para definição e implementação de uma Rede de Reservas de Espólios Arqueológicos para toda a Região. O diagnóstico sumário mostra que a actual situação dos espólios provenientes de trabalhos arqueológicos realizados no Algarve é bastante heterogénea. Eles encontram-se dentro

Lei-Quadro dos Museus Portugues, obrigatoriamente depositados – juntamente com a documentação que permite contextualizar a sua procedência – em museus da Região credenciados pela Rede Portuguesa de Museus mas alargando essa possibilidade às entidades da Rede de Museus do Algarve, embora podendo não integrar formalmente o seu acervo: numa relação em que o museu assegure a gestão corrente e disponibilize para investigação os espólios, mas igualmente assumindo a responsabilidade da sua conservação. Na prática, e atendendo à indisponibilidade ou esgotamento de espaços, poderá debater-se se, a prazo, esta situação deva implicar a criação de uma Reserva Estratégica Regional, supramunicipal, eventualmente com um modelo de gestão mista – ainda a definir – entre as administrações Local e Central, que salvaguarde para o futuro esta imprescindível fonte de informação histórica. O eixo referente ao Património Cultural é um dos factores em estudo no âmbito do Plano Estratégico de Cultura para o Algarve, e é nesse âmbito que um tal debate deverá ter lugar.

• CONVIDADO.S

José Duarte joseduarte@ua.pt

Erros Errados allgarve tem erros mas algarve não allgarve compra e vende música jazz e música vizinha do jazz jazz dá-se mal com algumas vizinhas… algarve tem swing logo presta jazz que foi na prática (há testemunhas vivas) proibido no tempo da ditadura passou a música popular teria passado? há concertos por todo o lado – interior e litoral – mas não há festivais em lisboa ou porto ou coimbra sequer na amadora ou em gaia cidades tuguesas bem populacionadas! honrosa excepção para lagos que se apresenta e bem lagos com big band e tudo tudo aqui significa entusiasmo e conhecimento um país jazz sem clubes jazz é aqui outro mistério jazz existia um o hot em lisboa que foi aguado não confundir água com fogo existe 1 depósito musical tipo jazz depósito de uma certa onda… mas bravo para a revista jazz.pt que resiste e há anos e quem ouve sabe o que está a ouvir? não sucesso musical jazz mede-se pelo ‘nome’ das salas: ccb ou casa da música ou gulbenkian (que se vê aflita para programar jazz jazz) ou culturgest o povo pede encores por dá cá aquela palha e enquanto as luzes se não abrem as palmadas não param!... é esta parte da kultura jazz da maioria aqui e acolá há que divulgar redivulgar tridivulgar ndivulgar só assim é que intervenções com cinco minutos durarão décadas um soprador de seu nome dolphy eric dolphy deixou dito: «no jazz não há notas erradas! a próxima essa sim poderá estar errada!» os erros jazz tugueses boa parte deles são erros errados discursos falhados insistências erradas assumidas gosto menos de música escrita cumo a de beethoven mas nessa os erros são fatais mais tarde ou mais cedo a liberdade dura neste país há trinta e tais dura há pouco e os animais os (ir)racionais são teimosos jazz é música para tempos fracos

obrigado por haver imprensa deste tipo! ámen

CONVIDADO.S O nosso próximo convidado.S é Teresa Rita Lopes, considerada uma das mais notórias especialistas mundiais sobre Fernando Pessoa. Teresa Rita Lopes nasceu em Faro, em 1937. Viveu 13 anos em Paris onde foi professora na Sorbonne e defendeu a tese de doutoramento “Fernando Pessoa et le drame

symboliste – héritage et création”. É professora catedrática na Universidade Nova de Lisboa. Enquanto uma das maiores especialistas contemporâneas em Fernando Pessoa, centrou o seu trabalho académico na obra deste poeta e dedicou-se especialmente à divulgação da parte inédita da

sua obra. Dirige um grupo de investigadores que produziu várias obras, nomeadamente um guia de Lisboa, escrito por Pessoa, com traduções em várias línguas (espanhol, francês, italiano e duas em alemão). Das obras produzidas individualmente em português destaca-se

Pessoa por conhecer (2 volumes, mais de 400 inéditos) e uma edição crítica: Álvaro de Campos – Livro de Versos (mais de 80 poemas inéditos).


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