N.º 20 NOVEMBRO 2013
EQUIPA PROVINCIAL DE ANIMAÇÃO VOCACIONAL
PROVÍNCIA PORTUGUESA DA SOCIEDADE SALESIANA
bússola em dia > PE. JOÃO CHAVES
DO EGOÍSMO À SOLIDARIEDADE
ser felizes > MICHAEL FERNANDES
A felicidade no tempo e na eternidade
O LEMA ESCOLHIDO ESTE ANO PAR A AS ESCOLAS SALESIANAS ENCONTR A A SUA ORIGEM NUMA FR ASE QUE DOM BOSCO NOS LEGOU NA CARTA DE ROMA: “O MEU ÚNICO DESEJO É VER-VOS FELIZES NO TEMPO E NA ETERNIDADE”.
Por trás do lema está subjacente a proposta na descoberta de uma espiritualidade que nos encaminha para a felicidade não só a de agora como a do eterno que nos espera.
O modelo para esta espiritualidade encontramo-lo em Dom Bosco: “Dom Bosco viveu a espiritualidade do seu tempo e criou um conjunto de propostas capazes de realizar nos jovens o sentido espiritual que vivia de profunda vida interior. Da totalidade do seu viver somente para Deus, brotava um modo pastoral de ler os problemas e a realidade dos jovens. Tudo o que vivia, tudo o que fazia pelos jovens, era expressão do seu intenso amor por Deus e pelos jovens. Os jovens são o seu lugar de encontro com Deus. E aos jovens, Dom Bosco ensinou a encontrar Deus na vida de cada dia. Vivendo a vida como vocação, vivendo o dia-a-dia com confiança e em oração a cada instante”. Para Dom Bosco “os jovens possuem energias de bem a serem desenvolvidas, energias que encontram o maior dinamismo na opção por Jesus e o seu Evangelho, levando-os a doarem-se totalmente a Deus e a serem felizes. Felizes e santos”.
A crise que vivemos é tema recorrente. O que não se repara à primeira vista, mas que o prolongamento da crise tem ajudado a descobrir, é que esta não é sobretudo uma crise económica, mas principalmente uma crise antropológica, isto é, uma crise dos valores que orientam o agir da pessoa. Estudos atuais dão conta de uma mudança de valores na Europa: a decadência do egoísmo que está a dar lugar à solidariedade. A imagem usada pelos sociólogos para descrever esta situação é aquela de um compartimento do comboio de alta velocidade onde cada passageiro vai focado nas suas coisas, indiferente a tudo o que passa à sua volta, até ao momento em que o comboio, inesperadamente, começa a reduzir a velocidade até acabar por se deter no meio do nada. Quem já experimentou algo parecido, sabe que a primeira reação é aquela de interromper a ocupação individual (navegar na net, enviar mails, iphone, ler, telefonar…) para, pela primeira vez, olhar à sua volta e, num segundo momento, começar a falar com aqueles que estão ao seu redor sobre o que está a suceder: a situação provoca uma imprevista necessidade de falar e de comunicar. Esta é uma imagem muito sugestiva. Cansado de viver voltado só para si, o homem de hoje descobre a solidariedade como energia regeneradora da sua própria identidade. A crise exige um olhar diferente sobre a construção do nosso futuro. Um olhar de esperança capaz de valorizar não tanto a eficácia produtiva mas a qualidade humana com que agimos. Crescer, construir a vocação é antes de mais valorizar o interior, cultivar os verdadeiros valores, dar qualidade àquilo que somos. São estes os valores que farão a diferença na conquista da felicidade, hoje e principalmente no dia de amanhã.
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papa francisco fala contigo > DISCURSO NO RIO DE JANEIRO, BR ASIL 28 DE JULHO DE 2013
“TENHAM A CORAGEM DE IR CONTRA A CORRENTE” No final da Jornada Mundial da Juventude do RIo de Janeiro, o Papa Francisco falou com os voluntários. Disse que não podia regressar a Roma sem agradecer àqueles que “prepararam o caminho” para uma experiência inesquecível de fé aos milhares de peregrinos. ram com tanta prontidão e generosidade como voluntários na Jornada Mundial, queria dizer: sejam sempre generosos com Deus e com os demais. Não se perde nada; ao contrário, é grande a riqueza da vida que se recebe!
«É o serviço mais bonito que podemos realizar como discípulos missionários: preparar o caminho para que todos possam conhecer, encontrar e amar o Senhor. A vocês que, neste período, responde-
Deus chama para escolhas definitivas, Ele tem um projeto para cada um: descobri-lo, responder à própria vocação é caminhar para a realização feliz de si mesmo. A todos Deus nos chama à santidade, a viver a sua vida, mas tem um caminho para cada um. Alguns são chamados a se santificar constituindo uma família através do sacramento do Matrimónio. Há quem diga que hoje o casamento está “fora de moda”. Está fora de moda? [Não…]. Na cultura do provisório, do relativo, muitos pregam que o importante é “curtir” o momento, que não vale a pena comprometer-se por toda a vida, fazer escolhas definitivas, “para sempre”, uma vez que não se sabe o que reserva o amanhã. Em vista disso eu peço que vocês sejam revolucionários, eu peço que vocês vão contra a corrente; sim, nisto peço que se rebelem: que se rebelem contra esta cultura do provisório que, no fundo, crê que vocês não são capazes de assumir responsabilidades, crê que vocês não são capazes de amar de verdade. Eu tenho
confiança em vocês, jovens, e rezo por vocês. Tenham a coragem de “ir contra a corrente”. E tenham também a coragem de ser felizes! O Senhor chama alguns ao sacerdócio, a se doar a Ele de modo mais total, para amar a todos com o coração do Bom Pastor. A outros, chama para servir os demais na vida religiosa: nos mosteiros, dedicando-se à oração pelo bem do mundo, nos vários sectores do apostolado, gastando-se por todos, especialmente os mais necessitados. Nunca me esquecerei daquele 21 de setembro – tinha eu 17 anos – quando, depois de passar pela igreja de San José de Flores para me confessar, senti pela primeira vez que Deus me chamava. Não tenham medo daquilo que Deus lhes pede! Vale a pena dizer “sim” a Deus. N’Ele está a alegria! Queridos jovens, talvez algum de vocês ainda não veja claramente o que fazer da sua vida. Peçam isso ao Senhor; Ele vos fará entender o caminho. Como fez o jovem Samuel, que ouviu dentro de si a voz insistente do Senhor que o chamava, e não entendia, não sabia o que dizer, mas, com a ajuda do sacerdote Eli, no final respondeu àquela voz: Senhor, fala eu escuto (cf. 1Sm 3,1-10) . Peçam vocês também a Jesus: Senhor, o que quereis que eu faça, que caminho devo seguir?»
contemplar > IR. ALZIR A SOUSA, FMA
DESEJO VER-TE POR DENTRO Muitos desejam ver-te despid@ para contemplar o teu corpo Eu desejo ver-te por dentro para contemplar o teu coração. Quantas surpresas encerras no teu coração…
Quero ser testemunha dos teus vazios e desilusões. Quero ser testemunha de quando o teu coração sorri Mas também quando ele chora e grita de dor
Quero escutar o ritmo a que bate o teu coração por amor, E tocar os teus próprios sentimentos. Desejo tomar parte das tuas dificuldades E alegrar-me contigo nas tuas alegrias.
Desejo ver-te por dentro, aí mesmo onde te encontras. Aí, onde estás atent@ à minha presença e à vida de todos os teus irmãos.
Desejo ser testemunha dos teus sonhos, das tuas esperanças, de como sentes aí dentro o meu Nome e como a minha Palavra te transforma.
Se me deixares entrar, Estou certo que me sentaria no beiral do caminho da tua vida E me dedicaria a contemplar a extensa paisagem do teu coração Onde o perfume e a cor refletem a bondade e a beleza do teu ser. Achas que encontrarei mais bela morada? Desejo ver-te por dentro e contigo permanecer.
Quero ser testemunha do teu coração quando perdoas E te tornas acesso à vida que liberta.
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eis-me aqui > ANS
PRIMEIRO MISSIONÁRIO BIRMANÊS A CAMINHO DO SUDÃO DO SUL O primeiro salesiano missionário ‘ad gentes’ proveniente de Mianmar, antiga Birmânia, chama-se Francisco Robewno e tem 28 anos. A Agência Noticiosa Salesiana (ANS) entrevistou-o durante o Curso de Orientação para os novos missionários que decorreu em Roma no mês de setembro para conhecer os motivos porque escolheu a vida missionária um jovem de um país que até agora foi apenas destino para missionários e nunca país de envio. Francisco continua ainda a completar a sua formação, mas está mais do que consciente da sua vocação missionária, que surgiu graças ao convívio e ao exemplo dos missionários que conheceu na sua terra natal.
parado por um ano. Nessa época os amigos de família falaram-me dos Salesianos, que até então não conhecia, e puseram-me em contacto com eles: foi assim que tudo começou.
Para onde foi enviado em missão? Para o Sudão do Sul. Vou a Juba, onde farei um terceiro ano de tirocínio prático, além dos dois já feitos em Mianmar, trabalhando como assistente dos pré-noviços. Devo admitir que vou ali “por obediência”, porque teria preferido vir à Europa. Os missionários do PIME que conheci eram europeus… Mas estou aberto àquilo que Deus desejar de mim. Irei para o Sudão do Sul, conhecerei a realidade e procurarei adaptar-me àquele contexto e nele dar o melhor que puder.
Qual a situação dos cristãos no seu país? A maior parte da população é budista, os cristãos são perto de 4% – dos quais entretanto a maior parte são de confissão batista. A Constituição oficialmente reconhece a liberdade de religião, mas erguer uma igreja, por exemplo, é muito difícil. Por que partir como missionário em vez de evangelizar os jovens birmaneses? Teria podido: nos dois anos de tirocínio trabalhei com rapazes da escola técnico-profissional, católicos na sua maioria, e alguns deles atualmente envolvidos num percurso vocacional. Mas tendo recebido tanto dos missionários no meu povoado, nasceu em mim um sentimento de gratidão: quero restituir alguma coisa à Igreja, Igreja que tanto fez por nós.
Procissão acompanha a Relíquia de Dom Bosco na visita a Mianmar
Quem lhe transmitiu a Fé? Recebi-a da minha família, dos meus Pais. Na minha terra natal, Mobye, há perto de 400 famílias católicas, isto é, perto de 50% dos seus habitantes, tantos quantos são os budistas. Isto porque naquela área se estabeleceram os missionários do PIME, que fizeram um grande trabalho de evangelização. Quando foi que decidiu dedicar sua vida a Deus? Pelos 16/17 anos, terminados os estudos superiores. Frequentava a paróquia e decidi experimentar entrar para o seminário diocesano. Mas encontrei várias dificuldades e fiquei
cartoon > DIANA ARROBAS
SER SANTO É SER FELIZ! Na Sociedade da Alegria, clube criado por São João Bosco com os colegas da escola de Chieri, três regras definiam com simplicidade o caminho da felicidade: 1 . Nenhuma ação, nenhuma conversa indigna de cristão; 2 . Cumprir os próprios deveres escolares e religiosos; 3 . Alegria.
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animais ferozes
Bússola
> SALESIAN MISSIONS
UM ROSTO DA ESCRAVATURA INFANTIL
Jornal da Equipa de Animação Vocacional
Gostavas de conhecer melhor a vocação salesiana? Contacta-nos! pastoral.juvenil@salesianos.pt
vem aí � 20-23 DE NOVEMBRO REUNIÃO DE DELEGADOS SALESIANOS DA PASTORAL JUVENIL DA EUROPA VALDOCCO, TURIM � 25 DE NOVEMBRO VENERÁVEL MÃE MARGARIDA � 29 DE NOVEMBRO A 1 DE DEZEMBRO ASSEMBLEIA EUROPEIA DO MJS CRACÓVIA, POLÓNIA
Há 18 anos atrás, em 1995, um menino de 12 anos chamado Iqbal Masih, corajosamente denunciou a escravatura infantil existente na indústria têxtil no seu país, o Paquistão. Iqbal foi forçado a trabalhar numa fábrica de tapetes quando tinha apenas quatro anos de idade. Explorado, subnutrido e frequentemente agredido fisicamente, só conseguiu libertar-se quando tinha 10 anos, depois de ter tido conhecimento da existência de uma ONG que trabalhava na libertação de crianças e adultos obrigados a trabalho escravo. Nos dois anos que mediaram a sua libertação e a sua morte, - Iqbal foi atingido fatalmente por um camponês, apesar de não estar provado, há suspeitas de que não terá sido um acidente mas antes um crime encomendado, - lutou ao lado de instituições e trabalhadores escravizados pela denúncia e libertação de outras crianças e adultos sujeitos às mesmas condições. Milhões de crianças em todo o mundo não têm acesso à escola, a estudar ou a crescer em paz. Em consequência disso, muitas delas tornam-se extremamente vulneráveis a vários abusos e a situações de exploração e de escravatura. Os Salesianos, e muitas outras organizações, trabalham em obras espalhadas por todo o mundo para alterar esta realidade. Muitas histórias de sucesso ajudam a dar esperança a estas crianças e a quem trabalha na defesa dos seus direitos. No Equador, por exemplo, um menino chamado Washington viu a sua vida mudar quando um sacerdote da Fundação Salesiana do Equador o convidou a visitar a escola. Washington fugiu de casa com seis anos. Inevitavelmente acabou por viver todos os perigos da rua. Hoje com 21 anos ensina
outros meninos de rua na escola salesiana onde também ele aprendeu a ler, a escrever e o ofício de carpintaria. Noutra obra para crianças em risco no Equador, o Centro de Apoio Nutricional e Pedagógico de Cuenca, várias crianças encontram proteção das redes de exploração laboral e têm acesso a educação. Em Bangalore, na Índia, por exemplo, as crianças numa situação de perigo têm uma linha telefónica gratuita a Don Bosco Childline à qual recorrer.
Lutar por cada criança e por todas as crianças Por cada criança salva, muitas mais estão ainda em sofrimento. Nas fábricas de tijolos e nas indústrias têxteis do Afeganistão e da Índia crianças são obrigadas a trabalhar em condições miseráveis. No Brasil, há jovens a trabalhar nas minas de carvão. Em Burma, trabalham nos campos de açúcar; no Egito e no Benin estão nas plantações de algodão a apanhá-lo à mão; na Costa do Marfim são exploradas nos campos de cacau; na Serra Leoa são obrigadas a escavar em busca de diamantes e na República Democrática do Congo trabalham nas minas de metal. Exploração, prostituição e mendicidade são uma realidade violenta para crianças em todo o mundo. Considerados a maior organização privada a oferecer educação vocacional e educação técnica em todo o mundo, os Salesianos oferecem esperança e futuros melhores a tantas destas crianças. (Tradução de www.salesianmissions. org)
sugestões > PE. LUÍS ALMEIDA DEUS RI: ALEGRIA, HUMOR E RISO NA VIDA ESPIRITUAL de James Martin Um livro muito interessante e divertido. O autor vai mostrando como alegria e humor são importantes para viver uma vida espiritual “séria”. Começa por mostrar o humor presente em alguns livros da Bíblia, sobretudo nos Evangelhos, apresenta depois alguns exemplos de santos e fala sobre a alegria no dia-a-dia espiritual de cada um. Um traço tipicamente salesiano, o da alegria, aqui muito bem explorado e apresentado por um jesuíta: porque a alegria é para todos e porque “um santo triste é um triste santo”. ELYSIUM de Neill Blomkamp Em 2154, ricos e poderosos vivem na “perfeita” estação espacial “Elysium” enquanto os pobres e desgraçados morrem no planeta Terra devastado e esquecido. Um filme de ação mas que nos leva a pensar. Teremos todos direito à mesma felicidade? Será possível um mundo que se esquece dos pobres? Até onde chegará o egoísmo humano?