São João Bosco: Sonhos de um visionário, Capítulo VI

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S. JOÃO BOSCO SONHOS DE UM VISIONÁRIO NÚMERO 6


A Dom Bosco nos 130 anos da sua morte.

BOLETIM INFORMATIVO - HOJE Notícias dos Salesianos de Portugal 26 JULHO 2018 Diretor Pe. José Aníbal Mendonça, sdb Diretor Adjunto e Coordenador Editorial Joaquim Antunes, sdb Texto adaptado das Memórias Biográficas de São João Bosco, Vol. VIII, pág. 274, 280 e seguintes. Ilustração: Nuno Quaresma Província Portuguesa da Sociedade Salesiana Rua Saraiva de Carvalho, 275,1399-020 Lisboa www.salesianos.pt


O SONHO DA AUXILIADORA FÉ NA SUA PROTEÇÃO

Dom Bosco, diante da multidão dos seus rapazes, falou assim na segunda-feira à noite, primeiro dia de 1866. «Pareceu-me encontrar-me pouco distante de uma localidade que pelo aspeto me dava a ideia de ser Castelnuovo d’Asti, mas não era. Todos os rapazes do Oratório se divertiam numa imensa pradaria; quando eis que de repente se veem as águas a aparecer nas extremidades daquela

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planície, e vemo-nos rodeados de todos os lados por uma inundação, que ia aumentando à medida que avançava em direção a nós. O Pó havia transbordado e imensas e assustadoras torrentes extravasavam das suas margens. Nós, dominados pelo terror, desatámos a correr à volta de um grande moinho isolado, distante de outras habitações, com os muros grossos como os de uma fortaleza; e eu parei no seu pátio no meio dos meus queridos rapazes muito aflitos. Mas as águas começaram a invadir também aquela zona e fomos obrigados a refugiar-nos todos em casa e depois a subir para as divisões superiores. Das janelas via-se a extensão da calamidade. Desde as colinas


de Superga até aos Alpes, em vez de prados, campos cultivados, hortas, bosques, quintas, aldeias, cidades, não se via mais do que a superfície de um lago imenso. À medida que a água aumentava, nós subíamos de um piso para o outro. Perdida toda a esperança humana de nos salvarmos, comecei a animar os meus queridos rapazes, dizendo que se colocassem todos com plena confiança nas mãos de Deus e nos braços da nossa querida mãe Maria. […] Os olhos de todos estavam voltados para mim e no rosto de todos lia-se a pergunta: – D. Bosco, é tempo de descer e de sairmos daqui?

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Primeiro pensei e depois disse-lhes: – Desceremos quando chegar o momento; agora estamos em segurança! […] Ouviu-se um grito geral de alegria e todos, esfregando as mãos de contentamento, entraram naquela vinha muito bem alinhada. Das videiras pendiam cachos de uvas semelhantes aos da terra prometida e nas árvores havia toda a espécie de frutos que possa desejar-se na bela estação, de um sabor nunca experimentado. No meio daquela extensíssima vinha, surgia um grande castelo rodeado de um delicioso e régio jardim e de fortes muros. Encaminhámo-nos para lá a fim de o visitar e foi-nos concedida entrada livre. Estávamos cansados e cheios de fome e,


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numa grande sala toda guarnecida de ouro, havia preparada para nós uma grande mesa com toda a espécie das mais requintadas iguarias, de que cada um pôde servir-se à vontade. Enquanto acabávamos de nos saciar, entrou na sala um nobre jovem, ricamente vestido, de uma formosura indescritível, e que, com afetuosa e familiar cortesia, nos cumprimentou tratando cada um de nós pelo nome. Vendo-nos estupefactos e maravilhados com a sua beleza e com a de tantas coisas já contempladas, disse-nos: – Isto não é nada; vinde e vereis. Todos seguimos atrás dele e dos parapeitos das galerias mostrou-nos os jardins, dizendo-nos que éramos senho-


res deles para os nossos recreios. E conduziu-nos de sala em sala, cada qual mais maravilhosa do que a outra, pela arquitetura, colunatas e decorações de toda a espécie. Aberta depois uma porta que dava para uma capela, convidou-nos a entrar. Por fora a capela parecia pequena, mas apenas transpúnhamos a soleira, parecia-nos tão grande que de uma extremidade à outra mal podíamos ver-nos. O pavimento, os muros, os arcos eram guarnecidos e enriquecidos com uma admirável combinação de mármores, de prata, de ouro e de pedras preciosas, de modo que eu, estático de admiração, exclamei: – Mas esta é uma beleza de paraíso: faço pacto de permanecer aqui para sempre!

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No meio deste grande templo, erguia-se sobre rica base uma grande, magnífica estátua que representava Maria Auxiliadora. Chamados muitos rapazes que se tinham espalhado por aqui e por ali para examinar a beleza daquele sagrado edifício, toda a multidão se concentrou diante daquela estátua para agradecer à Virgem celeste pelos muitos favores que nos havia prestado. Aqui dei-me conta da imensidão daquela igreja, pois todos aqueles milhares de rapazes pareciam um pequeno grupo que ocupava o centro da mesma. Enquanto os rapazes contemplavam aquela estátua que tinha um encanto de fisionomia verdadeiramente celestial,


a dada altura a mesma pareceu animar-se e sorrir. Houve um grande murmúrio, uma comoção entre a multidão. – Nossa Senhora mexe os olhos! – exclamaram alguns. E de facto Maria Santíssima lançava com inefável bondade os seus olhos maternos sobre aqueles rapazes. Pouco depois, outro grito geral: – Nossa Senhora mexe as mãos. E de facto abrindo lentamente os braços levantava o manto para nos acolher a todos debaixo dele. As lágrimas corriam de comoção pelas nossas faces. – Nossa Senhora mexe os lábios! – disseram alguns. Fez-se um silêncio profundo; e Nossa Senhora abriu a boca e com uma voz argentina, suavíssima, dizia-nos:

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– SE VÓS FORDES PARA MIM FILHOS DEVOTOS, EU SEREI PARA VÓS MÃE PIEDOSA! A estas palavras caímos todos de joelhos e entoámos o cântico: Louvai a Maria, ó línguas fiéis. Esta harmonia era tão forte, tão suave, que empolgado com ela acordei e assim terminou a visão».

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COMENTÁRIO

SONHO E REALIDADE: GRUTA DA ESPERANÇA, GRUTA DO MILAGRE! Talvez seja um título ajustado ao sonho que relatamos, se atendermos àquilo a que o mundo assistiu ao ver o resgate dramático de 12 rapazes e seu treinador encurralados numa gruta no Norte da Tailândia. Uma equipa de futebol juvenil – faz lembrar as equipas do Oratório –, depois de um treino exigente, foi explorar, como recompensa, uma das mais belas grutas das montanhas sobranceiras à localidade onde viviam. Mas aconteceu o inesperado: chuvas diluvianas inundaram por completo as galerias aprisionando-os no fundo da gruta.

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É curioso que o sonho “Auxiliadora”, narrado por Dom Bosco, em janeiro de 1866, se assemelha a este caso dramático: os rapazes do Oratório jogavam e divertiam-se num imenso campo. Improvisamente as águas impetuosas do rio Pó transbordaram e inundaram toda a área. Os rapazes aterrorizados só tiveram tempo de refugiar-se num moinho. As águas continuaram a subir obrigando o grupo a proteger-se nos pisos superiores. Dom Bosco, serenamente, vai dando orientações a uns e a outros para poderem salvar-se… e os rapazes vão seguindo os seus conselhos. Depois de muitas tribulações e angústias, Dom Bosco encoraja os rapazes dizendo: “Maria é a Estrela-do-Mar e não abandona quem n’Ela confia”. E as aventuras continuaram…

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Voltando ao grupo de futebol da Tailândia. Ekkapol, treinador da equipa, antigo monge budista, com apenas 25 anos de idade, ensinou os seus atletas durante dezassete dias a manter-se calmos ajudando-os a meditar e a conservar o máximo de energia possível. Mas fez mais, muito mais: abdicou da pouca comida que restava para a dar aos seus rapazes, deixando-lhes também a água que pingava das estalactites e que os manteve vivos. Ao ser encontrado, era ele o que estava em piores condições físicas, afirmaram os mergulhadores. A forma como estes rapazes reagiram à situação adversa que os aprisionou foi com certeza devido ao sentimento fortíssimo de ligação, confiança e amizade que os unia ao líder e também à forte crença religiosa de que alguém os protegia. Além disso, a espiritualidade budista ensina que o sofrimento faz parte da condição humana e isso torna-se numa força interior que ajuda a superar barreiras aparentemente intransponíveis.

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Ser educador é transmitir estes sentimentos aos educandos. Dom Bosco indica-nos todos estes caminhos: total sintonia entre educador e educando, fé na proteção de Deus e de Nossa Senhora Auxiliadora, capacidade de sofrimento nos momentos difíceis da vida. Sonho de ontem, realidade de hoje, binómio vitorioso e salvador: gruta da esperança, gruta do milagre! J. Antunes, sdb

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