CULTURA.SUL 71 - 4 JUN 2014

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ricardo claro

Espaço Cria: d.r.

Precisamos de bons empresários

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Grande ecrã:

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Julho

d.r.

º

O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N:

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um jornal ao serviço da cultura

É tempo de Mostra de Verão em Faro

6 aniversário

d.r.

A luta por dar um espaço à música

p. 5 d.r.

Espaço Património:

A vez e a voz dos alunos

Da minha biblioteca: d.r.

ps. 8 e 9

JULHO 2014 n.º 71

António Manuel Venda p. 11

Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO 9.049 EXEMPLARES

www.issuu.com/postaldoalgarve


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04.07.2014

Cultura.Sul

Editorial

Espaço CRIA

Seis anos de serviço público

Precisamos de bons empresários

Editor ricardoc.postal@gmail.com

Parece que foi ontem, mas não. Foi há exactamente seis anos - Julho de 2008 - que nasceu o Cultura.Sul. O único caderno cultural em formato jornal no Algarve, criado pela mão do POSTAL, nasceu e afirmou-se por direito próprio fruto do trabalho e dos contributos de centenas de pessoas que incansavelmente escreveram para as suas páginas. Mérito daqueles que o dirigem, dos que lhe conceberam o design e o paginam, dos que lhe fazem a revisão e o tratamento de imagens, dos que o levam até às rotativas e também daqueles que nelas o imprimem e dos que o distribuem por todo o Algarve, este foi, é e continua a ser um caderno de cultura pensado para o Algarve e para os algarvios. Sem citar nomes a todos os que fizeram, fazem e farão o Cultura.Sul fica a homenagem face a seis anos de verdadeiro serviço público, digno de nota de louvor. Há em nós, apesar de todos os pesares, a força de continuar a busca de uma cada vez mais adequada resposta às necessidades informativas da região na área cultural. Somos um palco do muito que por cá se faz nos mais variados palcos, seja à secretária de pena em punho, palco da escrita, ou nas tábuas de uma qualquer boca de cena, espaço maior das artes, bem assim como no atelier de um criador. Somos tábua rasa preenchida pelo génio dos ‘fazedores’ de cultura, rostos que inculcam em cada um de nós o produto de um mister reservado a seres especiais, os artistas. Destes damos apenas nota, somos mera correia de transmissão da sua genealidade e somo-lo orgulhosamente. Fazemos o que nos compete e deixamos a todos os leitores a palavra escrita que faz da arte informação. Venham mais anos, tantos quantos os que hajam para vir e a todos os leitores um sincero obrigado.

te consumido com as despesas para cumprir os compromissos com o Estado. Quando seria muito mais benéfico para o país que estivesse concentrado em fazer crescer o seu negócio, em expandir e em inovar. Oiço, por vezes, críticas ao nosso tecido empresarial. Algumas com fundamento. Nem todos poderão ser empresád.r.

Fico feliz quando vejo nas notícias casos de sucesso empresarial português. Eleva-nos a autoestima. Ser empresário sempre foi muito difícil. Em qualquer parte do mundo. Ser empresário em Portugal, nos tempos que correm, é muito, mas muito difícil. O empreendedor tem de gostar muito do que está a fazer, caso contrário, acabará inevitavelmente por desistir. É desgastante, exige muita determinação. Implica muito trabalho e preocupações constantes. Daquelas que tiram o sono e fazem aparecer cabelos brancos. No primeiro terço do mês, até dia 10, preocupa-se com pagamento a fornecedores (renda, água, luz, matérias-primas, etc.). Se não o fizer arrisca-se a não ter nada para vender. No segundo terço, até dia 20, há compromissos fiscais (retenções, IRS, segurança social, IVA). Do dia 20, ao final do mês, é um instante. Como

peciais por Conta, TOC, Taxas e Licenças, etc.) e de pagar os vencimentos, pouco ou nada sobra para reinvestir. Pouco ou nada sobra para novos projectos e ideias. É desesperante. O pequeno empresário vive, ou melhor, sobrevive diariamen-

rios, é certo. A ambição de ser patrão exige preparação. Lembro-me bem que há poucos anos para se beneficiar de apoios do IEFP para desenvolver uma iniciativa local de emprego era necessário frequentar um curso de formação

profissional na área da gestão. O Estado tinha a preocupação de fornecer aos que apostavam na criação do seu próprio emprego conhecimentos mínimos. Ferramentas básicas. Deixou de ser obrigatório. Ser empresário exige competências técnicas na área de negócio em que vamos apostar, exige competências de gestão e de marketing. Um empresário hoje tem que dominar as TIC’s e ser fluente no inglês. Tem de saber delegar. Motivar e gerir equipas. Comunicar e falar em público. A ambição de ser patrão vem acompanhada do rigor, do sentido de responsabilidade, da seriedade e do compromisso. Acredito na nova geração de empreendedores que está a sair das universidades. É preciso que os bons empresários ajudem e apoiem os que estão a começar. É preciso criar rapidamente condições para que a iniciativa empresarial aconteça. É preciso valorizar quem arrisca e investe. Criar um ecossistema que apoie os empreendedores. Que funcione em parceria entre todos os agentes e seja eficiente. É preciso uma outra atitude, mais colaborativa. Parabéns aos Vencedores do Concurso Ideias em Caixa 2013. Muito sucesso. Precisamos de bons empresários!

Juventude, artes e ideias

Uma ideia

Paulo Côrte-Real Docente

Haverá algo mais poderoso que uma ideia? As ideias encerram em si a força e a criatividade da concretização do mundo. O ritmo de vida atual leva-nos, vezes sem conta, a esquecer a grandiosidade das ideias. De um simples esboço, a uma obra pictórica ou a um objeto arquitetónico, a ideia é o que lhe dá origem. O abstrato

dá lugar ao concreto. Pensando na nossa vida quotidiana, estamos de acordo que, objetos nela materializados dependem da qualidade, criatividade e força das ideias. Então que se apoie e cultive o surgimento de novas ideias, onde os jovens, graças à sua abertura, disponibilidade a novas experiências e a vontade de apropriação do mundo, são os verdadeiros embaixadores do empreendedorismo. Consubstanciadas pela Educação - um dos pilares das nações que almejam a prosperidade e o desenvolvimento sustentável, as artes, ao mesmo tempo que abrem novos horizontes e apontam novos caminhos, conferem beleza ao mundo. Como parte integrante da cultura, são um rico e importante fator de

Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Ricardo Claro Paginação: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: • O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N: Pedro Jubilot • Espaço ALFA: Raúl Grade Coelho • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Espaço CRIA: Hugo Barros • Espaço Educação: Direcção Regional de Educação do Algarve • Espaço Cultura: Direcção Regional de Cultura do Algarve • Grande ecrã: Cineclube de Faro Cineclube de Tavira • Juventude, artes e ideias: Jady Batista • Da minha biblioteca: Adriana Nogueira • Momento: Vítor Correia • Panorâmica: Ricardo Claro • Património: Isabel Soares • Sala de leitura: Paulo Pires Colaboradores desta edição: Ana González Luís Rodrigues Paulo Côrte-Real Paulo Serra Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com e-mail publicidade: anabelagoncalves3@gmail.com

on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve d.r.

Ricardo Claro

Luís Rodrigues CRIA - Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da UAlg

vou pagar os salários aos meus colaboradores? Criar uma empresa em Portugal é hoje muito fácil. Uma questão de horas. Mantê-la viva é um desafio enorme. Olhar para a conta bancária mensalmente e perceber que depois de satisfeitos todos os compromissos fiscais (TSU, IRC, IRS, IVA, Pagamentos Es-

Ficha Técnica:

desenvolvimento imaterial. Embora ultimamente se venha a assistir a tentativas, falsamente legitimidadas, de destruição das artes e da cultura (direi mesmo da própria identidade nacional), importa lembrar que essa será uma tentativa vã, já que as

artes e a cultura têm como génese uma IDEIA. As ideias não se destroem. Os homens e as mulheres podem morrer mas as suas ideias ficam e disseminam-se como a brisa de um novo dia. Imagina-se um mundo sem beleza?

Tiragem: 9.049 exemplares


Cultura.Sul

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Grande ecrã Cineclube de Faro

Programação: cineclubefaro.blogspot.pt

MUSEU MUNICIPAL – ENTRADA PAGA 14 JUL | A FELICIDADE, Jorge Silva Melo, Pt, 2008, 8’ - A PROPÓSITO DE LLEWYN DAVIS, Ethan e Joel Coen, EUA, 2013, 105’, M/12 16 JUL | CAROSELLO, Jorge Quintela, Pt/It, 2013, 7’ - A GRANDE BELEZA, Paolo Sorrentino, It, 2013, 142’, M/16 18 JUL | TRÊS SEMANAS EM DEZEMBRO, Laura Gonçalves, Pt 2013, 6’ - NEBRASKA, Alexander Payne, EUA, 2013, 115’, M/12 JARDIM DA ALAMEDA - ENTRADA PAGA 21 JUL | SANGUETINTA, Filipe Abranches, Pt, 2012, 12’ - GOLPADA AMERICANA, David O’ Russel, EUA, 2013, 138’, M/16 23 JUL | A ÚNICA VEZ, Nuno Amorim, Pt, 2010, 5’ HER – UMA HISTÓRIA DE AMOR, Spike Jonze, EUA, 126’, 2013, M/12 25 JUL | PICKPOCKET, João Figueiras, Pt, 2010, 20’ - BLUE JASMINE, Woody Allen, EUA, 2013, 98’, M/12 MERCADO MUNICIPAL – ENTRADA LIVRE 28 JUL | CÂNDIDO, Zepe, Ptl, 2007, 11’ - A LANCHEIRA, Ritesh Batra, Ind, Fr, De,104›, 30 JUL | BEST OF CURTAS DE VILA DO CONDE – 22ª EXTENSÃO DO FESTIVAL

É tempo de Mostra de Verão em Faro Tradicionalmente, Julho é o mês da Mostra de Verão do CCF e este ano não foge à regra, mas com um formato inovador. Entre 14 de Julho e 1 de Agosto, todas as 2ªs, 4ªs e 6ªs-feiras, às 22 horas, o Cineclube de Faro apresenta uma seleção de curtas e longas-metragens onde se incluem alguns dos melhores filmes estreados este ano. A principal inovação será o carácter itinerante da Mostra de Cinema de Verão de 2014; durante estas três semanas, o CCF instala-se em três espaços da cidade de Faro, num diálogo inédito entre o cinema e diferentes cenários da cidade, reforçando o carácter idílico e mágico destas sessões sob o manto das estrelas. Começamos como habitualmente nos Claustros do Museu Municipal, na segunda semana no Jardim da Alameda e, finalmente, na terceira semana, no átrio do Mercado Municipal.

Cineclube de Tavira

Programação: www.cineclubetavira.com 281 971 546 | cinetavira@gmail.com

d.r.

Imagem de ‘A Grande Beleza’ A programação será diversificada, entre alguns dos destaques mais independentes dos nomeados e oscarizados do cinema norte-americano, o brilhante “A Grande Beleza”, de Paolo Sorrentino, o melhor do Festival de Curtas de Vila do Conde ou o novíssimo “A Mãe e o Mar”, que contará com a presença do realizador Gonçalo Tocha, a terminar a Mostra a 1 de Agosto. Destaque

também para o facto de algumas sessões (Mercado Municipal) serem de entrada livre, o que só é possível graças ao apoio da Delegação Regional da Secretaria de Estado da Cultura, do Mercado Municipal e da Ambifaro. O melhor mesmo é consultar toda a programação, aqui, nas redes sociais, nos folhetos da Mostra ou nos sites/blogs do CCF. Contamos convosco!

14ª MOSTRA DE CINEMA EUROPEU - AR LIVRE | CLAUSTROS DO CONVENTO DO CARMO – 21.30 HORAS 11 JUL | ABOUT TIME, Richard Curtis, Reino Unido 2012 (120’) M/12 12 JUL | LA CAGE DORÉE, Ruben Alves, França/Portugal 2013 (90’) M/12 13 JUL | ERNEST ET CELESTINE, Stéphane Aubier e Vincent Patar, França/Bélgica 2012 (80’) M/6 14 JUL | VENUTO AL MONDO, Sergio Castellitto, Itália/Espanha 2012 (127’) M/16 15 JUL | DANS LA MAISON, François Ozon, França 2012 (105’) M/12 16 JUL | LA MIGLIORE OFFERTA, Giuseppe Tornatore, Itália 2013 (131’) M/12 17 JUL | THE BROKEN CIRCLE BREAKDOWN, Felix Van Groeningen, Bélgica/Holanda 2012 (111’) M/16 18 JUL | HYSTERIA, Tanya Wexler, Reino Unido/França/Alem/Luxemburgo 2012 (100’) M/16 19 JUL | LA VIE D’ADÈLE, Abdellatif Kechiche, França/Bélgica/Espanha 2013 (179’) M/16 20 JUL | PHILOMENA, Stephen Frears, Reino Unido/E.U.A./França 2013 (98’) M/12

Espaço AGECAL

A Cultura Portuguesa e o Modelo “Global”... d.r.

Jorge Queiroz Sociólogo. Membro da AGECAL

“ … a minha pátria é a língua portuguesa.” Bernardo Soares, heterónimo de Fernando Pessoa in “O livro do desassossego” A humanidade é só uma, irrefutável. Contudo sabemos que a evolução assentou nos processos adaptativos que permitiram a diversidade. Cada ser humano possui características comuns a outros, mas elementos únicos que definem o seu património genético, as especificidades do grupo familiar e individuais. Assim acontece também com as culturas. Território, ambiente, economia e cultura estão interligados e são interdependentes como centenas de cimeiras científicas mundiais o têm demonstrado.

Desta realidade resultou a noção de desenvolvimento sustentável. A protecção às culturas e idiomas da humanidade equivale na sua importância à defesa da biodiversidade, essenciais à qualidade de vida e à sobrevivência do planeta. Os Estados e comunidades têm encontrado nas convenções da UNESCO, sobretudo nas de 1972 (Património Mundial) e de 2003 (Património Cultural Imaterial), mecanismos legais e meios de defesa das suas heranças culturais. Sabemos pelo estudo da História que os processos de colonização sem-

pre procuraram substituir os idiomas, religiões e práticas culturais, pelo convencimento da maior valia e utilidade de culturas “superiores”, apostando na substituição de valores e “reeducação” de elites nacionais e locais. O português fez agora 800 anos. O testamento de Afonso II de 27 de Junho de 1214 é o mais antigo documento conhecido escrito em língua portuguesa. Como idioma autónomo evoluiu durante oito séculos, até se transformar por via da expansão de quinhentos na sexta língua do mundo, com 240 milhões falantes e língua oficial

de sete Estados independentes em quatro continentes O património cultural português está espalhado pelo mundo, expressões verbais, comportamentos, urbanismo, gastronomia, festividades, religiosidades, artes,.. A herança portuguesa está em muitos países reconhecida como Património da Humanidade pela UNESCO. A cultura, a língua e o potencial humano são as maiores riquezas deste País quase milenar. A desvalorização quotidiana da língua portuguesa está patente no uso de outra língua para títulos, marcas,

expressões, símbolos, festivais, programas e provas desportivas. As “modas” padronizadas de vestuário e alimentação e massiva presença da cultura de uma única origem, correspondem ao mesmo e antigo objectivo de domínio geocultural. A produção cinematográfica, teatral e musical portuguesa, italiana, espanhola, francesa, grega e de outras nações “deixou de existir” no espaço público ou está subordinada a critérios meramente mercantis ou audiência. Se as indústrias da globalização têm promovido a intensa aculturação dos mais novos, os orçamentos mínimos para as culturas nacionais são a expressão financeira da estratégia de dependência cultural intimamente ligada à debilitação económica dos países do Sul, que está a ser acompanhada da transferência compulsiva de recursos humanos qualificados dos países do sul para os promotores desta globalização de sentido único. Os recentes indicadores de saúde pública são elucidativos sobre as consequências da adopção de um modelo cultural - alimentar imitativo, as “doenças da civilização” estão já no topo. Pela primeira vez uma geração poderá ter uma esperança de vida menor que a anterior. Há que mudar de estrada…


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Cultura.Sul

ESPAÇO ALFA

Aqui há espectáculo

A ligação entre a fotografia e a poesia

Teatro Municipal de Faro Programação: www.teatromunicipaldefaro.pt

Destaque

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4 JUL | 9º ANIVERSÁRIO TEATRO DAS FIGURAS - ANTÓNIO ROSADO E OCS, música, 21.30 horas, 75 min. Cesário Costa assume a direcção e conta com o solista António Rosado para um concerto que inclui uma primeira parte com António Pinho Vargas, Quadros (de arte moderna) - Estreia Absoluta Absolute Premiere e Beethoven, Concerto para Piano N.º 4 em Sol maior, Op. 58, Piano

Concerto No. 4 in G major, Op. 58, I. Allegro moderato, II. Andante con moto, III. Rondo. Vivace e uma segunda parte onde se poderá escutar Schubert, Sinfonia Nº 5 em Si Bemol Maior, D. 485, I. Allegro, II. Andante con moto, III. Menuetto, IV. Allegro vivace.

Membro da ALFAL

Existe uma ligação muito íntima entre a fotografia e a poesia, ambas são formas distintas de captar e expressar sentimentos. A dimensão do olhar na poesia revela-se imagem. A imagem fotográfica destaca-se pela sua ação de flagrar o instante. Quando lemos um poema, tentamos imaginar pela descrição do mesmo, como seria aquele lugar, aquela pessoa, ou um pormenor qualquer evidenciado no poema. Entretanto, uma fotografia pode servir de inspiração para escrever um poema, segundo Clarice Lispector, “Fotografia é o retrato de um côncavo, de uma falta, de uma ausência”. A poesia seduz-nos facilmente para viajarmos nas palavras e a fotografia faz-nos reviver um turbilhão de sensações e sentimentos. A poesia tem como desafio transmitir através das pa-

11 JUL | ORFEU E EURÍDICE, dança, 21.30 horas, 60 min. fotos: d.r.

É nos trezentos anos sobre o nascimento de Christoph Willibald Gluck que a CNB encomenda a Olga Roriz um Orfeu e Eurídice, baseado naquela que foi uma das magistrais partituras do compositor alemão. Esta nova versão de Olga Roriz nasce a partir da mítica história do poeta/músico a quem foi dado a oportunidade de recuperar a sua amada dos infernos com a condição de nunca olhar para ela durante a viagem de regresso do Hades, condição que não cumpriu e que lhe fez perder para sempre o seu amor. Interpretação de Orfeu e Eurídice a cargo do elenco da Companhia Nacional de Bailado. 19 JUL | BELLYDANCE RENAISSANCE – HOSSAM & SERENA RAMZY, dança, 21 horas, 150 min., preço: 12 euros Um maravilhoso e encantador espectáculo de Música e Dança Oriental com os mundialmente reconhecidos artistas Hossam e Serena Ramzy. Este espetáculo contará ainda com a presença de bailarinas convidadas. Hossam é um artista de vasta experiência e é conhecido internacionalmente por produzir e criar arranjos musicais para Shakira, The Gipsy Kings, Robert Plant, Jimmy

Page, Andy Sheperd, Geoff Williams, entre muitos outros. Serena tornou-se das mais jovens bailarinas profissionais do Brasil com apenas 15 anos. Desde então, juntamente com Hossam, tem ensinado e feito espetáculos por todo o Mundo, apresentando um variado repertório que capta os olhares e o coração de todo o público.

TEMPO - Teatro Municipal de Portimão Programação: www.teatromunicipaldeportimao.pt

Destaque

Ana González

lavras uma imagem, e a fotografia tenta substituir mil palavras, por uma imagem. Atualmente, a fotografia e a poesia enfrentam grandes desafios: dar asas à imaginação, ter a capacidade de reter o olhar e despertar interesse no espectador, seja através de uma ação descrita num poema, ou da expressão que uma imagem pode transmitir. Por um lado, temos os amantes da fotografia, que tentam captar o melhor momento, ajustando as funções mais usuais na sua máquina fotográfica para obter o melhor enquadramento, uma iluminação perfeita, um bom contraste, entre outros pormenores. Numa outra situação, temos a preocupação de quem escreve, que implica num trabalho minucioso, principalmente na escolha das palavras, pois escrever um poema não é simplesmente agrupar palavras ao acaso, bem como fotografar, não é sinónimo de premir o botão para disparar e já está. Sendo assim, inspirem-se nesta estação cheia de cores para fotografar e ousem fotografar com alma, e não simplesmente fazer disparos. O resultado pode ser surpreendente e motivador, com tons de poesia.

Destaque

Destaque

5 JUL | 9º ANIVERSÁRIO TEATRO DAS FIGURAS - BATIDA, música e vídeo, 21.30 horas, 60 min.

11 JUL | MUSICA MUNDI: GATO MALVADO CONVIDA INÊS SANTOS, música, 21.30 horas, 60 min., preço 6 euros A Academia de Música de Lagos propõe a revisitação a uma das maiores bandeiras culturais de Portugal no Mundo: o Fado. Em 2010, João Rocha (trompete) e Vasco Ramalho (percussão) resolveram criar um novo projecto musical transdisciplinar. Da música portuguesa fez-se a ponte para a música do mundo (world music), e da vontade comum criou-se um novo fado. Endereçaram o convite a Tiago Sequeira (piano), e mais tarde a Pedro Frias (guitarra), Bruno Vítor (contrabaixo) e José Alegre (guitarra portuguesa), nascendo assim o Gato Malvado Ensemble. Do “Gato” vêm as 7 vidas e as 7 notas, do “Malvado”, uma clave de irreverência artística. O canto está a cargo de Inês Santos.


Cultura.Sul

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Panorâmica

A luta por dar um espaço à música ricardo claro

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À beira de um quarto de século a Associação Recreativa e Cultural de Músicos mantém a mesma vontade férrea de sempre. Aquela que os leva há já 24 anos a lutar diariamente para dar aos músicos farenses e da região um espaço para que possam criar, ensaiar, gravar, apresentar e dar a conhecer a sua arte. São 24 anos a dar espaço à música, a fomentar uma das artes mais marcantes do espectro artístico e a criar condições para que artistas de todas as idades, tendências musicais e experiência possam dar asas à inspiração. Berço de bandas tão diferentes entre si como os Confrontate, os Bunny & The Gang ou os Satarize, os Harum, os Fora da Bóia ou os Fundos Perdidos, fizeram e fazem da Associação Recreativa e Cultural de Músicos a sua casa mãe. Ali desenvolvem o seu trabalho Sonia Litle B Cabrita, Tércio Nanook ou os Mofo, como o fazem e fizeram os Dirty, os Banda Noia ou mesmo Zé Eduardo, um dos nomes incontornáveis do Jazz nacional. Armindo Silva, que o Cultura. Sul entrevistou, deu vida à Asso-

ciação Recreativa e Cultural de Músicos a par de Carlos Baião e Celso Pedro. Podia esperar-se que Armindo Silva fosse músico, tal a dedicação de tantos anos à arte dos fazedores de melodias, mas não. Apenas e só melómano e não é de somenos, porque o gosto pela música fê-lo em certa medida pai de uma larguíssima fatia da música que se produz por terras algarvias e muito em particular em Faro. Uma casa para a música A grande batalha da Associação Recreativa e Cultural de Músicos sempre foi, e é, a de arranjar uma sede definitiva onde possa desenvolver o seu trabalho. Um trabalho cujo merecimento está para lá de qualquer questão ou dúvida e cujos frutos estão espalhados por milhares de horas de música produzidos por largas dezenas de bandas que em 24 anos fizeram da associação a sua pedra angular. Mas o objectivo maior da Associação Recreativa e Cultural de Músicos tem sempre sido marcado pelos percalços.

Armindo Silva, um dos responsáveis pela Associação Recreativa e Cultural de Músicos Do Alto Rodes onde nasceu num armazém, passando pelo Bom João, ambos na cidade de Faro, e por Bordeira, a Associação Recreativa e Cultural de Músicos só há 11 anos atrás conseguiria o seu primeiro espaço mais definitivo, ou pelo menos assim acreditaram os dirigentes da associação. Na moagem junto à estação de comboios de Faro encontraram pouso por 11 anos e ali fizeram, como sempre, de raiz instalações capazes de acolher os músicos e as suas actividades. Foram 11 anos de trabalho ininterrupto, de criação, de concertos, de muita música, mas também de muito teatro e dança e de eventos das mais variadas correntes artísticas. Ali teve espaço a arte como a solidariedade, o convívio como a divulgação cultural e ali se acolheram largos milhares de seguidores do trabalho de uma das mais activas forças do associativismo farense. Uma nova sede Após um processo judicial de despejo que fez correr mares de

“GATO MALVADO CONVIDA INÊS SANTOS” 19 JUL | 21.30 | Centro Cultural de Lagos A Academia de Música de Lagos propõe a revisitação a uma das maiores bandeiras culturais de Portugal no Mundo: o Fado

tinta nos jornais e que foi amplamente acompanhado pela imprensa, que reconheceu à Associação Recreativa e Cultural de Músicos o mérito de um trabalho que não podia, uma vez mais ficar desalojado, eis que a associação se faz de novo à aventura de reconstruir um lar. Desta feita, já com um terreno garantido durante o mandato de Macário Correia na autarquia mas longe de poder ali construir uma sede nova dadas as contingências financeiras - à Associação Recreativa e Cultural de Músicos foi entregue parte das instalações da antiga Fábrica da Cerveja na cidade velha de Faro. Recomeçar do zero novamente é a palavra de ordem e Armindo Silva não se faz rogado. “Sempre conseguimos crescer com as dificuldades e em cada uma das sedes que tivemos de construir e esta não será diferente”, diz, acrescentando que “desta vez será provavelmente a última antes da sede definitiva para a qual estamos a gerar e a guardar todos os fundos que podemos”. A velha e degradada Fábrica da Cerveja e os seus vãos imensos

passam aos poucos de decrépitos para uma nova face, pintada, arranjada e reinventada à medida das necessidades dos muitos artistas que ali verão crescer a sua arte e darão corpo à vontade da mãe de todas as excelências, a inspiração. Já a funcionar a meio gás - a inauguração decorrerá dia 26 de Julho - a nova sede da Associação Recreativa e Cultural de Músicos terá dez salas de ensaio, duas salas de concertos - Caracol e Morcego - além de uma sala multi-usos, um estúdio de gravação, áreas de arrumos e um escritório. As instalações acolhem ainda espaços, no mínimo sui generis, para mais duas bandas, respectivamente na antiga câmara frigorifica que recebe o som Metal no interior de grossas paredes capazes de fazer travar o mais ruidoso arranque sonoro deste género musical e num antigo paiol de munições da época em que o espaço acolheu instalações do exército, que foi o espaço escolhido por uma banda que também ali dá os primeiros passos. É do trabalho, do génio e do esforço de todos os utilizadores

das instalações da Associação Recreativa e Cultural de Músicos que nasce o novo espaço da associação, recuperado, usando muito material reciclado, imensa dedicação de todos e mesmo fardos de palha, capazes de insonorizar a baixo custo os desmandos do génio criativo dos artistas. Também na construção os artistas se dão e só da arte poderia sair a vontade férrea de continuar a fazer renascer, verdadeiramente a recriar, a Associação Recreativa e Cultural de Músicos. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena e são os sócios que corporizam a imensa força da associação. Qual fénix renascida das cinzas, a Associação Recreativa e Cultural de Músicos está de volta já no final deste mês ao seu público, aos seus músicos e à sua arte. Uma vez mais provando que do pouco se faz muito e se agiganta a alma de quem ama incondicionalmente a música, dando a Faro e a todos nós, razões de sobra para um orgulho sereno naquilo que por cá se vai fazendo. Ricardo Claro

“RETROSPECTIVA” Até 31 de JUL | Paços do Concelho de Albufeira Desde cedo Lino Gonçalves revela apetência para as artes. Autodidacta, explorou áreas como o desenho, pintura, escultura, artes gráficas e cenografia, no entanto a sua preferência vai para a pintura a óleo


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Cultura.Sul

Letras e Leituras

Carlos Ruiz Zafón - Mistério e horror compulsivo fotos: d.r.

Paulo Serra

Investigador da UAlg associado ao CLEPUL

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A Sombra do Vento, publicado em 2001, foi o primeiro romance de Carlos Ruiz Zafón a ser traduzido entre nós, tendo-se tornado num êxito de vendas. O autor nasceu em Barcelona, em 1964, e tornou-se num dos autores mais lidos em todo o mundo, traduzido em mais de quarenta línguas. A história começa de forma envolvente, situada na cidade de Barcelona, no ano de 1945, num ambiente de cinza, como o próprio título evoca, ou não estivesse o país a reemergir dos horrores da guerra civil. Acompanhamos o percurso de um rapazinho, Daniel Sempere, ainda a sofrer com a perda da mãe, e que quando faz o seu décimo aniversário recebe um presente que determinará toda a sua vida. Filho de um livreiro, Daniel é levado pelo pai a um sítio especial que poucos conhecem, o Cemitério dos Livros Esquecidos. Neste espaço dissimulado entre tantos outros edifícios e guardado por um porteiro sem idade, Daniel percorre uma biblioteca labiríntica onde estão todos os livros outrora publicados e que se encontram agora esquecidos. Nesse ambiente de pós-guerra, e considerando as pilhas de livros queimados pelo regime nazi na Segunda Guerra, não deixa de ser pertinente que a missão de Daniel seja escolher um livro, livro esse que tal como seu autor, foi tragado pelo esquecimento, tendo-se tornado perfeitamente desconhecido com o tempo. O papel de Daniel é zelar por esse mesmo livro que escolheu e que doravante lhe é confiado, sendo que é ao ler esse mesmo livro que Daniel lhe pode insuflar nova vida, como todos nós leitores. Sem querer fugir ao assunto em mãos, podiam tecer-se inúmeras considerações em torno desta trama, como, por exemplo, deixar-nos a imaginar qual o tamanho real de uma biblioteca que pudesse albergar todos os livros escritos ao longo da história da humanidade. Ou até mesmo a extensão de um corredor onde pudessem estar perfilados nas estantes todos os livros que fomos lendo ao longo de

O escritor Carlos Ruiz Zafón uma vida. E quantos deles ficaram irrevogavelmente esquecidos, ou pelo menos com certos pormenores desbotados, como um retrato a sépia, pois a nossa memória tem limites, da mesma forma que cada vez mais haverá livros a serem irremediavelmente relegados para o esquecimento, enquanto nos debatemos com dezenas (ou mesmo mais) de novidades literárias que todos os meses chegam aos escaparates das livrarias. Daniel Sempere, dizíamos, escolhe um pequeno livro justamente intitulado A Sombra do Vento, de um autor espanhol chamado Julián Carax. Essa escolha traçará toda a sua vida a partir desse momento, não só pela história que irá

descobrir nas páginas do livro, e que o fará remontar a acontecimentos ocorridos duas décadas antes, como pela obsessiva busca e procura de sentido quanto ao que terá acontecido a esse “obscuro” Julián Carax. Daniel será absorvido pelo mistério desse autor que foi supostamente morto em Barcelona, logo no início da guerra civil, e cujas obras desapareceram por completo da face da terra, a não ser pelo livro que ele resgatou do Cemitério, talvez o único que se salvou de ter sido queimado como todos os outros por uma estranha personagem, que se faz passar por Carax, e terá adquirido todos os exemplares do romance que pôde para

O primeiro romance do autor a ser traduzido em português “É REVISTA, COM CERTEZA!” 12 JUL | 21.30 | Centro Cultural de Lagos Espectáculo com um olhar franco e humorístico sobre a revista pela mão de um elenco jovem de ambição e excelência, que conta com a presença de Marisa Carvalho, Flávio Gil, Raquel Caneca e Renato Pino liderados pela consagrada Vera Mónica e Hugo Rendas

os queimar. O jovem Daniel deixa de viver a sua própria vida, enquanto tenta reconstruir o quebra-cabeças da vida do autor, juntando episódios que lhe são relatados por diversas pessoas que terão feito parte da vida de Julián Carax. Mas é ao reconstruir a vida de Carax, que Sempere consegue também criar a sua própria identidade, e, naturalmente, apaixonar-se. Uma personagem inesquecível, pelo seu carácter cómico, é Fermín, um funcionário da livraria do pai de Daniel, que esconde um passado enquanto agente republicano, depois perseguido e torturado, e reduzido à mendicidade. Fermín tem qualquer coisa de Sancho Pança, na forma como ajuda Daniel e como disserta acerca da vida, do amor e das mulheres, sendo tão especial ao ponto de regressar como o protagonista de O Prisioneiro do Céu. Infelizmente, em A Sombra do Vento, bem como em quase todas as obras de Zafón, um início arrebatador, original e envolvente parece depois resvalar numa série de lugares comuns - O Prisioneiro do Céu, com a sua história de vingança, afigura-se bastante a uma recriação de O Conde de Monte Cristo. Com O Jogo do Anjo, segundo livro do autor a ser publicado, em 2008, regressamos ao universo de «O Cemitério dos Livros Esquecidos», constituindo-se assim um tríptico, embora o ambiente seja bastante mais negro, como compete aliás, para se recontar de forma eficaz a história de um autor, David Martín, que parece vender a alma ao Diabo (clara alusão ao mito

de Fausto) quando aceita uma lucrativa comissão de um misterioso editor parisiense, que representa as Éditions de la Lumière. Logo no parágrafo de abertura deste romance, David Martín constata como todo o escritor incorre numa espiral descendente a partir do momento em que recebe algum pagamento pelo seu trabalho ou algum elogio ou aclamação da crítica: desse momento em diante, o autor está condenado e a sua alma tem um preço... Como tende a ser hábito, partiu-se dos últimos livros para a tradução dos anteriores livros do autor. O autor iniciou a sua carreira literária em 1993 com O Príncipe da Neblina, O Palácio da Meia-Noite, As Luzes de Setembro e Marina. A tradução destes romances tem seguido o ritmo de um livro por ano, sendo que, em Espanha, os primeiros três livros foram publicados num volume conjunto, pois têm em comum o facto de serem thrillers “antiquados” (remontam à primeira metade do séc. XX) e imbuídos de uma aura de sobrenatural e horror. Marina foi o primeiro romance a ser traduzido e embora não seja considerado como parte integrante dessa trilogia (cujas histórias são, aliás, completamente independentes) é um romance que facilmente se enquadraria na mesma. São livros que se poderiam dizer de formação do autor, além de serem romances juvenis, até porque na sua escrita, nomeadamente nos livros da chamada Trilogia, o ambiente é mais cinematográfico do que literário, como o próprio autor salvaguarda na sua nota introdutória. As Luzes de Setembro acabou de ser publicado e é de leitura compulsiva, narrando um episódio que afetará a vida de uma família empobrecida e convidada a viver numa gigantesca mansão de um fabricante de brinquedos e autómatos (motivos que ressurgem em Marina). Uma leitura ideal para as férias de verão, mesmo quando se arrasta um pouco. É inegável que os livros de Zafón se leem de um fôlego mas a sensação de promessa com que muitas vezes começamos acaba por se desvanecer. Nuno Júdice ressalva, no seu livro ABC da Crítica, a discussão que se tem gerado em torno de autores como Zafón cuja obra será «extraordinária» e deveria entrar no «cânone da literatura actual». Por fim, cita Germán Gullón que afirma estar perfeitamente de acordo com essa opinião generalizada e remata: «Acontece ser uma excelente obra que merece entrar no cânone da literatura de entretenimento.».

“SINGULARIDADES DO BRANCO” Até 2 AGO | Galeria de Arte do Convento Espírito Santo - Loulé Exposição de pintura de João Moniz, que já mostrou as suas obras em alguns dos mais importantes espaços do país, bem como em vários pontos do globo como França, Macau, Hong Kong ou Luxemburgo


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Momento

Mundialzinho Foto de VĂ­tor Correia pub

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Espaço ao Património

O que é o Património? A vez e a voz dos alunos A secção Património do Cultura.Sul já leva quase quatro anos, desde que em Janeiro de 2013 se inaugurou este espaço dedicado ao legado patrimonial regional. Pela mão incansável de Isabel Soares, coordenadora da secção, passaram pelas páginas da secção dezenas de ilustres convidados que emprestaram ao Cultura.Sul o seu saber e arte. Desde a primeira série ‘Museus - a vez e a voz do visitante’, passando pelos textos dedicados à temática escolhida para a segunda série ‘O Património Cultural Imaterial no Algarve’ até ao publicado na terceira e última série ‘Espaço ao Património’, onde tiveram lugar as temáticas ligadas ao património edificado, sítios arqueológicos e à arqueologia no Algarve, a todos os autores temos de agradecer, o Cultura.Sul e os leitores. Enceta-se agora uma nova etapa e a secção vai acolher textos dedicados ao tema ‘O que é o Património? A vez e a voz dos alunos’, mais próxima da realidade educativa e da necessidade de também nesse campo o património regional marcar presença. Nova pujança para a secção liderada por Isabel Soares, prestando aquilo que é para o Cultura.Sul e para os que nele escrevem verdadeiro serviço público.

Isabel Soares

Coordenadora da secção “Espaço Património”

Não são visitantes de primeira viagem. Nos primeiros

quatro anos de estudantes já palmilharam alguns espaços culturais e museus, nomeadamente os Monumentos Megalíticos de Alcalar e o Museu de Portimão. Falamos do 4º J da Escola EB1 Major David Neto de Portimão. Felizmente, as visitas a estes “lugares de memória” continuam a ser “obrigatórias” para quem estuda no Algarve. Já passaram quase quarenta anos e ainda

4º J da Escola EB1 Major David Neto de Portimão me recordo do alvoroço e da manifestação de alegria no momento em que entrei, pela primeira vez, num museu: o de Lagos. Hoje, com a certeza de que não lhes causarei a magia e o espanto que me foram provocados naquele museu, pelos bizarros animais de oito patas, três olhos, duas cabeças, e pelos milhares de coisas expostas

e explicadas, entro na sala de aula e a “viagem” começa, esperando não maçá-los, com a partilha das minhas vivências, questões e explicações. Trata-se, portanto, de uma conversa amigável sobre o que é o património cultural, o que são as nossas memórias, e como se forma a nossa identidade. Apresento-me, dizendo que sou arqueóloga e que trago

uma sacola carregada de memórias minhas, do meu tempo, e de outras pessoas, de outros tempos. Contado assim, tudo pode parecer ter-se dado por acaso, mas não. De facto, a minha presença e a da sacola foram planeadas, e rapidamente provocam na turma o desassossego e o desejo de verem e aprenderem as “coisas do anti-

gamente”. Não é dia de repreensões, nem de proibições. «Toca a mexer! Podem observar, sentir e experimentar». Da sacola, saem réplicas de lucernas e candeias, candeeiros a petróleo, ardósias, máquinas, rolos e películas fotográficas, cassetes, disquetes, piões, moedas (escudos), entre outros objetos que despertam o imaginário destas crianças. Com

Sala de leitura

Em busca do silêncio perdido Paulo Pires

Programador cultural no Município de Silves esteoficiodepoeta@gmail.com

In memoriam: Bernardo Sassetti Há homens que buscam (a musicalidade d’)o silêncio e fazem tudo por uma boa imagem. A linguagem musical transmite o que, apesar de não traduzível em palavras, não pode permanecer em silêncio (escreveu Victor

Hugo), mas Bernardo Sassetti [Bernardo Sassetti] (1970-2012) convocaria decerto para esta reflexão o pensamento de Aldous Huxley: depois do silêncio, o que mais se aproxima de transmitir o inexprimível é a música. Bernardo Sassetti sabia bem que o silêncio e o segredo podem ser plenos de verdade, virtude, sabedoria, liberdade, pensamento e espírito, e que nessa confissão não confessada, tantas vezes solitária, sem fronteiras ou limites (que faz do longe perto), desfila uma cativante, surpreendente e (não poucas vezes) insondável gramática do mundo.

O poder onírico e lirismo das imagens (o sonho dentro do sonho, segundo Allan Poe) e a função heróica, reveladora ou enlouquecedora das cores (todas) – na linha de Michael Mann, um dos cineastas predilectos do pianista –, aliados a essa mudez/ recolhimento de oiro, são motivos centrais na obra de Bernardo Sassetti. Cruzando pintura/imagem e música, Kandinsky equiparava a cor à tecla, o olho ao martelo e a alma a um piano de inúmeras cordas. Curiosamente, Bernardo Sassetti costumava dizer: “A forma como tiro uma fotogra-

fia tem muito a ver com a forma como me atiro ao piano. É difícil explicar... A fazer fotografia oiço música, a fazer música vejo sempre imagens”. Fascinava-o a tentativa constante e desafiadora de compreensão do poder de sedução das imagens, sobretudo daquilo que os outros consideravam secundário, menos objectivo nelas: uma certa estranheza, mistério... A memória traz-me de volta algumas performances ao vivo de Bernardo Sassetti: para além da singular sensibilidade e respeito pela música e pelo piano (uma espécie de prolongamento

espiritual do seu corpo), sobressaía nele a simplicidade, humildade, sinceridade (aquela rara “verdade natural”), discrição e uma genuína gentileza, feitas de uma certa timidez infantil e de um ar ternamente desajeitado/ inadaptado quando confrontado com a necessidade de falar em público. Movia-o uma constante procura interior, uma busca dos sons e de uma representação que tivessem a ver com a sua vida, através de uma espécie de meditação silenciosamente musical em que procurava contar uma história através do

piano. Considerava o improviso algo tão espontâneo e verdadeiro que, segundo ele, talvez fosse um dos grandes exemplos de humanidade na música. Gostava de morar numa terra de ninguém, sem ser rotulado com um “J” de jazz estampado na testa, e havia pessoas que o abordavam na rua e diziam: “O seu disco é interessante, mas no próximo talvez pudesse pôr um pouco mais de melodia”. Admirava Carlos Barretto (contrabaixo) e Alexandre Frazão (bateria) pela inspiração e telepatia que os unia, pela cumplicidade, pela “comunicação


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fotos: d.r.

o escuro da noite, que principiaram com uma simples fogueira, lucerna ou candeia, passando pelo candeeiro a petróleo, e termino com um simples toque no interruptor da sala, que fez acender a lâmpada. Desta forma, percebem que as coisas se transformam e são espelho de saberes e técnicas de cada geração. Depois da sacola vazia, voltamos a “enchê-la”, desta vez, com as suas opiniões. E o que é, para os alunos, o património?

um olhar curioso, surgem as primeiras perguntas e histórias. Todos dizem tratarem-se de coisas muito antigas, dos pré-históricos, dos romanos e dos árabes, e outras do tempos dos avós ou dos bisavôs. Ao conhecerem e mexerem em cada objeto, percebem que, em cada época, as pessoas foram usando diferentes técnicas e instrumentos. Conto as diversas formas de alumiar

«Património é tudo o que os antigos deixaram, como os castelos e as igrejas, ou as ruínas muito antigas». Quanto aos objetos, aos saberes e às tradições dos seus avós e bisavós, referem que «Esses saberes, objetos e histórias são coisas menos antigas». Contam ainda que «Existem muitos museus, em quase todos os sítios, que guardam coisas muito diferentes e importantes do passado, que nos ensinam como as pessoas viviam antigamente”. No entanto, no desenrolar da conversa, as opiniões foram-se completando. Agora, entendem que o que integra o património não são só castelos e fortalezas, mas também saberes, tradições e memórias. E assim, património acabou por ser descrito como «O conjunto de todos os monumentos, profissões antigas, objetos, lendas, histórias, saberes, música, fotografias, língua, trajes,

absoluta no momento”, como gostava de dizer. E fazia-lhe muita confusão aqueles músicos que passavam dias a fio em estúdio a gravar tudo em separado. Para Bernardo Sassetti o jazz era um “gajo estranho” e, como tal, “tem que ser mais vivo, tem que ser naquele momento e de preferência vivendo da frescura de um primeiro take. Aconteça o que acontecer. Se for muito mau repete-se, mas o gozo é a procura no estúdio. É outra filosofia, nem precisamos de falar”. Além de fonte de prazer, a arte musical também era para si um sofrimento, um conflito

entre aquilo que gostava de fazer e aquilo que não conseguia fazer no momento. Assumia que a música era antes de mais para quem a fazia e que começava sempre por ser um gesto algo egoísta (“não há outra forma de ser verdadeiro”), daí fazer discos e tomar opções artísticas sem demasiada preocupação com a opinião dos outros. Bernardo Sassetti não gostava que ouvissem os seus discos no rádio do carro, porque perdia-se a noção do detalhe, a intencionalidade do intérprete, e criticava a forma como a música é misturada por produtores/editores, no

tradições, e também lugares de memória»; «Existe património que podemos sentir, cheirar e mexer, e outro que não é palpável, como os cantares, as lendas e os saberes antigos sobre as profissões e atividades que já não existem»; «Cada história e saber dos nossos bisavôs são também património, bem como as memórias e testemunhos que chegam aos nossos dias»; «Nós temos coisas que nos identificam e são diferentes das dos outros

povos: as nossas tradições, os nossos costumes, a nossa música, como por exemplo o fado, que é património do mundo». Por fim, e segundo estes alunos, património é «tudo aquilo que somos e fomos». Não é por acaso que pintam igrejas antigas, ferramentas dos pré-históricos, objetos e brinquedos dos seus avós, assim como retratam museus de temas diferentes. Na despedida, os alunos

agradecem e partilham as suas experiências e, tal como lhes ensinei e mostrei, também me ensinam a utilizar os mais recentes brinquedos: beyblades, playstations, vídeo – games, computadores, tablets. O tempo das crianças de joelhos no chão a jogarem ao berlinde está a acabar e, sem dúvida, as opções tecnológicas levam-nos a ficar dentro de casa, já quase não brincando na rua. Os brinque-

dos passaram a ser outros e eu, forçosamente, penso que o tempo para mim também passou... Eles, por sua vez, entendem que, daqui a alguns anos, as suas histórias e experiências, ou mesmo os seus jogos e brinquedos “tecnológicos”, serão tão antigos como as minhas cassetes ou disquetes, que farão igualmente parte da sacola das memórias.

Desenhos feitos pelos alunos para retratar o património

d.r.

Bernardo Sassetti pico do volume, perdendo dinâmica, pormenor, qualidade:

“Está tudo altíssimo e estamos todos a ficar surdos. Acredito

que 90% do mundo ouve música de forma errada e não é por culpa sua. É apenas porque não conhecem outro som, outra forma de ouvir”. E usava como exemplo o seu trabalho Um Amor de Perdição (2009), ao qual se dedicou mais de um mês para chegar a uma sonoridade que muitos acharam depois baixa: “Mas é assim que deve ser ouvido para se ouvir o que se quis lá pôr para ser ouvido”. Em 2011 Bernardo Sassetti e a actriz Beatriz Batarda (sua esposa), revisitaram, em palco, a obra A Menina do Mar, de Sophia de Mello Breyner Andre-

sen. Nessa história há um menino que sonha em conhecer o fundo do mar e que, depois de muitas aventuras, consegue realizar esse desejo com uma menina que era dançarina das ondas. Deixem-me acreditar que o golfinho (do conto de Sophia) amparou o “mergulho” de Bernardo Sassetti no Guincho e o levou até uma recôndita “praia extasiada e nua”, onde ele pôde (re)encontrar o “grande vento límpido do mar” (versos de Sophia) e um piano solitário que uma menina do mar enfeitou com corais e búzios.


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Cultura.Sul

O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N

Julho

Pedro Jubilot

pedromalves2014@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt

Postais da Costa Sul fotos: d.r.

noto não se sabe o ourives, que colhe cuidadosamente apetrechado dos devidos utensílios, a película finíssima dos preciosos cristais (de sal) à superfície da água antes de passarem a ser o vulgar sal marinho tradicional que é colhido à mão com ajuda de instrumentos de madeira. Os salineiros trabalham numa relação com as marés, o sol e o vento, para os chefes de cozinha puderem usar os pequenos cristais quebradiços que contendo oligoelementos e micronutrientes mantêm o sabor e a humidade do mar. Josef Koudelka (Morávia,1938), o fotógrafo da agência Magnum que fotografou a ‘Primavera de Praga’ também não sabia nada disto até ter visitado o sotavento e ter levado na sua câmara as salinas à beira da ria formosa.

Sophia Mello Breyner Andresen

14ª Mostra de Cinema Europeu

É à sua vivência na cidade de Lagos que irá buscar a luminosidade necessária, para aí com o silêncio e o tempo que se consegue junto à costa algarvia, concretizar versos que seguiriam directamente para a eternidade da poesia: «Lagos onde reenventei o mundo num verão ido /Lagos onde encontrei /Uma nova forma do visível sem memória /Clara como a cal concreta como a cal /Lagos onde aprendi a viver rente / Ao instante mais nítido e recente», e «Na luz de Lagos matinal e aberta /Na praça quadrada tão concisa e grega /Na brancura da cal tão veemente e directa /O meu país se invoca e se projecta». (3) Os verões de Lagos tornam-se parte integrante e fundamental da arte poética de Sophia, encontrando nos elementos desse mundo que a rodeia – a beleza, o equilíbrio e a harmonia espiritual. Sophia de Mello Breyner Andresen faleceu há 10 anos, em Julho de 2004, em Lisboa, também ao pé do mar, mas não para sempre, pois testamentaria: «Quando eu morrer voltarei para buscar /Os instantes que não vivi junto do mar».

~ a praia. é o pedaço de mundo por excelência que foi inventado para as crianças. e que nós tomamos de assalto em cada verão, para ver se ainda conseguimos trazer à memória esse tempo de quando éramos reis. o mar, quente ou frio, é ainda e sempre do seu domínio. para isso elas constroem castelos e fortalezas à beira-mar, num árduo trabalho de carregar baldes de água e areia. a tarefa é sempre recompensada a bolas de berlim ou gelados ~

Josef Koudelk

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A época da safra tem início em Março, quando são preparadas as salinas, decorrendo depois a extracção do sal durante os meses de Verão. Nenhum marnoto percebe que é jardineiro das salinas, até ao coalho passar a flor de sal. O mar-

Chega-se a um enorme largo de igreja (do carmo - Tavira). À direita um pequeno portão de ferro abre-se a um chão de terra, e logo depois à esquerda a alta porta de madeira que dá acesso aos claustros (convento do carmo) de um paraíso de cinema. Pode-se tomar café e começar a sonhar apenas de admirar os grandes cartazes de fitas mágicas… O projeccionista (andré viane), essa espécie em vias de extinção, entra na cabine. A película vai rolar. Começa a sessão. O tempo vai parar por alguns minutos. Ver um filme num grande ecrã ao ar livre, alarga os horizontes da visão e liberta o céu da imaginação (de 11 a 21 de Julho-21h30).

“CONCERTO COM ANTÓNIO ROSADO” 4 JUL | 21.30 | Teatro das Figuras - Faro A Orquestra Clássica do Sul e o consagrado pianista António Rosado vão interpretar um programa composto por obras de Beethoven, de Schubert e pela estreia absoluta de uma peça de António Pinho Vargas, sob direcção do maestro Cesário Costa

Al Gharb Há um homem que anda a fotografar… a vida a sul. A sua/nossa vida na vida dele. E a paisagem, a ruína, a tradição, a modernidade, a natureza viva ou morta, a arquitectura, e todo o mais que se possa descobrir entre o céu e o mar daqui. Uma obra sem igual, um arquivo ímpar, uma colecção de temas algarvios. Há um homem – Filipe da Palma - que anda a libertar a imagem de um Algarve . Se vão visitar o Algarve têm de passar pela sua página facebook: AL Gharb (Al Gharb). E talvez passem por ele, num dos seus périplos.

Estofo de Maré sei que temos duas vidas. esta de agora em que olhamos para as coisas. e outra que já ficou para trás, essa só guardada na memória de quem a viu quando nós ainda não conseguíamos guardar a nossa própria memória. só os pais sabem tudo sobre nós. o que fomos e fizemos do tempo no tempo em que a nossa memória não estava activa. eles guardaram esse bocado remetido à nossa infância, que perdemos quando eles perdem também o seu registo de memória. assim nos tornamos adultos. esse estado de calamidade iminente.

António José Ventura (A cidade das palavras, 1994) Havia o mar ou talvez apenas uma árvore lodo, areia, ilhas na paisagem uma costa de ânforas e navegação rara. Povoámos o litoral com movimentos de lábios. Da cidade como paraíso guardo a memória de um jardim uma palmeira num quintal casas brancas de linhas definidas chaminés de fábricas o mar ao fundo como num quadro o correio do sul e um álbum com fotografias.

“QUEM MAIS GAMOU… MELHOR FICOU” 5 e 6 de JUL | 21.30 e 15.30 | Centro Cultural de Vila do Bispo A actualidade política e social do país e do mundo, bem como o quotidiano de Vila do Bispo, dão o mote a esta revista à portuguesa apresentada pelo Grupo de Teatro do Boa Esperança Atlético Clube Portimonense


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Da minha biblioteca

Contos Municipais - António Manuel Venda d.r.

Adriana Nogueira

Classicista Professora da Univ. do Algarve adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com

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Aguardo sempre com alguma expectativa quando António Manuel Venda publica uma nova obra, desde que li o seu primeiro livro, em 1996, Quando o Presidente da República visitou Monchique por mera curiosidade. Ao longo dos anos, fui acompanhando o seu percurso literário, até que, em maio deste ano, saiu o último, intitulado Contos Municipais, editado pela Just Media. Desengane-se quem achava que uma câmara municipal não dava um divertido passatempo. Principalmente com um presidente dependente de whiskey e sempre a praguejar; com um vereador a querer estabelecer uma ligação umbilical com uma cidade imaginária do Brasil (em vez de uma simples geminação), para poder estar perto da namorada; com um partido da oposição que elege o Diabo como vereador; ou com uma secretária que passa a ferro a correspondência que o presidente amachuca… Neste novo livro, António Manuel Venda situa os acontecimentos numa edilidade na serra, nunca nomeada. Sabendo nós que o autor é de Monchique, podemos deduzir que pode ter sido a sua fonte de inspiração, mas deste modo torna-se mais ambíguo, mais universal, e pode-se aplicar a muitas outras terras por esse país fora. O mesmo se passa com os nomes: exceto a bruxa (Maria Cadela) e os diabos (Diabo e Diaba), ninguém ali tem nome próprio, mas são todos conhecidos

António Manuel Venda é natural de Monchique

pela profissão que exercem: o especialista, o funcionário, o vereador, o guarda, etc. O título diz-nos que se trata de um livro de contos, mas, na verdade, os dez casos ali narrados mais parecem capítulos de uma novela, pois entreligam-se entre si, não só pelas personagens que se repetem de história para história (o presidente da câmara, protagonista ou personagem secundária, aparece quase sempre), como pelas referências que são feitas e que remetem de uns para outros. Por exemplo, no último conto, «Com a cruz às costas», quando o presidente matuta no aproveitamento político que se pode fazer de um aparente milagre, discorre, ao mesmo tempo: «O milagre tinha

mesmo pegado. Não tinha sido como o dos diospiros, que estava rapidamente a cair no esquecimento», remetendo o leitor para a história das «Duas nuvens furiosas em pleno Verão». Bruxas e bruxedos, diabos e diabruras António Manuel Venda gosta de (e consegue) construir ambientes normais, com gente comum, nos quais circulam seres estranhos, que todos encaram com naturalidade, sem se surpreenderem, como se não vissem o impossível da situação, o que leva a que frequentemente o considerem um cultor do realismo mágico.

“BAILADO ORFEU E EURÍDICE” 11 JUL | 21.30 | Teatro das Figuras - Faro É nos trezentos anos sobre o nascimento de Christoph Willibald Gluck que a Companhia Nacional de Bailado encomenda a Olga Roriz um Orfeu e Eurídice, baseado naquela que foi uma das magistrais partituras do compositor alemão

E não deixa igualmente de ser assim neste livro: há um inspetor-geral de uma «instituição de fiscalização da capital» que, tendo ido para aquela terra inspecionar as atividades da câmara, adoece e começa a inchar de tal maneira que, querendo transferi-lo para o hospital distrital, «não conseguem retirá-lo do quarto, nem pela porta nem pela janela. (…) Passados dois dias, acabaram por tomar a decisão de partir a parede, inclusive com a anuência do gerente do hotel» (p. 68). Na lista de personagens fantásticas, está um presidente de uma junta de freguesia que é um ouriço-caixeiro. Literalmente. Um bicho cheio de espinhos, dentro de uma gaiola, tapada com serapilheira. Há um vereador que se chama (e parece mesmo que é)

Diabo: «um indivíduo baixo e gordo, de fato preto, camisa preta e gravata vermelha» (p.30), que amolece o plástico da cadeira onde se senta. Há uma bruxa que faz bruxedos por encomenda e, quando não lhe pagam os serviços, fá-los por conta própria… enfim, uma panóplia de figuras e de situações que nos são mostradas como normalíssimas, apresentadas com a habilidade e a graça que reconhecemos em António Manuela Venda. Os males autárquicos Mas não só de realismo mágico é feito o livro. Há realismo muito pouco mágico, disfarçado com uma capa de humor. Para quem nunca esteve ligada a uma estrutura partidária nem fez parte de órgãos autárquicos, como é o

meu caso, vai encontrar algumas referências aos males que comummente se ouve dizer que as câmaras sofrem (e que, acredito, não se aplica a todas. Aliás, espero mesmo que não se aplique à sua maioria): que praticam um despesismo sem sentido (o presidente manda comprar dois elevadores, mas só manda montar um deles, deixando o outro fechado, bem acondicionado, pronto a ser instalado e utilizado); que há corrupção, roubos e negócios pouco lícitos; que há envolvimento entre secretárias e chefes; que há excesso de bebida; que há desinteresse pelos munícipes, exceto durante as campanhas eleitorais... Mas que não se pense que estamos apenas perante um rol de queixas. Antes pelo contrário. É muito mais do que isso. Por exemplo, ao invés de nos contar com pormenores e explicitamente que existe um relacionamento entre o presidente da câmara e aquela que nos é apresentada, logo no início, como «secretária/ assessora/ conselheira/ confidente» (p. 20), é com ironia, e de uma forma indireta, que o vamos desvendando, como se pode inferir destes dois exemplos: «A secretária não se limitou a pensar [que o Diabo estava ali], soltou imediatamente um grito, mas mais uma vez ele chegou-lhe a tempo com uma das mãos à boca. Via-se que tinha experiência nisso, em meter-lhe as mãos na boca sempre que ela ia para gritar, coisa que tinha alturas em que dava um certo jeito, como ele bem sabia» (p. 34). Ou então: «Falaram de outras coisas. Pela noite fora. Quando falaram. Nem sempre falaram. Estavam longe do concelho, numa viagem que incluía um hotel da capital» (p. 86). Este é daqueles livros pequeninos (87 páginas), que tem, certamente, muito para contar, para quem quiser (e souber) lê-lo.

“ARTE MOLE” Até 29 de JUL | Galeria de Arte Pintor Samora Barros - Albufeira O pintor José Maria Subtil intercala a figura humana com a paisagem, e é por esta que se tem notabilizado, sobretudo quando aborda os ambientes rurais e urbanos tradicionais do Alentejo e das Beiras


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Cultura.Sul

Prémio Maria Veleda: destacar, reconhecer, valorizar

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d.r.

O Prémio Maria Veleda, cuja apresentação e divulgação teve lugar no dia 20 de junho, em sessão pública, é um contributo, que reputamos muito relevante, da Direção Regional de Cultura do Algarve para a medida «Mulheres Criadoras de Cultura», preconizada no V Plano Nacional para a Igualdade de Género, Cidadania e Não Discriminação, a decorrer no período 2014-2017. Consubstanciada no espírito, ideário e ação de Maria Veleda, esta iniciativa propõe premiar, para destacar, reconhecer, valorizar e incentivar, a atividade cultural de indivíduos e/ou entidades e instituições algarvias, protagonistas de intervenções particularmente relevantes e inovadoras na região, que se destaquem no âmbito da cidadania e igualdade de género, ou do combate à exclusão social, no combate à desertificação do interior da região, na educação pela arte, na valorização do património imaterial - preservação das tradições, memórias e identidade -, na revitalização dos núcleos e edifícios históricos, no desenvolvimento de projetos multidisciplinares, multiculturais e, ainda, projetos em rede. Maria Veleda, pseudónimo da farense Maria Carolina Frederico Crispim (18611955), destacou-se como uma das mais influentes mulheres do nosso País, na luta pela justiça e igualdade de oportunidades entre mulheres e homens, entre os quais o direito ao voto. Foi escritora, jornalista interventiva, professora, educadora, republicana ativa, conferencista, livre pensadora e lutadora pelos direitos das mulheres. Esta relevante personalidade algarvia foi a primeira mulher a pertencer e a fundar variados centros escolares e associações, iniciando aulas noturnas para mulheres adultas, para crianças de rua e em risco. Lutou contra a prostituição, sobretudo a infantil, e contra os abusos sexuais de crianças. Defendeu e praticou uma educação integral, laica, aliando teoria, prática, liberdade, criatividade, espírito crítico e valores

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de cidadania, para a inclusão e igualdade, recorrendo a estratégias pedagógicas que cruzavam os domínios científicos e artísticos. Maria Veleda destaca-se como uma pioneira na luta pelos direitos jurídicos, civis

Consubstanciada no espírito, ideário e ação de Maria Veleda, esta iniciativa propõe premiar - para destacar, reconhecer, valorizar e incentivar - a atividade cultural de indivíduos e/ou entidades algarvias, protagonistas de intervenções particularmente relevantes e inovadoras na região, que contribuam para a igualdade de género, a cidadania e a não discriminação social

e políticos entre os sexos. A instituição deste prémio é também uma forma de lhe render justa homenagem. O júri deste prémio, a atribuir através de concurso regional, é constituído por destacadas individualidades: António Branco — Reitor da UAlg; Idálio Revez — Jornalista; José Carlos Barros — Arqt.º Paisagista; Lídia Jorge — Escritora; Mirian Nogueira Tavares — Prof.ª Doutora; Natividade Monteiro — Professora e Investigadora; Paulo Cunha — Professor; e pelas Diretoras Regionais de Cultura do Alentejo, Ana Paula Amendoeira, e do Algarve, Alexandra Rodrigues Gonçalves, que preside ao júri. O prazo de candidatura ao prémio, que envolve o valor pecuniário de 5.000 euros, termina dia 20 de setembro de 2014. O regulamento pode ser consultado na página da Direção Regional da Cultura do Algarve em http://www. cultalg.pt/MariaVeleda/. Direção Regional de Cultura do Algarve


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