Notícias de Alverca N.199

Page 1

ABRIL.2004

1

30 ANOS

Assinalar ABRIL

O serão nobre acontece de 24 para 25 “30 Anos do 25 de Abril de 1974” vão ser assinalados, no concelho, de forma efusiva, com a prossecução de diversas iniciativas. Em Alverca, na noite de 24 para 25, todos os caminhos vão dar à SFRA, com a realização de diversos espectáculos, que começam à tarde e terminam já pela madrugada dentro. Neste NA, trazemos-lhe as actividades previstas para a efeméride, que pretende (re)lembrar os valores inerentes à “Revolução dos Cravos”. As sessões solenes, a distinção de autarcas e a plantação do “Jardim da Liberdade”, na Póvoa de Santa Iria, são outros “pratos fortes” do programa. Reportagem nas Pág.(s) Centrais e Suplemento

Director: Paulo Pereira Chefe Redação: Mário Caritas

ABRIL . 2004 EDIÇÃO MENSAL . Sai à 2.ª Quarta-feira do mês

Ano XIX . N.º 197 €0,50 . IVA 5%

AUTORIZADO PELOS CTT A CIRCULAR EM INVÓLUCRO DE PLÁSTICO FECHADO ENVOI FERMÉ AUTORISÉ PAR LES PTT PORTUGAIS AUTORIZAÇÃO/AUTORISATION: N.º107 DE 08896RCT PODE ABRIR-SE PARA VERIFICAÇÃO POSTAL

PUBLICAÇÕES PERIÓDICAS PORTUGAL 2615 ALVERCA TAXA PAGA

ORDEM DA INSTRUÇÃO PÚBLICA

Professora Armandina distinguida por Jorge Sampaio VIALONGA. Maria Armandina Soares, professora há mais de 30 anos, actual presidente do Conselho Executivo da EB 2,3 de Vialonga, assim como do Agrupamento de Escolas daquela freguesia, foi, recentemente, agraciada com a Ordem da Instrução Pública, conferida pelo Presidente da República. O NA foi conhecê-la, assim como o trabalho que desenvolve junto de uma população escolar “difícil”, sempre numa perspectiva de “humanizar a relação dos jovens com o meio envolvente”. Reportagem nas Pág.(s): 2 e 3

À CONVERSA COM...

Luís Ferreira Lopes Jornalista (SIC) nos atentados de Madrid

Em conversa com o NA, aquele jornalista da SIC, natural de Alverca, fala-nos de uma experiência “inesquecível”, em Espanha, durante a cobertura dos atentados de Madrid. A reportagem de uma vida, certamente, que Luís Ferreira Lopes, editor de Economia, acompanhou “por mero acaso” e que preferia que “não tivesse acontecido”. Mas aconteceu e ele conta-nos como foi... Entrevista na Pág. 14

Outras Notícias Que futuro para as vivendas da OGMA? . Pág. 10 Conclusões do debate público em Alverca . Pág. 11 Futsal feminino CEBI vence 2.ª de Lisboa . Pág. 13 Etnográfico “apaga” oito velas . Pág. 1 do Suplemento


2

PRIMEIRO PLANO

ABRIL.2004

EB 2,3 DE VIALONGA

Professora Armandina distinguida com a “Ordem da Instrução Pública”

Mário Caritas

Maria Armandina Soares, actual presidente do Conselho Executivo da Escola EB 2,3 de Vialonga, assim como do Agrupamento de Escolas daquela freguesia — actualmente, constituído por dois jardins de infância, seis estabelecimentos de ensino do 1.º ciclo e um de 2.º e 3.º ciclo —, foi, recentemente, distinguida, pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, com a “Ordem da Instrução Pública”. Uma tão significativa homenagem foi o mote para uma conversa, prolongada, com aquela docente, em torno das, possíveis, razões que levaram a esta condecoração. Falámos, também, sobre a “sua” escola, os “seus” alunos e a sua “visão” do ensino para este novo século XXI... “Notícias de Alverca”: Ficou feliz com a distinção de que foi alvo? Maria Armandina Soares: Isso é ine­vitável. Repare, trata-se de algo que não nos acontece normalmente, ou seja, o reconhecimento do trabalho que realiza­mos, e isso dá-nos, naturalmente, um grande prazer. Ainda para mais, quando se trata do próprio Presidente da Repú­blica a faze-lo. Portanto, é evidente que me sinto muito regozijada com esta con­decoração. “NA”: Há quanto tempo é professora? M.A.S.: Desde 1972, ou seja, há 32 anos! “NA”: E nesta escola? M.A.S.: Há 10 anos, e há 15 no con­celho de Vila Franca de Xira. Sou licen­ciada em História e lecciono História e Português, tendo feito a minha profissio­nalização ligada ao 2.º ciclo (5.º e 6.º anos), embora possa dar outros níveis de escolaridade. “NA”: Em seu entender, a que é que se deveu esta homenagem? M.A.S.: Eu penso que a avaliação foi feita — embora tal não tenha sido, clara­ mente, expresso — em termos da gestão deste estabelecimento de ensino, pelo facto de se encontrar inserido numa zona que, como todos sabemos, é problemá­ tica. Ora, o Presidente da República es­teve cá há cerca de dois anos e meio, observou muito atentamente o trabalho que é desenvolvido, e penso que saiu satisfeito com aquilo que viu. De resto, ao longo de todo este tempo, tem havido um acompanhamento permanente por parte da assessoria da Educação da Pre­sidência da República. A nível, estritamente, pessoal, julgo que esta condecoração terá a ver, prova­ velmente, com o meu perfil profissional, visto que encaro as minhas funções de uma forma séria, actualmente com maior preponderância da área da gestão es­colar. “NA”: Trata-se, pois, do esforço reali­ zado em termos da dinamização deste estabelecimento!?... M.A.S.: Sim. O nosso trabalho passa muito pela dinamização do espaço, pela preocupação centrada na aprendizagem dos alunos e das condições que lhes proporcionamos. É por isso que, para além do chamado ensino regular, temos currículos alternativos para estudantes com necessidades diferenciadas, assim como cursos profissionalizantes para encaminhar jovens que não revelem uma grande apetência para uma escolaridade prolongada. Portanto, eu penso que, den­tro daquilo que é possível, temos reali­zado algum trabalho com qualidade, pese embora o sucesso dos alunos, nalguns casos, seja, ainda, manifestamente, in­satisfatório, mormente compreensível, dada a situação geral da educação no nosso país e a situação particular destes estudantes. “NA”: Mas, recordo-me que os currí­ culos alternativos estavam em risco de não continuar... M.A.S.: No ano passado, nós tive­ mos, de facto, muita dificuldade em reini­ ciar a formação na área dos currículos alternativos. No entanto, negociámos a sua continuidade, com a Direcção Re­ gional de Educação de Lisboa, e penso que os responsáveis entenderam aquilo que eram as nossas necessidades de resposta. Para além disso, e ao contrário

Mário Caritas

ORDEM DA INSTRUÇÃO PÚBLICA. Satisfeita, naturalmente, mas com os pés bem assentes no chão, a professora Armandina vê reconhecido, publicamente, o seu trabalho de três décadas

do que acontece noutros sítios, conse­ guimos contar com o envolvimento da comunidade, em todo este processo. As informações que temos, neste momento, são de que, para casos devidamente jus­ tificados, continuarão a haver currículos alternativos. E eu penso que isso é fun­ damental, porque existe, de facto, um conjunto de alunos que, se não tiverem uma oferta tão dirigida às suas caracterís­ ticas, facilmente abandonarão os estu­dos. “NA”: E esses currículos levam o estu­dante até onde, em termos de escolari­dade? M.A.S.: Até ao 9.º ano. Ou seja, ficam com a escolaridade obrigatória e com um diploma, tal como todos os outros, pese embora perfaçam um percurso paralelo. “NA”: Apesar desta, tão honrosa, dis­tinção ter sido feita na sua pessoa, po­demos dizer que foi uma distinção ao próprio estabelecimento de ensino...?!? M.A.S.: Eu considero que sim. Aliás, não faz sentido pensar que alguém, sozi­ nho, ponha a funcionar uma escola onde existem 900 alunos, 118 professores e

30 funcionários, entre auxiliares e admi­ nistrativos. Existe, de facto, um grande investimento humano dos profissionais deste estabelecimento, e eu sou, no fun­do, a líder de todo o processo, visto ser a presidente do Conselho Executivo. Trata--se, sobretudo, de considerar — e eu defendo muito isso — que os principais recursos das escolas são os recursos hu­manos, logo, há que fazer uma gestão adequada dos mesmos, ou seja, fazer sentir às pessoas que estas são indispen­ sáveis para o desenvolvimento de qualquer trabalho, mostrar que estamos receptivos aos seus projectos, e sermos capazes de perceber — e isso eu penso que nós fazemos bem — o perfil de cada um, porque os indivíduos são diferentes, têm planos distintos de integração e de profissionalização, e é preciso que exista espaço para tudo isso. Portanto, uma das coisas que, normalmente, agrada aos professores é que quando estes têm uma ideia, nós agarramo-la: podemos ajustá-la, um pouco, a determinados con­dicionalismos, mas as pessoas têm

muita liberdade para implementarem as suas ideias. E eu acho que isso é fulcral, porque não podemos ser, apenas, executores, aliás, quando passamos à situação de executores, provavelmente, teremos

pormenor, nomeadamente as pequenas brigas, os pequenos atritos entre eles, isto para que essas quezílias não ganhem outra dimensão, o que permite que haja um trabalho válido numa área que seria, à partida, de conflito, de agressão, de violência, porque, aqui, eles são latentes, por todas as razões, agravadas, actual­ mente, pelos factores socio-económicos que todos nós conhecemos. No fundo, temos que estar atentos ao dia-a-dia... “NA”: Pode-se dizer que a professora Armandina funciona como um “fiel da balança”... M.A.S.: Um bocadinho… “NA”: É um trabalho complicado!?!... M.A.S.: É, sobretudo, um trabalho muito aliciante! “NA”: A aposta no ensino do século XXI terá de passar, fundamentalmente, pela relação humana? M.A.S.: Quer dizer, uma escola é um espaço, fundamentalmente, de relação. Por aqui, passa tudo. Se este aspecto da relação funcionar, eu penso que muitas coisas passam a correr melhor. E, de fac­to, as pessoas podem circular aqui à vontade, não há situações de agressão, de afronta. Eu vou a qualquer sala, a qualquer espaço, e tenho a certeza de que vou ser respeitada. E note que nós temos alunos já com alguma idade — penso que temos um que já tem 20 ­anos —, que eram, à partida, elementos que poderiam causar problemas graves, mas, pelo contrário: digo o que tenho a dizer- -lhes, converso com eles, chamo-lhes a atenção, ralho se for necessário, zango--me quando é preciso, e disto não saio, de forma a ser criada uma relação mútua de respeito, que julgo ser muito impor­tante. Uma relação de respeito, de exi­gência, sendo que, eles têm de ter um espaço onde sejam ouvidos, e o Conse­ lho Executivo funciona muito como uma instância onde eles recorrem. “NA”: Portanto, aqui, o Conselho Exe­cutivo é uma entidade próxima dos alu­nos... M.A.S.: Muito próxima. “NA”: O que não se vê, ainda, muito noutros estabelecimentos de ensino... M.A.S.: Sobre as outras escolas não posso falar, porque não conheço. Eu, pessoalmente, gosto de trabalhar directa­ mente com os alunos. Aliás, este é já o sexto ano lectivo consecutivo em que não dou aulas, porque não tenho com­ ponente lectiva, nem tenho tempo para ter, é impossível, dado existir todo um conjunto de situações sobre as quais te­

“A nível, estritamente, pessoal, julgo que esta condecoração terá a ver, provavelmente, com o meu perfil profissional (...) Existe, de facto, um grande investimento humano dos profissionais deste estabelecimento, e eu sou, no fundo, a líder de todo o processo.”

mui­tas falhas e seremos ineficazes... “NA”: E como se desenrola o trabalho com os alunos? M.A.S.: Lidamos, com eles, de uma forma muito directa, aos mais diversos níveis. Eu, pessoalmente, atendo, ao lon­ go do dia, um número imenso de jovens, que me colocam as mais variadas ques­ tões, existindo, pois, uma relação muito próxima. Nós valorizamos — eu, pessoal­ mente, valorizo muito — as questões de

nho que focalizar toda a minha atenção. “NA”: Pode dizer-se que desempenha os papeis de professora, de psicóloga, de animadora, amiga... M.A.S.: Não, nada disso. Eu sou, fun­damentalmente, professora e cidadã. E penso que todos nós temos esta capaci­dade de conversar com os outros. Eu não tenho qualquer veleidade de fazer trabalho de psicologia, nem é


3

PRIMEIRO PLANO

isso que pretendo, mas o que é certo é que fala­mos uns com os outros, logo, provavel­mente, vamos influir, também, nas rela­ções que estabelecemos e no modo como as outras pessoas reagem connos­co. Portanto, eu falo muito regularmente com os alunos, para mim, essa é uma questão central: ter tempo para falar com eles, mas, ter tempo para falar daquilo que os preocupa e daquilo que nos preo­cupa a nós, daquelas coisas que são, aparentemente, muito insignificantes. Se, no recreio — e, neste caso, estou a falar dos mais novos —, um colega tira o boné, o lesado vem aqui queixar-se. Se calhar, não era necessário, mas essa é a relação que nós estabelecemos, e, depois, eu chamo o outro e eles reconciliam-se, e isto evita que os conflitos cresçam. Outras vezes, eles vêm aqui só para me ver, só para me dar um beijo, ou porque precisam de um certo afecto... “NA”: Vai continuar para sempre nesta carreira...!? M.A.S.: Sim, claro. Provavelmente, fi­carei em Vialonga até ao final da carreira. Eu vivo na Póvoa de Santo Adrião, mas estou aqui, gosto deste projecto, desde que cá estou nunca mais concorri para lado nenhum, portanto não tenho quais­quer planos para sair. Acho que este é um desafio interessante, acho que é inte­ressante estar numa escola e acompa­nhar o crescimento dos jovens, conhecê--los bem; eu conheço imensos pelo no­me, por exemplo; conheço as histórias de vida de muitos deles, e isso, para mim, é importante, não para fazer disso assunto de conversa, mas, porque é im­ portante percebermos as dificuldades que os jovens atravessam, percebermos que tipo de sociedade estamos a cons­truir... “NA”: Até porque a nossa sociedade é muito diferente de quando começou a dar aulas, por exemplo. Em 30 anos, muita coisa mudou ao nível do ensino... M.A.S.: Do ensino e, também, das famílias. Bom, em primeiro lugar, dizer que nós temos, actualmente, nas esco­las, jovens que nunca poderiam frequen­tálas, se não fosse o 25 de Abril. Por­tanto, este alargamento da escolaridade a todos coloca a instituição “Escola” pe­rante problemas que antes não existiam. É que, hoje em dia, todos estão na escola por um largo período longo, e com todo o tipo de problemas associados. Por outro lado, a sociedade tornou-se, visivelmen­ te, mais agressiva, existe maior lascismo, a sociedade de consumo tem um peso muito importante nestas áreas em que os problemas sociais são graves, e em que os jovens são constantemente con­ frontados com solicitações consumistas. E nós temos isso aqui presente, todos os dias: toda a gente quer ter um telemó­vel topo de gama, e essas são, muitas vezes, as prioridades dos jovens, ou seja, ter aquilo que as pessoas com mais di­nheiro têm, o que se torna difícil de gerir. “NA”: Como é que costumam abordar o tema do 25 de Abril? Como será, este ano? M.A.S.: Para este ano, temos algumas iniciativas programadas, nomeadamente o nosso núcleo de teatro irá representar, nes­te e noutros estabelecimentos do concelho, a peça: “Sol de Abril.” Por

ABRIL.2004

Mário Caritas

EDUCAÇÃO. Maria Armandina assume-se, fundamentalmente, como uma educadora, no seu “cativante” contacto diário com os alunos

outro lado, estamos a planear organizar um “painel” com pessoas que viveram o 25 de Abril, levantando a questão: “Que so­ciedade tínhamos e que sociedade pas­sámos a ter, quais as vantagens e des­vantagens?” Porque, na minha opi-

zes, com outras coisas que não o são. Ou seja, o exacerbar da ideia de que todos temos direitos e ninguém tem deve­res, o facilitismo imenso, uma confusão entre Democracia e o “posso, quero e mando”, portanto, há muitos conceitos

“Nós valorizamos — eu, pessoalmente, valorizo muito — as questões de pormenor, nomeadamente os pequenos atritos entre os alunos, o que permite que exista um trabalho válido numa área que seria, à partida, de conflito, de violência, porque, aqui, eles são latentes, por todas as razões (...)”

nião, há muitas situações que têm de ser, rapi­damente, corrigidas. A maioria de nós, onde eu me incluo, ansiávamos por um 25 de Abril, de facto o “fascismo” era uma situação que nos incomodava, mas a Democracia tem de ser aprofundada, corrigida, porque se confunde, muitas ve­

que devem ser aprofundados e eu penso que a escola, também, aí, deve ter um papel relevante. “NA”: Todos os estabelecimentos de ensino deste agrupamento desenvolvem projectos paralelos com um fim comum?

M.A.S.: Deverão desenvolver. Quer di­zer, nós já encetámos algum esforço de articulação, sobretudo pedagógica, sen­do que, já fizemos um seminário de mate­mática, estamos a preparar um de portu­guês, e a realizar trabalho directo junto das escolas no sentido de garantir uma articulação cada vez maior do trabalho realizado, aos diversos níveis. Mas, tudo isto é um processo longo e está, ainda, muito no início. Estamos a trabalhar, como agrupamento, desde Setembro... “NA”: No entanto, esta sua distinção não é devida ao trabalho que realiza em termos do agrupamento, mas desta es­ cola em concreto... M.A.S.: Sim, eu penso que sim. Esta­mos a falar de uma escola que está si­tuada numa zona de periferia com carac­terísticas “pesadas”. No passado, este estabelecimento era, apenas, um ponto de passagem para a maioria dos

profes­sores, ao passo que, actualmente, temos um corpo docente aqui a trabalhar há uma série de anos, a desenvolver pro­ jectos consistentes, sendo já encarada, por toda a comunidade, como uma es­ cola “securizante”. “NA”: Os jovens são, hoje em dia, mais violentos do que no passado? M.A.S.: Eu acho que a sociedade é mais violenta. Ou melhor, é, inexplicavel­ mente, violenta para o século XXI. A pró­pria Comunicação Social valoriza, siste­maticamente, tudo aquilo que é violento, logo, a imagem da violência é aquela que passa todos os dias; depois, o con­sumismo introduz factores de violência acrescidos e naturalmente que os jovens são o reflexo dessa situação. A pressa com que vivemos é geradora de violên­cia, os adultos são violentos, e aquilo que acontece é que a juventude é mais viva nas suas manifestações, mais es­pontânea, não esconde tanto as caracte­rísticas de violência implícitas na socie­dade. Penso, sobretudo, que há falta de regras e este é um dos aspectos que é importante aprofundar. As pessoas são muito reivindicativas, mas avaliam pouco qual há-de ser o seu contributo, nas diver­sas situações. Alheamo-nos muito... “NA”: Tem visto muitos “casos per­ didos” de jovens darem a volta por cima? M.A.S.: Eu penso que a escola é uma parte importante na resolução dos pro­ blemas, mas é uma parte escassa. Nós sentimos e conversamos, muitas vezes, sobre isso... Neste momento, todos os problemas têm de ser resolvidos pela es­ cola, quando há qualquer problema tudo remete para a escola — há problemas de aborto, resolve-se com a Educação Sexual nas escolas; há problemas rodo­viários, cria-se a Prevenção Rodoviária, muitas vezes na perspectiva de uma nova disciplina —, quer dizer, a escola é enca­rada como uma resposta para tudo, quando esta é, apenas, uma parte da resolução dos problemas e não a reso­lução em si. Portanto, aquilo que nós sentimos é que fazemos um esforço imenso para conseguirmos que estes jo­vens construam um projecto de vida, se organizem, mas isto tem um prazo, e, neste momento, com as características de muitas das famílias envolvidas e com as características de muitos destes jo­vens, era necessário que houvessem tra­balhos complementares sérios, nomea­damente em termos de assistência social continuada, para, quando os estudantes saem daqui, terem algum acompanha­mento. Nós temos alunos que consegui­mos que façam o 9.º ano — e esta é a nossa meta — com o mínimo de quali­dade, mas, também temos a noção de que quando eles saem daqui, e não ha­vendo outros suportes — e, nestes ca­sos, o suporte familiar falha, em muitas situações —, provavelmente, todo esse trabalho vai voltar para trás. Era necessá­ rio, pois, que houvesse continuidade e essa continuidade não pode ser dada pela escola. Portanto, falta, de facto, a complementaridade deste trabalho e, provavelmente, era necessário investir em todos os sectores sociais com outra força, nomeadamente em termos da Se­ gurança Social e da Assistência Social. No fundo, era preciso mais investimento.


4

ESPAÇO NA

ABRIL.2004

SALINAS DE ALVERCA

Ambientalistas criticam Obriverca

AGENDA úteis Alverca do Ribatejo

Junta de Freguesia: Tel.: 21 958 76 80 Fax: 21 958 76 81 Bombeiros Voluntários: 21 958 08 14 GNR: 21 958 05 14 Delegação da C.M.V.F.X.: 21 958 31 49 Casa da Juv. de Alverca: 21 958 41 32 CTT: 21 958 81 92 / 90 Estação CP: 21 958 26 06 SMAS (delg.): 21 958 31 99 Esc. Sec. Gago Coutinho: 21 958 22 00 Esc. Sec. Inf. D. Pedro: 21 958 12 89 Esc. Preparatória: 21 958 11 80 Táxis: 21 957 33 30

Póvoa de Santa Iria

Junta de Freguesia: 21 959 01 32 Bombeiros Voluntários: 21 959 00 32 GNR: 21 959 00 55

Vialonga

A sentença do Juiz “Que porcaria de poder político é este que rege esta comunidade?” Esta frase, dita por um qualquer cidadão, vale o que vale, dependendo do contexto em que é proferida. Mas, quando é dita por um juiz, e, ainda por cima, durante a leitura de uma sentença, o caso muda de figura. Quando um juiz da comarca de Vila franca de Xira inclui, numa sentença, uma crítica explícita à política do município “rosinha”, está tudo dito, não está? Ainda durante a leitura da sentença, o juiz apela à mobilização da sociedade civil, para mudar o rumo das coisas. Eu assino por baixo e convido, desde já, os movimentos de cidadania do concelho a uma convergência de esforços, no sentido de se apresentarem, nas próximas eleições autárquicas, como uma alternativa de poder no município vila--franquense.

J. de Freguesia: 21 952 09 67 Bombeiros Voluntários: 21 952 15 94

Alhandra

Junta de Freguesia: 21 950 02 52 Bombeiros Voluntários: 21 950 00 21 GNR: 21 950 00 70

Sobralinho Junta de Freguesia: 21 950 05 41

Mandato “Rosinha” a meio Quando a meio do mandato, os partidos da oposição na Câmara Municipal de Vila Franca de Xira não fazem o devido (e imperativo!) balanço do mandato “Rosinha”, está tudo dito, não está?

VILA FRANCA DE XIRA

Felizes coincidências! Ele há todo o tipo de coincidências, nomeadamente as felizes e as infelizes. Cá para mim, o desbloquear da situação do nó de Alverca da A1, numa altura em que a urbanização “Malva Rosa” começa a ganhar forma e necessita de vender apartamentos, só pode ser uma feliz coincidência. Não acham? Ou, como diria o outro, “é a Força do Grupo”.

Calhandriz Junta de Freguesia: 21 958 06 58

Forte da Casa Junta de Freguesia: 21 959 22 19

“São Miguel dos Montes”? O site do PSD de Vila Franca de Xira tem conteúdos dignos de registo. Por exemplo, o facto de indicar o número de telemóvel do vereador Rui Rei. Andei por lá a “navegar” e fiquei curioso em saber qual é a freguesia do concelho vila-franquense que se denomina “São Miguel dos Montes”? Ah, e, já agora, para quê um “link” para “informações úteis”, se essas informações não estão lá?

S. João dos Montes Junta de Freguesia: 21 950 07 01

Vila Franca de Xira

Câmara Municipal: 263 276 031 Junta de Freguesia: 263 272 717 Bombeiros Voluntários: 263 276 333 GNR: 263 273 335 PSP: 263 273 334 Serviço Municipal de Protecção Civil: 263 276 031 - ext. 144 SMAS: 263 200 600

Cachoeiras Junta de Freguesia: 263 22 590

Castanheira do Ribatejo

Junta de Freguesia: 263 29 747 Bombeiros Voluntários: 263 21 095 GNR: 263 22 522

Farmácias de Serviço

Estão, alegadamente, em causa cerca de centena e meia de espécies de aves!... Tendo em conta os trabalhos, em curso, de aterro das salinas de Alver­ ca, a cargo da empresa Obriverca, com vista à construção da futura Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), o GEOTA – Grupo de Estudos de Ordena­ mento do Território e Ambiente e a ADAPA – Associação de Defesa do Ambiente e do Património de Alverca do Ribatejo, soli­citam que a referida intervenção «se con­fine ao menor território possível». Aquelas duas entidades lembram que se está a falar de «uma zona húmida da Reserva Natural do Estuário do Tejo, im­ portante para a conservação da natureza, e que acolhe mais de 1 000 aves durante as suas passagens migratórias; actual­ mente, ocorre aí a nidificação de várias espécies», pelo que contestam o facto da empresa estar a actuar «em espaço claramente situado fora da área prevista para a localização da ETAR».

Afinal, quem é o presidente da Junta? Sabia que no site “Guia de Portugal”, na informação relativa à freguesia de Vialonga, o nome do presidente da Junta é um tal de Carlos Braga? E que a freguesia é classificada como “área predominantemente urbana”. Tudo errado. E isto é feito por uma empresa (a Municípia SA – Empresa de Cartografia e Sistemas de Informação, integralmente constituída por municípios) cujo objectivo é — e passo a citar — “contribuir para o prestígio e afirmação dos municípios, em todo o território nacional, nas áreas das novas tecnologias de informação e comunicação”. Quem não vai gostar nada disto é o actual presidente da Junta, Manuel Valente...

O pirónamo

Novo (?) Tribunal gera polémica

Tribunal de Vila Franca de Xira. Eis o assunto que tanta tinta tem feito correr, no último mês, com o PSD a acusar a maioria camarária socialista de «ainda não haver disponibilizado uma área para a construção de um novo Palácio da Jus­ tiça»; e com Maria da Luz Rosinha a con­ tra-atacar assim: «A sua edificação não é da nossa competência, aliás, segundo a Associação Nacional de Municípios Por­tugueses, nem sequer a questão do ter­reno é da nossa responsabilidade». Tudo começou, recordamos, com uma nota de imprensa, elaborada pelo verea­ dor social-democrata no executivo, Rui Rei, onde este afirma que o actual edifício «foi-se tornando cada vez mais “estran­ gulado” e menos funcional e operativo», podendo a autarquia, caso não actue rapidamente, «perder este projecto para outros concelhos, assim como perder, eventualmente, a sede de Comarca». Ora, após respostas (do PS) e contra-respostas (do PSD), em sucessivas con­ ferências de imprensa, o assunto subiu, inevitavelmente, a reunião pública de Câ­mara, onde a presidente da edilidade informou que «o Ministério da Defesa dis­ se estar a aguardar resposta do Ministério da Justiça, para saber que havia ou não verbas para Vila Franca», podendo, quiçá, no futuro, o ambicionado imóvel «vir a ser implementado no espaço da Escola da Armada».

Abril/Maio S. Dias 21 958 17 96 Dias 5 - 11 - 17 - 23 - 29 Dias 5 - 11 - 17 - 23 - 29

Estevão 21 958 29 30 Dias 6 - 12 - 18 - 24 - 30 Dias 6 - 12 - 18 - 24 - 30

Mercado 21 958 06 29 Dias 1 - 7 - 13 - 19 - 25 Dias 1 - 7 - 13 - 19 - 25 - 31

Central 21 958 06 39 Dias 2 - 8 - 14 - 20 - 26 Dias 2 - 8 - 14 - 20 - 26

Nova Alverca 21 957 06 68 Dias 3 - 9 - 15 - 21 - 27 Dias 3 - 9 - 15 - 21 - 27

“Farmácia Raposo” Arcena 21 957 30 20 Dias 4 - 10 - 16 - 22 - 28 Dias 4 - 10 - 16 - 22 - 28

ALVERCA

137 novos lugares para estacionamento Em Alverca, entrou em funcionamento, no passado dia 5 de Abril, o novo Parque de Estacionamento situado junto ao Jar­dim Parque e às Piscinas Municipais, num investimento camarário global que as­cendeu aos 153 mil euros. Ao todo, foram criados 137 novos luga­ res, quatro dos quais destinados a cida­ dãos portadores de deficiência, numa área total de 3 680 metros quadrados. Com a implementação deste espaço, a edilidade espera «ajudar a resolver os problemas dos mo­radores da zona, tra­zendo, ainda, benefí­cios a todos os uten­tes habituais do jar­dim e piscinas.

Notícias de Alverca ‘ Sede/Redação/Publicidade: Rua da Boca Lara, n.º27, C/V Esq., 2615-051 Alverca do Ribatejo ‘ Endereço Postal: Apartado 124, 2616-908 Alverca ‘ Telefone: 21 993 77 95 ‘ Fax: 21 993 77 99 ‘ Email: noticiasdealverca@clix.pt ‘ Propriedade : A Dentada do Rato Azul - Design e Produções Culturais, Lda. ‘ N.º Contribuinte: 503 756 636 ‘ Accionistas (+10%): Paulo Pereira, Paulo Sousa, Elsa Figueiredo ‘ Director: Paulo Pereira ‘Chefe de Redação: Mário Caritas ‘ Director Comercial: Paulo Pereira ‘ Redação: Ana Rita Leça, Paulo Filipe Pereira,Sandra Xavier e Mafalda Ribeiro ‘ Fotografia: Arquivo N.A e Mário Caritas ‘ Colaboradores Permanentes: Carlos Silva, Edmar Rodrigues, Jorge Cardoso, José Sabino Lopes e Nuno Libório ‘ Colaboradores Eventuais: João Botas ‘ Design e Paginação: A Dentada do Rato Azul, Lda. ‘ CTP: Cinforma ‘ Impressão: Imprejornal, S.A., Av. Infante D. Henrique, n.º 334, 1800 Lisboa ‘ Reg.D.G.C.S.: 109974 ‘ Depósito Legal: 78298/94 ‘ Tiragem: 3.500 exemplares


5

SOCIEDADE

ABRIL.2004

PALAVRAS para que vos quero... Um espaço dedicado a todos A redacção do NA agradece a todos aqueles que têm colaborado neste espaço, enviando textos de poesia, prosa, crónica ou pequenos ensaios, sobre os mais diversos assuntos. Nesta edição, para além dos trabalhos de Olga Campos Rufino e Vitalina Lopes, continuamos a trazer à “estampa” a compilação poética de António de Oliveira Lagarto, sob o título: “Amar o Tejo – O Velho Gabriel”, publicando, presentemente, a Parte Segunda dessa obra — designada: “Descer o Tejo” —, a partir do ponto onde ficámos na edição de Março e retomando-a nas próximas tiragens mensais. Recordamos que esta rubrica pretende ser um incentivo e um estímulo a todos aqueles — dos 8 aos 80 anos...(!) — que queiram pôr à prova a sua capacidade literária. Continuem a escrever-nos...!

“Amar o Tejo” / Parte Segunda “Descer o Tejo” (continuação)

No rio Tejo, quem diria, Existe o melhor do mundo.

Piadeira, tartaranhão, São aves que nos encanta.

XXIV

XXX

XXXVI

O veleiro navegando, Andam por cima a pairar. Gaivotas em grande bando, Nos querem cumprimentar.

De muitas aves falei, Com toda a gratidão. Confesso, melhor não sei. Ao Tejo, peço perdão.

XXV

XXXI

XXXVII

Há travessas com salada. Todos querem ser primeiro. A dar a sua garfada, Há bom vinho Catapereiro.

Mais baixo, assim voando, No seu constante piar. As gaivotas vão poisando No veleiro a navegar.

Há chamada de atenção. O filme vai começar. Em tempos de migração, Grandes bandos a voar.

XXVI

XXXII

XXXVIII

O segundo é de gritos!... Refogados à tradição. Caldeirada de cabritos Come-se com satisfação.

Guinhos-comuns e fuzelos, Arrabios e corvos marinhos. À gente dá gosto vê-los, Ao cruzar certos caminhos.

XXVII

XXXIII

O sino volta a tocar, Já cheira a sardinha assada. Todos ocupam lugar Para alegre almoçarada.

A alegria se espalhou, Se nota bem no olhar. E tão bem se almoçou, No rio Tejo a navegar. XXVIII Música sempre a acompanhar, Até há discos pedidos. Para quem quiser escutar Seus artistas preferidos.

Belos bandos de perdizes, Borrelhos-de-coleira e poupas. Galinholas, codornizes, Rareando, já são poucas. XXXIV Há os que apanham abelhas, Estorninhos e calhandras. Pernas-verdes e vermelhas, Não há muitos por estas bandas.

XXIX

XXXV

Tudo parece magia. Assim... respirando fundo!

Sisão e galeirão, Tarambola e alvéola branca.

Tem música a acompanhar. Comentário, bem concebido. Entendidos a falar, É melhor compreendido. XXXIX Assim o nosso veleiro Dá uma imagem real. Do melhor, ao passageiro, Que existe em Portugal. António Lagarto

À minha grande amiga, Luísa Pamplona És uma grande mulher De uma grande inteligência Com muito amor para dar

E com muito carinho. Sempre pronta para ajudar! O teu coração é de ouro O teu sorriso encanta Tudo isto me tens dado Só tenho a agradecer Muito e muito obrigado. Que Deus te abençoe E aos teus filhos também Que vivam em paz e amor Com tudo o que há de bom Amém Olga Campos Rufino

Rio Crós-Cós de cara lavada Ò minha linda Alverca Junto ao Tejo plantada Não nasci no teu seio Mas fui por ti adoptada Há dias fui passear Dar largas à imaginação Quando vi limpo o rio Crós-Cós Soltei um Ah de admiração Eu fui matar saudades Porque tenho em mim um vazio Do local para onde vim criança Para a casinha junto ao rio No canto do campo da bola Ali mesmo junto ao rio Muitos anos morou A tia Ermelinda e meu tio

Aquele era o meu rio Meu e de outra gente Era limpo, alegre e saudável Hoje é sujo, triste e doente Eu era tão pequenina Mas lembro-me muito bem No rio a roupa lavava Eu, minha tia e minha mãe Havia umas grandes pedras Onde a roupa era lavadinha Naquela água tão limpa A roupa brilhava branquinha Pelas senhoras da Avenida Tia Ermelinda era procurada Pois toda a gente queria Por ela a roupa lavada Eu fui muito acarinhada Pela tia Ermelinda e meu tio Hoje só tenho a imagem Dela a lavar no rio O rio Crós-Cós de hoje Com o de ontem não se parece nada De qualquer maneira está lindo Assim de cara lavada Até aquele lindo pombal Mudou a sua formosura Tão limpo e arranjado Parece uma aldeia em miniatura À senhora Presidente Aqui deixo o meu recado Juro que fiquei contente De ver o rio limpo e arranjado Vitalina Lopes

*Carta ao Director

Palácio do Sobralinho, ao povo o que é do povo! Na edição de Março do vosso Jornal, o ex-vereador da Câmara Municipal de Vila Franca de Xira, e actualmente pres­tador de serviços para a edilidade, de­fende a entrega ao sector privado do pa­lácio do Sobralinho. Lembre-se, um patri­mónio arquitectónico e cultural antigo e representativo da nosso concelho e re­gião, uma expressão física da identidade cultural que deve ser defendida para o usufruto das populações. O traço fundamental daquela concep­ ção deste ex-vereador é, em minha opi­ nião, a seguinte: 1. faz-se a defesa inequívoca de um tipo de gestão autárquica assente em pressupostos neo-liberais, ou seja, de cumplicidade e cobertura face às políticas dos sucessivos governos PS e PSD, que atiram as autarquias para a gestão pri­vada dos seus serviços básicos e para uma total precarização da sua mão-de-obra; 2. apresentam-se falsos e demagógi­ cos critérios quando se define as priori­ dades para a aplicação de verbas do município, porque este entende comparar as questões das acessibilidades ou dos parques de estacionamento com as ne­cessidades da promoção e fruição

cultu­rais, como se um e outro temas sejam concorrenciais entre si; 3. confirma-se um tipo de sensibili­ dade reconhecido à volta do movimento do Betão, um exemplo daquilo que o concelho de Vila Franca de Xira, actual­ mente, menos necessita; 4. esta concepção alinha com a actual política(!) de ordenamento do terriório seguida pelo actual executivo PS na Câ­ mara, uma política desastrosa e descon­ trolada relativamente ao urbanismo. Ora, o que o nosso concelho necessita é de uma politica de ordenamento do território voltada para as pessoas, para a sua qualidade de vida, e não de uma política autárquica assente em critérios passadistas já esgotados noutras cidades e países. A degradação desta política está associada à privatização dos serviços pú­blicos em geral, que não serve as popu­lações, mas sim ao sector privado e à inevitável degradação da função so­ cial do Estado. A democratização dos bens culturais e a promoção da criatividade e exponta­ neidade culturais são tarefas estratégicas que cabe ao Estado promover, nas suas políticas gerais para a cultura. Na verdade, o sr. ex-vereador utiliza

argumentos puramente demagógicos e irracionais, para que este património — que é de todos — seja entregue a um real negócio lucrativo, à exploração turís­tica do património, sem acautelar as ne­cessidades das populações, bem como a experiência cultural que estava

em construção durante a gestão CDU no mu­nicipio. Era mais sensato que este senhor de­dicasse muito mais do seu tempo ao es­tudo, à organização de ideias integradas e com visão para o território, ao aconse­lhamento da actual presidência munici­pal, partido ao qual pertence, na busca de outro tipo de soluções e de práticas, para que o nosso concelho deixe de ser um paraíso para aquilo que o denomi­nado “movimento do Betão” — neste caso, um Betão com tiques refinados e sensíveis — presta atenção: às valências e oportunidades de negócio que, estra­nhamente, o nosso património está a criar nalguns sectores. Deveria esta gestão PS na Câmara municipal convidar os empresários do sector hoteleiro a investir, de facto, no nosso concelho, mas noutros parâmetros de actuação ou de lógica. Porque existe mercado, o sector privado deve actuar com base numa política geral do território, eventualmente, construir de raíz ou adap­tar espaços devolutos e mais apropria­dos para este tipo de função específica, talvez no Parque Malva Rosa, um lugar novo, um espaço que reflecte

um tipo de opção, a opção do betão. Facilmente, chegamos à conclusão de que é urgente uma outra política autár­ quica para o nosso concelho, uma ver­ dadeira política que utilize a criatividade em formas de gestão participada com os cidadãos, que respeite o ordenamento do território e o ambiente. Esta gestão PS está caduca e continua a rebentar o nosso concelho, bem como a saturar as pessoas. Não resta outra opção que não seja a construção de uma verdadeira mu­dança. Como lugares apropriados, também para a cultura, os palácios existentes no concelho de Vila Franca de Xira e outros espaços patrimoniais necessitam de ser requalificados e devolvidos às pessoas, para a dinamização e fruição culturais, ou seja, para dar vida própria às terras, aos lugares do nosso concelho, a ALVER­CA em particular. Rogério Silva, eleito do PCP na Assembleia de Freguesia de Alverca do Ribatejo


6

OPINIÃO

ABRIL.2004

José Sabino Lopes

FOGOS Em Outubro de 2003, abordei, aqui no NA, o tema dos incêndios que devas­ taram o país perante a impotência geral. Como sempre, considerei que a maioria dos fogos eram postos por mãos criminosas, com diversos objectivos a atingir; lamentei que nunca houvesse a coragem, entre as várias medidas a tomar, de se colocar a engenharia militar no ter­reno e patrulhas a vigiarem o nosso patri­mónio florestal (estatal ou privado). Já passaram vinte e tal anos de “deixa arder”. Já vai longe o Director das Flo­

Eng.º Técnico Agrário

res­tas que, certamente na defesa da sua inér­cia, dizia que os fogos “eram naturais”. Já vai longe o general que não permitia que os militares fossem proteger o patri­mónio florestal, pois essa, no seu enten­der, não era a sua missão; mesmo assim, depois de tantos anos de martírios e de perdas incalculáveis, de milhões e mi­lhões de contos e de vidas, ainda há figuras responsáveis que concluíram se­rem os fogos postos resultado da conju­gação de três tipos

de causas: metereoló­gicas, estruturais e operacionais. Não se quer ver a realidade e man­ dam-se as culpas para o São Pedro!... Compreende-se perfeitamente o se­cretismo nas investigações, mas não se concluiu nada sobre a actuação de de­zenas de indivíduos, que são presos, to­dos os anos, como incendiários? O que se pode concluir sobre os heli­ cópteros e avionetas vistos pelas popula­ ções a incendiarem a floresta, como aconteceu, por exemplo, no Algarve?

Aflige-me que só o Sr. S. Pedro seja o principal culpado. Mas (há sempre um mas), finalmente, parece que os nossos queridos gover­nan­ tes acordaram da sua letargia. E, as­sim,

foi anunciado, pelos senhores minis­tros da Agricultura e Pescas e da Defesa Nacio­nal, que os militares vão actuar no terreno, numa operação “Presença Soli­ dá­ria”, em quase todo o país, ficando o Al­garve de fora, com certeza por falta de meios, o que é perna e que poderá ter também conse­quências reflexas graves sobre o turismo. Mas, enfim, faça-se justiça! Mais vale tarde do que nunca !!!

Nuno Libório

Alverca reconhece ABRIL Abril está a acontecer. Um programa de iniciativas recorda uma experiência que aconteceu e que modificou profun­ damente a vida de cada um de nós e do país. Alteraram-se as condições do traba­ lho, as relações de trabalho, as profis­ sões, criaram-se conteúdos e formas de uma época. Abril decidiu aquilo que, no momento, foi possível. É um colectivo de emoções, de sensações, de ideias, de um programa possível, de um Portugal possível. Criaram-se novas formas de governa­ ção, positivas modalidades de participa­ ção dos cidadãos, novas formas de ges­tão e de participação dos poderes públi­cos e das políticas públicas. O país im­plantou formas sociais de apoio aos cida­dãos, Portugal democrático tornou pos­sível a subsidariedade das regiões e dos lugares e legitimou a presença das autori­dades e das formas de governação, deu liberdade e condições para a produção livre de ideias e de expressões. Livre de preconceitos, o país levantou e erigiu novas construções culturais, criou sítios e actividades para públicos, gerou alternativas de programação, gerou for­

mas de apoio público à espontaneidade cultural, democratizou os bens culturais. Integrando as memórias da resistên­ cia, a partir do momento de Abril, o movi­mento associativo ampliou o modo das actividades, bem como a frequência das iniciativas, gerou novos impactes no local, instalou-se nos meios respectivos de ac­tuação, tornou-se agente principal na prossecução das políticas socioculturais de desenvolvimento. Alverca e a sua dinâmica de cidade testemunhou esse movimento singular de espontaneidade e de participação co­lectiva nas colectividades. Dotadas de formas próprias e de dinâmicas, as colec­ tividades da nossa freguesia assumiram um protagonismo inédito nessa renova­ ção que Abril proporcionou. Gerações de entrega à causas co­ muns e a um mundo local possível, trans­formaram as colectividades e os organis­mos de base popular em instrumentos sociais ao serviços de um maior bem-estar e de um modo próximo de elabora­ção de diversificadas actividades. Recordando Abril, as colectividades de Alverca transformam novamente o pro­grama de iniciativas que lembra e

co­me­mora a data e a época. Pela iniciativa sentimos Alverca com vida, pela presença associativa Alverca proporciona um colec­tivo de actividades descentralizado e ade­quado à suas emoções. Sentimos esta cidade a recordar uma história, uma me­mória e uma identidade. Alverca fez Abril, protagonizou uma experiência de evolu­ção dos meios da sociedade para os ci­dadãos, soube reagir às novas for­mas que proporcionaram os poderes de­mo­cráticos. O associativismo cresceu e apro­fundou as suas causas de dedica­ção. As pessoas souberam encontrar lu­gares de expressão, momentos de activi­dade, lugares de encontro e de vida. As colectividades locais deram esse impor­tante contributo na realização de uma outra cidade, de um espaço aberto, dinâ­mico e colectivo, de um território urbano com qualidade de vida, uma cidade hu­mana. O futuro da nossa cidade deverá reco­nhecer esta modificação profunda na re­lações sociais, o protagonismo que Abril proporcionou deverá enquadrar as metas e os programas próximos de desenvolvi­mento da cidade. Faz sentido

Antropólogo nunoliborio@hotmail.com

a forma desta cidade, uma cidade que cresceu e que se enquadrou nos valores da demo­cracia de Abril, uma cidade com vida e solidária. O recente programa de enquadra­ mento e de proposta para o desenvolvi­ mento apresentado para a cidade no âm­bito do Plano Estratégico Concelhio des­via-se deste sentido humanista. Como documento que comunica com a revisão do Plano Director Municipal, a base das propostas avança num outro rumo, na criação de um espaço sem diferenciação positiva, de uma cidade extensa, sem comunicação e sem sensibilidade aos lugares e às pessoas. Avança com novas metas de crescimento, com inadequados e mal calculados índices de qualidade de vida, menospreza a identidade da ci­dade, impõe novas for-

mas de estar na cidade baseadas numa lógica de desen­volvimento superficial e desenquadrado com as capacidades do território e von­tade das pessoas. Não se abordam novas metas de aprofundamento das activi­dades do associativismo local, não se assumem as colectividades como agen­tes principais na formulação e realização de políticas públicas de desenvolvimento e de cooperação. Pela leitura e apresen­tação do documento, reconheceu-se um conjunto programático de ideias soltas e não adequadas às sensibilidades do lo­cais, da cidade de Alverca. Alverca tem capacidade de aprecia­ ção, tem uma lógica de participação re­gular, tem um espírito de solidariedade e de conhecimento, tem uma experiência e práticas associativas, tem futuro, tem um património de Abril. Abril vai continuar e Alverca irá decidir por si numa lógica integração no sistema de oportunidades recentes. Quem debate o seu futuro deverá acautelar as normas e os valores que existem na cidade.

Jorge Cardoso

Democracia & Liberdade Tenho medo de ferir alguém, porque neste país conquistado, muitas vezes a outros povos, pasme-se foi conquistado por um grupo de pessoas fartas de serem ultrajadas pelos seus compatriotas, de uma maneira vil e mesquinha, que alguns os obrigou a ir para longe se sujeitaram a um tratamento pouco ou nada humano, lá longe nunca esqueceram este canti­nho, o seu velho Portugal dos pequeni­nos. Hoje, volvidos trinta, trinta árduos e difíceis anos de conquista em conquista, vamo-nos esquecendo de quão árduo e triste foi estar fugido, perseguido, maltra­tado, ou, por vezes, “preso” sem grades a um ideal nobre e nada poder fazer. Hoje que estamos a viver momentos

de grande alegria, devemos, temos a obrigação de exigir o não esquecer, o não deixar passar a ser História o viver em Liberdade e Democracia. Somos, eu queria que assim fosse, um povo orgulhoso, alegre, respeitado, com História, aquela de que nos orgulha­ mos, e devemos saber transmiti-la aos nossos sucessores, aos novos, à geração que nos irá honrar o nome de sermos Portugueses em Portugal. Devemos criar esperança, educar, ins­truir, a geração que nos fará justiça, uma justiça que tarda em chegar, porque al­guns de nós têm vergonha, de um pas­sado não muito longínquo, em que está­vamos numa posição vergonhosa de or­gulhosamente sós, talvez seja dos poucos que reivindicando por uma po-

sição de respeito e reconhecimento fui apontado, erradamente, como sendo e tendo algum conhecimento politico ou, como se dizia, de esquerda, era perigoso. O meu conhecimento político e o de muitos era o da ignorância, santa e ingé­ nua ignorância. Hoje, ninguém quer ser ignorante em politica, mas eu continuo a ser, os outros talvez sejam ingénuos. Agradeço, penhoradamente, a quem — arriscando tudo o que tinha e isso era valiosíssimo: a Vida — nos Libertou, no sen­tido lato da palavra, aos honrosos e valorosos obreiros do 25 de Abril, o meu, e penso que de todos os portugueses da minha geração, mais profundo reco­ nheci­mento. Mas a vida tem sempre um mas. Não

Capitão reformado FAP jorcardoso@sapo.pt

é leal que nós, um País de emigrantes, não facilitemos a vida a quem tem de imigrar, e neste caso não na maior parte das vezes por questões politicas, discor­ dância para quem os quer governar, mas, pior, por uma questão de sobrevivência, de bem-estar. Somos, neste momento, e que me perdoem a leviandade, um País de gran­des oportunidades, que nós talvez não tenhamos ou queiramos aproveitar,

co­nhecimentos e discernimento para as não deixar passar, não somos como al­ guns nos querem fazer crer um País de oportunistas, porque como emigrantes tudo era pouco para mostrar a nossa capacidade de trabalho e de saber, fo­mos apreciados e isso serviu para en­grandecer o grande apreço que os outros povos nutrem por nós, portugue­ses. Finalizo, desejando, neste aniversário — o 30.º do 25 de ABRIL —, feliz ani­ versário, que conte muitos, e neste caso a todos nós que somos Portugueses, vi­vemos o 25 de Abril, e somos, com muita honra, Alverquenses, por opção. VIVA O 25 DE ABRIL. VIVA A LIBER­ DADE. VIVA A DEMOCRACIA


7

OPINIÃO

ABRIL.2004

Cidadania por Vila Franca de Xira

“QUE PORCARIA DE PODER POLÍTICO É ESTE?” – Parte I * A frase-título deste artigo foi proferida, em Março último, por um juíz da comarca de Vila Franca de Xira, durante a leitura de uma sentença sobre um, alegado, caso de tráfico de droga, em que os argui­dos — 12, no total, todos eles condena­dos — eram jovens residentes no conce­lho de Vila Franca de Xira. As críticas ao poder político vigente, por parte do juíz, não podiam ser mais contundentes e es­pelham bem o estado de caos a que se chegou neste município. Para ser mais preciso, o juíz proferiu frases, tais como, e passo a citar aquilo que li na imprensa: “Que porcaria de poder político é este que rege esta comunidade?”; “Que porcaria de poder político é este que não dá a estes putos outras opç­ões?”; e, ainda, “aqui, só cresce o betão”. Outra das frases do meretíssimo juíz foi: “Porque é que a comunidade de Vila Franca de Xira e os responsáveis políticos não dão outras alternativas, para que estes jovens tenham outras opções que não sejam andar a vender droga no cais de Vila Franca?” É à primeira parte desta pergunta que tentarei dar (e despoletar) uma resposta, num conjunto de dois artigos de opinião. A cidadania define-se pela participa­ ção do cidadão, directa ou indirecta­ mente, no governo da sua comunidade. Advém da condição de cidadão, com os seus direitos e deveres. Uma das ques­ tões emergentes, na sociedade portu­ guesa, neste início de século, é a cidada­ nia, ou melhor, o défice de cidadania. Embora a face mais visível da par­ticipação na vida da comunidade seja a política, o exercicío de cidadania tem diversos instrumentos, de forma indivi­dual ou colectiva. Desde os movimen­tos espontâneos de cidadãos, em prol de uma determinada causa, à criação de colectividades com fins culturais, lúdicos ou desportivos, tudo é possível, graças a uma das grandes conquistas de Abril, o direito à livre associação. Quando se lê, nos jornais, que o Estado português foi condenado, pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Ho­ mem, a pagar uma indemnização a um cidadão português por um processo judicial demorar mais de 15 anos a ser resolvido, isso é a consequência do exercício de cidadania... Quando um qualquer munícipe par­ ticipa numa Assembleia de Freguesia ou numa Assembleia Municipal, inter­ pelando os eleitos para uma questão que lhe suscita dúvidas, isso é um exercicío de cidadania... Quando um grupo de pessoas for­ ma uma determinada comissão, para evitar, por exemplo, que os serviços camarários deitem abaixo uma extensa área de pinheiros mansos, isso é cida­dania... Quando um cidadão faz um requeri­ mento, ao vereador do urbanismo, para ter acesso ao Plano Director

Munici­pal, isso é cidadania... Quando um munícipe denuncia, ao Ministério do Ambiente e à autarquia, despejos de entulho na via pública ou construções ilegais em áreas de Re­serva Agrícola Nacional, isso é cidada­nia... Se, quando o sinal da TV Cabo apre­senta anomalias, nós nos queixamos à operadora que nos presta o serviço, por que razão não haveremos de fazer o mesmo quando, por exemplo, a autar­quia não repara os buracos da nossa rua?... Em suma, poder-se-ia dizer que a cidadania diz respeito ao exercício de uma acção participativa e fiscaliza­ dora de qualquer cidadão, face ao po­der instituído, no âmbito da sua comu­nidade; e que ultrapassa (ou deveria ultrapassar) o “simples” direito de voto. Origens Portugal vive hoje — em plena glo­balização e como país europeu de ple­no direito — uma das maiores e mais rápidas transformações. Com uma De­mocracia jovem, o grande desafio que se coloca é o de fazer face aos malefí­cios da nossa situação de periferia. A grande questão é a defesa da identi­dade nacional. Uma meta só possível com uma cidadania forte, esclarecida e participativa. O sopro vital para as sociedades democráticas. Ao longo dos tempos, travaram-se duras batalhas pela afirmação da cida­dania. As primeiras vitórias foram con­seguidas com as revoluções Ameri­cana e Francesa. O objectivo foi sem­pre o mesmo: reivindicar o direito de participação, na busca do interesse e bem comum; reivindicar

o direito de acção individual, no seio da sociedade, perante os perigos da intromissão ou da prepotência tentacular do Estado, central e localmente. O concelho de Vila Franca de Xira tem sido, ao longo da sua história, tes­temunho de diversos exemplos do exercício da cidadania levado ao seu expoente máximo. Basta pensar-se no Movimento Neo-realista ou nas gran­ des lutas sociais dos anos 40 do sé­ culo passado. Actualmente, são mais de duas centenas as associações ou colectividades de índole desportiva, cultural e ambientalista, entre outras. Entre os mais recentes exemplos, refira-se a Comissão de Utentes de Saúde de Vialonga ou o Xiradania – Movimento de Cidadania Vilafran­ quense. Outro dos exemplos de cidadania é a constituição de grupos de defesa do meio ambiente ou associações de mo­ radores (na sua maioria, para bairros em áreas urbanas de génese ilegal ou bairros sociais). Normalmente, estas associações não têm cariz partidário, religioso, étnico ou clubista, e não vi­ sam o lucro. Para a sua constituição, recorrem, muitas vezes, às juntas de

freguesia e câmara municipais — que lhes fornecem apoio logístico — e vêem nelas um forte aliado, nas suas reivindicações junto das autarquias (caso das juntas de freguesia) ou junto do Governo central (caso das autar­quias). Só para se ter outra ideia de como o direito ao exercício da cidadania está bastante regulamentado — embora seja desconhecido da maioria dos cida­dãos — tome-se como exemplo o Có­digo do Processo Administrativo. Este documento estabelece princípios cla­ros sobre o direito à informação dos cidadãos face à Administração Pú­blica. Qualquer pessoa poderá consul­tar qualquer processo administrativo que lhe diga respeito, a si ou à sua comunidade. Caso não veja realizada sua pretensão, pode sempre recorrer à Comissão de Acesso a Documentos da Administração. A Presidente da Câ­mara de Vila Franca de Xira tem sofrido alguns dissabores, neste capítulo… Vida política Tornou-se um lugar-comum a afi­ rmação — mormente quando se aborda o desenvolvimento económico,

“A participação directa e activa de homens e mulheres na vida política constitui condição e instrumento fundamental de consolidação do sistema democrático, devendo a lei promover a igualdade no exercício dos direitos cívicos e políticos e a não discriminação em função do sexo no acesso a cargos políticos.” Artigo 109.º da Constituição da República Portuguesa

social e cultural de Portugal — de que “temos o país que merecemos”, ou seja, se tão pouco fazemos pelo país, não po­demos esperar grande coisa em troca. Não menos lugar-comum, é o recordar da mais conhecida frase proferida pelo ex-presidente norte-americano, John F. Kennedy: “Não me perguntem o que é o país pode fazer por vocês, questio­nem-se, sim, sobre o que é que vocês podem fazer pelo vosso país.” E a verdade é que quase 50 anos de ditadura deixaram marcas profun­ das na sociedade portuguesa; e que, bem vistas as coisas, há, apenas, 30 anos, despertou do “orgulhosamente sós” para a liberdade de pensamento, de expressão e de associação, na sua ple­nitude. Também a participação na vida política é um exemplo de exercício da cidadania. Não raras vezes, o actual Presidente da República tem-se referido ao assunto; e, ainda numa recente (2003) desloca­ção ao concelho de Vila Franca de Xira, a governadora civil de Lisboa fez questão de apelar a essa participação, num de­ bate subordinado ao tema Governo Civil e Sociedade: “Façam política dentro e fora dos partidos, sejam exigentes com os autarcas e sejam socialmente acti­vos.” A participação na vida política pas­sa não só pela participação nos actos eleitorais, como, também, pela partici­pação nos actos da política, sejam eles assembleias de freguesia ou as­sembleias municipais, e, até mesmo, pela candidatura a cargos políticos, de forma independente ou no âmbito partidário. Ao nível da captação de gente para a vida política, fortes entraves se têm colocado, nomeadamente os baixos salários e a forte exposição pública. Ainda assim, é nas estruturas jovens dos partidos que esse trabalho co­ meça. A maior parte das vezes, ao nível das concelhias. Já Alexandre Herculano escreveu que a História de Portugal era a história dos seus municípios. Os municípios remontam à Idade Média e têm, na nossa história, um papel fundamental. Naquele tempo, ao contrário de hoje, com a crescente descredibilização da classe política, no­meadamente ao nível local, os municípios eram dominados pelos homens-bons, os mais notáveis, os mais respeitados chefes de família, as pessoas honradas, por ex­celência, dentro de cada povoado. Hoje em dia, todos sabemos como é… Ndr: No próximo artigo, abordarei as razões que julgo serem motivo para a constituição de um Movimento de Cida­ dãos, que se candidate (com ou sem apoio de partidos políticos) às próximas eleições autárquicas no concelho de Vila Franca de Xira. * João Botas Jornalista residente no concelho de Vila Franca de Xira


8

CENTRAL

ABRIL.2004

MUNICÍPIO

Assinalar Abril sob várias formas

Para além da, habitual, Sessão Solene, haverá lugar a diversas práticas culturais, sem esquecer a inauguração do “Jardim da Liberdade”, no Parque Público da Quinta da Piedade distin­guidos 13 autarcas (ler caixa, em anexo), eleitos em órgãos autárquicos locais ou municipais, já com quatro mandatos completados, contando-se, entre eles, a actual presidente da edilidade, Maria da Luz Rosinha. Pelo meio, ao início da tarde (14h 30m), é inaugurado o “Jardim da Liber­ dade”, no Parque Público da Quinta da Piedade (Póvoa de Santa Iria), onde se­ rão plantadas 30 árvores, sendo baptiza­ da cada uma delas com o nome de uma figura pública, nacional ou mundial, já falecida, conotada, de algum modo, com os valores de Abril e com a defesa de determinadas causas (ler caixa, em ane­xo). Os festejos encerram, da melhor for­ma, no dia 30 de Abril (Sexta-feira), com um concerto de Sérgio Godinho, na So­ciedade Euterpe Alhandrense, em Alhan­dra (22h). Em relação ao programa, estrita­ mente, dirigido ao público estudantil, logo no dia 20 (Terça-feira), há Teatro de Ma­ rionetas, em Alverca, com o Mestre Filipe e Suas Marionetas, nas EB1 n.º 1 (10h

Mário Caritas Música, teatro, desporto, animação e a realização de cerimónias solenes vão dar corpo às comemorações dos “30 Anos do 25 de Abril” do município de Vila Franca de Xira. As escolas do conce­lho irão, também, receber algumas inicia­tivas, neste âmbito, para que os mais novos possam tomar contacto com aquilo que foi a chamada “Revolução dos Cra­vos” de 1974. Deste modo, no dia 24 (Sábado), pelas 17 horas, o Celeiro da Patriarcal, em Vila Franca, será palco da inaugura­ção da exposição: “Álvaro Guerra – Ra­zões de Liberdade”, numa clara homena­gem àquele ilustre escritor, diplomata e humanista vila-franquense, já falecido. As celebrações continuam, depois, noutro ponto do concelho, em Alverca, nomeadamente no Grande Auditório da Sociedade Filarmónica de Recreio Alver­ quense (SFRA), com um recital pelo Coro de Câmara da Universidade de Lisboa (16h) e, à noite (21h30m) – numa par­ ceria com aquela colectividade e Junta de Freguesia local –, o concerto: “Memó­rias de Abril”, pelos artistas Manuel Freire, Samuel e Francisco Vinhais. Às 24 horas, o Monte Gordo, em VFX, acolherá fogo de artifício. O dia 25 de Abril começa com a, tradi­ cional, prova de atletismo: “Estafeta da Liberdade”, desta vez no Parque Urbano de Vila Franca (antigo Campo do Ceva­ deiro), com partida marcada para as 10 horas da manhã. Às 11, realiza-se a, já habitual, Ses­ são Solene, evocativa desta data histó­

30m) e n.º 2 (15h). O mesmo artista desloca-se, no dia seguinte, às EB1 n.º 2 de Vialonga (10h30m) e EB1 n.º 4 da Póvoa de Santa Iria (15h), ao passo que, a 22, irá estar nas EB1 n.º 2 da Póvoa (10h30m) e EB1 do Sobralinho (15h). A animação não fica por aqui, pois, o Núcleo de Teatro da EB 2,3 de Vialonga tem programada a interpretação da peça “Sol de Abril”, nos seguintes estabeleci­ mentos: EB 1,2,3 do Bom Sucesso, Al­verca (dia 21, 10h30m); EB 2,3 de Via­longa (dia 21, 16h30m); EB 2,3 do Forte da Casa (dia 29, 15h); EB 2,3 D. Marti­nho Vaz de Castelo Branco (dia 29, 16h 30m). Todas estas representações, com excepção da de Vialonga, serão comple­mentadas com um recital de poesia a cargo de José Jorge Letria. Por fim, referir que, no dia 27 (Terça--feira), o Grande Auditório da SFRA irá receber o espectáculo multimédia, diri­ gido aos alunos das escolas, intitulado: “30 Anos do 25 de Abril.”

13 DISTINGUIDOS Emblemas de Mérito Autárquico Municipal em Ouro

rica, no Auditório Pequeno do Ateneu Ar­tístico Vilafranquense (AAV), numa orga­nização da Assembleia Municipal. Mais tarde, pelas 17 horas, aquele

espaço receberá, ainda, a cerimónia de Entrega de Emblemas em Ouro de Mérito Autár­quico Municipal: no total, serão

Eis, de seguida, os nomes dos 13 eleitos que serão distinguidos, no pró­ ximo dia 25 de Abril (17h), no Auditório Pequeno do AAV, com o Emblema de Mérito Autárquico Municipal em Ouro: Adelino Soares Pantaleão, António José Inácio, Augusto Pereira Faustino, Do­mingos da Silva Reis, Eugénio Rodri­

gues, Francisco do Vale Antunes, Joa­ quim Mendes Lopes, José Fernando da Costa Ventura, José Manuel Casa­ leiro, José Valada de Sousa, Manuel da Purificação Lopes, Maria da Luz Ro­sinha e Ramiro Martins Nunes.

Liberdade

30 ÁRVORES, 30 NOMES…

“Jardim da Liberdade” recorda lutadores estóicos No âmbito dos “30 Anos do 25 de Abril”, os 30 nomes das 30 árvo­ res que darão corpo ao “Jardim da Liberdade”, no Parque Público da Quinta da Piedade, são os seguintes: Adelino Amaro da Costa, 1943 – 1980 (político, fundador do Partido do Centro Democrático Social - CDS); Agostinho Neto, 1922 – 1979 (poeta, intelectual e presidente da República de Angola); Álvaro Guerra, 1936 – 2002 (escritor, diplomata e

humanista); Alves Redol, 1911 – 1969 (escritor neo-realista); Amílcar Ca­bral, 1924 – 1973 (político guineense); Aris­ tides de Sousa Mendes, 1885 – 1954 (diplomata e humanista); Bento Gonçal­ ves, 1902 – 1942 (fundador do Partido Comunista Português - PCP); Car­los Pa­ redes, 1925 (músico); Catarina Eufé­ mia, 1928 – 1954 (combatente pela liberdade); Che Guevara, 1928 – 1967 (combatente latino-americano pe­la liber­ dade); Francisco Sá Carneiro, 1934 – 1980 (político, fundador do Par­tido

Po­pular Democrático - PPD); Francis­co Sal­gado Zenha, 1923 – 1993 (políti­co, ad­vogado e fundador do Partido So­ cialista - PS); General Gomes Freire de An­drade, 1757 – 1817 (herói das Lutas Liberais); Humberto Delgado, 1906 – 1965 (político e militar, combatente pela liberdade); John Fitzgerald Kennedy, 1917 – 1963 (presidente norte-ameri­ cano, anti-segregacionista); José Afon­ so, 1930 – 1987 (poeta e combatente pela liberdade); José Carlos Ary dos

San­tos, 1937 – 1984 (poeta e combatente pela liberdade); Mahatma Gandhi, 1869 – 1948 (político e pacifista indiano); Ma­ria Lamas, 1893 – 1983 (escritora e de­fensora da liberdade); Martin Luther King, 1929 – 1968 (combatente anti-segra­ga­cionista norte-americano); Melo Antunes, 1933 – 1999 (militar de Abril); Miguel Torga, 1907 – 1995 (escritor e humanis­ta); Natália Correia, 1923 – 1993 (es­critora e política); Nelson Man­dela, 1918 (Prémio Nobel da Paz, com­batente anti-apartheid, político);

Raul Re­go, 1913 – 2002 (político e jornalista); Salgueiro Maia, 1944 – 1992 (militar de Abril); Salvador Al­lende, 1908 – 1973 (político chile­no); Sérgio Vieira de Mello, 1948 – 2003 (diplomata bra­sileiro, morto no Iraque ao serviço das Nações Uni­das); Simone de Beau­voir, 1908 – 1986 (escritora e inte­lectual fran­cesa); Soeiro Pereira Go­mes, 1909 – 1949 (escritor).


9

CENTRAL

ABRIL.2004

ALVERCA

“Revolução dos Cravos” assinalada ao longo do mês O serão de 24 de Abril é o mais “rico” em iniciativas, culminando com o espectáculo de rua: “Aldeia Global”, a cargo do Cegada Mário Caritas Alverca assinala, sob diversas formas, o 25 de Abril/2004!... Passados 30 anos sobre a “Revolu­ ção dos Cravos”, lembramos algumas iniciativas já decorridas e outras a terem lugar, neste âmbito, ao longo do mês... Deste modo, a Assembleia de Fregue­ sia, com o apoio do executivo, promoveu, nesta Sexta-feira (16), um “Jantar de Confraternização”, nas instalações da

Fundação CEBI, com todos os eleitos locais, que exerceram – ou exercem – funções nesta autarquia desde Abril de 1974. No dia seguinte (Sábado), o Grupo Etnográfico de Danças e Cantares de Al­ver­ca do Ribatejo assinala os seus oito anos de existência (ler reportagem na pág. 1 do Suplemento), com a realização de um “Festival de Folclore”, no Grande Auditório da SFRA. E, no Domingo (18) todos os alverquenses podem assistir a um “Passeio com Arcos em Ferro” pelas

ruas da cidade, numa organização da Escola de Fado do Bairro da Chasa; à tarde, a Associação Coral Ares Novos co­memora mais um aniversário, no Auditório “Scala”. Posteriormente, a 23, o Fórum Chasa recebe, pelas 21 horas, uma “Noite de Fados”, levada a cabo, em conjunto, pe­la Junta de Freguesia de Alverca (JFA), Escola de Fado do Bairro da Chasa e Escola de Fado Amador e Criativo de Al­verca do Ribatejo. O dia 24 é o mais preenchido, com

um serão de Abril – resultante de uma parceria entre a autarquia local, município e SFRA –, a desenrolar-se no Grande Auditório desta colectividade. Assim, a partir das 21 horas, teremos: “Memórias de Abril”; “Homenagem a Ary dos San­ tos”; actuação do Grupo Coral Unidos do Baixo Alentejo; espectáculo musical com os artistas Manuel Freire, Francisco Fanhais e Samuel; e, a encerrar (24h), Teatro de Rua, pelo Cegada Grupo de Teatro Amador de Alverca, com a exibição do espectáculo: “Aldeia Global”, no espa­ ço exterior junto à sede da Filarmónica

(ler reportagem nesta página). Na manhã de 25 de Abril, o Largo do Pelourinho acolherá a, habitual, Sessão Solene, seguida do Hastear da Bandeira, ao som da banda da SFRA, numa organi­ zação da JFA. Finalmente, a 30, no Fórum Chasa, pelas 21 horas, decorrerá o “Encontro de Coros de Alverca”, com as seguintes participações: Associação Coral Ares No­ vos, Coro e Orquestra da Casa do Povo de Arcena e Coro Académico de Alverca.

24 PARA 25 DE ABRIL

Cegada estreia: “Aldeia Global”

Mário Caritas

Com esta iniciativa, que encerra, em simultâneo, a “Amostra de Teatro” e o serão nobre das Comemorações de Abril da cidade de Alverca, aquele grupo amador estreia uma nova vertente: a do teatro de rua “Aldeia Global” é o nome da peça de teatro de rua que o Cegada vai estrear, pelas 00h00m do dia 25 de Abril, no es­ paço exterior junto ao actual edifício-sede da Sociedade Filarmónica Recreio Alver­ quense (SFRA), e, que assinala, si­multa­ neamente, o encerramento da “Amostra de Teatro” (ler notícia na página 12) e o terminus do serão nobre das Comemo­ rações de Abril desta cidade, precisa­ mente, a noite de 24 para 25 do corrente. À conversa com o NA, José Teles, um dos “mentores” do projecto, fala-nos de um espectáculo com características iné­ ditas ao nível deste conjunto amador. “É feito, quase, por medida, para o fecho da amostra e pretende ser, igualmente, o lançamento de uma nova vertente no Cegada, a do teatro de rua”, começa por constatar, descrevendo, de seguida, aquilo a que o público irá assistir... “O objectivo é contar uma história, muito simples, praticamente sem texto, a respeito de uma aldeia. Ou seja, ao contrário daquilo que o título poderá in­ duzir, a realidade que iremos abordar é deveras pequenina”, esclarece, partindo,

depois, para os pormenores: “Essa aldeia é animada, alegre, no fundo, um sítio onde as pessoas vivem e se consideram, plenamente, livres...” Até que um dia.... “Esse aglomerado recebe, de braços abertos, um grupo de indivíduos ainda mais animados do que eles, que vão ali fazer um espectáculo, e, que acabam por ficar; e aquela comu­ ni­dade vai-se tornando, com efeito, cada vez mais alegre...” No entanto, os problemas surgem quando “alguns cidadãos entendem que devem existir regras de funcionamento, e as vão impondo; a princípio, as mesmas são aceites, mas, à posteriori, começam a deixar de o ser, na altura em que se estipulam normas de diversão...” Ou seja, os habitantes começam a perceber, no fundo, que “a liberdade es­ tá, aos poucos, a ser-lhes retirada e isso fá-los ficar cada vez mais tristes (...); até que, certo dia, um deles extravasa esse sentimento em palavra, logo seguido de outros – Esta é, quase, a primeira vez, na peça, em que a palavra surge”, ex­plica, de modo pormenorizado, José Te­les.

Mário Caritas

JOSÉ TELES

Tudo termina com “as pessoas a re­ voltarem-se contra os líderes, derruban­ do-os, e tornando a aldeia naquilo que era no passado, ou seja: um lugar alegre, livre e sem chefes assumidos”. Apesar de considerar o “produto final” desta interpretação “um pouco utópico”, Teles adverte que se trata, acima de tudo, “de uma alegoria ao 25 de Abril de 1974”, já que, como o próprio explicita, “antes do regime fascista, Portugal era um país, quiçá, alegre e com uma vida própria; depois, durante o Estado Novo, tornou- -se numa nação triste e cinzenta; até que, após a revolução, voltou a extrava­sar de alegria”. A outra alegoria presente é ao globo terrestre em si. “O ser humano é, por natureza, alegre, só que, ao longo da história da humanidade, alguns de nós têm procurado impor regras ao funcio­ na­mento do mundo, o que faz com que o mesmo seja cada vez mais triste; (...) e esta nossa incursão pretende, funda­ mentalmente, representar a luta pela liberdade, pois, nós agora consideramos que vivemos livres, mas, daqui por uns

anos, teremos de lutar ainda por mais liberdade, já que, a Democracia não é um produto acabado; temos que nos tor­nar cada vez mais livres e mais homens”, concretiza. A terminar, referir que este espectá­ culo é acompanhado de banda sonora, parte dela ao vivo, com percussão. A ani­mação é a componente mais forte, com recurso a muita mímica, ao longo de uma hora, e cujos intervenientes serão os fina­listas do último curso de actores do Ce­gada, a par de outros artistas do grupo já mais experientes. A peça subirá à cena em mais de uma ocasião, estando, para já, prevista nova actuação para Julho, no âmbito das Fes­tas da Cidade de Alverca, em local, ainda, por definir. “Gostávamos que fosse no pá­tio interior da Quinta da Ómnia”, avança o responsável, sem, no entanto, deixar cer­ tezas. Certo, mesmo, é que, para o ano, está prevista a estreia de um novo espec­ táculo de rua, para durar até Setembro, “de forma a aproveitar os es­paços ao ar livre existentes, aliados às boas condições climatéricas desta altura do ano”.

LARGO do mercado

entrevistas Sandra Xavier fotos Mário Caritas

Tenciona participar nas comemorações deste ano do 25 de Abril? Pensa que os valores de Abril continuam presentes, na nossa sociedade? José Joaquim dos Santos

Abílio Coelho da Vitória

Armando Pires

José de Oliveira Nunes

Amélia Fernandes

70 anos Reformado

67 anos Reformado

50 anos Soldador

69 anos Reformado

59 anos Desempregada

. Quando era mais novo, participava, sempre, nos festejos do 25 de Abril, até porque cheguei a tocar na banda da SFRA. Actualmente, saio à rua e assisto aos eventos que acontecem. . Os valores de Abril já não estão tão presentes, na nossa sociedade, como outrora. As pessoas não são tão agerri­ das como o eram na altura da revolução. E, para os mais novos, o 25 de Abril de 1974 já nada diz.

. Eu tenciono participar nas comemor­ ações, mas, ainda, não sei onde. Se esti­ver em Alverca, irei, certamente, ver as iniciativas que acontecerão cá. . Não, muitos desses valores já se foram embora. Temos assistido a um “es­tragar” da Democracia… As afrontas que têm sido feitas à classe trabalhadora são assustadoras. Os direitos são violados, todos os dias. E, depois, não há regula­mentação para as falências das empre­sas. Enfim, não há nada, estamos ao “Deus dará”.

. Sim, normalmente participo. . Penso que sim. No entanto, os mais novos já não ligam à data.

. Sim. Provavelmente, irei visitar alguns amigos meus, para convivermos e, tam­bém, relembrarmos aquilo que foi a “Re­volução dos Cravos”. . Comparando com o passado, pode dizer-se que esses valores estão muito em baixo, as pessoas estão-se a esque­ cer daquilo que foi o 25 de Abril e da importância que teve para a nossa so­ ciedade. Os direitos dos trabalhadores estão a ser esquecidos…! Os jovens já nem conhecem a data!…

. Não, não tenho muito vagar e a idade já não ajuda. . Penso que esses valores deveriam estar mais presentes, mas, melhores dias virão, esperemos…


10

SOCIEDADE

ALVERCA/ALHANDRA/VFX

Estudos de salvaguarda dos centros antigos A Câmara Municipal deliberou, recente­ mente, proceder à abertura de três con­cursos limitados, para a execução de es­tudos de salvaguarda nos centros antigos das freguesias de: Alverca do Ribatejo (custo estimado de 40 mil euros), Alhan­dra (40 mil euros) e Vila Franca de Xira (75 mil euros). Com estas práticas, «pretende-se definir estratégias de intervenção urbanística, nas áreas fulcrais das três localidades, que permitam a tomada de decisões coe­ rentes, qualificadoras e dinamizadoras». Recordamos que estes centros antigos têm vindo a ser alvo de processos de renovação do património edificado e do espaço público, norteados por preocupa­ ções de evitar a sua descaracterização e de prevenir situações de degradação e/ ou abandono, por parte das respectivas populações e actividades económicas».

ALVERCA

Rotunda das Silveiras arranjada A Rotunda das Silveiras, situada na en­trada norte da cidade de Alverca do Riba­tejo, vai, finalmente, ser alvo de um arran­jo urbanístico A edilidade vila-franquense deliberou pro­ceder à adjudicação de uma empreitada — no valor aproximado de 113 mil euros e com um prazo de execução de 75 dias — para a implantação de uma fonte ornamental, no local, visando «enobrecer e dignificar aquela zona, uma vez que a rotunda está situada num dos principais eixos rodoviários do concelho, precisa­ mente, a Estrada Nacional 10».

HOSPITAL DA FLAMENGA

Moutinho reclama decisão ministerial De visita ao Hospital Distrital Reynaldo dos Santos, em Vila Franca de Xira, e ao — desactivado — Hospital da Flamenga, em Vialonga, os deputados do PSD, Pe­dro Moutinho e Paula Carloto, salienta­ram que “o Ministério da Saúde terá de tomar, rapi­damente, uma decisão acerca do que fa­zer na Flamenga, atendendo, inclusive, aos trabalhos de recuperação efectuados numa das alas daquele antigo palácio”. O funcionamento como “unidade de reta­ guarda, centro laboratorial e lavandaria central do Serviço de Utilização Comum dos Hospitais” são algumas das ideias avançadas, pelos eleitos, para a Fla­ menga, espaço no qual foram investidos, há poucos anos, cerca de 400 mil euros, e que a Fundação CEBI (Alverca) já ma­ nifestou o desejo de gerir futuramente, aguardando resposta da Administração Regional de Saúde. Salientar, por fim, o agrado dos dois depu­tados “laranja” com as obras planeadas para a melhoria do serviço de urgência do Hospital de VFX.

PÓVOA

Câmara aposta em nova EB 0,1 A edilidade vila-franquense deliberou pro­ceder à abertura de um concurso público, para a execução da empreitada de cons­trução de uma Escola Básica 0,1 na Pó­voa de Santa Iria. Numa área global superior a 5 000 me­ tros quadrados, propriedade do municí­ pio, nascerão, assim, um jardim de infân­ cia — com capacidade para 75 alunos — e um estabelecimento do 1.º ciclo do ensino básico, para 200 crianças. O valor base do concurso situa-se na ordem do milhão e 273 mil euros, e tem um prazo de execução de 270 dias.

ABRIL.2004

ALVERCA

Qual será o futuro das vivendas da OGMA?

Mário Caritas

A OGMA transmitiu à edilidade o desejo de avançar com um projecto imobiliário para o espaço onde estão situadas um conjunto de nove vivendas, no centro de Alverca, decisão essa que três associações locais repudiam, com veemência… A Associação Cultural e Recreativa “Lar Oliveira”, a ADAPA – Associação de Defesa do Ambiente e Património de Al­verca do Ribatejo e o XIRADANIA – Movi­mento de Cidadania Vilafranquense, emi­tiram um comunicado de imprensa, con­junto, no qual tomam uma posição acer­ca do, alegado, pedido de autorização da OGMA – Indústria Aeronáutica de Por­tugal, à Câmara Municipal, «para avançar com um projecto imobiliário, “com outra volumetria”, no local onde estão, hoje, as vivendas situadas entre as ruas da Estação e Sabino Faria, em Alverca». Este é um assunto que, de resto, não é novo. Começou por ser abordado, pu­ blicamente, no início de 2003, quando a OGMA manifestou o desejo de alienar aquele conjunto de nove, carismáticas, moradias, datadas de meados do século passado, época a que acorriam, às Ofici­nas, trabalhadores oriundos de todos os pontos do país, havendo, pois, necessi­dade de os albergar de uma forma con­digna. “Quem vinha ocupar estas habita­ ções, eram, sobretudo, os chaufers, elec­tricistas, enfermeiros e guardas da OGMA”, lembrava-nos, com saudade, na altura da nossa primeira reportagem sobre o tema, a viúva Maria Carlota, aí residente há quase meio século. E, de facto, para além das questões patrimonial e arquitectónica, propriamen­ te ditas, colocou-se, desde logo, o pro­ blema de como realojar estas pessoas, assim como as instituições sediadas nal­ guns daqueles espaços, nomeadamen­te: APOGMA – Associação de Pessoal da OGMA, ACAR – Aero Clube de Alverca do Ribatejo e CRPIA – Comissão de Refor­mados, Pensionistas e Idosos de Alverca. Também, na ocasião, a Associação “Lar Oliveira” – constituída, na sua gé­ nese, por antigos funcionários da OGMA – contestou, de modo veemente, em abaixo-assinado, tal pretensão, reivindi­ cando «a mobilização dos órgãos autár­ quicos locais e concelhios, assim como

Mário Caritas

QUE FUTURO? Será que irá vingar a intenção da OGMA em erguer um projecto imobiliário, “com outra volumetria”, no local das, carismáticas, vivendas alverquenses?

da população em geral, para se oporem a tal decisão». Maria da Luz Rosinha, presidente da edilidade, subscreveu tais palavras de

descontentamento. “A, eventual, venda destes imóveis está longe de resolver as carências financeiras da OGMA. Para além disso, estes constituem um marco

da importância que as Oficinas tiveram, e têm, no concelho, devendo, antes, ser recuperados”, advertia, salientando, ain­da, que o município «estava a ana­lisar a sua compra, em última instância, de ma­­neira a evitar a respectiva aliena­ção». Mais recentemente, a autarquia ad­mitiu rever a sua posição inicial, isto ao ser confrontada, novamente, pela OGMA, com a intenção acima referida, «para fazer face à complicada situação económica da empresa». Rosinha adian­ ta, no entanto, que, caso a Câmara ve­nha a dar o seu aval – aguarda, para já, o parecer dos sindicatos –, “deverão ficar salvaguardadas duas dessas casas, con­cretamente aquelas onde funcionam a APOGMA e a CRPIA”. Assim, e tendo em conta este cenário, aquelas três associações locais vêm dizer que «(…) o património cultural constitui um marco importante na afirmação da identidade de uma comunidade; (…); não estranha, portanto, que, na defesa da preservação daquelas vivendas, se tenham empenhado vários cidadãos e entidades alverquenses, entre elas a As­sociação “Lar Oliveira” que, num abaixo--assinado, efectuado em reduzido espa­ço de tempo, recolheu perto de 2 200 assinaturas». Recordando, depois, as palavras de defesa por esta causa das presidentes da Junta de Freguesia e da edilidade, há cerca de um ano atrás, estes constatam, agora, que «consequentemente, foi com a maior das surpresas que lemos, na comunicação social regional, a informa­ ção de que a OGMA pediu à Câmara, no âmbito do respectivo processo de priva­ tização, autorização para um projecto imobiliário com, “outra volumetria”, a edificar naquela zona». Alegando que não será esta operação financeira que irá resolver o problema da OGMA, estes responsáveis aproveitam, por fim, para «manifestar o seu mais pro­fundo desagrado e a oposição a tais pla­nos imobiliários», reclamando «o direito à informação sobre os mesmos e a coerên­cia dos autarcas com as declarações que, anteriormente, proferiram».

ALVERCA

XIRADANIA denuncia «falta de actuação camarária»

Mário Caritas

O «abandono a que está votado o Jardim do Bairro Novo», assim como «a redução da zona verde na Quinta das Drogas», sem esquecer «a promessa, não cumprida, de estacionamento subterrâneo no Jardim-Parque», são alguns dos pontos abordados Em comunicado enviado à redacção do NA, o XIRADANIA – Movimento de Cidadania Vilafranquense, adverte que «os habitantes de Alverca continuam à espera de resposta para muitos dos pro­blemas existentes na cidade, os quais a Câmara Municipal continua a não mos­ trar capacidade, ou vontade, de resolver». Os responsáveis denunciam, ainda, «ca­sos em que a edilidade prometeu e não cumpriu». Estes começam, pois, por referir a si­tuação do novo parque de estaciona­ mento do Jardim da Quinta de Santa Ma­ria – ou, “Jardim-Parque”, como é

mais conhecido –, recordando que, «logo em 2001, foi anunciado um parque subter­râneo, com dois pisos inferiores e capaci­dade para 260 viaturas, sendo a área à superfície utilizada como território de ex­pansão do actual jardim». Estes consta­tam, agora, que, «ao fim de cerca de três anos, o que lá existe é, apenas, um par­que de estacionamento à superfície, sem hipótese de alargamento do jar­dim». Já em relação ao Jardim do Bairro Novo, o XIRADANIA questiona: «Porque é que continua ao mais completo e triste abandono, um espaço que poderia ser

um óptimo local de repouso e lazer, como já o foi em tempos?» Outra zona apontada é a extensão ajardinada na Quinta das Drogas. «Na área envolvente ao novo centro de saú­de/ sede da SFRA, estava previsto, no projecto inicial, um perímetro ajardinado de 7 000 metros quadrados. Para além do prolongado aspecto de obra inaca­bada nos arranjos exteriores, constata- -se, afinal, que a referida extensão é, substancialmente, mais reduzida», con­cluem. Por fim, ficam outras duas perguntas, em jeito de reivindicação: «Para quando a criação de espaços abertos e públicos,

distribuídos pelas várias áreas residen­ ciais de Alverca, onde se possa praticar desporto ao ar livre, sem necessidade de enquadramento num qualquer clube ou colectividade; ou, ainda, onde se pos­sa passear de bicicleta de forma descon­ traída e sem trânsito, e onde as crianças possam correr e brincar de forma livre e saudável?» Assim como: «Para quando a criação de um grande espaço na zona ribeirinha, livre de edificação, destinado ao lazer e à prática informal de desporto, incluindo um circuito de manutenção que tanta falta faz aos alverquenses?»


11

ECONOMIA

ABRIL.2004

Carta Aberta à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira * Carlos Silva Consultor Carlos_Silva_90@hotmail.com

VAMOS PARAR TUDO? Mário Caritas

MESA. Da esquerda para a direita, os três especialistas presentes na Mesa do debate: Manuela Raposo Magalhães (Professora Universitária), Carlos Gaivoto (Mestre em Engenharia de Transportes) e Carlos Mendes (Engenheiro do Ambiente)

Mário Caritas

ALVERQUENSES. O público acorreu em grande número e “esgotou” o espaço do Auditório “Scala”

Ex.ª Sr.ª Presidente da Câmara Mu­ nicipal de Vila Franca de Xira: Como sabe, realizou-se um debate público, no Auditório Municipal “Scala”, em Alverca, no passado dia 19 de Março de 2004, com os seguintes temas: cheias em Alverca e variante de Alverca. Para esse debate, que foi aberto a todos os alverquenses, foram convidados oradores de reputada formação técnica, experiência e saberes, nas áreas a deba­ ter, para que, dessa forma, os alverquen­ ses pudessem questionar, mas, também, esclarecerem-se sobre estas matérias. Os alverquenses, que encheram por completo a sala do Auditório “Scala”, disseram “presente”. Como rescaldo, desse debate, pode--se concluir que: A bacia de retenção, prometida pela Câmara, não vai resolver, por si só, os problemas das cheias em Alverca, mas, fundamentalmente, proteger a futura ETAR; Existem outras acções, algumas de menores custos, que minimizam a ocor­ rência de cheias em Alverca, como são, por exemplo, o revestimento vegetal na cabeceira e nas margens da linha de água, e a construção de bacias de reten­ção a montante do estrangulamento — canalização do rio Crós-Cós na zona do Choupal —, de forma a temporizar o cau­dal da ponta de cheia; A Câmara tem obrigação, não só mo­ ral, como política e legal, de providenciar rapidamente a resolução do problema das cheias, não só com medidas correcti­

vas, mas, principalmente, com medidas preventivas ao nível do ordenamento do território, inflectindo a actual tendência para uma densificação caótica da cons­ trução e apresentando um bom Plano Director Municipal; A Câmara não pode fugir às suas res­ponsabilidades, visto que é ela que licen­cia e fiscaliza; A Câmara pode — e deve — reunir-se com a população de Alverca, para debater estes assuntos, comprome­ tendo-se com datas concretas para a implementação de acções susceptíveis de minimizar a ocorrência de cheias; A variante de Alverca não tem sentido com o traçado proposto pela Câmara. Não é concebível, nos dias de hoje — e sabendo o que se sabe sobre ambiente e qualidade de vida das populações —, projectar uma variante, com um caudal de trânsito expectável, em 2005, de 20 000 viaturas/dia, das quais cerca de 3 000 pesadas, que, em vez de circun­ dar os aglomerados populacionais, irá, sim, atravessar zonas de escolas, lazer, desportivas, habitacionais e de unidades de saúde; Antes de fazer variantes, sem pensar, deve a Câmara elaborar projectos credí­ veis, trabalhados por especialistas com valências em várias áreas, nomeada­ mente transportes, comunicações, am­ biente, saúde e segurança, e debatê-los com a população; A Câmara deve fazer estudos de im­ pacto ambiental, isentos e credíveis, e submeter a consulta pública o projecto

da variante de Alverca; O traçado da variante, proposto pela Câmara, consiste em tirar o problema de um lado — neste caso, da EN10 — e passá-lo para outro; A Câmara tem de compreender que só existe para satisfazer os interesses da população e não os interesses econó­micos. Estes últimos, devem ser enqua­drados, e devem sustentar uma visão de desenvolvimento, no interesse das populações; A Câmara deve providenciar o desen­ volvimento do concelho, dando primazia às pessoas e só depois aos veículos; A população de Alverca exige, diálogo e a resolução dos seus problemas, não condicionada por calendários políticos. Estas são as conclusões de um de­bate rico, vivo e participado, sem condicio­nalismos de tempo, que não os decor­rentes da disponibilização do Auditório “Scala”, que remetemos para seu conhe­cimento e actuação, no respeito pelos legítimos interesses da população de Al­verca. Sem mais, atentamente * Grupo de Cidadãos Alverquenses (Alfredo Pinto, António Pereira, Carlos Gil Chorão, Carlos Henrique da Silva, Fer­nando Neves de Carvalho, Francisco Tei­xeira, Isilda Moço, João Rodrigues, Ma­nuel dos Santos, Maria José Rosado Santos, Nuno Libório e Paulo Nobre)

Li, recentemente, num Órgão de Co­municação Social local, que, num de­ bate promovido na cidade de Alverca, se extraiu a conclusão de que a construção devia parar no concelho de Vila Franca de Xira. Devo dizer que respeito muito os cida­ dãos que se preocupam com a qualidade de vida urbana, defendendo, assim, a preservação do ambiente. Lamento, ape­nas, que, regra geral, produzam declara­ções absolutamente irrealistas e, vistas bem as coisas, negadoras da qualidade de vida dos cidadãos que afirmam de­fender. Também eu penso que não se deve continuar a construir de forma maciça e expansiva, isto é, não me parece razoável que se pretenda aumentar as áreas de construção numa lógica de expansão que, hoje, em 2004, não faz qualquer sentido, num quadro de planeamento urbanístico que se quer promotor da qua­lificação do território e do bem-estar dos cidadãos. Como também não fará sen­tido no quadro do mercado, já saturado e com um forte desequilíbrio entre a ofer­ta e as possibilidades da procura. Neste sentido, também me incluo, não no grupo radical que defende que “se pare a construção no concelho de Vila Franca de Xira”, mas numa área de pensamento que defende a melhoria do espaço urbano e, em consequência, aceita a construção, desde que esta se apresente como um contributo decisivo para a desejada qualificação urbana e ambiental. É preciso continuar a construção, com vista à renovação e reabilitação das zonas antigas, ou consolidadas, das localidades. É preciso continuar a construção den­ tro dos perímetros urbanos, sempre co­ mo factor de contributo para a melhoria da imagem do nosso território. É preciso continuar a construção de qualidade, em pequenos programas de dimensão marcadamente mais humana. É preciso continuar a construção para os estratos sociais que ainda engrossam a procura, mas que não encontram, no mercado, suficiente oferta para a sua bolsa. É preciso continuar a construir, em­ bora de uma forma nova, que preveja e responda às necessidades de equipa­ mentos e à necessidade de melhorar a mobilidade. Creio mesmo que é possível a cons­ trução de programas de maior dimensão, desde que não só não agravem as condi­ções ambientais e as dificuldades de cir­culação, mas que contribuam para

a me­lhoria ambiental e para a qualidade de vida das áreas menos qualificadas. É imperioso que o planeamento deva ser conduzido e executado sob a égide do interesse público. É lamentavelmente natural que mui­ tos privados se preocupem apenas com a maximização dos lucros e raramente com o interesse público. Por isso, o pla­neamento tem que estar sujeito a orien­tações que salvaguardem o interesse pú­blico. Como ficou exposto, não sou favorável à continuação do crescimento nos mol­ des que tem assumido, na maior parte dos casos, a urbanização e a construção no concelho de Vila Franca de Xira. Incito, por isso, as autoridades — que podem e devem alterar este estado de coisas — para que se reunam de coragem e de determinação, para melhorar o pla­neamento do desenvolvimento econó­mico, social e urbano. Mas, ao mesmo tempo, não posso deixar de manifestar toda a minha estupefacção pelas “Con­clusões” do referido debate, que preten­dem que se pare a construção no conce­lho de Vila Franca de Xira. Esta estupefacção faz-me, talvez, de forma um pouco acintosa, identificar o que resultaria da aplicação de uma polí­ tica de paragem. Imagine-se: Teriam que se fechar todas as em­ presas de materiais de construção; todas as empresas que produzem alumínios, portas, móveis de cozinha; todas as em­ presas de mediação imobiliária; todas as empresas que fabricam e vendem tintas, cerâmicas; e, eventualmente, as cimen­teiras; para já nem falar no fecho de todos os gabinetes de projecto, de estudos ur­banos e ambientais... E por aí fora, fe­chando todas as empresas que, de uma forma ou de outra, dependem da constru­ção para sobreviver. Infelizmente, este estado de coisas só acontece por falta de um planeamento bem estruturado. De um lado, alguns promotores imobiliários que apenas vêem o lucro e que, de facto, necessitam de ser “parados”, e, por outro, os defen­sores da paragem que não estudaram ainda o suficiente para perceberem que a melhoria de qualidade de vida urbana tem que ser o resultado de um vasto equilíbrio. Tem que ser o resultado da sobreposição do interesse público ao interesse privado, sem que isso signifique que o interesse privado tenha de ser “parado”. Equilíbrio. Como em tudo na vida, tam­bém no desenvolvimento do nosso Con­celho e do nosso País.


12

SOCIEDADE

ABRIL.2004

ALVERCA

“Amostra de Teatro” supera as melhores expectativas

Apesar de, ainda, estar a decorrer — só encerra na madrugada de 24 para 25 de Abril —, a “Amostra de Teatro” do Cegada já valeu a pena: em termos de qualidade dos espectáculos, em termos de afluência de público, em termos de “Alverca perceber que pode acolher um grande evento cultural por ano...” De facto, novos e “velhos” têm dito “presente”, aos espectáculos, semanal­ mente, levados à cena, e as opiniões são, em uníssono, positivas. Teles dá-nos, ape­nas, um exemplo: “O Teatro do Operário, da Marinha Grande, veio inter­ pretar a pe­ça: «Dia D», que nos conta a «história da droga». Ora, no final, e dada a forma como o tema foi abordado, to­ dos, independen­temente da idade, saí­ ram satisfeitos e divertiram-se bastante, com um assunto que, à partida, ainda, é tabu.” E daí que, face a este panorama de — justificado — optimismo, no próximo ano já esteja na calha uma reedição da iniciativa, pese embora durante um pe­ ríodo temporal menor. “Isto começou e já não pode parar. Em 2005, faremos, certamente, outra amostra — é uma ga­

Mário Caritas “Nós já nos sentimos com o dever cumprido, que era o de levar a cabo uma amostra cabal daquilo que se faz de tea­tro amador, no nosso país”, induz José Teles, um dos responsáveis do Cegada, acerca da “Amostra de Teatro”, organiza­da por aquele grupo, entre 5 de Março e 24 de Abril, em parceria com a Junta de Freguesia de Alverca e Sociedade Filar­mónica Recreio Alverquense (SFRA), e, ainda, com os apoios logísticos da Miseri­córdia e Agrupamento de Escuteiros locais. Recordamos que 21 conjuntos, no total, dão vida a um certame que decorre, sempre, às sextas-feiras (noite) e aos sábados (tarde/noite), alternativamente, no Grande Auditório da SFRA e no “Amostra Auditório” (antiga sede da Filar­mónica). Ao assinalar 18 anos de existência — nasceu a 9 de Março de 1986 —, o Cegada Grupo de Teatro Amador promo­ ve, deste modo, um evento que está a “mexer” com o meio. “Outra das nossas apostas era de que a própria cidade de Alverca «percebesse» que pode acolher um grande advento cultural, por ano, que não tem, necessariamente, de ser teatro; e, isso, eu penso que foi conseguido, face, nomeadamente, à extraordinária adesão do público”, acrescenta, convic­to, aquele actor.

rantia —, mormente a data não esteja, por enquanto, definida”, explica-nos José Teles, lembrando, no entanto, que “será, certamente, mais curta, temporalmente, do que esta, o que não significa, neces­ sariamente, uma redução do número de participantes e de actuações”. Em Alverca, até à noite de 24 de Abril, data de estreia da peça de teatro de rua, intitulada: “Aldeia Global”, que encerra a amostra e, simultaneamente, as come­morações de Abril desta cidade (ler notícia na página 9), o “pano” vai continuar a subir, e — nunca é demais lembrar — as entradas são gratuitas. Para obter mais informações, poderá consultar o site: www.cegada.no.sapo. pt, assim como a morada de e-mail: cegada@sapo.pt, ou, então, pelo contacto de telemóvel: 969837650.

PROGRAMA RESTANTE... O que, ainda, pode ver da “Amostra” Os restantes espectáculos desta “Amostra de Teatro” estão assim calen­ darizados: “A Bengala”, Ultimacto (16 de Abril, 21h30m, “Amostra Auditó­rio”); “O Tesouro”, Grupo Cénico da Incrível Almadense (17 de Abril, 16h, “Amostra Auditório”); “Casting Gil”, Teatrinho

de Santarém (17 de Abril, 21h30m, “Amostra Auditório”); “Ver­dade ou Consequência”, Grupo de Tea­tro Esteiros, de Alhandra (23 de Abril, 21h30m, “Amostra Auditório”); “Aldeia Global”, Cegada Grupo de Teatro (24 de Abril, 24h, Largo da SFRA).

TEATRO

Fórum Chasa acolhe espectáculos

Mário Caritas

Sob a égide da ADINE – Associação de Dinami­zação Empresarial, João Rosa tem em cena: “O Auto da Barca do Inferno. 504 Anos Depois…!”, mas já prepara duas novas incursões teatrais… Até ao próximo Sábado (17 de Abril), todos os, eventuais, interessados pode­ rão, ainda, assistir, no Fórum Chasa, em Alverca, à representação da peça “O AU­TO DA BARCA DO INFERNO. 504 Anos Depois…!”, baseada naquele, célebre, texto de Gil Vicente, com produção a car­go de João Rosa e interpretações dos ac­tores: Diana Lúcio, Francisca Silva, João Fernandes, Márcia Palma e Nuno Escada. Na respectiva sinopse, pode ler-se: «O auto quinhentista põe em cena a má­quina-mundo, na qual, tal como hoje, as ideias jogam com as figuras reais, ou seja, personificadas, temporalmente! Uma ver­dadeira crítica, em tom de sátira,

à socie­dade actual. A história passa-se num por­to com ambiências de discoteca, onde o público e as personagens se confun­dem, os dois batéis fundem-se num só televi­sor. Uma verdadeira simbiose entre espa­ço cénico, audiovisual e entreteni­mento.» Recordamos que os dois restantes es­pectáculos, nocturnos, de Sexta-feira (16) e Sábado (17), têm início marcado para as 21h30m. Os ingressos custam cinco euros para estudantes e sete para o público em geral. Este é o terceiro trabalho que João Rosa leva à cena, naquele espaço, resu­ ltante de uma parceria estabelecida com

Mário Caritas

DINÂMICA. João Rosa (na foto) quer pôr o teatro a “mexer”, no Fórum Chasa

a ADINE – Associação de Dinamização Empresarial, aí sediada. Assim, depois de “Poesia Apocalíptica”, “Antes de Co­

me­çar” e, actualmente, “O Auto da Barca do Inferno. 504 Anos Depois…!”, estão já na calha mais duas novas produ­ções… “O Fim”, baseado no exercício teatral

intitulado: “As Ligações”, de António Tor­ rado, está a ser preparado para subir ao palco de 14 de Maio a 25 de Junho; ao passo que, para o período entre 19 de Junho e 17 de Julho, está em mente o “Entre Parêntesis”, igualmente, baseado num exercício teatral daquele autor. Entretanto, continuam aí a decorrer, todas as quintas-feiras, entre as 21 e as 23 horas, as “Noites de Improvisação”, abertas à participação de qualquer indiví­ duo, onde os, potenciais, interessados poderão mostrar as suas performances em teatro, poesia ou qualquer outra for­ ma de expressão artística.

CULTURA

Câmara protocoliza com agentes concelhios

No total, a edilidade vila-franquense disponibilizou uma verba próxima dos 235 mil euros, em 2004, para apoio às áreas do teatro, música, dança, canto coral e folclore Mário Caritas A edilidade de Vila Franca de Xira ru­bricou, recentemente, protocolos para apoio financeiro aos diversos agentes culturais do concelho, em 2004, num valor total que ascendeu aos 179 mil euros. Paralelamente, foram assinados acordos no âmbito do Programa Municipal de Apoio ao Folclore, num montante glo­bal próximo dos 56 mil euros. O Salão Nobre da Câmara encheu,

por completo, de responsáveis conce­ lhios, intervenientes activos nas áreas do teatro, canto coral, música, dança e fol­clore, facto esse que foi elogiado por Ma­ria da Luz Rosinha, presidente da autar­quia, reiterando a “importância deste tipo de manifestações, numa época em que o sector da cultura é dos mais sacrifica­dos, a nível nacional”. Deste modo, foram contemplados: as quatro bandas filarmónicas do município (com cerca de 53 mil euros, no total); Con­servatório Regional Silva Marques

(€7 688); as três escolas de ballet (€12 743); as quatro escolas de música (€10 598); os sete grupos corais (€32 262); os cinco conjuntos de teatro amador (€32 040); Inestética – Associação Cul­ tural Novas Ideias (€25 564); e, ainda, as duas asso­ciações de artistas plásticos (€5 125). Já em relação ao suporte à actividade regular dos 12 agrupamentos de folclore do concelho, a referida verba é repartida da seguinte forma: 46 682 euros dest­ inam-se, para cada caso, a: subsídio

anual da respectiva actividade, promoção de um festival de folclore, deslocações em território nacional, deslocações em transporte próprio e quatro actuações no âmbito do protocolo; 8 500 euros repor­ tam-se, por seu turno, a: candidaturas específicas para apoio a projectos de pes­quisa, acções de formação, iniciativas de cariz etnográfico, edição ou gravação de cassetes ou CD’s, deslocações ao es­trangeiro. Recordamos os nomes dos contem­ plados, neste âmbito: Casa do Povo de

Arcena, Centro Social e Cultural do Bom Sucesso, Grupo Etnográfico Danças e Cantares de Alverca do Ribatejo, Grupo Desportivo e Cultural da Loja Nova, Grupo Desportivo de Santa Eulália, Rancho de Varinos de Vila Franca de Xira, Casa do Povo de Vialonga, Rancho Folclórico da Alfarrobeira, Rancho Típico de Avieiros, Rancho Típico Infantil e Juvenil do Bairro da Mata, Grupo Recreativo e Desportivo Bragadense, Associação Desportiva e Cul­tural do Parque Residencial de Via­ longa.


13

DESPORTO

ABRIL.2004

FUTSAL FEMININO

FUNDAÇÃO CEBI campeã da 2.ª Divisão de Lisboa Pela primeira vez, uma equipa de Alverca alcança o 1.º lugar naquele escalão, subindo, assim, à primeira categoria “alfacinha” por seu turno, Carla Couto, a atleta por­ tuguesa (no activo) mais internacional do futebol de 11 feminino, que acres­centa: “Esta vitória tem um sabor espe­cial, pois, é a primeira vez que treino uma equipa, e logo com uma subida de divi­são e a conquista do lugar cimeiro.” Radiante, após a partida frente aos Novos Talentos “B”, estava Inês Sousa — melhor marcadora da formação alver­quense, na pretérita época, com 40 ten­tos apontados, até ao momento —, que “cresceu” naquela colectividade da linha de Sintra, tendo-se transferido para o CEBI no inicio desta temporada. Na oca­sião, em declarações ao NA, a jovem “craque” afirmava: “É muito difícil dizer o que sinto, mas, estou muito feliz por ter sido campeã, ainda para mais tendo isso acontecido no terreno do meu anterior clube.” Cumpridas que estão todas as metas traçadas, inicialmente, as atenções dos responsáveis viram-se, naturalmente, para a preparação do próximo campeo­

Paulo Filipe Pereira Inédito! No passado dia 4 de Abril, a equipa sénior de futsal feminino da Fun­dação CEBI sagrou-se campeã da 2.ª divisão distrital de Lisboa, época 2003/2004, ao bater a formação dos Novos Talentos “B”, por 3-1, em partida da 20.ª jornada da prova, disputada no pavilhão da Abelheira, no Cacém. Em 10 anos de existência, e os últimos cinco como federado, aquele “emblema” ascende, assim, pela primeira vez, ao escalão máximo “alfacinha” e torna-se, ainda, no primeiro “cinco” da freguesia de Alverca do Ribatejo a alcançar o pri­meiro lugar do pódio da 2ª divisão de Lisboa. Tratou-se, acima de tudo, da consa­ gração de um grupo, presentemente, for­mado por 13 futebolistas, que, duas ron­das antes, já havia garantido a subida de categoria, pelo que a obtenção do título acabou por ser — como se diz na gíria — “ouro sobre azul”. Parafraseando Nuno Custódio, um dos treinadores — a par de Carla Couto e Paulo Martinheira (guarda-redes) —, “os factores essenciais, para este su­cesso, passaram pelo esforço e empenho de todas, pelo «know how» trazido pela Carla Couto e, acima de tudo, pelo acre­ditar, sempre, do principio ao fim”. Somando, actualmente, 55 pontos, a duas jornadas do termo do campeona­to, a Fundação CEBI alcançou um objec­tivo que, a pouco e pouco, foi ganhando forma. Aliás, segundo palavras deste téc­ nico, “o conjunto realizou uma temporada regular, em que nunca esteve abaixo do segundo lugar, e, desde que ficou isolado no 1.º posto, nunca mais o deixou, o que conferiu uma certa tranquilidade”. “As principais responsáveis pelo titulo são as jogadores, que sempre deram o máximo em todos os desafios”, sublinha,

nato, até porque os desafios serão muito maiores. “A 1.ª divisão já está a ser pla­neada. O objectivo passa pela manuten­ção dos actuais plantel e corpo técnico, para além de existir uma lista de possíveis reforços e, quiçá, de novos patrocina­dores”, explica Nuno Custódio. Ainda segundo o mister, é necessário conferir uma maior expressão ao futsal feminino praticado no nosso pais, a co­ meçar, desde logo, “pela criação de uma prova nacional”. Isto porque — acres­ centa, convicto — “as equipas femininas já estão a desenvolver um bom futsal, só perdendo para as masculinas em força e velocidade”. Fundadora da modalidade no CEBI, Sara Dominguez, capitã de equipa, não escondia a emoção que aquele momento lhe trouxe. “Fomos bastante regulares e talvez por isso tenhamos alcançado o 1º lugar. Estou muito feliz!”, frisava a jovem praticante.

Mário Caritas

CAMPEÃS! “Acreditar, sempre, do princípio ao fim”, foi uma das chaves do sucesso das “campeãs” do CEBI (na foto, a celebrarem a conquista do campeonato, no Cacém), que, para o ano, irão disputar o escalão máximo “alfacinha”

NÚMEROS E DATAS CEBI campeão. CHASA aspira à subida Em 20 jornadas já disputadas, no Campeonato Distrital da 2.ª Divisão de Lisboa, época 2003/2004, a Funda­ção CEBI obteve 18 vitórias, um em­pa­te e uma derrota — ambas as per­das de pontos aconteceram frente às rivais da CHASA —, somando, actual­mente, 125 golos marcados e 28 sofri­dos. CHASA (47 pontos) e Benfica

de Tires (43) disputam o 2.º lugar, que, também, dá acesso ao escalão máxi­mo “alfacinha”, defrontando-se estas duas formações na última ronda (22.ª), no pavilhão de Tires, marcada para 22 de Abril. O CEBI, por seu turno, recebe o Moinho da Juventude (17 de Abril) e, a finalizar, desloca-se ao recinto do Idanha (22).

ALVERCA

Piscina Municipal acolheu “baptismos de mergulho” Sob o mote: “Vem respirar debaixo de água...”, 24 pessoas tiveram a experiência de mergulhar numa piscina e permanecer, lá em baixo, sem terem de subir para respirar...

8 DE MAIO – 5 DE JUNHO

“XVII Alverquíadas” em preparação

Mário Caritas

Na sua 17.ª edição, a maior iniciativa desportiva da cidade de Alverca promete voltar a mobilizar todo o tipo de praticantes, num total de mais de 20 modalidades. A Cultura volta a ser “convidada de honra”, desta vez, no último fim-de-semana de Maio… Está à porta, mais uma edição – a 17.ª – das “Alverquíadas”, a maior inicia­ tiva de cariz desportivo da freguesia de Alverca do Ribatejo e, também, uma das mais abrangentes, neste âmbito, ao nível do concelho de Vila Franca de Xira. No total, são esperados perto de 5 000 par­ticipantes, divididos por mais de duas de­zenas de modalidades (à data do fecho desta edição, ainda, não é possível adiantar, em concreto, qual o seu núme­ ro), no período temporal que irá mediar de 8 de Maio a 5 de Junho. O certame, cujo orçamento global final ronda os 25 mil euros, volta a ser organi­zado pela Junta de Freguesia, em colabo­ração com as diversas colectividades e instituições, e contando com os apoios da Câmara Municipal, assim como do comércio e indústria locais. Apesar do programa/2004 estar, por enquanto, em fase de elaboração, Joa­quim Carreira, eleito no executivo de fre­guesia com o pelouro do Des-

porto, adian­ta, desde já, que uma das novidades deste ano é “a introdução do atletismo, não em formato de corrida, mas, com algumas especialidades mais técnicas, a cargo da recém-criada secção do FC de Alverca”. No restante, referir que as cerimónias de abertura e de encerramento voltarão a constituir pontos altos deste evento. Em relação à primeira, marcada para o dia 8 de Maio, esta irá constar do, habi­ tual, desfile desde o Jardim Parque até ao Pavilhão Municipal, pelos alunos das escolas básicas do 1.º ciclo da cidade, acompanhados dos Motards de Alverca e da Banda da SFRA. Depois, no interior do pavilhão, os mais novos entoarão o Hino Nacional e o “Hino das Alverquía­ das”, registando-se, em simultâneo, o Içar das Bandeiras. A classe de patina­ gem artística do FCA dará corpo a um número, especialmente, preparado para essa ocasião… O encerramento, agendado para 5

de Junho, no campo relvado do FCA, contará, à semelhança das edições ante­riores, com o desfile das marchas infantis da freguesia e da marcha adulta da SFRA, estando, no imediato, a serem equacio­nadas outras acções relevantes, para animarem esse serão. Pelo meio, no fim-de-semana de 29 e 30 de Maio, é aberto um espaço, privi­legiado, à Cultura, com a rubrica: “Cultu­ralverca”, no Jardim Parque, que prevê a realização de ateliers e outro tipo de ma­nifestações culturais, nomeadamente espectáculos de animação de rua e tea­trais, sem esquecer os insufláveis, pois – e dado que o 1 de Junho “calha” a uma Segunda-feira – o Dia Mundial da Criança será assinalado no Domingo anterior (30). “Vamos esperar que as pessoas par­ticipem, nas «Alverquíadas/2004, já que, esta é uma das maiores apostas da nossa autarquia”, remata, confiante, Joaquim Carreira.

MERGULHO SUBAQUÁTICO. 24 pessoas disseram “presente” ao “baptismo de mergulho” que aconteceu na Piscina de Alverca

Alberto Brás Foi com a expressão: “Já acabou?” que a, esmagadora, maioria dos partici­ pantes nos “baptismos de mergulho” re­matou a sua experiência de respirar de­baixo de água. Com evidente agrado, não por terem terminado, mas, sim, por terem tido essa experiência. Foi no dia 28 de Março (Domingo), na Piscina Municipal de Alverca, que 24 pessoas se “atreveram” a ver e a sentir como é mergulhar numa piscina e perma­ necer, lá em baixo, sem terem de subir para respirar. “Foram 20 minutos que passaram num flash”, assim o descreveu um dos

“baptizados”, demonstrando, dessa for­ ma, o seu pleno agrado por ter participa­ do nesta pequena “aventura”. Recordamos que este evento resulta de um protocolo que a Federação Portu­ guesa de Actividades Subaquáticas e a Câmara Municipal de Vila Franca de Xira assinaram entre si, tendo em vista a di­ vulgação das actividades subaquáticas no concelho. Conforme noticiámos no número an­ terior, esta iniciativa — intitulada: “Vem respirar debaixo de água...” — terá repeti­ção no próximo dia 30 de Maio, na Piscina Municipal da Póvoa de Santa Iria, po­dendo os, eventuais, interessados fre­quentar, à posteriori, um curso de mergu­lho.


14

ENTREVISTA

ABRIL.2004

Caras & Conversas Luís Ferreira Lopes, os atentados em Espanha e a reportagem de uma vida

Mário Caritas

“Foi, talvez, a reportagem da minha vida, mas daria tudo para não ter sido.” À conversa com o NA, Luís Ferreira Lopes, jornalista, actual editor de economia da “SIC”, “SIC Notícias” e “SIC Online”, conta-nos como, por mero acaso, foi parar à frente “de combate” televisiva que acompanhou, de perto, os momentos e os dias que se seguiram aos atentados terroristas em Espanha, de 11 de Março último, da autoria da organização Alcaeda. “Notícias de Alverca”: Conta-nos como “viveste” aqueles primeiros mo­ mentos a seguir aos atentados… Luís Ferreira Lopes: Bom, dizer, em primeiro lugar, que eu estava, em Madrid, a trabalhar, para a SIC, numa reportagem sobre economia (dado ser essa a minha área editorial), tinha ido na Quarta-feira de manhã e o regresso de avião estava marcado para o meio da manhã dessa, fatídica, Quinta-feira (dia 11 de Março). Por volta das 08h00m, quando me le­ vantei, liguei a televisão do hotel, onde estava hospedado, situado na Plaza de Castilha – ainda bastante longe das es­tações de comboio, martirizadas, de Ato­cha e de Santa Eugénia –, e, ao ver as imagens, entrei, automaticamente, em contacto com a SIC, assim como o fize­ram outros dois colegas meus: um que lá se encontrava a fazer outra reportagem e outro que já lá estava para cobrir as eleições de Domingo, e que, por se en­contrarem mais próximos, foram, logo, para as estações. No meu caso, propus--me, de imediato, ir cobrir algo que tinha acabado de ouvir e que era o apelo das autoridades para que as pessoas fossem dar sangue. Tudo isto cerca de 35/40 minutos após os atentados. Na altura, não haviam, naturalmente, números ofi­ciais de mortos e feridos, mas, quando cheguei ao local onde estavam os auto­carros da Cruz Vermelha, já existiam filas e filas de pessoas para dar sangue… “NA”: Presumo que se viviam mo­ mentos de forte emoção?!… L.F.L.: Era uma emoção impressio­ nante, em todo o lado, quer nas pessoas que estavam nas estações, quer ali, onde eu me encontrava. Ali, foi um lado muito mais tocante, porque ali não estavam curiosos – ao contrário do que acontecia nas estações de comboio –, mas, antes, indivíduos que queriam ajudar, lá à frente quase se acotovelavam para serem os primeiros a dar sangue… “NA”: Houve, portanto, uma onda de solidariedade…?! L.F.L.: Houve uma onda, emocio­ nante, de solidariedade. Aquele povo deu, de facto, uma lição de união, de força, absolutamente exemplar. E, no dia seguinte, foi, também, impressionante ver as pessoas a virem para a rua, em todas as cidades espanholas…; na ca­ pital, Madrid, eram mais de dois milhões, debaixo de forte chuva, naquela mega-

Mário Caritas

-manifestação da tarde de Sexta-feira, dia 12: as pessoas gritavam palavras de or­dem, sem saberem, ainda, de quem teria sido a autoria dos atentados, apesar do Governo se ter esforçado, desde logo, por dizer que fora a ETA…!?! Por exem­plo, nesse dia, ao final da tarde, a avenida principal madrilena que vai até à Estação de Atocha – o chamado Passeo Recolle­tos – estava tão repleta que, numa hora, qualquer pessoa não conseguia andar mais de 100 metros. Mas, logo nessa manhã, fui cobrir algo de arrepiante: as pessoas, por volta das 11 horas, saíram todas dos seus locais de trabalho, e, naquilo que nós podíamos comparar com a nossa Avenida da Liber­dade, em Lisboa, todas pararam, inclu­sive os automóveis que aí circulavam, e, durante 15 minutos (!!), todos permane­ceram em silêncio. Foi arrepiante. Foi uma coisa esmagadora!! “NA”: E que aconteceu, portanto, es­pontaneamente… L.F.L.: Exacto. Aconteceu esponta­ nea­mente, as pessoas estavam tremen­ da­mente chocadas. Entretanto, fui fazer co­bertura a alguns hospitais: um deles rece­beu 300/400 feridos e foi visitado pela Família Real, eu também lá estive e aquilo que mais me impressionou foram os fami­liares a quererem saber de novi­dades… “NA”: Contactaste, directamente, com alguns sinistrados? L.F.L.: Vi, sobretudo, feridos ligeiros a aparecerem com marcas de estilhaços. Em termos gerais, penso que os jornalis­ tas fizeram uma cobertura digna, não es­ tavam a “massacrar”, no sentido de que­ rerem obter imagens ditas “chocantes”. “NA”: Estavam presentes jornalistas de todo o mundo?! L.F.L.: Sim, de todo o mundo. Todos perceberam que aquilo tinha sido o maior atentado terrorista, de sempre, ocorrido na Europa, e aquele dia 11 parecia ter, de

facto, algo a ver com o 11 de Setem­bro de Nova Iorque; logo, já se adivinhava que poderia não ter sido a ETA, face à dimensão da catástrofe… “NA”: E tu, o que é que pensaste, para ti, quando ouviste, pela primeira vez, na manhã dessa Quinta-feira, o relato daquilo que aconteceu? Pensaste logo: foi um atentado da ETA!? L.F.L.: Eu vi as imagens da TVE e, quando ligo para Lisboa, dizem-me que tinha sido a ETA. Entretanto, falei com um colega da SIC, que já estava a cami­nho da Estação de Atocha, e ele dizia- -me: “Isto é demasiado grande para ser da autoria da ETA.” Portanto, nunca tive­mos certezas, logo desde o início, e, por isso, deixámos sempre em aberto as infor­ mações que veiculávamos, pois, aquilo era, de facto, demasiado forte e grande para ser da ETA, que, normalmente, es­ colhe alvos políticos e não centenas e centenas de trabalhadores anónimo. Ou seja, apesar da ETA já ter atacado, no passado, alvos civis, nunca havia prati­ cado um atentado daquela dimensão, em que se começa a perceber, inclusive, que o plano inicial era o de que os com­ boios explodissem, em simultâneo, no interior da Estação de Atocha…!! “NA”: E o que é que as pessoas anó­ nimas diziam? Que tinha sido a ETA? L.F.L.: Emocionalmente, chamavam todos os nomes possíveis à ETA. Mas, depois, todos começaram a perceber que se tratava de um atentado de uma envergadura tal, face aos números dan­ tescos que eram actualizados – estamos a falar de cerca de 1 500 feridos e mais de 200 mortos –, que já começavam a duvidar que fosse aquela organização se­paratista basca. Entretanto, no Sábado, rumei a Alcala­denares, que é, historicamente, a cidade do escritor Cervantes, situada a cerca de 30 quilómetros de Madrid. Naturais da­quela cidade mártir, morreram mais de 40 pessoas, que tinham

apanhado o comboio nessa Quinta-feira, e eu estive lá a fazer a cobertura das cerimónias fú­nebres, a uma distância razoável e nunca falando com as famílias, falei, sim, com o presidente da câmara municipal, fiz al­gum ambiente, nomeadamente de pes­soas a acenderem velas no Centro His­tórico, junto à Câmara, e de outras que vieram, propositadamente, de Madrid pa­ra homenagear os mortos… Nesse dia, apanhei, depois, o comboio para Madrid, dia e meio após tudo ter acontecido, ten­do saído, não em Atocha (que estava, ainda, interditada), mas, em Chanmartin. E notei que as pessoas estavam com muito medo de andar de comboio, in­clusive os mais novos, os estudantes…! “NA”: Tu e o operador de imagem que te acompanhava tiveram que arran­jar muitas forças, para fazer face a tanto trabalho…!? L.F.L.: Houve dias que, dizem, traba­ lhámos 12/14 horas. “NA”: Foi um ambiente que, certa­ mente, nunca havias sentido… L.F.L.: Era um ambiente de dor, era uma energia esquisita no ar, era uma coisa estranha. Momentos marcantes: quando as pessoas iam dar sangue; quando iam a correr aos hospitais; os 15 minutos de silêncio na manhã de Sex­ta-feira; a mega-manifestação da tarde; as cerimónias fúnebres de Sábado; e, nessa noite, a manifestação “ilegal” junto à sede do PP, porque, de repente, come­ça-se a perceber que teria sido, de facto, a Alcaeda a autora dos atentados, e que o Governo sabia disso, desde o início. E, depois de algumas explicações comple­tamente atrapalhadas do Ministério do Interior, o candidato do PP às eleições desse Domingo – que seria, suposta­mente, o sucessor de Aznar no cargo de Primeiro-Ministro espanhol – acabou por, ao final do dia, em directo, nos telejornais, admitir que houve “uma má gestão dessa informação”. Já no Domingo, dia das eleições em Espanha, fiz um directo à hora do almoço,

descrevendo o ambiente de rua, junto às Portas del Sol, ou seja, em pleno Cen­tro Histórico de Madrid, onde, junto à Câ­mara Municipal, estavam centenas de velas acesas, cartazes, fotografias… E as pessoas, aparentando calma, iam acender uma vela, votar, comprar o jornal, beber o café, conseguiram-se conter, e isso é extraordinário, num povo que já passou por muito, inclusive por uma guer­ra civil, mortífera, e que, actualmente, pese embora a subida da economia, é um dos países com mais elevados índices de desemprego da União Europeia. Por­tanto, foi um povo com uma nobreza de espírito enorme. Entretanto, nesse Domingo, apesar de nada estar planeado, inicialmente, nesse sentido, houve uma decisão da SIC, e eu fui para a sede do PSOE, o partido que acabou por vencer as elei­ ções, e estive lá, a acompanhar a festa da vitória, até à 1 hora da manhã. “NA”: Uma vitória com a qual não contavam… L.F.L.: Inicialmente, não contavam, de facto. Mas, já depois, quando o Zapatero faz o discurso da vitória, em directo, nas televisões, há um momento deveras emocionante: ele pediu às pessoas, na conferência de imprensa, que todos, lá dentro, assim como os milhares que es­ tavam cá fora e os milhões que estavam em casa, se levantassem e respeitassem um minuto de silêncio, em memória das vítimas dos atentados. E, nesse dia, de sol, de calor, em contraste com o dia de chu­va dos atentados, as pessoas res­ peitaram o minuto de silêncio, os próprios jornalistas, e foi emocionante porque aquela atitude era a mais coerente, tendo em conta os trágicos acontecimentos re­centes. E eu via homens e mulheres a chorar, em silêncio. “NA”: E tu, nunca te emocionaste? L.F.L.: Nessa altura, em que me en­ contrava no exterior da sede do PSOE, num palanque montado para o efeito, emocionei-me mesmo. Nessa altura, eu olho para o câmara e estamos os dois a chorar!!

CURRÍCULO Jornalista económico, com perfil televisivo Luís Ferreira Lopes, de 35 anos, natural de Al­verca do Ribatejo, jornalista especializado em assun­tos econó­mi­ cos, esteve na RTP entre Outubro de 1992 e Dezembro de 1999, passou pela Rádio Renascença, traba­lhou e colaborou em imprensa escrita regional e nacional (tudo começou no “Notícias

de Alverca”, em 1986), e, actualmen­ te, é editor de economia no grupo tele­visivo SIC, cargo que ocupa desde Ou­tubro de 2001. Luís Lopes é filho de José Sabino Lopes, actual eleito do PS na Assembleia de Fre­guesia de Al­verca e colaborador per­manente no nosso jornal.


15

ARTE & LAZER

ABRIL.2004

CALHANDRIZ

Clube promove “Artes e Saberes” locais

Mário Caritas

CYBERcultura

O primeiro fim-de-semana de Abril foi aproveitado, pelo Clube Desportivo, Recreativo e Cultural de Calhandriz, para a organização de uma mostra de artesanato, que juntou 12 expositores locais e se saldou numa boa promoção do que por lá se faz. Aliás, o sucesso foi tal que a mesma será reeditada, de 15 a 17 de Abril... Edmar Rodrigues O Clube Desportivo, Recreativo e Cul­ tural de Calhandriz (CDRCC) promoveu, no fim-de-semana de 3 e 4 de Abril — com repetição marcada para esta sema­na (ler “caixa” em anexo) — a exposição intitulada: “Artes e Saberes”, com o ob­jectivo de dar a conhecer o labor manual que é desenvolvido pelos artesãos, ama­dores, residentes na área da freguesia. Ao todo, nesta primeira edição da mostra, estiveram presentes 12 exposi­ tores, exibindo trabalhos nas mais diver­ sas áreas artísticas, nomeadamente: pintura em óleo e aguarela, tapetes de Arraiolos, pirogravura, modelismo, bor­ dados, ponto de cruz, ferro forjado, pin­ tura em cerâmica, decoração, fotografia, entre outras. Em declarações ao NA, o presidente da Direcção do CDRCC, Amílcar Lopes, sublinhava que o certame pretendeu ser “o mais abrangente possível, dentro da­ quilo que se vai fazendo na nossa terra, procurando provocar um certo impacto junto dos, eventuais, visitantes”. E, de facto, os curiosos acorreram em número bastante significativo, ao salão de festas da colectividade, o que deixa, desde logo, adivinhar realizações congé­ neres futuras. “O nosso propósito é, sem­pre, o de dar a melhor continuidade a todas as iniciativas que implementamos, pelo que esta não é excepção”, realça, convicto, aquele dirigente. Maria da Luz Avelar, uma das artífices com quem falámos, mostrava, com orgu­ lho, os seus desempenhos em Arraiolos, renda e ponto de cruz, entre outros. “Desde miúda que me dedico a isto, mas é a primeira vez que exponho. É muito giro e só gostava de voltar a ter mais oportunidades de divulgar aquilo que faço”, admitia, visivelmente satisfeita. Também um estreante nestas “an­ danças”, Filipe Bragança, especialista na arte do ferro forjado, desde há cerca de três anos a esta parte, estava bem im­pressionado com o evento: “Quero sa­lientar o grande número de visitantes e a boa oportunidade dada aos artesãos lo­ cais de exibirem a sua arte”, constatava.

Jornalista edmar@iol.pt

CeBIT 2004: apesar de fracos sinais de retoma, o tom foi optimista Poucas empresas portuguesas marcaram presença

Mário Caritas

12 EXPOSITORES. Foi de tal ordem o sucesso da 1.ª edição da mostra: “Artes e Saberes”, na Calhandriz, que a mesma é reeditada por estes dias

15 – 17 DE ABRIL Exposição reeditada A mostra: “Artes e Saberes”, pro­ movida pelo CDRCC, é reeditada entre os dias 15 e 17 de Abril, face ao suces­ so que a mesma granjeou, entre os visitantes, no primeiro fim-de-semana deste mês. Assim, os 12 expositores

presentes poderão dar a conhecer a sua arte, nos seguintes horários: Quin­ ta-feira ao serão, Sexta-feira entre o final da tarde e as 22 horas, e, por fim, no Sábado entre as 13h e as 22h.

Empresas Portuguesas Presentes na CeBIT

Internet

Mário Caritas

Rádio Lezíria já está on-line O novo site da emissora vila-franquense, www.leziriafm.com, foi apresentado, publicamente, no passado dia 27 de Março Em www.leziriafm.com, a estação ra­diofónica Lezíria FM, com estúdios em Vila Franca de Xira, passa a emitir, via on-line, para todo o mundo. O novo site oficial desta, carismática, rádio — a mais antiga do concelho — foi lançado no pas­sado dia 27 de Março, sendo o resultado de um trabalho de criação da autoria da empresa Xiranet. Para os mais distraídos, lembra-mos que a RL - FM pode ser sintonizada, dia­ riamente, nos 89.1, cobrindo as regiões

Foi sob o signo da retoma, mais dese­ jada do que realmente presente, que teve lugar a CeBIT 2004 – a feira de tecnolo­ gias que se realizou no início de Março em Hanover, Alemanha. Como balanço, Ernst Raue, administrador da Deutsche Messe, a organizadora da feira, no en­ cerramento da mesma, afirmou que “a recuperação começou”. Como seria de esperar, as telecomuni­ cações foram uma das áreas que mais chamaram a atenção, com os habituais telemóveis com câmara. Na área do “soft­ ware”, encontraram-se soluções para a gestão empresarial, gestão de bases de dados ou gestão de clientes. Nesta área o destaque foi para as capacidades de integração com outros produtos. Um novo espaço dedicado às PME de tecnologia — chamado “Planet Resel­ler” —, espaço reservado aos distribui­dores, esteve maior, este ano, e contou com a representação de 14 países.

de Lisboa, Ribatejo, Alentejo e Oeste. Os responsáveis sublinham o facto desta ser considerada «a estação mais jovem da região», seguindo uma filosofia, em ter­ mos musicais, virada para o “pop-rock”, e tendo como público-alvo o denominado “adulto-jovem”. Ao acedermos aos conteúdos do site, podemos tomar contacto, por exemplo, com os rostos de algumas das vozes ac­ tuais, mais populares, da Lezíria FM, no­ meadamente: Nuno Miguel Ropio (direc­tor

de antena), Cristina Rodrigues, Miguel Ângelo e Paula Fialho, que se apresen­tam, individualmente, aos ouvintes, e contam os seus percursos radiofónicos. A cor é um elemento que dá força ao site, sendo possível aí aceder a notícias, assim como à programação diária da es­ tação (basta “clicar” no dia da semana pretendido para consulta) e, ainda, a um fórum de discussão interactiva que coloca aqueles profissionais mais perto dos ou­vintes.

As quatro honrosas presenças portu­ guesas: a Solbi, Microdados, Inosat e NFive. O “stand” da Solbi era um espaço pequeno, inserido num outro onde se encontravam empresas pertencentes à International Components Parts (ICP), uma plataforma europeia que tem o in­ tuito de colocar os produtos que querem comprar ou vender. Quanto a novidades, no “stand” da Solbi viam-se já catálogos da Lifetech, uma nova marca de ratos, teclados e câmaras digitais. A Microdados fornecedora de equipa­ mentos para pontos de venda (POS), esteve na CeBIT pela terceira vez conse­ cutiva. A Microdados registou, no ano passado, uma facturação de cerca de 8 milhões de euros. A exportação represen­ ta cerca de 15 por cento desse volume de negócios e a Microdados tem já clien­tes em vários países – Angola, Moçambi­que, Cabo Verde, Brasil, Espanha, Marro­cos, Croácia, Chipre, Lituânia, Malta, Eslo­ vénia e Grécia.

A Inosat desenvolve aplicações para gestão de frotas. Com escritórios em Bar­ carena e em Rio Tinto, a Inosat possui já filiais em Pontevedra e em Sevilha. Ainda em 2004, a empresa deverá abrir escri­ tórios em Barcelona, Valência e Vitoria. Fundada há quatro anos, a Inosat possui um volume de negócios na ordem dos 20 milhões de euros. Com oito programa­ dores e dois técnicos, a empresa fornece o software e o equipamento necessários para uma gestão de frotas de veículos. A localização dos veículos é feita através de GPS e o programa permite obter e registar diversas informações relaciona­das com a actividade do veículo. A carto­grafia é adquirida pela Inosat à Map&Gui­de, uma empresa de cartografia alemã que, no caso de Portugal, tem já vinte cidades cartografadas ao pormenor, ou seja, até aos números das portas das ruas. Foi a Map&Guide que convidou a Inosat a estar presente na CeBIT, inte­grada no seu “stand”. A Inosat, por seu lado, considerou que esta era uma boa oportunidade para encontrar distribui­dores noutros países, sobretudo na Euro­pa Central e na Europa de Leste. Uma presença portuguesa já habitual na CeBIT é a da NFive (Number Five), a empresa de software para a criação e produção de cartões de identificação Es­ ses cartões podem integrar uma banda magnética ou um “chip”. Hoje, a NFive possui 345 distribuidores, em 85 países, e o seu volume de negócios é de 2,2 milhões de euros. Alguns dados sobre visitantes Durante sete dias, visitaram a CeBIT 510 mil pessoas, de acordo com a orga­nização, o que significou mais 3 400 visi­tantes/dia do que na edição do ano pas­sado. Também o número de expositores vindos de fora da Alemanha aumentou, de 2 876 para 2 992, com a Formosa (Taiwan) a ter uma forte participação de 709 expositores, mais 45 que em 2003. A presença dos Estados Unidos, na feira, diminuiu de 249 para 222 em­presas.


16

ÚLTIMA

ABRIL.2004

COMISSÃO DE PROTECÇÃO DE CRIANÇAS E JOVENS

“A Sociedade chuta sempre a bola para os outros” Promover os direitos e proteger as crianças e jovens “em risco”, são duas das muitas funções da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Vila Franca de Xira. A funcionar desde 1993, a CPCJ regista, só em 2004, 46 novos processos, até ao momento. O “Notícias de Alverca” esteve à conversa com a comissão restrita (ler “caixa” nesta página) desta instituição oficial, não governamental, constituída por um grupo de técnicos que, sem mencionarem casos concretos, nos falam do seu trabalho, dos “espinhos” da sua missão e dos sucessos alcançados, no concelho... Sandra Xavier “Notícias de Alverca”: Por quem é constituída a CPCJ? Comissão de Protecção de Crian­ ças e Jovens: A CPCJ de Vila Franca de Xira é constituída por representantes das seguintes entidades: câmara municipal; Segurança Social; ministério da Educa­ção; centro de saúde; Instituições Particu­lares de Solidariedade Social; Instituto Português da Juventude; associações de pais e de jovens; PSP; GNR; associações que desenvolvam actividades desporti­vas, culturais ou recreativas, destinadas a crianças e jovens; e, ainda, quatro cida­dãos, designados pela assembleia muni­cipal. “NA”: Com que regularidade reúnem os seus técnicos e para que fins? C.P.C.J.: Os técnicos reúnem-se, to­ das as semanas, para avaliar os proces­ sos ou as denúncias que sejam feitas por várias entidades, ou, ainda, casos de crianças em risco de que se tenha conhecimento. Os técnicos ficam com os processos, avaliam-nos e intervêm junto da família. “NA”: Em concreto, o que é que pre­ tende esta comissão? C.P.C.J.: O que se pretendia era que não houvesse crianças em risco... Agora, o que queremos saber é porque é que isto acontece, ou seja, se o problema está na família ou na sociedade. A minha opinião, e não é uma opinião técnica, é que o problema está, muitas vezes, na própria sociedade. “NA”: Porquê? C.P.C.J.: Porque a sociedade tem sempre a melhor maneira de chutar a bola para os outros: “Isto não é comigo, os outros que tratem.” “NA”: Como é que chegam ao vosso conhecimento os casos que avaliam: através de denúncias de particulares ou de instituições, por exemplo? C.PC.J.: De várias formas. Pode ser através de denúncias anónimas, através até da própria família, ou, então, das es­colas, da PSP, da GNR, dos centros de saúde, enfim, toda a gente pode denun­ciar. As denúncias chegam das mais va­riadas maneiras: por carta, por telefone... Referir que o maior número de casos que nos chegam às mãos está relacio­nado com o abandono escolar. “NA”: Mas, o abandono escolar é o principal problema do concelho, a este nível?... C.P.C.J.: O abandono escolar é uma realidade constante, neste município. Os jovens deixam a escola, porque não se sentem bem no seio do actual sistema educativo. Pretendem um ensino muito mais prático, muito mais técnico, em ter­ mos profissionais, para o qual as escolas não estão preparadas. Por outro lado, não existem cursos compatíveis com as necessidades dos estudantes. Penso que esta é uma realidade que não se verifica só a nível local, mas, também, na­cional. “NA”: Como é que avaliam os casos que vos chegam, para saber se mere­ cem, de facto, o vosso apoio? C.P.C.J.: Todos os casos que chegam à CPCJ são distribuídos pelos técnicos, que fazem uma primeira avaliação. A par­tir daí, estes tratam do assunto junto das famílias, junto dos organismos, para saber o que se está a passar, e se é, ou não, da competência da comissão acom­ panhar esses casos. A CPCJ só pode intervir com o consentimento dos pais e do menor, quando este tiver determinada idade. Caso a família não dê o seu aval,

o assunto terá de ser remetido a tribunal e só esta instância é que pode decidir se há, ou não, retirada da criança de junto dos pais. Mas, tentamos sempre que a criança permaneça no meio familiar. A CPJC e o tribunal agem, muito, em conjunto. “NA”: E, quando o jovem atinge a maioridade, o processo é, imediatamen­ te, arquivado? C.P.C.J.: Aos 18 anos, a lei diz que o processo pode ser arquivado. Entre os 18 e os 21: mantém-se, se o jovem quiser; caso contrário, arquiva-se. “NA”: Como é feita a intervenção, no terreno? C.P.C.J.: Face a uma sinalização dada — a qual pode, ou não, conter muita informação —, inicia-se um diagnóstico. A partir do diagnóstico, traça-se uma inter­venção. “NA”: Mas, como é que actuam, es­ pecificamente, isto sem mencionarem nenhum caso em concreto? C.P.C.J.: Isso implicaria “montar” uma situação concreta, para lhe explicar, pois, não existem modelos únicos de actuação para todas as situações. A CPCJ não faz o diagnóstico sozinha, isto é, acaba sem­pre

a comportamentos desviantes. O que é que entendem por “comporta­mentos desviantes”? C.P.C.J: Um comportamento des­ viante é qualquer comportamento que a criança vá manifestando e que tem a ver, por exemplo, com o facto de acompa­nhar grupos marginais, praticar pequenos furtos, pequenos crimes… “NA”: Falando, de novo, em termos globais, que medidas é que a CPCJ pode aplicar? C.P.C.J.: As medidas vão desde o apoio à criança junto da família; passando pela sua retirada, para a colocação em família alargada, em amigos ou em família idónea; até à retirada para uma instituição. Existe uma medida, contemplada na lei — a Medida para a Autonomia de Vida — que é importante, mas para a qual não foram, ainda, criados os meios, os quais implicariam a existência de lo­cais, uma espécie de residências, onde os jovens seriam colocados, com um cor­po técnico e meios económicos adequa­dos, permitindo “trabalhá-los” para a autonomia de vida. A dado momento, consultámos

“O que se pretendia era que não houvesse crianças em risco... Agora, o que queremos saber é porque é que isto acontece, ou seja, se o problema está na família ou na sociedade. A minha opinião, e não é uma opinião técnica, é que o problema está, muitas vezes, na própria sociedade.”

por trabalhar sempre em rede. O mes­mo acontece com a intervenção: temos que nos situar no país em que estamos, e ter em linha de conta os meios dispo­níveis, para desenvolvermos o nosso tra­balho. Muitas vezes, teoricamente, pode­mos achar que a intervenção, junto de uma criança, é de um determinado tipo, só que, quando passamos à prática, con­ cluímos que aquela intervenção — que seria, à partida, a ideal, tendo em conta os meios existentes — não é a ideal, mas, sim, a possível. “NA”: Entre a vossa “população-al­vo”, estão crianças que vivem abandona­das ou entregues a si próprias, ou, então, que deixaram a escola, ou, ainda, que consomem drogas/álcool, expostas, as­sim,

a Comissão Nacional, por­que tivemos uma jovem que achámos poder enquadrar numa medida desse tipo. O que a Comissão nos disse foi que estava a iniciar-se a primeira experiência, em Lisboa, e que a mesma iria ser direc­cionada para jovens que estavam colo­cados em instituições, em regime de inter­nato. Era uma experiência só com rapa­zes. Ficámos a aguardar que fossem cria­dos os meios para a aplicação dessa medida, a qual seria importante para al­guns jovens, mas, até agora, nada. Do meu ponto de vista, andamos a remediar. Fazemos leis muito bonitas, mas, na prática, esbarramos com tudo, não existem respostas. Suponha que há um técnico que precisa, urgentemente, de

uma consulta de especialidade para uma criança: primeiro que a consiga é preciso meter “cunhas” e “contra-cu­nhas”. “NA”: E, com as “cunhas”, conseguem? C.P.C.J.: Nem sempre, vai-se conse­ guindo, embora não devesse ser assim, mas, antes: “Eu tenho este problema, faço um ofício e, no dia seguinte, tenho o assunto resolvido.” “NA”: Que outros meios é que vos faltam, neste momento? C.P.C.J.: Nenhuma comissão, e muito menos a de Vila Franca, consegue dar resposta a todos os casos que lhe apa­ recem. Por exemplo: há dois anos que, no concelho, nomeadamente em Via­ longa, existe um Centro de Emergência Infantil, que continua de portas fechadas. “NA”: Porquê? C.P.C.J.: Não é por falta de chamar­ mos a atenção de quem governa este país. Têm-se feito bastantes diligências... A CPCJ só tem que dizer: “Não temos os meios disponíveis para aplicar as me­didas.” Quantas mais crianças não preci­sávamos de colocar em Ocupação de Tempos Livres? Mas, não existem respos­tas, ao nível do município. Há situações em que temos uma criança de quatro/cinco anos que fica sozinha ou à respon­sabilidade de um irmão de 13/14 anos, corremos as instituições do concelho para a colocar, e não há resposta, nem para creche, nem para jardim de infância. “NA”: A nível da saúde mental, tam­ bém, têm bastantes carências?... C.P.C.J.: No concelho são, de facto, muitas. Existe uma única psicóloga da CPCJ a trabalhar, nessa área, e o trabalho é mais do que muito. Contamos, mor­ mente, com o apoio de alguns psicólogos que estão nas instituições e nos centros

de saúde, que vão articulando connosco. O Centro de Saúde de Alhandra não tem, no entanto, a valência de Psicologia, o que nos faz muita falta. Outra falha muito grande, em termos do município, é não haver consulta de Pedopsiquiatria, pois, muitos dos casos que nos chegam são já extremamente graves e extravasam o âmbito da Psicologia, isoladamente. Face a todas estas carências, ficamos muito limitados na nossa intervenção, no âm­ bito da saúde mental. Referir que, ao longo dos anos, tem havido uma degradação das pessoas, a este nível. Por ano, fazemos 30 a 40 internamentos compulsivos, quando, há 10 anos, por exemplo, não aparecia um, sequer. Isto dá uma imagem dos proble­ mas que existem e da necessidade de se criarem estruturas, a nível do concelho, para dar resposta à população. “NA”: Falando, ainda, sobre a inter­ venção, no terreno, da CPCJ, os cidadãos têm a obrigação de denunciar os casos que conhecem? C.P.C.J: Todo o cidadão tem obrigação de o fazer. “NA”: As pessoas fazem-no ou sen­ tem receio? C.P.C.J.: Eu penso que fazem. Aliás, podem fazê-lo anonimamente, não há necessidade de se identificarem. Depois, nós iremos averiguar se é verdade ou não. “NA”: Por outro lado, quando é que se pode dizer que “um caso está encerra­do”? C.P.C.J.: Se a CPCJ chegar a um dado momento e achar que a sua intervenção conseguiu alterar a situação, e que o bem-estar daquela criança ou daquele jovem está, minimamente, assegurado, arquiva o processo, informa as institui­ ções de tal medida e confirma que aquela situação já não subsiste. Há que salientar, no entanto, que o processo pode ser reaberto, se a situação tiver regredido. “NA”: Têm tido muitos casos bem su­cedidos? C.P.C.J.: Nós trabalhamos, nesta co­missão, desde 1993, e este desem­ penho só é válido se as pessoas se em­penharem, o que tem, de facto, suce­ dido. Por isso, apesar de todas as dificul­ dades, temos conseguido bastantes su­ cessos, nem que para isso tenhamos tido que percorrer instituições desde o Algarve até ao Minho, para colocar crian­ças que estavam, verdadeiramente, em risco. “NA”: Qual é o vosso horário de fun­ cionamento? C.P.C.J.: Em termos administrativos, é das 9h30 às 12h30 e das 14h às 17h30. Mas, de facto, não é assim. Mal estaria esta comissão, e muitas co­ missões deste país, se se cingissem só aos horários. Na maior parte das vezes, os seus técnicos, sem ganharem seja o que for, estão a trabalhar para a co­ missão — ou, como é usual dizer-se, para “o bem da nação” — a título extraordiná­ rio, por vezes, sem que ninguém lhes dê valor. As pessoas querem é os seus pro­blemas resolvidos!

CPCJ Quem a constitui... A comissão restrita da CPCJ, com quem o NA esteve à conversa, é consti­ tuída pelos seguintes elementos: Ma­ nuel Martins, presidente da CPCJ; Dália Santos, Margarida Carvalho, Margarida Serra e Cecília Aleixo, assistentes

so­ciais; Sofia Lourenço, psicóloga; Ale­xandra Rodrigues, jurista; Manuel Ce­bola, delegado de saúde do concelho de VFX; Túlia Quinto, delegada de saú­de adjunta do concelho; Fátima Pinhei­ro, professora.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.