Cultura.Sul41Janeiro

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8.849 EXEMPLARES

JANEIRO • Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO

www.issuu.com/postaldoalgarve

Vila Joya eleva culinária ao estatuto de arte

JAN | 2012 • Nº 41 • Mensal • O Cultura.Sul faz parte integrante da edição do POSTAL do ALGARVE e não pode ser vendido separadamente

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Adriana Nogueira revê Somerset Maugham

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Cultura.Sul 20.01. 2012

Um espaço que dá relevo a uma fonte de actividade literária que fervilha, muitas vezes, à margem dos circuitos convencionais.

blogosfera

Jady Batista

Narcisismo matinal Henrique Dias Freire

Editor do CULTURA.SUL

Bom ano para a Cultura! O que se deseja para Portugal e para o Algarve é que 2012 seja um grande ano. Votos que ganham ainda maior significado em face das dificuldades do país e da região do Algarve. O Cultura.Sul regressa ao trabalho, nesta primeira edição de 2012, para levar aos algarvios a melhor informação sobre a Cultura da região, assumindo renovado empenho na sua função e consciente da responsabilidade de ser o único caderno do género no Algarve. Uma responsabilidade reforçada pelos inequívocos sinais de reconhecimento da sua importância no panorama regional e nacional, nomeadamente, através da menção honrosa atribuída pela Associação Portuguesa de Museologia na categoria Melhor Trabalho Jornalístico, onde foram consagrados também o Jornal Público e o programa Câmara Clara da RTP2. O compromisso de continuar a lutar por mais e melhor Cultura e pela sua divulgação, que conta com os apoios das Direcções Regionais da Educação e da Cultura, é assim assumido de forma perene para este novo ano. A renovação de rubricas do Cultura.Sul surgirá em paralelo com a manutenção dos conteúdos que fizeram do caderno de cultura da Gorda em parceria com o POSTAL uma referência. Já na próxima edição, com o apoio de Isabel Soares, surgirá um espaço dedicado ao Património Cultural Imaterial da região, que substitui a rubrica Museus - A Voz e a Vez do Visitante que deixou para a posteridade um inestimável contributo para a área da museologia com o périplo que fez por aquelas casas da memória regional. Desvendamos apenas esta novidade, porque outras estão na calha neste ano que se quer culturalmente grande.

Ficha Técnica Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire

Pessoas há que têm dificuldade em enfrentar o espelho matinal com o rosto ainda com restos de sono. Lembro-me de, numa entrevista, António Lobo Antunes dizer que o pai tirava os óculos para fazer a barba para não ver nitidamente o rosto deformado por horas de sono, apenas o branco puro e imaculado do creme de barbear. Podemos ver um anti-Narciso em todo aquele que recusa ver o seu rosto no espelho matinal. Narciso é precisamente aquele que adora contemplar-se, alheando-se da contemplação de todos os outros rostos. Mas é exactamente o contrário. Recusar-se a enfrentar o seu próprio rosto continua a ser um acto de enorme narcisismo. Só recusa ver o seu rosto aquele que quer muito ver o seu rosto mas sabe que não vai encontrar o rosto que desejaria. Amar-se a si mesmo não é mais narcisismo do que sofrer por não poder amar uma parte de si que não existe. Blog: http://ponteirosparados. blogspot.com/ Postagem: http://ponteirosparados.blogspot.com/2011/12/narcisismomatinal.html

Espaço CRIA

João Mil-Homens

Gestor de Ciência e Tecnologia do CRIA - Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia

Dias de crise e austeridade, recheados de sol e polvilhados com açúcar e canela, fazem-me atacar o bolo-rei, flanqueando os maiores pedaços de fruta cristalizada, na esperança de encontrar os brindes da minha in-

Paginação: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: » blogosfera.S: Jady Batista » livro.S: Adriana Nogueira » momento.S: Vítor Correia » panorâmica.S: Ricardo Claro

O caminho da internacionalização fância. Bem sei que os brindes fazem parte do passado, mas não vejo por que razão não os hei-de continuar a procurar. E enquanto os procuro, delicio-me com os torrões de açúcar e com os pequenos frutos (secos e cristalizados), que lhe dão o gosto e a cor. Os empreendedores e as PMEs estão para a estrutura empresarial nacional, como esses pequenos pedaços de fruta estão para o bolo-rei. Por muito pequenos que sejam, a sua importância na economia do país é determinante, representando 99,7% do tecido empresarial, gerando 72,5% do emprego e realizando 57,9% do volume de negócios nacional. São esses mesmos empreendedores e pequenos empresários que actualmente mais sofrem com a

débil situação económica do país, enfrentando o espectro da emigração e a fuga para novos mercados face ao desgaste provocado pelo clima de austeridade. No entanto, é importante realçar que essas oportunidades externas podem estar ao alcance de qualquer empresário, sem que isso implique necessariamente uma fuga do país. De facto, a sobrevivência a longoprazo das PMEs passa cada vez mais pela adopção de estratégias de internacionalização que transcendam a mera resposta a situações de crise. No âmbito do Projecto TEMA, o CRIA está a colaborar com um conjunto de países do Mediterrâneo, tendo em vista a consolidação de um cluster de PMEs de tecnologia ambiental. O objectivo deste

projecto consiste em contribuir para o desenvolvimento económico e a coesão territorial, através da colaboração entre actores públicos e privados, de forma a potenciar o crescimento das PMEs para além da escala regional. No próximo dia 17 de Janeiro, realiza-se em Vilamoura o primeiro TEMA Workshop, que contará com a presença de governantes e empresários de vários países Europeus, interessados em estreitar relações com os seus pares Algarvios nos mais variados domínios de tecnologia ambiental. Será uma excelente oportunidade para todos os empreendedores e empresários da região arregaçarem as mangas, partilharem as suas competências e desafios, e encontrarem os parceiros que possibilitem o seu crescimento internacional.

Colaboradores: AGECAL, ALFA, CRIA, Cineclube de Faro, Cineclube de Tavira, DRCAlg, DREAlg, António Pina, Pedro Jubilot. Nesta edição: Aníbal Tiago Vieira, Conceição Pinto, Eudoro Grade, João Mil-Homens, Maria Cabral

Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve

on-line: www.issuu.com/postaldoalgarve

e-mail: geralcultura.sul@gmail.com

Fotografia (créditos): José Fatela, Paulo Barata, Vasco Célio / Stills

Tiragem: 8.849 exemplares


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cinema Cineclube de Faro

Cineclube leva bom cinema a Estoi

O Cineclube de Faro está a presentar durante o mês de Janeiro três ciclos, um dedicado à política, onde podem ainda ver-se “Habemus Papam”, de Nanni Moretti e, “Pater”, de Alain Cavalier, outro dedicado a todas as curtas-metragens de Agnès Varda, onde poderão acompanhar as Curtas Parisienses, e um último denominado “O que é nacional é bom!”, dedicado ao cinema português, que terá periodicidade quinzenal e que conta com o apoio da Junta de Freguesia de Estoi, com as sessões agendadas para o cine-teatro local. É com prazer que o Cineclube aposta em mostrar bom cinema na freguesia rural do nosso concelho e agendada para dia 27, está a exibição de “DOT.COM” de Luís Galvão Teles. A programação que apresentamos e que se estende atá à data da próxima edição do Cultura.Sul, 10 de Fevereiro, inclui já os ciclos “Grécia e Roma não têm nada de antigo” e

PROGRAMAÇÃO

www.cineclubefaro.com

25 JAN ¦ Curtas Parisienses + Ensaios (9 filmes, 94 )

CICLO É A POLÍTICA...! IPJ ¦ 21.30 horas ¦ Entrada paga

CICLO O QUE É NACIONAL, É BOM! Cine-teatro de Estoi ¦ 21.30 horas ¦

23 JAN ¦ Habemus Papam, Nanni Mo-

Entrada livre

retti, Itália/França, 2011, 102 , M12 27 JAN ¦ DOT.COM, Luís Galvão Teles, Portugal, 2007, 103 , M/12 Colaboração com a Junta de Freguesia de Estoi CICLO GRÉCIA E ROMA NÃO TÊM NADA DE ANTIGO Sede ¦ 21.30 horas ¦ Entrada livre

Luís Galvão Teles “Inquietações”. “Grécia e Roma não têm nada de antigo” conta com a exibição já agendada de “Cabíria”, de Giovanni Pastrone, e “Júlio César”, de Joseph Mankiewicz, respectivamente para os dias 1 e 8. No âmbito deste ciclo, destaque para a conferência “Grécia e Roma na 7ª Arte”, a realizar no final do mês de Fevereiro, a cargo da doutora

Adriana Freire Nogueira, distinta colunista destas mesmas páginas. O ciclo “Inquietações” tem já agendada a mostra do filme de Gus Van Sant, Inquietos - Restless, a não perder no dia 6. Na edição de Fevereiro do Cultura.Sul desvendaremos o resto da programação para aquele mês. Aguardem-nos!

1 FEV ¦ Cabíria, Giovanni Pastrone, Itália, 1914, 125 8 FEV ¦ Júlio César, Joseph Mankiewicz, EUA, 1953, 120 30 JAN ¦ Pater, Alain Cavalier, França,

CICLO INQUIETAÇÕES

2011, 105 , M/12

IPJ ¦ 21.30 horas ¦ Entrada paga

CICLO CURTAS AGNÈS VARDA!

6 FEV ¦ Inquietos - Restless, Gus Van

Sede ¦ 21.30 horas ¦ Entrada livre

Sant, EUA, 2011, 91, M/12

Cineclube de Tavira

Cineclube organiza bazar de caridade

destaque

Tentamos evitar juntar-nos à lista de queixas sobre a crise mas não conseguimos negar que o Cineclube de Tavira está a atravessar tempos difíceis, que o futuro do Cineclube de Tavira e das Mostras de Cinema no Verão estão fortemente ameaçados e, de modo crescente, encontram-se nas nossas mãos. Para ajudar a salvar e continuar o que construímos ao longo dos últimos 13 anos, iremos organizar um bazar de caridade (venda de artigos variados, de rebotalho). O lugar será o Cine-Teatro António Pinheiro, a data é sábado de Páscoa, dia 7 de Abril. Queremos convidar todos os nossos amigos e os amantes da Sétima Arte para, em vez de deitarem ao lixo, doarem ao Cineclube qualquer peça supérflua com que se deparem ao efectuar a limpeza de Primavera das vossas casas, armazéns, áticos, caves, carros, barcos, caravanas, casas de avós e de outros entes queridos.

Este acto simples e ecológico apoiará de forma substancial as futuras actividades do Cineclube de Tavira. Uma forma visionária de todos beneficiarmos das coisas que NÃO foram parar ao lixo! Até sexta feira, dia 30 de Março, gratamente iremos receber qualquer item que deixaram de idolatrar, usar, simplesmente amar ou precisar. Qualquer item, menos comidas e bebidas numa fase avançada de decomposição. Roupa (incluindo sapatos e outras peças ocultas); velhos candeeiros ou um conjunto de velas; livros; qualquer item emoldurado não excessivamente nojento; brinquedos; pequenos móveis; malas antigas ou novas de qualquer tamanho; vasos, louça e talheres; mantas e almofadas; enfim, qualquer velharia ou coisa que ainda possa servir alguém. Prometemos não recusar obras de arte, jóias, moedas, selos preciosos, carros desportivos, furgonetas e camiões, até barcos de pesca e iates! Se

PROGRAMAÇÃO

www.cineclube-tavira.com 281 320 594 ¦ 965 209 198 ¦ cinetavira@gmail.com

SESSÕES REGULARES

Bélgica/França/Itália 2011 (87 ) M/12

Cine-Teatro António Pinheiro ¦ 21.30

19 FEV ¦ L Arnacoeur (O Quebra Cora-

horas

ções), Pascal Chaumeil, França/Mónaco 2010 (105 ) M/12

não conseguirem trazer ou levantar esta enorme quantidade de itens de valor inestimável, nós conseguimos. Contactem-nos pelos telefones: 281 320 594 (Cine-Teatro) - Telelés: 965 209 198 ou 934 485 440 ou ainda pelo: 281 971 546 e por email: cinetavira@ gmail.com ou andreviane@gmail.com ou http://www.facebook.com/profile. php?id=100002129151851 Ficaremos à vossa espera e seremos-lhes eternamente agradecidos! Para qualquer dúvida ou informação adicional, não hesitem em contactarnos. Obrigado e até breve!

“ÍNTIMO… COM TODO O RESPEITO” 28 JAN | 21.30 | TEMPO – Teatro Municipal de Portimão Jorge Palma vai dar a conhecer o seu mais recente trabalho. O artista, que se irá apresentar ao piano, far-se-á acompanhar por um músico muito especial: o seu filho, Vicente Palma

2 FEV ¦ Melancholia (Melancolia), Lars Von Trier, Dinamarca/Suécia/França/Alemanha 2011 (136 ) M/12 5 FEV ¦ In a Better World (Num Mundo Melhor), Susanne Bier, Dinamarca/Suécia 2010 (119 ) M/16 9 FEV ¦ Efeitos Secundários, Paulo Rebelo, Portugal 2009 (97 ) M/12 12 FEV ¦ Hjem Til Jul - Home For Christmas (Uma Casa para o Natal), Bent Ha-

23 FEV ¦ Jodaeiye Nader Az Azmin ‒ A

mer, Noruega/Suécia/Alemanha 2010

Separation (Uma Separação), Asghar

(90 ) M/12

Farhadi, Irão 2011 (123 ) M/12

16 FEV ¦ Le Gamin au Vélo (O Miúdo da

26 FEV ¦ Drive (Risco Duplo), Nicolas

Bicicleta), Luc e Jean-Pierre Dardenne,

Winding Refn, E.U.A. 2011 (100 ) M/16

“IMAGENS QUE TOCAM” Até 10 FEV | EMARP – Portimão José Estorninho Viana partilha, através da pintura, um pouco das imagens que povoam o seu quotidiano de interesses, tentando trazer para a tela os sons da música e os seus personagens


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Exposição

Imagens delicosas O Quartel da Atalaia em Tavira, base do Regimento de Infantaria 1, recebe até ao próximo dia 4 de Fevereiro a exposição “Cooking Sessions | Melhores Fotos | Best Photos 2011”, que mostra os melhores trabalhos fotográficos realizados no âmbito dos workshops realizados pela Associação Livre Fotógrafos do Algarve (ALFA). As cooking sessions levaram dezenas de pessoas a aprender a cozinhar e a fotografar depois os pratos em vários locais do Algarve, do litoral ao interior, numa formação que uniu a culinária à fotografia com o prémio final de, no fim de cada sessão, se degustarem os pratos confeccionados. Inaugurada a 14 de Janeiro, a mostra apresenta trabalhos dos fotógrafos Deolinda Oliveira, Carla

Espaço AGECAL

Conceição Pinto, arquitecta Sócia da AGECAL ‒ Associação de Gestores Culturais do Algarve

destaque

O crescimento urbano que aconteceu nos países industrializados e destruídos pela 2ª Grande Guerra, atingiu Portugal, de forma desregulada e descontrolada, depois da Revolução de Abril. A construção industrializada ultrapassou o direito democrático a uma habitação económica e em boas condições, para passar a dominar a actividade económica nacional: há três décadas que se constrói segundo uma lógica especulativa, socialmente injusta, economicamente desequilibrada, ambientalmente degradada e esteticamente desagradável.

Brazão Mendes, Maia Coimbra, Tiago Vieira, Fernando Sampaio Amaro, Raúl Coelho, Luís Costa, Rogério Inácio e Mauro Rodrigues e promete encher os sentidos. Sob o mote da dieta mediterrânica, cuja candidatura a Património Imaterial da UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura é liderada pela Câmara de Tavira, a exposição tem marcada para o dia do encerramento mais uma cooking session, uma vez mais, com recurso a produtos regionais e vinhos do Algarve. A abertura da exposição contou com a presença do DJ Peter, com temas ambientais inspirados nas paisagens musicais do trabalho Soulfood to Go. Uma vez mais, a unidade militar estacionada em Tavira, a única com

presença na região, abriu as suas portas à Cultura e à comunidade, naquele que tem sido um percurso notável de aproximação entre a instituição militar e a sua envolvente. O Quartel da Atalaia tem vindo a mostra-se capaz de muito mais do que albergar o regimento de infantaria e é já hoje um reconhecido espaço de cultura, numa simbiose que se deseja frutífera e duradoura entre actividades que poderiam parecer à primeira vista inconciliáveis. Desta feita, a proposta é a de deliciar-se, no sentido mais estrito do termo, com as fotografias dos fotógrafos da ALFA. É que nada melhor do que ver as iguarias fotografadas para cumprir a velha máxima, “Os olhos também comem”. Ricardo Claro

Regeneração urbana e a preservação dos testemunhos históricos Hoje o território apresenta uma ocupação com graves problemas sociais, económicos e urbanos: Excesso de fogos construídos, coexistente com um significativo número de pessoas sem habitação ou a viverem em casas degradadas e inabitáveis; Vastas áreas urbanas desqualificadas e fragmentadas, sem equipamentos e infra-estruturas básicas de apoio ao quotidiano das populações residentes, sem identidade, sem áreas de socialização e desumanizadas; Núcleos urbanos ocupados por população de baixos rendimentos e envelhecida, com inúmeros edifícios degradados, devolutos e em ruínas, pouca actividade económica, comércio tradicional decadente, com estruturas urbanas degradadas e desqualificadas. No Algarve, a luta das instituições públicas em contrariar a decadência dos núcleos antigos apenas se começou a verificar, há pouco mais de 2 décadas, com os primeiros Gabinetes

Técnicos Locais em Lagos, Olhão, Tavira, Silves e Faro e com os primeiros Planos de Salvaguarda. Os núcleos (grandes e pequenos, monumentais ou tradicionais) são a referência para as populações autóctones, receptáculos de memórias e de identidade - humanizados na escala, adaptados às características geo-morfológicas, aos recursos disponíveis e às especificidades climatéricas, à cultura das populações que os construíram ao longo do tempo - registam a história dos povos. Constituindo locais de grande valor cultural, já não conseguem dar resposta às necessidades dos novos tempos, de mobilidade, de conforto, de economia, de localização, dimensão e acessibilidade às estruturas económicas, ao modo de vida moderno: são hoje áreas debilitadas: sem gente, sem vida económica e sem qualidade ambiental. As edificações são resultantes de materiais originários dos próprios locais e de modos de fazer tradicionais

“ENSEMBLE DE FLAUTAS” 28 JAN | 21.30 | Igreja de Nossa Senhora da Assunção - Querença No concerto serão interpretadas peças de autores diversos, entre os quais, Samuel Scheidt, Arcangelo Corelli, Georg Philipp Telemann, Lennon/ McCartney e Eric Clapton

e artesanais que já não existem ou constituem trabalhos especializados dispendiosos, que exigem obras de manutenção e conservação regulares e apresentam custos de reabilitação elevados, características incompatíveis com as exigências da actualidade As estruturas urbanas compactas e irregulares, marcadas por arruamentos sinuosos e estreitos, por largos e praças com forte valor simbólico - lugares de poder, de comércio e de contexto social e cultural - não comportam a circulação motorizada, a mobilidade rápida, o parqueamento de viaturas em número crescente nem a acumulação de equipamentos. A preservação destes testemunhos históricos afigura-se incomportável e encontra-se hoje, perante duas grandes questões: A preservação da autenticidade obriga a uma acção sobre as estruturas físicas reversível, de modo a não destruir ou adulterar estas fontes de informação sobre a história das comunidades;

A regeneração das estruturas urbanas obriga à revitalização social, económica e ambiental, através da sua reutilização e refuncionalização compatível com a respectiva preservação; Nos últimos anos verificaram-se significativos investimentos públicos e comunitários na requalificação urbana de áreas antigas e respectivas frentes ribeirinhas, na reabilitação de imóveis e sua refuncionalização como equipamentos e serviços de utilização pública. No entanto, os bairros, os quarteirões e imóveis que os constituem, continuam por reabilitar, e a regeneração socioeconómica destas áreas continua a não acontecer. Os núcleos antigos apresentam questões específicas que exigem soluções complexas, mas são parte de estruturas urbanas de maiores dimensões e delas indissociáveis, carecendo de soluções abrangentes e integradas numa área territorial mais vasta.

“12º FESTIVAL DE MÚSICA AL-MUTAMID” 28 JAN | 21.30 | Cine-Teatro Louletano “Tanoura dança” é a designação do espectáculo cuja origem está intimamente relacionada com a dança sufí Mawlawi, que através dos seus giros conectam-se com o céu e com a espiritualidade


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• INTERNACIONAL GOURMET FESTIVAL

panorâmica

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Ricardo Claro

A arte à mesa Quando se juntam os melhores espera-se o melhor e se a expectativa era alta, alguns dos mais reconhecidos chefes do mundo estão a dar a melhor resposta possível por terras algarvias. Uma vez mais pelas mãos do chefe Dieter Koschina, o Vila Joya Boutique Resort, na Praia da Galé, reúne a fina flor dos mestres culinários no Internacional Gourmet Festival, que decorre desde a passada quinta-feira e até ao próximo domingo. Arte, saber, ousadia e mesmo irreverência juntam-se harmonicamente na execução de propostas gastronómicas de excelência e o resultado são pratos soberbos. Propostas irresistíveis de sabores requintados e onde os recortes de pormenor são a nota de toque daqueles que fazem da culinária uma arte sem qualquer favor na utilização do termo. Dieter Koschina é um nome incontornável da cozinha internacional e em Portugal e no Algarve representa o que de melhor o país e a região têm para oferecer na arte de bem cozinhar. Chefe do restaurante Vila Joya desde 1991 e detentor de duas Estrelas Michelin desde 1999, a excelência deste master gourtmet foi a razão para que a alma por detrás de um dos mais luxuosos resorts do país, Claudia Jung, o escolhesse para dirigir as mesas do Vila Joya. É exactamente a Claudia Jung, fundadora do Vila Joya Boutique Resort, que o International Gourmet Festival presta tributo quando traz ao Algarve a nata dos chefes nacionais e internacionais, entre os quais se destacam vários galardoados com as ambicionadas estrelas Michelin. Cores, sabores, texturas, destreza, muitos segredos e um toque de ciência são as armas que os chefes aliam à sua sagacidade e capacidade inventiva para criarem pratos únicos, capazes de deslumbrar o mais exigente dos comensais. À mesa estão sentados apreciadores de paladar habituados a estas andanças da excelência da mesa e dispostos a pagar entre os 210 e os 600 euros por uma refeição de sonho num espaço paradisíaco. Dentro destes preços estão reservados quatro lugares muito especiais. A Chef’s Table garante a proximidade entre os convidados e o mestre que lhes prepara a refeição, numa cumplicidade rara e a esta mesa especial entre todas apenas têm lugar quatro felizardos. Festival estende-se ao resto do país Pela primeira vez, este ano o Internacional Gourmet Festival deixou os limites da região e o seu palco de excelência, o Vila Joya, e deu a conhecer aos chefes e convidados a capital do país, Lisboa, e a Herdade da Malhadinha,

no Alentejo, onde April Bloomfiel, a inglesa que encantou Nova Iorque com a sua cozinha, brilhou na preparação de um almoço. Xana Nunes, da organização, realçou ao Cultura.Sul esta vertente da edição deste ano como uma aposta para continuar, no sentido de alargar os horizontes do mais prestigiado encontro nacional de chefes mundiais. Esta é uma tendência que a organização espera desenvolver nas próximas edições do festival, dando assim a conhecer o país aos prestigiados chefes e

aos convidados do evento, ao mesmo tempo que se pretende que os efeitos positivos do festival em termos de projecção de imagem internacional de Portugal se alarguem para além das fronteiras do Algarve, face ao elevado número de meios de comunicação social de referência que acompanham os dez dias do evento. As after parties Um festim gastronómico como o que dia-a-dia é oferecido pelo In-

ternacional Gourmet Festival não se fica pela mesa e no quadro de eventos do certame estão as mais diversas actividades, desde o golfe, ao automobilismo até às provas de vinhos. Tudo para que chefes e convidados sintam o algarve e Portugal em todas as suas potencialidades. As noites ficam a cargo do Le Club em Albufeira, que preparou um conjunto de noites memoráveis para estar à altura do festival sob todos os pontos de vista. Os mestres Até ao próximo domingo o festival - que teve início quinta-feira, dia 12 - apresenta a excelência da alta cozinha num evento que conta com nomes como Alain Passard, do L’Arpège, (França), quinta-feira, dia 19, e Laurent Gras, ex-chef do L2O (EUA), um três Estrelas Michelin, para amanhã, sexta-feira. Normand Laprise, do Toqué (Canadá), também com três estrelas, dirige a cozinha no sábado, e no domingo o chefe duas Estrelas Michelin do Osteria Francescana (Itália), Massimo Bottura, encerra o evento. Se o que se avizinha em termos de nomes até ao fim da semana impressiona, o que dizer da verdadeira parada de estrelas que desde o início do festival passou pelo Vila Joya. Dieter Koschina (Vila Joya), Hans Neuner (The Ocean), Albano Lou-

renco (Arcadas da Capela), Vincent Frage (Fortaleza do Guincho), Henrique Leis (Henrique Leis), Benoit Sinthon (Il Gallo d’Oro), Torsten Schulz (São Gabriel), Vitor Matos (Largo do Paço), Aime Barroyer (Tavares), Wilie Wurger (Willie’s), José Cordeiro (Feitoria) e Ricardo Costa (Yeatman) abriram o certame num momento que juntou todos os chefes Michelin de Portugal. A Hans Välimäki, do Chez Dominique (Finlândia) e Joachim Wissler, do Vendôme (Alemanha), juntaram-se Magnus Nilsson, do Faviken Magasinet, (Suécia) e Shaun Hergatt, do SHO (EUA), nos dias seguintes. Pelo meio o anfitrião Dieter Koschina liderou, no dia 15, o “Koschina and Friends”, onde juntou Jonnie Boer, do De Librije, (Holanda) Peter Knogl, do Les Trois Rois (Suíça), Martin Klein, chefe do Hangar 7, (Áustria), Norbert Niederkofler, do Hotel & Spa Rosa Alpina (Itália) e Thomas Dorfer, do Landhaus Bacher (Áustria). Um bouquet de excelência culinária terminado com Jacob Jan Boerma, do De Leest, (Holanda), Mario Lohninger, do Cocoon Club, (Alemanha), Thoms Bühner, do La Vie, (Alemanha) e Nigel, do Haworth (Reino Unido). Imperdível sob todos os pontos de vista, o desfile de excelência culinária regressará depois de domingo, no próximo ano, voltando a colocar o Algarve na rota do mundo da alta cozinha.


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opiniõe

Mudança e Cultura Maria Cabral

Professora universitária

Quando Bob Dylan alertou o mundo para as mudanças na altura eminentes com Times there are a changing, certamente não imaginava que esse alerta iria ecoar por muitas décadas. Tal como anunciou Dylan, hoje, a mudança mantém-se como factor constante e obrigatório na análise de todas as dimensões da vida humana, particularmente quando se fala de Economia. Outras vozes e factos confirmaram a chegada de mudanças. Um dia o mundo assistiu com espanto ao facto de a IBM ter utrapassado a GM Motors na bolsa de valores, Alvin Tofler afirmou que o conhecimento constituía um novo poder, e, mais recentemente, Peter Druker defendeu que o caminho para o sucesso nos negócios está na criatividade e na inovação. Neste tempo, os alertas de mudança chegaram-nos, também, com a crescente relevância do conhecimento e da tecnologia, considerados factores de produção, com a globalização e as consequentes transformação do modelo de consumo de bens culturais e criação do chamado mercado da cultura, e com a consciencialização de que o conhecimento do ‘quem’ e do ‘porquê’ seriam mais valorizados do que o ‘quê’ e o ‘como’. Parecia, afinal, que assistíamos à agonia do paradigma neo-clássico da economia, aonde o capital e o trabalho constituíam os principais factores de produção, e aonde o conhecimento, a formação e as capacidades intelectuais eram factores exógenos. O novo paradigma emergente – a economia criativa – valorizava o intelecto, o conhecimento, a criatividade, os produtos e os serviços de natureza intangível, os produtos de natureza tangível com conteúdos criativos, considerados como a nova moeda. A economia criativa

destaque

A última década assistiu ao nascimento de um novo conceito – econo-

mia criativa, cuja autoria se atribui a John Howkins. Mais tarde, em 2008, no relatório ‘Creative Economy Report’, é assumido que a criatividade “é uma força significativa na vida económica contemporânea, que o desenvolvimento económico e o desenvolvimento cultural não constituem fenómenos separados, mas são, sim, parte de um processo mais vasto de desenvolvimento sustentável, no qual, tanto o crescimento económico como o crescimento cultural ocorrem em simultâneo”. Neste contexto, é ainda importante lembrar que, entre nós, no estudo que caracteriza o sector cultural e criativo em Portugal, Mateus et al. (2010) elogia a progressiva integração da cultura e da economia, realçando “a criatividade como factor competitivo estratégico para quase todas as actividades económicas de bens e serviços”. É certo que o sector cultural e criativo contribuiu de modo relevante para a economia de diversos países europeus. Apenas como exemplo, Walter Santagata, analisando a relevância económica do sector em Itália, chegou a afirmar que a actividade cultural era relevante não só porque representava a imagem antropológica da vida material, espiritual e social dos italianos, mas também porque ela constituía uma fonte fundamental de crescimento económico. O sector cultural e criativo em Portugal À semelhança da organização adoptada noutros países, o sector cultural e criativo em Portugal abrange três grandes sectores-âncora, que incluem as Actividade Culturais Nucleares: artes performativas, artes visuais e criação literária, património histórico e cultural; as Indústrias Culturais: cinema, vídeo, edição, música, rádio e televisão, software educativo e de lazer; e as Actividades Criativas: arquitectura, design, publicidade, serviços de software, componentes criativas em outras actividades (Mateus et al., 2010). Em Portugal, a análise do sector cultural e criativo parecia revelar, a par do que acontecia na Europa, uma tendência de crescimento das áreas da cultura e das artes. Embora os dados referentes ao sector cultural e criativo em Portugal re-

velassem valores ainda muito distantes dos resultados obtidos noutros países, a verdade é que, em 2006, o sector foi indicado como responsável por 2,8% de toda a riqueza criada em Portugal, nesse ano, gerando um valor acrescentado bruto (VAB) na ordem dos 3.690, 670 milhares de euros. Nesse mesmo ano, com base em informação divulgada no estudo Mateus et. Al. (2010), as actividades culturais e criativas contribuíram com 2,6% para o emprego global. Para os autores, parecia que o sector cultural e criativo teria ultrapassado outros sectores industriais importantes, como o Têxtil e Vestuário, a Alimentação e Bebidas e o Automóvel, não ficando muito distante de sectores como a Construção e a Hotelaria e Restauração. O comportamento positivo das empresas do sector cultural e criativo justificava, na opinião de MAteus et al. (2010), a necessidade de um olhar mais atento ao papel da cultura e da criatividade na economia portuguesa. O passado e o presente No que respeita ao Algarve, tal como noutras regiões de Portugal e na maioria dos países europeus, os orçamentos dos recintos culturais, das bibliotecas, arquivos e museus, assim como dos programas culturais

“CICLO DE CONCERTOS PROMENADE” 22 JAN| 12.00 | Teatro das Figuras - Faro Sob o mote “Famílias em Concerto”, o novo ciclo propõe a realização de cinco programas que vão percorrer e revelar as seguintes famílias instrumentais: madeiras, metais, percussão e finalmente o “tutti” orquestral, isto é, a orquestra completa

são fortemente dependentes de fundos governamentais. Isto é, a actividade cultural na região do Algarve existiu e cresceu por via do financiamento dos ministérios da cultura e dos municípios regionais. Por exemplo, em 2008, paralelamente ao investimento do Ministério da Cultura, as autarquias da região investiram em actividades culturais e recreativas uma verba correspondente a 31% das suas despesas globais. A essa verba foi ainda acrescentado o investimento para a promoção da actividade cultural e turística, por parte do programa ALLGARVE. Os dados apresentados no estudo Mateus et al. (2010) revelam que o Algarve, assim como o Alentejo, foram as regiões do país aonde, até agora, se observava um maior investimento per capita em actividades culturais e desportivas, por parte dos respectivos municípios. Como exemplo dessa tendência, os dados disponíveis sobre o rendimento das famílias (ano de 2006) mostram que, no Algarve, e de modo semelhante no resto do país, as famílias gastaram em actividades culturais e recreativas 5% do seu rendimento global. Os dados disponíveis demonstraram ainda que o destino dessas verbas foram sobretudo as sessões de cinema e os espectáculos de música ligeira, ao vivo. Hoje, perante a profundidade da crise portuguesa, receio bem que te-

nham perecido todas as expectativas de crescimento do sector cultural e criativo, tanto no país como na região. Tendo como base a auscultação das previsões de alguns dos empresários e agentes culturais mais relevantes na região do Algarve, parece que todos os cenários anteriormente descritos como encorajadores das actividades culturais e criativas estão, neste momento, a ser substituídos por um fundo negro de dúvida face à contracção de investimento por parte dos tradicionais financiadores da cultura. Isto é, afinal, a actividade cultural, outrora elogiada como promissora e potenciadora de crescimento económico e social, é agora rapidamente descartada como espaço do supérfluo, incluída na lista do que as comunidades devem prescindir de modo a adoptarem comportamentos de poupança, altamente encorajados, por políticos e economistas. Para terminar, ocorre-me a necessidade de voltarmos a considerar alguns dos argumentos presentes na discussão do conceito de indústria cultural, criado por Theodor Adorno e Max Horkheimer, nos anos quarenta. Reflectindo sobre a actualidade das suas teses, concluo que, também em Portugal, os incentivos à actividade cultural como factor de desenvolvimento económico e social estão, como sempre, apenas dependentes das tendências do mercado.

“MITO MÓVEL, HISTÓRIAS DE PRINCÍPIOS” 20 JAN | 21.30 | Convento de Santo António - Loulé Neste acontecimento teatral uma escultura é mito móvel, pois contém em si a substância para contar as histórias e viaja pela mão de uma contadora


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Quotidianos poéticos

José Afonso

Algures num espaço e tempo do Algarve, a vida e a poesia intrometeram-se na música de José Afonso

Pedro Jubilot

pjubilot@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt

destaque

Não foi destino ou sorte, mas a vontade que levou Zeca Afonso ao Algarve, lugar ao sul, para onde desejava ir quando chegasse vindo de Moçambique, pois considerava essa parte do país a mais parecida com África. Tinha sido levado com apenas três anos, pelos tios para Angola, mas é em Lourenço Marques que reencontra os irmãos e os pais. A esse continente voltaria mais tarde para viver ou atuar com o Orfeão Académico de Coimbra e com a Tuna da Universidade. «Vejam bem/que não há só gaivotas em terra/quando um homem/quando um homem se põe a pensar». Depois de ter cumprido o serviço militar entre 1953 e 55, iniciou as suas funções como professor em Lagos no dia 29 de Outubro de 1957, na então Escola Comercial e Industrial Vitorino Damásio. Por onde quer que andasse Zeca era um artista que se inspirava sobretudo na observação da dura realidade da paisagem social, como escreve na canção sobre os ‘indios’ da Meia-Praia de Lagos: «Tu trabalhas todo o ano/Na lota deixam-te mudo/Chupam-te até ao tutano/Chupam-te o couro cab’ludo/ Pescador de peixe ingrato/Trabalhaste noite e dia/Para ganhares um pataco(…)Quem aqui vier morar/Não traga mesa nem cama/Com sete palmos de terra/Se constrói uma cabana». A sua profissão leva-o a outros lugares dum país silenciado por vários tipos de censura, mas mesmo assim José Afonso vai arranjando maneira de editar os seus discos, conseguindo sempre dar-lhes um cunho de hábil intervenção, como em ‘Menino do Bairro Negro’, em que mais uma vez se refere às condições precárias das populações no litoral, quem sabe

reminiscências da infância em África e Aveiro onde nasceu a 2 de agosto de 1929… «Olha o sol que vai nascendo/Anda ver o mar/Os meninos vão correndo/Ver o sol chegar(…) Menino sem condição/Irmão de todos os nus/Tira os olhos do chão/Vem ver a luz». Lecionará depois também em Faro onde convive com Luiza Neto Jorge, António Barahona e António Ramos Rosa, seguindo atentamente os sinais de esperança renovadora apontados pela crise académica de Lisboa, em 1962. Assim, trabalhava em Faro, inspirava-se nas docas de Olhão e amava na Fuseta. Nesse mesmo ano começa a namorar com Zélia, natural da chamada ‘Branca Noiva do Mar’, com quem virá a casar em segundas núpcias. Vejamos como o Zeca descreveu a ideia do single proibido ‘Ó Vila de Olhão’: «Fiz muitas viagens a Olhão, minha terra adoptiva. A meio do caminho da Fuseta, entre Olhão e Marim, a vila vai-se adelgaçando, a viagem toma-se mais rápida e ruidosa, devido ao vento que entra pelas janelas. Pode-se berrar sem que ninguém nos ouça. Foi assim que nasceu esta crónica rimada. Servida pela cadência mecânica do “poucaterra”, versa um tema alusivo às vicissitudes por que passa o mexilhão quando o mar bate na rocha. A culpa não é do mar». Sobre a canção ‘Maria’ do mesmo disco, o ep ‘Cantares de José Afonso’ (Emi/Valentim de Carvalho,1964) diria: «O conhecimento da Zélia, num lugar do Algarve, reconciliou-me com a água fresca e com os tons maiores. Passei a fazer canções maiores». O disco viria a ser reeditado mais tarde com uma versão instrumental de ‘Ó Vila de Olhão’ já que na sua letra fazia alusão a Henrique Tenreiro, dirigente da Junta Central das Casas de Pescadores, onde era delegado do Governo junto dos organismos das pescas, e apoiante do regime do Estado Novo: «Ó vila de Olhão/Da Restauração/Madrinha do povo/Madrasta é que não/Quem te pôs assim/Mar feito num cão/Foi o tubarão(…)» Só a seguir ao 25 de Abril de 1974,

“UMA CIDADE, 2 FOTÓGRAFOS” Até 29 ABR | Sala de Exposições Temporárias do Museu de Portimão Exposição elaborada a partir do material fotográfico de Júlio Bernardo e Francisco Oliveira, que revelam os seus diversos modos de olhar Portimão, durante a década de 50 até aos finais dos anos 70 do século XX

é que a edição destas canções circula livremente, sendo o referido disco desdobrado em dois singles, um deles contendo ‘Ó vila de Olhão’/’Maria’, que tem na capa a conhecida pintura de Maluda: - ‘OlhãoIV’. Em 1985, é editado o seu último álbum de originais, ‘Galinhas do Mato’, no qual, devido ao seu estado de saúde, Zeca não consegue interpretar todas as músicas previstas. O álbum acaba por ser completado por José Mário Branco, Sérgio Godinho, Helena Vieira, Fausto e Luís Represas. É por isso que nesse disco, apenas interpreta duas das canções, sendo uma delas o tema ‘Escandinávia Bar’, numa dedicatória a uma conhecida casa que o cantautor frequentava na Fuseta. «Senhora do Bom Sucesso/Diz-me onde irei almoçar/Não quero sola de molho/Tenho as tripas a estalar (…)/ Por isso não te retenhas/Se tens pressa de chegar/Senhora do Bom Sucesso/ Rumo ao Escandinávia-bar». Acaba por falecer a 23 de Fevereiro de 1987, em Setúbal, outra terra de pescadores, deixando um cancioneiro inigualável.

“EXPLODE - THE GIFT” 4 FEV | 21.30 | Teatro Municipal de Faro Formados em 1994, os The Gift tornaramse uma banda de referência no panorama musical português ainda durante a última década do milénio passado


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livro

Abrindo páginas de Somerset Maugham sabemos, tal como o patrão, o primeiro nome), que, depois de ter ido ao cinema, jantado fora, dançado e dormido com ele, no dia seguinte, «nada nas atitudes dela sugeria sequer que lhe lembrasse a noite anterior. Suspirou aliviado (…) Pritchard era a copeira perfeita. Ela compreendeu que nunca, fosse por palavras, fosse por gestos, haveria ela de referir-se ao facto de, por um momento, terem as relações entre ambos deixado de ser de patrão para criada» (p.79).

Adriana Nogueira

Classicista Professora da Universidade do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com

Sabe o que é um abre-cartas? Os mais jovens apenas devem conhecer este objeto de o ver em cima de uma secretária em casa dos pais ou mesmo dos avós, visto que caiu quase em desuso. Já nem contas de telefone e eletricidade chegam em envelopes, mas tão só em forma eletrónica. Hoje vou falar de um autor cujos livros tiveram, muitos deles (nas primeiras edições portuguesas, pelo menos), que ser abertos por alguém, delicadamente, para não rasgar as suas páginas: Somerset Maugham (leia-se «Mome»). Somerset Maugham (1874-1965) não é fácil de encontrar nas livrarias (numa busca rápida pelas lojas online encontramos disponível A Servidão Humana, O Véu Pintado, O Fio da Navalha e Paixão em Florença, todos elas obras que foram adaptadas ao cinema), principalmente as suas peças de teatro ou livros de contos. Portanto, a sugestão que aqui deixo vai obrigar os interessados a irem procurar em bibliotecas públicas ou particulares. Os mais jovens podem ir esquadrinhar as prateleiras das estantes da casa dos avós para ver se encontram por lá alguns destes exemplares, das edições «Livros do Brasil», com capas de cores variadas, com desenhos a preto, que parecem a tinta-da-china, da autoria de ilustradores conhecidos na época, como é o caso de Álvaro Infante do Carmo. O mundo que Somerset Maugham cria está muito distante de nós: nos gestos, nas palavras, nos valores, na cultura. Mas nada disso nos afasta do prazer de ler as suas histórias, passadas em locais tão díspares como Xangai, Nova Guiné, Indochina, Antibes, Vladivostoque, Malásia, Bornéu, Singapura, Londres, ou nas viagens entre Nova Iorque, São Francisco e um qualquer lugar exótico. Há algo nestes contos que nos faz sentir confortáveis, mesmo sabendo que o desfecho das histórias é, normalmente, inesperado. Talvez seja o facto de o narrador, apesar de muitas vezes fazer parte da história (intradiegético, diria Gérard Genette), estar acima de qualquer acontecimento funesto, dando-nos a certeza de que, a ele, nada irá acontecer. Podemos, deste modo, apreciar com tranquilidade as tramas em que nos enreda para divertir e surpreender.

A capa do livro As Três Mulheres de Antibes Cosmopolitan Magazine Algumas destas histórias são pequenas novelas, de cerca de 50 páginas, como as que fazem parte do livro Ah King; outras são contos desenvolvidos entre 25 e 35 páginas, como os de As Três Mulheres de Antibes; outros ainda são muito curtos, com 6 páginas, como os que fazem parte de Em Terras Estranhas. No prefácio deste último, Somerset Maugham explica a sua génese: originalmente encomendados para saírem na Cosmopolitan (sim, esta revista, agora feminina, nem sempre o foi e nem sempre se dedicou aos temas que hoje a ocupam, como moda, sexo, celebridades. Tendo sido lançada em 1886 como uma revista para a família, com secções que interessariam a todos, homens, mulheres e crianças, durante muitas décadas – desde o fim do século XIX até meados do séc. XX – foi uma revista essencialmente literária, onde escreveram nomes como A.J. Cronin, George Bernard Shaw e, claro, William Somerset Maugham), tiveram que respeitar um número máximo de caracteres e levar o autor a um exercício de contenção da sua «verbosidade natural», como o próprio afirma. Diz, na p. 7: «A minha dificuldade era comprimir o que tinha de contar dentro de certo número de palavras, que não podia ser excedido, deixando ao leitor, ainda assim, a impressão de que contara tudo quanto havia para contar. Foi isso que tornou divertida a empresa. Foi, também, sa-

lutar. Eu não podia desperdiçar uma só palavra. Tinha de ser sucinto. Surpreendi-me ao verificar quantos advérbios e adjetivos podia dispensar sem causar qualquer dano ao assunto ou à forma. Com frequência, escrevemos palavras desnecessárias porque dão à frase um torneio melhor. Foi, para mim, um ótimo exercício procurar o equilíbrio de uma frase sem utilizar uma palavra que não fosse necessária ao sentido». Palavras sábias. «O Tesouro» Atenção: Spoilers (ou «espoliadores», se preferirem em português) As mulheres são tratadas por Somerset Maugham de uma forma peculiar: talvez a sua homossexualidade tenha contribuído para as desenhar de formas tão contraditórias: ora tontas, ora patéticas, ora devoradoras de homens e causadoras da sua destruição, ora inteligentes e sensatas. Porém, o exemplo que se segue poderá ser visto como uma crítica, não às mulheres, mas àqueles que, irrealmente, idealizam a gente comum, o povo, por dele estarem tão apartado. Refiro-me a Pritchard, a criada modelo, no conto «O Tesouro» (incluído em As Três Mulheres de Antibes): o irreal não é a perfeição desta mulher, que sabia sempre e exatamente o que o patrão queria comer, beber ou vestir, nem o facto de outros a cobiçarem e querem contratá-la, de tão perfeita que era. Irreais foram as reações de Pritchard (de quem não

Mais spoilers: «O dr. Sabe-Tudo» Se aquele exemplo ridiculariza um tipo de sociedade que nem consciência tem da hipocrisia em que vive e nos remete para uma Inglaterra de marcadas classes sociais – sem pudor em assumi-lo –, ainda colonialista, de impossível miscigenação, este outro, «O dr. Sabe-Tudo» (pp.95-103 de Em Terras Estranhas), acerta, com uma bofetada de luva branca, em todos os que julgam precipitadamente. Assumindo os preconceitos classistas, o narrador vai construindo uma imagem de si próprio e da outra personagem, vindo a realidade a mostrar-se bem diferente. O conto começa assim: «Eu estava preparado para antipatizar com Max Kelada mesmo antes de conhecê-lo. A guerra mal terminara e era pesada a afluência de passageiros

fosse Smith ou Brown». É impossível não sorrirmos com o humor que o narrador faz dos seus sentimentos de inveja: «As escovas de Mr. Kelada, montadas em ébano com o seu monograma de ouro, eram o que havia de bom na matéria. Antipatizei totalmente com Mr. Kelada». Depois, a xenofobia, sempre com um humor subtil: «– É inglês? – perguntei, talvez com falta de tato. – Totalmente. Acha-me parecido com um americano? Inglês até à medula é o que eu sou. Para prová-lo, Mr. Kelada tirou do bolso um passaporte e, ufano, agitou-o sob o meu nariz. O rei Jorge tem muitos súbditos estranhos (…). Eu tinha a certeza íntima de que um exame mais acurado daquele passaporte britânico revelaria o facto de que Mr. Kelada nascera debaixo de um céu mais azul do que geralmente se vê em Inglaterra». O narrador, sempre com humor, apresenta-se como gostando das distâncias sociais: «Não gosto de me dar ares, mas não consigo deixar de achar conveniente que uma pessoa totalmente estranha me conceda o tratamento de “senhor”. Mr. Kelada, sem dúvida para me deixar à vontade, não usava semelhante formalidade. Não gostei de Mr. Kelada.» No fim, Mr. Kelada dá uma lição

William Somerset Maugham nos navios de carreira. (…) Ninguém pensava na possibilidade de ocupar sozinho um camarote, e eu senti-me contente quando me destinaram um onde só havia duas camas. Mas, quando me disseram o nome do meu companheiro, a minha satisfação desmoronou (…); a partilha ter-me-ia parecido menos desanimadora se o nome do passageiro

de cavalheirismo tal, a todos os ingleses (pronto, está bem, não vou estragar completamente a história, contando tudo, tudo), que o narrador termina, dizendo, conquistado: «Nesse momento, não antipatizei de todo com Mr. Kelada». E eu, naquele momento, simpatizei com o narrador.


PAULO MIRANDA JOALHEIRO

Tentações

A família Miranda é uma referência do sector da joalharia e da relojoaria no Algarve desde meados do século passado, quando aí se instalou, proveniente do centro do País. Paulo Miranda representa, com orgulho, esta herança de experiência, conhecimento e serviço ao cliente, que os seus ascendentes lhe legaram. Instalados desde 2002 no Forum Algarve, apresentam em 2007 uma nova loja com o dobro do espaço, num conceito de inovação e prestígio, reforçando o seu portfólio de produtos com novas marcas de alta relojo-

aria, joalharia e acessórios, como a JaegerLeCoultre, a Chaumet, a Franck Muller e a Montblanc, que se juntaram à IWC, H. Stern, Breitling e Omega. Em 2008, inauguram uma nova loja na Rua de Santo António, a mais emblemática da Baixa de Faro, onde apresentam um portfólio de marcas direccionadas a um público mais jovem e abrangente, a preços mais acessíveis. Nesta edição, Paulo Miranda Joalheiro apresenta-nos alguns produtos muito especiais que o leitor poderá apreciar in loco na sua loja do Forum Algarve.

Lojas: Forum Algarve - loja 035  Faro   289 865 433 Baixa de Faro - Rua de Santo António, 21   289 821 441

MONTBLANC WRITERS EDITION CARLO COLLODI A Montblanc, na sua série de Writer’s Edition, presta agora homenagem ao criador de Pinóquio, Carlo Collodi. Esta caneta está repleta de referências à história de Pinóquio. No aparo de ouro de cor champanhe surge gravado o grilo – a consciência de Pinóquio. A tampa possui as principais personagens da história, desde o próprio Pinóquio, à baleia e à fada azul, entre outras. Ostenta também a assinatura do escritor. O corpo, de resina castanha, termina num cone dourado que pretende representar o nariz do protagonista da história. Esta edição está disponível nas versões de caneta de tinta permanente, rollerball e esferográfica, em número limitado de 12.000, 8.400 e 14.600, respectivamente.

H. STERN COPERNICUS Inspirada no universo e no trabalho do astrónomo italiano Nicolau Copérnico (1473-1543), a H. Stern criou uma nova colecção de jóias. Se, para Copérnico, o Sol era o centro do sistema onde a Terra se inseria, para a H. Stern, é a mulher o centro do universo, “com poder absoluto de atracção sobre os outros corpos celestes”. A colecção Copernicus baseia-se na forma de esferas concêntricas, umas dentro das outras e inclui anéis, brincos e pendentes, em ouro e diamantes.

Preço: Sob consulta

LADYMATIC - O RENASCER DE UM NOME FAMOSO DO PATRIMÓNIO OMEGA Os relógios OMEGA Ladymatic que Nicole Kidman, embaixadora da marca suíça, usa nesta campanha realçam o renascer de um nome que a OMEGA apresentou em meados da década de 50. Questionada sobre se o nome e os anúncios funcionariam como um apelo às mulheres contemporâneas, Nicole disse: “Há algo de fascinante neste tipo de comunicação. Há um encanto pela época, o que significa que a publicidade pode ser divertida sem ter de ser antiquada. Como a linha Ladymatic representa o mais avançado nível tecnológico da indústria relojoeira, esta campanha é realmente um clássico moderno”.

Preço: Sob consulta

Preço: Sob consulta

SEIKO SPORTURA JAEGER-LECOULTRE MASTER GEOGRAPHIC Consultar as horas nos 24 fusos horários: é esta complicação emblemática que a manufactura Jaeger-LeCoultre celebra, numa homenagem às mais nobres tradições relojoeiras, com o novo Master Geographic da colecção Master Control. Elegância e refinamento são, sem qualquer dúvida, palavras-chave no mundo Master Control - relógios de linhas sóbrias e clássicas com mostradores de grande beleza e com aquele toque de originalidade essencial que despoleta inevitavelmente nos amantes da bela relojoaria um sentimento de que estão perante um instrumento do tempo com alma própria.

Preço: Sob consulta

TAG HEUER FORMULA 1 LADY STEEL & CERAMIC PAVÉE O ciclo do tempo na vida da mulher, esse fluxo constante que todos gostaríamos de suspender por um minuto, uma hora ou um ano que fosse, é inflexível. Tão imutável e inalterável como a própria cerâmica. Já o brilho único dos diamantes, esse é eterno. E a cerâmica e os diamantes unem forças no Fórmula 1 Lady Steel & Ceramic que, na nova edição Pavée, vem deslumbrar na sua mais generosa expressão: um instrumento do tempo particularmente misterioso e feminino que incorpora a imensa riqueza da mulher TAG Heuer através de uma das mais prestigiadas e distintivas criações da marca - o Fórmula 1.

A Seiko apresentou recentemente a sua nova colecção da linha Sportura, com design renovado, assente em cronógrafos. O espírito Sportura é celebrado com uma parceria com o FC Barcelona, o clube de futebol mais famoso em todo o mundo, passando a Seiko a ser o seu relógio oficial.

Preço: 450 €

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PLATA PURA

Preço: 84€

TAG HEUER CARRERA 1887 CHRONOGRAPH Um novo cronógrafo automático dotado de um movimento com roda de colunas que inaugura uma nova geração do CARRERA, a lendária série de cronógrafos desportivos concebida por Jack Heuer em 1964, que se tornou um símbolo do refinamento.

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Inspirada num grande Amor vivido por dois eternos amantes, Plata Pura é hoje o nome de uma marca única de joalharia. Cada peça está marcada por símbolos intemporais de Sonho e Amor. A joalharia Plata Pura é produzida em prata cem por cento pura e é conjugada com couro e diferentes tipos de pedras. Pulseiras, colares, anéis e brincos surgem como peças únicas, de beleza e elegância intemporais.


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momento

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Vítor Correia

Concerto de Natal pela Orquestra do Algarve

Espaço ALFA

ALFA – Quatro anos a crescer

Aníbal Tiago Vieira

Presidente da Mesa da Assembleia Geral da ALFA - Associação Livre Fotógrafos do Algarve

A ALFA – Associação Livre Fotógrafos do Algarve comemora quatro anos de existência. Numa altura de particular dificuldade na vida dos portugueses, é de louvar o interesse e a paixão que a fotografia desperta. Os primeiros anos foram os anos do início e da descoberta. Após a sua constituição, foram diversas as actividades que de uma forma inovadora vieram apresentar a ALFA ao Algarve e ao Mundo. Longe vai o tempo em que duas dúzias de desconhecidos rumaram a Tavira onde foram recebidos pelo então Presidente da Câmara o Eng.º Macário Correia num Sábado chuvoso e frio. Estava aberta a porta ao conhecimento e ao convívio. A ALFA

foi a primeira associação de fotógrafos não profissional de Portugal constituída e em actividade. 2010 foi ano de eleições, assumindo os actuais corpos sociais a responsabilidade de honrar o objecto social desta associação, projectando o futuro de forma sustentada e prestigiante. A produção de conhecimento e a divulgação da fotografia, têm tornado a ALFA numa referência. Mas também a nível nacional e mesmo internacional, o eco da ALFA foi ouvido através de formações com fotógrafos de renome e com tertúlias transmitidas on-line para o mundo. Neste dois últimos anos foram organizados mais de 60 eventos relacionados com fotografia, destacando-se as Formações Alfa Skills: Iniciais, Direitos de Imagem, Photoshop, Workflow Digital, Joel Santos - tendo sido o 2º local a nível nacional onde foi apresentado o seu novo livro “Índia”; Tertúlias: André Boto – Fotógrafo Europeu do Ano 2010, Calibração de Cor; Eventos: “Cooking Sessions” - a fusão entre os sabores e a fotografia; Passeios: Photowalk Zona Histórica de Faro, Fuseta, Olhão, Tavira, Mértola, Zoo de Lagos, Olimpíadas da Química, Acreditações, Participação em Feiras. Um dos grandes desafios su-

perados foi o conseguido “Espaço ALFA” na Viladentro em Faro, fruto de um acordo conseguido em 2011 com a Câmara Municipal de Faro, com vista à dinamização e promoção do centro histórico. Este espaço multiusos partilhado com mais duas associações, permite-nos ter uma forma de divulgar a fotografia através de Exposições, de Tertúlias e mesmo de formação ou workshops.

Eventos como foram a inauguração do espaço e a exposição “Ria Formosa, entre a terra e o mar”, marcaram o início de um novo ciclo. Toda esta dinâmica justifica que a ALFA tenha crescido para mais de três centenas de associados. É em 2012 que se fecha mais um ciclo na breve vida desta associação, com a convocação de eleições para os novos corpos sociais que irão ser os

“timoneiros” da ALFA para o próximo mandato. É também na qualidade de Presidente da Mesa da Assembleia Geral que tive a honra de garantir a voz e registar os desígnios dos associados nas Assembleias. Termino esta missão com sentimento de dever cumprido. A todos os Alfistas um bem hajam e continuem a fazer desta associação uma referência na fotografia no Algarve.


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Património

Do Mar Aberto ao Mare Internum expõe legado romano O próximo domingo, 22 de Janeiro, marca a abertura ao público da exposição, “Do Mar Aberto ao Mare Internum”, no Centro de Interpretação de Vila do Bispo e na Fortaleza de Sagres. A mostra traz a público os resultados das investigações arqueológicas desenvolvidas pela Universidade do Algarve nos últimos anos nos sítios romanos da Boca do Rio e do Martinhal, no âmbito do projeto Ceratonia - «A Exploração dos Recursos Marinhos no Algarve durante a época Romana». A parceria pela Direcção Regional de Cultura do Algarve, Universidade do Algarve e Câmara Municipal de Vila do Bispo, desenvolvida no âmbito das comemorações do dia do município de Vila do Bispo é coproduzida com a Associação Livre Fotógrafos do Algarve (ALFA) e comissariada pelo Prof. Doutor João Pedro Bernardes. Com dois núcleos expositivos situados no Centro de Interpretação de Vila do Bispo e na Fortaleza de Sagres o convite é para que se conheça no primeiro o sítio pesqueiro romano da Boca do Rio e, no segundo, o centro oleiro romano da praia do Martinhal. Ambos os locais têm estreitas relações com a exploração, transformação e exportação de recursos piscícolas entre os séculos III e V.

volvidos nos últimos anos através de painéis e uma pequena mostra demateriais recolhidos no local.

LAC

Praia do Martinhal

Boca do Rio O sítio da Boca do Rio está referenciado desde o século XVIII, quando o Tsunami decorrente do terramoto de 1755 colocou à vista extensas ruínas. Parcialmente escavado no século XIX pelo arqueólogo algarvio Estácio da Veiga, o sítio é composto por uma extensa área com tanques para preparados de peixe, armazéns, um balneário e

uma residência ricamente decorada com estuques pintados e pavimentos de mosaico. Apesar do sítio ter sido ocupado desde o século I ao século V, é no século III e IV d.C. que atinge o seu máximo esplendor, fruto da intensa actividade exportadora de preparados de peixe a que então o Algarve se dedicava. Devido ao recuo da linha de costa, este sítio romano tem sido muito afectado pela erosão marítima nos

últimos anos, o que levou a Universidade do Algarve e a Direcção Regional da Cultura do Algarve a fazer escavações no local para salvar um pavimento de mosaico. Outros, que se podem ver no museu de Lagos, já tinham sido resgatados por José Formosinho nos anos 30 do século passado. A exposição, para além de mostrar a história das investigações sobre o sítio, apresenta os resultados dos trabalhos arqueológicos desen-

Na praia do Martinhal localizouse um sítio romano ainda no século I d.C que foi convertido num grande centro oleiro a partir de meados do século III e que funcionou até inícios do V. Aqui foram produzidas em larga escala ânforas que se destinavam a envasar preparados de peixe, produzidos em vários sítios do Algarve como em Boca do Rio, exportados para toda a bacia do Mediterrâneo. O sítio, identificado desde o século XIX e parcialmente escavado inicialmente nos anos 80 do século passado, tem vindo a ser destruído pelo recuo da falésia onde se encontravam os fornos de ânforas. As escavações antigas e as realizadas pela Universidade do Algarve nos últimos anos já permitiram reconhecer dez fornos e um enorme edifício, com uma cisterna com capacidade para armazenar mais de mil litros de água, onde trabalhavam os oleiros. Razões de sobra para não perder estes testemunhos da Cultura Romana no Algarve, uma das mais importantes referências da nossa identidade anterior à fundação da nacionalidade.

António Pina Convida

A Cultura em tempos de Crise

Maestro Eudoro Grade

Compositor, autor e intérprete de guitarra clássica; mentor e fundador da Orquestra de Guitarras do Algarve

destaque

De há muito que debatemos ideologicamente a importância da cultura na sociedade, ou ainda,

que contributo pode esta induzir na mesma. Em tempos de crise económica, assistimos hoje, com alguma dormente indiferença ao declínio acentuado de valores sociais, no caso culturais, como se estes não fossem a razão de uma identidade ou se quisermos a imagem de marca de um povo. A palavra cultura tal como a arte, representa em si um leque vastíssimo de contextos, que facilmente servem diversas finalidades ou objectivos independentemente do valor que encerrem. Numa perspectiva macro divi-

diria a cultura sob duas vertentes principais: cultura de animação e cultura de base. A cultura de animação abrange grande parte senão a maioria da programação nacional relacionada com o espectáculo como produto de consumo de massas, a qual não deixa necessariamente de ter a sua relevância, embora em muitos casos discutível e actualmente com alguma fragilidade devido às questões económicas. Já a cultura de base a meu ver muito pouco planeada na sua ambição ao longo dos tempos, onde porventura temos que semear para colher, mais

“OLHÃO, O ALGARVE & PORTUGAL NO TEMPO DAS INVASÕES FRANCESAS” 20 JAN | 18.00 | Biblioteca Municipal de Olhão As Actas do Congresso Histórico de Olhão, agora editadas, são o resultado da reunião de alguns dos melhores especialistas do país, sobre a temática da Guerra Peninsular

trabalhosa, aparentemente menos visível e com resultados a médio prazo, não se tem investido adequadamente com a vontade que merece. Sublinho os nossos jovens. Como poderemos ter no futuro uma sociedade capaz, humanamente solidária, onde os sentidos de curiosidade e crítico sejam veículos do saber, da decisão e do bom gosto, se não investirmos na sensibilização de boas práticas das capacidades e auto-estima da nossa juventude. É este o momento, talvez ideal para parar, pensar e conjecturar o

que se deve fazer no domínio verdadeiramente cultural para um povo e não é por razões económicas que não se pode começar uma política cultural de raiz. Apenas uma breve história, há uns tempos, li não sei precisar onde, que em determinada altura em plena II Guerra Mundial os conselheiros de William Churchill puseram em questão as despesas com a cultura, e este Homem retorquiu dizendo que essa seria um dos pilares que não se poderia de modo nenhum deixar cair... que coragem!

“JOSÉ MÁRIO BRANCO” 20 JAN | 21.30 | Teatro Municipal de Faro O músico vai interpretar temas do último disco de originais, “Resistir é Vencer”, de 2004, mas também outros mais antigos como “Inquietação” e “FMI”


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