CULTURA.SUL 75 - 28 NOV 2014

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Panorâmica:

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FNAC abre portas em Faro

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Grande ecrã: d.r.

A programação dos cineclubes

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Espaço ALFA: d.r.

Rita Redshoes:

Guardar e mostrar a imagem

Lado B: programação cultural em rede

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Da minha biblioteca:

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NOVEMBRO 2014 n.º 75

A Ilíada de Homero adaptada

Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o PÚBLICO

p. 11

8.595 EXEMPLARES

www.issuu.com/postaldoalgarve

A importância do título numa obra p. 13


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28.11.2014

Cultura.Sul

Editorial

Espaço CRIA

Oportunidades não se devem desperdiçar

Simplicidade nos negócios

Editor ricardoc.postal@gmail.com

As oportunidades não se devem desperdiçar ou tirem o melhor do que o mundo vos oferece são sempre lemas que importa ter presentes. Simples e claros são um facto, mas não se realizam por geração espontânea, antes exigem presença de espírito, esforço e, sobremaneira, visão. A abertura da nova loja FNAC do Forum Algarve, em Faro, constitui um mar de oportunidades sob todos os pontos de vista. Antes de mais a disponibilização ao sotavento algarvio de um meio rápido, capaz e eficiente de acesso a produtos culturais e mais do que isso a obras mais técnicas capazes de permitir enriquecer a forma como se trabalha nos domínios técnicos tendo à mão um fornecedor ágil, uma verdadeira porta para o mundo. No campo cultural o realce vai para a programação do Fórum FNAC, um novo espaço cultural para a cidade e para a região, mas que acima de tudo permite ao público estar perto de muitos nomes que doutra forma não viriam à região. São estes mesmos nomes, figuras de relevo do panorama cultural, que podem e devem constituir um nicho de oferta cultural transversal ao Algarve. Bem aproveitadas as deslocações à região destes artistas, mais do que surgirem na FNAC para um público reduzido por inerência das circunstâncias, cabe aos programadores culturais saberem aproveitar este esforço de uma empresa privada, meritório, e compreensível no âmbito da respectiva actividade, para trazerem ao grande público algarvio, em espaços com maiores potencialidades, a arte e a cultura do país. O Cineclube de Faro já avançou e conquistou espaço na FNAC, resta aos restantes seguirem as pegadas e à sua medida encetarem parcerias que decerto farão do Algarve uma região mais rica culturalmente e com outro acesso à Cultura. Não há que pensar muito, antes importa agir.

“As coisas simples são indissolúveis. Não havendo nelas contradição, a tendência é para serem duráveis.” Agustina Bessa-Luís. Esta simplicidade aplica-se a todos os campos da nossa vida, mas é no campo profissional, mais propriamente no mundo dos negócios, onde poderão surgir maiores frutos quando implementada. Nos dias que correm, criar e desenvolver uma empresa é um verdadeiro desafio. A concorrência é feroz e o mercado extremamente exigente e aparentemente já tudo foi inventado e/ou reinventado. No entanto, normalmente são os produtos ou serviços que se apresentam como soluções simples e user-friendly que tem mais sucesso junto dos consumidores. O mais irónico é que, apesar da simplicidade das soluções apresentadas, muitas vezes o caminho para lá chegar é complexo. No entanto, até este recorrendo às ferramentas apropriadas, pode ser simplificado. Por outras

coisa ao mesmo tempo, se não tivermos recursos para tal ou se houver um único elemento na equipa (é assim que muitas empresas começam: uma ou duas pessoas a trabalhar para alcançar um objetivo comum). Pensar “em grande” numa fase inicial, d.r.

for, mais dispersas se tornam as nossas ações durante a implementação da mesma. Não vale a pena querer fazer muita

pode resultar em objetivos não alcançados pois tal pode originar alguma dispersão. Assim, no início (se não sempre), é

preferível apostar mais na qualidade do que na quantidade, visto esta ter mais hipóteses de causar impacto. E isto apenas é possível se simplificarmos ao máximo as nossas ações. Um dos casos onde a necessidade de simplificar torna-se evidente é na abordagem ao mercado, ou seja, depois de definirmos o nosso produto/serviço (por vezes muitos empreendedores querem promover vários serviços e produtos ao mesmo tempo, o que pode resultar num processo complexo, dispendioso e inútil, especialmente se lhes faltar experiência), há que definir o público-alvo e focarmos as nossas ações no mesmo. De uma forma muito resumida, a simplicidade pode refletir-se essencialmente nas seguintes vantagens: a) definição de objetivos e ações mais claros; b) obtenção de melhores resultados a longo prazo; c) adaptação ou antecipação às mais variadas circunstancias; d) diminuição dos custos e tempo; e) maior impacto sobre o público-alvo. No entanto, não podemos confundir simplicidade com facilidade. A simplicidade dá muito trabalho, mas como percebemos pela citação de Agustina Bessa-Luís, torna as “coisas” indissolúveis e duráveis no tempo. E isso, na minha opinião, é sempre bom para qualquer negócio.

Revolução

Jady Batista

Anda meio mundo a tentar enganar meio mundo, meio mundo à procura do que o outro meio mundo não tem, meio mundo a achar que é melhor que meio mundo. Quando não passamos de meras formiguinhas desprezáveis que destroem o seu habitat, iguais às formiguinhas desprezáveis do outro meio mundo. Enquanto a sociedade andar de olhos

Responsáveis pelas secções: • O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N: Pedro Jubilot • Espaço ALFA: Raúl Grade Coelho • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Espaço CRIA: Hugo Barros • Espaço Educação: Direcção Regional de Educação do Algarve • Espaço Cultura: Direcção Regional de Cultura do Algarve • Artes Visuais: Saul Neves de Jesus • Grande ecrã: Cineclube de Faro Cineclube de Tavira • Juventude, artes e ideias: Jady Batista • Da minha biblioteca: Adriana Nogueira • Letras e Leituras: Paulo Serra • Momento: Ana Omolete • Panorâmica: Ricardo Claro • Património: Isabel Soares • Sala de leitura: Paulo Pires • Um olhar sobre o património: Alexandre Ferreira Colaboradores desta edição: Ana Lúcia Cruz Catarina Oliveira Patrícia Santos Batista

Juventude, artes e ideias

fechados e boca bem aberta a proclamar aquilo que diz que viu com a venda a tampar os órgãos de visão, continuaremos a progredir sabe-se a força superior para onde. Meu caro Homo sapiens, dizem que tu és a especie que pensa, mas o macaco do teu pai conseguiu por vezes pensar mais do que tu. É completamente inadmissível que neste século que tem tudo e mais um pouco para realmente pensares, devido à aprendizagem que os verdadeiros Homos sapiens nos deixaram, que tu abras a tua maldita boca para proclamares o inverídico. Afinal, tu consegues utilizar o tico

Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Ricardo Claro Paginação: Postal do Algarve

e o teco ao mesmo tempo? Tu lá tens autoconsciência? Aquela consciência auto-reflexiva? Ou viverás a continuar a ser benemérito e a fazer a reflecção do teu próximo porque coitado ele não sabe auto-refletir. Enfim... Falam muito mas pouco dizem... Quero agradecer a todos os nossos colaboradores, a todos que por cá passaram e deixaram o seu contributo para que em dias de trevas possamos ver que cá se faz, quero agradecer a todos os que depositaram confiança e tempo para que o jornal J tenha chegado aos dois anos e para que possam vir mais. Quero agradecer a esta juventude que

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Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve, Direcção Regional de Educação do Algarve, Postal do Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com e-mail publicidade: anabelagoncalves3@gmail.com

on-line em: www.issuu.com/postaldoalgarve d.r.

Ricardo Claro

Ana Lúcia Cruz Gestora de Ciência e Tecnologia no CRIA - Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da UAlg

palavras, depende de nós simplificarmos ou descomplicarmos o que aparentemente parece complexo. Por exemplo, quando estamos a construir o nosso Plano de Negócios devemos simplificar ao máximo a nossa estratégia. Quanto mais complexa esta

Ficha Técnica:

Tiragem: 8.595 exemplares

pelo amor de nós mesmos, somos a evolução, a revolução, o futuro, e que o futuro seja honesto! “Se queres paz, te prepara para a guerra. Se não queres nada, descansa em paz...”


Cultura.Sul

28.11.2014

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Grande ecrã Cineclube de Faro

Programação: cineclubefaro.blogspot.pt IPDJ | 21.30 HORAS d.r.

2 DEZ | A Vida Invisível, Vítor Gonçalves, Pt, 2013, M14 3 DEZ | Cabra Marcado para Morrer, Eduardo Coutinho, Bra, 1985, 9 DEZ | A Temporada do Rinoceronte, Bahman Ghobadi, Irão, 2012, M14 16 DEZ | O Quarto Azul, Mathieu Amalric, Fra, 2014, M16 FNAC 13 DEZ | 15 horas | Bab Sebta, Pedro Pinho, Frederico Lobo, Pt, 2008 17 DEZ | 21 horas | Dreamocracy, Raquel Freire, Pt, 2014 OS ARTISTAS 20 DEZ | 22 horas | O Dia Mais Curto FILME FRANCÊS DO MÊS, BIBLIOTECA MUNICIPAL DE FARO: 28 NOV | Huit Fois Debout, Xabi Molia

Cineclube de Faro inaugura parceria com a FNAC A agenda do Cineclube de Faro já vai longa nesta temporada, e mais uma vez, é feita de excelentes e essenciais filmes entre os estreados em Portugal. Entre as actividades do Filme Francês do Mês, o Shortcutz Xpress, o regresso do Dia Mais Curto e uma parceria com a recém-inaugurada FNAC, o Cineclube de Faro apresenta até ao final do ano uma actividade imensa e imperdível. A programação regular das Terças-feiras no auditório do IPDJ, traz a Faro o regresso de Vítor Gonçalves com A Vida Invisível, a mais recente estreia do Iraniano Bahman Ghobadi, A Temporada do Rinoceronte, ou Mathieu Amalric com O Quarto Azul. Por outro lado, o que dizer da estreia da reposição do filme de Eduardo Coutinho, Cabra Marcado para Morrer, objecto único do Cinema e da História contemporânea do Brasil. E ainda a parceria com a FNAC que trará dois belíssimos documentários, Bab

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Dreamocracy é um dos filmes que serão apresentados na FNAC em Faro Sebta (A Porta de Ceuta) sobre os movimentos migratórios do Norte de África para a Europa e ainda o regresso de Raquel Freire, com Dreamocracy, oportunidade para conhecer e debater a urgência e premência dos “novos” movimentos

sociais, que um pouco por todo o mundo se batem pela valorização, dignidade e respeito pela condição humana. O ano encerra com curtas-metragens, o Dia Mais Curto conhece a sua 2ª edição em Portugal e a 20

de dezembro, n’Os Artistas, apresentamos um programa recheado de curtas-metragens e boa disposição. Com o aproximar do Natal, convido-vos a ofertar Cinema: filmes, posters, livros, etc, vejam no blog do CCF. Bom Cinema!

Espaço AGECAL

Olarias no Algarve, ontem e hoje .

Catarina Oliveira Arqueóloga Sócia da AGECAL

“Água fresca dá-a o jarro, não de prata mas de barro” O Algarve integra, nas palavras de Orlando Ribeiro, a chamada “civilização do barro”, com forte expressão na produção e utilização de materiais cerâmicos na construção e em antigas tradições oleiras, ambas relacionadas com a abundância de terrenos ricos em argilas, mas certamente também com a acumulação de saberes milenares que resultam da integração do território algarvio numa rede de comunicações comerciais e culturais já existente no Mediterrâneo antigo. Cântaros, talhas, panelas, alguidares foram produzidos e usados durante séculos. Remetem para um profundo conhecimento do território abundante em barros, das técnicas ligadas à sua extracção e transformação. Falam-nos de saberes transmitidos de pais para filhos.

Mas dizem-nos também do quotidiano das populações. Sempre presentes, respondendo a necessidades colectivas, as vasilhas de barro serviam para ir à água, para conservar e preparar alimentos, usar à mesa e comer… Remontam à Idade Média e Moderna as primeiras referências a olarias e oleiros. Encontramo-las, para o Algarve resto do país, nas cartas de foral, também em escrituras ou diplomas de contracto, posturas, taxas, regimentos de oleiros, entre os séculos XII a XVIII. Como se depreende da documentação de época medieval e moderna, a olaria era então uma arte necessária à sociedade e o oleiro um mester reconhecido, por produzir peças necessárias ao uso diário das populações, de onde decorrem na centúria de quinhentos preocupações em taxar a louça, normalizar e fiscalizar a actividade. Na importante obra de Charles Lepierre “Estudo Chimico e Technologico sobre a Cerâmica Portuguesa Moderna”, publicada em 1899, encontramos referências valiosas para o estudo da produção oleira no Algarve. “No Algarve fabrica-se louça por toda a parte onde existe argilla, o que se explica pelo afastamento relativo desta província. Os centros mais importantes são Tavira, Santa Rita, Cacella, Moncarapacho, Santa Catharina, Olhão, Lagos, Lagoa, etc. (…) Loulé é o cen-

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Aguada, Faro tro mais importante para a louça comum: existem ahi umas 25 pequenas oficinas, chegando algumas a ter bastante consumo (…) a louça de Loulé é a mais apurada do Algarve (…). As formas das louças, ainda que elementares, não deixam de ter alguma elegância; podem-se citar os cântaros, muito altos, de duas azas, de bôca estreita e esguios”. Estes antigos centros oleiros distinguiam-se pela qualidade das argilas dos barreiros próximos (umas melhores para a loiça de água, outras para a de fogo) e pela perícia na execução de determinadas formas, como os cântaros, as infusas, tão necessários para o transporte de água ou os alcatruzes para a pesca do polvo. No Algarve, durante o séc. XX, até aos anos 60, a produção cerâmica manteve forte expressão local. Era nas feiras, que

os camponeses vinham abastecer-se do que necessitariam ao longo dos meses seguintes. E compravam carradas de loiça de barro: panelas, caldeirões, plenganas (para as caldeiradas), penicos, bilhas, tachos, jarros, mealheiros, cabocas, cocos (para os homens levarem a comida para o trabalho) e até brinquedos. – recordava Fernando Rodrigues, o ultimo oleiro de Lagoa. Dos centros oleiros mais relevantes no Algarve referidos nas fontes históricas, monografias e estudos etnográficos – Lagoa, Porches, Loulé, Olhão, Moncarapacho, Martinlongo – poucos resistiram até hoje. A melhoria das condições de vida das populações urbanas, e mesmo rurais, permitiu que a utensilagem doméstica de barro fosse sendo abandonada ou substituída por mate-

riais como a folha-de-flandres, o alumínio ou o plástico. Relevante também, a alteração que se verificou da estrutura familiar no que toca às relações entre marido e mulher e entre pais e filhos. Pese embora tentativas de adaptação por parte dos oleiros, ao nível das técnicas, utensílios e formas, a grande parte das olarias extinguiu-se na região entre as décadas de 60 a 70. Hoje, nas olarias que subsistem, os fornos a lenha desapareceram e foram substituídos por fornos a gás ou eléctricos, as rodas deixaram de ser movidas a pedal e, na maior parte das vezes, o barro comprado noutras zonas do país, chega já pronto a ser trabalhado na roda. A venda deixou também de ser feita nos mercados e feiras locais ou por vendedores ambulantes, faz-se agora no local de produção ou em feiras de artesanato. Os objectos ganharam novos usos e alteraram-se as motivações de quem os compra. No Algarve, apenas em Moncarapacho e Porches, encontramos genuínas produções locais ainda em actividade e com origem em centros oleiros com longa tradição e história na região, pese embora, mesmo nestas, já não se usarem os bons barros da região. Subsiste porém na região, uma produção cerâmica que se dinamiza e renova, ligando tradição e inovação.


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28.11.2014

Cultura.Sul

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Um olhar sobre o património

Património Criativo d.r.

Alexandre Ferreira

Licenciado em Património Cultural pela UAlg

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Quando pensamos em Património Cultural estamos inevitavelmente a falar de passado. Contudo, este passado não pode ficar isolado como que numa cápsula do tempo, sob pena de se tornar obsoleto e irrelevante. Deverá sim, ser “olhado” com os olhos do presente preparando o futuro. E este futuro não se deve cingir ao do bem em si mesmo, mas deverá ser alargado à comunidade onde o bem está inserido. Neste mundo global em que vivemos são as especificidades de cada comunidade ou território que as permitem diferenciar de todas as demais. Esta diferenciação tem de começar por ser assumida pelas próprias comunidades, as quais devem encarar as suas particularidades não como fraquezas, mas sim como mais valias culturais e inclusivamente económicas, através da requalificação e dinamização do seu património, através de um efectivo aproveitamento de equipamentos culturais relevantes e através de projectos que façam a ligação entre a cultura e a educação e que ao mesmo tempo promovam a criatividade, delineando novos modelos de actividades que se destaquem pelo seu carácter inovador, novas formas de utilização dos espaços, novos “olhares” sobre o património. O Património Cultural quando devidamente valorizado pela sua qualidade, singularidade, identidade histórica, permite que em seu torno se ramifiquem diversos serviços complementares, sejam eles circuitos temáticos, de informação histórica, animação artística, produção de conteúdos culturais, etc, da mesma forma

As novas tecnologias são fundamentais para uma nova forma de abordagem ao património que contribui para a dinamização da economia da comunidade onde está inserido. Projectos de intervenção na área da Cultura, em geral, e no Património, em particular, devem ir de encontro às raízes das comunidades onde estão inseridos, envolvendo os agentes locais, promovendo consensos comunitários, por forma a reforçar o sentimento de pertença ao mesmo tempo que gera massa crítica. Estes projectos podem assim funcionar como catalisadores da qualificação e capacitação das populações, do incremento de equidade nas oportunidades criadas e no seu acesso, contribuindo de sobremaneira para a coesão económica e social da comunidade onde são desenvolvidos. A aplicação das novas tecnologias de informação ao Património Cultural revela-se fundamental na sua preservação, valorização e divulgação,

uma vez que permitem não só registar cientificamente toda a informação pertinente relativa ao bem, mas também possibilitam a disseminação desta informação à sociedade global, aumentando assim a notoriedade do Património, fomentando a captação, formação e desenvolvimento de novos públicos onde os conceitos de “inclusão culturar e digital”, “marketing alargado”, “cultivo e diversificação cultural”, educação de públicos” se constituam como premissas de actuação. Se, como vimos, o Património Cultural constitui-se como fonte de identidade e coesão e contribuindo a Criatividade para a construção de sociedades abertas, plurais e inclusivas; ao unirmos estes dois recursos, qualquer um deles acessível, estaremos a lançar bases para uma sociedade próspera de conhecimento, vibrante e inovadora.

“FOTOGRAFIA DE EDUARDO GAGEIRO” Até 13 DEZ | Biblioteca Municipal Sophia de Mello Breyner Andresen - Loulé Exposição sobre o livro ‘Silêncios’. De realçar a cumplicidade magnífica das fotografias com os textos da escritora Lídia Jorge, dotados da qualidade a que já nos habituou

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Cultura.Sul

28.11.2014

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Panorâmica

FNAC: A cultura feita experiência abre portas em Faro d.r.

Porque a vida se faz de experiências únicas e exilada da cultura é uma viagem sombria, o acesso ao universo cultural é uma necessidade premente e inadiável. A resposta a esta necessidade podemos encontrá-la de diversas formas e por diversos meios, mas são raras as oportunidades de encontrarmos num mesmo espaço uma panóplia quase ilimitada de oferta cultural. É exactamente aqui que se enquadra o espaço FNAC, um verdadeiro espaço vital, onde a experiência do universo cultural se quer única e singular. O espaço FNAC marca pela diferença. Uma diferença que se faz não só pela variedade da oferta, que percorre os livros, a música e os filmes, passando pelos jogos, jornais e revistas, e se estende às tecnologias, aos gadgets e à inovação, mas acima de tudo por um leque de serviços que aposta tudo em criar para cada visitante uma resposta adequada e uma experiência directa com o objecto cultural. Uma relação única com a cultura

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Na FNAC cada visitante pode folhear o livro, ouvir o cd, experimentar a consola, e conhecer a tecnologia directamente, desmistificando a ideia de distância face ao que em cada momento se quer conhecer e levar para casa. Aliada a esta experiência directa, cada visitante do espaço FNAC tem à sua disposição uma equipa treinada a pensar no melhor padrão de assistência possível, constituída por colaboradores capazes de o ajudar em todos os momentos num serviço assente na formação e profundo conhecimento de cada área cultural. O domínio de cada área do universo FNAC pela equipa que o espera transforma a procura de uma resposta para uma qualquer necessidade num momento de prazerosa descoberta

A nova FNAC: Área: 1.256 m2 Localização: Forum Algarve Piso 0 O que pode encontrar: Livros Música Filmes Jogos Jornais & revistas Tecnologia Gadgets & inovação Serviços: Bilheteira de espectáculos Serviço ‘Pedido Cliente’ Espaços temáticos: Fórum Fnac Fnack Kids

A FNAC do Forum Algarve vai ficar situada no piso 0 e conta com mais de 1.200 metros quadrados de área do que se deseja, mas também das melhores alternativas para cada situação. Esta é uma realidade que qualquer visitante da FNAC já experimentou e que faz toda a diferença, tendo alterado a forma como nos relacionamos com os bens culturais desde que em 1998 a primeira FNAC abriu as portas. FNAC, cada vez mais perto de si No Algarve desde 2005, a FNAC disponibilizou à região a possibilidade de aceder a toda a experiência do universo criado pela empresa para que a cultura esteja cada vez mais disponível e mais perto de todos. Uma oferta que agora se reforça com a nova loja do Forum Algarve, onde uma área

de 1.256 metros quadrados promete não deixar ninguém indiferente. A procura de um determinado livro, de um cd ou de um jogo, de um determinado item tecnológico ou de qualquer produto cultural, independentemente do suporte, tem agora no sotavento algarvio uma resposta única, o espaço FNAC. Até para os mais exigentes pedidos, que não encontrem resposta nos imensos escaparates dos espaços FNAC, há uma solução garantida pelo serviço ‘pedido cliente’, criado a pensar em cada visitante e na regra de ouro de prestar a todos o melhor do saber FNAC. Basta pedir e a FNAC encarrega-se de saber como e quando poderá ser satisfeito o seu pedido, num processo simples e

“SER E DEVIR” Até 30 NOV | Museu Portimão Exposição fotográfica de Virgílio Ferreira, que procura representar ideias de identidade híbrida e explorar conceitos do “Terceiro Espaço”, do “Velho e do Novo”, bem como a polaridade de viver entre culturas, idiomas, paisagens e fronteiras estrangeiras

sem complicações, desenhado à medida das necessidades de cada visitante, porque na FNAC todos são especiais. A nova loja de Faro, que abre hoje as portas, coloca a oferta FNAC cada vez mais perto de todos os algarvios e, mais importante do que isso, cada vez mais perto de si. Muito mais do que bens culturais Mas a FNAC é muito mais do que um espaço dedicado a acolher uma impressionante oferta de bens culturais nos mais variados suportes. Em cada FNAC respira-se cultura e, acima de tudo, faz-se cultura. O Fórum FNAC é o palco por excelência de cada espaço FNAC, imaginado para acolher

as mais diversas apresentações culturais, das exposições às récitas, das sessões de autógrafos aos concertos intimistas, esta é uma verdadeira casa das artes e dos artistas, onde as estrelas são a excelência e qualidade, garantidas por uma agenda cultural que faz de cada semana um acontecimento. Razões de sobra para que a qualquer momento a FNAC seja um espaço a visitar por todos, sem excepção. Cada espaço FNAC é pensado para todos, incluindo as famílias e os mais pequenotes que têm à sua espera a FNAC Kids, uma área criada a pensar nas necessidades dos mais novos e desenhada à medida de encher de sorrisos cada criança. Lado-a-lado com os pais,

aqui os mais pequenos têm a oportunidade de interagirem com os mais diversos suportes culturais, numa experiência que é uma porta aberta para a aprendizagem e para o gosto pelas diversas expressões culturais. Serviços FNAC Na FNAC pode ainda contar com a oferta de um serviço de bilheteira para espectáculos em todo o país, facilitando o acesso à oferta cultural nacional de forma simples e cómoda. Tudo isto sempre com as vantagens do cartão FNAC, o melhor amigo dos fãs dos espaços FNAC, com ofertas sempre tentadoras para quem não dispensa a companhia de vantagens sempre que visita os espaços da empresa em todo o país. Todo um mundo criado a pensar numa relação muito especial entre cada visitante e a cultura, afinal ela é o sal da vida, e a partir de agora está aqui, perto de si.

“CLÁSSICA NA SANTA CASA” 28 NOV | 19.00 | Santa Casa da Misericórdia de Faro A música de câmara será apresentada pela Orquestra Clássica do Sul sob temas como “Serenatas, Elegias e Sinfonias”, “Mozart e os franceses” ou “Quintetos de sopros do Séc. XX”, entre outros


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Cultura.Sul

Momento

Retrato de uma fotógrafa em acção Foto de Ana Omolete

Espaço ALFA

Guardar e mostrar a imagem

Raúl Grade Coelho Membro da ALFA

“Mãe! Quero ir tirar fotografias!” gritava o rapaz que hoje é um conhecido fotógrafo. Este é um início de história que é idêntico a muitos de nós. Os amantes da fotografia. O gosto pela imagem é algo que nasce muitas vezes sem se saber porquê. Tal como tudo na vida a história não se resume a estas meras frases. Depois de ter nascido o gosto pela fotografia é preciso domá-lo e adequá-lo à nossa forma de ver o mundo que nos rodeia. Os fotógrafos não são todos iguais embora todos tenham a particularidade de premir o botão para captar o momento. Há fotógrafos que nascem do simples gosto. Outros nascem pelo gosto mas que melhoram a sua forma

de guardar as imagens. Há os cursos e as associações, que tal como a ALFA Associação Livre Fotógrafos do Algarve promovem a fotografia da melhor forma possível. Há os passeios fotográficos. Há poucos dias foi altura de viajar de barco pela Ria Formosa até ao célebre Farol na chamada ilha. Foi um dia bem passado em que se juntaram sócios e acompanhantes que apreciaram a beleza do local. Os mais corajosos viram tudo ao seu redor, pois subiram até ao alto do farol que lhes transmitiu magia. Fotografaram. Guardaram as memórias que o local lhes transmitiu. É isso a fotografia. Guardar os momentos que as vida nos dá. Há formas de transmitir o que as imagens falam. Há as exposições. As mostras. A mostra fotográfica Cor e Criatividade vai agora dar a conhecer as suas fotos que ilustram as cores. Em primeiro lugar na Galeria ARCO, sede da ALFA. Enquanto isso uma nova mostra está prestes a começar a nascer. Novas histórias estão sempre a nascer para a nossa máquina fotográfica as guardar e mostrar. A imagem. Esteja atento a www.alfa.pt.

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Letras e Leituras

Arte redentora, Donna Tartt

Paulo Serra

Investigador da UAlg associado ao CLEPUL

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O Pintassilgo é o muito aguardado regresso de Donna Tartt, livro que demorou quase onze anos a ser escrito, conseguindo aliás repetir a proeza de intervalar numa década a publicação de um romance, pois apesar de, em Portugal, os dois primeiros livros terem sido publicados quase de seguida, essas duas primeiras obras tiveram também um interregno de cerca de dez anos. A História Secreta, o seu primeiro romance, obteve um êxito estrondos, e desvenda o secretismo de um crime, referido logo no prólogo, onde o narrador se confessa como adjuvante do mesmo. Richard Papen deixa a sua Califórnia natal para continuar os estudos na Universidade. Fascinado por um estranho grupo de cinco estudantes sofisticados e misteriosos, inicia um curso de grego antigo dirigido por Julian Morrow, integrando assim esse círculo fechado, que mais se assemelha a uma irmandade ou sociedade secreta, envolvendo-se num ambiente macabro onde se misturam a erudição, o amor da beleza e da violência. O Pequeno Amigo, o seu segundo romance, ganhou o WHS Literary Award e foi nomeado para o Orange Prize for Fiction. Numa pequena cidade do Mississípi, Harriet cresce na sombra do seu irmão, que aparece logo nas primeiras páginas do romance, descrito como um corpo pendurado no ramo de uma árvore do jardim da sua própria casa, pois foi encontrado enforcado quando ela era ainda bebé. O assassino nunca foi identificado e a família nunca recuperou da tragédia, até que Harriet, com apenas doze anos, decide então resolver o assassinato do irmão, juntamente com o seu amigo Hely. Neste último livro, a autora volta a surpreender-nos com outro roman-

fotos: d.r.

ce denso, pesado (com cerca de 700 páginas, como os outros dois), que arrecadou o Prémio Pulitzer de Ficção 2014 e foi considerado pelo The New York Times como um dos melhores livros de 2013. O Pintassilgo conta a história de Theo Decker, um adolescente de 13 anos, que vive em Nova Iorque com a mãe, com quem partilha uma relação muito próxima. Esta odisseia, comparada inclusivamente a uma história de Charles Dickens, começa literalmente com um

A escritora Donna Tartt

Bum!!!, quando o jovem Theo, absorto e preocupado com o que será falado na reunião com o director da escola, vive quase como um sonho o momento em que ele e a mãe entram no Metropolitam Museum of Art, para se abrigarem de uma chuvada súbita. A certa altura, enquanto Theo continua a remoer a reunião, devido à sua amizade com uma companhia imprópria, Tom Cable, ao mesmo tempo que a sua atenção é retida por uma jovem que anda pelo museu com um idoso, a mãe afasta-se para outra sala para observar por uma última vez um quadro, ao que se sucede uma explosão.

As passagens seguintes são absolutamente avassaladoras: na descrição de como Theo se liberta dos escombros, depara-se com o homem que acompanhava a jovem que o interpela e mantém uma conversa quase normal com ele, apesar do cenário apocalíptico que os envolve, e talvez por causa desse mesmo sentimento de ruína envolvente o idoso incentiva Theo a salvar dos escombros um quadro que, tal como o jovem, sobreviveu à destruição. Em seguida, é também entregue a Theo um anel que deverá servir como senha, enquanto lhe são proferidas as enigmáticas palavras: «Hobart e Blackwell. Toca à campainha verde». A forma como Theo sobrevive inexplicavelmente ao acidente não é mais desconcertante do que o percurso que ele faz até sair do museu, rodeado de ambulância,

“RITA, OU LE MARI BATTU” 29 NOV | 21.30 | Grande Auditório do TEMPO Ópera em um acto de Gaetano Donizetti, pelo Ensemble Contemporaneus. A acção desenrola-se na estalagem de Rita, a cruel e violenta mulher do tímido e desajeitado Beppe

polícia e bombeiros, abandonando depois esse recinto, sempre sem ser visto, e apesar de transportar consigo um pequeno quadro na mão, enquanto procura chegar rapidamente a casa para se encontrar com a mãe. Só no dia seguinte toma consciência, quando lhe batem à porta, que a mãe de facto morreu e que a sua vida mudou para sempre, pois a única hipótese que lhe resta é ficar com os avós, que vivem longe e que mal conhece, pois o pai, alcoólico e jogador compulsivo, acabou por abandonar a família, o que Theo recorda como a melhor coisa que lhes aconteceu pois a presença luminosa da mãe transformava-se na sua companhia. Naquela que é uma solução apenas temporária, mas que determina em muito a sua vida, Theo é acolhido pela família Barbour, que vivem numa imponente e luxuosa moradia em Park Avenue, e encontra também o caminho para a campainha verde, um antiquário onde conhece Hobart, um restaurador, e Pippa, a jovem que cativou o seu coração no museu e que ficou lesada na explosão. Contudo, este interlúdio de sonho rapidamente termina quando o pai ressurge de forma tão súbita como desaparecera antes e

logo se encarrega de limpar o conteúdo do apartamento onde Theo vivia com a mãe. Como que numa simetria perfeita, conhecemos ainda Xandra, o reverso das duas figuras femininas anteriormente descritas, uma espécie de «loura burra», que vive uma vida de excesso, sendo daí a perfeita companhia do pai de Theo, pois «snifa» cocaína e toma comprimidos como se fossem rebuçados. Já anunciada uma adaptação ao cinema e, pondo de parte a polémica gerada em torno do livro - a sua qualidade discutível, o seu aproveitamento de clichés, a aparente falta de estilo literário -, esta história envolve o leitor, mesmo que, por vezes, o fio condutor pareça perder-se, pois os vários episódios da vida de Theo são aparentemente desconexos. A única luz que guia Theo é a pequena e misteriosa pintura que dá nome ao livro, e que ele esconde de toda a gente, inclusive de si próprio. O Pintassilgo é a pequena ave pintada nessa tela minúscula, pintada em 1654 por Carel Fabritius, cujo autor morreu nesse mesmo ano, com a idade de 32 anos, numa explosão de um arsenal de pólvora que destruiu parte da cidade de Delft. A obsessão com o quadro, que Theo acha agora ser impossível voltar a devolver sem se arriscar a ser preso, quadro que a mãe lhe terá mostrado no museu, com uma pequena e singela ave presa por uma corrente a um poleiro, é também, possivelmente, a sua luz redentora pois, mesmo que a certa altura Theo nem sequer retire a pintura do embrulho em que a esconde e protege, ele continua a agarrar-se a esse quadro como uma tábua de salvação, como uma memória da mãe, como uma extensão do seu eu... Em Las Vegas, Theo conhece o ucraniano Boris, amizade igualmente determinante na sua vida, com quem incorre em experiências de bebida, comprimidos e roubo. É esse mesmo Boris que, mais tarde, conduz Theo, agora adulto, a viver em Nova Iorque novamente, onde trabalha como antiquário, protegido e apadrinhado por Hobart, ao mundo do subcrime, embora se tenha já tornado claro que a sua vida, apesar de aparentemente perfeita, com casamento marcado (ainda que continue a alimentar um amor platónico por Pippa) esconde outros segredos, de desonestidade e ambição. Talvez seja mesmo o poder da arte que, em última instância, tenha o condão de salvar este jovem que se sente perdido desde a morte da mãe.

“O ALGARVE!” Até 30 NOV | Museu de Arqueologia de Albufeira Exposição com reproduções das pinturas de George Landmann, que apresenta imagens do Barlavento e Algarve Central no século XIX, captadas por um estrangeiro viajado e curioso


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Cultura.Sul

Espaço ao Património

Educação Patrimonial em Paderne: ambiente e cultura fotos: d.r.

Patrícia Santos Batista

Historiadora, Câmara Municipal de Albufeira

Em Paderne localiza-se um importante monumento, o castelo de Paderne, um hîsn do século XII em taipa militar. A sua envolvente também constitui um elemento patrimonial significativo, do ponto de vista natural. Nos últimos anos, duas áreas dentro da autarquia, Ambiente e Cultura, que trabalhavam de forma independente, num mesmo território, começaram a juntar esforços e a trabalhar em conjunto, permitindo uma interpretação mais completa do sítio em causa. Realizam-se saídas de campo a esta zona onde se estabelece a relação entre recursos naturais e o património cultural, do qual o castelo de Paderne é, sem dúvida, o ex-líbris. Permite-se o contacto directo com o património e estimula-se a educação do olhar, o “saber olhar”, numa (re) descoberta constante da paisagem

do à necessidade de defesa. Estes dois aspectos são indissociáveis da história do monumento. Daí que uma visita ao castelo sem um olhar atento à sua envolvente será sempre uma visita incompleta, ou vice-versa. Propõem-se então uma descoberta da paisagem com especial atenção para as espécies naturais, bem como para os marcos patrimoniais (para além do castelo, merece igualmente destaque a ponte ou a azenha do Castelo) que testemunham a utilização e exploração dos recursos daquela zona desde há séculos. Sendo que é neste contexto que surge a educação patrimonial, enquanto forma de mediação entre património (cultural e natural) e as comunidades. Educação patrimonial como processo de mediação

No castelo de Paderne e das histórias que ela nos conta. Existem nesta paisagem marcos que testemunham a explo-

ração dos recursos naturais, que por sua vez se irão repercutir, directamente, no modo

de vida das pessoas que aí vivem e viveram. A localização do castelo nes-

te local deve-se à riqueza da sua paisagem e à sua importância estratégica, num ponto alto, devi-

A prática educativa implementada nesta zona assume o território como “o local perfeito para promover e incentivar a consciencialização para o património natural, cultural e artístico” e uma vez que aprender é encarado, cada vez mais, como um processo de longa duração (lifelong learning), os espaços e as experiências que vivenciamos são

Sala de leitura

Lado B: programação cultural em rede Paulo Pires

Programador cultural no Município de Silves esteoficiodepoeta@gmail.com

O “Lado B” consiste num formato de programação cultural em rede lançado em Fevereiro deste ano pelo Município de Silves, o qual pretende articular, de forma regular, vários equipamentos/áreas de intervenção do Município, designadamente a Biblioteca e o Teatro, ambos sediados na cidade de Silves. De forma a descentralizar práticas e dinâmicas culturais, e dada a dimensão do concelho de Silves e a necessidade de chegar a vários públicos, o mesmo formato congrega a Biblioteca Municipal

e igualmente, em rotação itinerante, dois auditórios não camarários/associativos situados nas freguesias de S. Bartolomeu de Messines e Pêra. Aos convidados do “Lado B” é lançado o desafio de vir a Silves em “dose dupla” para revelar as suas preferências em termos de leituras, películas e influências musicais (numa conversa informal e debate com o público realizados na Biblioteca) – dando assim a conhecer facetas e dimensões menos conhecidas e, muitas vezes, surpreendentes dos seus perfis – e para, em complemento, realizar um concerto a solo ou em formação reduzida num contexto intimista e envolvente (num dos três auditórios que integram o formato). Aposta-se assim no estímulo à cooperação intersectorial en-

tre diferentes equipamentos do Município (e destes com outros exteriores ao mesmo) que têm objectivos complementares/ afins, neste caso a nível das artes performativas, designadamente da música [Teatro; e restantes auditórios], e, ao mesmo tempo, do incentivo e promoção da leitura e literacia fílmica e musical [Biblioteca], isto em moldes de educação não formal. Também se incrementa a interligação e o fluxo regular de visitantes entre os dois espaços envolvidos no formato (em que um capta e atrai público para outro), contribuindo para a formação de segmentos de público comuns e estabelecendo pontes que permitem criar uma maior atractividade em torno dessas estruturas culturais. A intenção de criar, efectivamente, fluxos de público

entre os dois equipamentos integrados no “Lado B” passa também por algumas estratégias de produção/difusão que foram adoptadas para reforçar esse objectivo, as quais pretendem tanto dotar o formato de maior coerência, identidade e eficácia como criar/consolidar rotinas/hábitos junto dos potenciais interessados: além da normal venda prévia de ingressos para o concerto, é possível adquirir bilhetes a um preço mais reduzido/promocional, mas apenas durante a tertúlia realizada na Biblioteca na noite anterior ao espectáculo; e no dia do concerto é disponibilizada informação impressa sobre os conteúdos (listagem de livros, filmes e músicas) abordados pelo convidado no dia anterior, o que

permite que o público – mesmo o que, eventualmente, não assistiu à tertúlia – fique com referências concretas para aprofundar a sua sensibilidade, espírito crítico e conhecimento a nível de cultura livresca, fílmica e musical. A conversa realizada com o convidado na Biblioteca na primeira noite também serve como preâmbulo e “aperitivo” para o segundo dia (o do concerto), sendo que uma significativa franja de público desloca-se mesmo àquele equipamento cultural – para além da motivação, mais óbvia, de adquirir ingresso a um valor mais reduzido – para ver/ ouvir o intérprete num registo “não artístico”, fora do palco, num ambiente de maior proximidade e intimismo –, usan-

do até isso, por vezes, também como “critério”/pré-escuta para a decisão final sobre a aquisição ou não de ingresso para o espectáculo. Pelo “Lado B” já passaram nomes como João Afonso, António Manuel Ribeiro (UHF), Jorge Palma, Ricardo Ribeiro, Pedro Jóia, Sérgio Godinho, Luís Represas, Custódio Castelo e agora Rita Redshoes (a 27 e 28 de Novembro). Se ficarmos apenas pelos livros, João Afonso e seu parceiro de estrada Rogério Pires trouxeram-nos a mundividência universalmente africana de Mia Couto e Agualusa (cujas letras percorrem todo o último álbum de João Afonso, Sangue Bom, lançado em Fevereiro deste ano), sem esquecer vozes, mais filosófico-existen-


Cultura.Sul

elas mesmas potenciadoras de aprendizagens, pelo que importa sublinhar e estimular a função educativa do território, da paisagem, reforçada pela presença de valores patrimoniais autênticos e de uma experiência multissensorial: visual, táctil, auditiva e olfactiva. Reconhecido o potencial do trabalho educativo com base no património cultural e natural, adoptou-se uma metodologia de diálogo pró-activo, através do questionamento e reflexão dos valores patrimoniais observados in loco; papel activo dos visitantes na descoberta e construção das interpretações da paisagem; estímulo do uso e exploração dos sentidos: ver; cheirar, ouvir, tocar; recurso a alguns materiais pedagógicos e dinamização de momentos de jogo ao longo do percurso. O trajecto feito tem cerca de 3 km. As saídas de campo decorrem entre os meses de Março e de Abril, uma vez que é a época de maior floração, permitindo a observação de diversas espécies de flora de rara beleza - valor estético da paisagem - como é o caso das orquídeas selvagens que aqui florescem em abundância. Os públicos Os públicos-alvo destas iniciativas são, geralmente, grupos per si já estruturados, as escolas, grupos de seniores e

cialistas e psicologicamente densas, como Camus, Dostoiévski, Beckett, Shakespeare, ou os incontornáveis Herberto Helder (O Bebedor Nocturno) e Fernando Pessoa (os poemas do heterónimo Caeiro). Já António Manuel Ribeiro confessou, porventura para surpresa de alguns, o seu grande interesse por autores como Neale Donald Walsch (Conversas com Deus) ou Brian Weiss (Muitas Vidas, muitos Mestres), somando-se a sua admiração pela prosa singular de Eça e Lobo Antunes e a sua fidelidade a toda a obra do espanhol Carlos Ruiz Zafón (exemplificou com A Sombra do Vento) e do inglês John Le Carré. O cantautor Jorge Palma revisitou clássicos como Otelo (Shakespeare) e a Odisseia (Homero), sublinhando a sua intemporalidade, e revelou o seu fascínio pelos meandros

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de entidades como: Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), Associação de Apoio à Pessoa Excepcional do Algarve (APEXA) ou Associação de Saúde Mental do Algarve (ASMAL).

sempre aberta, o castelo podia ser “tomado” pela sua comunidade em qualquer altura… e de repente fecharam-no. A interacção estabelecida nestas visitas é riquíssima, sobretudo para os mediadores, funcionando como uma excelente aula de história, que despoleta novas dúvidas e por vezes determina novas áreas de investigação. Mas também serve para perceber quais as expectativas dos detentores do património sobre o seu papel na sociedade actual.

Público escolar Para estes grupos o ponto de partida de exploração é o questionamento, que permite a descoberta da paisagem e dos recursos naturais que ela encerra, justificando deste modo a sua ocupação ao longo da história, com particular enfoque para o período islâmico, precisamente devido à presença marcante do castelo. Mais do que observar suscita-se a educação do olhar, o “saber ver” e interpretar a paisagem: - Que factores contribuíram para a sua actual configuração? - Quais os elementos responsáveis pela modelação da paisagem? - Que marcos paisagísticos destacamos? A experiência é sempre positiva (procede-se à avaliação das actividades através de um inquérito que é preenchido pelo professor que acompanha a turma através da observação directa dos participantes), e culmina na excitante chegada ao castelo, que se transforma num novo assalto àquele hîsn, mas desta feita por jovens ávidos de curiosidade, de perguntas e de inquietações!

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Desafios para o futuro

la que se faz hoje: - A ribeira onde as mulheres iam lavar a roupa – memória de uma vida mais dura, com mais esforço físico, mas era também um local de encontro, de convívio, de partilha de experiências; - As ervas aromáticas - que se apanhavam no campo e que agora se compram no supermercado;

- A relação com o castelo que mudou drasticamente nos últimos anos (especialmente a partir de 1999, quando o imóvel foi adquirido pelo Estado Português). Grande parte da população de Paderne recorda com alguma nostalgia as grandes festas do 1.º de Maio que se faziam no interior do castelo, relembram, igualmente, que a porta estava

O desafio será permitir às comunidades um papel directo e efectivo na construção de significados acerca do seu património, através da transmissão de conhecimentos, do convívio entre gerações, que irá funcionar como um sistema de inventário activo e participativo. Em última análise considera-se que a educação patrimonial, estando presente em todos os momentos de valorização do património, representa uma estratégia válida para a gestão e salvaguarda dos bens patrimoniais que constituem as “raízes do futuro”, metáfora que dá nome à obra de Hugues de Varine e que traduz a importância e o valor do conhecimento da história e do seu legado na planificação do futuro.

e labirintos d’O Padrinho, de Mario Puzo, e pelo Aleph, de Jorge Luis Borges. Palma não esqueceu ainda a influência marcante, a nível pessoal e musical, de livros-ícone como On the road, de Jack Kerouac, e dos poetas da Beat Generation, aludindo ainda às produções inquietantes de Pessoa, Vergílio Ferreira e Ary dos Santos, entre outros. Já o fadista Ricardo Ribeiro, apaixonado pelas culturas oriental e mediterrânica, escolheu O meu coração é árabe, de Adalberto Alves, como um dos seus livros de eleição, além d’O Botequim da Liberdade, de Fernando Dacosta (onde se revisita todo o fervilhar de um espaço contagiante que, pela mão de Natália Correia, marcou uma época e uma cidade), e do Fado (obra de poesia, de 1941) de José Régio. Por seu lado, Pedro Jóia, virtuoso guitarrista, recordou

o prazer de (re)ler O Memorial do Convento, de José Saramago, A Cidade e as Serras, de Eça, e um livro irrepetível do eminente professor universitário e historiador José-Augusto França: Lisboa – História Física e Moral. “O homem dos sete instrumentos”, Sérgio Godinho, deslumbrou-se com o estilo poderoso, sombrio e carregado de punch literário do sul-africano J. M. Coetzee (Nobel da Literatura em 2003) expresso na obra Desgraça. Eça de Queirós e Jack Kerouac ocupam também um lugar de destaque na sua estante literária, aos quais ele junta nomes como José Cardoso Pires, Alexandre O’Neill, Al Berto (com quem privou), José Rodrigues Miguéis ou o poeta Pablo Neruda. Luís Represas trouxe-nos Os Lusíadas de Luís de Camões, bem como duas obras que revisitam dife-

rentes perspectivas histórico-culturais: a Guerra Santa, de Nigel Cliff, que traz novas leituras às viagens pioneiras de Vasco da Gama; e As Cruzadas vistas pelos Árabes, publicada originalmente em 1983 pelo franco-libanês Amin Maalouf, em que, num pêndulo entre História e Literatura, emerge um lado menos conhecido de um período religiosamente agitado. Já o músico e compositor Custódio Castelo, um dos nomes maiores da guitarra portuguesa e seu principal promotor internacional, segue fielmente a prosa de Umberto Eco, Saramago e Lobo Antunes, e volta amiúde à produção em verso da brasileira Cecília Meireles: “Eu canto porque o instante existe / e a minha vida está completa. / Não sou alegre nem sou triste: / sou poeta.” (do poema “Motivo”). Porque há sempre um (?) Lado B…

Grupo escolar ao longo do percurso Público sénior Com os seniores a base é a mesma, ou seja, o questionamento, que neste caso irá avivar memórias, uma vez que a população mais idosa dependia muito mais da natureza do que nós actualmente e experienciaram aquele espaço de uma forma completamente distinta daque-

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Rita Redshoes é a próxima convidada do ‘Lado B’


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Cultura.Sul

O(s) Sentido(s) da Vida a 37º N

Novembro

Pedro Jubilot

pedromalves2014@hotmail.com canalsonora.blogs.sapo.pt

Good Morning fotos: d.r.

toaria, cerâmica, cortiça, trapologia…) e novas criações; produtos alimentares da região como o mel, pão, bolos, compotas, licores; flores; cremes e sabonetes naturais; brinquedos de madeira; livros e ainda um espaço destinado a velharias, antiguidades e coleccionismo, marcam presença em mais este Mercadinho. Numa organização do Ciipc (CMVRSA) e da Adrip esta edição contará com dois eventos culturais, nomeadamente a apresentação ao público do calendário 2015 - angariação de fundos de apoio às iniciativas da Adrip. Ainda decorrerá ao longo do dia na Casa do Pároco uma mostra digital da revista de poesia e fotografia ‘Sizígia’ (canalsonora editora, 2014) e pelas 15h30, serão feitas leituras pelos autores participantes.

em Cena’ (teatro) o autor convidado, tem-se mostrado um dos mais profícuos actores na cena cultural algarvia dos últimos meses.

Postais da Costa Sul

ra, assina mais uma vez a capa, mas no miolo surgem num vegetal acetinado, as imagens de Luísa Soares Teixeira, Fatinha Afonso, Joana Rosa Bragança, Lina Madeira e do experiente Filipe da Palma.

Luíza Neto Jorge

Das folhas

Caminho pelo areal quase deserto destas praias de outono - esse exercício de refrescar ideias... para refazê-las. Cruzo-me com um homem idoso olhando o mar, esperando palavras ditas mais sábias que o simples ‘good morning’... e no entanto um dia bom será sempre o que se pode desejar a um qualquer homem.

~ é realmente verdade que colocando um búzio junto ao ouvido se consegue ouvir o mar, e quem sabe, sentir-lhe o cheiro. mesmo quem nunca viu o mar, consegue ouvi-lo através de um búzio. ainda que a costa esteja mesmo a uma distância demasiado grande. por isso ando sempre com dois búzios no bolso. um para oferecer a alguém que tenha já saudades do mar ou a quem queira conhecer-lhe a voz. o outro para mim, claro. ~

Mercadinho de Natal

Cair num lugar comum – as folhas no chão do caminho. Paleta aleatória de marron, fúcsia ou malva sobre um tapete de musgo incrustado nas pedras. A natureza viva como numa natureza morta.

Poesia & Companhia

Agendar

Cacela Velha prepara-se para receber, no domingo, dia 14 de Dezembro, entre as 10h30 e as 17h00, mais um Mercadinho de Natal. Artesanato tradicional (empreita, cestaria, la-

Esta tertúlia informa que por motivos de logística, a próxima ‘À Conversa’ com Paulo Moreira, com o tema “A arte do romance”, terá lugar no dia 4 de Dezembro (e não 18), à hora e no local do costume: 19 horas, no About Wine - Vinhos & Gourmet, em Faro (relembramos que a entrada é livre). Com dois livros publicados recentemente na R-E-D-I-L publicações – ‘Maria Manuel’(romance) e ‘Pessoa(s)

“FRAGMENTO” Até 1 FEV 2015 | Igreja do Castelo de Castro Marim A exposição de Sara Navarro responde ao fascínio da artista pelos fragmentos arqueológicos vindos de sociedades extintas e enigmáticas. As suas esculturas evocam a arte e a cultura de outros lugares e de outros tempos, algo que desperta os ecos de uma terra antiga

Sizígia A editora de Tavira, CanalSonora, lançou em novembro uma revista de poesia e fotografia na qual junta 37 autores do Algarve. «Sizígia», que serve para comemorar um ano de actividade desta editora independente, é quase uma antologia, pois reúne uma grande parte de autores que vivem actualmente na região e que se foram cruzando com o seu editor ao longo deste ano. Juntando na poesia nomes já conhecidos como Fernando Cabrita, Manuel Neto dos Santos ou Fernando Esteves Pinto, - a autores praticamente estreantes como Marco Mackaaij, Van S.a ou Mariano Alejandro. Na fotografia, Jorge Jubilot, o já habitual fotógrafo da edito-

Percorrendo as pequenas e estreitas ruas desta cidade à procura de bancos de leitura, lugares insuspeitos onde se depositam as esperanças de poder parar o tempo veloz deste milénio, nem que seja só por aqueles momentos em que dura a passagem das palavras para a mente, e depois soltá-las… Passear junto às margens do rio séqua é como trazer um livro de poesia que se projecta nas águas, neste caso «Algarve todo o mar» (dom quixote 2005) e Luiza Neto Jorge, «Árvores intensas Casas de trapo Chilreia a chuva Coxeia a cama Frutos Votivos Cal calejada Ponte Romana»

Costa Branca Mesmo nesta costa branca o outono é essa estação que vai escurecendo os dias, entristecendo as vozes e esfriando as aragens. Mas como sempre as pessoas tentam fazer dela algo brilhante, primordial e aconchegante: - pintam as folhas de amarelo torrado, laranja, e grenás; cobrem os pescoços, bebem o vinho novo; ardem a madeira seca assando castanhas. Querem (sobre) viver à premonição de esquecimento.

“GENTE DE OUTROS TEMPOS” Até 30 DEZ | Centro Cultural de Lagos Exposição de fotografia de Francisco Castelo, que conta com 18 personagens, das quais se exibem os seus retratos e uma breve biografia, tendo como base o acervo da Fototeca Municipal acrescido de exemplares de espólios e colecções privadas


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Cultura.Sul

Da minha biblioteca

A Ilíada de Homero adaptada para jovens por Frederico Lourenço d.r.

Adriana Nogueira

Classicista Professora da Univ. do Algarve

Fiquei muito contente quando recebi pelo correio um exemplar do novo projeto de Frederico Lourenço: a adaptação da Ilíada para jovens. É sempre um prazer ler o que Frederico Lourenço (professor de clássicas da Universidade de Coimbra) escreve. E escreve muito bem, seja como académico, seja como romancista, poeta, tradutor de autores gregos, reconhecido e premiado pelas suas magníficas traduções dos poemas homéricos Ilíada e Odisseia. A editora Livros Cotovia, que tem publicado a sua obra, é quem agora também apresenta esta sua adaptação para jovens do mais antigo texto literário da cultura ocidental. A Ilíada é uma obra do séc. VIII a.C., atribuída a Homero, descrita assim pelo tradutor, na introdução (p.7) à sua edição de 2005: «no fim de uma longa tradição épica oral, surge este canto de sangue e lágrimas, em que os próprios deuses são feridos e os cavalos do maior herói choram». Quem a leu, imagina o que terá sido o desafio de a adaptar para jovens. Quem a não leu, pode supor que adaptar uma longa obra de guerra e emoções não deverá ser fácil, sem que se percam elementos fundamentais que já foram perpetuados por mais de 2.500 anos de leitores e leituras sucessivas. Mas Frederico Lourenço consegue fazer esse difícil trabalho com muito sucesso. Herança da oralidade

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Como poema herdeiro da tradição oral, a Ilíada contém marcas dessa forma de narrar de cor, normalmente perante

d.r.

adriana.nogueira.cultura.sul@gmail.com

O escritor, tradutor e professor universitário Frederico Lourenço grandes audiências, os feitos (e desgraças) de grandes heróis. Uma delas é a repetição, que ajuda à memorização e é também uma técnica usada para se ir «ganhando tempo» enquanto se prepara o que se vai dizer a seguir. Naturalmente que nesta adaptação, por uma questão de espaço e porque não são essenciais para a narrativa, as repetições foram muito encurtadas, mas não retiradas, não perdendo, portanto, esta obra, uma das características do seu original. Deixo um exemplo, quando Zeus pede a Apolo que retire o corpo do seu filho Sarpédon, morto na batalha (p.195): «Vai tu agora, ó filho amado, e limpa o negro sangue de Sarpédon; tira-o do meio dos dardos e depois leva-o para muito longe. Dá-lhe banho nas correntes do rio e unge-o com ambrósia; veste-o com roupas imortais. Entrega-o a dois pressurosos

portadores para o levarem, Sono e Morte, dois irmãos, eles que rapidamente o porão na terra fértil da ampla Lícia, onde seus irmãos e parentes lhe prestarão honras fúnebres, com sepultura e estela: pois essa é a honra devida aos mortos. Assim falou; e a seu pai não desobedeceu Apolo. Desceu das montanhas do Ida para o fragor tremendo da batalha e de imediato levantou Sarpédon do meio dos dardos. Levou-o para muito longe e deu-lhe banho nas correntes do rio; ungiu-o com ambrósia e vestiu-lhe roupas imortais. Entregou-o a dois pressurosos portadores para o levarem, Sono e Morte, dois irmãos, eles que rapidamente o puseram na terra fértil da ampla Lícia». Símiles e hospitalidade Um dos elementos mais inte-

“PRESÉPIOS” Até 6 JAN | Edifício do Atlético – Loulé Exposição que integra a Colecção de Anabela Guerreiro, bem como os participantes no II Concurso de Presépios do Concelho de Loulé. Os presépios expostos inserem-se em duas modalidades: o Presépio Tradicional Português e o Presépio Tradicional do Algarve

ressantes da Ilíada é a abundância de símiles, uma espécie de comparação que nos leva para referências do quotidiano, para melhor compreendermos a realidade que nos é apresentada. Também estes Frederico Lourenço não descurou, incluindo o símile mais famoso, que compara a geração dos homens às folhas das árvores. Curiosamente, quando li a Ilíada pela primeira vez, aos quinze anos, o episódio em que ele surge foi o que mais me impressionou: o encontro entre os heróis Diomedes e Glauco, que lutavam, respetivamente, um pelos Gregos e o outro pelos Troianos, e que, por razões de amizade familiar, desistem de lutar um com o outro. Mais tarde, ao estudar estes assuntos, aprendi que as leis da hospitalidade eram invioláveis: uma vez hóspede, para sempre ligado. Conta-se, então, assim, nesta versão para jovens, onde o essencial

não se perde (pp.94-95): «o primeiro a falar foi Diomedes: - Quem és tu? Pois nunca antes te vi. Agora sais muito à frente de todos os outros na tua audácia e aguardas a minha lança de longa sombra. Filhos de infelizes são os que se opõem à minha força. Porém Glauco sabia quem era o guerreiro que lhe dirigira a palavra, e assim lhe disse: - Diomedes, porque queres saber da minha linhagem? Assim como a linhagem das folhas, assim é a dos homens. Às folhas, atira-as o vento ao chão; mas a floresta no seu viço faz nascer outras, quando sobrevém a estação da primavera: assim nasce uma geração de homens e outra deixa de existir». Quando chegam à conclusão de que as linhagens estão ligadas e que, portanto, são amigos, Diomedes propõe:

«Evitemos pois a lança um do outro. Há muitos Troianos para eu matar; e Gregos não faltam para se opor à tua lança. Quanto a nós, troquemos agora as nossas armaduras, para que até estes aqui saibam que somos há várias gerações amigos um do outro». Foi um prazer ler este livro. A linguagem não está infantilizada, o que irritaria, certamente, muitos jovens – e muitos de nós – , e mantém, como disse, as características principais da versão original: os deuses e heróis são apelidados pelos seus epítetos mais conhecidos (Ulisses de mil ardis; Hermes, o Auxiliador; Tétis, a deusa dos pés prateados; Posídon, Sacudidor da Terra; Apolo, Senhor do Arco de Prata, etc.); a estrutura frásica mantém-se próxima do original, isto é, a simplificação não foi feita à custa de uma alteração do texto. Mantém-se, por exemplo, o tratamento por «vós» (que aplaudo, numa época em que as gramáticas de Português para estrangeiros eliminam a segunda pessoa do plural de todos os verbos) e uma tendência, nos momentos mais solenes, de pôr o verbo no fim (diz Aquiles, por causa da morte do seu amigo Pátroclo: «- Que eu morra logo de seguida, visto que auxílio não prestei ao companheiro quando foi morto; longe da sua pátria morreu» - p-206). E não faltam episódios famosos, como o da descrição do escudo de Aquiles, forjado por Hefesto. No Posfácio (pp. 297-300), Frederico Lourenço explica como, apesar de «a possibilidade de uma vida feliz» parecer «posta em causa», a Ilíada «propõe uma circunstância redentora para a vida humana: levarmos os nossos objetivos até ao fim, custe o que custar, doa a quem doer, e nunca abdicarmos do bem supremo pelo qual devemos lutar com unhas e dentes (ou melhor dizendo, lanças e espadas): a nossa própria autoestima». Uma leitura para todos. E, já agora, aproveite e leia também a Odisseia.

“PINTURA DE PEDRO ESPANHOL” Até 15 JAN | Antigos Paços do Concelho de Lagos O artista já fez várias exposições colectivas e individuais. Tem participado em vários projectos, públicos e privados, no âmbito das Artes Visuais. Está representado em várias colecções. Vive no Barreiro onde tem atelier e é professor de Artes Visuais


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Na senda da Cultura

Cartório Notarial em Tavira Bruno Filipe Torres Marcos NOTÁRIO

‘Nova Águia’ em pleno voo a sul

Extrato de Escritura de Justificação CERTIFICO, para efeitos de publicação, nos termos do artigo 100.º do Código do Notariado que, por escritura pública de Justificação outorgada em dezoito de Novembro de dois mil e catorze, exarada a folhas cinquenta e três e seguintes do Livro de notas para escrituras diversas número Cinquenta e quatro – A, do Cartório Notarial em Tavira, do Notário privado Bruno Filipe Torres Marcos, sito na Rua da Silva, n.º 17-A: A) Maria Natália Garcias, viúva, natural da freguesia de Tavira (Santa Maria), concelho de Tavira, residente no Sítio das Solteiras, caixa postal 609-Z, em Conceição de Tavira, contribuinte fiscal número 136518141, titular do cartão de cidadão número 08617604 8ZZ0, válido até 13.11.2017; d.r.

O novo número da Revista Nova Águia, dedicado à Mensagem de Fernando Pessoa, precisamente oitenta anos após a sua publicação, está a ser apresentado por toda a região. De acordo com Renato Epifânio e Maria Luísa Francisco, respectivamente director e vice-directora da publicação, a Mensagem continua a ser interpelante para quem insiste em preocupar-se com os destinos históricos de Portugal. Os responsáveis consideram que este número da Nova Águia comprova isso mesmo, pois sob as mais plurais perspectivas – desde as mais esotéricas e espiritualistas até às mais culturalistas e geopolíticas –, a Mensagem foi, sobretudo, um excelso pretexto para repensarmos o futuro de Portugal e, mais amplamente, de toda a Comunidade Lusófona, mesmo sabendo que nunca chegará “a hora”, uma vez que, ainda e sempre, haverá futuro a construir. “Porque não há futuro sem passado, articulámos essa plural reflexão em torno da Mensagem com a celebração da própria língua portuguesa – na data, esta menos precisa, dos seus oito séculos. Também aqui o testamento de D. Afonso II, datado de 27 de Junho de 1214, tido como o primeiro documento redigido em língua portuguesa, foi sobretudo um pretexto para reforçarmos essa consciência histórica – não só dessa nossa língua comum a todos os lusófonos, como, mais ampla e profundamente, do que lhe subjaz: uma singular forma, por mais que plural e polifónica, de ver e viver o mundo”. Para os rostos por detrás da Nova Águia, como se trata de uma revista não só de ensaio e poesia, mas também de intervenção na sociedade, este número tem intervenções dos representantes das várias associações lusófonas da sociedade civil que participaram no II Congresso da Cidadania Lusófona, coordenado pelo Movimento Internacional Lusófono (MIL)

B) José Aníbal Garcia Neto e mulher Maria Madeira Vargues Pereira Neto, naturais ele da freguesia de Tavira (Santa Maria), concelho de Tavira, e ela da freguesia de Santa Bárbara de Nexe, concelho de Faro, casados sob o regime da comunhão geral de bens, residentes no Sítio das Solteiras, caixa postal 609-Z, 8800-052 Conceição de Tavira, contribuintes fiscais números 177555130 e 177555122, titulares dos respectivos bilhetes de identidade números 4728822, emitido a 23.04.2007, e 2139989, emitido a 09.03.2006, ambos pelos SIC de Faro, declararam: - Que são donos e legítimos possuidores, em comum e sem determinação de parte ou direito, com exclusão de outrem, dos seguintes prédios rústicos, sitos na actual freguesia da União das Freguesias de Tavira (Santa Maria e Santiago), com origem na freguesia de Tavira (Santa Maria), do concelho de Tavira, não descritos na Conservatória do Registo Predial de Tavira: Verba Um: prédio rústico composto por terra de cultura, com a área de dois mil e quatrocentos metros quadrados, sito em Serro do Coelho, que confronta a norte com José Sebastião, a sul e poente com António Domingos e Outro e a nascente com António Domingos, inscrito na matriz sob o artigo 543 (com proveniência no artigo 524 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 27,26 €, igual ao atribuído; Verba Dois: prédio rústico composto por terra de pastagem e duas alfarrobeiras, com a área de quatrocentos metros quadrados, sito em Rocha dos Corvos, que confronta a norte com Custódio Bento, a sul e nascente com João Caçapo e poente com Ribeiro, inscrito na matriz sob o artigo 523 (com proveniência no artigo 504 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 71,86 €, igual ao atribuído; Verba Três: prédio rústico composto por terra de cultura e uma Alfarrobeira, com a área de mil e quinhentos metros quadrados, sito em Serro do Coelho, que confronta a norte com José Joaquim Rodrigues Neto, a Sul com Silvério Garcia, a nascente e poente com Manuel Domingos Martins, inscrito na matriz sob o artigo 569 (com proveniência no artigo 550 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 51,68 €, igual ao atribuído;

Renato Epifânio e Maria Luísa Francisco e pela Sphaera Mundi: Museu do Mundo, no âmbito da Plataforma de Associações da Sociedade Civil (PASC), decorrido na Sociedade de Geografia de Lisboa, a 16 de Abril deste ano. Um Fórum que consideram fundamental, precisamente, porque procurou defender e difundir essa consciência histórica e, a partir daí, prefigurar as “prioridades na cooperação lusófona”. Assim, depois de iniciarem as apresentações da Revista no Algarve a 7 de Novembro, irão continuar as sessões de apresentação a 28 Novembro na Universidade

do Algarve (Biblioteca em Gambelas) pelas 15 horas; na Biblioteca de Vila Real de Santo António pelas 18.30; e nessa noite ainda, em Tavira, na Casa Álvaro Campos pelas 21.30 horas. Depois de dia 2 de Dezembro, em Évora e Beja, as apresentações da Nova Águia regressam ao Algarve a 3 de Dezembro, na Biblioteca de São Brás Alportel pelas 16 horas, e na Biblioteca de Loulé pelas 18.30. Em Janeiro haverá mais apresentações, nas quais a revista pode ser adquirida, tal como nas FNACs e Livrarias Bertrand.

Verba Quatro: prédio rústico composto por terra de cultura, com a área de cento e oitenta metros quadrados, sito em Alqueivinhos, que confronta a norte e sul com José Joaquim Rodrigues Neto, a nascente com João da Ascenção Santos e a poente com Ribeiro, inscrito na matriz sob o artigo 503 (com proveniência no artigo 483 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 12,98 €, igual ao atribuído; Verba Cinco: prédio rústico composto por terra de cultura, pastagem , uma alfarrobeira, uma oliveira, três azinheiras, com a área de sete mil e seiscentos metros quadrados, sito em Alqueivinhos, que confronta a norte com José Joaquim Rodrigues Neto, a sul com Silvério Garcia, a nascente com José Sebastião e outros e a poente com Custódio Bento, inscrito na matriz sob o artigo 490 (com proveniência no artigo 468 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 96,29 €, igual ao atribuído; Verba Seis: prédio rústico composto por terra de cultura e uma oliveira, com a área de cento e oitenta metros quadrados, sito em Alqueivinhos, que confronta a norte com Custódio Bento, a sul com José Joaquim Rodrigues Neto e a poente com Ribeiro, inscrito na matriz sob o artigo 505 (com proveniência no artigo 485 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 50,37 €, igual ao atribuído; Verba Sete: prédio rústico composto por terra de pastagem e horta com seis citrinos, com a área de mil oitocentos e oitenta metros quadrados, sito em Alqueivinhos, que confronta a norte com Manuel António Dias, a sul com Custódio Bento, a Nascente com José Joaquim Rodrigues Neto e a poente com Ribeiro, inscrito na matriz sob o artigo 507 (com proveniência no artigo 487 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 119,30 €, igual ao atribuído; Verba Oito: prédio rústico composto por terra de pastagem, duas amendoeiras, cinco azinheiras, três figueiras, três alfarrobeiras, com a área de mil e duzentos metros quadrados, sito em Lendroeiro, que confronta a norte e poente com Manuel António Dias, a sul com Silvério Garcia e a nascente com José Joaquim Rodrigues Neto, inscrito na matriz sob o artigo 476 (com proveniência no artigo 453 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 132,16 €, igual ao atribuído; Verba Nove: prédio rústico composto por terra de pastagem, com a área de mil e duzentos metros quadrados, sito em Alqueivinhos, que confronta a norte com José Joaquim Rodrigues Neto, a sul e poente com Silvério Garcia e a nascente Manuel António Dias, inscrito na respectiva matriz sob o artigo 511 (com proveniência no artigo 491 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 4,37 €, igual ao atribuído; Verba Dez: prédio rústico composto por terra de pastagem, com a área de sete mil metros quadrados, sito em Rocha do Macho Fêmeo, que confronta a norte e poente com Manuel Cavaco, a sul com José Joaquim Rodrigues Neto e a nascente com José Domingos, inscrito na matriz sob o artigo 517 (com proveniência no artigo 498 da anterior freguesia), com o valor patrimonial tributário de 17,23 €, igual ao atribuído. - Que esses prédios, com a indicada composição e área, vieram à sua posse por dissolução da comunhão conjugal e sucessão hereditária por óbito de José Joaquim Rodrigues Neto, marido da primeira outorgante identificada em A) e filho do outorgante identificado em B), falecido em um de Março de dois mil e doze, tendo sido declarados seus únicos herdeiros, eles justificantes. - Que, por sua vez, o referido José Joaquim Rodrigues Neto e mulher, ela outorgante, Maria Natália Garcias, adquiriram aqueles prédios do seguinte modo: a) o identificado na verba UM, em data imprecisa do ano de mil novecentos e setenta e cinco, por compra meramente verbal e nunca reduzida a escritura pública, feita a José Caetano Fonseca, viúvo, já falecido, com a última residência habitual no Zimbral, em Santa Maria, Tavira; b) os identificados nas verbas DOIS e QUATRO em data imprecisa do ano de mil novecentos e oitenta, por compra meramente verbal feita a Vírginia Afonso, já falecida, residente que foi nas Quatro Estradas, Santo Estêvão, Tavira; c) os identificados nas verbas TRÊS, CINCO e SETE, em data imprecisa do ano de mil novecentos e três, por compra meramente verbal feita a João da Ascenção Santos ou João da Ascenção Santos Cruz, casado com Cândida da Piedade Gonçalves, já falecidos, residentes que foram em Cruz do Areal, Santa Margarida, Santiago, Tavira; d) os identificados nas verbas SEIS, OITO e NOVE, em data imprecisa do ano de mil novecentos e oitenta, por compra meramente verbal feita a Cândida da Conceição, casada com José Rodrigues ou José Rodrigues da Bodega, já falecidos, residentes na Asseca, Santa Maria, Tavira; e) e o identificado na verba DEZ, em data imprecisa do ano de mil novecentos e oitenta, por compra meramente verbal e nunca reduzida a escritura pública, feita a João da Ascenção Santos, já identificado, e a João Cassapo ou João da Conceição Neto e mulher Etelvina da Piedade Gonçalves, residentes que foram em Santa Margarida, Santiago, Tavira, já falecidos, com a última residência habitual no Sítio do Alto, em Luz de Tavira; - Que, assim, justificam os referidos imóveis, porquanto há mais de vinte anos, primeiro o casal José Joaquim Rodrigues Neto e Maria Natália Garcias, e depois eles, por sucessão na posse que aqueles já vinham exercendo, de forma pública, pacífica, contínua e de boa fé, ou seja, com o conhecimento de toda a gente, sem violência, nem oposição de ninguém, reiterada e ininterruptamente, na convicção de eles e os anteriores possuidores não lesarem quaisquer direitos de outrem e ainda convencidos de serem os únicos titulares do direito de propriedade destes imóveis, e assim o julgando as demais pessoas, eles, justificantes e os anteriores possuidores têm possuído aqueles prédios – cultivando-os, amanhando a terra, tratando das árvores, colhendo os respectivos frutos, nele pastando os animais, usufruindo dos seus rendimentos, suportando os encargos ou despesas com a sua manutenção –, pelo que, tendo em consideração as referidas características de tal posse, adquiriram por USUCAPIÃO os referidos imóveis, o que invocam. - Que são, por isso, donos e legítimos possuidores, em comum e sem determinação de parte ou direito, com exclusão de outrem, dos referidos imóveis. Tavira, 18 de Novembro de 2014. O Notário, Bruno Filipe Torres Marcos Acto registado sob o n.º 332/2014

A capa da revista Nova Águia

(POSTAL do ALGARVE, nº 1133, de 28 de Novembro de 2014)


28.11.2014  13

Cultura.Sul

Artes Visuais

Qual a importância do título numa obra artística? fotos: d.r.

Saul Neves de Jesus

Professor Catedrático da Universidade do Algarve; Pós-doutorado em Artes Visuais pela Universidade de Évora

Em 1917, Duchamp apresentou o trabalho “A fonte”, um urinol branco de porcelana, assinado com o pseudónimo R. Mutt, para uma Exposição da Sociedade para Artistas Independentes de Nova Iorque. No entanto, o presidente da direção da sociedade afirmou à imprensa que essa “não era uma obra de arte, sob qualquer definição”, embora sendo uma exposição aberta a todos os que quisessem participar, desde que pagassem seis dólares, o que Duchamp fez. Em defesa de Duchamp, na altura o artista Beatrice Wood escreveu um artigo de jornal, The Blind Man, salientando que pouco importava que Mr. Mutt tivesse feito “A Fonte” com as suas próprias mãos, pois o importante é que ele escolheu esse objeto (“He chose it”). Ele usou um objeto do dia-a-dia, tendo-o retirado do seu lugar habitual, fazendo com que o seu sentido inicial e utilidade desaparecessem e fosse criado um novo pensamento sobre esse objeto com base no novo título e situação em que se encontrava. Assim, embora não tenha tido uma intervenção manual no sentido de produzir um novo objeto, Duchamp selecionou um objeto já existente e criou um novo pensamento sobre este, podendo ser observado não como um vulgar urinol, mas como uma “fonte”, de acordo com o título dado a esta “obra”. Neste caso o título é essencial, pois direciona a percepção do observador para compreender a mensagem e o sentido do objeto apresentado pelo artista. Confome referiu Duchamp, “for me the title was very important. I wanted to put painting once again at the service of the mind (…) We think in words and images, not in paint” (Godfrey, 1998). No mesmo sentido, posicionam-se diversos autores contemporâneos, em particular Kosuth (1996), ao considerar que na base da arte concetual

A célebre ‘Fonte’ de Marcel Duchamp, que assinou a obra em 1917 sob o pseudónimo R. Mutt está o fato do artista trabalhar com significados e não com

formas, cores ou materiais, ou Cauquelin (2010), ao defender

‘Néctar’, Joana Vasconcelos, 2006

que “expor um objeto é dar-lhe um título, o título é uma cor”. Duchamp realizou vários readymade, como por exemplo expor um chaveiro na forma de garrafa (“Bottle rack”, 1914), o qual foi recreado por Maureen Connor em 1989 e também serviu de inspiração para o trabalho de Joana Vasconcelos colocado à entrada no CCB, em Lisboa. Assim sendo, “A fonte” de Duchamp não surge como um trabalho isolado, mas antes como um trabalho inserido numa originalidade e identidade que, de forma persistente, Duchamp desenvolveu, o que lhe permitiu fazer história, sendo, atualmente, a sua obra considerada uma das mais importantes na história de arte do século XX, pois influenciou vários movimentos de arte moderna e pós-moderna, em particular a arte conceptual, segundo a qual a ideia ou o conceito que se pretende transmitir é o mais importante na arte. Nesta perspetiva, a arte pode ser entendida como uma forma de comunicação, não tendo as obras de arte que

ser o produto das mãos do artista, ou esteticamente belas, ou emocionalmente profundas. Talvez não tenha muito sentido falar em readymade na atualidade, podendo objeto instalatório ser mais adequado. Em todo o caso, continuam a ser realizadas apresentações em que alguns objetos do quotidiano são levados para dentro de museus. Por exemplo, no trabalho “La visite guidée” (1994), Sophie Calle colocou um balde vermelho numa vítrine ao lado de peças arqueológicas, numa clara indicação de que os objetos que agora fazem parte do nosso dia-a-dia, um dia estarão ultrapassados e serão peças de museu. No entanto, não é o facto de estar dentro de um museu o critério que permita distinguir o que é arte daquilo que não é, porque senão como enquadraríamos o Movimento “Land Art”, surgido nos anos 60, caracterizado por intervenções no exterior que se tornam a própria obra de arte? Parece-nos que foi o facto de Duchamp ter sido persistente na sua originalidade e identi-

dade, desenvolvendo um percurso coerente, que permitiu aos seus trabalhos ganharem sentido na história de arte. Talvez o júri, do qual ele curiosamente fazia parte, tivesse razão quando não considerou “A fonte” como objeto de arte, no momento em que ela foi apresentada, mas é óbvio que atualmente qualquer crítico de arte pode afirmar com segurança que foi uma importante obra de arte, porque Duchamp foi persistente e coerente, criando contexto histórico para a apreciação da sua obra. É totalmente diferente de alguém se lembrar de apresentar um trabalho deste tipo numa exposição, nunca tendo feito nada antes, nem indo fazer a seguir. Por isso, tem pouco sentido o comentário de algumas pessoas quando olham para uma obra de arte: “eu também fazia isto”. A arte deve ser apreciada, não só olhando, mas procurando compreender o sentido e o contexto da sua realização. Assim, a consistência da produção original marca a identidade de um artista e faz com que os seus trabalhos possam ser considerados obras de arte. É a história ou o percurso de cada artista, a persistência e a consistência do seu trabalho, que pode permitir inferir a dimensão artística do mesmo. Tal como na ciência, o caso único diz pouco, sendo necessário realizar investigação junto de uma amostra de sujeitos para se poderem tirar conclusões generalizáveis. Também na arte parecem ser necessários vários trabalhos realizados pelo mesmo artista para poder ser avaliado o sentido da sua obra. Após analisar várias teorias de arte apresentadas durante o século XX, Warburton, no seu livro “O que é a arte?” (2007), considera que “todas as tentativas filosóficas recentes para definir arte têm sido até certo ponto inadequadas. Ninguém conseguiu ainda apresentar uma teoria convincente sobre o que é a arte. Assim sendo, Warburton específica a sua hipótese da seguinte forma: “é melhor restringir o papel da teorização acerca da definição de arte a casos particulares”. E termina o seu livro, concluindo que “a questão da arte faz sentido porque é formulada por pessoas interessadas em obras de arte e não apenas na ideia de arte. Em última análise, temos de regressar às próprias obras”.


14 28.11.2014

Cultura.Sul

A Direção Regional de Cultura do Algarve no apoio à edição

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d.r.

No próximo ano as edições apoiadas passarão a ter também formato digital Nos termos da sua lei orgânica, a Direção Regional de Cultura do Algarve tem capacidade editorial própria e no âmbito dos apoios à Ação Cultural desenvolve, desde 2014, um Programa de Apoio à Edição de Obras Temáticas sobre o Algarve, cujas candidaturas são enquadradas por regulamento específico e apresentadas em formulário próprio, até 30 de Outubro (consultar http://www.cultalg.pt/Prog_ Apoio/). O objeto deste Programa é a produção de obras inéditas que desenvolvam temáticas referentes ao Algarve e que contribuam para promover e divulgar o conhecimento sobre as especificidades da sua história e a sua identidade cultural. Não são aceites, no âmbito do Programa, obras já editadas, ou produzidas, exceto se a reedição for aumentada, em termos de texto com conteúdos ou críticas O apoio é de carácter financeiro e a fundo perdido, sendo atribuído mediante um processo de avaliação das candidaturas no âmbito de uma Comissão Consultiva para a Edição, designada para o efeito e composta de personalidades com relevo cultural e profissional (atualmente Adriana Nogueira, Alexandra Gonçalves, Augusto Miranda, Carlos Campaniço, Natércia

Magalhães, Paulo Teixeira Pinto, Raquel Correia e Virgínia Alpestana). Para efeitos de avaliação das candidaturas estão definidos os seguintes critérios: a) Curriculum Vitae do autor ou autores (formação e obra anteriormente editada); b) Qualidade literária, criativa ou científica da obra em análise; c) Atualidade e relevância da obra para a difusão da cultura algarvia; d) Singularidade da temática na investigação e contexto regional e local; e) Importância relativa da edição ou da produção no território do Algarve. f) Prioridades estratégicas definidas pela Comissão Consultiva para a Edição contextualmente em função dos destinatários; g) Existência de parcerias e financiamentos complementares devidamente quantificados. Em 2014, candidataram-se ao programa dez obras e foram apoiadas, após parecer da Comissão Consultiva para a Edição, as seguintes: A Chegada do Comboio ao Algarve, de Aurélio Nuno Cabrita, e Os Lugares da Conquista de Silves aos Mouros, de Rogélio Mena Gomes, da Casa do Algarve em Lisboa; O Mar ao Fundo (CD), produção de Bons Ofícios; 200 Plantas do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina - Guia de Campo, de Ana Luísa Simões e Ana Carla Cabrita; Pousada de S. Brás de Alportel (1944-2014),

produção da Casa da Cultura António Bentes do Museu do Trajo (Misericórdia de São Brás de Alportel); Realizações e Utopias: O Património Arquitectónico e Artístico das Caldas de Monchique na Cenografia da Paisagem Termal, de Ana Pinto. De entre as obras candidatadas, a Comissão considerou que o trabalho História, Tradição e Oralidade no Algarve - Lendas e outras Memórias de Monchique, de Cláudia Diogo (a partir da dissertação de mestrado da autora mas revista com a finalidade de atingir um público não exclusivamente académico), poderia ser uma edição assumida pela Direção Regional de Cultura do Algarve, no âmbito de uma nova linha editorial. A autora assumiu o desafio e a obra será disponibilizada, em inícios de 2015, com apresentações pública previstas na FNAC de Faro e em Monchique. Em 2015, as edições da responsabilidade da Direção Regional de Cultura do Algarve, paralelamente à edição tradicional, em livro, passarão a ter igualmente formato digital para uma maior disponibilização espacial e temporal, usando a Amazon, a iBook Store (da Apple) e a Kobo (em Portugal representada pela FNAC). Direção Regional de Cultura do Algarve

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