Bússola n.º 9

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n.º 9 Maio 2011

EQUIPA PROVINCIAL DE PASTORAL VOCACIONAL

PROVÍNCIA PORTUGUESA DA SOCIEDADE SALESIANA

bússola em dia > Antónia Marinho

A insustentável leveza de Quem nos chama Fazer parte de alguma coisa. Ser maior do que o comum. Ir mais além, alcançar o que nunca ninguém alcançou. Eis o que nos chama a competir, a lutar, mostrar quem somos. Há, em nós, um impulso para o desafio, para a descoberta, para o futuro. No meio dessa caminhada, perdemo-nos em razões, esquecemos as regras e até empurramos o parceiro. O que nos chama a ser o que somos, a fazermos o que fazemos? Nunca Portugal viveu uma tão grande crise de existência, de sensatez e razoabilidade. Nunca fomos tão questionados a pôr à prova a sociedade que construímos, as oportunidades que criámos. Nunca fomos tão impelidos a pagar a factura dos erros que cometemos, que omitimos, que, de forma cúmplice, permitimos. Sente-se um burburinho, uma vontade de restituir a ordem, de restabelecer a razão, os princípios, o plano que tínhamos para nós. Todos querem fazer parte de alguma coisa: de um governo, de uma empresa, de uma comunidade, de um grupo de amigos, Todos querem ser maiores do que o comum. Todos querem um lugar ao Sol, mas só brilhará a obra que for feita em sintonia com as necessidades de todos e não só de alguns. Não é o grau académico ou o poder económico que nos definem. É o que fazemos para construir a sociedade em que vivemos. Esta geração não está só “à rasca”, vive “desenrascadamente”, sem pensar o futuro. Construir Portugal justo, livre e equitativo passa por alicerçar um modelo de vida em que os interesses de todos são uma prioridade. Passa por ouvirmos a vocação universal a fazer parte do maior plano de sempre: o plano de Deus!

da mihi animas > Pe. José Miguel Núñez, Conselheiro regional do reitor-Mor par a a Europa Oeste

«Maria Auxiliadora é de casa» No dia 30 de Outubro de 1835, o jovem João Bosco dava entr ada no Seminário a fim de iniciar a sua prepar ação par a o sacerdócio. Na tarde anterior, Mãe Margarida disse-lhe: “Querido João, quando vieste ao mundo consagrei-te à Santíssima Virgem; ao iniciar os estudos recomendei-te a devoção à nossa Mãe; agora aconselho-te a ser todo seu: e, se chegares a ser sacerdote, recomenda e propaga sempre a devoção a Maria”. Dom Bosco não só nunca esqueceu as palavras de sua mãe, como as viveu sempre de forma admirável. Maria, a Mãe de Jesus, esteve sempre no seu caminho vocacional. Naquele sonho providencial, quando era ainda um rapazinho, a senhora que lhe falou tomou-o pela mão como mãe e mestra e nunca mais se apartou dele; pediu-lhe que fosse humilde, forte e robusto e mostrou-lhe o campo onde devia trabalhar: os jovens mais pobres e abandonados.

Maria Auxiliadora, em Valdocco, foi a mãe da casa; passeava pelos pátios, tocava o coração dos rapazes, era para todos conforto e fortaleza em muitos momentos de dificuldade. Estamos a preparar a festa de Maria Auxiliadora, dia 24 de Maio. No meio dos afazeres de cada dia, aproximemo-nos dela e coloquemos sob o seu olhar as nossas dificuldades e esperanças. Ela, como sempre, acolher-nos-á e sussurrar-nos-á ao ouvido que não tenhamos medo porque o seu Filho nos sustenta e nos dá a vida em abundância.


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o guia... > Pe. David Teixeir a, sdb

Sobre a Mensagem do Santo Padre para o 48º Dia Mundial de Oração pelas Vocações ao dono da messe que mande trabalhadores para a sua messe» (Mt 9, 36-38)” e como nos recordou o beato Papa João Paulo II, “a Igreja «é chamada a proteger este dom, a estimá-lo e amá-lo: ela é responsável pelo nascimento e pela maturação das vocações»”. Como é que se deve fazer esta proposta vocacional? O Santo Padre dá-nos as seguintes pistas: © Alfonso Romero, Stock.xchng

Partilho convosco algumas ideias que o Papa Bento XVI nos deixa par a este dia mundial que celebr amos sempre no quarto domingo da Páscoa, o domingo do Bom Pastor, e que este ano ocorrerá no dia 15 de Maio, sob o tema: “Propor as vocações na Igreja local”. Na Igreja, é necessário propor as vocações porque corresponde “ao convite do Bom Pastor, quando, «ao ver as multidões, encheu-Se de compaixão por elas, por andarem fatigadas e abatidas como ovelhas sem pastor» e disse: «A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois,

» Através da oração, tal como Jesus sugere e fez, porque “as vocações ao ministério sacerdotal e à vida consagrada são fruto, primariamente, de um contacto constante com o Deus vivo e de uma oração insistente que se eleva ao «Dono da messe»”. ÊÊ Convidando aos que se sentem chamados, tal como Jesus convidou aos que o seguiram: - “a entrar na sua amizade”, - “a escutar de perto a sua Palavra”, - “a viver com Ele” e como Ele, na “dedicação a Deus e à propagação do seu Reino, segundo a lei do Evangelho: «Se o grão de trigo cair na terra e não morrer,

contemplar

fica só ele; mas, se morrer, dá muito fruto» (Jo 12, 24)”, - “a sair da sua vontade fechada, da sua ideia de auto-realização, para embrenhar-se noutra vontade, a de Deus, deixando-se guiar por ela”, - “a viver em fraternidade”. Resumidamente, convida-se “a ter o olhar fixo em Jesus, a conhecê-Lo intimamente, a escutá-Lo na Palavra, a encontrá-Lo nos Sacramentos e (…) a conformar a própria vontade à d’Ele”. ÊÊ Co-responsabilizando a todos, porque nos esquecemos frequentemente que a Igreja somos nós os cristãos, “através de uma pastoral vocacional atenta e adequada” e de “uma vida plenamente cristã”. ÊÊ Através de “todos os momentos da vida da comunidade eclesial – a catequese, os encontros de formação, a oração litúrgica, as peregrinações aos santuários – (porque) são uma ocasião preciosa para suscitar (…) o sentido de pertença à Igreja e a responsabilidade em responder, com uma opção livre e consciente, ao chamamento para o sacerdócio e a vida consagrada”.

acontece

> Ir. Maria João Garcia, FMA

> Pe. Juan Freitas, SDB

Maria, a Mãe, a Mestra e Guia �

Dur ante quarenta dias fizemos uma viagem ao nosso interior, agor a não podíamos deixar passar o mês de Maio sem uma saudação muito especial a Maria. Ela a Mãe, a Mestr a e guia, como nos ensinar am D. Bosco e M. Mazzarello.

Por breves momentos vamos estar com Ela, abrir-lhe o coração, falar-lhe e também escutar o que Maria tem para nos dizer. A vida de Maria é, em muitos aspectos, um modelo acessível para nós. Maria foi jovem, viveu entre os jovens e acompanhou o seu Filho jovem. Agora no céu vivendo com Jesus continua a compreender as ansiedades e desejos dos jovens.

Para ajudar a rezar: Coloca-te diante de Deus e medita nesta passagem do Evangelho. Jo 2, 1-11 (usa o teu Novo Testamento).

Depois de leres o Evangelho faz a seguinte meditação:

ÊÊ Medito na sensibilidade de Maria às necessidades dos outros e no seu papel de intercessora junto de Jesus. ÊÊ Olho para a minha vida e penso se estou atento/a às necessidades à minha volta... se faço tudo o que posso... e, se depois, as entrego a Jesus... Oração: Senhor, quero pedir-te: Com Maria, ajuda-me a viver generoso/a na entrega; a oferecer a minha vida como ela, a escutar a tua palavra em todo o tempo, a pôr em prática o Evangelho. Ajuda-me a viver solidário/a com os que sofrem, com aqueles que, hoje como ontem, não têm lugar no nosso mundo.

� Encontro com Dom Bosco em poiares No dia 28 de Março, depois das aulas, realizou-se em Poiares o primeiro «Encontro com Dom Bosco». Aceitaram o desafio 11 alunos do 3.º Ciclo e Secundário. Iniciámos o encontro junto ao monumento de S. João Bosco, reflectindo sobre o sentido da frase que lá se encontra: “Sede bons cristãos e honestos cidadãos”. Foi um encontro bem vivido. Ficamos à espera do próximo.


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a minha vez > Mafalda Monteiro, FMA

vocações com história > Pe. Manuel Mendes, sdb

“O que fez Deus em mim…” “Não estava sozinho no desejo em ser padre” Não posso dizer quando começou esta minha história, pois, desde que me lembro, Deus faz parte da minha vida através da presença e da fé da minha mãe. Ela sempre foi uma mulher grande, pois soube enfrentar as dificuldades e andar em frente, sempre com a ajuda de Maria – a Mãe e a Auxiliadora. Nunca me passou pela cabeça vir a ser irmã salesiana… Sempre fui uma rapariga que gostava de estar no ambiente salesiano onde a alegria, a festa e a oração se misturavam, mas ser “freira” não estava nos meus planos… Aos 16 anos fui convidada a dar catequese, achei que não era capaz, mas depois fui-me dando à causa – anunciar Jesus – e percebi que era algo que gostava e que me deixava feliz. Falava muito com os salesianos, e numa dessas conversas, o padre Luciano perguntou se eu já sabia o que gostaria de ser? Respondi logo que se fosse rapaz, gostaria de ser salesiano, mas como não sou… Deu-me rapidamente a informação que isso não era obstáculo, pois existem as salesianas. Colocou a possibilidade de ir visitá-las, o que me agradou… E foi assim que se deu início a esta aventura! Primeiramente fui passar um fim-de-semana… Fui conhecendo irmãs que me foram ajudando. Como a Ir. Rosita, que com o seu acolhimento e amizade, se foi fazendo presente… através de cartas, de telefonemas,… Deus encontra os seus caminhos! O tempo foi passando… nada me preenchia realmente… Gostava de estar nos encontros salesianos e no meio dos jovens, mas isso não bastava, tinha de encontrar o meu lugar! Aos 20 anos, fiz uma experiência que me marcou profundamente… Participei num encontro, o CampoBosco, que reúne portugueses e espanhóis nos lugares onde Dom Bosco e Maria Mazzarello viveram, onde descobriram a sua vocação, onde se deixaram tocar pelo amor de Deus… Foi nessa experiência salesiana que me encontrei e que recebi a força de Deus para avançar, para me colocar disponível à sua vontade sem medo… Sou irmã salesiana há 4 anos e vivo deste modo, consagrada a Deus, porque quero ser feliz, quero fazer a sua vontade… Disponível para todos e livre para amar a todos! Ser de Deus é a aventura mais radical que se pode fazer na vida… Queres apostar?

A minha família foi viver em Paredes, numa casa anexa à Igreja Paroquial, que pouco depois foi comprada pela paróquia. Daqui foi um salto para os meus pais tomarem conta da limpeza da igreja e do trabalho de sacristão. A partir daí a igreja tornou-se um “prolongamento da minha casa” e o adro o pátio das brincadeiras. Numa das sacristias, agora transformada em museu, tinha catequese de segunda a sexta, orientada por uma cristã admirável, de nome Ilda de Castro. A catequese foi a minha melhor escola de socialização. Iniciava às quatro da tarde e eu começava a “ser feliz uma hora antes”. Recordo as brincadeiras com os colegas, antes e depois, e as histórias bíblicas, sobretudo do Antigo Testamento, contadas pela catequista. Ela recebia o Cavaleiro da Imaculada, o Calendário, o Clarim, a Audácia, a Além-mar e eu devorava-as para, depois, juntamente com outros colegas, as distribuir e vender pela vila. Fascinavam-me os factos relacionados com as missões, a ponto de sonhar ser missionário. Simultaneamente à catequese ia fazendo a primária. Aqui encontrei outra mulher extraordinária de nome Ermelinda Garcês. Com ela aprendi a fazer introspecção e fortaleci a autoestima. E como não há duas sem três, a minha mãe acompanhava-me, ao modo de Nossa Senhora, observando em silêncio e guardando tudo no seu coração. Percebia isto quando rezava. Recordo ter lido numa das revistas que uma mãe, na oração do terço, rezava uma dezena para além das cinco habituais e que, interrogada sobre o facto, respondeu que era para ter um filho sacerdote. Como a minha mãe fazia o

mesmo, percebi que não estava sozinho no desejo em ser padre. Conhecia muito bem o nome dos Franciscanos, dos Combonianos, dos Jesuítas. A vida de S. João Bosco e a de S. Domingos Sávio eram-me familiares, mas nunca tinha ouvido a palavra “salesianos” e desconhecia-a completamente! Foi Dom Joaquim a abrir-me a porta. Em 1972 entrei no convento de Arouca juntamente com mais três conterrâneos. Era director o Pe. José Maria Ribeiro. No seu agir fui interiorizando o “ser salesiano”. Mais tarde descubri outra figura marcante pelo entusiasmo e alegria, o Pe. Álvaro Gomes. Fiz o liceu no Colégio dos Órfãos, onde vivi as crises da juventude. Foi então que encontrei uma comunidade excepcional pelo modo como se posicionava na vida. Recordo o Pe. Delfim Santos, o Pe. Rogério e em especial o Pe. Rocha com a Comunidade de Vida e descobri a “humanidade” de Deus.


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animais ferozes > Pe. Manuel Leal, SDB

cenas da vida em moçambique no dia seguinte tinham, talvez algum teste e em casa, ou melhor na palhota, não havia luz nem condições para estudar. Também me lembrei de muitos alunos que frequentam os nossos centros de formação profissional e que durante a manhã vão às aulas na escola secundária, mas à tarde vão ao Centro Profissional dos salesianos em busca de adquirir alguma competência prática que lhes permita ganhar a vida e a partir daí, muitas vezes, estudar e trabalhar se têm a sorte de encontrar emprego. Há alguns dias atrás tive que me deslocar de Moçambique a Portugal. Encontrei-me com várias organizações e pessoas, pois era essa a finalidade que me levava a realizar tão longa viagem. Num desses encontros estava a falar com uma mãe, quando entrou a sua filha; uma pré-adolescente que certamente ao fim de um dia de aulas se sentia cansada ou a quem talvez o dia de aulas não tinha corrido bem. Digo isto porque estando eu a falar com a mãe a certa altura referi-lhe que em Moçambique o ensino obrigatório ia apenas até à 7.ª classe. Comentário imediato desta menina: “mas que sorte, quem me dera que aqui também fosse assim”.

Lembrei-me também dos alunos e alunas da escola profissional de Inharrime que vêm de longe e não tendo ali familiares que os acolham, constroem a sua palhota aí perto da escola e aí vivem. Devem trazer de casa em cada fim-de-semana a sua comida e cozinhar para si próprios. Alguns passam mal porque não é raro que durante os bons dias algum desmaia, porque não tomou o pequeno-almoço ou se calhar nem jantou no dia anterior. Os salesianos com várias ajudas estão a procurar construir pequenas casas e apoio para que estes jovens possam ter melhores condições para poderem estudar.

A sua resposta foi ocasião para lhe referir algumas cenas da vida de estudantes da sua idade ou mais velhos. Lembro-me de ver, junto à estrada, indiferentes ao movimento dos carros ou das pessoas, jovens com os seus livros e cadernos a estudar aproveitando a luz do candeeiro da estrada. Provavelmente

A lista de histórias poderia continuar; quantas vezes por detrás do sorriso com que um jovem te saúda, se escondem verdadeiros heróis e heroínas que em condições tão difíceis, lutam até ao extremo porque acreditam e sonham que o futuro pode ser melhor.

Que sorte?

cartoon

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Bússola

Jornal da Equipa de Pastoral Vocacional Pe. Álvaro Lago alvaro.lago@salesianos.pt Ir. Alzira Sousa alzirasousa.fma@gmail.com Pe. David Teixeira david.teixeira@salesianos.pt Pe. João Chaves joao.chaves@salesianos.pt Pe. José Aníbal Mendonça anibal@salesianos.pt Pe. Juan Freitas juan@salesianos.pt Ir. Maria João Garcia mjoao.garcia@hotmail.com Propriedade da Província Portuguesa da sociedade Salesiana Rua Saraiva de Carvalho, 275 1399-020 Lisboa t: 21 090 06 00 f: 21 090 06 39 w. www.salesianos.pt Casa Salesiana Imaculada Conceição t: 22 589 80 45 f: 22 589 80 46 Fotografia da capa: © Tyler Olson, Dreamstime.com

vem aí � 1 de Maio Beatificação do Papa João Paulo II � 6 de Maio Dia de São Domingos Sávio � 9 de Maio Dia de Santa Maria Mazzarello � 9 a 15 de Maio Semana de Oração pelas vocações � 13 de Maio O salesiano (seminarista) Luís Almeida recebe, em roma, o ministério do acolitado. � 14 de Maio dia nacional do Mjs - Fátima � 24 de Maio festa de Nossa senhora auxiliadora

> judite Pereir a, ESAO - Funchal

sugestões > Pe. José Aníbal Mendonça, SDB

Youcat Catecismo Jovem da Igreja Católica

“Táctica para a Santidade”

É o Catecismo Jovem oficial da Jornada Mundial da Juventude de Madrid e transmite as verdades da fé cristã com uma linguagem adaptada aos jovens e uma apresentação gráfica atraente. Foi editado em 10 línguas diferentes.


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