Notícias de Alverca Nº197

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FEVEREIRO.2004

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IGREJA

Novos templos Alverca e Sobralinho

Nesta edição, convidámos o pároco José Maria Cortes a falar­nos, um pouco, sobre si e, sobretudo, sobre a evolução das obras dos futuros complexos religiosos de Alverca do Ribatejo e Sobralinho. Em sua companhia, visitámos os locais, ficámos a saber o que está feito e aquilo que falta, ainda, fazer... E testemunhámos a energia que emprega para “levar este barco a bom porto”

(Reportagem nas páginas 2 e 3).

Director: Paulo Pereira Chefe Redação: Mário Caritas

FEVEREIRO . 2004 EDIÇÃO MENSAL . Sai à 2.ª Quarta­feira do mês

Ano XIX . N.º 197 €0,50 . IVA 5%

AUTORIZADO PELOS CTT A CIRCULAR EM INVÓLUCRO DE PLÁSTICO FECHADO ENVOI FERMÉ AUTORISÉ PAR LES PTT PORTUGAIS AUTORIZAÇÃO/AUTORISATION: N.º107 DE 08896RCT PODE ABRIR­SE PARA VERIFICAÇÃO POSTAL

PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS PORTUGAL 2615 ALVERCA TAXA PAGA

ANIVERSÁRIO

20 anos de NA “Apagar” 20 velas é, acima de tudo, resultado de muita persistência

Não é todos os dias que se “apagam” 20 velas. Aliás, é só uma vez na vida. Ao assinalar 20 anos de (in)formação, o NA dá, acima de tudo, uma prova de persistência. Persistência de todos aqueles que por cá passaram, a começar pelos fundadores, naturalmente. Persistência

porque tem resistido às dificuldades inerentes a um “pequeno” órgão regional, feito, sobretudo, à base da “carolice”, uma palavra que está prestes a ser eliminada dos dicionários portugueses... Persistência porque quando “nasceu” a sua realidade (in)formativa era muito diferente da actual: em 20 anos, muita coisa mudou!

Porque todas as palavras não chegavam para prestar uma homenagem, simbólica, a todos aqueles que por cá passaram — redactores, colabora dores, fotógrafos, designers, comerciais, administrativos, amigos... — aqui fica, certamente, o MUITO OBRIGADO de todos os alverquenses, e não só, para eles.

Há pouco tempo, mudámos a imagem do jornal, mantendo, no entanto, as suas características, intrínsecas, que sempre o marcaram: independência, rigor, isenção, imparcialidade. Apesar de tudo, as dificuldades mantêm-se, a começar pelo reduzido corpo redactorial. Por isso, o futuro é visto, naturalmente,

com alguma apreensão, num tempo em que os Órgãos de Comunicação Social são vistos, essencialmente, como “fábricas” de “fazer” dinheiro. Nós cá estaremos para, men sal mente, levarmos a informação da freguesia de Alverca e do concelho de Vila Franca até si. Boa leitura...!


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PRIMEIRO PLANO

FEVEREIRO.2004

PARÓQUIA

“Igreja dos Pastorinhos” avança, aos poucos…!

Apesar das limitações orçamentais, os futuros complexos religiosos de Alverca e Sobralinho vão avançando. Em Alverca, está-se, por agora, a finalizar a execução das garagens subterrâneas. 2005 poderá ser um ano de inaugurações, caso cheguem os, neces­ sários, financiamentos estatais sa “Obriverca”, e sob administração direc­ta da Paróquia alverquense, o empreen­dimento vai, assim, ganhando forma, a pouco e pouco… A efectivação, no “tosco”, do Centro Paroquial é, como dissemos inicialmente, uma realidade. No conjunto dos seus quatro pisos – e quase 20 metros de altura –, haverão, entre outros espaços: capelas mortuárias, sacristia, biblioteca e área de atendimento (rés-do-chão); zona de salas, para catequese, reuniões, etc. (1.º piso); um grande salão, com palco, tendo capacidade para cerca de 300 pessoas sentadas, onde se irão realizar espectáculos, convívios e outro tipo de encontros (2.º piso); por fim, a parte des­ tinada a residência paroquial (3.º piso). Já em relação à Igreja, propriamente dita, esta consistirá numa estrutura me­ tálica, que só poderá ser implantada, num todo, depois de implementada a torre do carrilhão. O padre mostra-se confiante – o quanto baste – em vê-la concretizar--se “ainda em 2004”, afian­ çando, po­rém, que, para além dos “500 lugares sentados que irá ter”, esta será

Mário Caritas “A vista que temos, daqui de cima, é espectacular”, comentava, a dado mo­ mento, durante a (longa) conversa que manteve com o NA, o padre José Maria Cortes, do alto da estrutura de quatro andares (ainda em “tosco”) que irá ser, a médio prazo, o Centro Paroquial do novo complexo religioso de Alverca do Ribatejo, situado na Quinta das Drogas – referimo-nos, naturalmente, à obra da “Igreja dos Pastorinhos”, consagrada aos Pastorinhos de Fátima: Jacinta e Fran­cisco. Recordando a história recente, ainda estará, certamente, presente na memória de muitos alverquenses o dia 13 de Maio de 2002, data que ficou marcada pela cerimónia de lançamento da primeira pe­dra do futuro templo. Ao longo dessa ma­drugada, várias dezenas de “fiéis” ha­viam ficado acordados, em vigília, perante a Imagem Peregrina de Nossa Senhora de Fátima, no terreno destinado a acolher aquela infra-estrutura…! Decorridos quase dois anos sobre es­sa data, muitos foram os avanços concre­tizados, não só nesta cidade, como, tam­bém, na vila do Sobralinho (ler notícia nesta página). No seu jeito meio des­preocupado e brincalhão, a que já nos habituou, mas com a total noção das, enormes, responsabilidades que acarre­ tam tais empreitadas, José Maria Cortes traça-nos um ponto de situação acerca dos trabalhos, em curso, começando por Alverca… “Actualmente, estamos a acabar a execução das garagens subterrâneas: já vendemos 34 das 49 que existem, no total, e, como estas constituem uma frac­ção independente do restante edifí­ cio, basta, agora, executar os respectivos acessos para que as mesmas possam entrar, em breve, em funcionamento”, realça, desde logo, o pároco, explican­ do, também, que, “no imediato, serão cele­bradas as escrituras com os seus com­pradores”. Este é, sem dúvida, um motivo de regozijo, uma vez que os fundos obtidos com o negócio permitem suportar uma boa parcela dos custos inerentes a este, ambicioso, projecto. “Tem sido graças à transacção destas superfícies, assim como ao apoio recebido dos sub-em­ preiteiros e dos fornecedores de material, através da emissão de notas de crédito, que já conseguimos pagar, aproximada­ mente, um milhão de euros”, esclarece o responsável, acerca de um óbice cujo or­çamento final global ronda os três milhões. Tendo garantido, para já, uma ajuda camarária de 250 mil euros, o padre al­ verquense anseia, igualmente, por boas notícias, em termos de, eventuais, finan­

“um edi­fício do século XXI, muito diferen­ te da actual Igreja de S. Pedro, até porque o modo de expressão artística de hoje em dia é dispare do de antigamente”. Em jeito de sugestão à edilidade vila-­ -franquense, o pároco subleva que seria interessante – e dado que os perímetros são contíguos –, após a, anunciada, de­ sactivação da Escola Secundária Infante D. Pedro, “transformar aquele local numa ampla zona de lazer”… “As pessoas perguntam quando tudo fica pronto. Mostram-se preocupadas se vêm a obra andar mais devagar. Há, por­tanto, de uma forma geral, interesse e carinho, por parte dos alverquenses, em relação a este projecto”, finaliza José Maria Cortes, sem, no entanto, avançar com datas concretas para a sua conclu­ são. Certo é que, e dada a complexidade de alguns trabalhos ainda em falta, não será em 2004 que acontecerá a inaugu­ ração do complexo. Mas, se os fundos estatais chegarem, entretanto, até pode ser que o ano de 2005 seja “de ouro” para a Paróquia de Alverca.

OBRA

Igreja no Sobralinho “dentro de dois anos” Mário Caritas

VISÃO. É indiscutível: só o espírito empreendedor do, jovem, pároco José Cortes permitiu a execução, em curso, dos novos complexos de Alverca e Sobralinho

ciamentos, por parte do poder central. “Já formalizámos candidaturas, quer em relação à igreja, quer no que diz respeito ao centro paroquial, pelo que aguarda­ mos resposta”, assegura. Recordamos que, neste tipo de edifi­ cações, o Estado poderá comparticipar até 70 por cento do valor total da em­ preitada, mas só se o custo da mesma não ultrapassar os 750 mil euros. Ora, e dado que as candidaturas são indepen­ dentes, convém frisar que o orçamento previsto para a construção da igreja cifra-­ -se na ordem dos 848 mil euros e para o centro paroquial ronda os 939 mil. A restante verba é absorvida pela enorme torre (47 metros) que levará o carrilhão (ler peça na página seguinte). “Temos candidaturas para tudo, mas ainda não recebemos nada. De qualquer

forma, não será por falta de suporte do Estado que deixaremos de fazer as coi­ sas, pois contamos com o envolvimento da comunidade, até porque esta é uma obra de, e para, a população”, salienta José Cortes, referindo, ainda, que, mensal­mente, a “Campanha do Meio Milhão”, lançada no ano passado, “já agrega do­nativos na ordem dos 5 000 euros”, ten­do, presentemente, “cerca de 800 cida­dãos inscritos”. Fundos que, apesar de serem funda­ mentais, até porque o objectivo desta iniciativa visa – tal como o próprio nome indica – a angariação de 500 mil euros (!), levam, no entanto, o nosso interlo­ cutor a assumir que, “mais do que o re­sultado monetário, é importante a partici­pação de todos”. Coordenado, no terreno, pela empre­

Apesar de ser menos ambicioso do que o projecto alverquense, o futuro complexo religioso da vila está a suscitar o interesse da população No Sobralinho, o futuro — e tão an­siado — complexo religioso está a andar a “velocidade de cruzeiro”, como se constata, no terreno. “Lá para o final de Maio, início de Junho, já estará de pé toda a estrutura, em «tosco», da igreja e centro paroquial”, afiança José Maria Cortes, acerca de uma obra que tardou em arrancar (Setembro de 2003), mas que, agora, prossegue a bom ritmo. Situado em pleno “coração” da vila, junto à escola básica n.º 1 e às instala­ ções do Centro Social, aquele empreen­ dimento apresenta um custo final global estimado em cerca de 2,5 milhões de euros, sendo que, o orçamento para a construção do centro paroquial é na or­ dem dos 994 mil, ao passo que para a igreja ronda os 637 mil euros. Para além de contarem com o apoio camarário, ambas as empreitadas já fo­ram candidatadas a fundos governa­ mentais. “Já formalizámos, inclusive, um protocolo com a administração central, relativo ao centro paroquial, pelo que aguardamos a sua concretização”, expli­ ca o pároco. Outra “fatia” importante de financia­

mento será garantida, à semelhança do que acontece em Alverca, com a venda de garagens — 25 duplas, para além de estacionamentos individuais, em boxe ou marcados no chão —, que ocuparão duas caves e que “começarão a ser co­mercializadas no dia 13 de Março, es­tando prontas e a funcionar no próximo Verão, sendo a primeira coisa a ficar fina­ lizada”, esclarece José Cortes. Entretanto, e porque é indispensável o contributo da população, irá decorrer uma campanha com vista à angariação de donativos mensais. “Existe, aqui, um grande espírito de participação e estou convicto de que as pessoas se irão en­ volver”, assume o responsável. Assim, e após uma primeira fase de escavações, estão, actualmente, em execução as fundações, seguindo-se a implementação da infra-estrutura. “Tal­vez já dê, este ano, para celebrar lá algu­mas missas, mas num sítio ainda impro­vi­ sado”, alerta o padre. No que diz res­peito à sua conclusão oficial, José Cortes con­ clui: “Se tudo correr bem, dentro de dois anos o equipamento será inaugu­rado.”


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PRIMEIRO PLANO

FEVEREIRO.2004

TORRE

Carrilhão de Alverca assegura patrocínios

Será uma verdadeira obra-prima de arquitectura e engenharia: o “Carrilhão da Nova Igreja dos Pastorinhos” erguer-se-á a 47 metros de altura, com os “seus” 72 sinos...

COMPLEXO RELIGIOSO. Em destaque (na imagem), a, futura, torre de 47 metros que irá albergar o “Carrilhão dos Pastorinhos”

Mário Caritas Integrada no futuro complexo religioso de Alverca, uma torre, com 47 metros de altura, irá servir para albergar o maior carrilhão português, segundo maior da Europa e terceiro maior do mundo. 72 sinos — 69, numa primeira fase —, com pesos que vão desde os cinco quilos até às 5,3 toneladas (num total que ultrapassa as 34 toneladas), irão dar vida àquele instrumento musical, de­veras original, ainda pouco divulgado no nosso país — apesar do Carrilhão de Mafra, por exemplo, existir desde 1730 —, mas sobejamente conhecido nalguns

pontos do “velho continente”, e não só. Designado “Carrilhão da Nova Igreja dos Pastorinhos”, este apresenta, igual­ mente, valores elevados: o sino mais ba­rato custa (ainda na moeda antiga) 60 mil escudos e o mais caro 26 mil contos! Um problema que já foi, praticamen­ te, ultrapassado, mediante o patrocínio de particulares, autarquias, associações, ins­tituições e empresas, quer da zona, quer fora dela, e até mesmo do estrangei­ ro. Ou seja, por outras palavras, as diver­sas entidades adquirem os sinos e o seu no­me fica lá gravado, constituindo uma forma graciosa de se ultrapassar a ques­tão. Nalguns casos, os patrocínios são re­

partidos, de maneira a que os valores a si inerentes possam ser melhor suporta­dos. Como já frisámos, de um modo ge­ral, o processo está a decorrer bem, de encontro às expectativas dos responsá­ veis, tendo a sociedade civil respondido ao apelo, apesar de ainda faltar acordar alguns sinos, nomeadamente os mais caros. Presentemente, todos os sinos en­ contram-se a ser fundidos na Holanda — país de grandes tradições, a este nível —, sendo, de facto, grande a expectativa. “Estou convicto que depois do carrilhão estar a funcionar, ao vivo, os patrocina­ dores que ainda nos faltam irão apare­ cer”, salienta José Maria Cortes.

CARRILHÃO. Este é um dos Sinos já fundidos, em fase de acabamento

As irmãs Ana e Sara Elias, duas experi­mentadas carrilhonistas, alver­ quenses, são as pessoas que irão dedi­ lhar as pri­meiras notas musicais, naquele instru­mento. “A música produzida será suave, vai-se espalhar por toda a cidade, em belos concertos ao final da tarde...”, afian­ça o pároco. José Cortes reafirma, ainda, que “o elevado número de sinos não equivale a barulho, mas, antes, à possibilidade de se fazer música, em que cada sino cor­responde a uma nota”, descansando, assim, os moradores da área em relação a, eventuais, “incómodos sonoros” que possam vir a existir. No que diz respeito à construção da

torre, propriamente dita, e dado o carác­ ter muito suis generis desse empreendi­ mento, a Paróquia continua à procura de uma empresa especializada para exe­ cutar o trabalho, uma vez que a obra terá de ser realizada em contínuo e segun­do um sistema de moldes deslizantes. “Penso que a situação ficará resolvida nas próximas semanas”, conclui o padre. Na base do edifício, existirá um bar, onde os visitantes poderão reconfortar o estômago, antes de — caso assim o en­tendam — visitarem os sinos, através de um elevador, e, para os mais afoitos, ve­rem os telhados de Alverca no mira­ douro cimeiro.

PERGUNTA E RESPOSTA

José Cortes, a sua ligação a Alverca e o mundo de hoje/amanhã

Mário Caritas

Há seis anos e alguns meses, José Cortes chegava a Alverca. Foi o início de uma missão que se tem revelado “uma grande opor­ tunidade de crescimento pessoal” “Notícias de Alverca”: O Sr. pároco foi, recentemente, agraciado com a Me­dalha de Mérito Social da Cidade de Al­verca do Ribatejo. Que significado teve, para si? José Cortes: Fiquei contente, embo­ ra eu não a entenda como uma questão de mérito pessoal. É, sobretudo, o mérito desta equipa que trabalha comigo, pes­ soas extraordinárias, com quem tenho aprendido muito. “NA”: Percebe-se que gosta bastante de Alverca... J.C.: Sim. Cheguei no dia 5 de Ou­ tubro de 1997 e, desde então, tenho feito muitos amigos e aprendido imenso. Tem sido uma grande oportunidade de cres­cimento pessoal. Estou muito bem

aqui e por cá ficarei enquanto não me envia­rem noutra missão. “NA”: Bom seria que quando, even­ tualmente, tivesse que partir, as obras, em curso, se encontrassem concluídas... J.C.: Exactamente. Esse é, aliás, um desejo pessoal que espero que se con­cretize. “NA”: Como se tem adaptado ao crescimento desta cidade, em termos da missão católica que desenvolve, diaria­mente? J.C.: Bom, esse é um grande de­ safio e de uma enorme exigência. Daí a ne­cessidade, também, de um novo tem­plo, de forma a darmos melhores res­postas às muitas pessoas que nos pro­curam. “NA”: Quando cá chegou, percebeu

logo que era necessário levar por diante estas obras de Alverca e Sobralinho? J.C.: Aquilo que percebi, no imediato, foi a necessidade de se fazer qualquer coisa. Claro que, na altura, achei difícil le­var essas ideias por diante, mas entendi que era uma lacuna e que tinha de ser resolvida. É como fazer-se uma “pega de caras” — como se diz no Ribatejo —, mas, desde que exista uma boa equipa... No fundo, é a vontade da comunidade, das pessoas, e a mim cabe-me a tarefa de a levar por diante. “NA”: Em sua opinião, qual é o papel da instituição Igreja, no novo século? J.C.: Sobretudo, o da salvaguarda do humano, tantas vezes espezinhado. Vive­ mos, actualmente, num mundo muito

de­sumanizado e, oxalá, possa a Igreja, com a sua presença e função educativa, con­tribuir para uma maior humanização. “NA”: Quando o Papa João Paulo II nos deixar, como será? J.C.: Este Papa é um caso único, na história, dada a sua personalidade mul­ tifacetada, de intelectual, de pastor, de intervencionista, de capacidade mediá­ tica. Não sei como será o futuro, mas, para mim, foi um privilégio ter vivido no tempo Dele. “NA”: Chegou a privar com João Pau­lo II? J.C.: Já estive muito próximo Dele, mas, infelizmente, nunca Lhe falei pes­ soalmente.


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ESPAÇO NA

FEVEREIRO.2004

PÓVOA DE SANTA IRIA

Separadores da Ernest Solvay geram polémica

AGENDA úteis Alverca do Ribatejo

Junta de Freguesia: Tel.: 21 958 76 80 Fax: 21 958 76 81 Bombeiros Voluntários: 21 958 08 14 GNR: 21 958 05 14 Delegação da C.M.V.F.X.: 21 958 31 49 Casa da Juv. de Alverca: 21 958 41 32 CTT: 21 958 81 92 / 90 Estação CP: 21 958 26 06 SMAS (delg.): 21 958 31 99 Esc. Sec. Gago Coutinho: 21 958 22 00 Esc. Sec. Inf. D. Pedro: 21 958 12 89 Esc. Preparatória: 21 958 11 80 Táxis: 21 957 33 30

Póvoa de Santa Iria

Junta de Freguesia: 21 959 01 32 Bombeiros Voluntários: 21 959 00 32 GNR: 21 959 00 55

Vialonga

J. de Freguesia: 21 952 09 67 Bombeiros Voluntários: 21 952 15 94

Alhandra

Junta de Freguesia: 21 950 02 52 Bombeiros Voluntários: 21 950 00 21 GNR: 21 950 00 70

Sobralinho Junta de Freguesia: 21 950 05 41

Calhandriz Junta de Freguesia: 21 958 06 58

Forte da Casa Junta de Freguesia: 21 959 22 19

S. João dos Montes Junta de Freguesia: 21 950 07 01

Vila Franca de Xira

Câmara Municipal: 263 276 031 Junta de Freguesia: 263 272 717 Bombeiros Voluntários: 263 276 333 GNR: 263 273 335 PSP: 263 273 334 Serviço Municipal de Protecção Civil: 263 276 031 - ext. 144 SMAS: 263 200 600

Cachoeiras Junta de Freguesia: 263 22 590

Castanheira do Ribatejo

Junta de Freguesia: 263 29 747 Bombeiros Voluntários: 263 21 095 GNR: 263 22 522

Plano Estratégico Concelhio ou simples carta de intenções? Com o devido respeito, parece mais o programa de uma qualquer lista de alunos que se candidatam, pela primeira vez, à direcção da Associação de Estudantes e, como não sabem bem o que aquilo poderá ser, prometem tudo… ou seja, este mundo e o outro. Já agora, Senhora Presidente o que querem dizer expressões como “cidade linear polinucleada” e “estrutura verde urbana”? Expressões como estas, de estratégico não têm nada, a não ser que a estratégia seja ludibriar os eleitores… Como um “baralho de cartas” “O edifício caiu como um baralho de cartas, assim que foi tocado por uma das máquinas que procedeu à sua demolição.” Foi com esta frase que o responsável máximo da Obriverca descreveu a demolição do edifício da ex­ -Mague. Só que o “pirómano” sabe que não foi assim. O edifício levou mesmo vários dias a ser demolido… Será caso para ser utilizada uma tal imagem literária? Mas, mais grave do que o excesso de linguagem, é o facto de nem a Presidente da Junta de Freguesia, nem a sua homóloga na autarquia, terem conhecimento de uma demolição daquela natureza. Hospital? Qual hospital? Em Vialonga, proliferam os sinais de trânsito indicativos da existência de um hospital. Mas, a que hospital se refe­ rem? Dá-se uma recompensa a quem indicar pormenores sobre a sua localização e, já agora, digam-nos, também, o horário de funcionamento. Variante e GNR Foi preciso iniciarem-se as obras da Variante de Vialonga para, de repente, surgirem vários elementos da GNR a controlar o trânsito, em virtude dessas mesmas obras. Onde é que estavam, anteriormente, estes elementos? Auto-estrada?!?! É notório que o troço da A1 entre Sacavém e Vila Franca de Xira deve ser desclassificado como “auto-estrada”. Solicita-se aos advogados deste concelho que usem os direitos legais, que lhe estão conferidos, e façam alguma coisa, pro bono, em prol do município. Ainda não há muitas semanas, um acidente em cadeia pôs a claro as graves deficiências deste troço, nomeadamente o facto de, na maior parte da sua extensão, não existir qualquer espaço para bermas que deveriam ser utilizadas pelas ambulâncias. Também assim, e por causa disso, vai-se morrendo nas nossas estradas. Proença-a-Nova ou Vila F. de Xira? Pode uma licença de construção — dessas que devem estar em local bem visível, na construção de uma moradia ou de um prédio — emitida pela Câmara Municipal de Proença-a-Nova estar afixada numa moradia em construção no concelho de Vila Franca de Xira? Mais precisamente em Vialonga…

O pirónamo

A, recente, instalação de separadores centrais na Avenida Ernest Solvay, na Pó­ voa de Santa Iria, tem sido um dos casos mais polémicos, ao nível do concelho, nos últimos tempos. Isto face, sobretudo, a, alegadas, dificuldades de circulação que os mesmos vieram impor, nomeada­ mente à entrada e saída de viaturas dos Bombeiros Voluntários, situados na Quin­ta da Piedade. A Assembleia de Freguesia local aprovou, mesmo, por maioria — votos favoráveis da CDU e PSD e contra do PS — , a sua remoção, pese embora a decisão final “de não os retirar” caiba sempre ao exe­ cutivo da Junta, liderado pelo socialista Dias de Almeida. Em sede de Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira, no seio de um, aceso, debate sobre o assunto, aquele autarca confirmou estar disposto a proceder “a pequenas alterações, de forma a corrigir algumas situações”, numa obra cuja li­cença o mesmo não requereu junto do município, o que suscitou o seguinte la­mento de Maria da Luz Rosinha: “A Câma­ra deveria ter-se pronunciado, me­ diante a apresentação de um projecto, o que não aconteceu”, acrescentando, porém, que “técnicos da Direcção Geral dos Transportes Terrestres já concluíram que estes separadores constituem uma cons­trução exemplar, que deveria ser adop­tada noutros locais”.

FORTE DA CASA

Assembleia “chumba” destituição do presidente

António Marques Dias (PS) continua a liderar a Assembleia de Freguesia do For­te da Casa. Em sessão extraordinária da­quele órgão autárquico, CDU e PSD apre­sentaram uma proposta conjunta vi­ sando a destituição do actual presidente, que, no entanto, foi “reprovada” — como era, aliás, de esperar — pela maioria socia­lista. Sete votos favoráveis do PS contra cinco do PSD e CDU ditaram, assim, o desenlace final. Recordamos que António Dias tem sido alvo de inúmeras críticas por parte dos eleitos das bancadas da oposição, que o acusam, nomeadamente, de “falta de isenção política, não respeito pelas figuras regimentais e por uma gestão democrá­tica, e ‘colagem’ ao PS”.

Farmácias de Serviço FORTE – PÓVOA

Fevereiro/Março S.Dias 21 958 17 96 Dias 5 - 11 - 17 - 23 - 29 Dias 6 - 12 - 18 - 24 - 30

Estevão 21 958 29 30 Dias 5 - 12 - 18 - 24 Dias 1 - 7 - 13 - 19 - 25 - 31

Mercado 21 958 06 29 Dias 1 - 7 - 13 - 19 - 25 Dias 2 - 8 - 14 - 20 - 26

Central 21 958 06 39 Dias 2 - 8 - 14 - 20 - 26 Dias 3 - 9 - 15 - 21 - 27

Nova Alverca 21 957 06 68 Dias 3 - 9 - 15 - 21 - 27 Dias 4 - 10 - 16 - 22 - 28

“Farmácia Raposo” Arcena 21 957 30 20 Dias 4 - 10 - 16 - 22 - 28 Dias 5 - 11 - 17 - 23 - 29

Viaduto “sem saída” já tem solução

Já existe uma solução para o, propa­ lado, viaduto “sem saída” que liga as fre­guesias do Forte da Casa e Póvoa de Santa Iria. Recordamos que, do lado da Póvoa, a futura rodovia termina, de forma abrupta, numa escarpa, vários metros abaixo do nível do solo, sendo, desde o início, questionável a sua viabilidade téc­nica. Actualmente, e depois de adquirido o ter­reno correspondente ao referido “morro” — após demorada negociação com o proprietário, a área veio à posse do mu­nicípio pelo valor aproximado de 400 mil euros — existem condições para o pro­motor concluir a empreitada “ainda em 2004”, uma vez que, apesar do declive, é possível levar por diante a sua execu­ção.

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SOCIEDADE

FEVEREIRO.2004

PALAVRAS para que vos quero... Um espaço dedicado a todos A redacção do NA agradece a todos aqueles que têm colaborado neste espaço, enviando textos de poesia, prosa, crónica ou pequenos ensaios, sobre os mais diversos assuntos. Nesta edição, continuamos a trazer à “estampa” a compilação poética de António de Oliveira Lagarto, sob o título: “Amar o Tejo – O Velho Gabriel”, iniciando, presentemente, a publicação da Parte Segunda desse trabalho — designada: “Des­ cer o Tejo” — e retomando a sua transcrição nas próximas tiragens mensais. Os outros “escritos” que, aqui, damos a conhecer, em poesia ou em prosa, são da autoria das “vialonguenses” Maria Helena Domin­ gos e Olga Campos Rufino, e dos “alverquenses” José Serafim, Vitalina Lopes e Joaquim Agostinho. Recordamos que esta rubrica pretende ser um incentivo e um estímulo a todos aqueles — dos 8 aos 80 anos... (!) — que queiram pôr à prova a sua capacidade literária. Continuem a escrever-nos...!

“Amar o Tejo” / Parte Segunda “Descer o Tejo” I Foi limpo e bem lavado, O nosso belo veleiro. Está de novo preparado P’ra seguir novo roteiro.

X O cavalo e o campino... No seu trajo sem igual. É a força do Divino Que existe em Portugal. António Lagarto

II Autocarros vão chegando Com uma nova excursão. Turistas vão embarcando Com muita satisfação. III As velas foram içadas. A maré irá vazar. Estão as coisas preparadas P’ró veleiro navegar. IV Comandante foi falar, No megafone pegando. Uma viagem de encantar Está a todos desejando. V Largar cabos dos cabeços É voz que se ouve no ar. Não vá haver tropeços P’ró veleiro manobrar. VI Não bule nada no ar. Há uma calma acentuada. Os motores vão trabalhar, É manobra controlada. VII Telégrafos a manobrar. Indicada marcha a ré. Ao meio do rio vai virar, Aproveitando a maré. VIII Música começa a tocar Que até parece um hino. Graça fadista a cantar O belo fado do campino.

“Meu hobby ser poetisa” (Mote) Meu hobby ser poetisa, Com a pena na minha mão; Minha mente sintoniza, Dita-me o meu coração. I Desde que aprendi a ler, E aprendi a escrever; Foi uma suave brisa, Então como por magia; Fui escrevendo poesia, Meu hobi ser poetisa. II O tempo foi-se passando, Eu escrevendo, e meditando; Minha sina meu condão, Eu não sei porque assim sou; Deu-me o dote, o meu avô, Com a pena na minha mão. III Sempre com a mesma alegria, Neste dia da poesia; Eu faço esta pesquisa, E tento assim brindar; Mais um poema no ar, Minha mente sintoniza. IV Março chega a Primavera, Com sua graça austera; Muito amor, e emoção, Eu cheia de nostalgia; Invento mais uma poesia, Dita-me o meu coração. Maria Helena Domingos

IX No seu cavalo montado, O toiro é companheiro. És nobre e bem louvado, Na lezíria és o primeiro.

Um Ramo de Flores Há cerca de umas semanas, dirigi-me a uma “loja dos trezentos”, para comprar uma lembrança. Encontro-me

com uma senhora conhecida que me diz: “Por aqui D. Olga?” “É verdade.” — res­ pondi — “Venho comprar uma lem­brança para oferecer.” A senhora respon­deu-me: “De certeza que não é para a sua nora!” “Por acaso não é (disse), mas, se fosse, tenho a certeza de que a aceita­va com muito carinho.” Esta conversa fez-me lembrar a con­ versa que tive, há uns anos, com a pro­ fessora de ensino básico do meu neto... Como era habitual, fui ao café para beber uma bica. Lá estava a D. Rosa a to­ mar o seu pequeno-almoço e abrindo um presente que lhe tinha sido oferecido por um seu aluno. Isto deu início à conver­sa, uma vez que também eu trabalhava com crianças, dava aulas de trabalhos manu­ ais no ATL; disse: “D. Rosa, as crian­ças é com tanta ternura que nos dão pren­dinhas, que nos deixam felizes!” “É verdade.” — diz-me ela — “Sou professora há perto de 20 anos e a pren­da que mais me marcou recordo-a sem­pre com ternura. Dei aulas, uns anos, numa aldeia do Alentejo, fazia anos nesse dia, e, ao entrar na aula, os meus alunos deram-me os parabéns em coro; de se­ guida, foram-me dando cada um a sua prenda, quando notei que faltava um, o mais pobre, o João. Nisto, bateu a porta e entra o João, descalço como de costu­me, muito cansado e oferece-me um grande ramos de flores do campo, que acabara de apanhar, e disse: «Toma lá professora.» Comoveu-me de tal maneira que as lágrimas saltaram-me, e vi, naquele ramo tão lindo, muito amor.” Pois é, o amor que muitas vezes nos transmitem, nas prendas que nos dão, enriquecem as mesmas.

Os que não sabem imitar Aqueles que sabem mais E amigos de os ajudar. Mas há os desconfiados Pelo mau tempo passado Estão sempre a duvidar São como o gato escaldado. E passam a ser vaidosos Vaidosos na teimosia Fracos no seu modo de ver E com uma grande mania. Somos um Portugal de vaidosos E como não paga imposto Conforme é a inteligência Faz a vaidade ao seu gosto. Nota-se as pessoas mais simples Andam sempre no bom caminho Ao Domingo ou de semana Trazem o nariz direitinho. Mas há aqueles importantes De narizes arrebitados Porque subiram um pouquinho A maioria empurrados. Pelo tempo que andamos cá Devia haver mais simplicidade Neste pequeno país pobre E tão grande na vaidade. Eu peço desculpa a todos Do mais novo ao mais idoso Tenham saúde com vaidade Porque eu também sou vaidoso José Serafim

Olga Campos Rufino Beijo de Filha A Vaidade Não te importes seres vaidoso Mas se fores homem de bem Para que numa tristeza Tentares ajudar alguém. E esse alguém reconheça Que és um homem competente Embora não aparentes Mas és bom, e inteligente. Também há gente que não sabe Nem sabe, nem quer saber Não aprendeu até agora E já é tarde para aprender. A fraqueza não paga imposto

Grande beijo eu vi dar Uma filha à sua mãe E fiquei logo a pensar Um beijo assim faz tão bem Andam sempre bem juntinhas O carinho delas me seduz Pois assim valeu a pena Ser mãe, ter dado à luz Parecem duas irmãs Quando pela rua vão Alegres a conversar Unidas de alma e coração Devem causar muita inveja A muita filha e muita mãe Eu por mim me confesso

Mas tenho inveja também Penso que só temos inveja Do que gostamos de ver Por isso logo pensamos Que também queríamos ter Uma nasceu para ser mãe Outra para amar a mãe querida Que Deus as conserve assim Para o resto da vossa vida Como é bom ser mãe No momento de tanto sofrer Toda a mãe dá a sua vida Pela criança que vai nascer Vitalina Lopes (11/10/2003)

Saquinho de Alfazema I Um dia certa senhora Deu-me alfazema em saquinho Bordado com duas letras Que formam Joaquim Agostinho II O saquinho é muito lindo E toda a «graça» contém Foi feito pela Graça Que toda a «graça» tem III Habilidade artesanal Trabalho de real valor O bordado deste saquinho Foi feito com muito amor IV Fico muito agradecido Da oferta do saquinho Recebi-o com ternura Até lhe dei um beijinho Dedicado à D. Graça, de Joaquim Agostinho (22/01/2004)


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OPINIÃO

FEVEREIRO.2004

Alverca: Recuperação Urbanística A população de Alhandra deve sentir-­ -se orgulhosa com o que se está a passar na sua vila. Alhandra foi, até meados do século passado, das terras mais bonitas da zona ribeirinha do Tejo, com forte actividade comercial, que, por várias vezes, se foi extinguindo, chegando até aos nossos dias em plena decrepitude, o que se re­ flectiu sobre o parque urbano. Pois bem; quem visitar agora Alhandra ficará agradavelmente surpreendido. Há imensos prédios em recuperação e já apetece passear na zona marginal — antes degradada — que se irá projectar em passeio pedonal até ao cais de Vila Franca de Xira. Isto vem provar que quando a vonta­de política se conjuga com a das popula­ções conseguem-se milagres. Alverca não tem a sorte (já teve) de ter uma zona ribeirinha. Possui, apenas, uma nesga de terra que confina com o Tejo, no ADARSE, mas, mesmo assim, se

os autarcas não se esquecerem de que os alverquenses têm saudades do Tejo, talvez se consiga vir a fazer algo de útil e agradável para a população. A propósito de valorizar e embelezar a nossa cidade, li com muito agrado, no NA, um artigo do Carlos Silva, ex-vereador da CMVFX e actual presidente da ADINE (Associação de Dinamização Empresa­ rial), em que este diz ter promovido con­tactos com as autarquias (Câmara Muni­cipal e Junta de Freguesia) para a realiza­ção de um estudo (2004), a fim de se iniciar um projecto de reabilitação (2005) da zona central de Alverca, algo degra­dada, tendo em vista recuperar o parque urbano e dinamizar o comércio. Realmente, a zona antiga de Alverca está a precisar de reanimação; e toda a zona do mercado ficará mais agradável e também valorizada com as obras que se projectam para a ampliação do Núcleo Museológico, com a integração da antiga “Casa do Ferrador” (ou “Ferreiro”).

Seria óptimo, em minha opinião, con­siderar num próximo programa a parte alta de Alverca, pois ainda existem cons­truções antigas com interesse e talvez se consiga estimular os proprietá­ rios a pro­cederem à sua conservação e beneficia­ção. No sentido de se recuperar parte da zona alta (antiga) de Alverca, em 1979, deu entrada na Câmara Municipal um ante-projecto que visava recuperar a zona da Igreja, Cumeira e Açougue. O projecto teve os maiores elogios, sendo aprovado por unanimidade. Entretanto, aconteceram eleições. Entrou para o Urbanismo um senhor ve­reador que, por insensibilidade ou por quaisquer outras razões, criou tantos im­pedimentos burocráticos, aos promo­ tores, que estes foram obrigados a deitar para o lixo cerca de 1 000 contos de pro­ jectos – verba significativa para a época. Infelizmente, hoje o que está naquele espaço são construções ínspidas, com­

José Sabino Lopes Eng.º Técnico Agrário

As autarquias debatem-se com dificul­dades financeiras. No entanto, tenhamos esperança de que os nossos autarcas sejam sensíveis a estes proble­ mas e nos façam também ter orgulho e prazer em viver nesta terra. pletamente à margem das características locais. Gorou-se uma oportunidade úni­ca! Às vezes, em conversa com amigos, perguntam-me, talvez por ser alver­ quense antigo, se não seria possível recu­perar-se o Castelo. Parece-me que nunca ninguém o tentou fazer. Mas, afi­ gura-se--me tarefa extraordinariamente complexa, para não dizer impossível: só existem duas paredes da Praça de Armas e o restante é ocupado, há dezenas de anos, por várias famílias. Com castelo ou sem castelo, Alverca não pode estagnar. Sabe-se que a época não é famosa.

O negócio que envolve o Palácio do Sobralinho Em 1993, o Município de Vila Franca optou pela compra do edificado do Pa­ lácio do Sobralinho, bem como da sua envol­vente. Integrando a sua história e identidade antigas, as curvas, os desenhos, as ma­ térias, as presenças simbólicas do edifi­ cado, o construído, o colectivo das suas formas e paisagem, ao espaço foi imple­ mentado um conteúdo, um significado novo, um programa alternativo para a sua apropriação e gestão. O palácio tor­nou-se um laboratório, um sítio de partida para o acesso aos bens culturais, um palco de representação e de demonstra­ção da animação cultural, um pólo da muse­ ologia, um lugar cultural. Manteve--se a sua forma, mas com um novo pro­grama. Recriou-se também a sua envolvente, tornando-a acessível e interpretável ou dan­do-lhe novas formas para a activi­ dade. O parque e jardim foram espaços apropriados e vividos pela população lo­cal e não só. Ao lugar deu-se-lhe um conteúdo integrado renovador de ima­gem e de actividade, com expressão e sentido para a programação cultural do Município de Vila Franca. O Sobralinho, e o seu palácio em parti­cular, assistiram a cenas diversifica­ das, enriquecedoras, representativas e

identi­tárias da actividade e programação cul­tural. A Temporada de Música aconte­ ceu no seu corpo interior, as animações para a divulgação da leitura, dos livros, da mú­sica e do teatro encontraram no seu inte­rior de representação um palco ideal, o Museu Municipal trabalhou no seu interior e nele criou uma reserva museográfica e um centro documental. Os bens culturais foram democratiza­ dos, o seu acesso social e a apropriação foram conseguidos por diferentes secto­ res sociais e etários da população do nosso município e, simultaneamente, criaram-se as condições para a divulga­ ção e o estímulo à criatividade e esponta­ neidade das disciplinas culturais e dos agentes da cultura. O palácio representou para a história, mas também deu contributos generosos para a identidade, bem como para a qua­li­ficação da relação cultural entre a popula­ção e os movimentos de cultura e insti­tui­ções de poder público. Houve estraté­gia, uma política cultural clara e demar­cada, quer nos domínios da actuação, quer nos objectivos a que se propunha. Valorizou--se a história, requalificou-se o património, concretizou­ -se um novo lugar cultural e um legado para o presente e futuro.

Em 2004, fruto de uma decisão, o Palácio do Sobralinho é envolvido num polémico processo de cedência do res­ pectivo direito de superfície, numa escala temporal de vinte anos, tendo em vista a sua exploração hoteleira. Enquadrou a decisão da actual maio­ ria do nosso município a sua política cul­tural. Para abordar a sua decisão necessi­tamos de interpretar as correntes de opi­nião, as práticas e a estratégia do Partido Socialista para o domínio da programação cultural e do património. Hoje, há, de facto, uma nova política cultural, a qual existindo, não tem, no entanto, o reflexo necessário. A sua activi­dade surge opaca, faz ruídos, destrói e aliena patrimónios, esvazia de conteúdo os espaços dedicados à cultura. Atribui apoios ao local, às acti­ vidades e aos mo­vimentos, mas depois perde na organiza­ção e valorização das identidades do es­paço, do valor cultural do município de Vila Franca de Xira. E, de forma preocu­pante, as actividades desta política cultu­ral em curso desvalorizam a participação da cidadania, não permi­ tem mais cami­nhadas e actividades às diversas comis­sões de cultura, de estudo e de reflexão, menosprezaram os instru­ mentos consti­tuídos que contribuíram no

PS: Quem quiser consultar o projecto atrás referido (1979) pode solicitá-lo ao autor deste artigo. Ndr: Na crónica mensal de Janeiro, assinada por este nosso colaborador, co­metemos um lapso na transposição do texto do papel para o computador, relativo a uma data histórica. Assim, ao citarmos o espaço temporal em que de­ correu a «Guerra da Restauração», onde se lê «1625-1640» deve ler-se «1640-1667». Já agora, como curiosidade, sai­ba que a paz entre Portugal e Espanha, após esse conflito armado, foi assinada a 13/02/1668.

Nuno Libório Antropólogo nunoliborio@hotmail.com

processo de discussão para a valorização. Voltando ao Sobralinho, justificou-se a abertura do concurso público para a atribuição do respectivo direito de super­ fície como algo inadiável, face ao volume de despesa que tal imóvel e espaço impli­cavam no orçamento e despesas do mu­nicípio, bem como uma oportunidade quase única para se criar um novo hotel, trabalho e valias económicas para a vila do Sobralinho e concelho. Ainda vale a pena refazer esta de­ cisão, porque as suas justificações não cabem nos conceitos de política e práticas de cultura que antes existiam e que hoje fazem falta. O Sobralinho já era conhe­cido como espaço cultural, a sua identi­dade construída no sistema urbano já o reconhecia na geometria e descri­ ção es­pacial, no concelho e na Área Metropoli­tana de Lisboa, como lugar para as activi­dades culturais; estudavam-se novas modalidades para a sua optimiza­

ção, como recurso cultural, e para outras acti­vidades que não colidissem com o fim a que o palácio se destinava; pensava-se e desenhava-se um cenário de futuro para o espaço também como valia para a riqueza e dinamização de actividades da economia local. Mas, optou-se pela outra alternativa, a de uma política de cultura diferente, de aproveitamento e criação dos bens e de divulgação da cul­tura assentes na lógica do lucro, e do lucro fácil, de só se fazer cultura se esta der resultado e proveito económico. Nada de mais errado e redutor inclusive. Esta decisão, as práticas e a política da autarquia vila-franquense merecem urgente reflexão e resposta. À mudança do tempo desejamos no­ vas escalas e aprofundamento dos recur­ sos e dos instrumentos públicos para a criação e divulgação dos bens, bem como de úteis meios para o fabrico ainda mais intenso da espontaneidade, da liber­dade, da criação cultural. Não se regres­sa ao passado, mas reconhecem-se as expe­ riências e, a partir delas, aprofun­dam-se e valorizam-se as boas práticas. Hoje, é útil questionar se assim haverá condições para a história e identidade, se não é urgente trabalhar e propor outro modelo de desenvolvimento cultural.


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SOCIEDADE

FEVEREIRO.2004

ALVERCA

Cegada leva a cabo “Amostra de Teatro”

Como forma de assinalar os seus 18 anos de vida, o grupo alverquense convidou 18 conjuntos teatrais, para uma “amostra”, inédita, a decorrer durante, quase, dois meses Mário Caritas De 5 de Março a 24 de Abril, os cami­ nhos da “arte de representar” cruzam-se em Alverca do Ribatejo. No âmbito de uma parceria estabelecida entre o Ce­gada Grupo de Teatro e a Junta de Fregue­sia, irá ter lugar uma “Amostra de Teatro” – inédita, até ao momento, neste municí­pio –, envolvendo 19 conjuntos, no total, oriundos de vários pontos do concelho e do país. A assinalar 18 anos de existência, o Cegada aproveita, assim, a entrada na “maioridade” para levar a cabo a sua iniciativa mais arrojada, até ao momento. “Tudo começou com um desafio que nos foi lançado pela autarquia local, em Abril do ano passado, e que aceitámos de imediato”, conta José Teles, um dos res­ponsáveis do grupo. A partir daí, começaram-se a juntar as “sinergias” necessárias para “pôr de pé” tão ambicioso projecto. E cá está ele… Os espectáculos, cuja entrada será gratuita, realizar-se-ão sempre às Sex­ tas--feiras e Sábados ao serão (21h30m) e Sábados à tarde (16h), em dois espaços alternativos: num auditório, im­ provisado, na antiga sede da Sociedade Filarmónica Recreio Alverquense (SFRA) – desi­gnado, para este evento, de “Amostra Auditório” – e no novo Grande Auditório da cidade (SFRA). Regra geral, as representações de

Sexta-feira e Sábado à tarde acontece­rão no “Amostra Auditório” e as de Sá­bado à noite no Grande Auditório da SFRA. O público infantil será o destinatário das sessões “diurnas” e o público em geral das “nocturnas”. A excepção à norma tem a ver com a derradeira produção, a cargo do Cegada, marcada para as zero horas do dia 25 de Abril, na Praça S. Pedro de Alverca, intitulada: “Aldeia Global.” Será – diz José Teles – “um espectáculo com animação de rua, alegórico à luta pela liberdade”, no âmbito das “Comemorações de Abril/2003”, promovidas pelos órgãos autár­quicos da freguesia. Irão, deste modo, dar vida ao certame duas companhias profissionais – Inesté­ tica Companhia Teatral (Vila Franca de Xira) e Fatias de Cá (Tomar) – e 17 grupos amadores, a saber: Cegada Grupo de Teatro (Alverca), Grupo Cénico “A Forja” (À­ -dos-Loucos), Grupo de Teatro “Estei­ros” (Alhandra), “Lunário” (Alverca), Gru­po A Chama (Lisboa), ACgitar (Gondomar), Cale Estúdio de Teatro (Vila Nova de Gaia), Grupo Cénico da Sociedade Ope­ rário Instrução Joaquim António Aguiar (Évora), Grupo de Teatro Sobre Tábuas (Salvaterra de Magos), Pequenos Vaga­ bundos (Grândola), Grupo de Teatro APPC (Coimbra), Sociedade Filarmónica Incrível Almadense (Almada), Teatrinho de San­ tarém (Santarém), Teatro do Operário (Marinha Grande), Teatro Independente de Loures (Loures), Teatro Passagem

Mário Caritas

CULTURA. (Da esquerda para a direita, na foto): Júlio Carmo Santos (SFRA), José Teles (Cegada) e Joaquim Carreita (JFA) deram o mote para esta “Amostra de Teatro”

de Nível (Amadora) e Ultimacto (Cem Sol­dos). Os estilos apresentados irão “des­ de o teatro clássico ao de vanguarda, pas­sando pelas várias vertentes que o mes­mo atravessa, presentemente, no nosso país”, sublinha Teles. A vinda

dos conjun­tos forasteiros será “a custo zero”, me­diante regime de intercâmbio, cabendo, mais tarde, ao Cegada aceitar, eventuais, convites para participar em organizações congéneres. Todos os grupos em questão farão, apenas, uma actuação, à excepção do

Teatro Independente de Loures, que re­presentará uma peça infantil e outra para o público em geral, e do Cegada que interpretará – para além da “Aldeia Glo­bal” – os três trabalhos que tem, actual­mente, em cena, a saber: “A Maçã de Adão”, “Aululária ou Comédia da Panela” e “O Inventão ou Histórias com Pés e Cabeça” (infantil). Para a prossecução desta “amostra”, os responsáveis contam com os, indis­ pensáveis, apoios, a título gratuito, da SFRA, Agrupamento de Escuteiros de Al­ verca (que disponibilizará as suas instala­ ções aos conjuntos que necessitarem de cá pernoitar), Misericórdia de Alverca (no fornecimento de refeições) e, ainda, Grupo Cénico “A Forja” e Grupo de Teatro “Esteiros” (ambos com suporte logístico). De momento, está-se, também, a tentar angariar mais algumas ajudas junto do comércio e indústria local. “Este será um passo em frente na actividade cultural que cá se pratica”, sustenta Joaquim Carreira, eleito do exe­cutivo da freguesia, complementado por Júlio Carmo Santos, artista plástico e res­ponsável na SFRA: “Penso que será uma grande efeméride, virada para toda a co­munidade.” “O Cegada faz 18 anos e, por isso, decidimos convidar 18 grupos”, conclui José Teles. E agora… SOBE O PANO!

HISTORIAL

Quem é o Cegada?

O Grupo de Teatro Amador de Alverca nasceu a 9 de Março de 1986 e está prestes a entrar na “maioridade”… A 9 de Março de 1986, alguns for­ mandos de um Curso de Iniciação ao Tea­tro resolveram criar, inicialmente, o cha­mado Núcleo de Teatro da Casa da Juven­tude de Alverca, que, mais tarde, viria, então, a dar origem ao Ce­gada Gru­po de Teatro, que, hoje, co­nhe­ce­mos.

Sediado, inicialmente, na Casa da Ju­ventude e da Cultura de Alverca, o con­­junto andou, depois, “com a casa às cos­tas”, por várias vezes: num pri­meiro mo­mento, instalou-se numa loja, no Chou­pal; depois, no Auditório Mu­nicipal Scala; posteriormente, num es­paço da Quinta da Vala; e, por fim, nu­ma sala

de aula, desactivada, da Es­cola Básica do 1.º ci­clo n.º 2 de Alverca, onde se encontra, actualmente. Para além do teatro amador, onde conta, já, com variadíssimas produções levadas à cena, o Cegada desenvolve outras acções, paralelas, dentro e fora do palco, com destaque para a promo­ ção de sessões de poesia, a partici­pação

nas “Comemorações de Abril” e a dina­ mização lúdica do “Dia Europeu Sem Car­ros”, entre demais parce­rias. Anualmente, estes levam, ainda, a cabo uma “Oficina de Teatro”, virada para a formação de jovens actores, com o objectivo de lhes estimular o gosto pela “arte de representar”.

LARGO do mercado

Face ao trabalho desenvolvido, em prol da cultura, o Cegada recebeu, em 1998, o Galardão de Mérito Cul­tural da Cidade de Alverca. Agora, en­tra na “maioridade”, com um evento que pro­mete ser, no mínimo, arro­jado…

entrevistas Sandra Xavier fotos Mário Caritas

Alverca tem a actividade cultural que merece ou deveria ter mais? Maria Orlanda Salsinha

Encarnação Barão

Ivone Paixão

Maria Luísa Fernandes

58 anos Aposentada

68 anos Doméstica

56 anos Doméstica

74 anos Aposentada

. Deveria ter mais. Há teatro, mas pou­co. Deveriam fazer-se várias activi­ dades, tal como a pintura, entre outras, até mes­mo voltadas para as pessoas que já es­tão aposentadas e que gosta­ riam, certa­mente, de ter determinadas ocupações.

. Ainda falta muita coisa. Há muitos anos que não há, aqui, cinema, por exem­plo.

. Deveria ter muito mais. Falta teatro, cinema, animação… Ou seja, falta, ain­ da, muita coisa.

. Eu quero ir a um cinema e não te­ nho, quero ir a um baile e não há, quero ir a um teatro e não existe...

Fernando Mesquita 40 anos Empreiteiro de Construção Civil . Não há um cinema, não há um salão de baile. Cultura, aqui, é muito pouca, de­ veria haver muito mais.


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CENTRAL

FEVEREIRO.2004

FORTE DA CASA

“Gruta Forte” prepara primeira representação em público

Mário Caritas

O Grupo de Teatro Amador daquela freguesia tem marcado, para 30 de Abril próximo, o espectáculo, intitulado: “Auto da Barca do Inferno.” A organização das primeiras marchas populares locais é outra das prioridades Constituído, oficialmente, a 30 de Abril de 2003, o “Gruta Forte” – Grupo de Teatro Amador do Forte da Casa, prepa­ ra-se para levar à cena, a 30 de Abril próximo, o seu espectáculo inaugural, inti­tulado: “Auto da Barca do Inferno”, de Gil Vicente, como forma de assinalar o seu primeiro ano de vida. A maioria dos indivíduos ligados, des­ de o início, a este projecto tiveram a ideia de o conceber, após se terem conhecido durante um Curso de Iniciação ao Teatro, realizado na Casa da Juventude daquela fre­guesia. “Existia um conjunto de pes­ soas que comungava das mesmas ideias e que entendia que a vila tinha necessi­ dade de mais algum nível cultural”, come­ça por nos explicar Manuel Alves, um dos pretéritos dirigentes Os primeiros “cordelinhos” começa­ ram a mexer-se, logo, em Dezembro de 2002, e, em Janeiro de 2003, estes levaram a cabo a iniciativa de “cantar as Janeiras”, junto da população, como for­ma de se darem a conhecer. “A acei­ tação foi extraordinária”, recorda-nos, satisfeito, Manuel Alves, salientando que, no início deste ano, voltaram a repetir a “dose”. Seguiu-se, ainda em 2003, a apre­ sentação de um trabalho alusivo ao Dia Mundial da Mulher e uma participação activa nas “comemorações de Abril”. O teatro, propriamente dito, arrancou em Setembro. “Temos estado a ensaiar na Casa da Juventude, cedida pela Junta, com vista a «trabalhar», da melhor manei­ ra, a nossa primeira aparição em público, neste âmbito”, refere o visado. Cerca de 50 elementos, com idades compreendidas entre os 13 e os 79 (!) anos, compõem, actualmente, o “Gruta Forte”, facto esse que, de certo modo – concorda aquele responsável – “reflecte a «fome» de cultura que, até aqui, existia

Mário Caritas

EXPECTATIVA. Os responsáveis Manuel Alves, Rosa Barral e Rui Rodrigues (na foto, da esquerda para a direita) estão confiantes no “sucesso” do “Gruta Forte”

no Forte da Casa”. Encenados pelo, experiente, Pedro Cera, estes preparam-se, assim, para, a 30 de Abril de 2004, representarem, à época, embora com algumas adapta­ ções, o “auto da moralidade”, quinhen­ tista, do célebre escritor português. A ac­tuação terá lugar, em princípio, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, po­ dendo vir a ser repetida lá ou, mediante

PROPOSTA “Gruta Forte” sugere reabilitação do “Foca” Antiga sala de exibição de filmes, no Forte da Casa, o, extinto, cinema “Fo­ca” está votado ao abandono, há já vários anos. Manuel Alves sugere, aos respon­ sáveis camarários, “a aquisição e,

poste­rior, recuperação daquele imó­ vel, de for­ma a, no futuro, a freguesia poder vir a dispor de um verdadeiro fó­rum cultural”.

convite, em qualquer outro local, quer na vila, quer fora dela. Apesar da génese do “Gruta Forte” ser o teatro, outros planos estão, igual­mente, na calha. “Temos a intenção de vir a formar um grupo coral e não coloca­mos de lado a hipótese de criar uma escola de música, dado que temos o maestro Ribeiro da Silva a colaborar con­nosco”, acrescenta Manuel Alves. Outra organização, a curto/médio pra­zo, que está a ser alvo de todas as aten­ções, são as marchas populares – as primeiras a realizarem-se naquela povoa­ção, em honra do padroeiro Sagrado Co­ração de Jesus – “que irão envolver cerca de 50/60 pessoas”, duas delas originais, intituladas: “Os Fortes” – com letra de Adriano Gabriel e música de Ribeiro da Silva – e uma terceira que é a “Marcha da Freguesia”. As inscrições estão abertas a indiví­ duos a partir dos 15 anos, sendo que, presentemente, verifica-se uma grande falta de homens para as integrar, pelo que fica o apelo à mobilização dos ele­ mentos do sexo masculino, assim como o contacto pessoal, para esse efeito, de Manuel Alves: 963454626. A Junta de Freguesia e a Casa da Juventude são os dois pontos fixos para a efectivação de inscrições. Outra das novidades tem a ver com o facto de, entretanto, o grupo estar-se a mudar, “de armas e bagagens”, para um novo espaço, cedido, a título gratuito, pela autarquia local, até 30 de Julho pró­ ximo. Trata-se de uma garagem, situada no n.º 9 do Largo Luís de Camões. “Eu penso que se está a criar expec­ tativa, junto da população, e que, no futuro, muitas mais pessoas se juntarão a nós, de maneira a podermos vir a dina­ mizar, ainda, mais actividades”, remata Rosa Barral, outra das “cabecilhas” do “Gruta Forte”.

5.ª EDIÇÃO

Vila Franca acolhe: “CARTOON XIRA 2003”

Até 29 de Fevereiro, o Celeiro da Patriarcal dá a conhecer os melhores trabalhos, publicados no ano transacto, pelos prestigia­ dos cartoonistas: António, Cid, Maia e Vasco, assim como pela ilustradora, convidada, Cristina Sampaio Mário Caritas O “Cartoon Xira 2003”, que decorre, de 29 de Janeiro a 29 de Fevereiro, no Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca de Xira, junta os melhores trabalhos publica­ dos, ao longo do ano transacto, pelos prestigiados cartoonistas nacionais: Antó­ nio, Cid, Maia e Vasco. À semelhança das anteriores edições, os, eventuais, visitantes são “brindados” com uma ex­ posição paralela, a cargo de um artista convidado, neste caso, a ilustradora Cris­tina Sampaio. Com um cunho deliberadamente hu­ morístico, os 100 desenhos escolhidos pelos quatro autores — publicados, na sua grande maioria, nos maiores perió­ dicos nacionais — procuram abordar, de forma acutilante, aquele que foi o ano político, social e cultural do país e do mun­do, com claras referências a assun­ tos tão actuais, como sejam: o processo “Ca­sa Pia” ou a “invasão” do Iraque pelas

SÍMBOLO. Representado por «um tomate, rodeado de alfinetes e contendo um picante», o “Cartoon Xira 2003” aguça-nos o sentido crítico da realidade

tropas da coligação. Do mesmo modo preocupado e aten­ to, a artista, lisboeta, Cristina Sampaio — colaboradora, assídua, do jornal “Pú­blico” e ilustradora de livros, nomeada­mente, infantis — “fala-nos”, pelo traço, do “mundo” de hoje, assim como de temas intemporais, do nosso quotidiano diário. A sua mostra chama-se: “Na Ponta da Linha.” À cerimónia de inauguração do certa­ me, compareceu o, agora, “mediático” juiz Rui Teixeira, ele que foi uma das perso­nagens mais retractadas pelos cartoo­nistas, em virtude da dimensão que assu­miu o processo “Casa Pia”. Num jeito bem-disposto, este lá foi dizendo que aprecia “bastante a banda dese­ nhada e o cartoonismo”, mostrando-se “satisfei­to” com aquilo que lhe foi dado a obser­var. Já para a presidente do município, Maria da Luz Rosinha, “esta realização constitui um meio, por excelência, de Vila Franca se afirmar no panorama cultural

nacional”, acrescentando que “o cartoon é um modo de traduzir, com alguma iro­ nia, mais suave ou mais dolorosa, muitos dos acontecimentos do dia-a-dia, neste caso concreto, referentes a 2003”. Também presente, o cartoonista An­ tónio, natural daquela cidade, mostrou-se “confiante no sucesso da iniciativa, quer este ano, quer nos próximos”, espe­rando que a mesma possa contar com “um elevado número de visitantes, co­mo, aliás, vem sendo habitual”. Refira-se que esta é já a 5.ª edição do “Cartoon Xira”, organizado pelo pelou­ro da Cultura da Câmara Municipal. Outra das surpresas deste ano foi o lança­mento de um livro, com a colaboração da editora Assírio & Alvim, intitulado: “Car­toon Xira 2003”, à venda, nas bancas, pelo preço de capa de 25 euros. O Celeiro da Patriarcal está de portas abertas, aos visitantes, de Terça a Sexta­ -feira, entre as 14 e as 19 horas, assim como aos Sábados e Domingos, entre as 15 e as 19h.


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CENTRAL

FEVEREIRO.2004

ALVERCA

João Rosa estreia: “O AUTO DA BARCA DO INFERNO. 504 anos depois…”

Mário Caritas

A ADINE é a entidade por detrás deste projecto teatral, que pretende adaptar aos tempos modernos a obra, quinhentista, do con­ sagrado escritor português Gil Vicente “O AUTO DA BARCA DO INFERNO. 504 anos depois…” É o nome do projec­ to teatral que vai estrear, no Fórum CHA­ SA, em Alverca, a 12 de Março próximo (Sexta-feira, 21h30m). A ADINE – Asso­ ciação de Dinamização Empresarial, se­diada naquele espaço, é a entidade co--organizadora do advento, cuja pro­ dução está a cargo do actor e realizador, alver­quense, João Rosa. Depois de “Poesia Apocalíptica” e “An­tes de Começar”, o jovem artista prepa­ra-se, assim, para levar, agora, à cena, nesta cidade, uma peça que pre­ tende recriar o, eterno, “Auto da Barca do In­ferno”, de Gil Vicente, mas, adaptado aos tempos modernos. “É um texto que quase todos conhecem, poderão é não conhecê-lo da forma como irá ser con­ tado”, começa por referir João Rosa. Em termos de elenco, são, ao todo, cinco os actores – Diana Lúcia, Francisca Silva, João Fernandes, Márcia Palma e Nuno Escada – que vão dar vida ao es­ pectáculo, sob a Direcção-geral de João Rosa, e, que fica marcado, desde logo, pela interacção, constante, dos vários “personagens” com um meio audiovisu­ al: a televisão. Por outras palavras, face ao elevado número de intervenientes, na­quele célebre “auto da moralidade”, al­guns “deles” serão “filmados”, à anteriori, acontecendo, à posteriori, situações em que os artistas (físicos) irão contra­ cenar consigo próprios (com a televisão, neste caso), embora representando diferentes indivíduos. O objectivo final será – como nos expli­ca João Rosa – “manter o texto, quinhen­tista, original praticamente na íntegra, mesmo ao nível da linguagem utilizada, adequando-o, no entanto, aos dias de hoje, daí resultando uma espécie de jogo, em jeito de sátira, com a socie­ dade por­tuguesa actual”. À assistência, caberá tentar perceber “quem” são os alvos visados pelas diver­

Mário Caritas

“AUTO DA MORALIDADE”. João Rosa (na foto) acredita que a “inovação e irreverência” serão a “chave” do sucesso da adaptação do texto, quinhentista, de Gil Vicente

sas interpretações, ou seja, pretende-se, pois, “que as pessoas retirem as suas próprias ilações, caso contrário a peça perderia a sua força”, reitera, ainda, aquele responsável. Depois de duas produções (acima ci­tadas) que passaram, quase, desperce­ bidas, sobretudo a primeira, João Rosa ambiciona, a partir daqui, começar a mo­bilizar, em definitivo, os espectadores de Alverca e do concelho. “O «Antes de Co­meçar» foi dirigido, unicamente, a jo­ vens das escolas. Este espectáculo, pelo con­trário, já será feito a pensar no público em geral e iremos divulgá-lo, o mais pos­ sível, com todo o tipo de publicidade, quer nas ruas, quer nos meios de comu­nicação social locais e nacionais”, asse­gura.

Mas, qualquer que seja a idade da “plateia” presente nas sessões (Sextas­ -feiras e Sábados, ao serão, e Domingos à tarde, com uma duração média prevista

de 45 a 50 minutos, até final de Março), esta terá que vir preparada para se tornar parte activa da representação. É aí que reside a outra grande “surpresa”…

SINOPSE Uma “sátira” aos nossos dias «O auto de “quinhentos” põe em cena a máquina-mundo, na qual, tal co­mo ho­je, as ideias “jogam” com as fi­guras reais. Ou seja, personificadas tem­poralmente! 504 anos depois… Uma verdadeira crítica, em tom de sátira, da sociedade actual e moderna.

A história passa-se num “porto” com ambiências de discoteca, onde o pú­ blico e as personagens se confundem, e os dois “batéis” se fundem num só televisor. Uma verdadeira simbiose en­ tre espaço cénico e o audiovisual, entre cultura e entretenimento.»

A sala onde a actuação irá ter lugar funcionará como o “porto de embarque” – descrito, por Gil Vicente, no “Auto da Barca do Inferno” –, onde se encontram “estacionados” os dois “batéis” que leva­ rão os “personagens”, após a sua morte, ora para o “céu”, ora para o “inferno”. “Acontece que esse porto terá am­ biências de discoteca”, adverte, desde logo, João Rosa, salientando que será recriado “todo um ambiente under­ ground, próprio da «noite», que servirá para introduzir algumas partes dançan­ tes, nas quais o público será chamado a parti­cipar, sendo estas despoletadas por um determinado indivíduo: o «diabo»…”. E mais não diremos. “A ideia é juntar cultura e entreteni­ mento, porque as pessoas virão ver teatro e, ao mesmo tempo, irão dançar, ouvir um som…, e esse é o aspecto que con­ fere à peça o seu carácter de irreverên­ cia”, esclarece o director artístico, que con­cretiza: “Independentemente da idade, o essencial é trazer-se o espírito aberto.” Tentar perceber que “500 anos de­ pois, a nossa sociedade continua, no fundo, a ter a mesma mentalidade, a mesma forma de estar e a mesma filo­ sofia de vida” será o desafio lançado a cada um de nós. Caso se venha a confirmar a adesão dos espectadores, João Rosa tem já em mente outro espectáculo, para o mês de Abril, “virado para um público mais es­pecífico”, adianta, acrescentando tra­ tar-se de um trabalho que “irá mexer um pouco mais com a essência huma­na”. Entretanto, continuam abertas as ins­crições para o curso de técnicas de repre­sentação, promovido pela ADINE, no Fórum CHASA, leccionado por João Ro­s a, onde os interessados têm a oportuni­dade de aprender as bases do teatro, pese embora, actualmente, não existam alunos a frequentá-lo.

PINTURA

Tatiana – cor e movimento

Mário Caritas

No Fórum CHASA, em Alverca, a artista francesa Tatiana Spitzer-Grimaldi dá-nos a conhecer o melhor da sua pintura, abstracta, em acrílico. Um verdadeiro “jogo” de cor e movimento, imperdível… A pintora francesa Tatiana Spitzer-Gri­ maldi expõe, no Fórum Cultural CHASA, em Alverca, os seus quadros, em acrílico, nu­ma organização da ADINE – Associação de Dinamização Empresarial, enti­dade que gere, actualmente, aquele es­paço. Até ao próximo dia 23 de Fevereiro (Segunda-feira), o, eventual, visitante é “brindado” com 19 trabalhos da autora, qual deles o melhor e mais atractivo. Usando cores “fortes” e garridas, ou seja, as chamadas cores “quentes”, Tatiana consegue, de facto, pôr-nos a pensar e a imaginar, quando observamos as suas telas, quase como se “entrássemos” no interior das mesmas. “Eu pinto em abstracto e a imagem que resulta, no final, por vezes, percebe­ -se bem, mas, noutros casos, necessita de ser explicada, embora eu não o faça, terão que ser as pessoas a retirar as suas próprias conclusões”, adianta-nos a, jo­vem, artista de 29 anos. «A sua pintura deixa transparecer indu­ bitável admiração pelo fauvismo, sendo as cores, e o movimento que com elas induz, um dos traços mais distintivos da sua obra», pode ler-se na nota explicativa

COR. Socorrendo-se de cores “fortes”, Tatiana “puxa-nos” para dentro dos seus quadros e leva-nos a reflectir sobre os mesmos

introdutória à autora, que, desde 1997, tem realizado inúmeras mostras, indivi­ duais e colectivas, sobretudo, em França. Desde Julho de 2003 que Tatiana, casada com um português, expõe, oca­ sionalmente, no nosso país. “Estou, ago­ra, a conseguir organizar melhor a minha vida e penso que é esta a altura ideal para me dar a conhecer e mostrar, aos outros, o meu trabalho”, salienta. Esclarecendo que acha sempre “com­ plicado atribuir um título a um qua­dro”, de sua autoria, esta adverte que tal acon­ tece porque, dada a extrema fle­xibilidade de alguns conteúdos, “o tema muda, a história que uma pintura conta altera-se de um dia para o outro”. Quanto a esta exposição, a mesma não tem um nome específico, mas, caso tivesse, Tatiana não hesitaria em chamá-­ -la: “Cores”, pois – conclui – “ficamos completamente «perdidos» nas cores das telas”. Referir que a mostra está de portas abertas de Segunda a Sexta-feira, entre as 09h00 e as 13h00 e as 14h00 e as 18h00, e aos Sábados das 14h00 às 19h00.


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SOCIEDADE

FEVEREIRO.2004

ALVERCA

Problema da Estação analisado pelo INAG

Ainda a “cheia” de 9 de Novembro último: “Cada pessoa será compensada, pela Administração Central, com um montante até 50 por cento dos prejuízos declarados”, afiança Rosinha Mário Caritas Isilda Moço é, apenas, uma das deze­ nas de residentes da Avenida Infante D. Pedro, em Alverca — mais conhecida co­mo “Rua da Estação” —, que, cada vez com maior frequência, são “visitados” pelas águas das chuvas. Só em virtude da inundação de 9 de Novembro último, esta tem a lamentar perdas materiais que, na globalidade da sua habitação e loja, ascendem “aos 2 000 contos, na moeda antiga”, refere, consternada. Face a tais preocupações, não foi, pois, de estranhar que, aquando de uma, recente, conferência de imprensa promo­ vida, no local, pelo PSD concelhio, muitos moradores tenham marcado presença e, entre os habituais desabafos de quem já poucas esperanças tem em ver o seu caso resolvido, perguntado: “Para quan­ do, afinal, uma solução?” O vereador social-democrata, Rui Rei, adverte, desde logo, que a construção da futura Bacia de Retenção, junto à zo­na ribeirinha, “não será, de todo, a chave para a extinção do problema”, reafirman­do, depois, “a necessidade de se no­mear um conjunto de técnicos, quer do município, quer exteriores ao mesmo, que analisem esta questão, no terreno, e apresentem, à posteriori, medidas de fundo a adoptar”.

Mário Caritas

SOBRESSALTO. Os moradores da Estação, em Alverca, aproveitaram a conferência do PSD para exporem a sua (enorme) apreensão

Recordamos que, com o passar dos anos, mercê das edificações que foram “nascendo” em toda a paisagem

circun­dante, a “Rua da Estação” ficou como que situada num “vale” — passe a ex­pressão —, para onde conflituam,

em dias de maior pluviosidade, todas as águas que não são absorvidas na parte alta da cidade. Tudo isto potenciado pelo “entupimento” dos sumidouros e sarje­ tas, e pela, tão-falada, falta de limpeza das linhas de água que atravessam a freguesia, entre elas, o, propalado, rio Crós Crós. “Na intempérie de Novembro último, não houve tempo para nada, pois, em 15 minutos tínhamos a água à porta”, sublinha Isilda Moço. Entre as acções desenvolvidas, no imediato, de forma a amenizar tais “sofrimentos”, conta-se a execução de uma vala, nas traseiras das casas, paralelamente às mesmas (do lado do baldio, contígua ao futuro Centro de Estágios do FCA) e, respectiva, des­ matação de toda essa área, como meio de encaminhar as águas no sentido da estação de comboios, ao invés destas transbordarem para as habitações, como se verificou naquele, fatídico, Domingo. O assunto subiu, mesmo, a reunião pública de Câmara, realizada em Alverca, tendo sido levantado pelo autarca Rui Rei, que sugeriu, mesmo, o agenda­ mento de um ponto permanente — pelo menos, de mês a mês — sobre a maté­ ria, até o problema ficar, definitivamente, solucio­nado. Em jeito de esclarecimento, Maria da Luz Rosinha começou por constatar que “a, anunciada, Bacia de Retenção não

irá, de facto, eliminar aquele óbice na sua totalidade, mas, pelo menos, irá im­pedir que as águas do Tejo venham ali parar”, explanando, depois, que “outras, even­ tuais, bacias, a serem implementa­das a montante (junto à zona da Formi­gueira, por exemplo), pelo Instituto Nacio­nal da Água (INAG), irão ajudar a reter as águas que extravasem de norte para sul”. Aproveitando o momento, e depois de aceso debate sobre o tema, o exe­ cutivo vila-franquense confirmou, então, que “o INAG irá analisar toda a situação, em permanência, fazendo-se a Câmara representar por um consultor, que consti­ tuirá, assim, a ligação com aquela enti­ dade estatal”. Rosinha afiançou, igualmente, que “todos os moradores serão indemniza­dos pelos danos sofridos, a 9 de Novem­bro de 2003”. Ao todo, foi participada, aos serviços municipais, uma verba global que ronda o milhão e meio de euros, sendo que, a Administração Central com­prometeu-se a comparticipar “cada caso, até 50 por cento do montante decla­rado”, reiterando, ainda, a edil, que “nin­guém receberá menos de 500 euros, excepto se os prejuízos apresentados fo­rem menores do que esse valor”. Não serão contempladas, neste particular, as perdas sofridas com viaturas e empre­sas.

ALHANDRA­

“Ponte Velha” vai ser alargada

A construção da casa mortuária e a, eventual, criação de um novo cemitério continuam no “topo” das prioridades Mário Caritas A chamada “ponte velha” de Alhan­dra vai ser alargada. A decisão foi, recen­ temente, anunciada, pela edilidade, e tem em vista facilitar a vida aos condu­ tores que pretendem sair da zona mais antiga da vila e entrar na Estrada Nacio­nal 10, quer em direcção a Lisboa, quer no sentido de Vila Franca de Xira. Aquela possibilidade já foi alvo de análise por parte do Instituto de Estradas de Portugal, procedendo-se, agora, à ela­ boração de um estudo prévio, que será, depois, discutido com a REFER, outra das partes que terá de emitir um parecer sobre o assunto. Maria da Luz Rosinha explica que se pretende “a rápida feitura do projecto e, posterior, execução célere, pois trata-se de resolver um (grande) problema de mobilidade dos cidadãos”. Associada a esta intervenção, proce­ der-se-á, também, à semaforização das

Mário Caritas

MOBILIDADE. “Ponte velha” de Alhandra vai ser alargada e levará sinalização semafórica

duas pontes que existem, na confluência com a EN10, “de forma a trazer seguran­ ça acrescida aos condutores”, assevera a presidente. Ainda sobre Alhandra, no âmbito da visita dos eleitos camarários àquela fre­guesia, ficou garantido ponderar-se acer­ca da criação de melhores condições pa­ra os peões que, diariamente, atraves­ sam, a pé, a linha do caminho-de-ferro, com a, eventual, construção de uma pas­sagem superior na Estação da CP. Igualmente no “topo” das prioridades, está a concretização da casa mortuária, contígua à actual igreja. “Iremos desen­ volver o estudo geotécnico do projecto, para, de seguida, colocarmos a obra a concurso público”, sustenta Rosinha. Já em relação à questão do cemitério, “está assumido, pelos autarcas locais, que a Câmara deve tentar encontrar uma solução, em termos de espaço, para a edificação de um novo, que, eventual­ mente, sirva, também, o aglomerado, vi­ zinho, de São João dos Montes”, remata.

A colocação de um painel de azulejos, alusivo aos Fortes das Linhas de Torres, no recém-recuperado viaduto sob a auto­ -estrada; a instalação de quiosques na zona ribeirinha de forma a dotá-la de maior animação; a preocupação em relação à construção da nova secção de vela do Alhandra Sporting Club, que terá de pas­ sar pela deslocalização da empresa “Sa­ niaço” — foram outros temas abordados. Jorge Ferreira, presidente da autar­ quia alhandrense, acrescenta, ainda, ou­tras preocupações, para 2004, que pas­sam por: “Arranjo e alargamento dos pas­seios, remodelação da sede administra­tiva da Junta, execução de zonas verdes e de parques de estacio­ namento para pesados.” Também citada foi, mais uma vez, a temática da falta de segurança na vila, que tem a ver com a, alegada, “ausência de meios humanos e materiais, dado que o posto da GNR de Alhandra tem um quadro deficitário, atendendo a que serve três freguesias”, conclui.


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ECONOMIA

FEVEREIRO.2004

POLÉMICA

Palácio do Sobralinho “vira” hotel de luxo

Mário Caritas

“Aquele espaço deveria continuar ao serviço da população”, alegam, de­ sagradados, os eleitos da CDU. “Sem perder, na totalidade, o seu usufruto público, esta será a melhor forma de ver aquele património reabilitado”, contradiz Rosinha Carlos Silva Consultor Carlos_Silva_90@hotmail.com

A Variante já!

Mário Caritas

PALÁCIO DO SOBRALINHO. A futura cedência para “hotel de charme” contraria, segundo a CDU, “os propósitos que presidiram à sua aquisição”

Primeiro, em reunião pública camará­ ria e, depois, em sede de Assembleia Municipal de Vila Franca de Xira, foi apro­vado, por maioria – votos favoráveis do PS e PSD e contra da CDU –, o lança­ mento do concurso público destinado à atribuição de direito de superfície, à firma York House, para recuperação, instalação e exploração de uma unidade hoteleira no Palácio do Sobralinho. “Aquele imóvel necessita de uma grande obra de reabilitação, que, no en­tanto, é demasiado onerosa para os co­fres da edilidade. Desta forma, sem estar­mos a alienar o património, pode­ remos vir a ter, por um lado, a parceria de uma entidade que se pauta pela qualidade naquilo que faz e, por outro, uma dinâmi­ca económica acrescida em torno da pró­pria vila”, justifica Maria da Luz Rosinha, acerca deste “negócio”, que vigorará por um período de, aproximada­ mente, 20 anos. Recordamos que a referida infra-es­ trutura – cuja origem remonta ao século XVII – foi adquirida, pela autarquia, em 1993, ainda durante a gestão de Daniel Branco (CDU), pelo valor de 1,7 milhões de euros (na moeda actual). Ao longo dos últimos anos, esta tem servido, so­ bretudo, para acolher alguns sectores do Museu Municipal, para além de coló­quios e conferências, pontuais. Mas, atentando nas alegações dos eleitos comunistas, esta questão está, de facto, (muito) longe de ser considera­da pacífica, começando estes, desde lo­go, por fazerem notar, entre outros aspec­tos, que todo aquele espaço irá perder o seu usufruto público, nomeadamente a vasta área de jardins aí existente. “O objectivo inicial que presidiu à com­pra do palácio está posto em causa, uma vez que a intenção seria mantê-lo ao serviço da população. No entanto, com a criação de uma unidade hoteleira de «cinco estrelas», no local, tornar-se­

-á, ob­viamente, impossível a sua fruição por parte da comunidade envolvente”, ad­verte José Neves, vereador da CDU no executivo vila-franquense. Em conferência de imprensa, promo­ vida por aquela força política, Neves acrescentou, ainda, que está “a ser pos­to em causa um pólo de desenvolvimento cultural do concelho”, concluindo: “Tudo faremos para sensibilizar os munícipes, nomeadamente os da freguesia do So­ bra­linho, no sentido de que este impor­ tante equipamento seja reconduzido à sua verdadeira vocação, ou seja, um sítio de cultura e lazer, aos dispor de todos, quer individual, quer colectivamente.” Na resposta, a presidente começa por frisar que “a edilidade não possui as ver­bas necessárias concernantes às obras de reparação e manutenção do edifício”, advogando que estão em causa “cifras muito elevadas”. Daí que, em Abril de 2003, ao ter sido confrontada com a possibilidade da instalação de um de­signado “hotel de charme”, a autarca tenha entendido ser, desde logo, ser “uma excelente ideia”. Rosinha sustenta, em primeiro lugar, que tal empreendimento poderá vir a “cap­tar, para o Sobralinho, alguns servi­ ços de proximidade e, inclusive, de pos­ tos de trabalho, directos ou indirectos”,

para além de que – remata – “sem nunca deixar de ser da Câmara, aquele imóvel irá ficar totalmente restaurado, a expen­ sas da citada firma”. Em relação à possibilidade, ou não, da população continuar a usufruir das zonas verdes envolventes, a eleita reco­ nhece que alguma extensão ficará, natu­ralmente, “vedada” aos munícipes, nela se incluindo o actual “tanque” de apren­dizagem. No entanto, também afirma, por outro lado, que “uma área significativa ficará acessível à população em geral, podendo as pessoas continuar a entrar pelo portão principal, ao contrário do que a CDU pretende fazer crer”. Depois, e abordando a questão do “tanque”, Rosinha assegura que “já está acordada, com a Junta local, a constru­ ção de um novo, algures no interior da vila, de forma a compensar os habitan­tes, pelo que já estamos a diligenciar nes­se sentido”. O futuro hotel de “cinco estrelas”, que irá “nascer no Palácio do Sobralinho, terá 32 quartos e implicará um investimento na ordem dos 2,4 milhões de euros. À estrutura existente – cuja “traça” perma­ necerá intacta – serão agregados dois módulos, que não irão afectar, em nada, aquela fisionomia “palaciana”.

LOJA NOVA Convento convertido em hotel rural Na última Assembleia Municipal, foi, igualmente, aprovada, mas, por unani­ midade, a declaração de interesse con­ celhio de um projecto de adaptação do Convento de Santo António a uni­dade hoteleira rural. A infra-estrutura situa-se no lugar da Loja Nova, fregue­sia de Vila Franca de Xira, seguindo-se, agora, a

desafectação da uma parcela de terreno da Reserva Agrícola Nacional. Segundo Maria da Luz Rosinha, o projecto já reuniu os pareceres favorá­veis das comissões de Reserva Agríco­la e Reserva Ecológica Nacional, Insti­tuto do Património Arquitectónico e Di­recção-geral do Turismo.

Este é um assunto que, aparente­ mente, não caberia nesta crónica, ape­ nas aparentemente, porque, na verdade, as acessibilidades são fundamentais para a actividade económica, dependendo, muitas vezes, da sua qualidade a consoli­ dação e desenvolvimento de uma cida­de. Este assunto é trazido a esta crónica porque se tem falado muito sobre a Va­ riante à EN10, no atravessamento da ci­ dade de Alverca. Temos lido comentá­rios bastante desfavoráveis, relativa­mente ao troço da Variante — aliás, já executado — entre a estrada da estação e a rotunda do Jumbo. Defendem os contestatários que esta solução é errada, porque se traduz, ape­ nas, na mudança da Estrada de um local para outro local da cidade, igualmente ou ainda mais problemático, devido à existência de uma grande urbanização, de escolas, do Centro de Saúde, etc. etc. Como alternativa, para não se ficarem apenas pelo “bota abaixo”, o que é bas­ tante louvável, defendem que a variante se construa em túnel na zona da estação e paralela à via férrea. Apenas para evitar fugas à responsa­ bilidade, até porque já passaram muitos anos, deve lembrar-se que a variante consta do PDM há mais de dez anos e o troço objecto de polémica já está execu­ tado há 14 anos. A solução inscrita no PDM previa a ligação entre a zona da ponte da Silveira e a rotunda do Jumbo. A solução propos­ta pela Câmara é, porém, mais arrojada, já que, tem um traçado muito maior, uma vez que liga a zona do Torrão, no Sobra­ linho, à cidade de Alverca, sem pôr em causa uma ligação entre a actual rotunda da Silveira e a variante. Esta solução, ao atravessar toda a zona “industrial” do Sobralinho, poderá acabar com a “tortu­ ra” que, hoje, constitui a saída daquela daquela área para a EN10. Os trabalha­ dores e empresários que têm que fazer, diariamente, aquele percurso sabem muito bem ao que me refiro. Voltemos ao troço mais polémico. É defendido, por quem mais se tem des­ tacado no debate sobre este assunto, que a cidade não beneficiaria com a mu­ dança da EN10 para a variante, no troço entre a estrada da estação e a rotunda do Jumbo, comparando situações não comparáveis. A EN10 atravessa, hoje, o “coração” da cidade, “partindo” em duas a zona entre a auto-estrada e a via férrea. Na EN10 os edifícios têm ligação di­recta para a estrada. No já citado troço não! A variante deve ter um perfil que torne possível a execução de rotundas,

a sepa­ração do tráfego pesado do trá­ fego li­geiro, a colocação de passagens desnive­ladas para os peões. Na EN10 nada disto é possível! Asseguradas as condições de se­ gurança para as escolas, para os que se dirigem a pé para a estação e para os residentes desta zona, não me parece que exista, hoje, melhor solução que a proposta pela Câmara. Temos, ainda, a questão da rotunda do Jumbo, já hoje congestionada. É es­ sencial rectificar a sua plataforma, bem como estudar soluções que poderão pas­s ar pelo desnivelamento da via prove­niente do nó da auto-estrada até ao acesso à estação, OGMA e DGMFA. Não quero, evidentemente, escamo­ tear que a solução em túnel seria melhor. Estamos, no entanto, a falar de investi­ mentos e complexidades completamente diferentes. Quanto ao investimento, a so­lução de túnel certamente custará dez vezes mais. Quanto à complexidade, ten­do em conta a sensibilidade do local — onde, infelizmente, os moradores têm so­frido enormes prejuízos, devido ao nível freático e às deficientes condições de escoamento pluvial —, a solução túnel comporta elevadíssimos riscos, a que não deveríamos sujeitar aquela população. É por tudo isso que digo: A VARIANTE POSSÍVEL JÁ! Já, porque a cidade de Alverca não pode esperar mais. As em­ presas não podem continuar a suportar o agravamento de custos com os trans­ portes, no atravessamento da cidade. Os cidadãos, em geral, não têm que es­perar mais para que se acabe a “tortura” que significa o acesso ou o atravessa­mento da cidade. Os alverquenses querem a sua cidade renovada e dinamizada, e isso só será possível com a urgente transformação da actual EN10 em avenida urbana, de forma a usufruir o prazer da cidade, o prazer de andar a pé, a vantagem de não misturar o tráfego de passagem com o tráfego local. Os alverquenses merecem os benefí­ cios com a variante já, e não daqui a 10 anos, ou quando for possível, se for a solução “ideal”. Não queremos continuar a ser o dor­ mitório e terra de passagem. A História de Alverca e, sobretudo, os seus mora­dores merecem soluções, cujos benefí­cios sejam sentidos e usufruídos no nosso tempo. De contrário, corre-se o risco de adiar soluções, agravar as condições já desfavoráveis e provocar a depressão, que tornará, talvez, desnecessária a cons­ trução de qualquer variante.


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DESPORTO

FEVEREIRO.2004

ECLETISMO

FC de Alverca aposta no atletismo

A funcionar desde Setembro de 2003, a secção de atletismo do FCA poderá vir a dar que falar, caso venham a ser melhoradas as condições físicas de treino e obtidos apoios das “forças vivas” locais... No activo, há cerca de cinco meses, a secção, autónoma, de atletismo do FC de Alverca veio para ficar e tem — como se diz na “gíria” — “pernas para andar”. Cerca de 25 praticantes, entre miúdos e graúdos, dão, actualmente, vida a uma modalidade que é muito “querida” dos alverquenses, mais que não seja porque, desta “terra”, já têm saído alguns nomes para a “ribalta” nacional e, até mesmo, de além-fronteiras. “A ideia surgiu do facto de existirem, nesta cidade, muitos corredores, que, no entanto, se vêm obrigados a representar outras equipas”, conta-nos Alexandre Monteiro, responsável máximo por este recém-constituído departamento, salien­ tando, ainda, que outra das razões de ser do projecto prende-se com “o desejo de ocupar os tempos livres dos mais pe­ quenos, eventualmente, interessados neste desporto”. Por isso, são já “cerca de 17” os jo­ vens, com uma média de idades a rondar os 10 anos, que, regularmente, recebem ensinamentos dos dois técnicos e um monitor que os coordenam, e, quando tal se proporciona, vão participando nal­ gumas competições de âmbito local e regional. “Os meus irmãos começaram a treinar e eu segui-os”, afirma-nos, con­victo, Ricardo Silva, 7 anos, oriundo de Arruda dos Vinhos. Com efeito, as inscrições estão aber­ tas a qualquer um, independentemente do local onde resida, pese embora a grande maioria deles sejam alverquen­ ses. “Estou, aqui, há um mês e estou a gostar muito. Há pouco tempo, en­ trei nu­ma prova e fui 4.ª no salto em altura”, afiança-nos, orgulhosa, Yuana Sagar­çano, 11 anos. “Estou a gostar, isto é bom para crescer, para estar com os cole­gas”, conclui a “benjamim” Ana Sofia, de, apenas, 5 anos. “Nestas idades, nós procuramos, fun­damentalmente, introduzir o máximo de ecletismo possível, ou seja, levá-los a fazer um pouco de tudo: corridas,

Mário Caritas

CORREDORES. Miúdos e graúdos dão vida à recém-formada secção de atletismo do FC de Alverca.

saltos, lançamentos... Só mais tarde é que con­vém trabalhar cada um numa determina­da disciplina, consoante as suas caracte­rísticas pessoais”, elucida­ -nos Alexandre Monteiro, para quem é importante, hoje em dia, “educar, des­ portivamente, os mais novos”. E as opiniões recolhidas não podiam ser melhores. “Já fui 10.ª numa corrida de 1 000 metros”, segreda-nos Karen Rojas, 11 anos. O Tomás Silva (10 ) con­ fessa-nos que a vertente que prefere é “o corta-mato”, ao passo que a Solange

Nogueira (10) adianta-nos que já venceu uma prova de salto em altura, disputada no Algueirão (Sintra), “com a marca de

1,05m”. O Kelvin Miguel, por seu turno, elege “a corrida” como a sua especiali­ dade predilecta.

SENIORES Os oito “nomes” do FCA Os oito corredores que, actualmen­ te, integram a equipa sénior de atletis­ mo do FC de Alverca são: Alexandre

Monteiro, José Paradela, Paulo Ramos, Carlos Oliveira, José Carlos, Luís Piçar­ ra, José Montes e Carlos Freitas.

Mário Caritas

Quanto aos seniores, o propósito é, no imediato, competir o mais possível e, claro está, ir arrecadando bons resulta­ dos, dado que os, actuais, oito elementos são já corredores com alguma “tarimba”. O 3.º lugar, por equipas, alcançado nos “15 Quilómetros Internacionais de Riba Fria” e o 15.º posto obtido no, recente, Campeonato Nacional de Fundo, foram duas das marcas mais significativas, re­ gistadas até ao momento. Quanto a um, eventual, passo em frente que aponte para uma, desejada, “se­mi-profissionalização”, este terá de passar, obrigatoriamente, pela melhoria das condições físicas de treino, assim como pela garantia de um apoio, susten­ tando, das “forças vivas” da freguesia... Utilizando, quase sempre, o campo pelado e o espaço em redor do relvado principal do FCA, para além do Pavilhão do Olival de Fora (Vialonga), os responsá­ veis advertem para a necessidade da pis­ ta de tartan do “emblema” alverquen­se se vir a tornar realidade. “É um pro­jecto há muito falado, que, a concretizar-­ -se, corresponderia, plenamente, às nos­sas expectativas, permitindo-nos, certa­mente, vir a atingir outros níveis competiti­vos”, induz aquele técnico. Entretanto, Alexandre Monteiro e os colegas vão preparando a participação nas chamadas provas “de fundo” (em estrada), embora os certames “em pis­ta” e de “corta-mato” sejam, igualmente, tidos em conta. Já agora, tome nota: os treinos decor­ rem às Segundas e Sextas-feiras, ao final do dia (para atletas de Alverca), e às Quartas-feiras para todos os praticantes da secção. “Estou a gostar bastante. Já entrei numa prova de apuramento para o Campeonato Nacional de Corta-Mato, onde fiquei no 10.º lugar, o que não foi nada mau para primeira vez. Claro que, no futuro, gostava de ser corredor, mas sei que é difícil”, realça Diogo Silva, 11 anos, outro dos valores desta, promis­ sora, “geração do futuro”.

ARTE MARCIAL

Muai Thay nos Cotovios Mais do que uma arte marcial, o Muai Thay é um “desporto de combate”, que, no concelho, surgiu, há 12 anos, no Vilafranquense, e há dois que existe nos Cotovios... Há dois anos, o Muai Thay chegou à freguesia de São João dos Montes. E veio para ficar! O Clube Recreativo dos Cotovios (CRC) promove a prática, re­gular, daquela arte marcial. Aliás, mais do que uma arte marcial, estamos peran­te um “desporto de combate”, dada a extrema violência dos golpes aplicados, face à possibilidade de utilização das duas maiores “armas” do corpo humano: os cotovelos e os joelhos. Considerado a modalidade nacional tai­landesa, o Muai Thay instalou-se no nosso país há mais de uma década, ten­ do surgido no concelho de Vila Franca de Xira, há cerca de 12 anos, pela mão do, consa­grado, “mestre” José Fortes, que criou uma secção na União Despor­tiva Vilafranquense (UDV). Desde essa data, o número de atle­tas tem vindo a aumentar, de forma sus­tentada, privile­giando-se a qualidade, facto esse que torna possível que o UDV seja já um “em­blema” de respeito a nível interno e, mes­mo, no estrangeiro. Bruno Miguel, 26 anos, praticante há 10, é aluno de José Fortes e, simulta­ neamente, dinamiza a escola dos Coto­ vios, sendo co-adjuvado pela sua espo­ sa, Carina Baptista, também ela com

Mário Caritas

DUROS. A prática, regular, do Muai Thay, neste caso, nos Cotovios, obriga todo o desportista a dar o máximo de si próprio

ex­periência na matéria. Os treinos têm lugar, no ginásio do CRC, todas as Quin­ tas-feiras, ao serão, e Sábados à tarde. “Por ser tão brutal e pesado, há pes­soas que aparecem só um dia por sema­na, fora aqueles que experimentam uma vez e, depois, desistem”, constata o téc­nico, explicando, de seguida, quais as diferenças que existem em relação às outras duas artes marciais “irmãs” e que tornam esta tão suis-generis: “O Full Con­tact é, sobretudo, boxe e só permite gol­pes acima da cintura; o Kick Boxing já contempla golpes abaixo da cintura e o principal objectivo é conseguir bater com a tíbia na coxa — o chamado «lou kick» —, sendo o resto igual ao «full»; o Muai Thay mete tudo, ou seja, boxe, «lou kick’s», circulares, luta corpo-a-corpo, projecções e as tais «armas poderosas» que são os cotovelos e os joelhos.” As três disciplinas podem ser desen­ volvidas em simultâneo. O Bruno, por exemplo, iniciou-se no “full”, mais tarde, passou para o “kick” e, finalmente, en­ controu aquela que considera ser a sua “paixão”: o “muai”. Actualmente, ensina a lutar cerca de 15/20 jovens, a maioria deles oriundos de fora dos Cotovios.

Mário Caritas

“Es­tamos a formar uma equipa razoável, mas ainda não nos podemos meter em grandes aventuras”, esclarece, salientan­ do que as portas estão sempre abertas “a atletas de todas as idades, a partir dos sete anos”. “Este desporto não é só para ho­ mens, embora as mulheres que o exer­ cem sejam, de facto, em número muito reduzido”, adverte Carina Baptista, prati­ cante há três anos. Aliás, Dina Pedro, a representar o UDV, é a única portuguesa, neste momento, que combate a um nível dito “profissional”. De resto, qualquer lutador que se sinta preparado pode-se inscrever nas diver­sas competições, começando por com­bater a uma escala regional, seguindo- -se o nacional e, por último, a passagem de “amador” para “profissional”, com o consequente “passaporte” para prestar provas em qualquer ponto do planeta. Ao som da música tailandesa, treinos e combates do Muai Thay mostram-nos aquilo que só vemos nos filmes do Jean Claude Van-damme e “companhia”, em que os praticantes procuram conjugar harmonia com segurança, buscando o seu próprio auto-domínio físico e psíqui­co.


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DESPORTO

FEVEREIRO.2004

FUTUROS “CRAQUES”

“Escolas” do FCA lideram campeonato

O NA foi ao encontro da formação de “escolas” do FC de Alverca e saber do trabalho que aí se faz...

Hélder Dias

FUTURO. Com os olhos postos no “amanhã”, os “escolas” do FCA vão mostrando aquilo de que são capazes

Mário Caritas Marco Paulo Silva, 23 anos, é o actual técnico principal dos “escolas” do FC de Alverca, sendo co-adjuvado por Rui An­drade. Vamos conhecer melhor esta equipa, que segue destacada no 1.º lugar da sua série, no campeonato distrital de Lisboa, época 2003/2004... “Trabalho, aqui, como treinador, há cinco anos, e há quatro que estou com este escalão”, começa por referir o antigo guarda-redes das camadas de formação do clube, que, ao subir a sénior, ainda representou o Povoense e o Alhandra, mas, que acabou por optar, em definitivo, por abandonar as “lides” competitivas. Marco prepara, também, os guarda­ -redes de todas as categorias do FCA até ao juniores, inclusive. Para além disso, dedica parte do seu tempo sobrante à

“escolinha” do Sobral de Monte Agraço. Detentor, já, do “Curso de Treinador de Nível 1”, este afirma que a sua missão “é de enorme responsabilidade, pois trata-­ -se de criar as bases daqueles que serão os atletas de amanhã”, constata, pelo que, sublinha a necessidade “dos miúdos se­ rem acompanhados por pes­soas devida­ mente qualificadas, para es­se efeito”. O presente plantel é constituído por 21 jogadores, metade dos quais ascen­ dem, na próxima temporada, a “infantis”. Entre os oito e os 11 anos, os praticantes têm, aí, a oportunidade de explanarem todas as suas potencialidades, sendo que, para os mais novos (5-8 anos) exis­tem os “escolinhas”, orientados pelo Sr. Bento, para um primeiro contacto com a bola. No início de cada campeonato, ou seja, na chamada “pré-época”, muitos são os jovens que aparecem à procura

de um lugar naquele grupo. “São, nor­ malmente, cerca de 60”, assegura Mar­ co, sublinhando, no entanto, que, para a maioria, “torna-se difícil ficar, até porque temos de contar com os que já cá estão”. Logo — conclui — “aqueles que entram têm mesmo que ser bons e, por isso, a escolha deve ser rigorosa”. E apesar das vitórias/derrotas não se­ rem, naturalmente, o fundamental, até pelas idades em questão, sabe sempre bem a liderança, destacada, do FCA na pretérita prova. “Os resultados acabam por ser importantes, pois reflectem o bom trabalho de formação que cá se faz”, advoga, acrescentando que os objecti­vos, para o resto da temporada, passam pela “conquista do título distrital”. João Cruz, 10 anos, é o “capitão” de equipa. Este “defesa”, no FCA há um ano, mostra-se “confiante” no sucesso do conjunto. Um dos “artilheiros” é o avançado Gustavo Teixeira, 11 anos, “sub-­

-capitão”, já com 11 golos no activo. O outro “sub” joga no extremo oposto do campo, a guarda-redes, e dá pelo nome de Ruben Santos. Já agora, tome nota: para os “escoli­ nhas”, as inscrições estão sempre aber­ tas, podendo os mais pequenos, entre os cinco e os oito anos, aparecer no rin­que sintético do FC de Alverca, todas as Ter­ ças e Quintas-feiras, entre as 19h30m e as 20h30m, devidamente equipados para treinar. Já em relação aos “escolas”, o ideal é os interessados aparecerem no início de cada época, ou seja, nos meses de Setembro/Outubro. Quanto as metas pessoais do, ainda, jovem técnico Marco Silva, estas passam por “aprender o mais possível e ir o mais longe que for capaz, o que implica, a médio prazo, tirar o nível 2 de treinador e, quiçá, no futuro, vir a ser profissional”.

A União Desportiva Vilafranquense já tem Direcção! José Fernando Horta Casqui­ nha (presidente-adjunto no anterior elen­ co demissionário) é o novo “timo­neiro” do órgão executório do clube, ten­do encabe­ çado uma lista que, no passa­do dia 29 de Janeiro, se submeteu ao sufrágio dos associados e que foi eleita pela maioria dos votantes presentes. O actual líder é secundado pelo anterior presidente, António Machado Lourenço (agora, no papel de adjunto), que — re­ cordamos — havia apresentado a sua demissão, assim como toda a restante Direcção, na sequência do clima de sus­ peição gerado em torno das contas da colectividade, manifestando, mesmo, o desejo de não voltar a exercer qualquer cargo directivo naquele, carismático, “em­blema”.

PÓVOA DE SANTA IRIA

Bragadense “empossa” novos corpos sociais

Foram, recentemente, empossados, pa­ra o mandato 2004-2006, os novos ór­gãos sociais do Grupo Recreativo e Des­portivo Bragadense, colectividade sedia­da na freguesia da Póvoa de Santa Iria. Floriano Constantino é o presidente da Direcção, ao passo que Manuel Louro e José Manuel Lopes lideram, respectiva­ mente, a Assembleia Geral e o Conselho Fiscal do clube.

SOBRALINHO

UDCAS reelege Direcção

FUTUROS “VALORES”

“Escolas de Futebol” animam o concelho

Aproveitando o 1.º Encontro de Futebol “Mini Craques”, realizado no sintético do Povoense, o NA foi ao encontro das duas “escolas de futebol” do concelho: “Nelson Veríssimo” e “Abel Silva”… Mário Caritas Na tarde do passado dia 8 de Feve­ reiro (Domingo), o relvado sintético do União Atlético Povoense foi palco do 1.º Encontro de Futebol “Mini Craques”, or­ ganizado pela Escola “Nelson Veríssimo”, que, como sabemos, é dinamizada por aquele “emblema” e apadrinhada pelo actual defesa-central do FC de Alverca, que iniciou aí a sua carreira. A competição envolveu algumas de­zenas de miúdos, entre os 4 e os 6 anos de idade, sendo que, para além dos anfi­triões, estiveram presentes quatro “esco­las de futebol” convidadas: “Arrudense” (Arruda dos Vinhos), “Abel Silva” (Casta­nheira do Ribatejo), “Simão Sabrosa” (Lisboa) e “Geração do Futuro” (Cascais). Mais do que os resultados obtidos, o importante foi, mesmo, o convívio e a sã dis­puta do golo. No final, todos os joga­ dores tiveram que fazer um desenho alu­ sivo à iniciativa, tendo sido premiados “os cinco melhores trabalhos”. Aprovei­tando esta realização, o NA foi conhecer melhor as duas instituições do conce­lho… A Escola de Futebol “Nelson Veríssi­ mo”, a funcionar desde Novembro último, conta, presentemente, com cerca de 61 praticantes, com idades que podem ir dos 4 aos 11 anos, reflectindo, pois, uma crescente procura por parte da comuni­ dade envolvente. “O clube oferece boas condições e a prova é que temos, aqui, muitos jovens, não só da Póvoa, mas, também, oriundos de outras localidades vizinhas”, afiança-nos Vítor Mesquita, coordenador do projecto, que congrega, ainda, três técnicos licenciados e uma psicóloga educacional.

VILAFRANQUENSE

José Casquinha lidera Direcção

A União Desportiva e Cultural de Aldeia do Sobralinho (UDCAS) elegeu, a 24 de Janeiro último, os seus corpos sociais pa­ra o corrente ano. José Manuel Peixeiro continua à frente da Direcção, ao passo que João Areias lidera a Assembleia Geral e Francisco Lotra o Conselho Fiscal. Os objectivos para este mandato passam por «continuar a gerir a colectividade de forma a dignificar e engrandecer o asso­ciativismo local, propiciando, aos associa­dos e demais habitantes da fre­ guesia, a prática de variadas actividades despor­tivas e culturais».

NATAÇÃO ADAPTADA

Centro Social do Sobralinho organiza 3.º torneio A 1 de Março próximo (Segunda-feira), o Centro Social para o Desenvolvimento do Sobralinho vai levar a cabo o seu “3.º Torneio de Natação Adaptada”. A inicia­tiva, realizada em parceria com a Associa­ção Nacional de Desporto para a Defi­ciência Mental, terá início pelas 10 horas da manhã, nas Piscinas “Baptista Perei­ra” do Alhandra Sporting Club.

FC DE ALVERCA

Tiro com Arco soma bons resultados Mário Caritas

MOTIVAÇÃO. As escolas concelhias “Nelson Veríssimo” e “Abel Silva” querem levar o futebol jovem, o mais longe possível

Mediante o pagamento de uma quota mensal de 20 euros, os, potenciais, “ta­ lentos” têm, assim, direito a orientações devidamente acreditadas, assim como a equipamento para treinos e jogos. “Está a superar todas as nossas expectativas e, a médio prazo, contamos ter mais de 100 crianças em actividade”, conclui Mesquita. Quanto às Escolinhas de Futebol “Abel Silva”, que usufruem, mediante protocolo, das instalações do Juventude da Castanheira, encontram-se no activo

desde Abril de 2003 e têm, para já, 10 futebolistas inscritos. As idades variam entre os 6 e os 14 anos e a mensalidade fixa é de 40 euros. Ao contrário do pro­ jecto anterior, este é autónomo do clube que o acolhe, pese embora a colectivi­ dade da Castanheira tenha prioridade em relação aos formandos. Abel Silva, antigo campeão mundial de juniores e ex-atleta do Benfica, entre outros “emblemas”, para além de ser o

actual trei­nador da equipa principal do Juventude da Castanheira (1.ª Divisão de Lisboa), conta, para este desiderato, com os ser­viços do técnico/coordenador Pedro Casta­nheira, que afirma: “O nosso lema passa por rece­bermos todos aque­ les que nos procuram, quer tenham, ou não, aptidão para a mo­dalidade, pois entendemos que qualquer um tem o di­reito de desenvolver as suas capacida­ des, motoras e não só.”

A secção de Tiro com Arco do FC de Alver­ca voltou a obter, ao longo do ano tran­sacto, resultados dignos de registo, com destaque para a conquista do título na­cional sénior masculino na época de “sala” e do “vice” na temporada de “cam­ po”. A presença de três atletas do clube na selecção nacional, em 2004, é outra das notas a realçar. No total, este departamento participou em 28 provas nacionais — tiro com arco em “sala”, “campo” e de “caça simula­da” —, tendo os seus responsáveis orga­ nizado quatro competições, todas elas a contar para o campeonato nacional.


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ENTREVISTA

FEVEREIRO.2004

Caras & Conversas À conversa com… Octávio dos Santos Jornalista e escritor, antigo redactor e chefe de redacção do NA (1985/87), Octávio dos Santos, 38 anos, residente no Sobralinho, lançou, recentemente, o seu primeiro livro: “Visões”, editado pela Bibliotheca Phantastica. Aproveitando a “deixa”, fomos conhecer melhor o autor – vencedor, já, num passado recente, do Prémio Jornalismo Sociedade de Informação – e a sua obra…

Mário Caritas “Notícias de Alverca”: Em primeiro lugar, fala-me, um pouco, deste teu li­vro… Octávio dos Santos: Este livro cons­titui o culminar de uma “tentativa”, com mais de 20 anos, de construção de uma carreira literária. Com os meus 13/14 anos, comecei a escrever, com regulari­dade, nomeadamente poesia – que é, creio, aquilo que quase todos nós come­çamos por tentar compor –, sendo que, a partir de 1985, fui bater à porta das editoras, sempre sem sucesso, até 2001, ano em que recebi “luz verde” da “Bibliotheca Phantastica” para o “Vi­ sões”, tornado realidade dois anos após. Foi muito gratificante, para mim, que tal tenha acontecido. E, neste particular, es­tou grato ao, conhecido, cineasta e es­ critor, António Macedo, que é quem dirige a colecção onde esta obra se insere. “NA”: Noto que escreves sobre coisas do senso comum, no fundo, acerca de factos do dia-a-dia de todos nós, de uma forma acutilante e directa… O.S.: Sim. Aliás, em qualquer texto que eu elabore, seja jornalístico (pois es­sa é a minha profissão) ou de outra natu­reza, a minha intenção é sempre ir directo ao assunto, não perder tempo com gran­des “floreados”. Se tenho uma ideia pa­ra expressar, então, tento exprimi-la o mais claramente possível. Por exemplo, um dos contos deste livro chama-se “Ca­minhos de ferro” e resulta, em grande parte, das experiências que tenho, diaria­mente, enquanto utente da CP, há já mui­tos anos: actualmente, temos um serviço ferroviário com algum conforto e eficiên­cia, mas eu ainda sou do tempo em que os comboios eram absolutamente deplo­ráveis, “velhos”, atrasados… E, depois, houve aquele acidente, trágico, da Póvoa de Santa Iria, em 1986, que marcou bastante a minha geração, já que, tive amigos meus que morreram, na altura, e outros que ficaram feridos e marcados para sempre, um deles o Luís Lameixa, a quem dedico o “Visões”…! Esse episódio significou um ponto de viragem em muitos aspectos, um sinal de que a tragédia nos pode “bater à porta” a qualquer momento. “NA”: Esta obra “relembra-nos”, as­ sim, o nosso quotidiano diário… O.S.: É… O género fantástico de que eu gosto é, precisamente, aquele que está mais perto do quotidiano, da vida do dia-a-dia, dos afazeres normais das

Mário Caritas

“gentes”. Por exemplo, no conto “A caixa negra”, procuro explorar até onde podem ir os limites da burocracia, que chegam a alterar, completamente, a vida dos cida­ dãos. No fundo, as pessoas são, de fac­to, a minha grande fonte de inspiração. “NA”: E usas uma linguagem muito frontal, que, nalguns casos, poderá mes­ mo “chocar”…?! O.S.: A ideia também é essa. De res­to, como já referi atrás, eu sou fron­ tal, não só a escrever, mas em todos os as­pectos da minha vida e da minha profis­são, e penso que esse estilo deve ser estimulado. “NA”: Continua a ser difícil encontrar-­ -se uma editora para os nossos livros? O.S.: Digamos que, hoje em dia, é mais fácil ser-se publicado. Mas, mesmo conseguindo-o, existe, à posteriori, o pro­

blema da promoção da obra; e quando não somos figuras televisivas, essa difi­ culdade aumenta… O que não faltam, presentemente, são livros editados por pessoas que, de uma forma ou de outra, aparecem na televisão, e que têm, desde logo, à partida, outro tipo de cobertura que eu não tenho. “NA”: Tens escritores, portugueses ou estrangeiros, de referência? O.S.: Eu leio um pouco de tudo. Leio muito. Embora as minhas maiores fontes de inspiração sejam, mais do que a litera­ tura, o cinema e a música. Mas, claro que existem autores que me influencia­ram e que, ainda, me influenciam. Eu desper­ tei, digamos, para a literatura quan­do frequentava a Escola Secundária In­fante D. Pedro, em Alverca, onde uma profes­ sora minha (Leonor Malik) – a quem eu devo, em larga medida, o ter-me tornado escritor – promoveu uma ini­ciativa su­ bordinada ao livro “Esteiros”, de Soeiro Pereira Gomes, obra do Neo-Realismo que é, digamos, um símbolo para mim e para muitas outras pessoas. “NA”: E os leitores portugueses con­tinuam a “ligar” mais aos títulos estran­geiros? O.S.: Eu penso que já não é tanto assim, quer na literatura, quer na música. Temos um José Saramago, um António Lobo Antunes, um Miguel Sousa Tavares, Margarida Rebelo Pinto… Portanto, hou­ ve, de facto, um tempo em que não se gostava do que era nacional, mas, agora, felizmente, isso mudou. “NA”: Este teu livro é, igualmente, o resultado da uma actividade jornalística continuada? Ou seja, contém uma visão jornalística dos assuntos? O.S.: Bom, esta obra consiste numa

série de contos, autónomos, aos quais procurei dar uma certa sequência, um “fio condutor”. Se, nos textos, se nota um cunho jornalístico, o mesmo não é deliberado, pois este estilo eu já o tinha antes de ser jornalista. Embora, claro, a minha actividade contribua para procurar ser conciso, claro e buscar aquilo que é essencial. “NA”: Fala-me, agora, um pouco, da tua antiga actividade no NA… O.S.: Eu entrei, como redactor, no Ou­ tono de 1985, tinha o jornal pouco mais de um ano de vida e o seu director era, então, o Fernando Neves de Carvalho, que foi quem me convidou para integrar o projecto. Para mim, tratou-se de uma actividade muito estimulante, até porque, naquela altura, ninguém se limitava só a escrever, ou seja, fazíamos de tudo um pouco: paginação, supervisão da impres­ são, distribuição, recolha e renovação de assinaturas… Éramos, sobretudo, um grupo de amigos. Reuníamos, sempre, uma vez por semana, em que planeáva­ mos as edições, discutíamos acerca de uma série de assuntos, divertíamo-nos bastante, falávamos de tudo e de na­da… E foi devido ao facto de ter estado no NA que acabei por me tornar jornalista. “NA”: Aliás, chegaste, mesmo, a che­ fiar a redacção do NA… O.S.: Sim, mas, como disse atrás, to­dos nos reuníamos, todos falávamos uns com os outros, os temas eram todos de­batidos em conjunto. “NA”: Recordas-te de matérias, mais polémicas ou estimulantes, que tenhas tratado? O.S.: Houve várias. O acidente ferro­ viário na Póvoa de Santa Iria, que abordei anteriormente, acabou por constituir co­ mo que o momento decisivo de reflexão sobre muitas situações relacionadas com a qualidade de vida das populações des­ta zona e não só. De resto, há assuntos que continuam a ser actuais e que, já nesse tempo, nos preocupavam. Estou--me a lembrar, por exemplo, da manuten­ção do Museu do Ar em Alverca, pois, já, então, se comentava a sua, possível, transferência para Sintra, e nós como que lançámos uma campanha, através da publicação de diversos artigos, tendo em vista a sua continuidade nesta cidade. Outro tema que me é bastante delicado tem a ver com a ex-Mague, já que, tenho muita pena que aquela área tenha sido destruída e que venha ser reconvertida naquilo que será mais um “atentado ur­banístico”, em Alverca, a juntar a tantos outros: Alverca está a “rebentar pelas costuras”, está a ficar saturada de pes­soas e de automóveis, e isso é uma ten­dência que se tem vindo a agravar! Mas, quero frisar, acima de tudo, que, à época, apesar de jornalistas, éramos, também, de certa forma, “militantes” em determinadas causas e a nossa principal causa era a qualidade de vida das pes­soas a quem nos dirigíamos. Uma dessas causas particulares teve a ver, nomeada­mente, com a problemática da restaura­ção do concelho de Alverca…! “NA”: Em tua opinião, Alverca reúne, actualmente, condições para vir a ser concelho? O.S.: Alverca reúne, praticamente, to­dos os requisitos, para esse efeito. No entanto, não existe um movimento, mini­mamente, organizado, não há uma cons­ciência comunitária, ou seja, um grupo de cidadãos que tome a iniciativa

de rei­vindicar e de fazer com que Alverca se torne concelho. Isso é um motivo, para mim, de grande decepção. Competiria, em meu entender, à autarquia local e demais responsáveis tomarem a dian­ teira, mas, pelo contrário, contentam-se com os “restos” que Vila Franca nos dá. Noto uma grande falta de ambição, um conformismo preocupante! E – repara – Alverca é, ciclicamente, afectada por pro­blemas graves, como é o caso das cheias, que já se arrastam há décadas e que resultam, em grande parte, de não se dar a devida atenção a esta freguesia. Muitas vezes, edificam-se as casas, mas não se fazem as infra-estruturas de base, sendo que, continua-se a construir de­ masiado, e, enquanto o urbanismo, o crescimento demográfico, for a principal fonte de receita das câmaras, os proble­ mas irão subsistir. E, neste particular, Al­verca sempre foi a “galinha dos ovos d’ouro” de Vila Franca de Xira. “NA”: Em tua opinião, qual é o papel da imprensa regional, nos dias de hoje? O.S.: É aquele que já tem, ou seja, estar o mais perto possível das popula­ ções, transmitindo os seus anseios, mas, seguindo os mesmos critérios dos órgãos de informação nacionais: rigor, isenção, qualidade, pluralismo e (embora, por ve­zes, seja difícil) não estar muito à “sombra” do poder vigente. “NA”: E como foi a tua vida “jornalís­ tica” desde que saíste do NA? O.S.: Bom, eu deixei o NA em 1987. Um ano mais tarde, lancei o boletim – “DivulgACÇÃO” – da associação de estu­ dantes do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), onde me licenciei em Sociologia. Nessa altura, sentia-me muito atraído pela área da pu­blicidade, cheguei mesmo a estagiar numa empresa do ramo, mas, depois, acabei por voltar ao jornalismo, que se tornou na minha paixão/profissão. Estive na equipa inicial da “TV Mais”, passei pela “África Hoje”, e, a partir de 1997, especializei-me em tecnologias da comu­ nicação e multimédia, nas seguintes pu­blicações: “Cyber.Net”, “Inter.Face” e, por fim, “Comunicações”. Paralelamente, fui sempre assinando textos, pontuais, noutros periódicos, nomeadamente: “Diário de Notícias”, “Público”, “Seara Nova” e “Fórum Estudante”, entre ou­tros. “NA”: E actualmente…? O.S.: Estou por conta própria, a tentar pôr cá fora, já este ano, a minha própria revista. Trata-se de um projecto que te­ nho há muito tempo e que visa falar so­bre “casos de sucesso” de todos aqueles que falam português, sejam portugue­ses, sejam povos de expressão portugue­sa, e dar, assim, a conhecer tudo aquilo que fazemos de bom. A publicação já tem, inclusive, nome registado e uma em­presa que pode dar o seu suporte jorna­lístico. Numa primeira fase, será bimensal e, provavelmente, distribuída em conjun­to com outros jornais e revistas. “NA”: Abordará, pois, portugueses, ou falantes do português, bem sucedidos… O.S.: Sim, o critério será relatar as “vidas” daqueles que alcançam o “to­ po”, qualquer que seja a sua actividade: desporto, economia, política, cultura…, no país ou no estrangeiro. Penso que é uma grave falta do jornalismo actual a predominância que se dá aos exemplos negativos, aos fracassos, quando existem muitos sectores de actividade, muitos in­ divíduos, que se distinguem pela po­sitiva.


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DESPORTO

FEVEREIRO.2004

FORTE DA CASA

“Formação de Formadores” tem vindo a dar frutos

CYBERcultura

A autarquia local abriu, em 2001, um gabinete que, entre outras acções, promove cursos de “Formação Pedagógica Inicial de Formadores”... Mário Caritas O Gabinete de Atendimento Psicoló­ gico (GAP) da Junta de Freguesia do Forte da Casa está, actualmente, a dinamizar o seu 7.º curso de “Formação Pedagógi­ca Inicial de Formadores”. Na calha, es­tão já mais duas acções congéneres, pelo que o NA foi conhecer, um pouco melhor, o trabalho que é aí desenvolvido e quais as “portas” que se podem abrir aos seus frequentadores... “Aqui, as pessoas apreendem uma série de competências técnicas que, mais tarde, lhes irão permitir, essen­ cialmente, comunicar melhor com os outros e, so­bretudo, saber passar uma mensagem, dentro de um determinado contexto”, ex­plica-nos Susana Monteiro, uma das três formadoras que compõem a presente equipa pedagógica — as ou­ tras respon­sáveis são Cláudia Almeida e Cláudia Ri­beiro —, alertando-nos, desse modo, para as mais-valias, em termos laborais e não só, que poderão daí advir, para os diferentes indivíduos. “Podem-se candidatar todos os inte­ ressados que tenham, no mínimo, o 12.º ano de escolaridade concluído”, esclare­ ce, ainda, a docente, salientando que muitos dos formandos “são licenciados e, até mesmo, profissionais, em diversas áreas do saber, nomeadamente: Psicolo­ gia, Direito, Contabilidade, Serviço Social, Design, Sociologia e Engenharia(s), entre muitas outras”. No fundo, e depois de adquiridas as bases, serão os próprios discentes que, consoante o seu bom senso, as aplica­ rão às suas vertentes de especialização, podendo vir a ser, quiçá, no futuro, forma­dores nessas matérias. “Todos eles serão facilitadores de aprendizagem”, ressalva Susana Monteiro. De notar, no entanto, que, depois de obter o chamado Certifi­cado de Aptidão Profissional (CAP), qual­quer um poderá ministrar formação em QUALQUER área. Funcionando com turmas de 15 alu­nos, no máximo — a pretérita acção de­corre aos Sábados, entre as 9h30m e as 18h30m, num total de 96 horas (12 semanas) —, esta é, também, uma for­ ma dos indivíduos se auto-descobrirem, ou seja, de desenvolverem certas poten­ cialidades, eventualmente, adormecidas. “Quando me inscrevi, vinha, apenas, com um objectivo profissional, ou seja, de ob­ ter uma nova valência a nível de carreira.

Edmar Rodrigues Jornalista edmar@iol.pt

2004: o ano da Banda Larga

Mário Caritas

EVOLUÇÃO. Quem frequenta estas acções de “Formação de Formadores”, apreende técnicas novas e (re)descobre-se a si mesmo

Depois, constatei que o curso, para além de nos fornecer uma boa mais-valia téc­ nica, proporciona-nos uma auto-desco­ berta pessoal”, afirma Vera Francisco, ex-formanda, finalista da licenciatura em Psicologia Clínica. A aprendizagem passa, igualmen­ te, pela correcta utilização dos diver­ sos recur­s os didácticos, tais como retroprojec­tores, entre outros. “Existem pequenos pormenores em que, por ve­ zes, não re­pa­ramos e que são essenciais na motiva­ção e no captar da atenção de que nos está a ouvir”, concretiza Vera Francisco. Ana Paula Inácio, outra antiga for­ manda, é licenciada em Educação de Infância, área onde trabalha, há 23 anos, sendo, hoje em dia, técnica-coor­ denadora de uma valência no Instituto

Internet

de Apoio à Comunidade (IAC), situado naquela vila. “Esta acção foi muito pro­ veitosa, pois tive a oportunidade de aper­ feiçoar os meus mecanismos pedagó­ gicos”, justifica, adiantando ter sentido mudanças para melhor “na gestão de conflitos, nas relações interpessoais, en­fim, na comunicação com os demais”. Ao todo, já quase uma centena de pessoas foi certificada pelo GAP. Para Abril próximo, está prevista a abertura de mais duas turmas: uma a funcionar às Segun­das e Terças-feiras, em horário pós-labo­ral (17h30m – 21h30m) e a outra aos Sábados, durante todo o dia. As inscri­ções estão abertas a indivíduos resi­dentes no concelho e não só, poden­ do ser efectuadas na sede da autarquia lo­cal. O custo do curso é de 350 euros para estudantes e 375 para trabalha­dores.

Mário Caritas

www.leigosboanova.cjb.net apresenta-nos projecto de voluntariado

No seu site, a obra missionária de acção social Leigos Boa Nova pede vo­ luntários para leccionar em Angola Eventuais interessados em leccionar em Angola, no ano de 2005, poderão consultar o site: www.leigosboanova. cjb. net, no qual a obra missionária de acção social Leigos Boa Nova explica as con­ dições para a participação num pro­jecto de voluntariado, ao nível do ensino, junto daquela população carenciada.

De momento, os responsáveis procu­ ram licenciados nas seguintes áreas: matemática, biologia, física e química, es­tando as inscrições abertas até 15 de Março próximo. São, igualmente, solicita­ dos músicos voluntários para a gravação de um CD de solidariedade. Ao consultar o site (português/inglês),

todo o cibernauta poderá ficar a saber mais sobre aquele movimento (objecti­ vos, história, organização, regulamento e pro­grama de vida) e os seus projectos (já realizados, em curso e previstos), as­ sim como obter resposta a algumas das ques­tões mais frequentes e tomar nota dos possíveis contactos da organização.

O Governo português, seja desta cor ou de outra qualquer, costuma ser levado por iniciativas de outros, parece que não tem capacidade para inovar. E o caso da Banda Larga não deixa de ser um exem­plo lapidar. Mas a verdade é que, finalmente, o sector vê uma “luz ao fundo do túnel”, al­go que pode capitalizar as vendas. E em que é que o anúncio de Durão Barro­so, em ter metade dos lares portugueses no ciberespaço em 2006, pode ajudar a indústria? Se esquecermos os discursos políticos de ocasião e analisarmos as coi­sas, pode ter muito a ver. Isto é, se a Portugal Telecom deixar de ter uma ati­tude monopolista e deixar o mercado concorrer, mas isso é outra história. Porque a Banda Larga leva a que se gaste dinheiro. Se não acreditam, sigam o meu raciocínio. Além do dinheiro, inevi­ tavelmente, gasto com a assinatura deste serviço, que vai direitinho para os cofres da operadora, seja ela a PT, através do ADSL Sapo, ou a Netcabo, ou outra ope­ radora qualquer, os consumidores ficarão

sempre tentados a comprar mais disco rígido, para gravar mais músicas, mais vídeos, mais programas. Quererão um computador mais rápido para processar melhor a informação que lhes chega, quererão gravadores de CD e DVD, me­ lhores monitores, melhores impresso­ras. A Banda Larga é a desculpa de que o sector necessitava para sair do maras­ mo de vendas em que se encontrava. O processador e o sistema operativo já convence cada vez menos pessoas, só por si, mas a banda larga vai abrir o ape­ tite para coisas que, antes, as pessoas julgavam não necessitar. Aqui há uns meses, afirmava que só a fotografia digital e as consolas é que se iam safando, agora a informática de con­sumo tem a oportunidade única de come­çar a verdadeira retoma, e não só porque o Governo o disse, mas, antes, porque existe algo que o motiva. Por isso, agarre esta oportunidade, porque não é todos os dias que ela surge. Até para o mês que vem, a grande velocidade...


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ÚLTIMA

FEVEREIRO.2004

VILA FRANCA DE XIRA

“Limpinhos” fazem as delícias de miúdos e graúdos

A sede de concelho experimenta autocarros “amigos do ambiente”, até 01 de Março próximo. Se resultar, a sua implementação definitiva deverá ser o passo seguinte, com, eventual, extensão, posterior, a outras freguesias

Mário Caritas

QUALIDADE DE VIDA. Nos “Limpinhos”, miúdos e graúdos viajam, gratuitamente, na zona central de Vila Franca, até 01 de Março...

Sandra Xavier Não libertam poluentes, são silencio­ sos e têm um baixo custo de exploração. Estas algumas das características dos “Limpinhos”, os dois autocarros eléc­ tricos que, desde o passado dia 30 de Janeiro e até 01 de Março próximo, circu­ lam em Vila Franca de Xira, no âmbito de um projecto experimental, promovido, em parceria, pela Câmara Municipal, Trans­ portadora “Boa Viagem”, Associação Por­ tuguesa do Veículo Eléctrico e Direcção Geral dos Transportes Terrestres. Em Portugal, viaturas como estas pas­seiam-se, já, por Coimbra. Agora, a ideia chegou a Vila Franca e, se resultar, a cidade-sede de concelho poderá, mes­ mo, vir a “adoptar”, a título definitivo, estes “amigos do ambiente”. No imediato, o objectivo principal visa dar a conhecer uma forma alternativa de transporte, pelo que, nesta fase, qual­quer pessoa pode dele usufruir, sem ter de

pagar nada. Os mini-autocarros perfazem uma ex­ tensão que vai desde a Praça Afonso Al­ buquerque, passando pelo Largo Mi­guel Esguelha, Rua Professor Reynaldo dos Santos, Rua João de Deus, Rua An­tónio José de Almeida, Rua Luís de Ca­mões, Rua 1.º de Dezembro, Rua Serpa Pinto, Rua do Curado, Rua António Bap­tista, até à Rua Miguel Bombarda. O “Notícias de Alverca” aproveitou a “boleia” e registou as opiniões de alguns utentes... Uma mais-valia, sobretudo para os mais idosos! É o caso de Maria Cordeiro, para quem este “passeio” já se tornou num hábito: “Já não é a primeira vez que viajo nos «Limpinhos». Ajudam muito, principalmente para quem tem de ir ao hospital ou ao cemitério”, realça. Ainda assim, considera que “o percurso é muito pequenino”. A verdade é que o circuito tem cerca de três quilómetros, no total, e está assi­ nalado por uma linha azul. Como não

existem pontos de paragem definidos, basta aos, eventuais, passageiros fazer­ em sinal ao motorista e este pára, de imediato, para que possam entrar. Foi o que fez a estreante Beatriz Belo. “É a primeira vez e estou a gostar muito”, refere. De qualquer forma, e comparando com os autocarros ditos convencionais, esta constata que “é mais ou menos a mesma coisa”, mormente não deixe de reconhecer que o facto de serem “amigos do ambiente” é “uma grande vantagem”. Por isso, Beatriz até gostaria que, após este ensaio, “os veículos continuassem a circular em Vila Franca, mesmo que se tivesse que pagar bilhete”. E pode muito bem ser que este dese­jo venha a tornar-se realidade, pois, caso a experiência resulte, então, a autarquia deverá, no curto prazo, “proceder a uma candidatura para a aquisição definitiva de um «mini-bus», pelo valor de 150 mil euros”, tal como explica Maria da Luz Rosinha, presidente da edilidade, que acrescenta, ainda: “Ensaios semelhantes

poderão estender-se a outras freguesias do município.” Nesta distância, encontrámos, tam­ bém, Rui Cabral, que se fazia acompa­ nhar de um bebé de colo. “Ele está a adorar!”, sublinha, bem disposto, o uten­te. “Atravessar Vila Franca, a pé, com uma criança desta idade, é difícil. Levar o carro para onde vou todos os dias — a entrada norte da cidade — também, pois é uma zona complicada para estacionar. Logo, utilizo este meio de transporte, que, para além de ser «amigo do ambiente», tem a vantagem de circular em ruas muito estreitas”, conclui. É que os “Limpinhos” têm 5,3 metros de comprimento e 2,07m de largura. O seu horário de funcionamento é de Segunda a Sexta-feira, das 8h00m às 18h30m, e aos sábados, das 8h30m às 13h, com intervalos de, aproximada­ mente, 10 minutos. Têm capacidade pa­ra 24 lugares, sentados e em pé. Apesar das suas reduzidas dimen­ sões, muitas são as pessoas que, diaria­

mente, entram e saem destes veículos. “Novos” e “velhos”, todos querem dar uma “voltinha” nos “Limpinhos”. Duarte Monteiro, 10 anos, e Leonardo Rodri­ gues, 9, não são excepção e também quiseram apanhar uma boleia. Diverti­ ram-se “bastante”, na viagem, e só la­ mentam que estes não passem à porta das suas escolas. O Duarte estuda na “Vasco Moniz”, no Bom Retiro, e o Leo­ nardo na denominada “Escola do Baca­ lhau”. E, por isso, advertem: “É que as­sim íamos neles para as aulas.” Quem sabe se, depois desta fase ex­perimental, também os seus desejos se­rão atendidos. Até lá, qualquer um pode, ainda, aproveitar para viajar, gratuitamente, no trajecto estabelecido. Isto “se não faltar a carga”: o motor eléctrico dos “Limpi­nhos” é alimentado por uma única bate­ria, cuja autonomia é de quatro a seis horas, em perímetro urbano. Após esse período, tem de ser trocada, o que de­mora cerca de 20 minutos a fazer-se.

ALHANDRA

“Carnaval/2004” com duas rainhas da “terra”

Apesar de não ter o mediatismo de outros “carnavais” do nosso país, o “entrudo” alhandrense promete muita folia. Isto se o São Pedro ajudar... Mário Caritas O “Carnaval de Alhandra/2004” está à porta. Gozando já de uma longa tra­dição — que faz dele um dos mais anti­gos do Ribatejo, com registos que datam de 1930 —, este “entrudo” volta a con­centrar as “forças vivas” da vila e promete ser o ponto de encontro de milhares de foliões. A organização volta a caber à Comis­ são de Carnaval da Sociedade Euterpe Alhandrense (SEA), que conta com o apoio da autarquia e bombeiros voluntá­ rios locais, assim como do município de Vila Franca de Xira. As alhandrenses Susana Racha e Eli­zabete Costa são as “rainhas” desta edi­ção. Jorge Zacarias, presidente da Direc­ção da Euterpe, justifica: “Todos os anos, cabe a uma entidade, participante habi­tual, fornecer os reis (neste caso, as rai­nhas) e, desta vez, a tarefa coube ao Clube Recreativo de Alhandra (CRA).” Reactivado há 10 anos, após uma longa paragem, este evento tem vindo a crescer e a ganhar novos vínculos entre a população, miúda e graúda, dos 8 aos 80 anos...! Desta feita, irão estar presentes

RAINHAS. Elizabete Costa (à esquerda, na foto) e Susana Racha (à direita) são as rainhas do “Carnaval de Alhandra/2004”

11 carros alegóricos, para além dos gru­ pos de chão, que desfilarão no Domingo e na Terça-feira de Carnaval (22 e 24 de Fevereiro), perante — esti­ma-se, se o S. Pedro assim ajudar... — “mais de 20 mil pessoas, no total dos dois corsos”. Zacarias elogia o envolvimento dos jovens, nesta iniciativa, referindo ser essa “uma garantia de continuidade futura”, reiterando, ainda, que o Carnaval alhan­ drense “atravessa, actualmente, um mo­mento muito importante”. O tema de 2004 é livre, ao contrário de 2003 que teve como “pano de fun­ do” os «800 Anos do Foral». Os assuntos abordados — de forma mais irónica, hu­morística ou sarcástica — são, maio­ ritariamente, de âmbito local e concelhio, pese embora alguns factos de índole na­ cional sejam, também, realçados. As colectividades representadas são: Comissão Unitária de Reformados Pen­ sionistas e Idosos da Freguesia de Alhan­ dra (CURPIFA), CRA, Alhandra Sporting Club (ASC), Tertúlia “Alhandra A Toireira”, “Motards de Alhandra” e Associação de Pais da EB1 n.º1. Os responsáveis contam, igualmente, com o suporte do comércio e indústria

da zona. O orçamento global previsto ron­da os 50 mil euros. “O próximo salto, a médio prazo, aponta para uma maior aposta em termos de publicidade e mar­keting”, adianta, desde já, Jorge Zaca­rias, confiante em ver o “Carnaval de Alhan­dra” tornar-se cada vez mais co­nhecido, não só na região, mas em todo o país. “O Campo do Hortão” (idealizado pelo ASC, numa clara alusão ao, exíguo, “Campo da Hortinha”), o “Chá das 5”, o “Nemo”, os “Dinossauros” e o “Harry Potter” são, apenas, algumas das temá­ ticas versadas, numa festa que irá ter lugar nas artérias centrais da localidade e cujo custo de entrada será de dois eu­ros/visitante. No serão de Quarta-feira (25), re­ alizar--se-á o “enterro do bacalhau”, cumprin­do, assim, uma tradição que assinala o fim de um “entrudo” e a preparação do próximo, e onde não faltam as “bocas” e recados para alguns cidadãos e enti­dades locais. Mas, tudo na brincadeira, é claro, porque — como diz o povo — «é Carnaval e ninguém leva a mal».


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