A equipa do Postal do Algarve deseja um Feliz Natal e um Próspero 2020 a todos os leitores, clientes e amigos
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Artistas de Tavira trabalham vida e obra de Álvaro de Campos P.8
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Fuza Flowz: banda de jovens algarvios com projeto genuíno P.18
DISTRIBUÍDO COM O EXPRESSO VENDA INTERDITA Diretor Henrique Dias Freire • Ano XXXII Edição 1235 • Quinzenário à sexta-feira 13 de dezembro de 2019 • Preço 1,50€
postaldoalgarve 129.901
CIGANA DOS SETE OFÍCIOS
••• REGIÃO
Há um estúdio em Lagoa onde os animais são as estrelas P.22 e 23
CÁTIA MONTES, TRABALHADORAESTUDANTE, BOMBEIRA, ATIVISTA E VOLUNTÁRIA P.4 e 5
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••• OPINIÃO
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Município de Tavira Edital n.º 67/2019
Ana Paula Fernandes Martins, Presidente da Câmara Municipal de Tavira
Redação: Rua Dr. Silvestre Falcão, 13 C 8800-412 Tavira - ALGARVE Tel: 281 320 900 Fax: 281 023 031 E-mail: jornalpostal@gmail.com Online: www.postal.pt FB: facebook.com/postaldoalgarve FB: facebook.com/ cultura.sulpostaldoalgarve Issuu: issuu.com/postaldoalgarve Twitter: twitter.com/postaldoalgarve Diretor: Henrique Dias Freire Diretora executiva: Ana Pinto Redação: Ana Pinto (CO-721 A) Cristina Mendonça (CP 3258) Henrique Dias Freire (2207 A) Stefanie Palma (TP-583 A) Design: Bruno Ferreira Colaboradores: Afonso Freire, Alexandra Freire, Alexandre Moura, Beja Santos (defesa do consumidor) Colaboradores fotográficos e de vídeo: Luís Silva / Miguel Pires / Rui Pimentel Departamento comercial, publicidade e assinaturas: Anabela Gonçalves, Helena Gaudêncio José Francisco Propriedade do título: Henrique Manuel Dias Freire (mais de 5% do capital social) Edição: Postal do Algarve - Publicações e Editores, Lda. Centro de Negócios e Incubadora Level Up, 1 8800-399 Tavira Contribuinte: nº 502 597 917 Depósito Legal: nº 20779/88. Registo do título (DGCS): ERC nº 111 613 Impressão: Coraze Distribuição: Banca - Logista, ao sábado com o Expresso/ VASP - Sociedade de Transportes e Distribuição, Lda e CTT Estatuto editorial disponível: www.postal.pt/quem-somo
Ana Amorim Dias
Henrique Dentinho
Escritora anamorimdias@gmail.com
Artista Plástico
Quantos se endividam por um símbolo na mala, no cinto ou no casaco?
Espionagem
- A sério que não conheces? - Não, estou a dizer-te que nunca ouvi falar em tal marca! - Mas como é que é possível que não conheças a Off White? O espanto dela, em alta voz, soava quase tão intenso como a minha silenciosa pergunta: “Mas quem é que quer saber de marcas caras? Quem? E porquê?” O João, ao meu lado no carro, pesquisou no Google e foi-me mencionando os exorbitantes preços das roupitas que um qualquer designer de griffe se lembrou de inventar para vender sob a sua própria marca. O episódio passou mas eu fiquei a pensar no embuste. Quantos vivem a aspirar ter um qualquer objecto, produzido por cinco e vendido a três mil? Quantos se endividam por um símbolo na mala, no cinto ou no casaco? Como é que alguns espertalhões, à conta da fraqueza mental de tantos, conseguem sobrevalorizar tão desmesuradamente objectos cuja beleza é, muitas vezes, tão duvidosa? E já agora, que prestígio trará a alguém, vestir-se com peças que, de tão conhecidas que são, se tornam sumamente monótonas, replicáveis e dúbias? Penso que, para andarmos a hastear marcas, nos deveriam pagar. Era o mínimo... Claro que há excepções, daquelas que não se vestem e cujo ronronar dos motores nos revelam a marca muito antes de olharmos sequer para o objecto... possuir uma dessas legitima-se pela satisfação de introduzirmos na nossa vida um prolongamento exterior do carácter. Por isso este é outro assunto. Mas quanto a símbolos na roupa creio que, por mais anos que me passem, nunca saberei entender por que é que tanta gente não percebe que uma marca não é o sinónimo da qualidade e carisma do objecto. Ou por que há tantas vítimas de uma falta de gosto endémica e de assaltos que não só lhes defraudam os bolsos como lhes passam atestados de inanimação por gastarem demais para usar algo de que só “gostam” pelo status que pensam ganhar com isso.
Apareceu a LIBERDADE, em que muitos falam na vida publica, com a mão na boca, recordando as tecnologias, mais devassas, traduzindo as amarguras. O mundo encolheu. Os seres humanos buscam dinheiro, e, sempre mais dinheiro, sem conseguirem empanturrar-se. Alimentam o EU com muita vaidade. Um Zé começou a escrever livros, embora o seu passado tivesse sido muito nebuloso. Um livro deixou de ser um valor de cultura para ser um mostruário dessa vaidade, uma sociedade que se apaga como um giz, num quadro preto. A liberdade entrou na devassa dando um pontapé no RESPEITO, nos chamados PRINCÍPIOS, porque isso é do PASSADO. A tecnologia empurra a espionagem a nível pessoal e mundial. Os países espreitam-se, rebuscando a motivação para artilharem atomicamente. Desenvolve-se assim a alegria, agarrando os botõezinhos na informação compoturizada. O MUNDO comandado pelo homem vive neste fingimento, na esperança de que as ÁRVORES CRESÇAM ATÉ AO CÉU.
Paços do Concelho, 20 de novembro de 2019 A Presidente da Câmara Municipal, Ana Paula Martins (POSTAL do ALGARVE, nº 1235, 13 de Dezembro de 2019)
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ANÚNCIO DE DIREITO DE PREFERÊNCIA Maria Graciete Fernandes Domingos, residente na Rua do Apeadeiro 19, 8800-339 Tavira, faz saber a quem interessar que na qualidade de proprietária e legítima possuidora de um prédio rústico sito em Courela da Vermelhinha, composto de cultura arvense e mato, com a área de 8560 metros quadrados, descrito na Conservatória do Registo Predial de Vila Real de Santo António sob o nº 665, de 16.06.1988 e descrito na matriz predial rústica da Freguesia de Vila Nova de Cacela sob o Artigo 203º., irá proceder à venda do mesmo, sendo a escritura notarial de compra e venda, a celebrar no dia 30 de Dezembro de 2019, no Cartório Notarial a cargo do Dr. Bruno Marcos sito na Rua da Silva 17-A, 8800331 Tavira, e foi acordado para a venda do supra referido prédio a quantia total de € 9.000,00 (nove mil euros). Desta forma se faz saber aos confinantes do referido prédio rústico que podem exercer o Direito de Preferência na compra no prazo de 8 (oito) dias para a morada da anunciante supra mencionada, sob pena de caducidade do direito.
Tiragem desta edição:
6.785 exemplares
TORNA PÚBLICO, que nos termos do n.º1 do artigo 56.º do anexo I à Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro, em reunião ordinária de Câmara Municipal, realizada no dia 20 de novembro de 2019, foram tomadas as seguintes deliberações: 1. Aprovada por maioria a proposta número 258/2019/CM, referente à 12.ª Alteração ao Orçamento e às Grandes Opções do Plano/2019; 2. Aprovada por unanimidade a proposta número 259/2019/CM, referente à Atribuição de apoio à Assembleia das Testemunhas de Jeová; 3. Aprovada por unanimidade a proposta número 260/2019/CM, referente à Atribuição de Apoio à Associação para o Desenvolvimento Integrado da Baixa de Tavira - UAC Tavira - iniciativas de Natal; 4. Aprovada por unanimidade a proposta número 261/2019/CM, referente à Atribuição de apoio financeiro a estabelecimentos de ensino de Tavira - Desfile de Carnaval de 2020; 5. Aprovada por unanimidade a proposta número 262/2019/CM, referente à Atribuição de apoio Freguesia de Santa Luzia - Vila Natal 2019; 6. Aprovada por unanimidade a proposta número 263/2019/CM, referente à Atribuição de apoio à Ser Igual - Associação de Serviços Especiais de Reabilitação e Igualdade – Concerto solidário para comemoração do 2.º aniversário; 7. Aprovada por unanimidade a proposta número 264/2019/CM, referente à Atribuição de apoio à CI - AMAL - Comunidade Intermunicipal do Algarve - comparticipação da contrapartida nacional da candidatura Estudo para a implementação de transporte flexível no Algarve; 8. Aprovada por unanimidade a proposta número 265/2019/CM, referente à Atribuição de apoio à Associação ALDEIA - Centro de Recuperação e Investigação de Animais Selvagens Ria Formosa (Centro RIAS) – 2019; 9. Aprovada por maioria a proposta número 267/2019/CM, referente ao Imposto Municipal sobre Imóveis (IMI); 10. Aprovada por maioria a proposta número 269/2019/CM, referente a Participação variável no IRS; 11. Aprovada por maioria a proposta número 271/2019/CM, referente a Derrama; 12. Aprovada por unanimidade a proposta número 272/2019/ CM, referente a Taxa Municipal de Direitos de Passagem (TMDP); 13. Aprovada por maioria a proposta número 273/2019/CM, referente ao Processo disciplinar n.º 02/2019 – Decisão; 14. Aprovada por unanimidade a proposta número 274/2019/ CM, referente a Nomeação de representantes para a Assembleia Geral da Associação para o Desenvolvimento Integrado da Baixa de Tavira - UAC Tavira; 15. Aprovada por maioria a proposta número 275/2019/CM, referente a Revogação do Plano de Urbanização de Conceição/ Cabanas, por substituição da proposta n.º 256/2019/CM. Para constar e produzir efeitos legais se publica o presente Edital e outros de igual teor que vão ser afixados nos lugares públicos de costume.
Tavira, 13 de Dezembro de 2019 (POSTAL do ALGARVE, nº 1235, 13 de Dezembro de 2019)
FELIZ NATAL E BOM ANO A TODOS OS NOSSOS CLIENTES
Rua Bg. António Pedro de Brito, nº 3 - Tavira (junto à EN125)
Tel. 281 324 467 Parque de estacionamento privativo
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Cátia Montes: a cigana algarv Stafanie Palma / Henrique Dias Freire
fotos d.r.
stefanie.palma.postal@gmail.com
Cátia Montes tem 33 anos, é de etnia cigana e é a mulher dos sete ofícios. A jovem é trabalhadora-estudante, ativista, voluntária em vários contextos e ainda bombeira voluntária em São Brás de Alportel. “Nasci em Faro, mas depois vim logo para São Brás de Alportel e, portanto, sou praticamente nascida e criada cá”, começa por explicar em entrevista ao POSTAL. Cátia Montes é licenciada em Educação Social. “Fora da licenciatura, a título informal, tenho tido várias experiências como ativista e outras formações que têm a ver com os direitos humanos e também com o voluntariado”, explica. Como ativista, a jovem defende os direitos humanos, em primeiro lugar e depois a vertente dos direitos das comunidades ciganas. “Eu sempre quis estudar, sempre tive vontade disso. Tive professores e colegas ao longo da minha formação que sempre me incentivaram e me disseram que eu era muito inteligente, muito boa aluna e que era bom que continuasse e, então, sempre guardei esse bichinho em mim, de que um dia poderia ingressar na Universidade”, afirma Cátia Montes. A jovem confessou ao POSTAL que “no início os meus pais acharam um bocadinho estranho. Sou a primeira na família de gerações e gerações que entra na Universidade e conclui um curso superior, no entanto, agora que viram que consegui e que é uma coisa que me deixa muito feliz, também ficam muito contentes por mim”. “Reconheço que o ser de etnia cigana não é o problema, pois todos nós estudamos. Eu acho que por vezes o que acontece é que existem situações em que a escola não está tão bem adaptada para receber alunos da comunidade cigana e depois não sabem cativá-los”, defende a ativista. “A comunidade cigana é diferente e os miúdos têm capacidades cognitivas para poder mais e às vezes não são tão estimulados”, afirma. A jovem reconhece que muitas vezes as crianças acabam por se desmotivar. “É fácil perceber o porquê: quando se vem de uma família onde não há tanto sucesso escolar, as crianças começam a pensar que ‘também não vão conseguir’ e muitas vezes perdem-se pelo caminho”, defende.
Cátia Montes é trabalhadora-estudante, ativista e voluntária em vários contextos
"Seja onde for que a vida me leve, irei sempre levar as minhas raízes porque sem elas eu não estaria cá" “A minha inspiração vem da resistência” Cátia Montes afirmou ao POSTAL que cada dia se inspira numa coisa diferente: “há pessoas que passam na nossa vida e que nos marcam, sem dúvida, mas acho que cada dia vou buscar força e inspiração a coisas diferentes. Uma delas é olhar para a sociedade e ver o estado em que ela está”.
“Toda a gente diz que “não é racista… Mas”, “Eu não sou racista, mas…” E esse “mas” já significa muito”. A são brasense afirma que “sendo de uma comunidade que é muito afetada, sinto por obrigação que tenho de resistir. Eu acho que a minha inspiração é essa: vem da resistência que se tem de ter perante as adversidades da vida”. “Existem coisas muito simples como, por exemplo, o facto de ires a um
supermercado e teres um segurança a olhar para ti de lado. Não parece nada de especial, mas para quem sente é complicado”, explica. Cátia Montes revelou ao POSTAL que tem muito orgulho em pertencer à etnia cigana. “Desde pequenina existe uma coisa que eu digo sempre: seja onde for que a vida me leve, irei sempre levar as minhas raízes porque sem elas eu não estaria cá”. “Quem não conhece as suas raízes e
não se orgulha delas, não sabe quem é. A pessoa tem de ter consciência de onde veio para saber quem é”, realça. “Tudo aquilo que os meus pais me ensinaram passa por ser cigana e não vejo qualquer problema em sê-lo. Acho que a comunidade cigana e a sociedade maioritária é que têm de aprender a aceitar as diferenças, que afinal, não são assim tantas”, complementa. A ativista defende que “os valores são os mesmos, pois falando no contexto português, os valores transmitidos são mais ou menos iguais. O que pode acontecer é que são priorizados mais uns do que outros. Os ciganos têm reações, sentimentos e costumes como todas as outras pessoas”. A jovem reforça que os valores que estão mais vincados na sua forma de ser são “o respeito pelos mais velhos, a ligação à família, o proteger as crianças, a união e a solidariedade entre a comunidade”. O POSTAL perguntou a Cátia Montes o que a levou a ter uma vida tão diferente da restante comunidade cigana. A jovem respondeu que “aí tudo depende do que poderemos achar diferente. Não acho que a minha vida seja assim tão diferente porque as comunidades ciganas não são homogéneas, todas elas são heterógenas”. “As comunidades dependem do sítio onde estão inseridas, das condições económicas e sociais. Nós temos pilares que nos unem como ciganos, mas depois cada um, dependente da região, tem a sua forma de viver e de lidar. A minha comunidade de São Brás Alportel não tem uma vida tão diferente quanto isso. Pode não estar tão avançada a nível académico, mas não acho que seja assim tão diferente da sociedade maioritária que vive em São Brás de Alportel”, explica. Cátia Montes defende que “se falarmos naquele estereótipo de que os ciganos não trabalham nem estudam, podem achar que sou diferente, mas a realidade não é bem assim. Há muitos ciganos que trabalham e também há muitos que escondem que são ciganos para poderem arranjar um trabalho e também há muitos que estudam”. “O que eu acho é que quando existe uma notícia má é apontado o dedo e é rapidamente espalhado, em detrimento das boas que não são tão faladas e depois por muito bons exemplos que existam a sociedade não olha ainda para os ciganos como pessoas válidas e normais”, afirma. A ativista defende que “é estando presente nos sítios que se faz a diferença. Acho que ser ativista de Facebook não muda nada. É estando
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via dos sete ofícios tia a necessidade de me sentir útil, sentia a necessidade de contribuir, de fazer alguma coisa. O meu pai já tinha sido bombeiro também há muitos anos. Às vezes 24 horas não chegam para tudo, mas tento conciliar todas as vertentes, de modo a conseguir estar presente em todos os momentos importantes”, recorda. A jovem cigana algarvia falou dos sonhos futuros
A jovem cigana é bombeira voluntária há oito anos nos locais que a minha voz é ouvida. É nos espaços académicos, no voluntariado em vários contextos, nas palestras onde sou convidada que posso dar a minha opinião”. Cátia quer ajudar a desmistificar e desconstruir preconceitos “Decidi tirar educação social porque podia estudar à noite, enquanto trabalhava de dia. Para mim era impensável deixar de trabalhar para me dedicar inteiramente aos estudos porque não tinha essa capacidade financeira”, afirma a jovem. Cátia Montes refere que “esta escolha teve também a ver um bocadinho com a minha etnia porque eu também queria ajudar a desmistificar estereótipos e preconceitos que existem com a comunidade e achei que fazia todo o sentido entrar na área social”.
“No início, os meus colegas e professores não sabiam que eu era de etnia cigana, mas depois acabei por dizer-lhes e acabou por ser uma surpresa para todos porque em muitos e muitos anos de vida eu fui a primeira cigana que eles viram a frequentar aquele curso. Tive colegas e professores fantásticos no curso de Educação Social, na Universidade do Algarve”, afirma. A jovem frequenta o mestrado na mesma área. “Escolhi Educação Social porque esta é uma área virada para a transformação social, para a mudança, para mexer nas estruturas e como eu pretendo em cada intervenção provocar mudança nas pessoas, decidi aprofundar os meus conhecimentos dentro dessas temáticas”. Cátia Montes é ainda bombeira voluntária há oito anos. “Surgiu uma parte da minha vida em que eu sen-
“Em primeiro lugar gostava de ter uma carreira na minha área. “É óbvio que gostava de entrar na área da educação social e poder participar em projetos e ações. Gostava de mais tarde olhar para trás e sentir que a minha ajuda fez sentido, tanto para mim quanto para as pessoas com quem me cruzei”. A jovem esclarece que não pretende trabalhar apenas com a comunidade cigana no decorrer da sua atividade profissional. “Gostava de trabalhar com outras vertentes na área social, nomeadamente, com crianças e jovens em risco, pois sempre foi uma área que me cativou imenso”. “Outro dos meus sonhos é que o ativismo resulte e que as pessoas tenham uma visão diferente. Gostava que mais pessoas seguissem o caminho que quisessem. Eu não pretendo ser o exemplo, não gosto muito dessa palavra, mas pretendo que as pessoas entendam que há outros caminhos e que se os quiserem seguir, existe sempre essa possibilidade”, defende. A jovem tem consciência de que este é um trabalho que tem de ser feito nos dois lados: na comunidade cigana e na comunidade não cigana. “Acho que têm de ser dadas oportunidades para que exista intercâmbio, para que as pessoas se relacionem e, acima de tudo, isto tem de passar por atitudes políticas, pois o racismo é uma coisa estrutural e institucional, embora as pessoas digam que não”, realça. “O sistema está formatado de forma a excluir certos e determinados tipos de pessoas. Os mais vulneráveis estão nesse pacote e a comunidade cigana é um deles”, refere. Cátia Montes realça que “tem de haver uma restruturação a nível político na nossa sociedade e as próprias pessoas têm de entender que dizer: “Ah, eu não sou racista… Até tenho um amigo cigano, mas”, essa mentalidade tem de acabar. "As pessoas têm de deixar de olhar para os outros como ‘aqueles é que são os maus’ ”. Outro dos sonhos da jovem são brasense é melhorar a sua qualidade de
vida e ter melhores condições a nível ser isto ou aquilo e tu ficas ali presa. financeiro. Tu não acreditas porque estás con“Eu trabalhei muitos anos no super- dicionado. Infelizmente, há vários mercado e depois para conciliar a relatos que retratam esta realidade. reta final do curso, que era muito Por exemplo, tenho um amigo meu exigente devido ao estágio curricular que é cigano e umas das professoe ao relatório final, acabei por sair e ras da primária que ele teve virou-se encontrei trabalho numa empresa de para ele e disse: “não vale a pena eslimpezas, onde a senhora me aceitou tares com muita coisa, porque daqui com as minhas condicionantes horá- vais para as feiras”, recorda. rias”, revela. “Reconheço que, se calhar, a profes“No supermercado não conseguia sora o disse sem intenção, mas este conciliar porque os horários são rota- tipo de coisas marca completamente tivos. Mantenho-me nesta empresa a vida de uma criança”, defende. de limpezas até conseguir outra “Está na altura de mudar mentalicoisa. Nós temos de lutar pelos ob- dades e lutar por um lugar justo, um jetivos nas nossas vidas e, de vez em lugar que pertence a todos” e que quando, temos de trabalhar naqui- “qualquer um tenha oportunidade lo que há. de lá cheNão tenho gar sem ter vergonha de passar nenhuma pelo triplo de dizer das difique traculdades balho nas que uma limpezas, pessoa que que já traé cigana balhei no passa. Tem supermerde existir cado e até igualdade que já fui à de oporalfarroba”, tunidades confessa. e justiça A jovem social”, reareconhece firma. que “muiA jovem de tas vezes São Brás o fator defende querer que “nós não chega. temos de Cátia Montes acompanhada pelos pais Passei por ser avamuitas liados por situações onde estive a um fio de aquilo que somos e não por sermos não conseguir. O fator económico desta ou daquela etnia, credo ou refoi um deles, depois o fator laboral ligião, por exemplo. O meu ativismo também, porque não tinha horários é isto mesmo: levar a minha voz mais compatíveis”. longe e mostrar às pessoas que os Cátia Montes afirma que, por vezes, estereótipos não são aquilo que elas existem ainda barreiras psicológi- pensam”, conclui. cas: “os ciganos também acreditam nos próprios estereótipos que a sociedade cria e é preciso desconsBolos Artísticos | Casamentos truir isso”. “É como Baptizados | Fonte de Chocolate se fosses colocaBela Curral Telf. 289 882 339 do num Vivenda 6-A Tlm. 968 518 491 | 968 518 493 canto e 8005-418 Faro Email: beneditadias@sapo.pt te dissesGPS N 37. 02’ 53’’ W 7. 53’ 09’’ sem que só podes pub
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Agentes da região felicitam Rolear por quatro décadas de existência fotos d.r.
José Carlos Martins Rolo
A Rolear celebra este ano 40 anos e, para assinalar a data, vários foram os agentes da região que quiseram parabenizar o grupo. O POSTAL também se juntou às comemorações e publicou, na edição anterior, o testemunho de vários autarcas e outras
figuras de relevo no Algarve, que felicitaram a Rolear no seu 40º aniversário e a destacaram como um exemplo de empreendedorismo e inovação. Nesta edição, o POSTAL publica mais dois testemunhos alusivos às quatro décadas de existência do grupo.
Osvaldo dos Santos Gonçalves
Presidente da Câmara Municipal de Albufeira
Presidente da Câmara Municipal de Alcoutim
A história das empresas é também a história das regiões. A ROLEAR conseguiu ao longo destes 40 anos posicionar-se no mercado algarvio de uma forma crescente e diferenciada. A sua expansão interna e externa e o seu crescimento dentro de uma área científica falam bem do êxito e da maturidade desta estrutura que concorre para o engrandecimento económico algarvio. Sempre que se entra nos “…entas”, novos modelos se redesenham e isso tanto é para as pessoas como para as empresas. A ROLEAR, agora também no mercado digital, elemento presente no “Ciência Viva”, diz-nos que o tecido empresarial tem que acompanhar as vicissitudes, tem que se adaptar, tem que se recriar e tem que caminhar a par de uma sociedade Por esta postura exemplar, pelo emprego que tem gerado, pelo saber e pelo saber estar, valeram bem a pena estes 40 anos. Os meus parabéns!
Por ocasião da comemoração do aniversário da ROLEAR SA, quero endereçar os parabéns pelos 40 anos de crescente atividade, com um reconhecimento muito particular ao seu fundador, o Eng.º Parreira Afonso, que ao longo destas 4 décadas soube criar e fazer crescer, no Algarve e com expressão nacional, uma empresa que é uma referência nas áreas da inovação e do empreendedorismo. Votos de muito sucesso.
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Artistas locais de Tavira trabalham vida e obra de Álvaro de Campos fotos d.r.
Eduardo Pereira, Henrique Vicente, Lília Santos, Maria Pereira, Pedro Viegas, Samanta Sousa e Rita Silva participaram na vertente de teatro do projeto
Stafanie Palma / Henrique Dias Freire
stefanie.palma.postal@gmail.com
A Festa dos Anos de Álvaro de Campos é um projeto da Associação Partilha Alternativa que, em conjunto com várias associações artísticas, artistas individuais e empresários tavirenses, pretende reviver a obra de Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa. Tela Leão, presidente da Associação Partilha Alternativa, disse ao POSTAL que “nós nos propusemos desenvolver esta festa alargada a toda a cidade para celebrar Álvaro de Campos, heterónimo de Fernando Pessoa, nascido em Tavira a 15 de outubro de 1890. Este aniversário sempre foi celebrado pela Casa Álvaro de Campos, associação cultural que já tem mais de 30 anos e pela Armação do Artista, associação teatral criada em 2006, que todos os anos encena um poema para comemorar a data. Tela Leão recorda que, em 2014, organizou “a vinda de artistas brasileiros a Tavira: um poeta e um músico que trouxeram de presente a Tavira uma nova cancão para um poema de Álvaro de Campos”. No ano seguinte comemoravam-se os 125 anos do poeta. “Foi então que decidi fazer uma proposta e convidar mais artistas e escolas a participarem nesta Festa”, conta. Artistas tavirenses têm contribuído muito na criação artística Em 2016 e 2017 o projeto teve o apoio do 365 Algarve.
Tela Leão considera que “a criação local é o grande retorno deste tipo de investimento. Esta é uma obra transversal que abrange vários estilos, disciplinas e géneros artísticos”. Em 2015 já surgiram criações de artistas de Tavira, como é o caso de “Amor e Medo”, uma performance poético-musical com roteiro de Tela Leão, onde a poesia de Álvaro de Campos foi musicada com temas originais de Luís Conceição e do grupo musical liderado pela atriz/cantora Sara Ribeiro (Los Negros). Foram criadas ainda “Uma Valsa para Álvaro de Campos”, do pianista Marcelo Montes, e “Invocação: A Festa dos meus anos”, de Vítor Correia. Em 2016 nasceram os projetos: “Filhos do Fogo de Deus”, performance com Mário Spencer e Thomas Bakk, a “Tabacaria Por gentes de Tavira”, um filme de Miguel Andrade e Vítor Correia, e a “Sinfonia Pessoana”, criação da Banda Musical de Tavira e da Armação do Artista. “Álvaro de Campos A_live” foi uma criação conjunta das bailarinas Ana Borges e Yuko Kominami, com música original de Stelmo Barbosa e Tomás Tello. O grupo Poetas Cantados de AnaPi e Stelmo Barbosa formou-se ainda em 2016 para cantar “poetas numa festa para um poeta”. Em 2017 “A Carta da Corcunda para o Serralheiro”, com Susana Nunes, ganhou um prólogo com marionetas criadas pelos bonecreiros, Argenis Nunes e Mericia Lucas. Criou-se a performance poético musical “Lopes Graça & Pessoa”, que teve a participação de José Nunes na guitarra e do ator Luís Luz e ainda a performance
“Un Soir a Lima”, interpretada pelo ator Renato Aires, com Marcelo Montes ao piano. “Pérolas do Gilão Cantam Fernando Pessoa” é uma criação desse grupo de música tradicional, que pertence a uma das mais antigas associações de Tavira, a Sociedade Orfeónica dos Amadores de Música e Teatro de Tavira. Os participantes fizeram uma pesquisa aprofundada das “Quadras ao Gosto Popular”, adaptaram-nas ao repertório de canções tradicionais que interpretam, mantendo sempre os refrões conhecidos e encontrando quadras adaptáveis a cada tema. Nos últimos anos existem vários projetos em curso Em 2018 e 2019 foi a vez de “Redundâncias”, uma proposta da associação Rock da Baixa-Mar, que passou a desafiar grupos de música, e músicos individuais a comporem com canções originais para poemas de Fernando Pessoa, incluindo Álvaro de Campos. O Fado Tropical, os Poetas Cantados, Helder e Cat Viegas e Pedro Antunes responderam ao desafio cada um com três novas canções. “The Mad Fiddler” é um projeto do Clube de Tavira, Partilha Alternativa e Academia de Música de Tavira. O pianista e compositor Luís Conceição começou a musicar a série de poemas com esse título que Fernando Pessoa escreveu originalmente em inglês. São poemas que contam, contando longas histórias, numa tradição dos bardos, e que inspiram músicas com características celtas,
cantados pela voz da irlandesa Jane Hennessy. Yuko Kominamy e Tomás Tello, ela bailarina contemporânea especializada em dança butoh, ele especializado em música experimental eletrónica, criaram novas performances como “árvores, pedras, montes, bailam parados dentro de mim”, apresentada este ano na Casa Álvaro de Campos, e “Dançar Poesia”, que apresentaram em 2018 no Jardim da Igreja de São Francisco, ambas inspiradas em versos de Álvaro de Campos. Este ano foi criado ainda o projeto “Whisky Galore”, uma produção da Partilha Alternativa com a colaboração da Casa Álvaro de Campos, roteiro e encenação de Tela Leão, com os poetas escoceses Christine De Luca e Christie Williamson e os poetas portugueses Vitor Cardeira e Pedro Jubilot, e Marcelo Montes, que interpretou ao piano compositores escoceses e portugueses, incluindo Ruy Coelho, um participante do Grupo D’Orpheu. A “Concubina Japonesa”, um trabalho em andamento, foi outra das criações originais deste ano produzida pela Partilha Alternativa. Esta criação coletiva partiu de uma ideia original de Kunihio Matsuo e Rie Goto, com a intermediação de Yuko Kominami e Tomás Tello, e foi desenvolvida por Isabel Macieira e Tela Leão. O pressuposto é que o “pai” de Álvaro de Campos, diplomata de carreira, teria vivido muitos anos no Japão, onde teve uma concubina japonesa que deu a Álvaro um meio-irmão. Esta chamada “fantasia plausível” desvendou este ano alguns indícios deste pressuposto e convidou o público assistente a colaborar na “investigação”, que continuará no próximo ano. Os fadistas da associação Fado com História também têm participado sempre neste projeto através da interpretação de um repertório existente de fados sobre poemas de Pessoa e prometem criar novos fados. Programas como Música nas Igrejas e Poemus também participam com as suas propostas. Há vários trabalhos no âmbito das artes visuais No que diz respeito às artes visuais, muitos são os artistas locais que têm participado na Festa, criando imagens através de várias técnicas, inspirados em poemas ou citações
de Pessoa: Carlos Fonseca Martins, na Galeria Tavira D’Artes com as exposições “Pessoas de Pessoa” e “Personae”, participa desde 2016. Isabel Macieira e Matthijs Warner com “In Citações”, onde cada um dos artistas fez a sua própria escolha de citações do poeta para as interpretar visualmente. Matthijs também se deixou inspirar por Álvaro de Campos para publicar o livro ilustrado “People / Pessoas”. Kinga Subicka criou imagens para “Sonhos Incompletos” e “Imagens Revisitadas”. A Galeria Artesis lançou um repto a artistas locais para a montagem de uma coletiva inspirada no poema “Às Vezes tenho Ideias Felizes”. Vinte e um artistas aceitaram o desafio e deram as suas interpretações visuais ao poema. O fotógrafo Miguel Proença participou com “Campos Obscuros”. Os fotógrafos da Associação A_NAFA aceitaram este ano o desafio de ilustrarem com fotografias os artigos do evento “UM MÊS DE POESIA”, que conta com a colaboração do Postal do Algarve, sendo as imagens também expostas na sede da associação sob o título: “Imagens Pessoanas”. O Museu de Fotografia Casa Andrade também já participa há dois anos, ilustrando com fotos do seu acervo o poema "Notas sobre Tavira". A Rádio Gilão, o Arquivo Municipal de Tavira e a Biblioteca Municipal de Tavira e vários empresários locais também têm sido parceiros e participado com projetos próprios na Festa dos Anos de Álvaro de Campos. Tela Leão, criadora e responsável pela Festa dos Anos de Álvaro de Campos, conclui dizendo que “a Festa tem servido como um laboratório, onde aos poucos se vai criando um repertório Pessoano tavirense. Entretanto, Álvaro de Campos tem sido um pretexto para o ato criativo”. Como personagem “ele é um excelente pretexto graças aos seus sentimentos diversos, à sua humanidade cheia de imperfeições, com a qual tantos de nós nos identificamos. É importante notar que a arte não tem a ver apenas com observar o que fazem outras pessoas, mas com fazermos algo também. Quando as pessoas criam acabam por descobrir um pouco mais sobre elas mesmas, sobre o facto de não viverem em isolamento. O ato criativo leva à coesão social. É isso que a Festa tem feito nesta comunidade e é por isso que acho que vale à pena continuarmos a procurar apoios para a realizar”.
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A todos os fregueses e amigos, o executivo da União de Freguesias de Tavira (Santa Maria e Santiago), faz votos para que tenham um Natal muito Feliz, principalmente com muita saúde e sorte. Da mesma forma, votos de um grande ano 2020, com tudo que de bom a vida nos proporciona, sem nunca descurar os valores nobres do respeito, do amor e da solidariedade. Um grande bem-haja a todos! Boas Festas
••• REGIÃO
Na Petiscaria Álvaro de Campos vai poder reviver o ambiente das tabernas antigas fotos d.r.
Presidente da União das Freguesias de Tavira (Santa Maria e Santiago) José Mateus Domingos Costa
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CARTÓRIO NOTARIAL DE OLHÃO Rua Patrão Joaquim Casaca, lote 1, r/c, Notário Lic. António Jorge Miquelino da Silva Certifico narrativamente para efeito de publicação que por escritura de 30 de Outubro de 2018, exarada a folhas 14 do livro de notas deste Cartório número 155-A, MARIA DE FÁTIMA SOUSA CAETANO CARVALHO COELHO e marido RUI ALBERTO DE CARVALHO COELHO, casados sob o regime da comunhão de adquiridos, ambos naturais de Lobito, Angola, residentes na Rua Alfredo Mascarenhas, n.º 11, freguesia e concelho de Portimão, contribuintes fiscais números 105 437 174 e 105 437 166, e MANUEL CARLOS TEODORO DE SOUSA e mulher OLGA MARIA DOS SANTOS SOUSA, casados sob o regime da comunhão de adquiridos, ele natural da freguesia de Sagres, concelho de Vila do Bispo, ela natural da freguesia de Quelfes, concelho de Olhão, residentes em Quatrim do Norte, Cx. P. 134-Z, freguesia de Moncarapacho e Fuseta, concelho de Olhão, contribuintes fiscais números 175 404 518 e 186 954 409, declaram que os outorgantes MARIA DE FÁTIMA SOUSA CAETANO e MANUEL CARLOS TEODORO DE SOUSA, são donos e legítimos possuidores, com exclusão de outrém, do prédio rústico, sito em Belmonte, freguesia da Luz de Tavira e Santo Estêvão, concelho de Tavira, composto por cultura arvense com amendoeiras e oliveiras, com a área de três mil cento e quarenta metros quadrados, a confrontar do Norte com Custódio de Sousa Bicho, do Sul com Feliciano Gaspar, do Nascente com José Joaquim Soares e do Poente com caminho público, não descrito na Conservatória do Registo Predial de Tavira, inscrito na matriz sob o artigo 731 (anterior artigo 779 da extinta freguesia da Luz) com o valor patrimonial tributável de sessenta e dois euros e vinte cêntimos, igual ao atribuído. Que desconhecem os segundos antepossuidores, em virtude de estarem na posse há mais de vinte anos. Que entraram na posse do referido prédio, ambos no estado de solteiros, ela maior, ele menor, por doação meramente verbal e nunca reduzida a escritura que lhes fizeram os seus avós paternos MARIA CATARINA e marido ADELINO DE SOUSA BICHO, que também usava e era conhecido por ADELINO DE SOUSA, casados que sob o regime da comunhão geral, residentes que foram no sítio do Gião, freguesia de Moncarapacho, concelho de Olhão, ambos já falecidos, em data imprecisa do ano de mil novecentos e setenta e dois; e que sem qualquer interrupção no tempo, desde aquela data, portanto há mais de vinte anos, têm estado eles justificantes, na posse do mencionado prédio, amanhando a terra, limpando as árvores e colhendo os seus frutos, enfim, extraindo todas as utilidades por ele proporcionada, sempre com ânimo de quem exerce direito próprio, posse essa exercida de boa-fé, por ignorarem lesar direito alheio, de modo público, porque com conhecimento de toda a gente e sem oposição de ninguém, pacífica, porque sem violência, e contínua, pelo que adquiriram o mencionado prédio por usucapião, não tendo, todavia, outro modo de aquisição, título extrajudicial normal capaz de provar o seu direito Está conforme: Cartório Notarial de Olhão sito na Rua Patrão Joaquim Casaca, lote 1, r/c, aos 30 de Outubro de 2018. Por delegação do Notário, artº 8/2 DL 26/2004, de 04/02, A Colaboradora autorizada aos 01.09.2014 Natália Estêvão Gonçalves Cachaço Rocha – ON nº 222/11 Conta registada sob o nº 2844/2018 (POSTAL do ALGARVE, nº 1235, 13 de Dezembro de 2019)
A Álvaro de Campos Petiscaria abriu na Rua da Liberdade, em Tavira, com um conceito diferenciador
Stafanie Palma / Henrique Dias Freire
stefanie.palma.postal@gmail.com
Álvaro de Campos Petiscaria é o nome do novo espaço tavirense que promete encantar turistas e residentes. Com um ambiente diferente, produtos tradicionais e até festas temáticas, a petiscaria pretende dar a conhecer o que de melhor se produz no Algarve e no país e deliciar os visitantes com os sabores tipicamente portugueses. A Álvaro de Campos Petiscaria abriu na passada segunda-feira, 9 de dezembro, na Rua da Liberdade, em Tavira, com um conceito renovado. Maura Santos, proprietária do espaço, explicou ao POSTAL que “eu já tenho este espaço há seis anos. O estabelecimento foi sofrendo uma evolução gradual. Primeiramente abriu como coffee shop e depois passou a restaurante. Foram sempre os clientes que ditaram o que devíamos fazer”. A chefe Maura Santos explicou ao POSTAL que “devido a assuntos pessoais, cedeu a exploração do espaço ao chefe Luís Brito e ao João Dias, dos restaurantes ‘A ver Tavira’ e ‘À Mesa’” e que “regressou este ano com um conceito renovado”.
O novo conceito passa por adotar aquilo que é tradicional
uma apresentação mais cuidada e onde os nossos clientes vão ter um menú baseado em produtos locais e nacionais”.
“Eu identifico-me muito com aquilo Leia a edição completa na versão onque é nacional e gosto bastante de line do Postal acolher os turistas e passar-lhes um pouco daquilo que é a nossa cultura. Neste espaço sempre fizemos festas temáticas a explicar quem é Álvaro de Campos e a dar a conhecer um pouco das nossas tradições e costumes”, explicou. “Este ano quis a p o st a r n u m a linha mais tradicional, fugindo um pouco daquilo que é contemporâneo. O meu objetivo é mesmo apresentar um conceito mais tradicional”, afirma Maura Santos. A responsável salienta que “a ideia é recriar as tabernas antigas mas com A chefe Maura Santos é a proprietária do espaço
Mensalmente com o POSTAL em conjunto com o
DEZEMBRO 2019 n.º 133 www.issuu.com/postaldoalgarve
6.785 EXEMPLARES
MISSÃO CULTURA •••
Hemeroteca Digital do Algarve – a imprensa do Algarve à distância de um clique foto d.r.
O Orçamento Participativo de Portugal, conhecido como OPP, é «um processo democrático deliberativo, direto e universal, através do qual as pessoas apresentam propostas de investimento e que escolhem, através do voto, quais os projetos que devem ser implementados em diferentes áreas de governação. Através do OPP, as pessoas podem decidir como investir 5 milhões de euros», pode-se ler na página https://opp.gov.pt/. Os cidadãos podem votar num projeto nacional e num projeto regional. Em 2017, o projeto Hemeroteca Digital do Algarve foi o mais votado no OPP 2017 da região, com 703 votos, o que indica uma forte mobilização de todos aqueles que perceberam a importância da existência de um arquivo digital, acessível universalmente. A Ideia Luís Guerreiro, engenheiro de formação, foi um homem de Letras e um Humanista que teve a ideia de criar e disponibilizar todos os jornais e revistas que o Algarve produziu desde o séc. XI, até aos nossos dias, em formato digital, através de uma plataforma de acesso fácil, universal e gratuito. O seu conhecimento da história do Algarve e da importância da imprensa regional para a reconstituição desta foram motores para esta candidatura. Com o apoio de Patrícia de Jesus Palma, doutorada em Estudos Portugueses (História do Livro e Crítica Textual), o projeto foi fundamentado, realçando os aspetos de natureza cultural, patrimonial e de investigação científica nele envolvidos: na verdade, a história desta região encontra-se espelhada em tantos artigos publicados nos mais de 400 títulos de publicações
Em 2017, o projeto Hemeroteca Digital do Algarve foi o mais votado no OPP 2017 da região •
periódicas que surgiram na região, com tipologias muito diversas, tais como o desporto, o turismo, a política, a religião, o associativismo, o comércio, etc. Daí também se consegue aferir as relações que o Algarve foi estabelecendo, a vários níveis de envolvimento, com o resto do país e mesmo com o estrangeiro, sendo bastante relevante para quem investiga ou simplesmente tem curiosidade sobre estes assuntos. A realização A Direção Regional de Cultura do Algarve, reconhecendo na Uni-
versidade do Algarve a capacidade para a coordenação da execução do projeto, fez um protocolo com esta entidade, permitindo a materialização da ideia no prazo de 24 meses, como estava estipulado. A maioria destas coleções encontrava-se apenas na Biblioteca Nacional (muitas delas em elevado estado de degradação), e noutras bibliotecas e arquivos do país, ou pertença de alguns particulares, o que dificultava – e, em alguns casos, até impedia – o acesso a quem tem de recorrer com frequência a estas valiosas fontes. Para a concretização do projeto,
foram feitos contactos com bibliotecas e arquivos públicos e particulares para empréstimo das coleções e todos gentilmente acederam. A Biblioteca Nacional de Portugal aceitou ser parceira desde o primeiro momento, não só facultando os exemplares que tinha, como ficando a seu cargo a digitalização de mais de 400 títulos de jornais editados no Algarve desde 1810, num total de mais de 200.000 imagens. A 8 de dezembro iniciou-se uma primeira fase, em que ficaram disponíveis 49 títulos. A fase de carregamento continua, sendo os restantes títulos disponi-
Ficha técnica Direcção: GORDA Associação Sócio-Cultural Editor: Henrique Dias Freire Paginação e gestão de conteúdos: Postal do Algarve Responsáveis pelas secções: • Artes visuais: Saúl Neves de Jesus • Espaço ALFA: Raúl Grade |Coelho • Espaço AGECAL: Jorge Queiroz • Espaço ao Património: Isabel Soares • Filosofia dia-a-dia: Maria João Neves • Letras e literatura: Paulo Serra • Missão Cultura: Direção Regional de Cultura do Algarve • Reflexões sobre urbanismo: Teresa Correia Parceiros: Direcção Regional de Cultura do Algarve e-mail redacção: geralcultura.sul@gmail.com e-mail publicidade: anabelag.postal@gmail.com online em: www.postal.pt e-paper em: www.issuu.com/ postaldoalgarve FB: www.facebook.com/ postaldoalgarve/ Tiragem: 6.785 exemplares
bilizados o mais breve possível, pretendo-se, ainda, que o utilizador venha a ter a possibilidade de pesquisar, por palavra ou assunto, no texto integral. Em cumprimento do Código dos Direitos de Autor e dos Direitos Conexos, em 2019 ficarão disponíveis as publicações entre 1810 e 1949, sendo as restantes incluídas nos anos subsequentes. No entanto, o leitor pode consultar a totalidade da coleção digital nas instalações físicas da Biblioteca da Universidade do Algarve – António Rosa Mendes, entidade que fará a coordenação executiva, científica e de sistemas desta coleção digital. A Hemeroteca Digital do Algarve vem permitir a reunião e a salvaguarda deste valiosíssimo património do Algarve que servirá a memória de todos. l Direção Regional de Cultura do Algarve
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LETRAS E LEITURAS •••
Longa Pétala de Mar, de Isabel Allende foto lori barra
Paulo Serra
Doutorado em Literatura na Universidade do Algarve; Investigador do CLEPUL
O Amante Japonês era já um prenúncio do retorno aos grandes romances desta autora chilena, dos que nos puxam de súbito para dentro da sua escrita fluída, onde vigora um universo meio histórico meio intemporal povoado por personagens carismáticas de paixões intensas. Longa Pétala de Mar é um poderoso romance que resgata a inventiva e original voz de Isabel Allende, a sua ironia e humor muito próprios, e um sentido da vida que daria para escrever alguns livros motivacionais, sem cair jamais no delicodoce daquilo que se pode entender como chic literature. Este livro foi lançado primeiro pelo Círculo de Leitores (numa edição de capa dura), com a revista distribuída aos sócios em Outubro, e depois publicado pela Porto Editora. Mesmo com livros anteriores da autora, bastante sofríveis (O Jogo de Ripper), em que a história se arrasta sem qualquer chama, ler Isabel Allende sempre foi um dos meus prazeres íntimos. E depois das várias tentativas mais ou menos bem sucedidas de romance histórico em que a autora tem intentado, a história deste livro está perfeitamente doseada entre o encanto mágico das primeiras obras da autora e um contexto histórico concreto, no caso a Guerra Civil de Espanha, sob a sombra do regime de Franco e a iminência da Segunda Guerra, que servem apenas de intróito ao verdadeiro tema a tratar. Em 1938, encontramos Victor Dalmau, um jovem estudante de medicina que dá por si incorporado na frente de combate como auxiliar de medicina; Roser Bruguera, uma jovem humilde que de pastora de cabras se converte numa pianista exímia; Ofelia, uma jovem chilena de boas famílias com casamento arranjado; Pablo Neruda, um poeta que ousa fretar um navio onde embarca mais de dois mil espanhóis rumo a Valparaíso, em fuga a uma Espanha em ruínas. Allende aposta em diversas frentes para conseguir, capítulos depois, entretecer de forma exímia todas as histórias, sem que o fio da narrativa e a sua prosa torrentosa se quebre, envolvendo plenamente o leitor, sem lhe dar tempo para sequer pensar em parar. Enquanto o Velho Mundo mergulha numa confusão sem precedentes, e a Espanha se dilacera numa guerra durante novecentos e oitenta e oito dias e que culmina com o reconhecimento da legitimidade do governo de Franco, o
Isabel Allende é uma escritora e jornalista chilena •
Chile surge como «um paraíso atrasado e distante» (p. 100) onde os espanhóis procuram uma segunda oportunidade. Temos, desde as primeiras linhas, frases que demarcam o estilo próprio de Allende, como «Era uma enfermeira suíça de vinte e quatro anos, com um rosto de virgem renascentista e a coragem de um guerreiro empedernido.» (p. 18). Também bastante recorrente na escrita de Allende é a forma como muitas vezes o seu romance antecipa o futuro: «- Nem morta te direi – e essa seria a única resposta que sairia da sua boca durante os cinquenta anos seguintes.» (p. 203) O maravilhoso ainda dá algumas mostras de vida, recuperando a figura mítica do fantasma, que tão bem define o próprio realismo mágico latino-americano, como símbolo de fusão entre o real e o irreal: «Não havia memória de ter jamais habitado uma criança naquela sombria mansão de pedra, por onde deambulavam gatos semisselvagens e uma prole de fantasmas de outras épocas.» (p. 31) Ou no exagero que acentua o horror da guerra: «Tanto sangue corria que, no ano seguinte, os camponeses trejuravam que as cebolas eram vermelhas e que por vezes se encontravam dentes huma-
nos no interior das batatas.» (p. 58) Mas o mágico é uma corrente de escrita definitivamente preterida pela autora, sem que isso quebre o encanto da leitura. E a páginas tantas podemos até encontrar uma breve, indirecta, referência a Clara: «- É uma mulher muito extravagante. Dizem que fala com os mortos!» (p. 95). Clara, claríssima, clarividente... Uma personagem que de tal forma me apaixonou em A Casa dos Espíritos que, mais de 20 anos depois, fiz questão de baptizar a minha sobrinha com esse nome (por sorte, não foi preciso convencer muito os pais). Se em A Casa dos Espíritos, onde também encontrávamos Salvador Allende (o Presidente) e Pablo Neruda (o Poeta) como personagens de ficção, o mágico concentrado em torno dos dons de Clara vai recuando, conforme a política se impõe, num regime ditatorial de terror, em Longa Pétala de Mar (título retirado a um poema de Neruda) o caminho é inverso, transpondo o umbral entre um mundo que soçobra, onde não faltam alusões aos horrores de Guernica e à batalha do Ebro, e um paraíso a descobrir, num Chile sinuoso e remoto, onde as paixões são violentas e os temperamentos são bruscos mas honestos e leais. l
A capa do livro do mais recente romance de Isabel Allende •
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Autobiografia, de José Luís Peixoto Talvez devamos começar pelo jogo de ilusão patente na capa, pois ao título de Autobiografia segue-se a categorização de Romance, sobre um fundo de páginas em branco rasgadas. Não estamos portanto, pensa o leitor, no campo das biografias romanceadas. Talvez seja um daqueles romances em que se cruza a memória e vivência pessoal com a ficção? Mas depara-se o leitor, ao adentrar-se no romance, com uma epígrafe de Saramago em que se salvaguarda que «tudo é autobiografia» para depois, logo na primeira linha, encontrar a frase «Saramago escreveu a última frase do romance.» (p. 9) E, duas páginas depois, quando lemos que a campainha tocou, quem se levanta para abrir a porta é José. José Saramago, portanto, pensa o leitor, apenas para páginas adiante se aperceber que este José fala de um outro José (Saramago), que este José está a tentar escrever o seu segundo livro, e se sente partido em pedaços, enquanto o outro, Saramago, se sente completo, terminado de escrever o seu mais recente romance, intitulado Todos os Nomes, com um protagonis-
foto neusa ayres
José Luís Peixoto é autor de um dos mais inovadores romances da literatura contemporânea portuguesa •
do outro José, o Nobel, desdobrando-se este Autobiografia num universo literário de múltiplas realidades paralelas. O jogo de espelhos mantém-se ao longo da narrativa, repartida em duas, mais ou menos alternadas, sendo que a história se centra mais em JoRomance é uma homenagem a José Saramago • sé do que em Saramago, ta – de seu nome José... José, o deste enquanto o leitor vai desfiando o livro, venceu ainda um prémio com o fio da narrativa, com as suas ideias e seu primeiro romance, à semelhança suspeitas, para se guiar neste exerdo autor, o verdadeiro, que ganhou cício literário como num labirinto em o Prémio José Saramago (na sua se- que ficção e biografia se cruzam. E gunda edição, em 2001, atribuído pela da mesma forma que apontamenFundação Círculo de Leitores) por vol- tos pessoais da vida de Saramago ta da mesma idade do jovem escritor, são reinventados num Saramago personagem, com o seu primeiro livro. de papel, também nestas páginas E este jovem escritor, José, será de- se abrem outros umbrais por onde pois convidado a escrever a biografia entram ainda na história figuras de
carne e osso, ou inspiradas no seu referente real, como Pilar, assim como figuras de papel que conhecemos de outros romances de Saramago: o editor Raimundo Silva (História do Cerco de Lisboa); Lídia (O Ano da Morte de Ricardo Reis); Mau-Tempo (Levantado do Chão); Bartolomeu de Gusmão (Memorial do Convento); Fritz (A Viagem do Elefante). Confluem ainda na narrativa espaços reais, da geografia íntima de Peixoto, como a Rua de Macau, e outras com nomes de ex-colónias, e muitas das personagens são ainda ressonâncias e referências de um espaço mais vasto, que assinalam a passagem de José (Luís Peixoto), o verdadeiro, pelo mundo, como é o caso de Cabo Verde. Mas a narrativa desvela mais e mais camadas, pois não só as personagens e situações são piscares de olho a um leitor atento de Saramago, como o Fritz d’A Viagem do Elefante cegar subitamente sem explicação ou esta Lídia, cabo-verdiana, ser uma lojista que em muito lembra a companhia de Ricardo Reis, em O Ano da Morte de Ricardo Reis, onde o duplicado de Pessoa (um desdobramento também ele afim de O Homem Duplicado de Saramago) se substancia num heterónimo tornado ortónimo. Este é talvez um dos mais ino-
vadores romances da literatura so saramaguiano sempre pronto a contemporânea portuguesa de um explorar os possíveis da história) coautor que se tem afirmado um pou- mo de simbólico e de homenagem, co pelo mundo inteiro, e que já tem quando o anúncio do Prémio Nobel viajado para escrever. Uma homena- de 1998 desencadeia uma chuva... gem nada beatificada a uma figura de livros de Saramago. tutelar na sua escrita e na sua vida. A leitura de Autobiografia é como A afirmação de que cada escritor é uma refracção que se estende ao inum protegido e um legado vivo de finito, e que só se resolve com mais todos aqueles que o precederam e do que uma leitura do livro, onde que pousam no seu ombro no acto podemos dar por nós a ler sobre a da escrita. personagem (retirada de outro livro) José Luís Peixoto, autor publicado que está a ler, agora, o mesmo livro pela Quetzal, arriscou muito, tan- que nós. l to que, e esse é um dos momentos cruciais do livro que se pode designar genial, chega a Ofereça qualidade aos seus cabelos, fazer uma com um diagnóstico capilar gratuito e serviços de qualidade à sua medida. Ainda pode incursão adquirir produtos da marca KEUNE, no maraexclusiva no salão. vilhoso, Um novo espaço criado especialmente para si, com um junto ao hotel Real Marina. episódio que tem Rua José Amâncio Correia Júnior, Lote 19 A tanto de 8700-408 Olhão 289 170 459 insólito Facebook: @hairritualcabeleireiros (tal como Instagram: hairritual.cabeleireiros no univer-
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ARTES VISUAIS •••
Pode a arte tornar o invisível visível? Saúl Neves de Jesus
Professor Catedrático da Universidade do Algarve; Pós-doutorado em Artes Visuais; https://saul2017.wixsite.com/artes
Desde há muito tempo que a arte e a ciência andam interligadas, sendo os primeiros grandes cientistas identificados na história também como artistas, sendo Leonardo Da Vinci um dos principais exemplos, e várias produções visuais surgem na história da ciência e também na história da arte, como é o caso das cerca de 600 pinturas e 1.500 gravuras descobertas nas cavernas de Lascaux, no sul de França, realizadas antes de 10.000 aC, no período paleolítico.
gem, a arte tem sido essencial, em vários momentos históricos, para a introdução de novos pontos de vista na ciência. Embora na atualidade a fotografia possa ser também usada no processo de ilustração, no passado o desenho era a técnica mais usada para criar imagens ilustrativas da realidade. Não havendo outras formas de “retratar” a realidade, muito do avanço científico ocorrido ao longo dos séculos contou com o suporte essencial da ilustração. Isto aconteceu em diversas ciências, em particular nas ciências ditas “da natureza”. Por exemplo, no trabalho de Darwin sobre a teoria da evolução das espécies foi utilizada a ilustração com grande frequência, considerando-se que Darwin deixou mais de 1000 ilustrações nos seus estudos.
Imagem da bactéria CRE •
plo, para ilustrar a percentagem daquilo que existe no universo, Pablo Budassi criou uma imagem em que apenas cerca de 5% da densidade do universo são compostos por matéria
fotos d.r.
o tamanho da realidade observável, como seja o microscópio ou o telescópio. Atualmente, o “tornar visível o invisível” tem ocorrido sobretudo através da fotografia, havendo grande ampliação das imagens visuais, nomeadamente do universo, do corpo humano ou de micro-organismos. No caso do universo, por exemplo as fotos fornecidas pela NASA da Nebulosa do Caranguejo, permitem examinar em detalhe a estrutura dessa estrela morta. No que diz respeito ao cérebro humano, destacaria a exposição “Cérebro: mais vasto que o céu”, que ocorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, entre março e junho deste ano, permitindo uma “viagem” à origem e complexidade do cérebro humano.
tra-resistente é a CRE, a qual pode transmitir-se sem sintomas, tendo sido responsável por mais de 10.000 infeções que resultaram em várias centenas de mortes nos EUA, em 2018. Em vários casos, a CRE resistiu aos 26 tipos de antibióticos existentes no país. É também microscópico aquele que é considerado "o animal mais resistente da natureza". Tem oito pernas, olhos, nervos, músculos e uma boca como um focinho, medindo cerca de 0,05mm. Designado por tardígrado, ou “urso de água”, por causa da sua aparência e da lentidão dos seus movimentos, pode sobreviver por anos nas condições mais extremas, nomeadamente no vácuo do espaço, na água a ferver, no gelo ou no fundo do mar. Por exemplo, resistem a radiações cerca de 1000 vezes superiores às que um ser humano pode suportar. Em 2007, vários exemplares de duas espécies de tardígrados foram enviados para o espaço, tendo sido expostos não apenas ao vácuo do espaço, onde é impossível respirar, mas também a níveis de radiação capazes de incinerar um ser humano. De volta ao planeta Terra, um terço deles ainda estava vivo e cerca de 10 % destes foram capazes de reproduzir-se com sucesso. O facto de conseguirem permanecer em estado criptobiótico muito tempo é o “segredo” desta capacidade de sobrevivência. Assim, a arte visual, quer através da fotografia, quer através da
Imagem do universo (Nebulosa do Caranguejo) •
Várias vezes a arte se revelou essencial na ciência, através da utilização da imagem visual. Uma situação de “encontro” entre o cientista e o artista, é aquela em que o cientista precisa da imagem para comunicar sobre o seu trabalho. Por exemplo, a história mostra-nos que, sem a perceção artística da perspetiva, Galileu certamente não teria feito a descrição da superfície da Lua em 1610, quando a observava com o recém-inventado telescópio, desenhando-a com crateras e sombras, em ângulos diferentes, de acordo com a posição do Sol, descrição que produziu um importante impacto na visão cosmológica. Já no século XVI, quando o estudo da anatomia era dificultado pela proibição de dissecar cadáveres, haviam sido chamados artistas para colaborar com os cientistas, permitindo tornar compreensível e mais rigorosa a descrição da realidade. Assim, através do poder da ima-
A medicina foi outro domínio em que ocorreu um uso frequente da ilustração, em particular no estudo da anatomia humana. As questões ligadas ao universo, e ao tempo x espaço do mesmo, são daquelas sobre as quais atualmente mais ilustrações incidem. Por exem-
comum (planetas e estrelas), sendo o restante energia escura. Desta forma, a ilustração permite a criação de imagens que possibilitam “visualizar” aquilo que ainda não é visível ao olho humano, mesmo utilizando técnicas que permitem aumentar de forma muito significativa Imagem do micro-organismo tardígrado •
Imagem de sinapses no cérebro •
Quanto aos micro-organismos, destacaria que no passado dia 18 de novembro ocorreram as comemorações do Dia Europeu do Antibiótico, culminando a Semana Mundial dos Antibióticos, iniciada no dia 14, tendo como principal objetivo sensibilizar para a importância duma adequada utilização dos antibióticos, nomeadamente devido ao alarmante aumento da resistência aos antibióticos que várias “super-bactérias” revelam. Se nada for feito, estima-se que morram 10 milhões de pessoas por ano, em 2050. Um dos exemplos de bactéria ul-
ilustração, tem permitido tornar visíveis imagens não acessíveis ao olhar humano, contribuindo para apreciar as mesmas e também para aprender com elas, contribuindo para aproximar a ciência e a arte. l NOTA DE REDAÇÃO: Na edição de novembro do Cultura.Sul, por lapso o artigo de Saúl Neves de Jesus foi publicado com o título “Pode a arte ajudar a proteger o ambiente?”, quando o título correto é “Pode a arte sensibilizar para comportamentos mais saudáveis?”. Ao visado e aos nossos leitores as nossas desculpas.
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MARCA D'ÁGUA •••
Maria Luísa Francisco Investigadora na área da Sociologia; Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa luisa.algarve@gmail.com
Pelo terceiro mês consecutivo, a crónica é dedicada a personalidades que partiram por doença prolongada, neste curto espaço de tempo. Espero escrever no novo ano crónicas dedicadas a temas bem diferentes. Gostaria de fazer com as minhas palavras uma singela homenagem a Baltazar Guerreiro, que partiu no passado dia 9 de Novembro com 58 anos. Um algarvio bastante conhecido na região e que dedicou grande parte da sua vida à música, em particular ao acordeão. Baltazar Guerreiro começou a tocar este instrumento musical com 6 anos de idade quando ainda vivia em Alcoutim, terra onde nasceu e viveu até aos 11 anos, altura em que
Baltazar Guerreiro: da arte musical à valorização dos produtos regionais a família se mudou para Loulé. Realizou inúmeros concertos na região e levou o nome do Algarve a países onde actuou, tais como a Suécia, Suíça, Dinamarca e Estados Unidos da América. Editou o seu primeiro trabalho discográfico em 1988, tendo vendido mais de 10.000 unidades. Foi co-fundador da «Orquestra Big Band - Arte & Música» e do Grupo de Música Portuguesa «Albuhera» e integrou o «Quarteto de Fado Albuhera». Há alguns anos assisti a um concerto do Grupo «Albuhera» onde a fadista Raquel Peters é a vocalista. No final fui felicitar esta amiga, que muito admiro como artista e como pessoa e apresentou-me os elementos do grupo onde estava Baltazar Guerreiro. Conversámos no ambiente informal e agradável da praça principal de Alcoutim, onde decorreu o concerto. Foi então que Baltazar disse que era natural daquela localidade e contou um pouco do seu percurso.
“Promotor da identidade cultural algarvia e um embaixador criativo dos produtos regionais” Baltazar Guerreiro é um dos acordeonistas referidos no livro da Arandis Editora intitulado O Acordeão no Algarve - Um Século de Histórias e Memórias, da autoria de Nuno Campos Inácio. O autor do livro descreve o acordeonista numa excelente frase de síntese do que foi a vida deste homem, que irradiava alegria e orgulho de ser algarvio e que nós algarvios não esqueceremos: “um acordeonista activo e voluntarioso, promotor da identidade cultural algarvia e um embaixador criativo dos produtos regionais”. Voltei a encontrá-lo, quase sempre com a sua simpática família, em vários eventos de divulgação do que o Algarve tem de melhor. Um produtor presente e empenhado em divulgar os produtos da região. Percebia-se a sua paixão pelo Algarve, pelas tradições e que com-
Baltazar dedicou grande parte da sua vida ao acordeão •
plementava tão bem com a arte de tocar acordeão, instrumento ligado à tradição musical algarvia. Comprei alguns produtos da marca «Chocofigo», que muito apreciei. Marca que Baltazar Guerreiro criou e que comercializava divulgando assim produtos regionais como o figo, a laranja, a alfarroba, a batata doce, entre outros, cobertos com chocolate. São pessoas assim que também contribuem para que o Algarve mantenha a identidade. O facto de este empresário comprar as matérias primas a produtores locais e ter um produto quase todo feito à mão acrescentou valor à sua marca, ao ponto de se internacionalizar (era também empresário no ramo da óptica). Divulgou os produtos endógenos de forma criativa, em especial pela arte de saber juntar as matérias primas dando-lhes um toque gourmet e, entre várias inovações, pela criação de um chocolate com piri-piri. Faleceu no dia em que terminou
o 69º Troféu Mundial de Acordeão em Loulé, concelho onde Baltazar Guerreiro vivia há algumas décadas. A sua morte coincidiu também com a data em que se realizou o XVII Congresso Europeu de Confrarias Vínicas e Gastronómicas, em Albufeira. Dois eventos que lhe diziam certamente muito e aos quais já não conseguiu assistir. O seu grupo musical actuou no Congresso e nesse momento chegou a notícia da sua partida. Em palco Raquel Peters partilhou essa dor e em memória do colega e amigo cantou um tema especial – My way de Frank Sinatra. Sempre me parece que as pessoas com doenças prolongadas morrem em datas que para elas são especiais ou coincidentes com acontecimentos especiais. Partiu um acordeonista de excelência e um divulgador genuíno dos produtos regionais. A família Guerreiro ficou mais pobre e o Algarve também. l
ESPAÇO AGECAL •••
Morin, Magalhães e o 5 de Maio da língua e cultura portuguesas Jorge Queiroz
Sociólogo, Sócio da AGECAL
Edgar Morin, com 98 anos de idade, permanece um dos mais respeitados intelectuais, reconhecido pelas análises sobre a complexidade, autor de "O Paradigma Perdido: a Natureza Humana", uma das obras mais importantes sobre a epistemologia e da análise das ciências. Teceu recentemente um fundamentado elogio à cultura portuguesa. E que disse Morin? Que Portugal é um país extraordinário, simultaneamente mediterrânico e atlântico, com uma influência mundial, acredita o filósofo que a lusofonia está a desempenhar um papel importante no mundo, sobretudo pela presença da língua como património vivo. Morin vê na lusofonia e nas culturas de expressão portuguesa um instrumento de aproximação e cooperação humanista entre conti-
nentes e povos. O português e a cultura portuguesa deveriam ser em Portugal componentes centrais nas políticas pública- Porquê? Por ser um idioma pluricontinental, língua materna em Portugal, Brasil, São Tomé e Príncipe. Em Angola, Moçambique é o idioma de ligação ou veicular e em outros países convive com dialectos e crioulos, como são os casos da Guiné-Bissau, Cabo Verde e Timor-Leste. Mas o português é também falado em outras regiões do mundo caso de Macau, no Japão existem meio milhão de falantes e em muitos lugares com herança cultural portuguesa é usado por pequenas comunidades. São 17 países do mundo que utilizam o subsistema de ensino da língua e cultura portuguesas dirigido a luso-descendentes, 33 países oferecem o português nos currículos do ensino secundário e 74 integram estudos portugueses e literaturas lusófonas em universidades e escolas superiores.
Por outro lado, a economia da cultura é extremamente deficitária, a importação de bens e serviços de matriz anglo-saxónica (cinema, musica, tradições como o halloween,…) supera largamente a débil exportação nacional. Há estatísticas oficiais disponíveis que poucos analisam… O potencial da cultura portuguesa é enorme. No domínio da história, do património material e imaterial, inúmeros acontecimentos seriam fonte de inspiração e originalidade nas artes e indústrias culturais de internacionalização ou em programas educativos dirigidos às novas gerações. Este ano comemoram-se os 500 anos da viagem de circum-navegação do português Fernão de Magalhães ao serviço do Imperador Carlos V, que levanta diversas questões. Desde logo o termo “descobrimento”. Descobre-se o que não se conhece e Magalhães sabia da existência de outro mar situado na costa ocidental sul-americana porque ele próprio nele tinha navegado vários
anos ao serviço da coroa portuguesa e sob o comando de Afonso de Albuquerque na zona das Molucas. A viagem de circum-navegação não seria possível sem os conhecimentos matemáticos, astronómicos e cartográficos da elite científica portuguesa com quem Magalhães preparou o seu plano e itinerários, que apresentou a D. Manuel I. Este recusou e Carlos V aceitou… O descobrimento existiu mas do ponto de vista europeu. Em muitas regiões da Ásia sabia-se da existência da Europa e da Africa, mercadores de múltiplas origens apareciam em regiões longínquas para comprar produtos e depois os vender utilizando a via terrestre mas também marítima. A rota da seda ia da China até à Ásia Menor. Foi a maior e mais extensa rede comercial do Mundo Antigo, no período romano muito utilizada. Hoje a “globalização” é um termo ambíguo com significados contraditórios, transmite a ideia de um mundo que se estrutura como um todo para
responder às necessidades da humanidade, mas na realidade dominam macropolíticas financeiras, económicas, tecnológicas e comunicacionais uniformizadoras, claramente desintegradoras dos países e inigualitárias no plano social. Aprendemos muito com o estudo das civilizações mediterrânicas e nas informações resultantes das viagens dos nossos antepassados pelo mundo, são lições fundamentais sobre a biodiversidade planetária, de gestão da terra e dos recursos hídricos, sobre a diversidade cultural, ensinamentos que se mantêm actuais. A UNESCO decidiu recentemente que 5 de Maio será o DIA MUNDIAL DA LÍNGUA PORTUGUESA, compete aos portugueses assinalá-lo no quotidiano, promover e defender este património vivo. É neste correcto sentido da História e utilização das Convenções da UNESCO que Edgar Morin nos falou e chamou a atenção para a importancia actual da língua e cultura portuguesas. l
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13 de dezembro de 2019
CULTURA • SUL
FILOSOFIA DIA-A-DIA •••
Por que se escreve? Maria João Neves Ph.D Consultora Filosófica
Creio que nunca se escreveu tanto como hoje em dia. Escrevem-se mensagens nos telemóveis mais do que se telefona, escreve-se no Facebook, no Twitter, no blog, no correio eletrónico. Nunca a escrita foi tão acessível! E talvez nunca se tenha escrito tanto e lido tão pouco... fotos d.r.
Hoje proponho que pensemos sobre a escrita. Porém, numa época em que tanto se escreve, importa salvaguardar que proponho que reflictamos sobre a escrita literária e filosófica. Deixemos de fora esse amontoado de palavras dos sms, das redes sociais, dos jornais e das revistas. Nestes mais de quatro anos de cafés filosóficos mensais realizados nas cidades de Tavira e Faro, surpreendi-me ao constatar que nenhum dos até hoje participantes leu na íntegra Em busca do tempo perdido, de Proust ou Ulisses de James Joyce. E poucos foram aqueles que tomaram sequer contacto com algum texto de um destes gigantes da literatura do sec. XX. Talvez os sete volumes ao longo dos quais se espraia a obra do primeiro, ou as 752 páginas do volume único do segundo intimidem mesmo os mais ousados. São obras magistrais que requerem tempo, não se compadecem com rapidinhas, nem leituras na diagonal. Existem nelas frases que demoram vários dias a saborear. Já imaginou como seria uma conversa entre estes dois génios da literatura? De facto, não precisamos
de imaginar porque tal encontro aconteceu. A 18 de Maio de 1922, o escritor e mecenas britânico Sydney Schiff (pseudónimo Stephen Hudson) e a sua esposa Violet foram os anfitriões de um jantar de gala no Ritz, por ocasião da estreia de Le Renard de Stravinsky em Paris. Entre os convidados encontravam-se Sergei Diaghilev - o famoso director da companhia Ballet Russes - o compositor Igor Stravinsky, o pintor Pablo Picasso, e os escritores James Joyce e Marcel Proust. Em Como Proust pode mudar a sua vida, Alain de Botton descreve este singular encontro que ocorreu nessa noite sob um lustre do Ritz: Joyce chegou atrasado e sem smoking, Proust manteve o seu casaco de peles vestido a noite toda. Proust perguntou a Joyce se conhecia o duque de tal e tal. Joyce respondeu “Non”. Os anfitriões perguntaram a Proust se lera determinado excerto de Ulisses. Proust respondeu “Non”, e assim por diante. Depois do jantar a Marcel Proust • situação não melhorou: “Proust entrou no taxi com os seus anfitriões, Violet e Sydney Schiff, e, sem pedir, Joyce entrou também. O seu primeiro gesto foi abrir a janela e o segundo acender um cigarro, duas coisas que, na opinião de Proust, constituíam um atentado à vida. Durante a viagem Joyce observou
Proust sem dizer uma palavra, enquanto Proust não parou de falar sem se dirigir a Joyce. Quando chegaram ao apartamento de Proust na Rue Hamelin, Proust chamou Sydney Schiff à parte e disse: ‘Peça, por favor, a Monsieur Joyce que deixe o meu taxi levá-lo a casa’. O taxista assim fez. Os dois homens nunca mais voltaram a ver-se”. Parece não ter existido entre
contrário, tendemos a reler e reescrever várias vezes a mesma frase. Assim, como nos diz Botton, “as ideias originais - fiapos nus e desarticulados - são enriquecidas e aperfeiçoadas com o tempo”. Não se pode, portanto, esperar da oralidade a mesma agudeza de raciocínio, precisão, ou finura expressiva alcançável na escrita. A filósofa María Zambrano, num
María Zambrano •
os dois escritores um mínimo de empatia; não foram capazes de estabelecer uma plataforma de comunicação. Aquela que poderia ter sido uma conversa memorável entre dois génios da literatura resumiu-se à palavra “Non”. Contudo, diz-nos Alain de Botton, mesmo que este histórico encontro tivesse corrido maravilhosamente, ainda assim teria existido uma discrepância incontornável entre a conversa e a escrita destes dois homens. De acordo com Botton, o diálogo exibe aqui os seus limites: seria impossível falar ao nível no qual se escreve em Em busca do tempo perdido ou em Ulisses. Na verdade, enquanto que numa conversa somos naturalmente mais expontâneos, e, por conseguinte, menos reflectidos, na escrita, pelo
James Joyce •
magnífico texto intitulado precisamente “Por que se escreve?” incluído no livro A Metáfora do Coração, afirma: “o imediato, o que brota da nossa espontaneidade, é algo pelo que inteiramente não nos fazemos responsáveis, porque não brota da totalidade íntegra da nossa pessoa; é uma reacção sempre urgente, premente”. A urgência da oralidade não se compadece do tempo necessário para aprofundar o pensamento ou alargar o escopo da análise. “Há no escrever um reter as palavras, como no falar há um soltá-las”, prossegue María Zambrano, por isso mesmo “escrever vem a ser o contrário de falar”. A partir daqui a filósofa entrará numa linha de raciocínio que surpreende, considerando que ao falar nos tornamos prisioneiros do que dissemos enquanto que ao escrever nos libertamos. Suponho que tendamos a pensar o contrário. Não será a palavra falada, que se desvanece após ser pronunciada, a mais livre? Precisamente porque permanece, não nos tornará a palavra escrita seus prisioneiros? Porém, para María Zambrano, se pela palavra dita nos tornamos livres do momento ou da circunstância “assediante e instantânea” essa mesma palavra não nos recolhe. Por este mo-
tivo, a oralidade acabará sempre por produzir desagregação. Ao escrever, pelo contrário, as palavras já não se encontram ao serviço do “momento opressor”, muito pelo contrário, “partindo do nosso ser em recolhi-mento, irão defender-nos perante a totalidade dos momentos, perante a totalidade das circunstâncias, perante a vida na sua integridade”. Segundo María Zambrano a libertação somente acontece na perdurabilidade, por conseguinte: “salvar as palavras da sua momentaneidade, de seu ser transitório, e conduzi-las em nossa reconciliação rumo ao perdurável, é o ofício de quem escreve.” E que dizer sobre o acto de escrever e o acto de ler? Miguel Esteves Cardoso num texto intitulado “Escrever e Ler” incluído no livro No passado e no futuro estamos todos mortos afirma: “Por cada hora que passo a escrever, recebo três horas de leitura. Nada mau este retorno: 300 por cento”. Este cálculo não se percebe de imediato, mas o escritor adiante clarifica: “escrevo devagar e leio depressa. Esta crónica pode levar três horas a escrever mas não consigo levar mais de três minutos a lê-la. Por outras palavras, para eu escrever o número de palavras que leio em três
Miguel de Sousa Tavares •
horas precisaria de 600 horas”. Fica assim matematicamente explicito aquilo que todos nós, certamente experimentamos: existe uma significativa diferença das tessituras do tempo, da oralidade, da escrita e da leitura. O modo de vivência do tempo é, em si mesmo, uma forma de acesso particular à realidade a que estamos idos. Quem não apenas lê muito, mas lê, sobretudo, bons livros, sabe que há reinos de realidade que apenas se alcançam nesse tempo da leitura, e que há estados de consciência que não surgem de outro modo. Talvez por esse motivo James Joyce tivesse ousado dizer: “A única exigência que faço aos meus leitores é a de dedicarem as suas vidas à leitura das minhas obras”. l Inscrições para o Café Filosófico: filosofiamjn@gmail.com
13 de dezembro de 2019
CULTURA • SUL
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REFLEXÕES SOBRE URBANISMO •••
Teresa Correia
Arquitecta / urbanista arq.teresa.correia@gmail.com
Ordenamento do território e a sua expressão gráfica Esta matéria pode ser de difícil abordagem para o comum cidadão, mas uma das questões mais importante no Ordenamento do Território, prende-se com a leitura gráfica do Plano. Nos PDMs de antiga geração, fica-se a perceber onde está o perímetro urbano e a categoria do solo, pela mancha que cabe em cada espaço ou lugar numa planta, normalmente à escala 1/25.000. Acontece que, por vezes, não se percebe, de forma fácil, que tipo de classe de espaço estamos e muito menos a localização (se é a correta), uma vez que as referências principais dos lugares estão mal definidas ou omissas em peças desenhadas ainda feitas à mão.
Ordenamento do território, desenho e escalas Daí, a maior parte das autarquias do Algarve, e nomeadamente a CCDR, ter vetorizado as referidas peças feitas pelos técnicos nos tempos dos “grisés” e das canetas Rotring, passando para sistemas SIG. As antigas peças desenhadas, plantas em papel físico, aprovadas pelo Governo são preciosas porque são aquelas que têm força legal e correspondem à realidade do plano. Porém, as traduções para os sistemas SIG dão-nos uma ferramenta excecional para saber imediatamente e de forma quase perfeita a localização de um terreno na carta de Ordenamento do PDM, na REN ou na RAN. Porém, não são poucos os casos em que estas traduções correspondem também a uma interpretação de quem fez a passagem do desenho para o computador, dando uma leitura pessoal ao traço. Nestas
situações, em cima das linhas, e com dúvidas, torna-se difícil a decisão para um executivo, podendo incorrer em erros, logo, será mais correto ter alguma flexibilidade de leitura face à escala em que foi traçado o plano, ou seja, à escala 1/25.000. Este pormenor de rigor de leitura e de exigência é importante para que, sendo público, seja possível qualquer um fazer o seu juízo sobre o que é possível ou não em termos urbanísticos e, por outro lado, evitar comportamentos excessivos nas decisões sobre estes mesmos Planos. No nosso sistema democrático, a garantia dos cidadãos é também dada pela publicidade, discussão pública, facilidade de consulta ou a publicação dos instrumentos de gestão territorial ou setoriais, como o PMDFCI, consubstanciando uma praxis inquestionável, mas por vezes ignorada.
Desenho e escalas O desenho, em mancha ou em traço, é uma técnica utilizada desde tempos imemoriais pelo Homem para traduzir uma intencionalidade, neste caso, sobre o território. Este ato traduz também uma reflexão e um posicionamento crítico e decisório. Assim, esta técnica podendo ser traduzida posteriormente para os computadores, é uma forma de expressão de saber de um especialista, o qual pretende traduzir uma ideia estruturante e condutora sobre um espaço. Acontece que os planos estão cada vez mais conquistados pelas aplicações de software, extremamente sofisticados, que evitam naturalmente o erro humano, mas desvalorizam, por outro lado, fatores sensíveis ao homem, particularidades do próprio território. O resultado mais desastroso foi, por exemplo, a aplicação do software referente à vulnerabilidade de risco de incêndios, o qual obriga a ter manchas em forma de pixel, com uma percentagem de 20% por cada grau (com manchas vermelhas e laranjas, em grande parte de cada município), o que gera as maiores injustiças, nas escalas em que se trabalha. O resultado automático de um software, o
qual constrói linhas e manchas irreconhecíveis em termos físicos no território, afeta diretamente a vida dos particulares, proibindo todas as ampliações e construções novas. O desenho é assim fundamental ao ato de planear e não deveríamos, como seres humanos, abdicar deste, mesmo que tivéssemos softwares auxiliares como bases de trabalho. A escala é outro dos elementos que deverá ser recuperado. Com a informatização, os atuais PDMs em revisão são instrumentos complexos que permitem a identificação em planta de elementos em detalhe, aumentando ou diminuindo a sua visualização. Existe agora a tentação de resolver tudo à escala do PDM, ou seja, em vez de se trabalhar nas escalas dos aglomerados com planos de urbanização, passa-se a ter tudo incluído na planta do PDM. A verdade é que é possível realizar esse exercício, mas implica investimento de tempo e custo e perde-se a noção do fim mais estratégico que deverá ser um Plano à escala do município. Acredito que a valorização do controlo de análise pelo Homem é ainda uma forma de fazer melhores planos e, não tanto, apenas com Planos resultantes de “rotinas informáticas”. l pub
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13 de dezembro de 2019
••• REGIÃO
Fuza Flowz: Banda de jovens algarvios pretende manter vivas as raízes locais O grupo é uma mixórdia de estilos musicais
foto d.r.
A banda Fuza Flowz é constituída por oito elementos Oito jovens de várias idades decidiram juntar-se para abraçar uma paixão em comum: a música. Fuza Flowz é o nome do projeto musical que tem raízes na Fuseta e que “pretende conquistar os algarvios”. “Estendemo-nos do rock ao rap, do reggae ao R&B, com o intuito de cruzar a panóplia de paladares musicais que tanto nos caracteriza. Tocamos e cantamos aquilo que sentimos, o que faz de Fuza Flowz um projecto inteiramente genuíno”, afirma a banda. Luís Santos tem 25 anos e é o compositor e guitarrista da banda. Ao POSTAL revelou que “o grupo
se juntou em fevereiro. Eu, o Kameny, o Placas e o Anton tínhamos uma banda de hip hop e gostámos bastante daquela abordagem. Entretanto, os outros elementos foram-se juntando gradualmente”. “Inicialmente éramos nove elementos e não estava a resultar muito bem em termos de compatibilidades, no entanto, agora com oito tornou-se mais fácil”, afirma. Por sua vez, Tiago Martins, baixista de 29 anos, mais conhecido por “Placas”, disse ao POSTAL que “tudo começou por uma brincadeira. A nossa ideia é fazer uma mixórdia de músicas, dentro do hip-hop/rap”.
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“Nós não temos um estilo próprio. O que fazemos é generalizar, o que resulta numa autêntica mixórdia de estilos musicais”, afirma. Flávio Fernandes, de 20 anos, é o cantor dos refrões e tem uma ideia inovadora para a banda: “eu sempre gostei muito de fado e decidi juntá-lo ao rap. São poucos os artistas que o fazem, mas senti essa necessidade. Acho que o objetivo do rap é passar uma mensagem e o fado dá um toque mais português e acho que essa é a magia. Consideramos que é uma boa ideia lançar esta junção no mercado”. Carlos Andorinha, de 33 anos, é o baterista da banda. O jovem mais conhecido por Kameny complementa a opinião dos colegas. “Nós abordamos qualquer tema à nossa maneira, seja no rap, no jazz ou rock, por exemplo. Fazemo-lo com qualquer estilo que nos apeteça. Vamos experimentando e vendo também qual é a aceitação do público”, realça. Quanto ao público-alvo, a banda não tem dúvidas: as músicas são transversais e atravessam as várias faixas etárias. “Qualquer pessoa pode ouvir as nossas músicas, desde os mais novos até aos mais velhos”, afirmam.
João Correia é o segundo guitarrista e tem a particularidade de ser o elemento mais novo do grupo.”Pancinha”, como é conhecido, tem apenas 15 anos. “Recebi um convite do Luís (meu professor de música) para entrar na banda. Como já os conhecia, acompanhava o trabalho deles e me identificava com a banda decidi abraçar este novo desafio em conjunto com os mais velhos”, recorda. Anton Lepeshev é rapper e é o único elemento estrangeiro da banda. “Vim para Portugal com seis anos de idade e comecei a escola aqui. Os meus pais decidiram viajar no ano 2000 e vieram para cá. Sempre foi o meu sonho fazer rap porque este estilo musical ajudou-me em várias fases da minha vida”. “O projeto acabou por ganhar pernas para andar e agora aqui estamos a remar para o mesmo lado”, defende. Os jovens inspiram-se na própria terra que os viu nascer: a Fuseta “A resposta a estas mixórdias todas é mesmo o Fuza Style. A Fuseta é uma terra bastante especial no que diz respeito à criação artística. Esta terra tem tantos artistas, o que a torna culturalmente rica”, afirma. Os jovens já atuaram em vários pal-
cos algarvios durante este verão, mas o pontapé de saída aconteceu no concerto no Cinema Topázio no passado dia 30 que “superou as expetativas”, revela Catarina Martinho, manager da banda. Para estes jovens a música “é tudo” e segundo explicaram ao POSTAL, o feedback até ao momento “tem sido bastante positivo”. “O objetivo é que, a médio-longo prazo, todos nós possamos dedicar-nos a 100% à banda”, afirmam. Luís Santos conta que “juntamente com o Kameny e o Placas fomos alunos do Domingos Caetano, que acaba por ser o mestre disto tudo. Tudo o que sei devo-lhe a ele”. O grupo avança que “grande parte do apoio financeiro que entrou na banda veio da União de Freguesias, que foram cruciais. A associação Fusetense também é um grande apoio porque nós ensaiamos aqui. Depois temos a Borda de Água, a Barraquinha do Saldanha, a Associação Foz do Eta, As Bolinhas do Carlos, o Motoclube Pata Negra e o IPDJ,entre outros apoios. Os Fuza Flowz vão lançar o seu primeiro álbum em janeiro. “O nosso intuito é oferecer alento a quem necessite de se alegrar. O título ‘’Raízes’’ advém da vila que nos acolheu desde sempre”, concluem. pub
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A família vem por este meio agradecer reconhecidamente a todas as pessoas que acompanharam o seu ente querido, até à sua última morada, assim como a todos que de algum modo manifestaram o seu carinho. “Paz à sua Alma” TAVIRA
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A sua querida família cumpre o doloroso dever de agradecer reconhecidamente a todas as pessoas que assistiram ao funeral do seu ente querido, realizado no dia 30 de Novembro, para o Cemitério de Tavira, bem como a todos os amigos que manifestaram o seu pesar e solidariedade.
JOSÉ LUÍS AFONSO DOMINGOS, presidente da Assembleia Municipal supra, faz público, nomeadamente tendo em atenção o preceituado no nº 1 do artigo 56º, da Lei nº 75/2013, de 12 de setembro, que a Assembleia Municipal, na sua sessão ordinária de dia 22 de novembro de 2019, deliberou:
Agradecem também a todos que assistiram à Missa do 7º dia, pelo seu eterno descanso, celebrada no dia 05 de Dezembro, quinta feira, pelas 17: 00 horas na igreja de Santa Luzia. “Paz à sua Alma”
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SANTA LUZIA – TAVIRA Agências. Funerárias Pedro & Viegas ,Lda TAVIRA • LUZ • V.R. STº ANTÓNIO 964 006 390 • 965 040 428
MISSA DO 9º ANIVERSÁRIO DE FALECIMENTO
A sua família informa que será celebrada Missa do 9º Aniversário de Falecimento, dia 18 de Dezembro, quarta-feira, pelas 8h 45m na Igreja de Santiago, em Tavira. Agradecem desde já a quem comparecer ao acto. “Paz à sua Alma” SANTA LUZIA • TAVIRA
ANÚNCIO DE DIREITO DE PREFERÊNCIA NELSON CARLOS CORTES COELHO, NIF 165972459, casado sob o regime da comunhão de adquiridos com Paula Maria Rita Baptista Coelho, residentes na Rua Professor Alberto Uva, n.º 31 – 6º DTo, 8000-176 Faro, faz saber a quem interessar que na qualidade de proprietário e legitimo possuidor dos terreno rústico sito em Quatrim, Quelfes, Olhão, com as áreas totais de 0,500000, compostos por Terra de cultura, inscritos na matriz predial rustica na freguesias de Quelfes, Olhão, sob o artigo 203, secção N, irá proceder à venda do mesmo, sendo a escritura notarial de compra e venda a celebrar- se no cartório notarial do Dr. Luís Miguel Gonçalves Rodrigues Valente, na Praceta Doutor Clemente de Brito Pinto, Lt.6 D, r/c Esq., 8000-327 Faro e foi acordado para a venda do suprarreferido rústico a quantia total de 52.500,00 € (cinquenta e dois mil e quinhentos euros). Desta forma faz-se saber aos confinantes do referido terreno rústico que podem exercer o Direito de Preferência na compra. O direito de preferência tem que ser exercido no prazo de 8 dias para a morada do anunciante sob pena de caducidade do mesmo.
(POSTAL do ALGARVE, nº 1235, 13 de Dezembro de 2019)
Ponto 1 – Apreciação e deliberação, da Ata de 30 de setembro de 2019 - Aprovado por unanimidade PERÍODO DA ORDEM DO DIA Ponto 2 – Proposta de substituição de representante da Assembleia Municipal na Assembleia Geral da Empresa Municipal “NovBaesuris” - em liquidação – Não houve eleição Ponto 4 – Apreciação e deliberação, sob proposta da Câmara Municipal – Empréstimo de Médio e Longo Prazo até 368.600,00 €uros – Adenda ao Contrato – Caixa Geral de Depósitos, SA – aprovado por unanimidade Ponto 5 – Apreciação e deliberação, sob proposta da Câmara Municipal – 3ª Alteração ao Mapa de Pessoal para o ano de 2019 - aprovado por unanimidade Ponto 6 – Apreciação e deliberação, sob proposta da Câmara Municipal, Composição de júri de recrutamento para um lugar de Chefe de Serviços (cargo de direção intermédia de 3º grau) para a Unidade Técnica de Serviços Operacionais - aprovado por unanimidade Ponto 7 – Apreciação e deliberação, sob proposta da Câmara Municipal, Fornecimento de Gasóleo Rodoviário (lote 1 e 2) no âmbito do Acordo Quadro de Combustíveis Rodoviários da CI-AMAL - Processo AQ-AMAL-03/2019 - aprovado por unanimidade Ponto 8 – Apreciação e deliberação, sob proposta da Câmara Municipal, da Taxa de Derrama a Aplicar em 2020 referente ao Exercício de 2019 - aprovado por unanimidade Ponto 9 – Apreciação e deliberação, sob proposta da Câmara Municipal, das Grandes Opções do Plano, Orçamento e Mapa de Pessoal para 2020 – aprovado por maioria relativa Para constar, se publica este Edital e outros de igual teor, que vão ser afixados nos lugares de estilo do Município. Castro Marim, 22 de novembro de 2019 O Presidente da Assembleia Municipal,
José Luís Domingos (POSTAL do ALGARVE, nº 1235, 13 de Dezembro de 2019)
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••• REGIÃO
Em Lagoa há um estúdio de fotografia fotos stefanie palma
Carlos Filipe dedica-se a vários projetos
/ postal d.r.
Carlos Filipe afirma que a melhor decisão que tomou na vida foi largar o emprego e dedicar-se inteiramente à fotografia Stafanie Palma / Henrique Dias Freire
stefanie.palma.postal@gmail.com
Carlos Filipe tem 39 anos e é o fotógrafo amigo dos animais. É também mentor do projeto Amigos Imperfeitos, uma iniciativa inédita onde animais com limitações são dados a conhecer ao mundo juntamente com os seus donos. O fotógrafo abriu o seu próprio estúdio de fotografia, em Lagoa, e como não podia deixar de ser: os animais são as “verdadeiras estrelas”. O estúdio está aberto há cerca de um mês e “a ideia deste espaço não é ser aquela loja de fotógrafo normal onde as pessoas entram, tiram as fotografias e vão embora. Aqui tu chegas, és recebida e o teu animal é recebido como cliente. Tenho sempre água e biscoitos e pergunto às pessoas se lhes posso dar”, começa por explicar ao POSTAL Carlos Filipe. “A partir daí os donos sentam-se e a magia acontece. Muitas vezes os donos acham que não podem tirar fotografias com eles e eu digo: não vai tirar com ele também? E as pessoas respondem-me: “mas eu também posso?!” e eu respondo que é “claro que podem”, realça. “As pessoas veem os animais como filhos e a minha prioridade aqui é o bem-estar deles. Se os animais estiverem stressados, prefiro terminar o trabalho a meio e marcar a continuação para outro dia porque eles têm de estar bem”, afirma.
Carlos Filipe explica que depois de ambientados, chega a parte de perceber como é que eles funcionam. “Quando eles chegam têm de estar à vontade para explorarem o espaço e para eu perceber se eles reagem ao som, a palmas, ao nome e a partir daí fazemos a sessão. É sempre em pequenas partes. Fazemos algumas fotografias e paramos porque eles têm uma percentagem de atenção mais reduzida do que os humanos”. Carlos Filipe faz todos os tipos de trabalhos fotográficos “Todas as pessoas são estrelas aqui. Eu recebo animais, famílias, bebés, animais com bebés e ofereço todo o tipo de serviços, no entanto, a diferença do meu espaço para os outros é que eu deitei completamente fora o conceito de que os animais são proibidos”. Carlos Filipe afirma que a ideia é “pegar um bocadinho naquilo que toda a gente faz e incluir os animais”. “Um dos pontos diferenciadores do meu estúdio é que montei um espaço de impressão dentro da loja. “As pessoas vêm aqui com o seu cão e podem levar logo as fotografias em formato pequeno ou grande”, avança. “Na maior parte das vezes, tem de se esperar algum tempo para se ter as fotografias e aqui podes levar logo algumas”, afirma. Carlos Filipe defende que “aquilo que as pessoas querem tem de ser logo saciado. Aqui na loja também
faço porta-chaves, canecas, ímans. Eu tento sempre perceber o que é que as pessoas querem ter. É ponto assente que hoje em dia, os animais fazem parte da família e não nos podemos esquecer disso”. O estúdio está aberto de segunda a sexta, das 9:30 às 13 horas e das 14:30 às 18:30 horas. O espaço também abre ao sábado de manhã. No estúdio “Carlos Filipe Photography” as sessões são feitas mediante marcação, no entanto, se as pessoas aparecerem aqui e existir disponibilidade também fazemos as sessões. Fotógrafo tem um vasto percurso na sua área “Ofereço todos os serviços, casamentos, batizados (eventos) e depois tenho a componente dos animais, onde os consigo incluir em tudo, inclusivamente em casamentos que já fiz”, recorda. O fotógrafo confessou ao POSTAL que “o feedback tem sido muito positivo porque as pessoas acham o conceito muito diferente”. “Os animais fazem cada vez mais parte da família e as pessoas confessam que aqui podem fazer fotos de coisas que antes só tentavam com o telemóvel”. Os clientes afirmam que “é muito bom ter algo profissional com os nossos fiéis amigos”. Carlos Filipe salientou que enquanto esteve a viajar lá fora tentou ver o que se fazia de diferente para tentar jogar com a inovação. “No meu estú-
dio, se tu chegas aqui com o teu cão e se for ele que vem tirar as fotografias, ele é a estrela. Ele é a primeira pessoa que é cumprimentada. Tu dizes-me o nome e eu vou logo cumprimentá-lo. Em breve também vou ter um quadro de ardósia onde vou escrever o nome dos animais a dizer, ‘Bem-vindo, Boris’, por exemplo, com motivos diferentes", conta. “Depois, faço a visita pelo espaço. Tens ainda dentro do estúdio um espaço de guarda-roupa que as pessoas podem usar se quiserem. 99% das pessoas usa e derrete-se. Não é preciso meter tudo. Às vezes um apontamento como um laço ou uma gravata faz toda a diferença e as pessoas adoram”, refere.
Carlos Filipe fez a sua primeira sessão fotográfica solidária há mais de um ano. “Num ano já perdi a conta do número de animais que já fotografei para adoção, dos que já foram adotados e dos que, infelizmente, já perdemos também. Passado um ano, o balanço que faço é que só fiz para aí 0,1%. Ainda existe muita coisa para fazer”, explica. “A necessidade do meu espaço tinha a ver com isso. Eu estava a trabalhar em casa e tinha lá o meu estúdio e cheguei à conclusão de que precisava de um espaço que estivesse perto do público, um espaço comum a toda a gente”, afirmou ao nosso jornal. “Com a parte das fotografias de animais abandonados e também com os Amigos Imperfeitos é que me apercebi que existe muito a mentalidade da adoção, mas a parte do abandono também está muito presente e ainda não conseguimos desnivelar isto”, lamenta. “Aquilo que me diz respeito a mim a nível de trabalho, acaba por ter sempre um dissabor porque eu recebo muitas mensagens a dizer que os animais foram adotados e ficamos felizes, mas a seguir ligam-nos a dizer, por exemplo, que encontraram mais três e isso custa muito”, explica. O fotógrafo recorda que “há uns dias atrás esteve a ajudar a ADAP em mais uma sessão solidária e a meio já existiam três bebés que tinham sido encontrados no lixo e outra que estava a biberão”. “Acho que é algo que pode diminuir, mas que, infelizmente, não vai acabar. Eu vejo um bocado este espaço como um farol, para tentar alterar um pouco esta realidade”, defende. Carlos Filipe é o mentor do Projeto Amigos Imperfeitos Carlos Filipe é o mentor do projeto Amigos Imperfeitos que retrata animais com limitações. O fotógrafo dá
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REGIÃO •••
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a onde as estrelas são os animais >a conhecer toda a história do animal
juntamente com os seus donos. Este ano lançou o primeiro episódio de vídeos no youtube e também um livro subjacente ao projeto. “Comecei a ir às escolas apresentar o meu trabalho. Já estive em Albufeira, Portimão e Monchique e o que faço sempre antes de ir é pedir às escolas, uma semana antes, para fazerem angariações de alimentos e entregarem numa associação animal da sua zona para consciencializar os miúdos”, afirma. O criador do projeto sublinha que “existem miúdos que acham que os animais que estão em cadeiras de rodas têm de tirar as patas de trás para as rodas serem incorporadas no corpo” e é muito interessante “dar a conhecer estas histórias diferentes às crianças que estão no início das suas caminhadas”. Em janeiro, Carlos Filipe vai a Oeiras apresentar o projeto e fazer uma exposição a convite da câmara municipal. A segunda temporada dos Amigos Imperfeitos deverá estar pronta entre o final de janeiro e o início de fevereiro. “Já tenho vários casos novos feitos, inclusivamente alguns de
Lagoa. Tenho ainda casos de pessoas estrangeiras”, afirma. O fotógrafo explica que “tanto nos episódios portugueses, como nos estrangeiros vão ser feitas legendas, algo que faltava na primeira temporada”. Fotógrafo revelou ao POSTAL quais são os projetos futuros Carlos Filipe afirmou ao POSTAL que tem muitos projetos futuros “em mãos”. “Quero continuar a parte solidária e continuar a fotografar animais de rua, em colaboração com a PATA Ativa, a ADAP, a Cadela Carlota, Pata Faro, entre outras”, enumera. O fotógrafo afirma que “quer igualmente criar a exposição dos Amigos Imperfeitos em fotografia e concluir a segunda temporada em vídeo”. “Depois, ando à procura de empresas que me possam comprar uma grande quantidade de livros porque o bom deste livro é o seguinte: esta é uma edição de autor. Basicamente, sou eu que pago estes livros. Eu baixei o valor deles porque o meu objetivo é divulgá-los e
não ganhar dinheiro com eles”, explica. “A vantagem destes livros é o facto de eles serem personalizáveis, por exemplo, se o POSTAL do Algarve ou outra empresa comprasse 500 livros, poderia ser acrescentada uma página e o logótipo poderia vir na capa ou contracapa e qualquer empresa pode comprar, vender e dar o valor para a solidariedade”, afirma. Carlos Filipe espera que “o estúdio se torne ainda mais conhecido e que mais pessoas saibam que existe um espaço onde os animais são bemvindos e são tratados como clientes, como estrelas, como amigos. Quero que entendam que este é um espaço de partilha. Não precisam de vir tirar fotografias mas podem vir conhecer um bocadinho dos trabalhos. A ideia é que este seja um espaço familiar”. A nível pessoal, o fotógrafo espera que “este ano seja igual ou melhor do que o anterior”. “Num ano consegui fazer a série dos amigos imperfeitos, escrever um livro e cresci muito como ser humano e como profissional”, conta. Carlos Filipe tem ainda um projeto
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que pretende lançar no novo ano: o entrei no mundo dos animais, sinto-me fotógrafo pretende entrar numa ver- plenamente realizado. Neste momento tente de fotojornalismo e mostrar a consigo fazer aquilo que gosto e incluir realidade nua e crua de um resgate de nisso os 'nossos eternamente amigos um animal abandonado, por exemplo. animais'”, confessa. “Quero mostrar às pessoas ‘o que Carlos Filipe conclui a entrevista se passa nos bastidores’, aquilo que afirmando que “está verdadeiranão vemos nas redes sociais mas que mente feliz”. acontece diariamente", afirma. "A melhor decisão que tomei na minha vida foi largar o meu emprego e dedicar-me • • inteiramente à • • fotografia. • • Nunca me senti tão vivo coAvª Sporting Clube Olhanense, nº 20 – Olhão • Tlm: 969 040 121 mo agora. https://www.facebook.com/bybeth.atelier.de.beleza/ Desde que pub
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Tiragem desta edição: 6.785 EXEMPLARES
O POSTAL regressa dia 20 de dezembro
••• ÚLTIMA
Mais de 10 toneladas do “melhor sal do mundo” dão vida a presépio em Castro Marim foto d.r.
Presépio ocupa uma área de 110 m2 e tem mais de 4.500 figuras O Presépio de Sal é uma das maiores atrações do Natal de Castro Marim e pode ser visto até 6 de Janeiro na
Casa do Sal. É composto por mais de 10 toneladas do “melhor sal do mundo”, promovendo e reforçando
este grande motor económico, social e cultural do concelho. Na inauguração, que teve lugar no
dia 1 de dezembro, estiveram presentes os principais rostos desta iniciativa, desenvolvida pela Junta de Freguesia de Castro Marim com o apoio da Câmara de Castro Marim e da empresa Mascarenhas & Mascarenhas, Lda., que cede todo o sal necessário à construção do presépio. A vice-presidente da Câmara Municipal de Castro Marim, Filomena Sintra, elogiou o esforço e entrega de todos os que contribuem para o sucesso desta iniciativa, em particular do presidente da junta de freguesia de Castro Marim, Vitor Esteves, e do mentor da ideia, Andrelino Pena. “É um projeto sociocultural que transfere alma a este espaço e que, em cada edição, procura ter um elemento diferenciador e atrativo, levando o bom nome de Castro Marim, valorizando ao mesmo tempo o nosso “ouro branco””, referiu Filomena Sintra, acrescentando ainda que "é uma iniciativa que reforça o espírito da quadra natalícia, um marco da cultura cristã que convida à reflexão".
Presépio de Sal ocupa uma área de 110 metros quadrados O Presépio de Sal ocupa uma área de 110 metros quadrados, onde estão distribuídas mais de 4.500 figuras, alusivas à história do nascimento de Jesus, mas também à cultura local deste território, havendo espaço para destacar o trabalho dos artesãos tão intrinsecamente ligado à identidade castromarinense. Aproveitando o trabalho de promoção e valorização que o Município de Castro Marim tem desenvolvido em torno das artes e ofícios do concelho, a vice-presidente sugeriu a criação de um catálogo, numa estratégia conjunta de divulgação deste património castromarinense de sabores e saberes. Assim, serão também desenvolvidos ateliês, para que os interessados possam criar as suas próprias miniaturas para os presépios. O presépio pode ser visitado todos os dias, entre as 10 e as 13 e das 14 às 18 horas, com exceção dos dias 25 de dezembro e 1 de janeiro, que funcionará entre as 14 e as 18 horas.
Cães de Faro já têm parque para brincar e fazer exercício fotos d.r.
O espaço conta com mais de 1.500 metros quadrados Parque Canino da União das Freguesias de Faro foi inaugurado no passado sábado. Está localizado no Alto de Santo António, na Rua de
Berlim e conta com mais de 1.500 metros quadrados de terreno onde os cães poderão fazer uso dos equipamentos de divertimento e
exercício. Com um horário de utilização compreendido entre as 8 e as 23 horas, este parque é de entrada livre para
todos os cães com mais de 4 meses, com o plano de vacinação em dia, desparasitados, chipados e com o seu registo e licença válida. Para além desta norma, a presença no parque implica o cumprimento de um conjunto de regras, que se destacam também a necessidade dos canídeos estarem sempre acompanhados e sob vigilância, sendo obrigatória a recolha imediata dos dejetos caninos. Não é permitida a entrada a canídeos doentes, ou em tratamento, de raça perigosa ou potencialmente perigosa, ou com comportamentos agressivos. Parque era há muito esperado pelos farenses
Segundo as palavras de Bruno Lage, presidente da União das Freguesias de Faro, “este parque há muito que era esperado pelos farenses, sendo um equipamento absolutamente essencial, contribuindo para uma melhoria da qualidade de vida e do bem-estar animal, para além de estimular os detentores de canídeos a efetuarem os seus registos e licenças. Para além disso, como sabemos, é obrigatório o uso de trela ou açaimo na via pública. Sendo que estes acessórios podem condicionar o bem-estar e a liberdade do cão, estes parques são uma excelente oportunidade para que as pessoas possam soltar os seus cães sem preocupações acrescidas”.