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"Não há mais água, ponto": Algarve pode suspender aumento da área agrícola

Opresidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) está convencido de que a continuação da situação de seca extrema na região vai levar muito em breve as autoridades a suspender temporariamente o aumento da área agrícola. "Temos provavelmente de ponderar se nos próximos tempos, enquanto estivermos nesta situação de seca extrema, não temos também de suspender o aumento da área agrícola temporariamente", disse António Miguel Pina à agência Lusa.

Para o também presidente da Câmara de Olhão, "não é compreensível", quando se olha para o nível de água no subsolo e para os níveis de água nas albufeiras, que continuem a aumentar as áreas de produção agrícola. Esta medida, que "tem de ser tomada pelo

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Governo", será, segundo este responsável regional, acima de tudo, para proteger os produtores que já existem. "Isto tem de ser uma reflexão conjunta. Acho que vamos ter de chegar aí. Não há mais água, ponto", enfatiza António Miguel Pina. Na perspetiva do presidente da associação que representa os 16 municípios do Algarve, a medida será, "com certeza", tomada ainda este ano, "a não ser que venha aí uma surpresa divina, que é uma chuva em maio". "Nós não temos água. Não vamos ter mais água nos próximos tempos. Não havendo água, não pode haver consumo no sistema urbano, no golfe e na agricultura", insiste. "Não vejo outro caminho", acrescentou.

Estas questões foram abordadas numa reunião que teve lugar na segunda-feira entre os autarcas algarvios, a empresa Águas do

Algarve e a Agência Portuguesa do Ambiente (APA). No encontro, foi passada em revista a situação hídrica no Algarve e apresentados os resultados das medidas de luta contra a seca que foram tomadas pelos municípios em 2022.

Fatura da água vai aumentar

Segundo António Miguel Pina, daqui a duas semanas haverá uma nova reunião em que será apresentado um conjunto de medidas contra a seca que deverão ir "no mesmo sentido" das tomadas no ano passado, quando foram encerradas as piscinas municipais, em agosto, e limitada a rega de espaços públicos. Vamos também tentar "perceber se não temos de ir, em conjunto todos, mais longe [...], quando apresentarmos essas propostas de medidas", disse o presidente da AMAL. Entre outras medidas que estão a ser ponderadas, está o aumento das tarifas para "os consumidores domésticos não responsáveis", assim como o aumento das tarifas nos municípios "que não sejam eficientes no seu uso". "Os municípios têm de dar o sinal, mas depois podemos exigir que não é possível que os campos de golfe que já possam ser servidos por águas residuais continuem ligados ao sistema agrícola", afirmou o autarca. António Miguel Pina referia-se a vários campos de golfe na região que já podiam comprar águas residuais às Estações de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), mas continuam a abastecer-se de águas do sistema agrícola a cerca de metade do preço.

Para o autarca, os campos de golfe "têm margem nos seus lucros para o fazer", isto é, comprar a água mais cara às ETAR. António Miguel Pina é também da opinião que o aumento do consumo de água devido ao aumento dos turistas tem de ser "compensado" com medidas de poupança. Os 16 presidentes de câmara do Algarve decidiram em julho do ano passado o encerramento das piscinas municipais públicas durante o mês de agosto, medida que foi prolongada até final de setembro, com exceção das piscinas abertas nos territórios mais do interior. O Conselho Intermunicipal aprovou ainda, na mesma altura, o encerramento das fontes ornamentais, a redução dos dias de rega e a paragem da rega dos espaços verdes públicos relvados com reconversão por espécies autóctones e com necessidades menores de disponibilidade hídrica. Algumas destas medidas ainda se encontram em vigor.

Falta de água impede abertura de nova zona balnear em Castro Marim

ASECA no Algarve está a impedir a abertura de uma nova zona balnear na Barragem de Odeleite, em Castro Marim, cuja cota de água não permite a colocação de piscinas flutuantes, disse à Lusa a vice-presidente da autarquia.

O nível de água atualmente na barragem de Odeleite, a maior do sotavento (leste) algarvio, é de cerca de 42,09% de volume útil, valor insuficiente para permitir a abertura em segurança desta nova zona balnear, um polo criado pela autarquia para desenvolver o interior do concelho, explicou Filomena Sintra.

A zona, localizada numa encosta a oeste da aldeia de Odeleite, é, segundo a autarca, a nova praia do Algarve, mas neste momento não há “condições de colocar as piscinas flutuantes” para permitir a sua utilização, porque a escadaria de acesso à água termina uns me- tros acima da atual linha de água.

“Agora, que estaríamos na fase de colocar a roupagem final e os módulos para as casas de banho, para o bar, serviços de apoio, e colocar as piscinas flutuantes, deparamo-nos com a realidade de que a cota da barragem não nos permite, em segurança, colocar ali as piscinas flutuantes, porque ficariam muito distantes da zona de escada do próprio centro de atividades náuticas”, lamentou a autarca.

Segundo Filomena Sintra, os responsáveis pelo projeto tiveram em atenção a média mensal desde que a barragem entrou em exploração, e projetaram a escadaria que servirá de ponto de amarração às piscinas flutuantes e se vão ajustando ao plano de água, considerando esse histórico e também as previsões. No entanto, nos últimos quatro anos, a situação de seca e falta de chuva agravou-se, sobretudo no nordeste algarvio, mas também no barlavento (oeste), condicionando a abertura do centro de atividades náuticas na barragem.

Filomena Sintra mostrou-se, contudo, convicta de que o trabalho realizado na região em termos de gestão hídrica permitirá aumentar as reservas de água e garantir que a barragem atinja níveis ideais para a utilização da zona por banhistas. “Acreditamos que, com as novas soluções que possa existir de armazenamento, de captação, de racionalização de água para o Algarve, que isto é um problema que não se vai agudizar, porque isso significaria que teríamos de repensar o nosso Algarve”, considerou.

A vice-presidente explicou ainda que, embora o projeto esteja “preparado para ter uma oscilação em altura ao nível de 15 metros” na amarração das piscinas flutuantes, neste momento “as pessoas teriam de descer uma grande escadaria para chegar às piscinas” e “não é esse o objetivo”, porque a escadaria deve “estar à cota do areal que foi ali instalado”.

A autarca espera que as condições possam em breve alterar-se para que o projeto, orçado em cerca de 900.000 euros, entre na fase de exploração, permitindo também “atrair pessoas para o interior” do concelho e ajudar ao desenvolvimento da zona.

Depois de várias vicissitudes com aprovações de projetos e planos, que causaram atrasos na obra, agora é a falta de água que condiciona o seu desenvolvimento e isso deixa residentes e trabalhadores locais descrentes quanto à entrada em funcionamento do centro náutico da barragem de Odeleite.

Cecília Neves trabalha no restaurante mais próximo do local onde foi construído o centro náutico e disse à Lusa acreditar que “realmente vai tardar um bocadinho” para que aquela estrutura entre em funcionamento.

“No início falaram em praia fluvial e agora, neste momento, a população, pelo menos, diz que vai ser um centro náutico. Agora, ao certo, não sei o que irá ser, mas qualquer dos dois seria bom para o negócio aqui da zona e para o restaurante”, afirmou. A mesma fonte admitiu que esperava que o projeto estivesse pronto já no ano passado, mas reconheceu que “este ano é um bocado difícil de acreditar” que venha a estar pronto para receber pessoas.

“Está a tardar muito mesmo, vamos ver”, disse a funcionária daquele restaurante, manifestando o desejo de que ainda chova e haja uma melhoria nos níveis de água para permitir a entrada em funcionamento do centro náutico da barragem de Odeleite.

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