São João Bosco: Sonhos de um visionário, Capítulo III

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S. JOÃO BOSCO SONHOS DE UM VISIONÁRIO NÚMERO 3


A Dom Bosco nos 130 anos da sua morte.

BOLETIM INFORMATIVO Notícias dos Salesianos de Portugal MARÇO 2018 Diretor Pe. José Aníbal Mendonça, sdb Diretor Adjunto e Coordenador Editorial Joaquim Antunes, sdb Texto adaptado das Memórias Biográficas de São João Bosco, Vol. VII, pág. 356-360. Ilustração: Nuno Quaresma Província Portuguesa da Sociedade Salesiana Rua Saraiva de Carvalho, 275,1399-020 Lisboa www.salesianos.pt


O SONHO DO ELEFANTE PROTEÇÃO MARIANA

A intensa devoção mariana que carateriza toda a vida de Dom Bosco não pôde deixar de se refletir nos sonhos. É importante o do elefante (janeiro 1963). Dom Bosco sonha que está no seu gabinete a conversar com o Professor Vallauri, quando alguém bate à porta: é a sua mãe, Margarida, falecida seis anos antes, que o convida a ir à janela. Conta Dom Bosco: «Fui à varanda e vi no pátio, no meio dos rapazes, um elefante de tamanho descomunal.

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– Mas que se passa? – exclamei! Desci a correr para o pórtico com o professor. Muitos de vós tínheis corrido a ver. Aquele elefante parecia manso, dócil: divertia-se a correr com os rapazes; acariciava-os com a tromba. Era tão inteligente que obedecia às ordens, como se tivesse sido amestrado e criado aqui no Oratório desde pequenino. Mas nem todos estáveis à volta dele. A maior parte assustados fugíeis para aqui e para ali, e por fim refugiastes-vos na igreja. Entrei pela porta que dá para o pátio; mas ao passar próximo da estátua de Nossa Senhora, tendo eu tocado na extremidade do seu manto, como que a invocar a sua proteção, ela levantou o braço direito. Vallauri imi-



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tou o meu gesto do outro lado e Nossa Senhora moveu o braço esquerdo. Fiquei atónito, não sabendo explicar um facto tão extraordinário. Chegou, entretanto, a hora das sagradas funções e vós, meus queridos rapazes, fostes todos para a igreja. Cantaram-se as Vésperas e depois da pregação fui para o altar acompanhado do padre Alasonatti e do padre Savio para dar a bênção do Santíssimo Sacramento. No momento solene em que todos adoravam o Santo dos santos, vi ao fundo, o elefante ajoelhado, virado para a porta principal. Terminadas as cerimónias, eu queria ir logo para o pátio para ver o que acontecia, mas retido na sacristia por al-


guém que queria dar-me um recado, tive de me demorar. Finalmente, saio e vou para o pátio para começar os jogos. O elefante tinha avançado para o segundo pátio à volta do qual estão em construção os edifícios. É aí que acontece a cena aflitiva que agora vou descrever-vos. Naquele instante aparecia lá ao fundo um estandarte em que estava escrito em grandes carateres: Sancta Maria succurre miseris e seguiam-no os rapazes em procissão. De repente vi aquele bruto animal lançar-se para o meio dos alunos, apanhando os mais próximos com a tromba, a atirá-los ao ar, a esmagá-los. Ao mesmo tempo, coisa horrível, alguns rapazes poupados pelo elefante, em vez

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de ajudar e socorrer os feridos, tinham-se aliado com o monstro. Enquanto isto acontecia aquela estatueta que aí vedes (indicava a estátua da Santíssima Virgem) animou-se e aumentou de tamanho, levantou os braços e abriu o manto. O manto depois alargou-se tão desmesuradamente que cobria todos os que se refugiavam debaixo dele. Em primeiro lugar, correu para aquele refúgio um número escolhido dos melhores. Mas vendo Maria Santíssima que muitos não tinham o cuidado de se apressar a correr para Ela, gritava em voz alta: Venite ad me omnes. Depois, tudo ficou calmo. A Virgem, após breve silêncio, dirigiu aos rapazes belas palavras de conforto e de es-


perança. “Agora vós ficai tranquilos, mas recordai-vos das minhas palavras: Fugi dos companheiros que são amigos de Satanás, fugi das más conversas especialmente contra a pureza, tende em mim uma confiança ilimitada e o meu manto será sempre para vós seguro refúgio”. Ó meus queridos filhos, tirai vós mesmos a conclusão: quem estava debaixo do manto, quem era atirado ao ar pelo elefante e quem tinha a espada tratará de examinar a sua consciência. Eu só vos repito as palavras da Virgem Santíssima: Venite ad me omnes; recorrei todos a Ela, em todos os perigos invocai Maria e asseguro-vos que sereis atendidos».

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COMENTÁRIO

O modo como o ser humano caminha sobre a terra supõe grandes aprendizagens e transformações. A infância e a adolescência são determinantes, em termos de estrutura física, psicológica, moral e religiosa como ancoragem de uma personalidade forte e estável. Dom Bosco, mestre e educador, bem sabia que os jovens “santos” eram os que mais facilmente singravam na vida conquistando lugares cimeiros na sociedade e levando outros a percorrer os mesmos caminhos de sucesso e de virtude. A vida é entretecida por inúmeros combates e por isso Dom Bosco treinava os seus jovens para as pelejas do futuro mesmo que tivessem de 10

enfrentar animais mastodônticos.


O sonho de janeiro de 1863 é paradigmático. Com a sua fértil imaginação e capacidade narrativa, fez ver aos jovens como são falsas as tentações. Elefante de “falas” mansas só é possível quando se está hipnotizado e seduzido... Quem nos defende das ciladas traiçoeiras e dos alçapões sem fundo que a vida nos oferece? Quem nos protege do demónio mascarado de animal inofensivo? O manto de Nossa Senhora que se derrama sobre o pátio tornando-se refúgio dos jovens que se abrigam debaixo do seu amor maternal! Sonhos de Dom Bosco com esta projeção mariana e com esta sabedoria cristã há muitíssimos. Voltaremos a eles. J. Antunes, sdb 11


SÃO JOÃO BOSCO SONHOS DE UM VISIONÁRIO


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