“Práticas de Animação”
ano 10 | número 9 | outubro 2016
Índice CONSELHO DE REDAÇÃO | 4
EDITORIAL | 6
SEMANA DE ANIMAÇÃO DA ESEC: PRÁTICAS DE APRENDIZAGEM DE ANIMAÇÃO SOCIOEDUCATIVA EM CONTEXTO FORMAL E NÃO FORMAL | 7
PRÁTICAS DE LAZER: O EIXO ESPORTE E CULTURA DO PROGRAMA ESCOLA DA FAMÍLIA - SÃO PAULO/BRASIL | 32
EL PAPEL DE LA COMUNIDAD Y DE SUS ORGANIZACIONES EN LA ANIMACIÓN SOCIOCULTURAL | 50
FORMAÇÃO EM REDE NA CIDADE DE SÃO PAULO: SOBRE A INTERVENÇÃO COMUNITÁRIA COM BASE NA ABORDAGEM COLABORATIVA E NA ANIMAÇÃO SOCIOCULTURAL | 62
RETOS DE LA EDUCACIÓN SOCIOCULTURAL EN LA SOCIEDAD DIGITAL | 77
ANIMAÇÃO, ANIMADORES E MERCADO DE TRABALHO | 89
TRAJETÓRIAS DE VIDA E INTEGRAÇÃO SOCIAL DE JOVENS PÓS-INSTITUCIONALIZADOS. ESTUDOS DE CASO NA CASA PIA DE LISBOA (2002-2011) | 128 PAPEL DEL DEPORTE EN UN GOLPE DE ESTADO “SUAVE”, EN LA GLOBALIZACIÒN: MUNDIAL Y JO EN BRASIL 2016. ¿OTRO DEPORTE ES POSIBLE? | 151
LA HERENCIA EN LA CULTURA DOMINICANA | 206
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Ficha Técnica Diretor: Albino Luís Nunes Viveiros E-mail: albinoviveiros@netmadeira.com E-mail da revista: revistapraticasdeanimacao@gmail.com Design/ Paginação: Elisa Franco Catanho Coordenação de conteúdos: Cláudia Paixão Textos (os artigos assinados são da inteira responsabilidade dos seus autores): António Manuel Rodrigues Ricardo Baptista, Cathia Alves, Eloy Altuve Mejìa, Fabián Vilas, Filipa Canavarro Morais, Hélder Ferreira Isayama, Jose Francisco Jimenez, José Rosado Medinas Martins, Juliana Pedreschi Rodrigues, Mário Montez, Mario Viché Gonzalez e Paula Caroline de Oliveira Souza. Periodicidade: Anual Número atual: Ano 10 - N.º 9, outubro 2016 | outubro 2017 ISSN: 1646-8015 Revista com refere
Projeto de intercâmbio editorial «Animação Digital» (para aceder às revistas Quaderns d’ Animació i Educació Social e Animación, territórios y prácticas socioculturales clique no logo «AD»):
Apoio:
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Conselho de Redação Prof. Doutor Victor J. Ventosa Universidade Pontifícia de Salamanca | Rede Iberoamericana de Animação Sociocultural
Prof. Doutor Marcelino Sousa Lopes Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Prof. Doutor Victor Melo Universidade Federal do Rio de Janeiro | Grupo de Pesquisa "ANIMA"
Prof. Doutor Avelino Bento Instituto Politécnico de Portalegre/ Escola Superior de Educação
Prof. Doutor Mário Viché Universidad Nacional de Educación a Distancia | Revista Quaderns d' Animació i Educació Social
Prof. Doutor Jean Claude Gillet Universidade de Bordeaux
Prof. Doutor Xavier Úcar Martinez Universidade Autónoma de Barcelona
Prof. Doutora Ana Piedade Instituto Politécnico de Beja/ Escola Superior de Educação | Rede CRIA
Dr. Manuel Martins Revista Anim'Arte 4
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Dr. José Vieira Instituto Português de Juventude
Dr. Albino Viveiros AIASC – Associação Insular de Animação Sociocultural
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Editorial Albino Viveiros
O campo de reflexão e intervenção da animação sociocultural é multidisciplinar e é neste contexto que é publicado o número atual da Práticas de Animação. Os artigos agora publicados revelam a pluralidade da intervenção na perspectiva da animação sociocultural, a multiculturalidade do pensamento e da ação. A Práticas de Animação ao longo dos números editados foi fazendo um trajeto próprio, definiu a sua própia identidade editorial, sem deixar de fora áreas do saber que entendemos serem transversais à animação sociocultural e consequentemente deverão ser foco de estudo por partes dos animadores. O número atual revela o alcance e notariedade que o projeto alcançou no meio académico, entre os animadores socioculturais no território nacional e iberoamericano. As latitudes e longitudes têm contribundo para o fortalecimento, para as aprendizagens e partilha de conhecimento sobre os espaços de intervenção da animação sociocultural e o papel determinante que os animadores socioculturais desempenham na transformação social de grupos e comunidades. Esperamos que a consolidação da revista seja um convite espontâneo para que outros se animem e, contribuem ativamente com o seu pensamento e práticas.
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Semana de Animação da ESEC: práticas de aprendizagem de animação socioeducativa em contexto formal e não formal Filipa Canavarro Morais, Socióloga* Mário Montez, Animador Sociocultural** Escola Superior de Educação do Instituto Politécnico de Coimbra
Resumo Com o evento Semana de Animação, cuja descrição é o objectivo deste texto, pretendeu-se dar aos estudantes a oportunidade de, simultaneamente, aplicar as bases teóricas da Animação Comunitária, aprender fazendo e tomar contacto com algumas dificuldades e, portanto, desafios que são colocados ao animador no terreno, quando tenta transformar um projeto que idealizou numa intervenção concreta. Acreditou-se que esta estratégia de ensino, no contexto do curso de Animação Socioeducativa, poderia estimular nos estudantes qualidades como criatividade, espírito de iniciativa, capacidade de trabalho em equipa, autonomia, resiliência e responsabilidade.
Este texto apresenta pois duas experiências de aprendizagem prática de animação socioeducativa realizadas no ensino superior e desenvolvidas num contexto aproximado à realidade de intervenção, aproveitando a escola como espaço complexo e dinâmico, bem como os diversos âmbitos de intervenção que possibilita. Ambas as experiências foram realizadas na Escola Superior de Educação de Coimbra, no âmbito do curso superior de Animação Socioeducativa nos anos 2015 e 2016.
Palavras-chave: animação socioeducativa; aprendizagem pela prática; ensino superior; pedagogia de projecto; dinamização de espaços e momentos de lazer; participação; integração social. “Give the pupils something to do, not something to learn; and the doing is of such a nature as to demand thinking; learning naturally results.” J. DEWEY (1916) Democracy and Education: An Introduction to the Philosophy of * fmorais@esec.pt Professora responsável pela realização da Semana de Animação da ESEC. ** montez@esec.pt Professor responsável pela realização da Semana de Animação da ESEC. 7
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Education “If there is any characteristic that is distinctively human it is the capability for reflective self-consciousness.(…) Among the types of thoughts that affect action, none is more central or pervasive than people's judgments of their capabilities to deal effectively with different realities”). A. BANDURA (1986) Social Foundations of Thought and Action: A Social-Cognitive Theory “É fundamental diminuir a distância entre o que se diz e o que se faz, de tal maneira que num dado momento a tua fala seja a tua prática.” Paulo Freire
Introdução Animação que se anima a si mesma.
Quem passou, em Abril de 2015, pela Escola Superior de Educação de Coimbra deparou-se com jovens estudantes, professores e estudantes da Escola de Educação Sénior sentados em baixos sofás coloridos, conversando animadamente. Eram pequenos sofás individuais feitos de pneus e de trapos de vários padrões que, numa iniciativa de reciclagem, davam cor e assento ao espaço exterior da escola, criando novos lugares de convívio em constante mutação. Estas peças de mobiliário urbano exterior permaneceram ali depois da Semana de Animação 2015, e assim se criou um lugar novo e uma diferente forma de estar na escola.
Em Abril de 2016 já não havia sofás reciclados; a chuva e o sol tiveram também a sua acção interventiva. Contudo, viram-se mesas dispostas no claustro e tendas erguidas no pátio, nas quais se apresentaram associações e projectos sociais, onde se experimentaram curiosidades de outras culturas e provaram delícias de outros lugares do mundo, e onde representantes de vários partidos e movimentos políticos discutiram a participação cidadã como factor essencial à consolidação da democracia, não tivesse a animação socioeducativa em vista a consciencialização para a participação das pessoas na vida política da sociedade.
São estas transformações e acções de consciencialização, reflexão, capacitação e mobilização que aqui se apresentam, revisitando os dois primeiros anos da realização da iniciativa Semana de Animação da ESEC.
A Semana de Animação foi uma iniciativa interdisciplinar do curso de Animação Socioeducativa (ASE) que se realizou na Escola Superior de Educação de Coimbra (ESEC) em Abril de 2015 com o sub-título ESECONNECTING PEOPLE e em Abril de 2016 com o sub-título PARTICIPAÇÃO CIDADÃ. A iniciativa surgiu da necessidade e vontade, já antigas, de ensinar Animação 8
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Socioeducativa em contextos práticos que articulassem várias unidades curriculares, diversos recursos e um universo variado de desafios. Justo será referir que surgiu também na sequência de experiências anteriores de operacionalização das técnicas e princípios teóricos que enquadram as intervenções comunitárias, nomeadamente, no seguimento da iniciativa Semana Cultural, realizada no âmbito da unidade curricular Técnicas de Animação Comunitária, do 1º ano do curso.
Através da concepção e implementação de projetos de animação comunitária, desenvolvidos em equipas de trabalho que envolveram diferentes turmas, os estudantes do curso de Animação Socioeducativa puderam pôr em prática diversas competências definidas no programa do curso, trabalhando em contexto real de intervenção e usando a escola como laboratório. Tiveram também, uma vez mais à semelhança do trabalho desenvolvido em anos anteriores, a oportunidade de desenvolver práticas que se consideram relevantes para o seu futuro profissional, mas desta feita envolvendo um número crescente de alunos e docentes e iniciando uma colaboração com outras organizações. A iniciativa inseriu-se num projecto mais lato que abrangeu, enquanto organizadores e desde a sua concepção, alunos e docentes das unidades curriculares de Concepção de Projectos de Intervenção Comunitátia (CPIC), Metodologias de Investigação-Acção (MIA), Atelier de Projectos de Intervenção (API) e Técnicas de Animação Comunitária (TAC), e, mais recentemente, de Gestão de Equipamentos, Recursos e Infraestruturas Locais (GERIL) dos 1º e 2º anos do curso, dos regimes diurno e pós-laboral.
Na fase de implementação contou-se, em 2015, com uma parceria com a Casa da Esquina, associação sociocultural com acção em Coimbra, que nos propôs iniciar na ESEC um périplo do seu projecto Encontrar a Cidade que tinha como objectivo criar espaços vivos e informais de convívio e de aprendizagem. A configuração desses espaços era conseguida por um conjunto de sofás individuais feitos de pneus reaproveitados forrados de tecidos e trapos velhos. Contou-se também, a partir de 2015, com a colaboração da Escola de Educação Sénior-Instituto IHumanus a que se juntaram, em 2016, alunos e docentes de outras UCs do curso de ASE, dos cursos de Desporto e Lazer e de Turismo, assim como outras organizações de âmbito local e regional.
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Figura 1 Convívio nos Sofás da Casa da Esquina Dinamização e aproveitament o do espaço exterior da escola
Descreve-se seguidamente a experiência de concepção e organização desta iniciativa enquanto processo de aprendizagem e operacionalização de metodologias e técnicas de animação sociocultural e educativa. A iniciativa visou, igualmente, dar a conhecer o trabalho desenvolvido no curso de ASE a colegas (alunos e funcionários da ESEC,) alunos da Escola de Educação Sénior e a todos aqueles que, não fazendo parte da escola participaram nas atividades da semana (como público e/ou como intervenientes).
Figura 2 Talent Show Participação de alunos da Escola de Educação Sénior e Erasmus no espetáculo de mostra de talentos dos alunos
A Semana de Animação procurou ainda proporcionar a interacção entre diferentes pessoas e serviços da escola e com entidades exteriores à mesma (através de colaborações, parcerias ou patrocínios), favorecendo um primeiro contacto com ferramentas pertinentes para o trabalho de animação socioeducativa.
Da apreciação geral dada pelos vários implicados, concluímos que a Semana de Animação se 10
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tem tornado claramente um marco de aprendizagem prática e do trabalho interdisciplinar do Curso de Animação Socioeducativa, para os restantes membros da comunidade esequiana, uma ocasião de participar num evento que procurou conjugar dimensões formativas, lúdicas, culturais, de convívio e debate cívico.
I – PROPOSTA A Animação na teoria e na prática
A SEMANA DE ANIMAÇÃO contemplou um leque diversificado de atividades que corresponderam aos vários âmbitos de intervenção em animação socioeducativa. Estas atividades foram dirigidas aos interesses e necessidades dos participantes/público-alvo que os alunos identificaram com base em diagnósticos prévios e foram subordinadas aos temas “Integração Social” em 2015 e “Participação Cidadã” em 2016. Os temas foram suficientemente abrangentes e desafiadores para permitir o surgimento de uma grande variedade de propostas pelos diferentes grupos, tendo tido os alunos liberdade nas suas escolhas e sido responsabilizados por estas e por todos os aspetos do seu planeamento e concretização. A proposta foi apresentada no início do ano aos alunos e alunas, de forma a que o trabalho desenvolvido se orientasse na direcção das temáticas definidas.
Figura 3 Educação de Adultos Preparação de Workshop na área da literacia científica realizado por docentes do Curso de ASE convidadas a participar no evento
O envolvimento dos alunos foi imediato após a proposta do tema: desde a recolha de informação para a realização de diagnósticos e fundamentação teórica das suas intervenções, à definição de objetivos, elaboração de programas, cronogramas e orçamentos, até à implementação propriamente dita dos seus projetos de intervenção, todos se envolveram num 11
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trabalho que se prolongou por vários meses. A responsabilidade por estas fases do trabalho foi repartida por todos os alunos e alunas envolvidos, tendo os docentes procurado que os alunos do 2º ano do curso ficassem com as questões de fundo e decisões mais estratégicas tais como:
a) identificar problemas no âmbito dos temas integradores propostos como ponto de partida da intervenção. b) elaborar um diagnóstico de base para a intervenção; c) identificar os principais recursos a mobilizar; d) definir os objectivos e os resultados esperados da intervenção; e) desenhar a avaliação contemplando indicadores e instrumentos de comprovação; f) propor, em escala aberta, as acções a desenvolver para atingir os objectivos: g) elaborar o orçamento geral para a intervenção.
As turmas do 1º ano foram desafiadas a conjugar o seu trabalho com o dos colegas do 2º ano, numa lógica de equipa operacional, ficando responsáveis por questões mais práticas, mas igualmente relevantes, tais como: definir as atividades mais apelativas e adequadas para concretizar os objectivos gerais; responder às necessidades e interesses de grupos específicos identificados; identificar e gerir recursos humanos, técnicos e institucionais e materiais para a operacionalização das actividades; avaliar as condições facilitadoras e potenciais limitações e barreiras à concretização das actividades; produzir materiais diversos de suporte à realização das actividades; conceber os melhores instrumentos de divulgação para promover a participação da população-alvo; encontrar alternativas possíveis para o financiamento das atividades propostas; dinamizar e apoiar a realização das actividades;
definir instrumentos de auto e hetero-avaliação.
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Figura 4 Teatro do Oprimido Momento de discussão e avaliação da Actividade com os alunos do Curso de Teatro e Educação
II – PROCESSO Dos problemas às actividades.
A SEMANA DE ANIMAÇÃO visou, entre outros objectivos, pôr em prática competências associadas aos conteúdos das diferentes UCs do Curso de Animação Socioeducativa já acima apresentadas. Na sua quase totalidade, as tarefas desenvolvidas pelos alunos no âmbito desta iniciativa tiveram, como referido, o propósito de os colocar numa situação mais próxima dos contextos reais de intervenção em animação socioeducativa, em contacto com problemas relacionados com a identificação e gestão de recursos técnicos, materiais e humanos, das condições favoráveis à realização das actividades e dos constrangimentos logísticos ou burocráticos. Procurou também sensibilizá-los para a necessidade de saber trabalhar em parceria com diferentes pessoas e instituições, adaptando as formas de comunicação aos seus diferentes interlocutores. Por fim, foi solicitada aos alunos, já no final do semestre lectivo, uma avaliação do seu desempenho que incluísse a cobertura, participação, eficácia, eficiência do trabalho realizado, os aspectos positivos e negativos do trabalho de grupo e o relacionamento entre os seus membros.
Na U.C. de Técnicas de Animação Comunitária (TAC) do 1º ano, as atividades concebidas e implementadas pelos alunos consistiram em colocar em prática, especificamente, alguns dos conteúdos da disciplina:
Numa fase de Diagnóstico, e segundo os princípios e âmbitos da animação comunitária definidos S. F. Quintas (1998) e E. Ander-Egg (2001), foi solicitado aos alunos do primeiro ano 13
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– UC de Técnicas de Animação Comunitária, que realizassem: a) uma caracterização do contexto sociocultural da comunidade nos seus vários aspectos: sociais, demográficos, educativos, económicos, etc.; b) a detecção dos principais problemas, carências e centros de interesse da comunidade-alvo da intervenção; c) a identificação de meios e condições favoráveis e desfavoráveis à intervenção comunitária, avaliação dos recursos disponíveis, do grau de consciência e da capacidade de participação e intervenção do grupo em análise.
Na fase de Planeamento, os alunos tiveram como responsabilidade: a) a definição de objectivos gerais e específicos das actividades da intervenção com base numa metodologia participativa; b) a mobilização dos recursos humanos (individuais e colectivos) e materiais disponíveis; c) a calendarização das actividades, distribuição de tarefas e responsabilidades e escolha dos espaços.
Figura 5 Street Art Preparação do espaço da Atividade (Grafitti e Hip hop)
Na fase de Execução, foi solicitada aos alunos a realização de atividades culturais/de difusão, artísticas, de formação, lúdicas e de carácter social, tendo a classificação proposta por AnderEgg servido como ponto de partida e base de constituição das equipas de trabalho, uma vez que posteriormente lhes foi dada a liberdade pela escolha das atividades concretas a desenvolver. 14
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Figura 6 Tabuleiro Humano Jogo de perguntas e respostas em que os alunos são os peões num tabuleiro gigante
No que se refere à UC de Concepção de Projetos de Intervenção Comunitária (CPIC), foi proposta aos alunos a concepção de um projecto de turma que respondesse aos temas apresentados e que contemplasse um planeamento estratégico e operacional capaz de integrar actividades a realizar em conjunto com os colegas do 1º ano, tornando os alunos do 2º ano os coordenadores do projecto. No âmbito deste projecto foram ser planeadas, pelo menos, duas actividades numa lógica de laboratório, sendo que uma das actividades seria realizada no contexto da Semana de Animação e outra no contexto de intervenção de uma instituição.
Figura 7 Voluntariozani a Mostra de Instituições que desenvolvem no terreno trabalho de voluntariado
A UC de Atelier de Projetos de Intervenção (API), sendo uma UC prática, serviu de base para a execução, monitorização e avaliação das actividades. Neste contexto foram definidos os instrumentos para monitorização do processo e de registo das actividades, tais como: quadros de tarefas e de responsabilidades; fichas de evolução; fichas de registo; etc.
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Em 2016, integrou-se também a UC de Gestão de Equipamentos, Recursos e Infraestruturas Locais (GERIL), que serviu de base à coordenação da Semana de Animação, senda cada equipa de trabalho responsável por uma tipologia de tarefa necessária à boa realização da iniciativa, desde a Coordenação Geral à Comunicação, logística, relações públicas, gestão de recursos e formalidades.
A fase de implementação do trabalho preparado pelas duas turmas consistiu na realização da Semana de Animação propriamente dita durante uma semana no mês Abril, tendo-se definido como responsabilidades dos animadores/as em formação, nesta fase, dinamizar e favorecer a participação, comunicação e coesão dos grupos. Foi-lhes solicitado também que, logo nesta fase, estivessem criados mecanismos de acompanhamento e de auto e do projecto, que se prolongou depois por um período de reflexão posterior a essa semana (em que se consideraram aspectos diversos como a cobertura da intervenção, a eficácia do trabalho realizado, o aproveitamento dos recursos disponíveis ou a articulação entre as equipas de trabalho e entre os seus membros).
Figura 8 Survival Actividade no exterior com o Curso de Desporto e Lazer
O processo de desenvolvimento da SEMANA DE ANIMAÇÃO seguiu genericamente, por todos os envolvidos, e nos dois anos considerados a seguinte sequência de trabalho: ● Diagnóstico e investigação; ● Planeamento; ● Divulgação e Mobilização para a Participação; ● Execução do Projecto: as Atividades; ● Avaliação. 16
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O quadro 1 apresenta a sitematização deste processo.
Quadro 1: Sistematização da Concepção da Semana de Animação Tarefa
Unidade Curricular
Com quem
Diagnóstico e
Concepção de Projectos de
-----
planeamento de um
Intervenção Comunitária
projecto sobre integração de novos alunos na ESEC Investigação sobre o
Metodologias de
problema para
Investigação-Acção
-----
diagnóstico Execução e avaliação
em conjunto
de uma das
Atelier de Projectos de
com o 1º
actividades definidas
Intervenção
ano
no planeamento Coordenação da
-----
execução e da avaliação da actividade Avaliação de uma
em conjunto
actividade executada
com o 1º
por outra equipa
ano
Execução e avaliação
em conjunto
da actividade
Técnicas de Animação
com o 2º
Comunitária
ano
Avaliação de uma
em conjunto
actividade
com o 2º
executada por outra
ano
equipa
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Figura 9 Conta-me como foi Testemunhos dos alunos da Escola de Educação Sénior sobre o 25 de Abril
1. Diagnóstico e Investigação.
Em 2015, o projecto teve como ponto de partida a problemática da integração de novos estudantes na ESEC”. Em 2016 a temática proposta partiu do problema da pouca participação dos jovens nas tomadas de decisão políticas e na promoção da cidadania.
Figura 10 Uma escolha feita por ti e para ti Quizz sobre participação política e cidadania
A partir destas problemáticas os estudantes identificaram problemas num processo de diagnóstico que contou com: a) Elaboração de análise SWOT para definição dos pontos fortes e das fraquezas que se apresentavam no contexto da intervenção e para perspectivação das oportunidades, assim como das ameaças que poderiam advir de um projecto nesta área ou que o seu contexto pudesse apresentar. b) Elaboração de Paisagem Organizacional para identificação dos actores colectivos e individuais locais e seu posicionamento face à temática do projecto, podendo desde logo identificar possíveis parcerias. 18
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c) Simulação de um atelier de levantamento de problemas, com base na técnica dos cartões (METAPLAN). d) Componente exaustiva de investigação quantitativa e qualitativa para identificação, validação, caracterização e compreensão dos problemas, utilizando técnicas e instrumentos específicos de recolha e de análise de dados. e) Técnicas de recolha de dados: conversas informais, questionários e entrevistas. f) Elaboração de quadros de diagnóstico que contemplassem as causas e os problemas associados a cada problema, os grupos mais afectados, os recursos disponíveis e as necessidades identificadas pelos vários grupos da população para a resolução de cada problema g) tratamento estatístico dos dados recolhidos.
Após estes procedimentos, foram apresentados os seguintes problemas principais e identificadas as necessidades, como se demonstra no quadro 2:
Figura 11 Comida e Cultura do Mundo Aluna Erasmus representando a República Checa no evento
Figura 12 Comida e Cultura do Mundo Gastronomia dos países lusófonos apresentada pelos alunos de Turismo no evento de streetfood
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Quadro 2: problemas e necessidades identificados.
2015 TEMA
PROBLEMA
Necessidades
2016 Integração de novos estudantes na ESEC
Participação cidadã/ participação dos jovens na tomada de decisão política e na promoção da cidadania
1. Falta de espaços promotores de interação entre os membros da comunidade da ESEC. 2. Dificuldades sentidas a nível de informação, pelos alunos das 1ª e 2ª fase, quando chegam à ESEC. 3. Falta de informação sobre os espaços da ESEC. 4. Dificuldade de integração social e académica dos estudantes de 2ª e 3ª fases e dos trabalhadores estudantes . 5. Pouca integração dos alunos Erasmus. 6. A praxe feita aos novos alunos é desadequada à integração, afastando os alunos da escola. 7. Os alunos e alunas do Pós-Laboral não têm acesso à maioria das iniciativas de integração, acolhimento e socialização, devido ao horário das aulas. 8. Degradação e abandono dos espaços potencializadores de socialização e de actividades socioculturais. 9. Inexistência de ocasiões e iniciativas de convívio entre alunos, docentes e funcionários.
1. Muitos jovens não estão motivados para participar, nomeadamente, para desenvolver acções de voluntariado. 2. A participação está condicionada às condições sociais, em particular, de inclusão e de exclusão social; 3. A participação cidadã está condicionada às diferenças culturais. 4. O nível de literacia tem influência na capacidade e na motivação para a participação. 5. A pouca participação dos alunos e alunas na ESEC prende-se com a falta de conhecimento dos ógãos de gestão da ESEC. 6. Desinteresse dos alunos da ESEC pela tomadas de decisão em assuntos referentes à escola. 7. Falta de conhecimento dos alunos sobre os seus direitos e deveres e dos regulamentos dos cursos. 8. Falta de conhecimento do papel de órgãos como a Assembleia de Representantes, o Concelho Pedagógico e a Associação de Estudantes, e da forma como os alunos podem ser representados e/ou eleitos para estes órgãos. 9. Apesar de ser fácil promover o debate e reunir consenso entre os alunos relativamente a problemas que os afectam, posteriormente estes não sabem como e a quem comunicar essa informação.
1. Modificar os claustros de forma a criar espaços de convívio. 2. Dinamizar a cantina, bar e sala de estar anexa. 3. Desenvolver uma melhor interação entre alunos, docentes e funcionários. 4. Informar os alunos sobre os espaços e serviços da ESEC. 5. Inclusão e integração dos estudantes do 1º ano. 6. Integrar os alunos Erasmus em espaços de convívio comuns.
1. Fazer com que os alunos intervenham nas atividades propostas pela ESEC; 2. Consciencializar os alunos acerca da importância da participação cidadã; 3. Combater o facto de os alunos não participarem nas tomadas de decisão referentes à escola; 4. Os jovens explicarem o porquê de não se sentirem importantes nas tomadas de decisão; 5. Actividades específicas para a promoção de contacto entre alunos do regime diurno e pós-laboral.
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2. Planeamento
O planeamento do projecto de intervenção foi também desenvolvido no primeiro semestre e contemplou a definição de um objectivo principal, de três objectivos específicos, indicadores, fontes de comprovação, actividades, seus resultados esperados, recursos e tempos de realização. O planeamento foi apresentado por cada equipa tendo por base o diagnóstico e utilizando como instrumentos: a) Quadro Lógico ou Matriz de Enquadramento Lógico. b) Quadros de planeamento que demonstrem a relação entre: Problemas e Objectivos/ Necessidades e Actividades.
Embora cada equipa tenha trabalhado na concepção do seu projecto, o projecto global foi criado a partir dos aspectos diferenciadores de cada projecto de cada equipa. Assim, cada equipa ficou associada à definição e à formulação de um objectivo específico e de um conjunto de duas actividades a realizar no segundo semestre. Destas duas actividades uma foi realizada sob a total responsabilidade de cada equipa do 2º ano, outra por uma equipa mista formada por estudantes do 1º e do 2º ano e ainda outra atividade proposta e realizada pelos alunos do 1º ano. A primeira actividade dos alunos do 2º ano foi realizada em qualquer contexto socioterritorial e a segunda actividade (equipa mista) integrou-se na iniciativa Semana de Animação da ESEC. Os alunos do 1º ano realizaram as actividades na ESEC que foi definida como a comunidade-alvo da intervenção. Neste texto focar-nos-emos somente nas actividades realizadas neste último contexto.
No que respeita aos objectivos e actividades, configurou-se, na generalidade, o projecto conforme se apresenta no quadro 3.
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Quadro 3: Planeamento geral dos projetos.
2015
2016
TEMA
Integração de novos estudantes na ESEC
Participação cidadã/ participação dos jovens na tomada de decisão política e na promoção da cidadania
Objectivo Principal
Contribuir para a integração de novos e novas estudantes da ESEC, promovendo momentos de convívio entre os estudantes, docentes e funcionários durante o 2º semestre do ano letivo 2014/2015.
Contribuir para a participação cidadã dos jovens através da consciencialização para as questões de cidaddania e de tomada de decisão nas esferas que lhes são mais próximas, por meio de atividades socioeducativas realizadas no 2º semestre do ano letivo 2015/16.
Objectivos Específicos
1. Animar os espaços de interação social da ESEC 1. Dar a conhecer os órgãos de gestão e de representação existentes na ESEC e os (claustros, bar e cantina) com 10 atividades lúdico- órgãos de soberania nacional através de atividades que envolvam 100 alunos da pedagógicas que envolvam 50 alunos do primeiro ano da ESEC e de outros estabelecimentos de ensino, no 2º semestre de 2015/16. ESEC, ao longo do 2ºsemestre de 2014/15. 2. Colocar em contacto os alunos do curso de ASE com outras realidades culturais 2. Realizar 2 actividades que dêem informação clara sobre existentes em Coimbra que se encontram condicionadas à participação política, em os espaços da ESEC, envolvendo 50 alunos, 5 docentes e 4 Abril 2016. funcionários da ESEC, até ao final de Maio de 2015. 3. Envolver 100 alunos da ESEC em atividades que os coloquem em contacto direto 3. Melhorar o atendimento a nível dos Serviços com 5 organizações sociais e 3 organizações políticas com acção directa na Académicos, através da criação de um grupo de alunos do sociedade, durante o 2º semestre de 2015/16. 1º e 2ºano de ASE que apoie a integração e o processo administrativo dos novos estudantes no próximo ano lectivo.
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3. Divulgação e Mobilização Tanto em 2015 como em 2016, a responsabilidade pela escolha e implementação das estratégias de divulgação do evento e a mobilização dos membros da comunidade esequiana foi também atribuída aos alunos, tendo em conta os grupos-alvo e âmbitos específicos de cada equipa. Os resultados do ano de 2015 no que se refere à participação de alunos e funcionários da ESEC serviram de base para um repensar das estratégias de comunicação, designadamente para adaptar cada formato ao interlocutor em causa. Neste sentido, os alunos optaram por estratégias como utilizar o site da escola e grupos do facebook, elaborar cartazes e desdobráveis, fazer convites pessoais e formais, exibir vídeos nas salas de aula, entre outros.
A título de exemplo, a actividade ASE Óscar Awards foi um evento mais dirigido ao curso de AnimaçãoSocioeducativa com vista a reunir alunos e professores do regime diurno e póslaboral (embora fossem também premiados funcionários da escola); semanas antes da actividade foram colocados teasers (cartazes) que iam chamando atenção para o evento mas sem divulgar o que se iria passar, onde ou quando. Só num momento próximo à realização da actividade é que foram conhecidos os seus pormenores, de forma a que o evento surpreendesse toda a escola, e, de facto, esta gala veio a ser comentada um pouco por toda a escola nas semanas seguintes.
Figura 13 ASE Oscars Awards Alguns dos premiados
Uma tarefa conjunta do ano de 2015 foi a definição de um título para a Semana de Animação, tendo em conta a temática principal da “Integração Social” e do tema específico “integração dos novos estudantes na ESEC”. O título seleccionado pelas turmas foi ESECONNECTINGPEOPLE, numa alusão à expectativa de que o projecto promovesse coesão social no seio da comunidade da ESEC. Na sequência desta tarefa foi realizado outro concurso de ideias entre primeiro ano (diurno e pós-laboral) e o segundo ano, de onde surgiu a proposta 23
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de um logotipo para este evento que simbolizasse a comunidade e o trabalho do animador (utilizado também na edição de 2016 da semana de Animação.) (Fig. 14). Figura 14 – Logotipo vencedor
Os cartazes que seguidamente se apresentam sintetizam as atividades realizadas durante a Semana de Animação, forneceram as informações necessárias aos eventuais participantes interessados (actividades, horários, locais, etc.). Pretenderam não só favorecer a participação nas atividades mas cumprir alguns requisitos programáticos como a elaboração de materiais de divulgação. Figura 15 – Cartaz de Divulgação da Semana de Animação 2015
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Figura 16 – Cartaz de Divulgação da Semana de Animação 2016
4. Implementação (execução) dos Projetos
Foi no segundo semestre que se implementaram as atividades, no contexto da unidade curricular de Atelier de Projetos de Intervenção (2º ano) e de Técnicas de Animação Comunitária (1º ano) com equipas mistas. Durante a implementação das actividades estas sinergias foram reforçadas, procurando-se dos alunos e alunas uma aprendizagem colaborativa numa lógica de educação pelos pares.
Figura 17 Torneio Intercursos Alunas/os de diferentes cursos nas bancadas
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Outras sinergias foram desenvolvidas com decorrer do processo foram criadas com as UC de Atividades Lúdicas, do curso de Desporto e Lazer, de Organização de Eventos e Marketing, do curso de Turismo. Igualmente foram potencializadas relações com grupos de estudantes, docentes, serviços da ESEC e com pessoas externas à escola, tais como artistas, desportistas, oradores, membros de partidos e de movimentos políticos locais. Foram também criadas parcerias com organizações como a Associação de Estudantes, associação Casa da Esquina e Escola de Educação Sénior do Instituto IHumanus, entre outras organizações locais. Em cada ano tomaram parte na organização da SEMANA DE ANIMAÇÃO cerca de 70 estudantes de Animação Socioeducativa e form envolvidos mais de uma centena de participantes (em cada ano).
As imagens que se seguem são o registo da participação de alunos e docentes de outros cursos bem como de pessoas e instituições exteriores à escola no evento Semana de Animação.
Figura 18 Suporte Básico de Vida Formação dada pelos Bombeiros
Figura 19 Danças de Salão Demonstração no Baile para a Escola Sénior
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Figura 20 Workshop
Alimentação Saudável
Figura 21 Zumba Atividade Física e Dinamização do Campo de Jogos
Figura 22 Cultura Oriental Workshop de caligrafia japonesa e chinesa
As actividades propostas nos projectos de CPIC, pelos alunos do 2º ano, foram apresentadas e discutidas por cada equipa, ao mesmo tempo que se aferiram as condições para a realização das mesmas ou definiram as reformulações necessárias para a realização de cada actividade.
Aos grupos de estudantes do 1º ano (cada um responsável por um dia da semana) coube ainda o desafio de proporem e de realizarem por si mesmos uma actividade que respondesse ao 27
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objectivo principal do projecto. Todas as actividades procuraram, de alguma forma, responder às necessidades identificadas e contribuir para a resolução dos problemas também identificados no diagnóstico.
Deste trabalho cooperativo surgiram planos de actividades/programas para as duas edições da Semana de Animação que se apresentam nas figuras 23 e 24.
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Figura 23 - Programa da Semana de Animação 2015:
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Figura 24 – Programa da Semana de Animação 2016:
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CONSIDERAÇÕES FINAIS Do currículo à realidade.
Perante o impacto que esta iniciativa teve na ESEC, sucedendo o sucesso que a Semana Cultural já tinha obtido nos quatro anos anteriores, a Semana de Animação mostrou ter condições para se afirmar como uma referência de aprendizagem prática do curso de animação socioeducativa. Os efeitos da iniciativa alargaram-se a alunos e docentes de outros cursos, assim como a funcionários e a organizações que aderiram, tornando-a numa ocasião de animação da Escola Superior de Educação de Coimbra.
As actividades realizadas mostraram a possibilidade de conciliar aprendizagens de teor pedagógico (workshops, acções de formação, debates, conferências) com actividades de carácter lúdico e cultural (concursos, jogos, música, dança, arte urbana, gastronomia, artesanato, etc.) concretizando os desafios e os princípios da animação socioeducativa.
Uma vez que não há animação sem haver gente que a anime, salientamos o empenho das alunas e dos alunos de ASE que acolheram a proposta de braços abertos, encararam as dificuldades como desafios e viveram o processo como uma mais-valia para a sua formação em animação socioeducativa.
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PRÁTICAS DE LAZER: O EIXO ESPORTE E CULTURA DO PROGRAMA ESCOLA DA FAMÍLIA - SÃO PAULO/BRASIL Cathia Alves1 Hélder Ferreira Isayama2
Resumo As ações do Programa Escola da Família têm como objetivo ocupar o espaço escolar aos fins de semana com atividades/oficinas educativas, culturais e esportivas a partir de quatro eixos: saúde, trabalho, cultura e esporte. O estudo em questão combinou a pesquisa bibliográfica, de campo e documental para identificar as práticas educativas de lazer em um conjunto de escolas de uma Diretoria de Ensino Regional no interior do Estado de São Paulo. O Programa ocorre em vinte oito escolas, selecionamos três unidades para caracterização desse estudo. Os dados apontam que eixo da cultura promove a maioria das vivências e expressões, oferecendo oportunidades de vínculos sociais, culturais e afetivos e junto com o eixo dos esportes contemplam participantes de diferentes idades, predominando o público de crianças e adolescentes. De maneira geral, as práticas incluem processos educativos divertidos, expressivos e envolvem contextos de representações sociais com significados variados, desde jogos esportivos, músicas, danças, atividades de conhecimento e promoção de campanhas sociais e culturais. Nas unidades observadas predominam a prática esportiva de futsal e tênis de mesa, encontros entre os participantes com objetivo de assistir as práticas esportivas, ouvir música e de se reunir para bater papo. Palavras chaves: Programa Escola da Família, Práticas de lazer, esporte e cultura. Abstract The actions of the Family School Program aim to occupy the school space on weekends with activities / educational workshops, cultural and sports from four areas: health, work, culture and sports. The study in question combined bibliographical research, field and documentation to identify the educational leisure practices in a number of schools in a Board of Regional Education in the State of São Paulo. The program takes place in twenty eight schools, we selected three units to characterize this study. The 1
Professora do Instituto Federal de São Paulo – campus Salto, IFSP – SP. Doutoranda em Estudos do lazer pela UFMG. Integrante do Oricolé – Laboratório de Pesquisa sobre Formação e Atuação Profissional no Lazer da UFMG. Integrante do grupo de pesquisa LIMC - Grupo Multidisciplinar de Estudos de Linguagens e Manifestações Culturais do IFSP – campus Salto. alves.cathia10@gmail.com 2 Realizou Estágio Pós-Doutoral em Educação pela UFRJ. Docente do Programa Interdisciplinar de PósGraduação em Estudos do Lazer da UFMG. Líder do Oricolé – Laboratório de Pesquisa sobre Formação e Atuação Profissional no Lazer da UFMG. Bolsista do Programa de Pesquisador Mineiro da Fapemig (2014-2016). Editor da Revista Licere. helderisayama@yahoo.com.br 32
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data indicate that culture promotes axis most perceptions and experiences, providing opportunities for social, cultural and emotional bonds and together with the axis of the sports include participants of different ages, predominantly the audience of children and adolescents. In general, the practices include fun, expressive educational processes and involve social representations contexts with different meanings, from sports games, songs, dances, knowledge activities and promotion of social and cultural campaigns. The observed units predominate sports practice futsal and table tennis, meetings between the participants in order to watch sports practices, listen to music and meet to chat. Keywords: Family School program, leisure practices, sports and culture.
Introdução
Ao falar de práticas educativas no âmbito de um Programa de política pública educacional, gostaríamos, inicialmente de recorrer ao contexto das políticas públicas a partir de duas implicações: a possibilidade delas se tornarem objeto de estudo de várias ciências; e a dinâmica de comportar olhares diferenciados (SOUZA, 2006). Assim, a educação, a cultura, o esporte e o lazer fazem parte dessa dinâmica, que inclui o campo de ação das políticas públicas abrangendo diversos olhares e visões, respeitando o limite e as características de cada área, pois são capazes de se integrar e concretizar operações em conjunto e de forma isolada. Ball (2004) aponta que cada vez mais as políticas educacionais se articulam as políticas sociais, muitas vezes, pautadas em interesses reducionistas e economicistas. Para além desses interesses, notamos que as políticas públicas educacionais têm contemplado práticas educativas que giram em torno do esporte, lazer e cultura. No Brasil essas práticas tem se concretizado em programas e projetos governamentais federais, sendo executadas pelos ministérios do Esporte, da Educação e Cultura, ademais, as ações também são formatadas pelos governos estaduais, municipais, terceiro setor e pelo poder privado. Em âmbito federal, em breve consulta ao Ministério do Esporte (órgão do governo federal brasileiro que opera com as políticas públicas de esporte e lazer), foi possível identificar que a Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (SNELIS) é a responsável pela implantação de diretrizes relativas dos programas esportivos educacionais, de lazer e de inclusão social. No quadro atual, a secretaria 33
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conta com dez programas e projetos em âmbito nacional que envolve práticas educativas de esporte e lazer, incluindo processos de formação profissional e realização de pesquisas e publicações. Entre esses programas destacamos o Programa Segundo Tempo, Esporte da Escola, Esporte e Lazer da Cidade (PELC) e Vida Saudável (VS) que se vinculam efetivamente as expressões de lazer, esporte, cultura e educação. O Ministério da Educação (órgão da administração federal direta, tem como área de competência a política nacional de educação), no ano de 2016, opera com os programas “Atleta na escola” e “Mais Educação” que também envolvem valores, princípios, características, práticas e vivências do esporte, da cultura e do lazer. Outro Programa público que atua com esporte, lazer, cultura e educação, surge no ano de 2004, e é denominado Programa Escola Aberta. Fruto da parceria com a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) e com o governo federal por meio do Ministério da Educação, se efetiva em alguns estados brasileiros, procurando ofertar opções de lazer em unidades escolares aos fins de semana, direcionado para comunidades carentes, pautados no combate à violência e promoção da cultura de paz. O ministério da Cultura (órgão da administração pública federal que tem como áreas de competência a política nacional de cultura e a proteção do patrimônio histórico e cultural) promove o Programa CEUs, Centros de Artes e Esportes Unificados que procuram integrar num mesmo espaço projetos e ações culturais, de esporte e lazer, práticas de formação e qualificação para o mercado de trabalho, serviços socioassistenciais, políticas de prevenção à violência e de inclusão digital. Tem como objetivo a promoção da cidadania em territórios de alta vulnerabilidade social das cidades brasileiras. O Programa tem como proposta desde 2010, construir 357 unidades por meio da parceria entre Governo Federal e municípios, aproximadamente 23 unidades foram inauguradas entre as cinco regiões do país. Nessa conjuntura e contexto político de associar o lazer, o esporte e a cultura como ferramentas educativas e de combate às violências a UNESCO firma mais parcerias no Brasil, entre elas, configura-se a formação no plano estadual do governo de São Paulo do Programa Escola da Família (PEF), iniciado no ano de 2003 a partir de parcerias com a UNESCO e com entidades privadas.
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O Programa foi instituído para desenvolver ações preventivas que diminuíssem a vulnerabilidade infantil e juvenil, por meio da integração de crianças e adolescentes, jovens e familiares com a escola, colaborando para a construção de atitudes e comportamentos compatíveis com uma trajetória saudável de vida (LEME, 2007; NUNES, 2007; SANTOS, 2008; FERREIRA, 2009; SOUZA, 2009). A sistematização do Programa Escola da Família (PEF) ocorre a partir de quatro eixos: Esporte, Cultura, Saúde e Trabalho, com o desenvolvimento de oficinas aos fins de semana, em unidades escolares de todo estado de São Paulo que contam com o programa. As oficinas podem ser cursos, minicursos, atividades, práticas, entre outros. São planejadas por meio da elaboração da Grade de Atividades que organiza as ações que serão desenvolvidas, facilitando a participação da comunidade (SÃO PAULO, 2010b). As oficinas são ministradas pelos educadores universitários, e/ou educadores voluntários. O Educador Universitário é o aluno de uma Instituição de Ensino Superior conveniada ao PEF, seu papel no Programa é desenvolver atividades socioeducativas e mediar às oficinas. Sua participação se dá por meio de contrapartida pelo benefício recebido do Programa Bolsa-Universidade. Também existe a possibilidade do educador voluntário atuar no Programa (SÃO PAULO, 2010b; 2014; 2016). Na
Diretoria
de
Ensino
analisada,
os
educadores
universitários,
(aproximadamente 151 alunos) são oriundos de diferentes áreas e campos de atuação, como: Educação Física (39), Administração de Empresas (38), Engenharia (Mecatrônica, Civil e Automação) (26) Pedagogia (22), Bacharel em Sistema de Informação (BSI) (10) Letras (3), Turismo (3). E um educador universitário para os cursos de Serviço Social, Design Gráfico, Biologia, Farmácia, Artes Visuais, Enfermagem, Publicidade, Filosofia, Contábeis e Psicologia. Esses educadores atuam com uma diversidade de público, desde crianças, adolescentes, jovens até famílias. Nesse cenário, notamos que as práticas educativas em torno do lazer, esporte e cultura são possibilidades de vivenciar e experimentar ações e atividades que muitas vezes não estão presentes no cotidiano das pessoas com o objetivo de reduzir a violência, promover a paz, gerar processos educativos e materializar parcerias de cunho econômico, político e social. A relação entre os processos educativos, a cultura, o esporte e consequentemente o lazer, são vínculos que abrangem diferentes ações 35
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políticas em âmbitos municipais, estaduais e federais, e ainda, sofrem influências dos valores e princípios de organismos internacionais. Existe uma tensão no processo das políticas educacionais, uma apreensão entre as preocupações com eficiência e com justiça social (BALL, 2006). Dessa forma, quais são as práticas consideradas de animação no âmbito do esporte, cultura, lazer que estão sendo ofertadas pelo Programa Escola da Família num conjunto de escolas de uma Diretoria Regional de Ensino do interior do Estado de São Paulo-Brasil? Essa pesquisa apresenta as práticas educativas que são ofertadas pelo Programa Escola da Família numa região do interior do Estado de São Paulo em 28 escolas abertas durante os fins de semana, a partir de um semestre de coleta de dados nos registros das ações e em observações diretas feitas no segundo semestre de 2015, em reuniões, encontros e visitas as escolas. A pesquisa demonstrou que as práticas esportivas, a música e o encontro entre as pessoas atrai a comunidade para as escolas, principalmente crianças e adolescentes do sexo masculino.
Passo a passo metodológico
Esse estudo utilizou três estratégias básicas para coletar os dados: a pesquisa bibliográfica em torno das publicações sobre o Programa Escola da Família, disponível no sistema on-line; a pesquisa documental em cinco documentos norteadores do programa, bem como, no site do Programa e em registros feitos pelas unidades escolares sobre as atividades; e a pesquisa de campo, por meio da observação direta com diário de campo, em visitas as escolas e em participação em reuniões e encontros de uma Diretoria Regional de Ensino de uma cidade do interior do Estado de São Paulo, escolhida por acessibilidade e intencionalidade. Quanto aos documentos, identificamos o Decreto nº 48.781, de 07 de julho de 2004 – Institui o Programa Escola da Família; a Resolução SE nº 24, de 05 de abril de 2005 – Dispõe sobre o Escola em Parceria; outra Resolução SE nº 18, de 05 de fevereiro de 2010 - Dispõe sobre a consolidação das diretrizes e procedimentos do Programa Escola da Família e dá providências correlatas. Analisamos o Manual
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Operativo do Programa Escola da Família – 2010, 2014, 2016; e o Caderno nº 32 Ideias2004. Para verificação desses documentos foi utilizada a técnica de análise de discurso. Segundo Foucault (2008, 2013) os discursos formam os objetos de que falam não se restringem a um aglomerado de falas, diálogos, conversas, imagens ou textos que selecionamos para investigar. Para o autor os enunciados são os ditos. “A análise enunciativa só pode se referir a coisas ditas, a frases que foram realmente pronunciadas ou escritas, a elementos significantes que foram traçados ou articulados...” (FOUCAULT, 2008, p.124). Os documentos servem para compreendermos as formas de implantação e implementação das políticas públicas apontando as perspectivas políticas que envolvem os processos educativos direcionados aos indivíduos (KLEIN e DAMICO, 2014). Ademais, realizamos um exercício de articulação e bricolagem; leitura; montagem,
desmontagem
e
remontagem;
composição,
decomposição
e
recomposição; questionamentos e descrição (PARAISO, 2014), tecendo e analisando os manuais e diretrizes. Em cada documento apuramos o olhar, destacando detalhes, pistas e sensibilidades que poderiam expressar as características do Programa e suas práticas educativas. Ainda tivemos a possibilidade de investigar no site do Programa o cadastro de projetos e oficinas da diretoria. E por fim, fizemos a observação direta, convivendo com o Programa, com visita a três unidades escolares alternando entre sábados e domingos. Com participação nas reuniões e encontros durante o segundo semestre de 2015. A observação direta se deu a partir de um diário de campo, com categorias fundamentadas na revisão de literatura. A observação foi considerada como direta, pois estivemos em contato com os gestores, educadores e comunidade. Essa estratégia possibilitou olhar o objeto de pesquisa de perto, com uma visão atenta, procurando examinar os detalhes, sem prever e nem intervir. O objetivo foi perceber, notar, ver, constatar, verificar, reparar, atentar, descobrir elementos que contribuíssem para detectar as práticas educativas em torno do lazer, do esporte e da cultura. 37
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A observação foi provocada pelo diário de campo. O diário foi composto por um quadro, no qual estabelecemos o seguinte roteiro: local, data, clima, espaço, atividades, materiais, intervenções, relações entre gestor e educador, relação entre gestor e comunidade, relação entre educador e comunidade, relação entre comunidade e comunidade. Discursos, falas, expressões, comportamentos sobre as práticas, oficinas e observações gerais. O diário de campo contribuiu para seguirmos as diversas fases da observação, colaborou para refletirmos antes, durante e após as visitas.
Examinando os documentos e registros on-line: ausência e presença da Animação Sociocultural
Após o exame dos documentos e dos registros das atividades do Programa Escola da Família (PEF) e das observações, destacamos que os eixos do trabalho, saúde, cultura e esporte, fundamentam a elaboração das atividades que são oferecidas nas oficinas e dão formato ao programa, demonstram os caminhos pelos quais a identidade do mesmo é formada. Para essa pesquisa selecionamos o eixo da cultura e do esporte, por demonstrar maior aproximação com o campo do lazer e suas expressões. E ainda, por serem os eixos mais atrativos que contemplam maior número de pessoas e tem ações permanentes no PEF. O eixo da cultura é norteador do Programa, oferece o maior número de oficinas, é atrativo, diverso, dinâmico e agrega interesse da comunidade como um todo (NAPOLITANO, 2004; BENDRATH, 2010, 2011). Esse eixo promove diferentes formas de manifestação artística, busca representar a expressão humana de si, do outro, da sociedade e do mundo nas diferentes linguagens; teatrais, cinematográficas, corporais, musicais, plásticas, fotográficas, folclóricas e científicas. Tem como meta promover o (auto) conhecimento e o senso crítico dos participantes, colaborar para a formação da identidade e propiciar a experimentação de outros papéis no sentido de representações e encenações (SÃO PAULO, 2010a; 2014). O objetivo do eixo cultura é facilitar o acesso as diferentes manifestações artísticas, os costumes e expressões da comunidade, desse modo, a programação das 38
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oficinas ocorre a partir da realidade da escola, das sugestões colhidas na comunidade, da identidade do educador e com base nos princípios e diretrizes do Programa. Além disso, é um eixo que procura promover tempo e espaço para o diálogo entre os participantes, conferindo legitimidade às manifestações e enfatizando o respeito à diversidade cultural (SÃO PAULO, 2010a; 2014). Segundo Martins e Grilo (2004), o eixo cultura tem como uma de suas bases à pedagogia da cooperação, como um caminho que pode possibilitar aos indivíduos a lidarem com as diferenças, incluindo-as no jogo da vida de maneira pacífica e positiva. Napolitano (2004), ao se referir ao PEF, atenta para o fato de que a relação entre escola e cultura visa três objetivos principais: o reforço da autoestima; o fortalecimento das identidades sociais e a ampliação do repertório de bens simbólicos disponíveis para o aluno e suas comunidades. Essa relação busca alcançar a construção de uma “cultura de paz”, matizadora das relações sociais violentas, que quase sempre é mais presente quanto maior a exclusão socioeconômica das comunidades. Para o autor, as práticas culturais, ocupam um espaço na vida das comunidades, reconstruindo significados e o tecido social, bem como reconhecendo culturas e levando a possíveis críticas de âmbito cultural e moral. Verificamos nos registros on-line que no eixo da cultura são mencionados diversas oficinas, tais como, alfabetização de adulto e criança, apresentações artísticas, arte em jornal, artesanato, aulas de dança, bazar da pechincha ou feira de trocas, biblioteca, jogos (bingo, games), capoeira, brinquedoteca, cantinho da leitura, cine criança, confecção de bijuterias, curso corte e costura, curso de biscuit e curso de violão. Além de desenho artístico, dobradura, eventos sociais (festas comemorativas), jardinagem, manifestação religiosa, música, oficina de desenho, palestras, passeios, pintura, preparação e confecção de materiais para eventos, reforço escolar, roda de conversa, som livre, videokaraoke e videoteca. E ainda, chá da tarde, concurso de miss e mister infantil, baile da terceira idade e campanhas (agasalho e natal sem fome). Todas essas ações estão cadastradas nesse eixo e para cada uma existe um projeto específico proposto pelos educadores universitários. Destacamos a diversidade de temas oferecidos em formato de oficinas, demonstrando a representação da cultura e seu caráter divergente e distinto.
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Quanto ao eixo do esporte, poucas informações estão disponíveis nos documentos analisados e no sistema on-line, mas foi possível identificar que as oficinas de práticas corporais revelam a realização de atividades esportivas, tais como: futebol, vôlei, basquete, handebol, tênis de mesa e xadrez. O eixo esporte tem como meta colaborar para o desenvolvimento físico e para a formação integral do indivíduo, na construção do trabalho coletivo e na aquisição de valores sociais. Aponta caminhos para a redução de desigualdades em busca da promoção da inclusão social (SÃO PAULO, 2010a; 2014). Os documentos e registros on-line não descrevem informações sobre a organização da programação e escolha das atividades. Nos estudos realizados por Bendrath (2010), foi possível identificar que o eixo é formado por práticas esportivas coletivas, na maioria das vezes, pelo futebol de salão, devido à facilidade e gosto da comunidade envolvida e do educador universitário que dirige as ações. Percebemos que o eixo esporte atrai o público, seja para jogar, atuar no campo/quadra ou para assistir e contemplar as atividades. É comum ter um público sentado observando as práticas esportivas. Nas unidades escolares examinadas verificamos que as modalidades de futsal, tênis de mesa, skate, lutas, vôlei, capoeira e os jogos de pebolim e baralho, são predominantes, enfatizando o futsal e o tênis de mesa. Notamos que os eixos do programa representam os componentes do currículo do PEF, assim sua identidade se traduz em grande parte pelo esporte e pela cultura, que são maioria nas ações e movimentam um contingente de pessoas. Essas atividades promovem a interação e atraem a comunidade para as escolas no fim de semana traduzindo as experiências, gostos, desejos e vivências de lazer. Essas práticas, consideradas práticas de animação sociocultural, imprimem modos de ser e se tornaram naturalizadas no âmbito do PEF. A animação sociocultural é tomada como uma forma de contribuir para a compreensão das pessoas em relação a si próprias e ao mundo que as cerca. A animação sociocultural atrai participação maior das pessoas em questões sociais amplas, procura por soluções coletivas, inovando e renovando processos de compartilhamento dos problemas da comunidade (ISAYAMA, 2002).
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É uma metodologia que não é citada no âmbito do Programa, mas que poderia possibilitar uma preparação dos educadores do PEF para implementação de mudanças na sociedade, contribuindo para reflexão, ação e compromisso político e ético. Nesse sentido, um educador do Programa Escola da Família, como animador sociocultural seria sensível e responsável pela diversão, aprendizagem, contato das pessoas com o lazer; promotor de vivacidade, incentivo, diálogo, transmitiria alegria, trocaria aprendizagens e ensinamentos. Consideramos que a animação como ferramenta metodológica reaviva o compromisso com a sociedade através de ações pedagógica, de construções e trocas de saberes ao redor do lazer. Propõe mudanças e interfere na vida dos sujeitos no sentido de contribuir com a suas consciências sociais, morais e culturais em busca de uma sociedade mais justa e humanizada (ALVES, 2007). Desse modo, as práticas do PEF são ações formatadas que geram saber a partir de relações de poder estabelecidas entre Gestor, Educadores, comunidade e da própria identidade do Programa. Segundo Foucault (2014) o poder e o saber estão envolvidos, se comprometem entre seus campos, construindo relações. Essas relações formam um conjunto de sujeitos com modalidades de conhecimentos, construídas por processos e lutas associados à história, ambientes, atividades e também ao conhecimento. O poder produz saber e o saber se forma com as relações de poder, e ainda, os sujeitos são frutos dessa relação poder-saber adquirindo condutas e modos de ser. Essas formas de conduta interferem em como os sujeitos se apropriam e vivem as diversas experiências, não existe um grau de importância entre saber e poder, é um movimento circular, linear e espontâneo. Para Foucault (2005) o indivíduo e o poder circulam, pode ser submetido e fazer submeter. “O individuo é um efeito do poder e é, ao mesmo tempo, na mesma medida em que é um efeito seu, seu intermediário: o poder transita pelo individuo que ele construiu” (p.35). Assim é preciso fazer uma análise ascendente do poder, partir da própria história, do trajeto, técnica e taticamente. Subsequente, olhar como os mecanismos agem, como foram utilizados, transformados, deslocados. Espiar os níveis mais baixos, como os mecanismos são anexados por fenômenos globais. Significa, portanto, não 41
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olhar para o que está claro, mas olhar do menor para o maior, do micro poder, para o macro para entender os mecanismos e as tramas vinculadas (FOUCAULT, 2015). E ainda, onde há poder, há resistência. Desse modo, não existe especificamente um lugar de resistência, existem pontos móveis e transitórios que se distribuem por toda estrutura social, causando e levando a movimentos e circulação desse poder. No âmbito de Programas como o PEF, esse jogo “saber-poder” ocorre o tempo todo em diferentes esferas, por exemplo, na determinação de temas para eventos que vem direcionado da gestão do Programa, na oferta de um café da manhã para comunidade, na lógica das práticas de futebol, dança e convívio social que a comunidade impõe ao uso do local, na relação hierarquizada entre comunidade, educador e gestor, nas intenções de promover paz e reduzir a violência ofertando políticas assistencialistas, na difusão de valores de cidadania, autonomia, participação e inclusão..., entre outras coisas, a serem ainda descobertas e desvencilhadas em ações de políticas educacionais. A comunidade do PEF demonstra essa mobilidade quando adere mais a algumas propostas do Programa do que a outras. Defendemos que o Programa é um Programa de lazer educativo, não é uma extensão das ações curriculares da semana, mas cria seu próprio currículo, produz dispositivos pedagógicos de ensinamento próprios. Reforçam condutas esportivas, culturais e sociais, os saberes desse modo vão sendo produzidos e os poderes vão sendo alterados, modificados, e assim o “jogo” vai fluindo.
As práticas do PEF: O caso de uma Diretoria Regional de Ensino do interior do Estado de São Paulo/Brasil
O PEF conta com uma programação anual ordenada pela Coordenação Geral do Programa. A Coordenação Geral do Programa é compartilhada entre a Coordenadoria de Gestão da Educação Básica (CGEB), Secretaria da Educação do Estado de São Paulo (SEE) e a Diretoria de Projetos Especiais (DPE) da Fundação para o Desenvolvimento da Educação (FDE), órgão executor do Programa Escola da Família. A Coordenação Geral define os principais eventos e atividades a serem realizados durante o ano em todas as escolas do Estado (atualmente o programa opera 42
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em 2.338 unidades). A Coordenação transmite essa organização para as Diretorias Regionais de Ensino. Em cada Diretoria a gestão do PEF é composta por uma coordenação regional, formado por um professor que é o Supervisor de Ensino e por um professor, nomeado de Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico (PCNP). Essa coordenação regional se reúne semanalmente com a coordenação local de cada unidade escolar que atualmente é estruturada pela vice-direção da escola (SÃO PAULO, 2016). Juntos coordenação regional e local definem o “currículo” do Programa a partir da orientação da Coordenação Geral. Entendemos que essa programação, traduz o currículo do Programa. Nesse sentido o currículo é visto para além de um conjunto de conteúdos específicos e envolve processos de regulação das ações e comportamentos dos sujeitos em determinados espaços, locais e especificidades. Pode abranger modos de ser, prescrevendo conhecimentos e saberes e, ainda, representando pensamentos, atitudes e valores (SILVA, 1999; 2013). O currículo que antes era visto como organização, sequência, enquadramento, ordenamento e estruturação, passou a ser reconhecido como um artefato que transmite conhecimentos legítimos e não legítimos. Dessa forma, o currículo comunica um conjunto de saberes e habilidades que se julga esperado e propaga valores, significados e subjetividades que nem sempre foram programadas por meio de diversas práticas. Nessa linha de pensamento, caracterizamos o currículo a partir de uma abordagem cultural, para além do âmbito escolar, não baseado em seriação, com conteúdos determinados e categorizados em disciplinas, mas como artefato que propaga vivências. No caso específico do currículo do PEF selecionamos para ser examinado o quadro do segundo semestre de 2015 dessa Diretoria, escolhida de forma intencional e por acessibilidade, pois contempla uma região que mesmo no interior é central no Estado e porque atende a três cidades, atingindo um público considerável. Notamos que os artefatos são divididos por meses, de agosto a dezembro. Para cada mês foi eleito um tema e dentro de cada mês tem datas específicas para realização de uma atividade. Segundo a gestão em datas comemorativas ou de campanhas deve ser feito um evento maior, ou seja, uma ação que envolva um público maior e um impacto mais concreto junto às comunidades. 43
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Os educadores universitários são os mediadores das ações e junto a seus gestores (vice-diretores) tem acesso a essa programação pronta e contribuem para materializar as propostas em práticas, oficinas e ou atividades. Atualmente esses educadores universitários cursam os cursos de graduação nas seguintes áreas: Educação Física, Administração de Empresas, Engenharias e Pedagogia formando o maior contingente de bolsistas. Já o curso de Bacharel em Sistema de Informação (BSI), Letras, e Turismo compõe um número menor de alunos. E os cursos de Serviço Social, Design Gráfico, Biologia, Farmácia, Artes Visuais, Enfermagem, Publicidade, Filosofia, Contábeis e Psicologia tem apenas um aluno de cada curso de graduação como bolsista do PEF. Para além dessa programação, o PEF tem um currículo praticamente definido com atividades fixas que ocorrem com ou sem mediação dos educadores universitários e com ou sem intervenção da Gestão Geral e Regional. São ações que a comunidade corporificou e realiza semanalmente, atividades apropriadas ao longo da história que fazem parte da cultura e do contexto local. Predomina entre essas atividades, o futsal, o tênis de mesa, as músicas (a comunidade pede para ligar o som) e a “oficina” de manicure. No mês de agosto, por exemplo, nomeado como mês do “Folclore”, as ações do fim de semana deveriam se preocupar em gerar artefatos e práticas em torno da temática folclore, bem como, realizar um evento chamado “um dia na escola do meu filho” em homenagem ao dia dos pais. Essa atividade é promovida com o objetivo de convidar os pais para conhecer e se aproximar da escola e participar de alguma operação junto com os filhos. Nas unidades observadas “um dia na escola do meu filho” foi realizado com práticas de gincanas, sessão de cinema e jogos de tênis de mesa, xadrez e futsal. Em algumas unidades as famílias pouco participam, mas quando tem um evento como esse ou outro de grande porte, as famílias se aproximam e vivenciam alguma atividade. No cotidiano do Programa, a maioria do público é formada por crianças e adolescentes, com faixa etária entre 07 e 18 anos. Os homens, considerados adultos e muitos pais das crianças que participam do Programa, costumam frequentar a escola em número menor, geralmente aos sábados pela manhã para jogarem futebol de salão. 44
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Como temática marcante do folclore, algumas unidades realizaram apresentações de dança e roda de capoeira. No mês de setembro não foi proposto nenhuma temática específica. As atividades permanentes, ou seja, aquelas comuns do fim de semana, como práticas esportivas, aulas de inglês ou espanhol, dança, encontros entre amigos, manicure e pedicure e reforço escolar aconteceram normalmente. Essas práticas são habituais na maioria das escolas, em alguns casos, como nos cursos de línguas as aulas são mediadas por professores formados em parceria com alguma entidade privada. Para outubro, mês das “crianças” o tema foi “resgate das brincadeiras” e ações para campanha do “outubro rosa”. Algumas unidades escolares em parceria com empresas e ou igrejas realizaram o dia das crianças com equipamentos e brinquedos montados, como “pula pula”, “piscina de bolinhas”, e mantiveram as práticas do futsal e tênis de mesa. Ofertaram também “algodão doce” e pipoca. Para campanha “outubro rosa” os artefatos produzidos foram cartazes, imagens, falas e discursos sobre a importância da prevenção. Em algumas escolas as crianças e adolescentes produziram desenhos em torno da temática. Ficou evidente a carência de recursos e ausência de estrutura para realização desses eventos e campanhas. Já no mês de novembro, o tema “Da diversidade étnico-racial” e também “novembro azul”, foram pouco abordados no cotidiano do Programa. As práticas continuaram fluindo em torno principalmente das práticas de futsal, basquete, vôlei, tênis de mesa, dama, xadrez, dominó. Em algumas unidades a comunidade também pratica skate, lutas, brincadeiras livres, encontros para bate papos e o cuidado com a beleza por meio da oficina de “manicure” e artesanatos. O mês de dezembro não teve um tema específico, mas aponta o dia mundial de combate a AIDS e o dia internacional do voluntário. Não observamos nenhuma prática específica para essas temáticas, entretanto, algumas escolas elaboraram cartazes sobre Prevenção e cuidados com a saúde e receberam panfletos e a comunidade foi convidada a assistir vídeos educativos. Algumas unidades promoveram os vídeos como uma sessão de cinema.
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A gestão local durante esse mês se preocupou em reunir os registros feitos durante o semestre para organizar e montar a apresentação de um portfólio, ou seja, um dossiê sobre todas as atividades e práticas que tinham sido realizadas durante o semestre. Observamos que as práticas descrevem um currículo flexível, mas também dirigido, diríamos que dialeticamente a comunidade mantem algumas práticas que já realiza todo fim de semana e eventualmente participa das ações demandadas pela Secretaria Estadual de Educação. Desse modo, as práticas educativas contribuem para formação das condutas, escolhas e podem determinar comportamentos dos sujeitos que influenciam e são influenciados por essas vivências.
Conclusão
Concluímos que o PEF é uma ação de política de governo que pode ter seu prazo de duração determinado, o que leva ao descrédito das políticas públicas, predominando a descontinuidade, o descaso e a falta de apropriação do direito. Apontamos, portanto, ser necessária a incorporação no conjunto das políticas, os fatores culturais, no sentido das representações, aceitações, rejeições e conquistas coletivas, remetendo-se, ainda, as formas de organização dos indivíduos e o reflexo de poder de pressão e articulação dos diferentes grupos. O Programa oferece a abertura da estrutura das escolas que possuem um padrão físico, disponibilizando quadras cobertas, pátio abertos e jardins, com poucos recursos financeiros e materiais insuficientes para execução e criação de experiências culturais, esportivas, lúdicas, e de lazer. Os bolsistas de diversos cursos do Ensino Superior geralmente atuam com oficinas já delineadas ou pela gestão geral, regional ou local do Programa, em alguns casos são implantadas novas ações como aula de lutas e aulas de violão a partir de uma habilidade ou competência própria do bolsista. Acreditamos que as metodologias do processo de animação sociocultural poderiam contribuir para ações fundamentadas politicamente e culturalmente, intervindo e alterando o dia a dia da comunidade.
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As práticas educativas de animação do Programa em torno do esporte, cultura e lazer apontam para convivência, aproximação entre diferentes idades, harmonia entre meninos, encontro esportivo expresso na prática do futsal e do tênis de mesa, cuidado pessoal entre meninas e mulheres com as unhas, situação evidente nas “oficinas” de manicure. Identificamos que o currículo cultural do programa traduz condutas e conhecimentos de combate à violência, conectados ao processo educativo por meio de práticas de lazer, tais como, a busca por autonomia, inclusão, emancipação, diversidade e participação cultural, o que pode demonstrar avanços para apropriação do direito a educação, ao lazer, esporte e cultura, em ações de políticas públicas educacionais, dando outros sentidos e significados as vivências esportivas e culturais dos participantes.
Referências
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EL PAPEL DE LA COMUNIDAD Y DE SUS ORGANIZACIONES EN LA ANIMACIÓN SOCIOCULTURAL* Socioanalista Fabián Vilas - 2008
Introducción.
Hace dos años en estas mismas fechas nos encontramos mujeres y varones de diversos países preocupados y ocupados con la realidad de la animación sociocultural. En esa instancia proponíamos hacer un recorrido conceptual y experiencial sobre las múltiples y posibles intervenciones/ acciones desde la animación sociocultural en nuestras diferentes sociedades, ámbitos y territorios. Entre muchas de las cosas que compartimos y reflexionamos se desprende el papel de la animación sociocultural como disciplina y ámbito articulador, integrador y posibilitante de múltiples instancias, así como generador de condiciones para la transformación de la sociedad y de los propios sujetos.
Creo firmemente que aún no le hemos dado la real significación que tuvo ese primer congreso aunque es claro uno de sus resultados: la creación de la RIA- Red Iberoamericana de Animación Sociocultural, que sin lugar a dudas nace como producto de haberse congregado gente entorno a una actitud y a una convicción de unirse y trabajar por un bien que los trascienda a ellos mismos y tenga un impacto movilizador y generador de nuevas subjetividades en los más diversos lugares de nuestra Iberoamérica y por que no más allá.
Como mencionaba antes la dimensión que tuvo este primer congreso no ha sido valorada en su justo término por todos los actores y ámbitos de actúa n y desenvuelven en el campo e la Animación Sociocultural. En tanto se dio un espacio histórico y político de integración y articulación entre personas y organizaciones que no se da entre gobiernos y estados hoy en día. Es claro que las características, las incumbencias y las decisiones que se toman en estos ámbitos tienen que ver con otras 50
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dimensiones de lo social, pero no me parece menor compararlas en algunos aspectos, aunque no es el tema que hoy nos convoca.
Concretamente se propuso la creación de una red para crear condiciones que posibilitaran el acceso a conceptos, reflexiones, experiencias y prácticas basadas en el poder hacer y no en el poder fáctico circunscripto a unos pocos. Este hecho significativo debe ser difundido y colectivizado en y con los diferentes ámbitos nacionales e internacionales no solo para que se nos conozca, sino que también para que se tome como referencia y por que no como modelo de integración.
Aspiro en este nuevo congreso poder multiplicar los realizado y lo vivido en el anterior, así como ser todos y todas unas cajas de resonancia de lo que consigamos en términos de lo aprendido y lo vivido en el mismo, en nuestros lugares de residencia y trabajo. Colectivicemos lo vivido y lo aprendido esto hace de la animación una herramienta eficaz, pertinente y superadora.
Desarrollo.
El presente artículo se orienta a partir del título: el papel de la comunidad y sus organizaciones en la animación sociocultural, este nos plantea un desafío interesante y nos posiciona en la siguiente diyuntiva: hablar sobre como la comunidad y sus organizaciones toman a la animación sociocultural como herramienta y que actividades realizan, o hablar de cómo se está desarrollando la animación sociocultural como disciplina y de cómo la comunidad y sus organizaciones apuestan a su potencialización y evolución aplicando modelos y acciones en los territorios de intervención. Tomaremos la segunda opción e intentaremos ser pertinentes y coherentes con la invitación y la temática del congreso.
La Comunidad y sus organizaciones, aproximaciones posibles.
Comenzaremos plateando algunas aproximaciones al término comunidad referido directamente al eje de la ponencia y del desarrollo de sus organizaciones en tanto 51
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propuestas de acción para resolver determinadas situaciones, conflictos y problemáticas.
El concepto de comunidad es sumamente controvertido y del que abundan múltiples aproximaciones y definiciones lo que hace que su delimitación sea una cuestión de varios factores. En este sentido tomando a la Psicóloga Mirtha Cucco García podemos apreciar cómo en cada definición se enfatizan determinados elementos en los que está puesto el acento:
En el área geográfica o la localidad.
En
el
conjunto
relaciones
sociales-
relaciones
de
clases
sociales,
interinstitucionales, etc.
En la conciencia de pertenencia- tradiciones, acciones que promueven la identidad, cultura pueblerina, etc.
En un concepto que trasciende lo local- país, nación, comunidad internacional.
Teniendo en cuenta algunas de las definiciones existentes podemos decir que a la comunidad la entendemos como una unidad social compleja contextualizada en un territorio determinado, con una identidad cultural y que presenta determinados intereses básicos que se configuran en los procesos de construcción y de deconstrucción propia en sus tiempos cotidianos y concretos. En tanto esto implica una interacción permanente entre sus integrantes sostenida en la cooperación y la participación social en el marco de una convivencia de cercanía y duradera. Es dable destacar que toda comunidad no es algo que existe de por si, sino que deviene de una dinámica y un proceso de construcción permanente en la que se generan las diversas organizaciones, instituciones y valores sociales que la justifican y sostienen.
Como mencionamos anteriormente en el marco del proceso de construcción constante de una comunidad aparecen y desaparecen situaciones y problemáticas de diversas índoles para las cuales la propia comunidad se organiza de forma de dar solución y superarlas dando así continuidad a la evolución de la misma. Esta toma de posición frente a los problemas da lugar a formas diversas de organización que a posteriori 52
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desarrollan lógicas de funcionamiento concretas, analizan la realidad y desarrollan acciones que propenden a la resolución de esas situaciones que aquejan
a la
comunidad.
Concretamente al día de hoy en las sociedades más o menos comunitarias la lógica de comunidad es el sistema de relaciones sociales en donde los diversos grupos y colectivos median y articulan las diversas exigencias que la propia comunidad les imprime. Podemos decir quizás que esto está en muchos lugares en situaciones de desaparición ya que el propio sistema capitalista y neoliberal ha logrado a lo largo de los últimos cuarenta años que desaparezca en los sujetos la identidad comunitaria desde donde se implica el propio individuo en la producción de sus propias condiciones de existencia y de sus relaciones mas próximas con la tierra, con los otros sujetos, con la naturaleza y consigo mismo. La necesidad de tener que vender su fuerza de trabajo y no poder identificarse con lo conseguido en este y a su vez verse envuelto en la vorágine del mercado y el consumo hace que las características de lo comunitario vayan desapareciendo y siendo reemplazadas por las características de la comunidadmercado, excluyente y creadora de sujetos vulnerables. En esa situación muchas de las diversas organizaciones que otrora tenían por cometido el implicar al sujeto, organizaciones estas creadas por los propios individuos en base a sus intereses y deseos muchas ya no existen o cambiaron de objetivos.
Un ejemplo claro que creo ilustra lo que intento decir en cuanto a la participación y producción ciudadana son los barrios ciudadanos de mi país (Uruguay), los cuales han constituido durante muchas décadas verdaderas escuelas ciudadanas donde se creo y se transmitió de generación en generación una cultura ciudadana constituida por diferentes subculturas que de diversas formas se organizaban y que así funcionaban de tal forma que aportaban a la construcción y deconstrucción de la sociedad toda. Estos barrios se configuraban en comunidades donde se generaban pautas y códigos que les son propios y que son los que le dan identidad a los individuos y colectivos que en ellos viven
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En nuestra Latinoamérica a mediados del siglo veinte se comienza a dar una situación socioeconómica donde el estado de bien estar social y benefactor comienza a caer. Esto trae como consecuencia el decaimiento de muchas formas y lógicas de participación de los ciudadanos ya que los espacios que generaban y sostenía el estado comienzan a tener problemas para seguir funcionando. Es así que el estado deja de brindar apoyo económico y estructural a muchas de las propuestas y políticas de promoción y prevención social. Este es un hecho que suma al cambio de subjetividad en cuanto al estado de conciencia comunitario. Es así que con el correr de los años y las diferentes coyunturas sociales, políticas y económicas aparecen organizaciones con características y aspectos regulados por el estado y sus leyes en cuanto a su formato y que por tanto les significa un grado de organización mínimo en la propuesta a desarrollar, en lo administrativo y en lo económico. En esta categoría podemos encontrar tanto a comisiones de barrio, asociaciones deportivas, asociaciones culturales y a las asociaciones civiles más comúnmente llamadas organizaciones no gubernamentales.
Actualmente múltiples y diversos problemas sociales existen, muchos de ellos muy difundidos por los medios de comunicación y otros no tanto y paradójicamente por no serlo muchas veces no sentidos como tales por la población. Dada esta situación desde varios ámbitos de la sociedad se rescata lo comunitario intentando generar nuevas lógicas de comunicación y poder, así como de actitud activa y crítica de la propia comunidad en la gestión de sus necesidades, incidiendo en el desarrollo, organización y fortalecimiento de la misma, Este rescate se configura como frente de resistencias al modelo imperante.
Es aquí donde encontramos que muchas organizaciones creadas en la propia comunidad se erigen como espacios y dispositivos de intervención comunitaria que toman una o varias disciplinas para desarrollar y así lograr la resolución de las diversas y múltiples problemáticas sociales.
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La intervención en la Comunidad una posibilidad concreta desde la Animación Sociocultural.
La intervención en la comunidad o comunitaria es un concepto muy amplio y utilizado por diferentes actuaciones y dispositivos que bajo esta denominación han ido construyendo sus propios ámbitos y territorios. Es importante poder hacer una distinción entre las actuaciones y diferentes acciones propias de la comunidad y las que surgen con el objetivo explicito y planificado de intervención en un determinado aspecto o realidad comunitaria. Entiendo que en este sentido se debe ser muy cuidadoso para no generar extremos ni herir susceptibilidades, así como propiciar un entendimiento de la relación dialéctica que existe entre las acciones de los técnicos y profesionales y con las acciones de la propia comunidad. En este caso la complementariedad es sumamente importante y definitoria para el impacto de cualquier intervención. Es así que podemos encontrar en el colectivo de intervenciones comunitarias varias disciplinas que apuntan al desarrollo de la comunidad como ser la Educación Popular, la Psicología Comunitaria, la Educación Social, la Medicina Social, la Psicología Social y la Animación Sociocultural, entre otras. Todas ellas con similitudes en sus planteos y en sus denominaciones, pero que a la hora de desarrollar la intervención de planificarla y de evaluarla demuestran diferencias importantes. Una de las que caracterizan a cada una de las actuaciones e intervenciones es la configuración del rol del profesional que trabaja y la forma de hacerlo.
Dada la naturaleza de este congreso y el encargo que se nos ha realizado profundizaremos sobre la Animación Sociocultural. En tanto esto, nos proponemos hacer un análisis de cómo la misma se convierte en una de las disciplinas desde donde generar actuaciones e intervenciones comunitarias y de cómo la propia comunidad y sus organizaciones son necesarias para la evolución y consiguiente desarrollo de la animación como puente- herramienta de acceso a la transformación social. Es así que partimos del entendido que todos y todas las que nos encontramos aquí conocemos cuales serían las características principales que constituyen a la Animación
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Sociocultural con algún que otro matriz pero que en general podemos acordar y que encontramos en algunos de los países que están presentes aquí:
Individuos que realizan y desarrollan acciones y actividades las cuales son consideradas animación.
Por parte de estaos y de la sociedad civil se considera a la animación como una de las actividades propias de la política sociocultural.
Organizaciones de la sociedad civil que toman a la animación como disciplina y método principal para el desarrollo de sus programas.
Instituciones que promueven la animación y la difunden
Concretamente podemos acordar que si tuviésemos que escoger cual es la esencia de la animación sociocultural esta sería la participación.
Pero antes de seguir trabajando en la animación misma me interesa plantear que es lo que sucede en la sociedad civil y el ámbito público. En el marco de la sociedad civil podemos ver el surgimiento y profesionalización de las organizaciones no gubernamentales, así como de otros movimientos sociales y de profesionales que vienen desarrollando investigaciones, programas, planes y actividades que ha hecho que la animación cobre un protagonismo sin precedentes. No podemos decir aún lo mismo en lo que respecta al ámbito público. Son muchos los países que en la formulación de sus políticas sociales y culturales no le atribuyen un papel protagónico a la animación, muchas veces por que no la conocen y otras veces por que tienen una concepción relacionada con la realización de actividades sin mayor valor alguno basada en el divertimento. Que hacer en este sentido? Creemos firmemente que el papel de las organizaciones de la sociedad civil juega un papel fundamental en la ubicación de la animación sociocultural en el debate de la planificación de los países. Este es un desafío complejo y que requiere de trabajo, tiempo y mucha paciencia, así como de unirse los diferentes actores que se encuentran en este campo. Un ejemplo de ello es este segundo iberoamericano de animación sociocultural.
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¿Qué modelos de animación sociocultural y con que características?
Si tuviéramos que caracterizar en términos generales la situación en Uruguay y la región respecto a la animación sociocultural podríamos decir que existe una cierta efervescencia por la misma. Su relación con la educación no formal, la educación popular y la recreación, así como las diferentes instancias y
encuentros de las
diferentes individualidades e instituciones que se dedican a estos campos, hace que concretamente la Animación Sociocultural se configure en una práctica social privilegiada en relación a otras por parte de las diferentes organizaciones e instituciones sociales y socioeducativas.
En el largo recorrido de la conformación como disciplina y método de intervención la Animación Sociocultural se ha conformado a partir de las influencias notorias de los modelos español y francés. A partir de los siguientes criterios es que creemos se configura la misma en nuestra región:
La Animación Sociocultural se aboca al análisis de los cambios sociales y culturales y a cómo el individuo o el grupo van tomando posición. Tiende a un cambio de actitudes en las personas de modo de participar en las modificaciones de la sociedad y haciéndolo conscientemente,
La Animación Sociocultural como dinamizador de la modificación de pautas conservadoras de comunicación y la dinámica de los grupos,
La Animación Sociocultural para algunos especialistas es un método de adaptación y control de conflictos sociales, para otros es una concepción de liberación individual y social a través de la participación,
La Animación Sociocultural se propone como movilizadora de grandes masas y como opción ante el modelo único de la cultura oficial (no por nada, en los años de posguerra fue en los sindicatos franceses donde más se desarrollaron las técnicas de animación). De allí que sea entendida como un método tanto como un conjunto de acciones,
La Animación Sociocultural genera una crítica al sistema social, y algunas posiciones internas reclaman modificaciones sustanciales; 57
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La naturaleza metodológica de la Animación Sociocultural constituye un modelo preferente de intervención aplicable a todos y cada uno de los campos y temáticas de la educación no formal ( V. Ventosa)
No podemos decir que la Animación Sociocultural como intervención comunitaria se haya conformado desde uno solo de los criterios mencionados sino, que todos ellos la forman y en menor o mayor medida toman protagonismo según la índole de la actuación social y comunitaria concreta a desarrollar.
A la hora del desarrollo de las diversas intervenciones comunitarias la animación sociocultural se erige como una de las disciplinas y métodos adecuados en la medida que se persigue la promoción de la participación popular en los diversos espacios de la sociedad, así como el acceso a los bienes culturales comunes y la producción de los mismos. En base a los criterios expuestos que a nuestro entender configuran a la animación en nuestra región podemos decir que es necesario plantear una contextualización de la misma y cuál debe ser la animación particular para la región con que características y propuestas políticas, estéticas y éticas. En este sentido entonces ¿De que animación sociocultural estamos hablando? , ¿Qué características debe tener?, ¿Cuál es el papel de la animador?
Intentando responder a la primera pregunta decimos que la animación para nosotros es un modelo de intervención comunitaria con estrategias destinadas a desarrollar acciones y prácticas sociales dirigidas y destinadas a generar espacios y condiciones para una sociabilidad diferente. Tratará de poner en relación a los sujetos de la comunidad por medio de técnicas, actividades y acciones que potencien la participación social propendiendo a la construcción de una ciudadanía activa y crítica. Por lo tanto toda intervención comunitaria desde la animación tendrá en cuenta todos los aspectos que hacen a la realidad cotidiana de las comunidades y sus respectivos colectivos sociales. Nuestro modelo de animación tendrá como prioritarios los siguientes aspectos: la dinamización, la motivación y la generación de condiciones para el aprendizaje social.
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Respondiendo a la segunda pregunta planteamos las siguientes características que a nuestro entender la animación debe tener en cuenta para seguir vigente y evolucionar:
Ninguna metodología de intervención comunitaria actúa en el vacío sino sobre la realidad que continuamente plantea cambios y conflictos nuevos y nuevas posibilidades en un contexto social acelerado y vertiginoso. Esto es la animación debe estar constantemente contextualizada y permanentemente evaluada.
Ante todo es necesario pensar y hacer nuevas prácticas, escenarios y geografías y dispositivos críticos. Posicionarnos desde la pedagogía de la imaginación en claro contacto con la población o sector de la misma con la que se trabaje.
El desafío de la animación deber ser netamente político ya que ninguna acción es neutra y debe tener posición sobre las problemáticas diversas que existen realidades en las que se encuentra interviniendo.
La animación debe propender a generar espacios de trabajo que desplieguen condiciones de enunciabilidad de las dimensiones sociohistóricas de la subjetividad.
Debemos entender el desarrollo de a animación como un acto educativo reivindicando el poder a través del acto productivo.
La Animación Sociocultural no es solo una nueva modalidad de moda que enseña , ni una innovación técnica en lo social, ni una técnica moderna de la educación social ni una metodología social, ni siquiera un acto configurado en la voluntas de quien lo realiza, sin o una concepción y proyecto político-social
Generar actividades accesibles y de calidad.
Destacar lo grupal se ubica en el centro de nuestra práctica desde la animación sociocultural, reconocida desde una pedagogía en la que consideramos al grupo como un ámbito privilegiado para potenciar y promover cambios en el proceso de aprendizaje de los sujetos.
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Por último respondiendo a la tercera pregunta queremos plantear algunas consideraciones sobre el rol del animador que aportan a la vigencia y evolución de las cuales nos referimos anteriomente.
Al Animador lo concebimos ante todo como un educador, por ello deberá comprender que su tarea es amplia y comprometida. Sus valores estarán en juego articulándose con el de los demás constantemente.
Lo característico del trabajo del animador no es la función de dirección de actividades, ni mucho menos el desarrollo del rol del que lo sabe todo ni que lo puede todo. La función particular es el ejercicio de la capacidad de dinamización de los grupos y los colectivos, la capacidad de motivar, acompañar y movilizar a estos.
Por esto todo animador deberá estar permanentemente atento al porqué de su labor, así como al como desarrollarlo y al para qué.
Cabe destacar que todo animador es “un trabajador del conflicto”. Diariamente la tarea consiste en generar las condiciones para el aprendizaje y la participación esto implica que en los diversos ámbitos grupales y los diversos colectivos se generan contradicciones, divergencias sobre los distintos intereses y conflictos. Es aquí que el animador debe actuar y desarrollar su rol.
El educador trabajará desde la premisa que el conflicto es una instancia transformadora que permite a todo colectivo, grupo y sujeto ir más allá del hecho y aprender. Entonces planteamos a este como un mediador constante que deberá utilizar todo su bagaje de experiencia, sus conocimientos y destrezas a la hora de desarrollar su tarea socio-educativa y cultural cotidiana.
La labor del animador implica ética y estética y por ello la necesidad de concebir su rol políticamente. El vínculo con los demás debe estar enmarcado en una estética determinada que al decir de Schiller ubica al fenómeno de lo estético y plantea que en él lo bello es forma viva y la belleza se convierte en libertad”. Nos parece importante 60
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enmarcar nuestra acción cotidiana desde esta premisa asumiendo que la libertad se consigue a partir de varios aspectos de lo humanos y uno de ellos es lo estético y el mismo nos conduce por caminos de la belleza y nuevamente retomando a Schiller 1 cuando plantea que “solo el ejercicio estético lleva a lo ilimitado”.
Por último deseamos que nuestra labor educativa construida y basada desde lo político, lo ético y lo estético se desarrolle en la dialéctica del juego estético, este es una unidad de seriedad y juego donde la seriedad está basada en el contenido y el juego lo está en la forma.
Bibliografía. Mirta Cucco García, PROCC: Una propuesta de intervención sobre los malestares de la vida cotidiana. Argentina ATUEL 2006 Ezequiel Ander- Egg, La Animación Sociocultural en los comienzos del siglo XXI Argentina LUMEN 2008 Daniel Vega y Otros, Travesías Institucionales –Argentina, Lugar Editorial 2000 Víctor Ventosa, fuentes de la Animación Sociocultural- España, Editorial Popular 1993 Fabián Vilas, La Animación, la Educación y el Tiempo Libre, en Perspectivas actuales de la ASC, España, CCS 2006
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Filosofo Alemán 61
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Formação em rede na cidade de São Paulo: sobre a intervenção comunitária com base na Abordagem Colaborativa e na Animação Sociocultural. Juliana Pedreschi Rodrigues1 Paula Caroline de Oliveira Souza2
Resumo: Neste eixo situamos a experiência de quase 50 anos da Organização não Governamental “Vocação” que atua no campo do desenvolvimento comunitário tendo como perspectiva a Abordagem Colaborativa e a Animação sociocultural como base de formação em redes por meio da troca de experiências e ações socioculturais visando a construção de vínculos familiares e comunitários através de suas conexões com universidades nacionais e internacionais, com o poder público, com a Red Iberoamericana de Animación Sociocultural (RIA).
Palavras-chave: Animação sociocultural; Desenvolvimento comunitário; Formação em redes.
Introdução
O presente relato tem como propósito expor a experiência da Organização não governamental que surgiu ao final dos anos de 1960 com o nome de “Ação Comunitária do Brasil” e que em 2015 mudou o seu nome fantasia para “Vocação”. Essa organização nasceu na cidade de São Paulo, localizada no Estado de São Paulo e na região sudeste do Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística a cidade de São Paulo ocupa um território de 1.509 km² e conta com uma
1 Professora do Curso de Bacharelado Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo - EACH/USP. Presidenta do Nodo Brasil da Rede Iberoamericana de Animação Sociocultural. Contato: julianaprodrigues@usp.br 2 Animadora sociocultural, pesquisadora e gestora de projetos. Vice Presidenta do Nodo Brasil da Rede Iberoamericana de Animação Sociocultural. Contato: paula.lzt@gmail.com 63
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população aproximada de 11.376.685 habitantes1 e é considerada a maior metrópole da América Latina. Apesar de ser o principal centro financeiro e mercantil da América Latina, na cidade de São Paulo ainda podemos encontrar traços de desigualdades sociais, por um lado a concentração de renda e privilégios para poucos e, de outro, pobreza e ausência dos serviços públicos básicos para o desenvolvimento urbano. E nessa cidade mundialmente conhecida pelo trabalho e progresso, em geral, distante do eixo de desenvolvimento, no que se costuma nomear por “periferia” se encontram as moradias precárias, os espaços desprovidos de bons equipamentos educacionais e de lazer, o frágil serviço de saúde, o ineficiente transporte público que desumaniza o cidadão. Esse cenário de pobreza e ausência de serviços públicos pode ser observado nas “beiras da cidade” como no caso do extremo da Zona Sul da Cidade2, região administrativa constituída pelas subprefeituras da Capela do Socorro, de Campo Limpo, de Cidade Ademar, de Parelheiros, e do M'Boi Mirim. De acordo com o censo de 2010, essa região tem uma população aproximada de 2.300.638 habitantes e ocupa um território de 607 km². Para melhor compreensão seguem mapas3 de localização do país, estado e cidade de São Paulo e da Zona Sul da cidade desta cidade (RODRIGUES E SOUZA, 2015, p. 4-5). Os bairros dos subdistritos de Campo Limpo, Capela do Socorro, Cidade Ademar e M’Boi Mirim, localizados no extremo Sul da cidade de São Paulo e adjacências, são localidades com altos índices de vulnerabilidade social, porém com vasta lista de iniciativas organizadas visando o acesso à cultura, à saúde, à educação, a melhoria da infraestrutura urbana, dentre outras reivindicações imprescindíveis para garantir uma vida digna (BRASIL, 2004). Em geral, nesses bairros, encontramos os coletivos e as lideranças comunitárias que não se resignam com a ausência de direitos sociais e, por isso, se organizam e organizam toda a comunidade para lutar por eles. E é, justamente,
1IBGE, Diretoria de Pesquisas - DPE, Coordenação de População e Indicadores Sociais – Copis. www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/estimativa2010 2 hhtp://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/secretarias/planejamento/plano_diretor/Plano_Municipal_ Habitacao 3 http://ww2.prefeitura.sp.gov.br//arquivos/guia/mapas/0001/mapa_subprefeituras.jpeg small> 64
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nessa região que a Vocação desenvolve, há quase 50 anos, os seus programas sociais através de ações realizadas em parceria com mais de 20 unidades de Organizações Sociais de base comunitária todas localizadas nos subdistritos de M’Boi Mirim, Capela do Socorro, Grajaú, Cidade Ademar, Campo Limpo e adjacências que atuam de acordo com a realidade de cada bairro e, também em parceria com a Prefeitura da cidade de São Paulo.
A Animação Sociocultual (ASC) e a Abordagem Colaborativa como estratégias para a participação e criação de redes e vínculos comunitários.
A atuação da organização não governamental Vocação baseia-se na perspectiva da Abordagem Colaborativa – ou ABCD (Asset-Based Community Development) Desenvolvimento Comunitário Baseado em Talentos e Recursos Locais - que, unida à Animação Sociocultural promove nas comunidades da Zona Sul da Cidade de São Paulo formação continuada, o envolvimento e participação na dinâmica familiar e social. Considerando
como
importante
a
união
entre
teoria
e
a
prática,
tais
metodologias/perspectivas tem a colaboração e a participação ativa dos sujeitos como premissas, sendo a cultura local e o lazer campos profícuos para essa troca de experiências. Como base, propõe-se uma mudança de paradigma:
MUDANÇA DE PARADIGMA De: Foco nos problemas e dificuldades
Para: Foco nas habilidades e potencialidades
Prevalece a opinião técnica do Prevalece o saber da comunidade perito Poder sobre a comunidade
Poder compartilhado com a comunidade
Processo decisório centralizado
Processo decisório compartilhado
Recursos ofertados vêm de fora
Recursos estão na comunidade
Dependência e Clientelismo
Corresponsabilidade e Cidadania
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Dentre seus principais objetivos, a Vocação, ao longo de quase cinco décadas, buscou desenvolver habilidades e conectar pessoas promovendo a participação ativa por meio do Programa de Desenvolvimento de Lideranças Comunitárias e do Programa Lazer Comunitário com ações socioculturais voltadas para a construção de vínculos familiares e comunitários. Assim o Centro de Desenvolvimento Comunitário investe na qualificação de suas formações como garantia de valorizar essas perspectivas em seus projetos e sistematizar dados obtidos, visando aprofundar os conteúdos que inclusive contribuem, sobremaneira, com a formação continuada de sua equipe, dos líderes comunitários, dos Animadores Socioculturais e dos educadores culturais, pois entendemos como Ventosa (2012) que a Animação Sociocultural, dentre outras finalidades, possibilita atingir um processo gradual de autonomia e controle da própria formação, através de técnicas participativas e grupais centradas na ação e difusão de conhecimentos. Por isso consideramos que a experiência da Vocação situa-se no eixo temático três intitulado: “Experiencias iberoamericanas de ASC desde la sociedad civil fortaleciendo el trabajo en redes”, que resume o campo de atuação e objetivos da Vocação, organizado pelo Centro de Desenvolvimento Comunitário dessa instituição visando à promoção da formação continuada e em redes. Tais formações buscam, dentre outros objetivos: Analisar a Animação Sociocultural unida ao desenvolvimento comunitário; proporcionar vivências integradoras em oficinas participativas de enfoque cultural e de lazer às famílias; estimular a atuação de lideranças que exercitem suas capacidades como conectoras ao desenvolvimento de vínculos entre atores sociais e recursos locais da comunidade; estimular a organização e fortalecimento comunitário; promover a mobilização familiar à participação ativa. (SOUZA; SARTORI, 2015, p.2)
Nesse processo prioriza-se desenvolver habilidades e conectar pessoas promovendo a participação ativa por meio do Programa de Desenvolvimento de Lideranças Comunitárias e do Lazer Comunitário que promovam ações socioculturais com foco no estreitamento dos vínculos familiares e comunitários.
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Principais indicadores de impacto observados nas formações da Vocação.
Na Vocação as formações das equipes de trabalho e das comunidades ocorrem desde o ano 2009 sendo desenvolvidas pelo Centro de Desenvolvimento Comunitário com enfoque na Abordagem Colaborativa. Desta maneira, a partir dessa data os conteúdos e conhecimentos foram refinados e novas parcerias foram estabelecidas para fortalecer as formações. Dentre os principais parceiros estão a Universidade de São Paulo, os espaços culturais da cidade e a Rede Iberoamericana de Animação sociocultural. Esses vínculos possibilitaram à Vocação refletir sobre a suas ações formativas e investir, ainda mais, no processo de formação continuada, que culminou nos resultados notados dos três últimos anos, 2013, 2014 e 2015 e que serão apresentados em detalhes a seguir. Principais resultados notados durante o trabalho em rede. A promoção de Ações Intergeracionais: mesmo conscientes de que se apresenta como um desafio agregar perfis e faixas etárias diferenciadas que compõem uma família, as oficinas participativas, foram realizadas com vários sujeitos reunidos nas vivências de lazer. Neste grupo, encontramos até quatro gerações da mesma família unidas nas atividades.
Figura 01: Ações intergeracionais em eventos comunitários – CCSJ São Joaquim e Auriverde
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Fonte: A Banca
O processo de democratização do espaço das organizações sociais: como cita Marcellino (2002, p.25), “pode-se dizer que democratizar o lazer implica democratizar o espaço”. A participação ativa das famílias nas organizações sociais foi crescente no decorrer do projeto. Assim, quadras, salas de aula, galpões, pátios e até refeitórios têm sido otimizados para o uso da comunidade durante as atividades de lazer com as famílias, assim como, as barreiras de incertezas e insegurança começaram a ser quebradas pela cumplicidade que começou a se desenvolver entre as organizações sociais e a comunidade (KALOUSTIAN, 2000).
Figura 02: Jovens revitalizando organização social em evento Aurigreen e IAG
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Fonte: Acervo da Vocação
Desta maneira, a Vocação traçou o projeto apresentado nesse texto que retrata, como a concepção de que o trabalho com criança e com adolescentes não tem o mesmo resultado se ela ocorrer de forma isolada, ou seja, sem as redes. Entende-se que somente possibilitando o envolvimento das famílias, cobrando e participando da elaboração de políticas públicas que será possível termos cidadãos mais atuantes, autônomos e protagonistas de suas vidas e cientes de seus direitos (TORO, 1996). Figura 03: Apresentação de famílias e equipes em eventos Cidade Júlia e IAG
Fonte: Acervo Vocação e A Banca
Outros resultados de formações foram detalhados no estudo realizado por Souza e Sartori (2015, p.332) no artigo intitulado: A formação de Animadores 69
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Socioculturais na região Sul da cidade de São Paulo, apresentado no I Congresso Internacional “O animador sociocultural no século XXI: perfil, funções, âmbitos, metodologias, modelo de formação, projetos de intervenção, realizado na cidade de Barcelos, Portugal, em novembro de 2015. Os principais resultados percebe-se que as ideias dadas pelas comunidades já mostram frutos, unindo as propostas de lazer com as ações das organizações sociais parceiras. Dentre outros importantes resultados: 1. Observa-se que as famílias estão encontrando novas formas de se comunicarem, de se aproximarem das organizações parceiras e dos grupos das Oficinas Culturais de Lazer, como com Grupo no WhatsApp para se comunicarem; 2. Nota-se que aos poucos as pessoas começam a diminuir segmentação em oportunidades de vivências familiares, assim como passam a integrar novas práticas culturais em família; 3. Percebe-se que avanços na sensibilização, ainda faltam, mas conseguimos perceber diferenças nos depoimentos dos grupos; 4. Observa-se nas discussões há a compreensão do grupo participante a respeito do lazer como direito e do fortalecimento comunitário quando estão juntos. 5. Nota-se a necessidade de integrar as equipes das organizações sociais parceiras às premissas de nossa metodologia, o processo de multiplicação tem sido algo que necessitou maior atenção para avançarem, mas continuam acontecendo; 6. Percebe-se que aos poucos há superação – por parte das lideranças e gestores comunitários - para a dificuldade em atrair as famílias para as atividades, que passam a descobrir o universo de momentos de lazer em grupos intergeracionais; 7. E, percebe-se também que, ambas vertentes – Lazer Comunitário e Formação de Lideranças Comunitárias – já garantem em algumas comunidades, de maneira tímida, 70
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porém crescente e notáveis em outras, a sustentabilidade do processo onde o protagonismo e a autonomia já ocorrem de fato.
Considerando a promoção da participação cidadã como foco das formações, entende-se que os vínculos e as conexões entre pessoas acabam por ser o ponto de partida para que haja a mobilização familiar e a organização comunitária. Segundo Gohn (2006, P.28) nos processos de educação não formal “o grande educador é o “outro” é aquele com quem interagimos ou com quem nos integramos e com quem construímos vínculos imprescindíveis para o desenvolvimento social.
Possibilidades de difusão das experiências da Zona Sul da cidade de São Paulo para outros bairros da cidade e para bairros de países iberoamericanos.
Segundo Green, Moore e O’Brien (2006, p.45) a “comunidade é construída a partir da vontade de agir”. Assim, ao se trabalhar com a promoção de vínculos e com a organização comunitária buscou-se, justamente, a participação cidadã, entendendo-se o lazer como direito e a animação sociocultural como vetor para o protagonismo de cidadãos que buscam a transformação social. Para o caso do desenvolvimento destas experiências em outras comunidades da América Latina, chama-se a atenção para as estratégias direcionadas ao Lazer Comunitário promovidas e incentivadas pela Vocação e para algumas etapas que foram essenciais para que as pessoas e para que as famílias pudessem vivenciar a participação efetivamente. Para desenvolver e/ou replicar a experiência sugere-se, como exemplo, partir das seguintes premissas:
Organizar encontros nas comunidades, com as famílias, para que elas escolham as atividades socioculturais que desejam desenvolver;
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Definir, em conjunto com as famílias horários, datas e a linguagem
cultural
que
será
utilizada
para
o
desenvolvimento das atividades ao longo da formação;
Organizar encontros de sensibilização visando despertar nas famílias a sentido de participação cidadã e a compreensão do lazer e da cultura como um direito social;
Elaborar um cronograma de planejamento colaborativo de formações e encontros mensais e itinerantes – envolvendo a equipe de Animadores socioculturais, as famílias e demais membros da comunidade;
Promover formação continuada da formação da equipe técnica;
Oferecer atividades e oficinas participativas com opções escolhidas a partir do interesse das famílias e tendo a família como parte de todo o processo;
Promover eventos e saídas culturais visando a ampliação do repertório cultural;
Desenvolver formas manuais e digitais para o registro e arquivo de todas as atividades e memória das formações;
Estabelecer contatos com outras instituições do terceiro setor, com empresas privadas, com o poder público municipal, com universidades públicas como forma de construir redes de colaboração e auxilio mútuo.
Desta maneira, as formações do Nodo Brasil da RIA, foram articuladas com a Universidade e desenvolvidas de acordo com as expectativas das equipes da sociedade civil, dos bairros, que organizadas passaram a compor o grupo assíduo de formações. Desta forma, fez-se necessário a criação de um calendário mensal com temas sinalizados e escolhidos por eles, permitiram compor o quadro a seguir, representando o perfil das formações via rede, onde a equipe da Vocação participou ativamente e também ministrou com outros profissionais algumas das temáticas, dentre eles, mestres e doutores universitários da USP, UNICAMP e FMU e representantes de importantes órgãos locais, como o Centro de Pesquisa e Formação do Serviço Social do 72
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Comércio – CPF/SESC/SP, o Centro de Estudos e Pesquisas em Educação e Cultura e Ação Comunitária - CENPEC.
Sobre a sistematização das experiências, sobre apoios e publicações.
A pesquisa e produção de conhecimentos é uma premissa defendida na Rede Iberoamericana de Animação Sociocultural e, consequentemente, também pelo Nodo Brasil da RIA. Nos dois últimos anos, em meio às formações, uma vivência referiu-se à valorização e sistematização de experiências realizadas ao longo do projeto da Vocação – “Famílias que Educam” organizando resultados e apresentando detalhes de ações que estiveram ligadas ao conteúdo das formações RIA de 2014 e 2015. O livro: Construindo Vínculos Comunitários1 é resultado da união entre teoria e prática desenvolvida no eixo – Produção e Disseminação de conhecimento defendido pela organização citada. Desta forma, além da presença de animadores socioculturais – denominação profissional assumida pela organização Vocação – também fez parte da equipe de elaboração a pesquisadora Paula Caroline de Oliveira Souza, com função específica para esta sistematização e relação teoria e prática e a gerente do Centro de Desenvolvimento Comunitário Deise Rodrigues Sartori. Assim, em parceria com a RIA Nodo Brasil, esta obra foi escrita junto com Juliana Pedreschi Rodrigues, professora da Universidade de São Paulo. A construção deste livro foi uma experiência viva, capaz de refletir em palavras ditas por líderes e gestores comunitários “sim, esta obra faz sentido para nós, porque nos enxergamos nela”. Conforme cita Victor Ventosa no prefácio, o livro que relata a experiência de formação em rede ofrece de una manera clara, útil y estructurada, una muestra óptima de cómo llevar a la práctica esta meta de la Animación Sociocultural en contextos desfavorecidos y con niños, jóvenes y familias, a través del empoderamiento de sus líderes y el despliegue de las potencialidades creativas, expresivas y ocupacionales de sus destinatarios. [...] Con ello, se consigue dar un salto cualitativo en el camino del reconocimiento social y 1
Baixe o livro em http://www.vocacao.org.br/downloads/Construindo-vinculos-comunitarios.pdf. A publicação contou com rrecursos financeiros do Fundo Municipal e do Adolescente (FUMCAD) da Cidade de São Paulo. 73
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profesional de la animación sociocultural, pasando de una primera y ya superada etapa casuística y testimonial del mero intercambio de experiencias, a la etapa de la sistematización y fundamentación de las mismas. (ROGRIGUES; SOUZA; SARTORI, 2015, p. 7)
O livro “Construindo Vínculos Comunitários”foi lançado no Seminário “Mobilização Comunitária: experiências colaborativas” em outubro de 2015 e, no mês seguinte, foi lançado no âmbito Internacional, no Congresso: O Animador Sociocultural do Século XXI realizado pela Intervenção - Associação Portuguesa para a promoção e divulgação cultural, na cidade de Barcelos, Portugal e, no mês de março foi também lançado na Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo. Vale lembrar que a publicação do livro contou com o financiamento público do FUMCAD - Fundo Municipal e do Adolescente (FUMCAD) da Cidade de São Paulo e que suas
edições
são
distribuidas
gratuitamente
em
diferentes
comunidades,
universidades, eventos e congressos da área da animação e educação social.
Considerações finais Ao buscarmos a melhoria da convivência e da qualidade de vida nas cidades, especificamente, no cenário onde atua como organização social, a Vocação busca fomentar, por meio da perspectiva da Abordagem Colaborativa e da Animação Sociocultural, a participação das famílias de jovens e crianças que integram o público dos programas socioeducativos desenvolvidos junto às organizações sociais parceiras em diferentes bairros do extremo sul da cidade de São Paulo. No decorrer das ações desenvolvidas, novas demandas e desafios vão emergindo das lideranças comunitárias e do contexto social e político que acompanha o cotidiano das regiões pobres da cidade de São Paulo. Segundo Neumann (2004, p.66), “para enfrentar o desafio de articular os esforços e trabalhos das instituições e das comunidades, o primeiro passo é encorajar e fortalecer o relacionamento entre moradores e profissionais de instituições e entre os profissionais das várias instituições”. Assim, na busca pela conexão de atores sociais e da mobilização familiar em prol do fortalecimento comunitário, novos arranjos surgem e novas soluções são buscadas.
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É nesta busca que está a ampliação das redes de contato e conexões socioculturais no incentivo à corresponsabilidade e cidadania para potencializar estes elementos. Para que haja um trabalho em rede, além das formações continuadas, que proporcionam às lideranças locais a troca de informações e apoio entre regiões de atuação e o intercâmbio de ações provocados pela Vocação, também há o incentivo para que novas conexões sejam criadas. Estas conexões se iniciam na compreensão de que uma criança participante de um programa socioeducativo precisa ser incentivada a se envolver com sua família e seus mais próximos, assim como sua família pode estabelecer uma relação com vínculos de confiança com a escola e as organizações sociais pelas quais elas transitam. Esta premissa reflete o esforço dos programas da Vocação pelo Centro de Desenvolvimento Comunitário em fomentar um ambiente favorável com pessoas capazes de estimular crianças, adolescentes e jovens a encontrarem suas oportunidades, de acordo com seus talentos e capacidades. Cada qual com suas ações e perfis, formam novos laços, envolvendo toda uma comunidade. Multiplicar as bases teóricas que a Vocação defende nestas perspectivas é uma forma de disseminar e sensibilizar novos grupos, porém, mais que isto, foi realizado no período citado dos projetos – 2009 a 2015 – a viabilidade prática dessas ações, de acordo com a realidade de cada bairro junto às lideranças comunitárias. Além disto, a disseminação de experiências e a troca de repertórios entre bairros, cidades e inclusive entre países, tem possibilitado que a metodologia aplicada seja fonte de inspiração e, principalmente, a formação de uma rede ainda maior, capaz de enriquecer e capacitar ainda mais quem quer transformar sua realidade.
REFERÊNCIAS
AÇÃO COMUNITÁRIA. Família: participação cidadã. São Paulo, 2014. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: atualizada e ampliada. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.
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GOHN, M. da G. Educação não-formal, participação da sociedade civil e estruturas colegiadas nas escolas. Ensaio: aval. pol. públ. Educ., Rio de Janeiro, v.14, n.50,p.2738, jan./mar.2006. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/ensaio/v14n50/30405>. GREEN, M., MOORE, H. & O’BRIEN, J. When people care enough to act: ABCD in action; foreword by John McKnight; reflections by Dan Duncan [et al.]. Toronto: Inclusion Press, 2006. KALOUSTIAN, S.M. (Org.). Família brasileira, a base de tudo. 4. ed. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: UNICEF, 2000. MARCELLINO, N. C. Estudos do lazer: uma introdução. 3. ed. Campinas: Autores Associados, 2002. NEUMANN, L. T. V, NEUMANN, R. A. Desenvolvimento comunitário baseado em talentos e recursos locais – ABCD. São Paulo: Global; Instituto para o Desenvolvimento de Investimento Social, 2004. ROGRIGUES, J. P.; SOUZA, P. C. de O.; SARTORI, D. R. Construindo Vínculos Comunitários. VOCAÇÃO. FUMCAD. São Paulo, 2015. SOUZA, P. C. de O.; SARTORI, D. R. A formação de Animadores Socioculturais na região Sul da cidade de São Paulo. In: O animador sociocultural no século XXI: perfil, funções, âmbitos, metodologias, modelo de formação, projetos de intervenção. Chaves: Intervenção, 2015. TORO, J. B.; WERNECK, N. M. D. Mobilização social: um modo de construir a democracia e a participação. UNICEF – Brasil, 1996. VENTOSA, V. Métodos activos y técnicas de participación: para educadores y formadores. Madrid: Editorial CCS, 2012.
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RETOS DE LA EDUCACIÓN SOCIOCULTURAL EN LA SOCIEDAD DIGITAL Mario Viché González1
RESUMEN La Educación Sociocultural a través de sus múltiples prácticas, la animación, la educación popular, la recreación, la educación sociocomunitaria es, ante todo, una práxis social de inclusión, aceptación del otro, solidaridad y sostenibilidad. En los últimos años estamos viendo el resurgir de actitudes intolerantes, autoritarias y excluyentes que, aparentemente, apuntan a un cierto fracaso en las prácticas de la Educación Socicultural a lo largo del siglo XX. Pero se trata solo de una aparente contradicción ya que tras un análisis crítico de las coordenadas de una sociedad digitalizada, regida por el neoliberalismo económico más radical y que provoca, como consecuencia, directa graves desigualdades económicas y sociales las propuestas y las prácticas de educadoras y educadores sociales mantienen su eficacía y significación a través de prácticas interactivas, transmedia, cibercomunitarias y multiculturales. PALABRAS CLAVE Educación sociocultural, sociedad digital, práctica educativa, cibercomunidades, retos sociales. RESUMO Educação Sociocultural através de suas muitas prática, entretenimento, educação popular, recreação, educação sociocommunity é acima de tudo uma práxis social de inclusão, aceitação dos outros, solidariedade e sustentabilidade. Nos últimos anos, estamos vendo o ressurgimento de atitudes intolerantes, autoritárias e excludentes que, aparentemente apontam para alguma falha nas práticas de Educação Socicultural ao longo do século XX. Mas esta é apenas uma aparente contradição, porque depois de uma análise crítica das coordenadas de uma sociedade digitalizada governada pelo neoliberalismo econômico mais radical e causas, como resultado desigualdades económicas e sociais directos, propostas sérias e práticas dos educadores e educadores sociais manter a sua eficácia e importância, através de práticas multiculturais interativos, transmedia e cibercomunitarias.
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Profesor Asociado de la Universidad de Valencia e editor da revista Quaderns d’ Animació i Educació Social (quadernsanimacio.net) | mviche@marioviche.es 77
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PALAVRAS-CHAVE Educação sociocultural, sociedade digital, prática educativa, comunidades virtuais, desafios sociais
1. La Educación Sociocultural garante de la inclusión y la democracía.
Durante todo el siglo XX y parte del XIX la Educación ha estado liderando dinámicas sociales de emancipación y libertad individual y comunitaria generando prácticas y modelos de educación para la democracía y la ciudadanía, el análisis crítico, la toma de conciencia, la coeducación, la tolerancia, el diálogo, la no violencia, las identidades compartidas y la multiculturalidad.
A través de prácticas como la Escuela Nueva (A. Férriere), la Escuela del Pueblo (Celestín Freinet), las Escuelas Libres, la Educación Liberadora (Paulo Freire), el laicismo escolar (Jules Ferry) o las aportaciones de John Dewey en la construcción de una escuela democrática, la educación ha ido sentando las bases de una sociedad tolerante e inclusiva fundamentada en la Paz y la solidaridad internacional.
Con el apoyo de la UNESCO, investigadores y movimientos educativos han trabajado con éxito en la génesis de una co-educación comunitaria, solidaria e inclusiva. La aparición de términos como los de Educación Social, Educación para la Paz, Educación para el Desarrollo comunitario, Educación para la Ciudadanía o el de la Animación Sociocultural son indicadores de la existencia de una práctica educativa consolidada y de la vigencia de estas propuestas socioeducativas.
Con especial enfásis, tras la Segunda Guerra Mundial, la educación se ha vertebrado como una herramienta eficaz para la reconstrucción de la conciencia cívica del Planeta. Tras el fracaso moral y cultural que supuso el fascismo en la primera mitad del seiglo XX, la educación se postuló como una tarea colectiva de regeneración ciudadana, convivencia multicultural, tolerancia y reconstrucción de un tejido social democrático basado en las identidades nacionales, el diálogo intercultural y la convivencia pacífica. 78
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Es en este contexto de regeneración democrática que la Educación Sociocultural se desarrolla como práctica colectiva de identificación y desarrollo cultural, diálogo ciudadano, transformación y cambio social. Tanto desde el modelo francófono que trabaja por la reconstrucción de las identidades y la democracía cultural como desde el modelo anglosajón que pone el enfásis en el desarrollo comunitario o el modelo latinoamericano que postula una educación liberadora, la Educación Sociocultural se presenta durante la segunda mitad del siglo XX y principios del XXI como una garantia de convivencia ciudadana, tolerancia y desarrollo democrático
En los barrios periféricos de las ciudades del sur de Europa o en las comunidades campesinas de América Latina tanto la Educación Popular como la Animación Sociocultural han demostrado con creces la viabilidad de unos proyectos y unas propuestas educativas para la convivencialidad, la autonomía y la libertad individual y colectiva. Del mismo modo, a través de los Movimientos de Renovación Pedagógica y las prácticas de la Pedagogía Social, se ha contribuido a la puesta en práctica de nuevos modelos escolares participativos, colaborativos y en sintonía con el entorno sociocultural.
El análisis de estos datos históricos nos permitió afirmar en el artículo titulado: La Animación Sociocultural, una corriente educativa (Viché 2012) que:
“La Animación Sociocultural ha generado una representación de la realidad en todas y todos aquellos que en algún momento han estado comprometidos con sus prácticas de manera que esta representación se ha instalado en el imaginario colectivo de todas y todos ellos ejerciendo un impacto nada despreciable sobre otros colectivos sociales. En concreto a lo largo de los años la animación ha creado una representación social de: La democracia como tarea colectiva, como sistema de participación de todos los ciudadanos y ciudadanas. Frente a la democracia representativa la animación ha generado la representación de una democracia participativa basada en la 79
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interactividad, la toma de decisión y el compromiso activo con el devenir de la vida colectiva. La comunidad como el espacio de encuentro de las identidades individuales, las inquietudes y los recursos colectivos. La comunidad como una construcción colectiva basada en la solidaridad y la cooperación interactiva. Las identidades como factores individuales de respeto, comunicación y creación de fórmulas de cohesión social y comunicación multicultural. La educación como una acción colectiva, autónoma y colaborativa. Frente a una educación bancaria y dogmática la animación ha generado una representación de la educación como tarea colectiva, dialógica y liberadora. Y por último una representación de que el cambio y la transformación social es posible, que la acción solidaria y continuada de individuos y colectivos puede generar el cambio de las estructuras sociales hacía una sociedad inclusiva, solidaria y distributiva, en la que el desarrollo es ante todo un crecimiento de la inteligencia y la sensibilidad humana”.
2. Una aparente contradicción
No obstante, los últimos acontecimientos sociopolíticos en Europa y en el resto del Mundo están poniendo en aparente evidencia los logros de la Pedagogía Social y la Educación Sociocultural a lo largo de las décadas más recientes. La aparición de actitudes intolerantes, posicionamientos integristas y enfrentamientos identitarios asi como el crecimiento de las representaciones racistas y xenofobas en diversas zonas del Planeta constituyen un eje de reflexión y evaluación crítica para unas pedagogías que promueven el diálogo, la interactividad, la convivencialidad, la multiculturalidad, la pedagogía de género y una educación inclusiva para la solidaridad, la sostenibilidad y la Paz.
Cuando en países como Francia o Belgica la Animación Sociocltural y la Educación Popular han trabajado durante años por implementar políticas socioeducativas inclusivas y multiculturales en las periferias de las grandes ciudades desde centros sociales de barrio, casas de la juventud, centros culturales y movimientos educativos, 80
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los resultados parecen ser contradictorios. La inclusión no se ha producido, el diálogo intercultural parece haber fracasado, la frustración y el incremento de la intolerancia y la xenofobia se hacen cada vez más evidentes. Tanto el aumento de la pobreza y la marginalidad social que afecta mayoritariamente a los colectivos emigrantes y que, entre otros factores, está provocando crisis identitarias e integrismo cultural y religioso así como el incremento de la fuerza sociopolítica de los partidos y colectivos xenofobos en Europa son indicadores de un cierto fracaso en las políticas socioeducativas que habían puesto el acento en la inclusión sociocultural, la tolerancia, la convivencia y la solidaridad.
Igualmente en América Latina los esfuerzos socioeducativos realizados desde la Educación Popular, las campañas de alfabetización, la Educación Liberadora, el Teatro del Oprimido, los Círculos de Cultura o el movimiento por la Recreación han trabajado por la democratización de la cultura y el desarrollo cultural y educativo como un instrumento para la emancipación social y el desarrollo de una educación solidaria. De modo similar, los últimos acontecimientos sociopolíticos en esta región parecen haber cuestionado los logros de estas dinámicas socioeducativas.
Pero solo podemos hablar de aparente contradicción en cuanto a resultado de la praxis socioeducativa pues si bien están incrementándose las representacines estereotipadas e integristas de la realidad social y las actitudes xenofobas e intolerantes también es una realidad que se están consolidando representacines críticas y solidarias de la convivencia humana sobre el Planeta y que se están afianzando las actitudes inclusivas y de diálogo multicultural en la búsqueda de una ciudadanía universal respetuosa con las identidades indígenas, los derechos individuales y los principios comunitarios.
La aparición de las llamadas revoluciones digitales, el surgimiento de nuevos movimientos y partidos políticos que postulan una nueva cultura de la solidaridad, la multiculturalidad universal, la coordinación de los movimientos sociales a través del Foro Social Mundial y la declaración de que Otro Mundo es posible y, sobre todo, los cambios en la representación de la realidad social, las actitudes solidarias emergentes que postulan un comercio justo, una economía del bién común o una cultura libre son 81
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indicadores de que una nueva cultura de la solidaridad multicultural se está desarrollando fruto del trabajo y la acción crítica de educadoras, educadores y comunidades locales a lo largo de la historia más reciente.
Si bien, en un primer momento, podemos achacar a los postulados y a las políticas neoliberales las causas de este aparente retroceso ya que son las políticas neoliberales las que están minando el sector público, ninguneando sus modelos de intervención, negando avances en políticas sociales y desarticulando el Estado del Bienestar, también es verdad que la Sociedad del Siglo XXI ha sufrido profundos cambios tecnológicos, estructurales, migratorios y culturales que obligan a reconsiderar y reposicionar objetivos y estrategias de la acción cultural y educativa.
Es así que las estrategías de la Educación Sociocultural se han reposicionado adaptándose a los nuevos entornos socioculturales y tecnológicos, realizando una profunda lectura crítica de los signos de los nuevos tiempos marcados por la digitalización de la sociedad y transformando sus representaciones identitarias en función de los flujos migratorios y los actuales fenómenos de la convivencia multicultural y el mestizaje sociocultural.
3. Nuevos entornos y nuevas narrativas para una acción sociocultural en el siglo XXI
Aunque, como hemos ido aportando, la Educación Sociocultural cuenta con una historia y una solvencia como práctica social que le proporciona visibilidad y credibilidad, la educación, como toda práctica socio comunitaria se adapta de forma dinámica a los cambios estructurales y de representación de los contextos históricos en los que se inserta.
En este sentido, en las primeras décadas del Siglo XXI, la Educación Sociocultural, en cuanto praxis solidaria de lectura crítica de la realidad y transformación social, adapta sus prácticas y estrategias a las dinámicas del cambio social y a los retos de la Sociedad Digital en cuanto que esta se nos presenta como el nuevo contexto social y cultural de referencia más inmediata. 82
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En consecuencia con nuestra hipótesis de trabajo vamos a realizar un breve itinerario que nos de pistas para analizar los retos que se le plantean a la Educación Sociocultural desde las coordenadas del Ciberespacio y la Sociedad Digital en Red, algunos de ellos ya planteados en el artículo “La animación sociocultural ante los retos de la sobremodernidad” (Viché 2008)
Entre los retos que a la práctica de la Educación Sociocultural plantea la La Cultura Digital hay que considerar:
a) Las nuevas narrativas digitales transmedia que rompen con la cultura de leer la realidad a través de unas narrativas lineales de recreación e interpretación de la cotidianidad y la transcendencia dando paso a unas narrativas transmedia multiformes, múltiples, multiculturales y dinámicas que se estructuran de forma hipertextual fruto de la autoría colectiva de múltiples actores que interactuan en el mundo digital y que dan lugar a una multiplicidad de representaciones de la realidad y a la confluencia de interpretaciones diversas sobre una misma realidad social. Frente a unas narrativas históricas, contextualizadas y multigeneracionales surgen nuevas narrativas que se construyen sobre nuevos contextos y lenguajes que combinan las narrativas clásicas de interpretación del mundo con nuevas narrativas mediáticas, digitales y transmedia que nos obligan a realizar una esfuerzo de alteridad para establecer lazos de comunicación entre generaciones. Frente a las narrativas estereotipadas creadas por los medios de comunicación desde posicionamientos de poder surgen las narrativas transmedia como nuevas formas de leer el mundo a partir de la autoría de múltiples actores que interactuan desde su propia experiencia y que no solo generan múltiples universos discursivos sobre un mismo contexto vivencial sino que se estructuran como contrapoderes alternativos en ocasiones convergentes generando el fenómeno de empoderamiento que Cremades denomina “Micropoderes” (Cremades 2007). En este sentido Lessig (2005: 62) afirma “Cuando cada vez más ciudadanos expresen lo que piensan y lo defiendan por escrito, esto afectará a la forma en que la gente entiende las cuestiones públicas”. Es, a través de las narrativas transmedia, que individuos y comunidades se expresan y se hacen
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visibles en el debate social, rompiendo estereotipos y dando paso a representaciones de la alteridad como fórmulas de entendimiento, tolerancia y convivencialidad.
b) El ciberespacio como contexto digital para el intercambio, la comunicación, el encuentro y el activismo social modifican los parámetros tradicionales de militancia, asociacionismo, debate y compromiso sociocomunitario. El ciberespacio se presenta como un lugar idóneo para la participación social, el empoderamiento colectivo y la vivencia de una nueva ciudadanía. Los ciudadanos Internet se reivindican como nuevos actores sociales que utilizan las interacciones en la Red para el compromiso social, el ciberactivismo y la cooperación en proyectos colectivos de toma de conciencia y cambio social. Así el ciberespacio se abre camino como contexto para la construcción de redes de solidaridad y cambio social. Un ciberespacio que es a la vez espacio digital y espacio físico de encuentro e implicación glocal, un contexto de referencia del que todos formamos parte mismo no utilicemos las tecnologías al ciento por ciento (Castells 2009). Es en este sentido que afirma Lessig (2005:60) “Los blogs permiten el discurso público sin que el público ni siquiera tenga que reunir-se en un único lugar público”. El ciberespacio deviene el ágora idónea para un debate social que se desarrollo en este contexto digital y que se concreta en acciones vivenciadas de cooperación y solidaridad.
c) La deslocalización es una consecuencia de la movilidad social y laboral pero también de multiplicidad de ofertas diferenciadas de ocio, formación o entornos vitales pero también, en la sociedad digital, es una consecuencia directa de una comunicación virtual en la que las cibercomunidades adquieren mayor importancia identitaria y funcional que las comunidades físicas de coexistencia.
La aparición de
cibercomunidades de afinidades, identidades e intereses compartidos condiciona radicalmente las tradicionales acciones de tipo presencial y militante. Una deslocalización que va unida a la multiplicación de “no lugares” (M. Augé) en nuestra vida cotidiana. Estos no lugares se presentan a nuestros ojos como espacios carentes de identidad (centros comerciales, autopistas, aeropuertos, zonas de ocio) y que nos obligan a redefinirlos como espacios de encuentro e identidad colectiva. Una deslocalización que redimensiona el sentido y la función de los espacios clásicos de 84
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convivencia e identificación: barrios, asociaciones y centros culturales, casinos y puntos de encuentro al tiempo que introduce nuevos espacios digitales para el encuentro, el intercambio, la expresión, las identidades y la cooperación en red. La cibercomunidad se convierte así en lugar para el encuentro de intereses e inquietudes y para la acción solidaria.
d) El paso de unas identidades estáticas tradicionales unidas a una historia, un espacio físico y una cultura local a unas identidades dinámicas en construcción fruto de la confluencia de las representaciones mediáticas, los flujos de población y la diversidad de narrativas radicales. En este sentido la identidad pasa de ser un factor pertenencia a un factor dinámico en evolución necesario para la consolidación de las comunidades locales y los grupos de convergencia. De esta forma el análisis dialógico de la realidad social y la búsqueda constante de la alteridad como fórmula de comunicación interactiva y no estereotipada se convierte, cada vez más, en un factor clave en las dinámicas de la Educación Sociocultural. La alteridad en cuanto encuentro con el otro presupone la potencialidad de expresión de vivencias e identidades en las redes sociales, la posibilidad de una auténtica autoría libre de estereotipos así como la capacidad de escucha activa y aceptación de los otros. Es la confluencia de espacios para la expresión y la comunicación que propicia el ciberespacio que es posible la alteridad como actitud vital de aceptación del otro y la creación de nuevas identidades dinámicas multiformes y multiculturales.
e) La contradicción entre un una cultura del consumo cultural regido por las estrategias del mercado globalizado basadas en el marketing de los estereotipos y orientada a un consumo masivo de productos culturales mediáticos, lúdicos, de ocio y turismo y una cultura transmedia que se construye sobre los principios del intercambio, la cooperación, la cultura libre, la gratuidad, la confluencia y la autoría individual y colectiva nos obliga a un posicionamiento de las estrategias de la animación y la gestión cultural que opte por la creatividad, la autoría, la libe expresión y la interactividad en las redes como fórmulas de libertad, autonomía y desarrollo cultural individual y comunitario. La cultura transmedia rompe definitivamente el paradigma elitista, transmisor y consumista de la cultura para dar paso a una cultura viva, 85
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dinámica que se construye desde la interactividad, la creatividad y el intercambio como nueva forma de democracia cultural.
f) La aparición de nuevos movimientos sociales que se organizan en red y que cuestionan las formas tradicionales de liderazgo, comunicación, activismo y organización asociativa nos obligan a replantear los planteamientos, estrategias y acciones de los movimientos y asociaciones socioculturales. Surgen nuevos colectivos y movimientos sociales que fundamentan su acción en la problematización de la realidad, el encuentro de identidades y representaciones y el activismo en red (que no unicamente en la Red). Nuevos movimientos sociales que ponen el acento en un liderazgo compartido y difuso y una acción vivencial y emocional que da identidad a la acción social y a la ciudadanía (Gerbaudo 2012) al tiempo que rechazan las fórmulas tradicionales de encuadramiento y liderazgo tradicionales. Unos movimientos que hacen de la horizontalidad la estrategia prioritaria de actuación frente a las fórmulas de organización piramidal y funcional.
g) La aparición de nuevos conceptos y representaciones de lo público como espacio colectivo, como compromiso y tarea de la comunidad, el cambio como tarea individual y colectiva de transformación de representaciones, actitudes radicales y formas de organización, el debate social como patrimonio colectivo de múltiples actores que interactuan en red, la participación como actitud ciudadana y fórmula de micro empoderamiento (Cremades 2007) y la ciudadanía como compromiso democrático activo y militante de los nuevos Ciudadanos Internet (Castells 2009) obligan a replantearse la acción asociativa y militante de participación, lectura crítica de la realidad y cambio social propias de la práctica de la animación sociocultural. El egobierno es ya una realidad pero también formas de auto organización ciudadana, empoderamiento, comunicación transmedia, ciberactivismo y compromiso con el cambio necesario en una sociedad digital que que se está construyendo a partir de una dialéctica entre una cultura privativa, neoliberal, competitiva y de autoría individual y una cultura libre, transmedia, solidaria, del intercambio y la cooperación, del ciberactivismo y la autoría colectiva.
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4. La Educación Sociocultural. Nuevos tiempos, nuevas prácticas.
En consecuencia con estos nuevos contextos y lenguajes socioculturales, la Educación Sociocultural ha ido evolucionando, abandonando paradigmas transmisores, dirigistas o asistencialistas para trabajar a partir de paradigmas dinámicos, cambiantes, adaptados a una realidad que no esta sujeta a condicionantes espacio temporales y que se va construyendo dia tras dia. Unos paradigmas que se contruyen a partir de la expresion transmedia de una comunidad viva en la que múltiples autores se expresan creativamente para construir juntos nuevas representacines de la realidad, de la colectividad y de un futuro compartido.
Para Educadoras y Educadores socioculturales no hay una única comunidad, tampoco comunidades. Su trabajo se desarrolla a través de cibercomunidades que tiene como punto de encuentro la confluencia de sus identidades y que acaban concretando su acción en espacios físicos de encuentro y cooperación.
La Educación Sociocultural trabaja con un tejido asociativo desinstitucionalizado donde prima la acción solidaria sobre la militancia. Unas organizaciones que se mueven por intereses y vivencias “problematizadoras” y que se organizan a través de estructuras de participación horizontales y liderazgos difuminados pero dotados de una importante carga emocional. Unas organizaciones flexibles que alcanzan sus mayores dimensiones en los momentos del activismo y la acción directa.
La Educacion sociocultural trabaja con la multiculturalidad, la aceptación de la diferencia y la interacción solidaria. Fruto de la cultura transmedia y la construcción de narrativas cambiantes, dinámicas y convergentes la acción sociocutural es una acción solidaria, no excluyente, tolerante y múltiple.
Es así como frente a las representaciones estereotipadas mediadas que aportan visiones racistas, excluyentes e intolerantes la Educación continua presentándose como una práctica democrática y dialógica de construcción de la alteridad y la comunicación intercativa como fórmula viable de construcción de colectividades 87
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humanas tolerantes, inclusivas, multiculturales y convivenciales. En este sentido la Educación continua siendo una práctica cargada de futuro, un futuro del encuentro solidario, la construcion de redes sociales y el encuentro multicultural. BIBLIOGRAFÍA
Castells, Manuel (2009): Comunicación y Poder. Alianza, Madrid. Cremades, Javier (2007); Micropoder. La fuerza del ciudadano en la era digital; Espasa; Madrid. Gerbaudo, Paolo; (2012); Tweets and the Streets; PlutoPress; London. Jenkins, Henry y otros (2015); Cultura Transmedia; Barcelona; Gedisa. Lessig, Lawrence (2005); Por una cultura Libre; Madrid. Traficantes de sueños. Viché M. (2008); La animación sociocultural ante los retos de la sobremodernidad; En revista Práticas de Animação año 2, número 1 Viché M. (2012); La animación sociocultural una corriente educativa; En revista Práticas de Animação año 6, número 5 Viché M. (2010) La Educación Sociocultural; Un indicador de desarrollo democrático"; Ed. Certeza; Zaragoza Viché M. (2013) ."Una acción social colaborativa. #La animación sociocultural"; Ed. Mario Viché; Valencia Viché M. (2014) Ciber@nim@ção”; Traducción al portugués de Ana da Silva; Ed. Mario Viché en Lulu.com; Valencia
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Animação, Animadores e Mercado de Trabalho António Manuel Rodrigues Ricardo Baptista
Resumo: O presente artigo surge no âmbito do projecto de doutoramento “Animação Sociocultural, Atores e Controvérsias Públicas” (projecto que toma como referência o quadro teórico da Sociologia Pragmática que considera a acção como o produto de um encontro entre as situações/contextos/acontecimentos e as formas como os actores nelas se envolvem) e tem como objectivo dar conta dos principais traços caracterizadores da Animação Sociocultural, bem como dos desafios que a sociedade moderna coloca a esta actividade em matéria de mercado de trabalho.
Palavras-chave: Animação Sociocultural, Mercado de Trabalho, Trabalho em Rede
A emergência da Animação Sociocultural enquanto actividade de intervenção social, educativa e cultural encontra explicação nas transformações sociais ocorridas a partir de meados do século XX, bem como na acção das organizações internacionais e nas políticas sociais e culturais promovidas pelos Estados nacionais1.
Em matéria de transformações sociais, salienta-se, antes de mais, o aumento do tempo livre a partir da década de 50, mercê da diminuição dos horários de trabalho e da consagração do direito a férias remuneradas, sendo que, nestas circunstâncias, a Animação Sociocultural surge com o objectivo de planear e estruturar esse mesmo tempo livre de forma a contribuir para a realização pessoal e social dos indivíduos. Em seguida, destacam-se as situações de risco relacionadas com a pobreza, a marginalidade e a exclusão social, fenómenos que a sociedade industrial trouxe consigo e, sendo assim, a Animação Sociocultural surge como uma forma de promover a integração e participação
Licenciatura em Sociologia, pós-graduação e mestrado em Sociologia, área de especialização em Conhecimento, Educação e Sociedade, doutorando em Sociologia, área de especialização em Cultura, Conhecimento e Educação. 1 “A animação sociocultural nasce como uma forma de promoção de actividades destinadas a encher criativamente o tempo livre, corrigir o desenraizamento que produzem os grandes centros urbanos, evitar que se aprofunde ainda mais a fenda ou fossa cultural existente entre diferentes sectores sociais, (…) criação de âmbitos de encontro que facilitem as relações interpessoais, alentar as formas de educação permanente e criar as condições para a expressão, iniciativa e criatividade dos indivíduos.” (Ander-Egg, 1999: 9). 89
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dos indivíduos na vida social. Por último, assinala-se o incremento da educação social como preocupação em promover a participação dos indivíduos e em desenvolver o seu espírito crítico, procurando que estes se transformem em agentes activos da sua formação.
No que respeita à acção das organizações internacionais, realça-se a importância dos estudos e dos programas incrementados, em especial pela UNESCO e pelo Conselho da Europa (através do Conselho de Cooperação Cultural2), em áreas como a educação permanente, a educação extra-escolar e as políticas culturais e que contribuíram para que a Animação Sociocultural encontrasse o seu espaço de actuação e, dessa maneira, obtivesse reconhecimento internacional.
Por último, a incorporação das preocupações sociais e culturais nas políticas públicas por parte dos Estados Nacionais contribuiu, através dos órgãos centrais e locais, para a contratação de técnicos animadores para realizarem funções associadas ao combate à pobreza e à exclusão social, à educação permanente e à difusão cultural. O turismo, a cultura, a educação, a acção social, o associativismo, a problemática juvenil, a terceira idade, a protecção de crianças e jovens, a promoção de novas tecnologias, a formação de adultos, o desporto, constituem, entre outras, áreas de trabalho que exigem equipas técnicas especializadas nas quais participam, muitas vezes, os Animadores Socioculturais.
Animação Sociocultural: (in)definições de uma actividade profissional
Pese embora a projecção ganha a partir de meados do século XX, a imprecisão, a ambiguidade e a incerteza parecem constituir traços caracterizadores da Animação Sociocultural enquanto actividade profissional. Imprecisão, por ser difícil delimitar os seus contornos. Ambiguidade, pelos múltiplos sentidos atribuídos ao conceito, sentidos que resultam, por um lado, de posicionamentos ideológicos diferentes e, por outro lado, da grande diversidade de âmbitos, de contextos e de públicos a quem a 2
Surgido em 1962, o Conselho de Cooperação Cultural subdividiu-se, em 2001, em quatro comités directores: o Comité Director da Educação, o Comité Director do Ensino Superior e da Investigação o Comité Director da Cultura e o Comité Director do Património Cultural. 90
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actividade se dirige3, bem como da grande variedade de instrumentos que utiliza e de actividades que desenvolve. Incerteza, pelo carácter transitório de muitos dos seus trabalhos.
A imprecisão, a ambiguidade e a incerteza não são, na verdade, estranhas ao Animador. O próprio conceito de Animação, em termos de evolução cronológica, remete-nos para uma ampla gama de concepções, de tendências e de perspectivas. Na verdade, “não há um autor que se tenha preocupado com o conceito de animação sociocultural que, em seguida, não tenha reconhecido a polissemia, a ambiguidade, a imprecisão, o carácter vago… no uso da expressão” (Trilla, 2004: 25).
O mesmo é reconhecido por Quintas e Castaño (1998: 17) quando afirmam que “o conceito de animação é bastante impreciso. Não existe unanimidade entre os autores”. Há, com efeito, segundo João Teixeira Lopes (1993: 79), uma “conflitualidade teórica à volta do conceito”, conferindo aos autores perspectivas de abordagem diferentes: para uns, inspirados em correntes anglo-saxónicas de raiz funcionalista, a animação contribui para a regulação do sistema social, mediante a acção de mecanismos estruturais conducentes a uma “situação social harmoniosa”; para outros, influenciados pela filosofia das luzes (seja a corrente personalista de inspiração cristã, seja a corrente laica com raízes no socialismo utópico e marcada pela “educação popular”), a animação transcende as meras relações interpessoais para se estender às relações colectivas; para os autores de inspiração marxista, a animação só tem sentido se ligada a uma acção política com vista à transformação radical das estruturas económicas e sociais. Para o mesmo autor, em abordagens mais recentes, a tendência parece caracterizar-se por um certo consenso em relação ao conceito, realçando-se a importância da comunicação interpessoal, das metodologias activas, dos processos de 3
“O Animador tem um leque vasto de escolhas para poder trabalhar; poderá empregar-se em instituições, privadas ou comunitárias: fundações, autarquias, museus, bibliotecas, jardins-de-infância, escolas, estabelecimentos prisionais, hospitais, centros de terceira idade, colónias de férias, associações (culturais, recreativas, infantis, juvenis, grupos étnicos, emigrantes, toxicodependentes, homofobia…), empresas, centros comerciais”, excerto da comunicação “Intervenção e Empregabilidade dos Animadores Socioculturais”, efectuada por Catarina Maria Santos Garrelhas no I Congresso Nacional de Animação Sociocultural, realizado no Centro de Congressos de Aveiro nos dias 18, 19 e 20 de Novembro de 2010 e subordinado ao tema Profissão e Profissionalização dos Animadores. 91
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consciencialização, da autonomia e libertação dos indivíduos e grupos, da participação dos indivíduos na transformação das suas vidas, em suma, a noção de que o homem se deve tornar um actor no pleno sentido do termo, ou seja, um criador dos sistemas de organização social4.
Num artigo intitulado “Sobre a definição de Animação Sociocultural”, Azevedo (2008), após colocar várias interrogações – “A animação sociocultural poderá ser uma ciência? Poderá ser um ramo das ciências sociais? O que é a animação sociocultural? Será uma técnica, um método ou uma ciência?” –, reconhece “que a mesma é um diamante em bruto que carece de ser lapidado de forma a optimizar a sua apresentação e aplicação social”.
Henri Théry (citado por Ander-Egg, 1999: 72) define a Animação Sociocultural como um
“processo que compreende a acção em movimento, uma vitalização, uma dinamização das energias que existem no seio do grupo, pessoas ou comunidades e, paralelamente, uma restituição desta energia à comunidade de que emana para contribuir para um „desenvolvimento comunitário‟ (…) com a condição de se „libertar da alienação‟ implícita de uma certa forma de cultura”.
Por seu turno, Ander-Egg (1986) – ao considerar que a pedagogia da Animação Sociocultural é a proximidade – faz prevalecer as qualidades pessoais sobre as qualidades intelectuais, o que traduz um regime de acção que decorre em ambiente familiar (Thévenot, 2006), em que o Animador se envolve intimamente com as pessoas e as situações em que estas se encontram. Nessa medida, sublinha que a Animação Sociocultural não está claramente definida, tanto na sua especificidade como nas suas funções, apresentando-a como 4
João Teixeira Lopes, a propósito das abordagens mais recentes que tendem a assentar na “noção de que o homem se deve tornar um actor no pleno sentido do termo, ou seja, um criador dos sistemas de organização social”, faz menção à definição de Animação Sociocultural dada pela UNESCO, parecendo esta constituir uma fonte inspiradora dessas mesmas abordagens: "A Animação Sociocultural é um conjunto de práticas sociais que têm como finalidade estimular a iniciativa, bem como a participação das comunidades no processo do seu próprio desenvolvimento e na dinâmica global da vida sociopolítica em que estão integrados." 92
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“um conjunto de técnicas sociais que, baseadas numa pedagogia participativa, tem como finalidade promover práticas e actividades voluntárias que, com a participação activa das pessoas, se desenvolvem num seio de um grupo ou comunidade determinada, e se manifesta nos diferentes âmbitos das actividades socioculturais que procuram a melhoria da qualidade de vida” (id.: 125).
Como que a comprovar a falta de clareza, Ander-Egg (1999: 69-77) dá conta de trinta e duas definições de vários autores, referindo que a maior parte delas “expressam um projecto pedagógico de consciencialização, de participação e de criatividade social [e] cada um, conforme as suas próprias perspectivas ideológicas/políticas/científicas e a sua própria prática, poderá escolher ou rejeitar”.
Numa tentativa de sintetizar as definições de diversos autores sobre a Animação Sociocultural, Lopes (2006) põe em relevo a grande variedade de sentidos atribuídos ao conceito: uma “metodologia activa”, um “conjunto de práticas”, um “conjunto de técnicas”, um “processo de consciencialização”, uma “intervenção”, um “percurso de desenvolvimento e auto-desenvolvimento”, um “estímulo”, uma “participação”, uma “transformação”.
Com o propósito de chegar a uma definição integradora da Animação Sociocultural, Badesa (2008: 44-51) procurou identificar os elementos comuns e diferenciadores da actividade a partir das definições dadas por vinte e quatro autores, tendo chegado à conclusão de que:
“La Animación Sociocultural es un método de intervención, com acciones de práctica social, dirigidas y destinadas a animar, ayudar, dar vida, poner en relación a los indivíduos y a la sociedade n general, com una adecuada tecnologia, y mediante la utilización de instrumentos que potencien el esfuerzo y la participación social y cultural.”
Ainda a partir dessas definições, Badesa aponta o objectivo da Animação Sociocultural:
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“Transformar la sociedad mediante la participación y la iniciativa, com el fin de conseguir el desarrollo personal, social y cultural, y a la vez potenciar la comunicación interpersonal, respetando los valores democráticos, que lleven a la concienciación e integración social.”
Ao situar a Animação Sociocultural num terreno “flexível” e por natureza “criativo” e, socorrendo-se de um discurso metafórico, Dinis (2007) procura diferenciá-la de outras áreas de actividade ao identificar e caracterizar cinco perfis de Animadores: 1) o “vidente”, cuja amplitude vai desde o visionário, mágico e sonhador, passando pelo militante, vanguardista e estratega, até ao revolucionário, um modelo em que as soluções são determinadas aprioristicamente; 2) o “terapeuta”, cujo espectro cobre o analista, o parteiro, o médico, o reformador e o psicólogo, um modelo de pendor reformista; 3) o “guia”, cobrindo o intérprete, o bandeirante, o empreendedor e também o dinamizador cultural e o artífice de memórias colectivas; 4) o “técnico”, compreendendo o prestador de serviços, o agente de programação e o organizador profissional, um modelo que assenta num paradigma funcional de eficiência e eficácia; 5) o “mediador”, cujo modelo focaliza o papel de procurador, intermediário e treinador, centralizando toda a acção nas pessoas nos grupos e nas comunidades.
Sublinhando a flexibilidade apontada por Dinis, Azevedo (2009) acrescenta o perfil do “animador empreendedor”, como sendo aquele que “desenvolve a actividade em diferentes cenários e posições organizacionais, quer como colaborador em qualquer organização do terceiro sector ou do sector público, quer como empresário em nome individual em qualquer sociedade comercial, independentemente da sua forma jurídica”.
Ao traçar o “perfil do Animador Investigador”, Correia (2008) realça um conjunto de requisitos em que, notoriamente, as qualidades pessoais prevalecem sobre os conhecimentos: desde a humildade, a coragem, a solidariedade, a paciência, a persistência e a tolerância, passando pela mediação, a negociação, a criatividade, o dinamismo e a inovação, até à capacidade de adaptação, à flexibilidade e ao espírito empreendedor.
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Por sua vez, Badesa (2008: 180-199) enumera os recursos que constituem as várias dimensões do perfil do Animador Sociocultural5, bem como os valores que devem presidir à actividade da Animação Sociocultural6, sendo enaltecidas, como provas de grandeza, a vertentes cívica e inspirada da acção (Boltanski & Thévenot, 1991), em que o bem
colectivo, a promoção da participação, a igualdade, a criatividade, a inovação e a autenticidade são, entre outras, formas de expressão privilegiadas.
Ao realçar a vertente cívica, Badesa (2008, 2015) apresenta a Animação Sociocultural como uma metodologia de intervenção que promove a participação social e cultural, a comunicação interpessoal e o respeito pelos valores democráticos, tendo como propósito o desenvolvimento da consciência social:
“Os factores que justificam a relevância da Animação Sociocultural nas últimas décadas têm a sua origem no desenvolvimento da consciência cívica, da responsabilidade e da necessidade de um mundo melhor e mais justo. Na época do estado de direito e bem-estar, a procura e a oferta de tarefas sociais e educacionais aumentou, abrindo novos espaços relacionados com a animação sociocultural. Neste sentido, estamos em condições de afirmar que a educação não é da competência exclusiva da escola. Também se pode conceber como um auxílio, para cumprir valores fundamentais, relacionados com a igualdade de todos para todos, e para o desenvolvimento da consciência da cidadania.” (Badesa & Moriche, 2015: 199).
As crescentes preocupações sociais e culturais, expressas nas políticas públicas promovidas por alguns Estados nacionais, traduziram-se numa elevação da contratação de animadores socioculturais a partir de meados do século XX, se bem que as diferenças de enquadramento da actividade, conforme refere Idáñez (2015: 271272), sejam assinaláveis. Desde logo, diferenças em relação à expressão “Animação 5
“Dimensión cognitiva: se refiere a la capacidade global para actuar com un propósito, pensar racionalmente y enfrentarse de forma eficaz com el médio. (…) Dimensión afectiva: afecto e sensibilidade ante las personas y disposición a prestar servicio. (…) Dimensión social y de relación: se refiere a las relaciones interpersonales que ponen en comunicación y ayudan a cada uno de los membros del grupo. (…) Dimensión moral: conjunto de facultades del espíritu que conciernen al respeto humano. (…) Dimensión física: hace referencia a la constitución o naturaleza corpórea.” 6 “Valores que debe potenciar la Animación Sociocultural: participación, libertad, relaciones humanas, igualdad, comunicación, solidaridad, autonomia personal, democracia cultural, integración, concientización, pluralismo, desarrolo crítico, identidade personal y comunitária, cooperación, actividade creadora, dinamismo social, valoración del grupo, mentalidad nueva ante câmbios, objetividad, associacionismo, tolerância, justicia, humanización, confianza, respeto hacia sí miesmo, felicidad, consideración social, sabiduría, autoestima, compañerismo, honestidade.” 95
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Sociocultural”. Trata-se de uma expressão que não teve – nem tem – um equivalente em todos os países. Na verdade, “em documentos internacionais do Conselho da Europa, durante muitos anos, a expressão traduzia-se em inglês como equivalente a „desenvolvimento comunitário‟ e, em alemão, como „pedagogia social‟. No caso da América Latina, em muitos países, empregou-se mais a expressão „promoção sociocultural‟ em vez de animação sociocultural”.
Ao mesmo tempo, essas diferenças fazem-se notar, de acordo com a mesma autora, em relação aos campos profissionais em que a actividade se insere:
“(…) em França, a expressão „trabalho social‟ engloba todas as profissões do campo sociocultural, incluindo animadores socioculturais, educadores especializados, assistentes em
serviço social, conselhos familiares, etc. Em Espanha, ao invés, a expressão „trabalho social‟ utiliza-se de maneira restringida para designar o âmbito profissional que em França se chama „assistente em serviço social‟ e a „animação sociocultural‟ considera-se outra profissão diferenciada do trabalhador social.”
Também em relação à certificação conferida se registam diferenças. Tudo faria supor que, com a criação do Espaço Europeu do Ensino Superior, se registasse uma certa homogeneidade no que respeita a âmbitos profissionais, mas tal não ocorreu. Mantiveram-se, ainda segundo Idáñez, denominações diferenciadas para actividades semelhantes e denominações semelhantes para actividades diferentes:
“(…) a „animação sociocultural‟ em França ou Portugal é um grau universitário, enquanto em Espanha esse ofício só se denomina como tal na formação profissional (não universitária), se bem que exista um grau universitário em „educação social‟, em cujas memórias de acreditação se faz constar que um dos campos laborais de possível inserção destes graduados é a animação sociocultural, por exemplo. Em países como França e Portugal, não existe um grau equivalente ao de educação social espanhol. (…) pode existir uma mesma denominação para profissões diferentes (o exemplo de França e Espanha com a expressão „trabalho social‟) e também pode haver profissões iguais com denominações diferentes (o caso da Alemanha e França ou Espanha com as expressões „pedagogia social‟ e „animação sociocultural‟. ” (Idáñez, 2015: 271).
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Ao debruçar-se sobre conceito de Animação Sociocultural, Maria de Lourdes Lima dos Santos (1998: 249) adverte para o seu carácter difuso:
“(…) torna-se difícil precisar os seus limites e delimitar os seus contornos. Na maior parte dos casos, procede-se de uma das três formas: por exemplificação/inventariação, definindo o conceito pelas actividades que engloba; pela negativa, eliminando as actividades que não se enquadram no seu âmbito; ou, ainda, pelo considerar do seu carácter residual: na Animação cabe, então, um imenso „território – resto‟ de práticas de difícil classificação.”
A avaliar pelas várias definições, falta à Animação Sociocultural clareza conceptual e epistemológica. Esta falta de clareza encontra explicação, por um lado, na ausência de um corpo teórico de conhecimentos7 e, ainda, em termos metodológicos, na falta de especificação dos princípios, protocolos, procedimentos ou modelos específicos de intervenção validados e generalizáveis; por outro lado, a falta de clareza reside na dúvida se as actividades que os animadores realizam são específicas da Animação Sociocultural ou são usadas, também, noutras disciplinas ou âmbitos profissionais e, sendo assim, não servindo para a definir como algo diferente de outras áreas profissionais (Ventosa, 2011, 2015).
Opinião semelhante é expressa por Sousa (2015: 46), ao afirmar que a falta de clareza da Animação Sociocultural reside no facto da práxis ter precedido a reflexão académica. Nessa medida, a Animação, enquanto intervenção social, educativa e cultural, é uma realidade que apenas se percebe na observação das práticas que encerra e das várias interpretações e valorizações que se atribuem aos seus contextos de actuação. É esta multiplicidade de facetas que enquadra o trabalho do Animador e que, mesmo assim, no entender deste autor, constitui uma mais-valia:
“Longe de reduzir o trabalho do profissional de animação a apenas um contexto, uma abordagem, uma prática ou um público, o animador vê-se, pelo contrário, na procura incessante por novas e mais adequadas iniciativas sociais, culturais e educativas numa postura de compromisso com uma sociedade em contínua transformação, tendo como fim último a
7
A Animação Sociocultural vai buscar a sua fundamentação a várias científicas, nomeadamente à Psicologia, à Sociologia, à Antropologia Cultural, à Pedagogia, entre outras. 97
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participação activa de cada sujeito no aperfeiçoamento progressivo da sua existência.” (Sousa, 2015: 46).
A ampla gama de concepções, tendências e perspectivas sobre a identidade da Animação Sociocultural, leva a que Caride (2004: 46-49), advertindo acerca das suas imprecisões, contradições e ambiguidades, realce a importância de esclarecer a função da Animação Sociocultural na sociedade contemporânea, apontando, nessa medida, “a necessidade de levar a cabo um amplo debate intelectual sobre os modelos de racionalidade teórica que a devem orientar e justificar, recorrendo para isso às metáforas, postulados ou axiomas que há anos configuram as opções paradigmáticas mais relevantes nas ciências sociais.” Ao tomar como referência o que sucede em outras áreas do conhecimento e da intervenção social (onde se regista um interminável diálogo com a realidade, em resultado do qual vão sendo submetidos à discussão os valores, as convicções, os procedimentos de modo a gerar conhecimento), a Animação Sociocultural, de acordo com o mesmo autor, deve transferir para o campo da teoria os resultados que vai obtendo a partir do diálogo que vai estabelecendo com a realidade social.
É justamente esse contributo que Caride (2004: 54-61) procura dar na construção do campo teórico da Animação Sociocultural. Considerando que o campo da teoria não se encontra imune à influência das diversas concepções ideológicas e, sendo assim, não podendo senão encerrar uma pluralidade de explicações sobre a realidade – explicações sujeitas a refutações periódicas ou à revogação por outras –, Caride distingue três perspectivas orientadoras da actividade teórica da Animação Sociocultural: a tecnológica, a interpretativa e a dialéctica.
A tecnológica, assentando num postulado funcionalista, orienta a sua acção de maneira estruturada, hierarquizada e organizada e, deste modo, prescritiva em matéria de práticas culturais eficazes. A interpretativa, assentando num postulado interaccionista, orienta a sua acção a partir de práticas significativas do ponto de vista cultural e, desta maneira, promovendo as relações sociais. 98
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A dialéctica, assentando num processo político de transformação das estruturas económicas e sociais, orienta a sua acção através do desenvolvimento da tomada de consciência e da responsabilidade dos indivíduos enquanto sujeitos na construção de alternativas sociais.
Defendendo um futuro menos tecnológico e mais humano para a Animação Sociocultural, Silva (2016: 3) coloca em realce a perspectiva interpretativa apontada por Caride. Destaca, para o efeito, a sua vertente cívica como prova de grandeza, acentuando a importância de centrar a actividade no
“(…) estabelecimento de relações que potenciem dinâmicas colectivas geradoras de processos sociais e culturais, articulando a vertente formal e não formal da educação, assumindo o/a animador/a não propriamente uma função de mediador/a, mas antes de catalisador/a de dinâmicas socioculturais que as realidades permitem gerar. (…) os aspectos da ASC, embora sendo importantes, são secundários e subordinados à aproximação das pessoas e ao protagonismo das relações humanas. Nesta abordagem, o tecnológico enfraquece perante a ousadia da acção comum. Ousadia das pessoas no sentido de pensarem e de se arriscarem a envolver-se em iniciativas sem ficar à espera de reformas, justificando a sua falta de envolvimento com a falta de condições ideais e pré-requisitos fundamentais.”
O incipiente campo teórico, leva a que a Animação Sociocultural se assuma como um conceito polissémico, difícil de definir. Esta dificuldade deve-se ao facto da sua realidade se perceber através da observação das suas práticas. Em todo caso, definir a Animação Sociocultural em função da intervenção, ou seja, reduzi-la a uma praxis ou conjunto de práticas, mesmo que ordenadas e alimentadas pela reflexão a partir das várias áreas das ciências sociais e humanas, não contribui, segundo Ventosa (2015), para a sua autonomia, nem para a sua profissionalização. A maior parte das práticas ou actividades realizadas não são exclusivas da Animação Sociocultural (jogos, teatro, música, desporto, actividades de tempo livre, dinâmicas de grupo, entre outras), logo não servem para delimitar e diferenciar o seu campo do de outras actividades ou profissões.
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Aquilo que diferencia e é verdadeiramente identificador da Animação Sociocultural – não deixando, porém, de ser pouco claro – assenta num dispositivo de ordem cívica, traduzido, segundo o mesmo autor, na “intencionalidade pedagógica”8, na “metodologia animadora”9 e na “suficiente qualificação”10. O que é delimitador e diferenciador é:
“(…) a maneira de usar as ditas práticas, de tal forma que provoquem a autonomia pessoal e a autoorganização colectiva do grupo ou comunidade com quem trabalha. Para isso, faz falta desenvolver competências de participação no público destinatário. Esta forma de trabalhar e a intencionalidade com que se trabalha (emancipatória ou autoorganizativa), acreditamos que é específica e exclusiva da ASC. E mais, acreditamos que é a mais apropriada e fundamental da ASC. Agora, isto não basta dizê-lo, há que prová-lo. Como? Pois, com o projecto, a implementação e validação de modelos de intervenção aplicados aos diferentes momentos, através dos quais passa todo o processo de animação (diagnóstico, análise, planificação, execução e avaliação). Estes modelos têm de ser suficientemente testados e validados com a sua aplicação a diferentes contextos e modalidades de animação, até verificarmos se eles são igualmente eficazes, transferíveis e generalizáveis.” (Ventosa, 2015: 252).
Na discussão do perfil do Animador Sociocultural, percebe-se que os vários autores enumeram um conjunto de requisitos que reputam como indispensáveis para o exercício da actividade, mas que, no entanto, suscitam dúvidas se serão requisitos inatos ou resultarão de um processo de aprendizagem. Começando por enunciar a dúvidas e num propósito de as dissipar – “o animador nasce ou faz-se?” –, Fonte (2015: 263-264) diz-se do lado do “faz-se”, mas inspirado no “nasce-se”. Para sustentar
8
“(…) as actividades de animação e tempo livre adquirem potencialidade educadora quando são orientadas e organizadas com a intenção de educar e não apenas para entreter e divertir. Esta é uma das maiores e mais importantes diferenças com outros perfis profissionais vizinhos, normalmente focados exclusivamente no sector do ócio e da diversão. (…) o caminho e horizonte da Animação Sociocultural é a participação, e isto não é um dom inato com que nasce o ser humano, mas uma habilidade que é adquirida progressivamente após um processo necessário de aprendizagem activa.” (Ventosa, 2015: 252-253). 9 “A base da Animação Sociocultural reside no trabalho grupal e na função dinamizadora participativa que carregam os seus modelos, estratégias e técnicas. Para ser levada a cabo, esta dupla abordagem requer uma metodologia activa, participativa, lúdica e grupal, isto é a metodologia específica da Animação Sociocultural.” (Ventosa, 2015: 253). 10 “(…) o animador, na medida em que é educador e trabalha para a melhoria das pessoas, deve ser um profissional devidamente formado e qualificado para desenvolver o seu trabalho, independentemente do estatuto, profissional ou voluntário, que fundamenta o desempenho das suas tarefas.” (Ventosa, 2015: 253). 100
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esta sua posição, recorre a Quintana11 e a Quintas e Sanchez12 cujos entendimentos divergem.
Para Quintana o “animador nasce”, o que deixa supor que a sua grandeza radica num mundo inspirado (Boltanski & Thévenot, 1991), o que leva a que a actividade seja encarada como uma missão: “(…) quem pensa ser animador, tem que ver primeiro se tem as competências para o ser (…). A animação é uma actividade vocacional e vocação consiste numa inclinação profunda de dedicação a uma actividade para a qual se está dotado”.
Já Quintas e Sanchez assumem uma posição contrária: “o animador não nasce, mas faz-se”, posição cujo sentido é interpretado por Fonte ao considerar que o Animador, não deixando de estar agraciado por um mundo inspirado, se revela sobretudo pelos seus atributos profissionais e a sua eficácia (Boltanski & Thévenot, 1991), atributos que constituem prova da sua grandeza e que só pela via da formação e do trabalho são alcançáveis: “somos animadores, sustentados na essência e consciência do ser. Contudo, para chegar a ser, temos que nos fazer animadores. Não se é animador por graça ou habilidade. É-se pelo trabalho, com o fazer antes do ser, pela dedicação e devoção, com sacrifício e abnegação. Apesar de se nascer com determinadas características de animador, é possível, e necessário, construir-se um animador através de uma formação adequada.”
No que se refere à diversidade de âmbitos, de contextos e de públicos a quem a actividade se dirige, esta parece traduzir a capacidade de adaptação, a flexibilidade e o espírito empreendedor dos Animadores Socioculturais. Ao mesmo tempo, parece representar o reconhecimento da função social desta actividade, reconhecimento que, por um lado, é medido pela necessidade do recrutamento destes profissionais pelo sector público (administração central e poder local), privado (associações, organizações não governamentais, organizações da área da cultura, entre outras) e
11
Quintana, J. M. (1993). Los ámbitos profesionales de la animación. Madrid: Narcea, S.A. Ediciones. Quintas, S. F & Sánchez, M. G. (1999). Para compreender la animacion sociocultural. Navarra: Editorial Verbo Divino 12
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terceiro sector (Instituições de Apoio e Solidariedade Social) e, por outro lado, no entender de Badesa (2015: 199), por constituir uma etapa de um processo de profissionalização que a “legitima para a monopolização de um território ou jurisdição laboral”.13
A reivindicação de uma jurisdição corresponde, no entanto, ao culminar de um processo de “fechamento social” (Dubar, 1997: 149 e 169-171) em que uma profissão detém condições de exigir o reconhecimento de direitos exclusivos, compreendendo estes o monopólio do exercício profissional, a disciplina, o acesso à profissão, o recrutamento e o licenciamento.
Considerando que a dinâmica de desenvolvimento profissional assenta nas disputas, nos conflitos e na competição que se registam nas áreas jurisdicionais, o conhecimento abstracto constitui, segundo a formulação de Abbott (1988), o principal recurso da disputa jurisdicional e a característica que melhor define as profissões, sendo que o seu controlo, conferindo-lhes capacidade de sobrevivência no competitivo sistema ocupacional de que fazem parte, permite que estas estejam defendidas de intrusos, uma vez que só um sistema de conhecimento governado por abstracção permite dimensionar novos problemas e redefinir os já existentes.
A prática profissional compreende, segundo Abbott (1988), os actos de classificação do problema, a sua análise e actuação sobre esse mesmo problema (isto é, o diagnóstico, a inferência e o tratamento). Estes três actos têm, porém, um alcance diferenciado. Enquanto o diagnóstico e o tratamento constituem actos de gestão da informação que têm por base sistemas de classificação de problemas que vão do comum ao esotérico, ajudando, por isso, a clarificar e a simplificar o trabalho profissional, mas, ao mesmo tempo, tornando esse trabalho mais compreensível para os outsiders, a inferência constitui um acto puramente profissional, actuando quando a ligação entre o 13
Acresce, ainda, que o posicionamento atribuído ao Animador pela Classificação Portuguesa das Profissões de 2010, em comparação com o posicionamento que lhe estava atribuído pela Classificação Nacional das Profissões de 1994, pode também ser interpretado como o reconhecimento da sua função social. De facto, em 2010 o Animador passou a integrar o Grande Grupo 3-Técnicos e Profissões de Nível Intermédio13, enquanto em 1994 integrava o Grande Grupo 5-Trabalhadores dos Serviços Pessoais, de Protecção e Segurança e Vendedores. 102
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diagnóstico e o tratamento não é clara. Significa, então, que quanto mais elevado for o grau de predominância de inferência na ligação do diagnóstico ao tratamento, menor será a vulnerabilidade jurisdicional. Esta ligação é afectada, em certas circunstâncias, pela emergência de grandes clientes, pela transferência de trabalho profissional para grandes organizações (factores que poderão condicionar o julgamento independente por parte do profissional) e, especialmente, pelo desenvolvimento do conhecimento abstracto, requisito indispensável para prevenir a rotinização da prática profissional e, nessa medida, proporcionar a produção de novos diagnósticos, novos tratamentos e novos métodos de inferência.
Em face das várias concepções, tendências e perspectivas, levanta-se a dúvida se a Animação Sociocultural é profissionalizável. Na verdade, a incipiência de um corpo teórico de conhecimentos, que sirva de ligação entre os problemas diagnosticados e a actuação sobre esses problemas, torna difícil a constituição de uma área jusrisdicional. Isso explica, de facto, a dificuldade em controlar a prestação de serviços, bem como em proteger-se de intrusões, seja por parte de grupos ocupacionais que se encontrem num processo de definição ou de alargamento da sua área jurisdicional, seja por parte de clientes que, por entenderem a prática profissional da Animação Sociocultural como uma prática meramente banal, não considerem o recurso aos seus profissionais como a única forma de solucionar os seus problemas.
Em todo o caso, admitindo a possibilidade da Animação Sociocultural, à luz da formulação concebida por Abbott, não ser susceptível de profissionalização, isso não parece fazer perigar a sua existência tal como, na sua definição alargada, a UNESCO a concebe: “A Animação Sociocultural é um conjunto de práticas sociais que tem como finalidade estimular a iniciativa e a participação das comunidades no processo do seu próprio desenvolvimento e na dinâmica global da vida sociopolítica em que estão integradas.”
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Animação, Animadores e Mercado de Trabalho
Em resultado das transformações ocorridas num mundo cada vez mais globalizado, é posta à prova a capacidade da Animação Sociocultural para enfrentar os novos e complexos desafios. E muito embora, no dizer de Ander-Egg (2008: 20-21), a insuficiente valorização atribuída à Animação Sociocultural em termos de políticas públicas14, não deixou de se alargar a intervenção dos Animadores Socioculturais e de se ampliarem os seus perfis profissionais15, passando estes a actuar em campos que tradicionalmente não eram os seus (Ferreira, 2008: 200)16.
A actuação em novos campos de intervenção parece traduzir a capacidade de adaptação, a flexibilidade e o espírito empreendedor dos Animadores Socioculturais perante experiências de trabalho que apresentam – muitas delas – um carácter transitório17 e uma grande diversidade em termos das competências exigidas18. Ao
14
“Importa analisar a relação, o papel que joga a animação no âmbito das políticas públicas no âmbito da sociedade civil. Vejamos o que acontece nas políticas públicas, para ser mais preciso na política cultural da maioria dos países, definida pela UNESCO como o „conjunto de operações, princípios, práticas e procedimentos de gestão administrativa ou de propostas que servem de base à acção cultural do Estado‟. Ora bem, em quantos países a formulação da política cultural inclui a animação sociocultural como uma forma de acção cultural do Estado, atribuindo-lhe um papel significativo? Em poucos. E, isto, o que significa? (…) Depois de haver tido a oportunidade de analisar os conteúdos dos documentos que expressam a política cultural dos respectivos países (América Latina, Europa e África), considero que existe uma certa exclusão, marginalização ou, pelo menos, insuficiente valorização da animação como uma das expressões da animação sociocultural. Mas o que acontece no âmbito da sociedade civil? Ainda desde a última década do século XX, acentuado no século XXI, a importância da animação tem outro significado. O surgimento e reforço das organizações não governamentais, os movimentos e a emergência de novos actores sociais, têm mudado o panorama.” (Ander-Egg, 2008: 2021). 15 Animação Ambiental, Animação Hospitalar, Animação na Terceira Idade, Animação Terapêutica, Animação Infantil, Animação Juvenil, Animação de Adultos, Animação Sociolaboral, Animação Comercial, Animação com grupos com Necessidades Educativas Especiais, Animação de Museus, Animação do Património, Animação da Leitura, Ciberanimação, Animação de Prisões, entre outros. 16 “Perante as transformações que ocorreram nas últimas décadas, a ASC evoluiu para novos campos. (…) Os campos tradicionais da Animação Sociocultural foram, e são em grande parte ainda hoje, o ócio e o tempo livre, assim como a promoção cultural. A animação sociolaboral alarga o campo da ASC à esfera social, face aos problemas e necessidades emergentes nas sociedades contemporâneas, designadamente o desemprego, a exclusão e outras formas de vulnerabilidade social. (…) O animador sociocultural passou a fazer parte dos profissionais do trabalho social, realizando projectos e programas que visam melhorar a posição dos indivíduos e dos grupos perante o mercado de trabalho, criando ambientes solidários e cooperativos, com ênfase, não na competitividade e na produtividade como metas finais, mas nas pessoas e na qualidade de vida.” 17 “Estamos sempre a falar de lugares…, do ponto de vista da colocação no mercado de trabalho, de lugares que não são de desafogo, ou seja, não são de permanência (…): Professora – Entrevista – Julho de 2010; (…) Há emprego em animação só que o emprego existente é irregular (…): Professor – 104
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mesmo tempo, parece corresponder à indicação dada por Lopes (2008a) quando, em matéria de empregabilidade, refere que
“entre os anos 60 e 90 existiu emprego em Animação. No século XXI vai existir muito trabalho em Animação, mas não o modelo de emprego do século XX, isto requer preparar os Animadores para um novo conceito de empregabilidade assente no trabalho em rede e não no trabalho por conta de outrem, na criação de empresas que respondam ao pulsar do novo tempo e que os contratos programa com lares, hospitais, jardins-de-infância, autarquias, organizações governamentais, dêem respostas aos diferentes âmbitos de Animação existentes e ainda os que hão-de vir, porque o movimento da vida vai sempre gerar novas necessidades e consequentemente novos âmbitos.”
Ao traduzir uma mudança de paradigma em matéria de trabalho, a indicação dada ajusta-se, assim, a um mundo em que o futuro se encontra completamente em aberto. Por um lado, a lógica do “trabalho em rede” tende a difundir-se cada vez mais, constituindo-se como o centro do sistema. Por outro lado, o fosso que separa a decisão do conhecimento parece acentuar-se, ou seja, um mundo que impõe a cada “um de nós o fardo de ter que tomar decisões cruciais que podem afectar a nossa sobrevivência sem qualquer base de conhecimento adequado”19 e, por vezes, “sem ter consciência das suas consequências” (Žižek, 1999: 450-451). Em muitos casos, a incerteza que caracteriza o mundo moderno de hoje torna difícil prever os resultados das decisões que os indivíduos possam tomar (sejam pessoais, sejam profissionais), requerendo a aquisição de novas capacidades que os tornem adaptáveis, flexíveis e empreendedores. É verdade que “empregar-se, montar um negócio são acompanhados hoje de um grau de incerteza muito elevado quanto aos seus resultados porque os contornos das instituições que suportam tais actividades não são mais os mesmos” (Hespanha & Entrevista – Julho de 2010 (entrevistas efectuadas no âmbito do projecto de doutoramento “Animação Sociocultural, Actores e Controvérsias Públicas”). 18 “Nas colectividades, nos centros culturais, clubes, escolas, lares e outras associações/instituições, começa a haver hoje mais espaço para o animador. Reforça-se cada vez mais a ligação às autarquias como forma de desenvolvimento da cultura, da educação e do desporto.” (Vieira & Vieira, 2015: 152). 19 “Les „deuxièmes Lumières‟ à chacun d‟entre nous le fardeau d‟avoir à prendre des décisions cruciales pouvant affecter notre survie elle-même, sans aucun fondement adéquat em termes de Connaissance. (...) La liberté de décider dont jouit le sujet de „société‟ n‟est pas la liberté de pouvoir décider librement de sa destinée, mais la liberté source d‟angoisse de celui qui est constamment contraint de prendre des décisions sans avoir conscience de leurs conséquences.” imposent
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Carapinheiro, 2002: 14), não deixa, paradoxalmente, de ser verdade que essas mesmas decisões constituem, por vezes, um “abrir de portas” a novas oportunidades. Ao contrário do que sucedia há umas décadas atrás20, o mundo do trabalho caracteriza-se hoje em dia, especialmente nas gerações mais novas, por trajectórias que apresentam, segundo Marques (2013: 20),
“descontinuidades e intermitências ao incluir períodos de formação, emprego, desemprego e inactividade. Daí também serem diversos os estatutos ou as condições sob as quais os jovens ingressam no mercado de trabalho: bolseiro, estagiário, tarefeiro, temporário, subcontratado, entre outros. Partilham, todavia, de uma crescente vulnerabilidade e instabilidade laboral explicável, em grande medida, pela crescente desregulação contratual”
Longe de serem lineares (Pais, 2005), os percursos profissionais são cada vez mais “marcados pela instabilidade e pelo risco, ainda que em alguns casos com tónica nas oportunidades e na realização” (Guerreiro & Abrantes, 2004: 28). A integração na vida activa é, normalmente, caracterizada por um processo contínuo de transições de situações de ocupação, desemprego e formação. Como tal, as trajectórias dos que tentam ingressar no mundo do trabalho, em particular os jovens, constituem um processo complexo que engloba relações mais prolongadas entre o itinerário formativo e o itinerário laboral21.
20
Em que “graças a trajectórias profissionais claramente definidas, a tarefas extenuantes, mas de uma regularidade tranquilizadora, à estabilidade considerável das equipas de trabalho, à grande utilidade dos conhecimentos e, portanto, ao elevado valor concedido à acumulação de experiência profissional, osriscos do mercado laboral podiam ser mantidos sob controlo, a incerteza via-se mitigada ou desaparecia por completo, e os medos eram desterrados para o terreno marginal dos „azares da sorte‟ ou dos „acidentes fatais‟, evitando-se assim que saturassem o decorrer da vida quotidiana.” (Bauman, 2006a: 15). 21 Ganham expressão, no actual mundo do trabalho, as transições incertas/não lineares para a empregabilidade. Transições que tendem a ser cada vez maia alongadas e que afectam tanto os trabalhadores indiferenciados, como os trabalhadores altamente qualificados. Transições que o Decreto-Lei n.º 220/2006, de 3 de Novembro, no seu art.º 14.º, vem legitimar, ao introduzir a obrigatoriedade da formação como condição do recebimento do subsídio de desemprego, o que significa a perda de importância das certificações em favor de uma permanente reconversão/requalificação profissional dos indivíduos. Esta necessidade permanente de reconversão/requalificação caracteriza o “novo espírito do capitalismo” (Boltanski & Chiapello, 1999), ”, estando-se perante o “indivíduo insuficiente” que tem o dever de se reconverter/requalificar para ganhar capacidade competitiva, capacidade empreendedora, capacidade de iniciativa e de ser polivalente, flexível, imaginativo, inovador, colaborador e, desta maneira, poder movimentar-se na rede e integrar projectos muito diferenciados em matéria de exigências. 106
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Se o gradual desmantelamento dos mecanismos de protecção social ao nível do mundo do trabalho parece conduzir a que cada indivíduo conte apenas consigo próprio para lidar com os riscos e as oportunidades, exige também, da parte de cada um, uma atitude reflexiva constante sobre as melhores decisões a tomar. Significa então, de acordo com Giddens (1994: 13), que cada indivíduo “não só „tem‟ como vive uma biografia organizada reflexivamente em termos de informação social e psicológica”, o que implica ajustamentos e reconversões sucessivas de todos os aspectos da vida profissional, ou seja, a transformação das “identidades especializadas” (Dubar, 1997: 98-99) por força de novos processos de socialização em que vai participando e que resultam das constantes alterações económicas, tecnológicas, organizacionais e de gestão de emprego.
Embora pareça ser crescente a impotência das comunidades locais em atenuar o risco que os percursos profissionais comportam (Hespanha et al., 2002: 29), não deixa porém de ser interessante, do ponto de vista analítico, perceber a maneira como os indivíduos orientam e ajustam a sua acção, ou seja, que tomadas de posição vão assumindo em face das situações concretas com que se vão deparando. Sendo assim, ao invés de se estar perante um indivíduo conformado, sem verdadeira consciência dos determinismos a que está sujeito, como diriam Bourdieu e Passeron (1964 e 1978), está-se perante alguém que, por via de uma atitude reflexiva constante22, confere sentido às suas acções e, nessa medida, desenvolve pontos de vista críticos relativamente às várias situações em que vai estando envolvido.
É a valorização destas novas capacidades que ressalta da análise dos discursos proferidos em Animação Sociocultural, ou seja, a importância que a lógica de projecto (Boltanski & Chiapello, 1999; Boltanski, 2001) parece estar a ganhar em matéria de
22
Segundo Giddens (2005: 7-31), o ordenamento e reordenamento reflexivos das relações sociais é feito à luz de contínuos inputs de informações e conhecimentos que afectam as acções dos indivíduos e dos grupos, promovendo um fenómeno que não encontra paralelo na história: a deslocação da vida social para fora do alcance das práticas pré-estabelecidas. 107
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emprego23. A ser assim, a empregabilidade dos Animadores24 passará a estar condicionada pela capacidade destes se movimentarem na “rede”25. Nessa medida, a prova da sua grandeza passa a ser dada pela sua capacidade de adaptação, pela sua flexibilidade26 e pelo seu espírito empreendedor que permitam enfrentar experiências deque tendem a apresentar, como atrás se disse, um carácter transitório27 e uma grande diversidade em termos das competências exigidas28.
Esta lógica, fazendo-se sentir nos vários sectores de intervenção da Animação Sociocultural29, assume grande expressão no sector cultural, conforme realça Telmo Gomes (2010: 118). Refere este autor que o aumento das oportunidades de trabalho neste sector vem sendo associado a uma maior flexibilidade e precariedade dos vínculos e prestações de trabalho, assim como à emergência ou consolidação de novas funções e modos de organização do trabalho marcados pela polivalência e cumulatividade.
23
“Potencialidades da metodologia de trabalho de projecto na formação de Animadores Socioculturais”, comunicação efectuada no I Congresso Nacional de Animação Sociocultural, realizado no Centro de Congressos de Aveiro nos dias 18, 19 e 20 de Novembro de 2010, por Carla Cibele e Sandra Cordeiro da Escola Superior de Educação de Setúbal e Câmara Municipal de Palmela, in Santos Costa, 2010: 37-55. 24 O Censo Nacional de Animadores com formação superior, promovido pela Associação para o Desenvolvimento da Animação Sociocultural (APDASC), indica que, dos 313 Animadores recenseados, 70% trabalham na área da Animação Sociocultural. 25 “Torna-se pertinente criar um trabalho em rede que permita a criação de espaços entendidos como laboratórios de trabalho que ajudem a fundamentar a Animação Sociocultural e que fomentem, segundo Ventosa (2012:352), „novos perfis profissionais e novas espacialidades (…) consolidando o seu desenvolvimento profissional, científico e formativo.‟” (Filipe & Ribeiro, 2014: 123). 26 Tendência que parece acentuar-se, nomeadamente em França, a avaliar pelo estudo de Lebon e Lescure (2007: 57-82), estudo que dá conta da situação profissional dos Animadores Socioculturais como estando ”entre a precariedade e a flexibilidade”. 27 O Censo Nacional de Animadores com formação superior, promovido pela Associação para o Desenvolvimento da Animação Sociocultural (APDASC), indica que, dos 313 Animadores recenseados, 38,3% possuem um estatuto profissional instável. 28 O Censo Nacional de Animadores com formação superior, promovido pela Associação para o Desenvolvimento da Animação Sociocultural (APDASC), indica que, dos 313 Animadores Recenseados, 22,7% trabalham em autarquias, 18,5% em Instituições Particulares de Solidariedade Social, 10,2% em associações de natureza variada, 9,6% em empresas de vários sectores de actividade, 8,1% em Misericórdias, 17,9% em organizações de natureza desconhecida, não havendo dados sobre os restantes 22%. 29 Em sessões promovidas pela coordenação do curso de Animação e Intervenção Sociocultural da Escola Superior de Educação de Setúbal, dirigidas a Animadores Socioculturais e organizadas em torno das temáticas “formação dos animadores e entrada na vida activa” e “profissionalidade e o exercício da profissão hoje”, percebe-se, a partir dos testemunhos recolhidos, que a situação de transitoriedade e de precariedade é o que caracteriza a maior parte das experiências de trabalho posteriores à conclusão do curso (Figueiredo & Cordeiro, 2015: 185). 108
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Os dados do Observatório das Actividades Culturais indicam que a crescente difusão das formas flexíveis de trabalho, registada ao longo dos anos 80 e 90, se articula de um modo estreito com o aumento da oferta cultural e, nessa medida, com o acréscimo de emprego e de oportunidades de trabalho para os diversos profissionais relacionados com o sector, contando-se entre estes os Animadores Socioculturais a trabalharem em contextos culturais diversos, nomeadamente em departamentos de acção cultural de Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia. Este aumento da oferta cultural, nomeadamente ao nível das programações das autarquias locais, implica, frequentemente, o estabelecimento de parcerias com associações, fundações e outras entidades, com recurso a formas de trabalho flexíveis, na modalidade de projecto e baseadas em práticas de outsourcing (Gomes & Martinho, 2009: 151-159; Martinho, 2010: 243-247).
O que se regista no sector cultural em geral e na Animação Sociocultural em particular, nas várias vertentes da sua intervenção, inscreve-se num plano mais alargado de profundas mudanças no mundo do trabalho em Portugal. Estas mudanças compreendem não só o desaparecimento de certos sectores de actividade e o surgimento de outros, como também alterações nos tipos de actividade, nas formas de organização do trabalho, nas modalidades e condições do exercício profissional, nas perspectivas e expectativas em relação ao trabalho, nos direitos laborais e nos vínculos contratuais.
As relações de trabalho encontram-se hoje profundamente transformadas. Na verdade, a crescente representação das formas instáveis de empregar tem vindo a caracterizar a sociedade portuguesa: contratação a prazo/termo, recibos verdes, trabalho temporário, trabalho clandestino, entre outras. Esta mudança começa a desenhar-se a partir da segunda metade dos anos 70 – com a publicação da legislação que regulamenta a contratação a prazo30 – e ao longo dos anos 8031, intensificando-se a partir de meados dos anos 90.
30
A regulamentação da contratação de trabalho a prazo é estabelecida através do Decreto-Lei n.º 781/76, de 28 de Outubro. 31 Veja-se M.ª João Rodrigues (1988), O Sistema de Emprego em Portugal: Crise e Mutações. 109
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Efectivamente, as mudanças económicas e tecnológicas levaram a que os empregadores passassem a utilizar, como estratégia de acção, formas de emprego que permitiram uma maior flexibilização nos “modos de gestão da mão-de-obra” (Rodrigues, 1988: 247), originando, assim, uma diminuição dos custos salariais, do poder negocial dos trabalhadores e, ainda, uma maior facilidade na libertação de mãode-obra excedentária. Tal estratégia implicava a superação de determinadas dimensões
características
ou
“típicas”
do
emprego
tradicional
(id.:
205),
nomeadamente: a) estabilidade de emprego, caracterizada por um contrato de duração indeterminada e, ao mesmo tempo, pelo controlo rígido dos despedimentos; b) garantia de remuneração, com salário mínimo assegurado, pagamentos especiais do trabalho suplementar e actualização periódica dos salários; c) regulamentação do período de trabalho, com o estabelecimento de um período máximo de trabalho e direito a descanso semanal e férias; d) ligação do trabalhador a um empregador e a um local de trabalho, sendo este último legalmente definido como propriedade da empresa; e) organização e protecção sindical; f) direito à greve.
A subversão de alguns destes princípios, mais do que uma medida conjuntural, tornouse num meio de transformação do sistema estrutural de emprego. A política de flexibilização da mão-de-obra desenvolveu, assim, novos tipos de emprego que contornaram alguns dos princípios precedentes.
O trabalho, enquanto mecanismo de inserção e de integração social e de reconhecimento, garantindo níveis básicos de protecção social, parece, pois, estar sujeito a um processo de fragilização. O modelo que tem vindo a ganhar força assenta, em larga medida, no crescimento acentuado das formas de trabalho intermitentes e, não raras vezes, socialmente pouco protegidas (Castel, 2003). A contratação a termo32, o trabalho temporário33 e a falsa prestação de serviços34 são, pois, exemplos ilustrativos de uma regra na prática contratual. O trabalho precário, 32
A contratação a termo, tendo sido concebida para regular o recrutamento de mão-de-obra para a execução de tarefas de natureza eventual, extraordinária e/ou sazonal, tornou-se num modo de empregar expressivo no contexto do trabalho português. A contratação a termo não se destina, em muitos casos, à “satisfação de necessidade temporária da empresa e pelo 110
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que legalmente constitui uma excepção, passou, na prática, a regra (Oliveira, 2015: 46). E, sendo assim, a ideia de fazer coexistir na empresa um grupo estável e um grupo flexível de trabalhadores foi colocada de parte. A excepção parece ter ganho o estatuto de regra com a alteração significativa do peso relativo daquilo a que, em matéria de dimensões típicas do emprego tradicional, Dubar (1997: 164) chama o “sector central” e o “sector periférico” do mercado de trabalho: o primeiro, incluindo os trabalhadores que à organização interessaria conservar como forma de assegurar a sua produção normal; osegundo, incluindo os trabalhadores que reforçariam o primeiro grupo e recrutados de acordo com as oscilações do volume de trabalho.
Com efeito, aqueles que entram na vida activa fazem-no, geralmente, através de uma destas formas precárias de emprego. Nestas circunstâncias, o risco dos indivíduos não terem acesso, ao longo de toda uma vida activa, àquilo a que comummente se designa por um estatuto profissional estável, assente em vínculos de trabalho de duração indeterminada, parece ser crescente nas sociedades modernas.
Ora, mercê das alterações registadas no mundo do trabalho, traduzidas na fragilização dos mecanismos colectivos de protecção social, tem vindo a assistir-se, segundo Boltanski (2001: 25), a um apagamento do “mundo cívico” e a um forte aumento do “mundo da inspiração”, sobretudo a partir dos anos 90, o que, de acordo com o mesmo autor, “pode ser relacionado com a importância dada à inovação, ao risco e às qualidades pessoais (como a intuição) dos actores da empresa.”
período estritamente necessário à satisfação dessa necessidade” (Código do Trabalho: art.º 140.º, n.º 1, da Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro, artigo que não sofreu alterações nas três revisões efectuadas ao Código do Trabalho através das Leis n. os 105/2009, de 14 de Setembro, 53/2011, de 14 de Outubro e 23/2012, de 25 de Junho), mas sim a assegurar um trabalho regular e continuado e, nestes termos, tendo por fim iludir as disposições que regulam o contrato sem termo. 33 Considera-se contrato de trabalho temporário o contrato de trabalho a termo celebrado entre uma empresa de trabalho temporário e um trabalhador, pelo qual este se obriga, mediante retribuição daquela, a prestar a sua actividade a utilizadores, mantendo-se vinculado à empresa de trabalho temporário – Código do Trabalho: art.º 172.º, alínea a), da Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro, artigo que não sofreu alterações nas três revisões efectuadas ao Código do Trabalho através das Leis n.os 105/2009, de 14 de Setembro, 53/2011, de 14 de Outubro e 23/2012, de 25 de Junho e 47/2012, de 29 de Agosto. 34 A relação designada por “prestação de serviços” não tem, numa boa parte dos casos, outro propósito senão o de iludir as disposições que regulam uma relação de trabalho dependente e que implica a celebração de um contrato “pelo qual uma pessoa singular se obriga, mediante retribuição, a prestar a sua actividade a outra ou outras pessoas, no âmbito de organização e sob a autoridade e direcção destas” – Código do Trabalho: art.º 11.º, alínea a), da Lei n.º 7/2009, de 12 de Fevereiro. 111
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É neste contexto de incerteza e risco que se exige aos indivíduos que arrisquem, que assumam riscos, que sejam empreendedores. Efectivamente, nas sociedades modernas, cuja construção se tem vindo a alicerçar na insegurança (Castel, 2003), proliferam os discursos que apelam a um certo perfil de trabalhador em que o “espírito empreendedor” – associado à responsabilidade individual, à competição, à criatividade, à adaptabilidade e à flexibilidade – se destaca enquanto requisito fundamental para enfrentar os problemas actuais, especialmente os problemas de emprego.
O desemprego e a precariedade surgem, deste modo, como oportunidades para o desenvolvimento do empreendedorismo, o que, segundo Duarte (2013: 18), aponta para uma “mudança de mentalidades” traduzida numa “(…) ressimbolização da ruptura que significaria o desemprego, revestindo-a agora de um sentido positivo. (…) tal poder-se-ia traduzir na seguinte síntese discursiva: „estás desempregado ou num emprego precário? Estás em risco de perder o teu emprego? Não te preocupes, tens apenas que ser empreendedor, que ter espírito de iniciativa, que contar contigo. Não tens „espírito empreendedor‟? Não te preocupes, podes aprender a ser empreendedor, podes frequentar acções de formação, podes ler livros de desenvolvimento pessoal e de autoajuda, podes frequentar cursos de coaching; está apenas nas tuas mãos a solução para o problema‟.”
Organizada em torno da narrativa da flexibilidade e do empreendedorismo, esta configuração, a que Boltanski e Chiapelo (1999), servindo-se da literatura de gestão, fazem referência na sua análise para dar conta do “novo espírito do capitalismo”, assenta numa lógica de trabalho em rede em que a „flexibilidade‟ é apontada como condição do progresso económico e social e o “empreendedorismo” como condição do progresso e sucesso individual, seja para aceder ao mercado de trabalho, seja para se manter nesse mesmo mercado.
A crer na apologia do empreendedorismo, de acordo com Campos e Soeiro (2016: 4849) “a questão do desemprego resolver-se-ia com a promoção de comportamentos empreendedores por parte dos indivíduos, mais do que com políticas públicas de 112
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criação de emprego”. Deste modo, os défices de natureza individual – em termos de qualificações, de competências e de disposições – explicariam o fenómeno do desemprego. Ultrapassados esses défices, após uma necessária aprendizagem do que é ser empreendedor, o sucesso ou fracasso no mercado passaria a depender única e exclusivamente do desempenho e esforço pessoal de cada indivíduo. Contudo, remeter para a esfera do individual as explicações de um fenómeno social, como é o caso do desemprego, é conferir credibilidade a leituras do social que tendem a interpretar o social em termos não sociais, o que levou os mesmos autores a enveredarem por uma atitude de vigilância epistemológica e, nessa medida,
“(…) a suspeitar de explicações fatalistas para fenómenos sociais complexos e a duvidar de quem propõe respostas individualistas para problemas que sabemos serem colectivos, como o desemprego e a precariedade. Por isso, a narrativa do empreendedorismo, que o apresenta como uma „atitude‟, um „espírito‟ e um „modo de ser‟ do indivíduo capaz de resolver aqueles problemas, sempre nos mereceu a maior desconfiança.” (Campos & Soeiro, 2016: 10).
Desconfiança justificada, uma vez que os resultados apresentados dão conta de que os programas de apoio e promoção do empreendedorismo em Portugal têm tido uma tradução pouco significativa em matéria de emprego: “o apoio financeiro ao empreendedorismo concedido pelo Estado português resultou, no melhor dos cenários, numa criação de empregos directos equivalente a 1% do total de desempregados oficialmente inscritos nos centros de emprego nos primeiros anos de austeridade. A isto acresce o apoio preferencial dado às grandes empresas e a discriminação dos cidadãos com menores qualificações no acesso aos programas de apoio ao empreendedorismo.” (id.: 145).
A lógica do trabalho em rede, em que a flexibilidade e o empreendedorismo se apresentam como soluções dos males económicos, sociais e individuais, coloca a Animação Sociocultural numa nova fase que, no dizer de Montez (2015: 2-3), é complementar das fases identificadas por Lopes (2006). Sendo que, nesta fase, a Animação Sociocultural se vê confrontada com duas opções: “Por um lado seguir um caminho em consonância com as ideologias actuais, arriscando fundirse entre outras actividades e profissões socioculturais e educativas, ou até empresariais; por outro lado, seguir um caminho em sintonia com a identidade militante da animação 113
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sociocultural, arriscando a marginalização desta actividade e a falta de reconhecimento político formalizado. De um lado parecem estar os animadores e animadoras profissionais, com formação específica na área, do outro parecem estar pessoas das mais variadas áreas das ciências sociais (e não só) ou de outros sectores profissionais. ”
A avaliar pelo número crescente de animadores que, em resultado das dificuldades sentidas face às expectativas construídas, tem vindo, segundo Montez, a adoptar um modelo de actuação assente na flexibilidade e no empreendedorismo, acentua-se o risco de se esvanecer o “espírito militante da animação”, privilegiando-se o carácter “cuidador” e “intertainer” e não já a dimensão “transformadora”35 que se encontra na génese da actividade, enquanto prática ligada à intervenção social, educativa e cultural. Nestas circunstâncias, caminha-se para uma animação que se vai
“ (…) transformando subtilmente organizações sem fins lucrativos de acção social em empresas de serviços sociais e educativos; animadores socioculturais em técnicos de gerontologia, em técnicos de turismo ou de outros quaisquer ramos associados a instituições dispostas a pagar valores que não dignificam a profissão. Perante o fantasma do desemprego as animadoras e os animadores vão-se submetendo a um trabalho meramente técnico, menos crítico, cada vez com menor capacidade de mobilização e, por isso, com muito pouco impacto político ou gerador de mudança social. Por fim, face à necessidade de sustentabilidade (tida aqui somente como aspecto financeiro) vão sendo criados negócios nos quais surge o nome “animação sociocultural‟ sem que tenham realmente o ADN desta metodologia social na sua constituição.” (Montez, 2015: 5-6).
Porém, não obstante o risco de se esvanecer o espírito militante da animação, Montez não deixa de contrapor com as oportunidades proporcionadas pelo tempo presente, assinalando que 35
“As plataformas de participação cidadã, os mercados locais de troca de produtos, as redes solidárias, as redes de produção colaborativa, as actividades de transformação do espaço público, as mobilizações e acções de protestos em defesa de direitos sociais, culturais e educativos, são iniciativas que assentam na capacitação para a transformação social. Mesmo não sendo animadas por animadores e animadoras profissionais, estas iniciativas são de animação sociocultural, no sentido militante e político da animação.(…) Os campos da animação sociocultural na conjuntura actual, na sua vertente militante, são diversos e abrangem quadros teóricos distintos, embora integrem um referencial comum, associado a um conceito de Desenvolvimento que visa um equilíbrio entre os aspectos sociais, económicos e ambientais. Neles se encontram formas alternativas de vida em sociedade, a implementação de redes solidárias de colaboração ou de produção, a soberania alimentar e o activismo político tout-court, quer a partir de uma mobilização de rua, quer a partir de uma mobilização por meios digitais num contexto virtual.” (Montez, 2015: 6 e 10). 114
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“(…) a animação precisa de se animar a si mesma, de procurar as reminiscências da sua clássica utopia política e social nas realidades do presente, considerando até a existência de novos espaços da animação, como é o caso do espaço virtual potencializado pela Internet. (…) a animação sociocultural encara agora, na conjuntura histórica que atravessamos, estímulos idênticos aos que a fizeram surgir. Estamos perante uma conjuntura repleta de oportunidades para a afirmação da animação, em vários quadrantes, desde a sua pertinência institucional à sua necessidade social e política, que respondem precisamente à utopia da animação.” (Montez, 2015: 9-10).
Especificando o que entende por “novos espaços de animação”, Montez (2015: 10-28) apresenta “sete paisagens possíveis para uma acção militante e consciente da animação sociocultural no contexto contemporâneo”: criar comunidades sustentáveis ou ecoaldeias; promover redes de apoio social; estabelecer redes de partilha de conteúdos, tirando proveito da sociedade virtual; animar a economia local, protegendo o artesanato e a gastronomia; promover acções colectivas com ampla participação cidadã; conceber projectos de acesso ao micro-crédito e de criação do próprio emprego; actuar nas organizações, humanizando o trabalho, dignificando o trabalho e respeitando os direitos de quem trabalha.
Fazendo referência às competências dos Animadores Socioculturais para o século XXI, também Moriche e Badesa (2015: 283-287) dão conta da importância da Animação Sociocultural tirar proveito das oportunidades conferidas pela sociedade virtual, tendo em vista a promoção de uma “cidadania digital”. Traçam, para o efeito, o perfil do “ciberanimador” como sendo alguém que apresenta competências de três níveis: nível político, com uma atitude crítica e reflexiva em matéria de compreensão dos contextos sociais, políticos, económicos e educativos, bem como dos significados, interpretações e acções que se produzem nesses mesmos contextos; nível de rede, com habilidade para a comunicação em rede, orientada para a coesão e evolução do grupo, assim como a gestão de conflitos, valoração de resultados e administração da informação para a tomada de decisões, desenvolvimento da criatividade e capacidade para a inovação e investigação; nível tecnológico, com conhecimento dos recursos
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tecnológicos, sendo capaz de perceber onde, quando e como fazer uso desses mesmos recursos.
A ciberanimação extravasa, assim, as tecnologias informáticas. Representa, segundo Gonzalez (2008a), um novo paradigma sociocultural traduzido numa nova cultura, em novos espaços e redes para a comunicação e a interactividade, em liberdade de expressão, de auto-organização social, de comunidades reais que se estruturam no espaço virtual, de desenvolvimento social e comunitário. Um novo paradigma cultural que passa pela constituição de cibercomunidades em que a identidades são compartilhadas em resultado de uma representação colectiva da realidade, em resultado da existência de um espaço virtual comum que possibilita o intercâmbio, a identificação e o sentido de pertença e, ainda, em resultado de finalidades comuns definidas a partir da vivência desse mesmo sentido de pertença. Daí que a Animação Cibercultural corresponda a uma oportunidade dos Animadores Socioculturais aproveitarem a “potencialidade que a sociedade da informação oferece para o diálogo, a tomada de consciência crítica, a mudança social, a interactividade, a estruturação das comunidades humanas, a solidariedade e o desenvolvimento sustentável.” (Gonzalez, 2008a: 92).
Reconhecendo as mudanças operadas a partir dos anos 90, Lopes (2015: 72) faz notar que a Animação, para além de ter evoluído de uma formação iminentemente prática nos anos 70 e 80 para um modelo teórico-prático de nível secundário (Animador técnico-profissional) e de nível superior (Animador técnico-superior) a partir dos anos 90 e, ainda, de ter conhecido uma alteração em termos de género (de uma actividade predominantemente masculina para uma actividade em que se assiste a um domínio conheceu, ao mesmo tempo, uma mudança no campo da sua intervenção: “de um Animador militante e polivalente evoluiu-se para um perfil técnico de Animador centrado num âmbito específico”.
Corroborando desta perspectiva, Figueiredo e Cordeiro (2015: 182-183) referem que o legado militante dos anos 70 está em vias de desaparecimento, uma vez que, sendo fruto da escola a tempo inteiro, é difícil alguém tornar-se Animador sem ter feito um 116
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conjunto de experiências significativas de educação não formal e, sendo assim, consideram estes autores estar-se na iminência da Animação Sociocultural perder a dimensão transformadora que marcou a sua génese.
Passou-se de um tempo em que o reforço da autonomia da Animação Sociocultural aconselhava a concretização da formação em ambientes associativos, “onde o empirismo e a troca de experiências ganhava o braço de ferro com os processos clássicos de educação formal” para um tempo em que “são as clássicas instituições escolares que dominam a formação dos animadores socioculturais” (Fonte, 2015: 264), com todos os reflexos que esta mudança originou no campo da sua intervenção.
Não deixando de reconhecer a mudança operada, Lopes (2012: 79-90) assinala o compromisso que a Animação Sociocultural mantém, apesar da mudança, com a democracia, a participação, a liberdade e o desenvolvimento como pedra angular de uma intervenção que transporte consigo a “utopia de que um outro mundo é possível”, fazendo menção a uma prática profissional assente na interrogação e no questionamento dos problemas que se colocam nos quotidianos e contextos profissionais dos Animadores (Lopes, 2012: 79-90).
Apontando numa mesma linha, Gillet (2015: 366-368) reforça a ideia de compromisso como imperativo na intervenção da Animação Sociocultural. Ao fazer menção ao seu espírito militante, estabelece a relação entre esse espírito militante e o comprometimento democrático, referindo que o Animador é alguém necessariamente comprometido com a democracia, compromisso traduzido numa forma de trabalhar em que devem ser sempre os outros a tomar as decisões que lhes dizem respeito.
Por seu turno, Escola (2015: 143-146), ao identificar alguns dos problemas a que as sociedades actuais têm de responder – envelhecimento, pobreza, dificuldades de acesso aos bens culturais, iliteracia digital, obstáculos à participação activa nas questões da cidade, constrangimentos à construção de um espaço público democrático –, destaca, como provas de grandeza cívica dos Animadores Socioculturais, o bem colectivo, a participação na vida da cidade e a igualdade e, desta 117
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maneira, como grandes exigências que lhes são colocadas nos vários contextos em que são convidados a exercer a sua actividade profissional: a) colaborar na construção da identidade pessoal e social dos cidadãos, no sentido de uma acção profissional assente nos valores da liberdade, da autonomia, do diálogo, da crítica e da emancipação; b) colaborar na construção do humano no homem, actuando com e sobre as pessoas e, dessa forma, opondo-se a práticas desumanizadoras geradas pelo medo e a incapacidade de lidar com a diferença; c) colaborar na construção de uma identidade plural, contrariando a tendência da uniformização que conduz ao desaparecimento das marcas da tradição, dos elementos identitários, dos traços culturais característicos das populações de determinadas regiões; d) colaborar na construção de uma cidadania planetária, ajudando a que cada um tome consciência do seu papel enquanto cidadão do mundo.
Defendendo uma linha “transformadora”, Vieira e Vieira (2015: 150-151) referem que a Animação Sociocultural assenta numa visão sistémica e numa prática de trabalho social relacional em que o Animador terá de considerar o conjunto de componentes da realidade das pessoas (família, escola, trabalho, projecto de vida, vizinhança). Daí que estes autores, recorrendo a Paulo Freire36, considerem a “sua acção não poder incidir sobre as partes isoladas, pensando que assim transforma a realidade, mas sobre a totalidade. É transformando a totalidade que se transformam as partes e não o contrário”, ou seja, uma Animação Sociocultural assente “(…) numa Pedagogia Social que propicia a participação, a autonomia, a consciencialização e a interacção que, embora partindo do outro, origina transformação de todos e com todos os implicados.”
Nota Final
Presentemente, a Animação Sociocultural vê-se perante os desafios de uma sociedade que tende a organizar-se em torno de uma lógica de “trabalho em rede”, em que a adaptabilidade, a flexibilidade e o empreendedorismo são requisitos exigidos de modo a que os indivíduos possam enfrentar os problemas actuais, nomeadamente os problemas de emprego. 36
Freire, P. (2001). Educação e Mudança. S. Paulo: Editora Paz e Terra, SA. 118
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Esta nova configuração da sociedade moderna coloca à prova a dimensão “transformadora” que se encontra na génese da Animação Sociocultural, enquanto actividade ligada à intervenção social, educativa e cultural. Nessa medida, a dúvida é saber até que ponto as exigências da sociedade moderna não levarão esta actividade a adoptar um modelo de actuação assente na flexibilidade e no empreendedorismo, passando a privilegiar o carácter “cuidador” e “intertainer” e esvanecendo-se, assim, o seu “espírito militante”.
Em face das várias concepções, tendências e perspectivas, levanta-se a dúvida se a Animação Sociocultural é profissionalizável. Na verdade, a ausência de um corpo teórico de conhecimentos, que sirva de ligação entre os problemas diagnosticados e a actuação sobre esses problemas, torna difícil a constituição de uma área jusrisdicional. Isso explica, de facto, a dificuldade em controlar a prestação de serviços, bem como em proteger-se de intrusões, seja por parte de grupos ocupacionais que se encontrem num processo de definição ou de alargamento da sua área jurisdicional, seja por parte de clientes que, por entenderem a prática profissional da Animação Sociocultural como uma prática meramente banal, não considerem o recurso aos seus profissionais como a única forma de solucionar os seus problemas.
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Trajetórias de Vida e Integração Social de Jovens Pós-Institucionalizados. Estudos de Caso na Casa Pia de Lisboa (2002-2011) José Rosado Medinas Martins1
Resumo
Este estudo longitudinal cruza três fases da vida da população (n=500) em apreço:
pré-institucionalização,
institucionalização
e
pós-institucionalização.
Selecionou-se uma amostra (n=50) que foi entrevistada presencialmente; recolheramse dados de natureza quantitativa e qualitativa. As quatro hipóteses que nortearam a investigação abrangeram diversos aspetos, como as problemáticas vivenciadas antes da institucionalização, o “papel” e o “peso” do acolhimento, as relações de mentoring, as relações familiares e a integração social. Os resultados da investigação apontam para que, com a exceção parcial dos maus-tratos, as restantes problemáticas vivenciadas antes do acolhimento não condicionam a integração social. O período de acolhimento é positivamente nutritivo para a integração social, nomeadamente porque contribui para a estruturação dos indivíduos. Não se confirmou, de forma consistente, a importância das relações de mentoring em acolhimento, mas ficou clara a importância do papel dos cuidadores, nomeadamente através da transmissão de valores. Por fim, concluiu-se que a manutenção dos laços familiares, durante o acolhimento, é importante para o bemestar e desenvolvimento dos indivíduos pois facilita a sua integração social posterior. São necessárias políticas sociais para um melhor enquadramento no âmbito da transição para fora dos cuidados e dos apoios a prestar em fase de pósinstitucionalização.
1
Licenciado em Animação Educativa e Socio-cultual, mestre em Relações Interculturais&nbsp e doutorado em Ciências Sociais (especialização em Política Social).
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Palavras-chave: pré-institucionalização; institucionalização; pós-institucionalização; integração social; trajetórias de vida; política social.
Introdução
Os percursos de vida de indivíduos com um passado de institucionalização são o mote que deu origem a este trabalho de investigação, na área da política social, denominado Trajetórias de Vida e Integração Social de Jovens Pós-Institucionalizados. Estudos de Caso na Casa Pia de Lisboa (2002-2011). A pesquisa inscreve-se na problemática da institucionalização de crianças e jovens (c/j) em lares de infância e juventude (LIJ), devido à aplicação de medida de acolhimento de longa duração, onde desenvolvem parte substancial do seu processo de socialização. Os percursos de vida são, genericamente, multidimensionais, por isso se torna relevante conhecer as trajetórias de vida em articulação com a Casa Pia de Lisboa (CPL) como instituição de enquadramento. Assim, a questão de partida que nos guia ao longo da investigação é: qual o papel do acolhimento institucional na mobilidade social e nos modos de vida dos jovens na fase de pós-institucionalização? Esta pergunta inicial traduz-se na tentativa de saber como é que o acolhimento institucional contribuiu para a integração social dos jovens, ao nível dos seus modos de vida, uma vez que a instituição assumiu o papel ressocializador dos indivíduos. Formularam-se quatro hipóteses que orientaram esta pesquisa e que têm como denominador comum a integração social dos indivíduos, uma vez que as trajetórias de vida confluem no (in)sucesso da fase de pós-institucionalização a qual, na
maioria
dos
casos,
marcou
a
transição
para
uma
vida
adulta,
já
desinstitucionalizada, em que houve, necessariamente, uma influência inextinguível das etapas biográficas precedentes. A população em estudo (n=500) é composta por indivíduos que tiveram baixa definitiva/processo de saída do acolhimento institucional na Casa Pia de Lisboa, a partir de LIJ/RAIA (residência e apoio à integração de adolescentes) afetos a seis centros de educação e desenvolvimento, no decorrer de um período de dez anos (2002-2011), e sobre a qual construímos uma base de dados, recorrendo a metodologia quantitativa. Nesta sequência, procedeu-se a contactos telefónicos de 129
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follow-up (n=137). A partir dos referidos contactos foi selecionada a amostra (n=50) que entrevistámos presencialmente de forma aprofundada tendo a informação sido tratada qualitativamente. 1. Da precariedade à institucionalização e à integração 1.1. Estratégia de investigação e metodologia A pergunta de partida que despoletou a construção das hipóteses e ajudou a construir esta pesquisa foi: qual o papel do acolhimento institucional na mobilidade social e nos modos de vida dos jovens na fase pós-institucionalização? Isto porque, essencialmente, nos importa conhecer, através da voz dos indivíduos, qual é, de facto, o “peso” efetivo dos fatores que os conduziram ao acolhimento institucional, como decorreu o próprio acolhimento e as suas trajetórias de vida, sobretudo quando fazem a transição para fora dos cuidados e, eventualmente, para a vida adulta e se encontram desinstitucionalizados, percebendo o que contribuiu para a sua (des)integração social. O estudo analisa as trajetórias de vida de jovens (n=500) que estiveram acolhidos institucionalmente em seis Centros de Educação e de Desenvolvimento - CED (antigos colégios) afetos à CPL, que saíram do acolhimento institucional num período de dez anos (2002-2011), e que, atualmente, se encontram em meio natural de vida junto das famílias ou em autonomia de vida. Pretendemos compreender o seu processo de integração social através de um estudo longitudinal tipo painel (Sampieri et al. 2006), em que se recorreu à técnica de follow-up. Encaramos como sendo relevante a implementação nesta pesquisa de técnicas de metodologia quantitativa e qualitativa porque “a lógica da triangulação é que cada método revela diferentes aspetos da realidade e consequentemente devem utilizar-se diferentes métodos de observação da realidade” (Carmo e Ferreira 1998: 184). Para responder às quatro hipóteses de estudo que aventámos, construímos um modelo de análise no qual esquematizamos a forma como nos vamos apropriar das trajetórias de vida individuais após nos basearmos numa revisão bibliográfica que assenta, essencialmente, em textos internacionais temáticos que foram produzidos,
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essencialmente, nos últimos quinze anos. Da revisão da literatura resultaram quatro hipóteses de estudo: a)
Quanto mais precárias foram as condições vivenciadas em meio natural
de vida, conducentes ao acolhimento, maiores foram as dificuldades de integração social subsequente. b)
Não obstante as experiências em meio natural de vida que precederam
o acolhimento, este viabilizou a integração social consequente. c)
As ligações significantes (re)criadas com os prestadores de cuidados
(mentoring), em contexto de acolhimento influem ulterioriormente na integração social. d)
As relações significativas (familiares e/ou outras), mantidas no exterior
da instituição, durante o acolhimento, favorecem a integração social posterior. e) Na sequência de uma ronda afincada pela literatura temática, nomeadamente a internacional, e uma vez definidas as hipóteses que iriam nortear este percurso de investigação, considerámos oportuno abarcar seis CED (Pina Manique; D. Mª Pia; D. Nuno A. Pereira; Nossa Sr.ª da Conceição; Stª Catarina; St.ª Clara), aos quais se encontravam afetos diversos LIJ e apartamentos de autonomização, tendo como linhas balizadoras um período de dez anos (2002-2011), durante os quais a população teve baixa definitiva/processo de saída. Desta forma, passámos à analise de 500 processos psicossociais de indivíduos que se encontravam nas circunstâncias referidas, recorrendo, para tal, a metodologia quantitativa (SPSS). Seguidamente, após termos contactado a população por escrito, por via da instituição CPL e por via do investigador, tentámos estabelecer contacto telefónico de follow-up, sendo que foi possível entrevistar 137 indivíduos ou os seus familiares. A partir destas entrevistas telefónicas foi viável agendar e realizar entrevistas presenciais com uma amostra constituída por 50 indivíduos, tal como nos havíamos proposto em sede de projeto de investigação, e os dados foram examinados qualitativamente (Maxqda). Através do acesso aos dados empíricos obtidos, verificou-se possível estabelecer uma relação simbiótica com a literatura consultada, à qual regressámos amiúde durante o percurso de investigação, no sentido de consubstanciar touching 131
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points e divergências, entre diferentes pesquisas realizadas. Nesta senda, redigimos o trabalho final, no qual destacamos a perceção da influência da política social institucional nas trajetórias de vida, o qual pretendemos devolver à CPL. Numa primeira fase recolhemos informação processual em quinhentos dossiers individuais de forma a preenchermos o draft anteriormente construído em SPSS versão 20, o qual contemplava cento e seis variáveis. Nesta vertente, tendo em conta o direito à informação atempada dos sujeitos e o direito dos mesmos, eventualmente, a recusarem-se a ser contactados no âmbito deste estudo, foi-lhes dirigida pelos Serviços Centrais da CPL, uma carta explicativa que apresentava o investigador, o porquê de virem a ser contactados, ao mesmo tempo que esclarecia os moldes em que iria decorrer a investigação, nomeadamente, a garantia do anonimato. Todavia, não foi possível estabelecer contacto com cento e quarenta e um indivíduos por não terem a morada ou telefone (ou as duas coisas) atualizadas junto dos serviços2. Considerámos não ser pertinente contactar nove indivíduos por terem, à data da recolha, menos de dezoito anos de idade. Três indivíduos haviam falecido na data da compilação da informação. Portanto, foram enviadas, pela instituição, trezentas e quarenta e sete cartas. Algum tempo depois, seis indivíduos contactaram os serviços centrais da CPL no sentido de informarem que estavam indisponíveis para colaborarem no estudo. Numa segunda fase, tal como ficou acordado com a CPL, o investigador enviou uma outra carta, a trezentos e quarenta e um indivíduos, na qual aclarava mais detalhadamente os desígnios da pesquisa e informava os indivíduos de que iriam ser contactados telefonicamente no âmbito do processo de follow-up que constituía uma parte preponderante neste trabalho, solicitando aos mesmos que recorressem a um endereço de correio eletrónico, criado propositadamente para o efeito, no sentido de colocarem quaisquer questões pertinentes e atualizarem os contactos telefónicos. Fomos contactados, através do referido endereço de e-mail, por sete indivíduos (ou seus familiares). Foram devolvidas ao investigador trinta e duas cartas devido a terem moradas incorretas porque, por exemplo, os indivíduos já haviam
2
O facto de não ter sido possível contactar muitos destes indivíduos deve-se, essencialmente à dificuldade de localização uma vez que, em muitos casos, já haviam decorrido, em média, 3 a 8 anos desde que tiveram baixa definitiva/processo de saída. 132
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mudado de residência, contudo, alguns dispunham de números de telefone. Desta forma, quando iniciámos os follow-up telefónicos, dispúnhamos de trezentos e nove casos com nomes, moradas conhecidas e/ou números de telefone, mas não conseguimos conversar com cento e setenta e dois indivíduos, pois os números não correspondiam aos mesmos nem a familiares, ou pertenciam a familiares que não tinham à data contacto com os indivíduos ou, ainda, porque não nos quiseram disponibilizar os contactos dos sujeitos, por desconfiança ou por considerarem que o passado institucional é uma coisa “a esquecer”, pelo que dialogámos com cento e trinta e sete pessoas (follow-up’s validados). Continuamente, esta base de dados foi enriquecida com contactos de followup na medida em que se comunicou, telefonicamente, com uma parte da população em estudo (n=137), composta pelos jovens referenciados (62.8% masculinos; 37.2% femininos), cujos processos haviam sido analisados, no sentido de se aprofundar o conhecimento e ser esta a forma de seleção da amostra que serviu o estudo qualitativamente. Os follow-up’s conseguidos foram de carácter direto (61.3%), sempre que conseguíamos falar com os indivíduos, e indireto (38.7%) quando foram familiares diretos a darem-nos informações, por terem assumido que haviam acompanhado as trajetórias de vida dos jovens e se disponibilizaram para tal. Numa fase posterior, foi selecionada a amostra (n=50), a partir dos contactos telefónicos estabelecidos (n=137), e o enfoque passou a ser o qualitativo, pois foram entrevistados presencialmente, e profundamente cinquenta indivíduos (n=50), (64% masculinos; 36% femininos), o que permitiu efetuar uma análise interpretativa dos resultados ao cruzá-los com os dados recolhidos quantitativamente. As entrevistas aconteceram nos locais e a horas acordados com cada um dos entrevistados, foram gravadas para posterior transcrição e análise de conteúdo com o programa Maxqda versão 10. Todos os inquiridos presencialmente assinaram um documento designado “consentimento informado”, em que estes e o investigador se comprometiam a honrar requisitos essenciais como o anonimato e a veracidade das trajetórias de vida. Tratou-se de uma pesquisa não-experimental (Sampieri et al. 2006). A investigação baseou-se num modelo longitudinal. 133
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Desta forma, surgiram-nos a pesquisa bibliográfica e a pesquisa documental que concorreram paralelamente com a pesquisa empírica. Foi aplicada a técnica da Janela de Johari (Carmo e Ferreira 1998), como forma de aceder às quatro áreas (livre, secreta, cega e inconsciente) de conhecimento dos indivíduos durante as entrevistas de caracter qualitativo. Antes de se iniciar em profundidade o estudo em questão levámos a cabo entrevistas exploratórias informais que nos coadjuvaram, em conjunto com a revisão da literatura, na construção de instrumentos fundamentais na recolha de dados. A escolha dos elementos participantes nas entrevistas exploratórias tiveram por base de triagem uma amostragem (não probabilística) por conveniência (Carmo e Ferreira 1998) a informantes privilegiados. Estas entrevistas possibilitaram um conhecimento substancial da forma como se organizam interna e externamente as residências de acolhimento e sobre as características marcantes da população analisada. Estas entrevistas foram abrangentes, pouco estruturadas e profundas (Carmo e Ferreira 1998), com respostas abertas, de forma a fornecerem pistas para a construção da base de dados (análise quantitativa) e do guião de entrevista a aplicar à amostra. Uma vez que se tratou de um estudo sobre uma população-alvo que apresenta especificidades de vária ordem, houve que ter em atenção aspetos deontológicos (Carmo e Ferreira 1998) de forma a, por um lado, não ferir suscetibilidades e, por outro lado, não pôr em causa a transmissão do conhecimento adquirido. Na aplicação de inquéritos por entrevista, são utilizadas questões objetivas, na sua integridade questões abertas. Há um esforço para que o questionário seja abrangente e profundo, contendo questões específicas, ao mesmo tempo que se tenta fazer uso de uma linguagem próxima da que é praticada pela amostra constituída por jovens adultos. No que concerne ao enfoque quantitativo, nesta pesquisa socorremo-nos de um sistema de amostragem total, em que todos os elementos do universo foram envolvidos, na medida em que se procedeu à análise da generalidade dos processos educativos e psicossociais dos jovens que saíram do acolhimento institucional de 2002 a 2011; são os vários aspetos recolhidos que constituem a base de dados. Assim, a 134
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população é representativa da realidade que se desejou retratar, o que também se passou ao nível dos contactos telefónicos. Relativamente ao modelo qualitativo que empregamos, para apreender quais têm sido as trajetórias empreendidas pela população em estudo optou-se por recorrer ao processo de amostragem não probabilística de casos típicos, como nos dizem Sampieri et al. 2006. A amostragem não probabilística de casos típicos foi concretizada selecionando um número representativo de indivíduos cujos processos institucionais foram analisados e se disponibilizaram a participar na pesquisa, o que tornou possível ter uma representação contrabalançada das perceções relativas à sua integração social, ao mesmo tempo que se evitou a saturação da amostra. As entrevistas à amostra, foram dirigidas tendo por base um guião previamente construído para o efeito e cujas questões tiveram por base informações diversas, teóricas (através da revisão da literatura) e empíricas (através das entrevistas exploratórias), para que fosse possível aprofundar alguns aspetos. As questões colocadas nestas entrevistas foram abertas, presenciais e tão específicas quanto possível no sentido de se proceder a um “mergulho profundo” na realidade da amostra. As questões colocadas à amostra estão listadas de acordo com o quadro de referência que a mesma tem da sua relação com: a família, a comunidade, a escola; o emprego; a residência de acolhimento e acolhimento; os educadores; o projeto de desenvolvimento pessoal; os pares; os aspetos “livres” focados pelos entrevistados sobre as suas vivências e experiências (Foddy 1996). Concretizadas as entrevistas, procedemos à sistematização dos resultados e à correspondente análise de conteúdo para tirarmos as devidas ilações, a serem apresentadas substancialmente na parte empírica deste trabalho. Portanto, foram seguidos os seguintes passos: estabelecimento de categorias; codificação; tabulação; análise estatística dos dados; avaliação das generalizações obtidas com os dados; inferência de relações causais; interpretação dos dados e comunicação das conclusões. Seguidamente, procedeu-se à análise de conteúdo que se impôs em relação às referidas entrevistas. Esta é de cariz qualitativo e indireto (Carmo e ferreira 1998), visando dar a noção da importância do tema. 135
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As categorias de análise utilizadas são claras e adequadas ao problema em questão com o intuito do estudo ser produtivo. Posteriormente foram criadas unidades de registo, de contexto e de numeração para analisar a entrevista. As unidades de registo foram psicológicas, semânticas e linguísticas. Quanto às unidades de contexto, estas serviram para dar sentido às unidades de registo.
1.2 Trajetórias de vida e integração social de jovens pós-institucionalizados
Realizámos um percurso analítico, através das quatro hipóteses de investigação que elencámos, no sentido de expormos e corelacionarmos as perceções dos indivíduos, enquanto confirmamos, ou não, os pressupostos que conduziram a pesquisa. Relativamente à primeira hipótese, apurámos que a generalidade dos indivíduos da amostra se encontra socialmente integrada e alguns revelaram atitudes empreendedoras, pelo que a hipótese não se confirma, uma vez que as problemáticas vivenciadas em meio natural de vida, em fase de pré-acolhimento, não impediram, na maioria, a integração social em fase pós-institucional, exceto, parcialmente, no caso particular dos maus-tratos, dado que alguns indivíduos que os sofreram ulterioriormente à sua institucionalização não vieram a ser bem-sucedidos encontrando-se entre os casos de desintegração social. No que diz respeito à segunda hipótese, concluímos que o acolhimento, pela sua forma e filosofia de funcionamento, viabilizou a integração social dos indivíduos, uma vez que promoveu capital humano individual e social de melhor qualidade. O apoio prestado na reta final do acolhimento constituiu-se como uma mais valia na sustentabilidade de uma trajetória que se inicia com a saída da instituição. Consideramos que existe um efeito relacional entre a (des)preparação e a (in)oportunidade da saída relativamente ao (in)sucesso da integração social. A precipitação das saídas podem ser prejudiciais para a integração social por (in)existir estruturação. No âmbito da hipótese III, aclarámos que em situação de acolhimento institucional, é muito importante para as c/j saberem que podem contar com adultos de referência comprometidos (mentoring), com os quais estabeleçam relações 136
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consistentes de apoio, que acreditem neles e os incentivem a recuperar de situações de desvantagem social, potenciando a resiliência, a quem saibam que podem recorrer, embora seja difícil, nestas circunstâncias, estabelecerem relações personalizadas e obterem segurança emocional. Concludentemente, tendo em conta esta hipótese de estudo, consideramos poder afirmar que as relações de mentoring podem ser facilitadoras do processo de integração social embora outros fatores possam coocorrer simultaneamente e levar a trajetórias de desintegração. Por último, tendo em conta a hipótese IV, verificamos que a manutenção das relações familiares durante o período de acolhimento, desde que não interditada por ordem judicial, é um fator importante para o bem estar e equilíbrio das c/j e facilitam a integração social posterior à institucionalização. As famílias devem ser apoiadas no desenvolvimento de competências comportamentais antes das c/j regressarem ao seu convívio a tempo inteiro. Com frequência se apreende que existe pouco envolvimento das famílias durante o período de institucionalização, sendo que cabe aos prestadores de cuidados um maior investimento nesta área. Os jovens obtêm melhores resultados e manifestam-se mais satisfeitos com o sistema de acolhimento quando, durante o mesmo, existiu uma relação de proximidade com as famílias de origem. O acompanhamento das c/j na transição para fora dos cuidados é essencial para o sucesso da sua integração social. A interdependência afigura-se, nesta fase, mais importante do que a autossuficiência, ressaltando, no caso específico da CPL, o papel importante que desempenham as equipas técnicas AIF e RAIA. No que concerne às expetativas que os indivíduos tinham quanto à sua desinstitucionalização, é-nos dado verificar que o mais pragmáticos tiveram uma melhor integração social. No âmbito da experiência de desinstitucionalização a curto/médio prazo, considerando-se as dificuldades com que os indivíduos se depararam e as resoluções que encontraram, verifica-se uma incidência maior de dificuldades a curto prazo (1.º ano pós acolhimento) e, posteriormente, uma adaptação, sendo frequentes as transições profissionais e habitacionais. No que confere às relações sociofamiliares e transições habitacionais, os indivíduos referiram que sofreram alterações comportamentais durante o tempo em que estiveram em acolhimento, o que os preparou melhor para a transição. Porém, as 137
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famílias não haviam mudado ou haviam mudado pouco durante esse mesmo período. Em muitos casos passaram a viver com a família quando deixaram o acolhimento mas, algum tempo depois, fizeram outra opção habitacional. O posicionamento dos indivíduos face à escolaridade e à formação profissional contraria as tendências veiculadas pela literatura internacional, na medida em que bastantes indivíduos continuaram a estudar após deixarem o acolhimento e outros ainda pretendem voltar a fazê-lo, o que é um indicador de integração social, pois quanto menos habilitações escolares tiverem, maiores dificuldades terão em se integrarem, nomeadamente a nível socioprofissional. A formação profissional revela-se importante na integração socioprofissional dos indivíduos porque lhes permite aceder com maior facilidade ao mercado de trabalho. Sobre a situação ocupacional e tempos de lazer, parece-nos, de forma conclusiva, que não é possível fundar uma relação condicionadora entre as primeiras experiências profissionais e a integração social. Constatámos que bastantes indivíduos não têm atividades de lazer às quais sejam fiéis, mas que a existência destas, quando são uma realidade, estão em ligação, tendencial, com os casos de integração social e, eventualmente, de empreendedorismo, embora alguns indivíduos, estejam em situação de desintegração social. Alguns indivíduos, para além de se encontrarem socialmente integrados, distinguiam-se no grande grupo da amostra (n=50), por serem particularmente empreendedores, na medida em que têm vindo a demonstrar um
percurso
escolar/profissional ascendente, muitas vezes a dispêndio de cumulação ocupacional. Encontramo-nos em presença de integração social de indivíduos, com uma trajetória de vida que passou pelo sistema de acolhimento de c/j, sempre que estes, desde cedo, foram investidos e investiram, nomeadamente no campo escolar (relevante enquanto fator de proteção), mas também ao nível da saúde, da comunidade, e da família, pelos cuidadores e, também, quando os indivíduos demonstram disponibilidade interior para serem cuidados e ajudados, sendo isso que os faz objetivar a vida e não se tornarem apáticos perante as suas circunstâncias reconhecidamente árduas.
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Notas finais
Na génese do acolhimento das c/j, em tempo pré-institucional, encontram-se famílias que não tiveram circunstâncias pessoais e sociais para cuidar da infância, a qual é socialmente considerada vulnerável e digna de especial atenção protetora. Nesta senda, coocorrem frequentemente situações de maus-tratos, que vitimizam as c/j, e carência socioeconómica que, isoladamente ou em conjunto, criam as condições necessárias para se poder considerar que existem situações de risco/perigo, pelo que é necessário proporcionar bem-estar aos mais desprotegidos através de uma intervenção social que seja integrada e sustentável. É neste enquadramento que se configura o acolhimento institucional de c/j, nomeadamente em LIJ, o qual visa oferecer conjunturas de educação e de desenvolvimento integrado numa lógica sistémica em que os indivíduos são considerados nas suas múltiplas facetas. Ao nível da proteção às c/j em situação de perigo, que é devida pela agência social do Estado e da sociedade civil, cumpre-nos abordar a temática longitudinalmente
(pré-institucionalização;
institucionalização;
pós-
institucionalização), porque essa é a trajetória de vida dos indivíduos que, em idade infanto-juvenil, apresentaram vulnerabilidades e desproteção em relação àqueles que deveriam assegurar o seu bem-estar e desenvolvimento e que, posteriormente à desinstitucionalização, se vão encontrar socialmente integrados ou desintegrados. A CPL, enquanto instituição relevante na área da formação e da proteção infanto-juvenil em Portugal atravessou dois centenários e adapta-se, num movimento ininterrupto, às necessidades sociais que apelam a uma melhor intervenção social a este nível porque se as necessidades já não são as mesmas é, por isso, necessário adequar as respostas aos problemas sociais contemporâneos. Neste sentido, a CPL tem vindo a reestruturar-se desde 2003, optando por um modelo de acolhimento em que as c/j se sintam integradas, dando enfâse ao relacionamento interpessoal, na perspetiva da construção positiva da personalidade e da inclusão. Atualmente, as respostas sociais desta natureza são, tendencialmente, de menor dimensão e a visão da prestação de cuidados de proximidade ocorre ao abrigo de ambientes familiares facilitadores de relações harmoniosas. Em Portugal, a lei 147/99 emoldura a proteção devida às c/j e, mais recentemente, o Manual dos 139
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Processos-Chave dos LIJ enuncia as linhas operacionais em unidades desta índole, uniformizando procedimentos que se pretende que sejam a garantia de atenção permanente às necessidades individuais e grupais. Como nos elucida Gomes (2010), é necessário fazer corresponder as necessidades das c/j do presente com respostas sociais que se matrimoniem no sentido de responder às suas carências, “importa também criar uma rede de respostas de acolhimento residencial, que se redefinam num sistema especializado onde a par de um acolhimento regular surjam respostas de cariz terapêutico, capazes de dar uma resposta eficaz e de qualidade às variadas necessidades que as crianças e jovens necessitados de acolhimento residencial apresentam” (pp. 357-358). Os abusos infantis e a concomitante ausência de outras respostas que se considerem constituir alternativas mais sustentáveis para as c/j, determinam a opção pelo acolhimento institucional, nomeadamente em LIJ, numa tentativa de as proteger e promover o seu desenvolvimento harmonioso e bem-estar. A estabilidade nas colocações é relevante para os progressos educacionais das c/j uma vez que as ruturas e a constante mudança de cuidadores é conducente a problemas comportamentais e, por vezes, escolares das c/j que se sentem afastadas do grupo e dos cuidadores com que haviam estabelecido vinculação. A conservação das relações familiares, sempre que tal seja possível, com as famílias de origem, o treino de competências individuais e sociais, nomeadamente a criação e a manutenção de uma relação estreita com a comunidade envolvente (transferência de empowerment), o acompanhamento à saúde e ao estudo, as relações privilegiadas com cuidadores de referência (mentoring), que se encontrem comprometidos com a agência de desenvolvimento individual, são, em conjunto, aspetos que se constituem como relevantes para o sucesso do acolhimento e ajudam na estruturação dos sujeitos. Conclui-se que o processo de preparação da saída do acolhimento deve ser organizado imediatamente após o ingresso institucional e a institucionalização deve durar somente o tempo considerado necessário, de acordo com cada caso individual, para a estruturação do indivíduo e do seu agregado familiar, daí a importância do envolvimento das famílias ao longo do processo garantindo-lhes um contacto direto com as c/j ao mesmo tempo que se repensam e reorganizam para os receber. Neste 140
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processo as famílias dependem, essencialmente, de ajuda técnica que lhes permita uma reaproximação positiva e consistente. Por outro lado, estão os indivíduos que, por algum motivo, não têm possibilidade de se reintegrarem ao nível familiar. Para estes, a fase em que deixam o acolhimento e um estilo de vida em que são notoriamente dependentes, pode representar uma época de grande exposição ao risco, embora maioritariamente se trate de jovens adultos. Usualmente a desinstitucionalização acontece, em muitos casos, de forma contemporânea com a transição para a vida adulta. Assim, concluímos que a saída da instituição não deve ser balizada a nível etário pois, muitas vezes, as saídas aos dezoito anos revelam-se precoces e ocorrem numa altura em que os indivíduos não se encontram suficientemente preparados emocionalmente e economicamente para prosseguir por uma vida autónoma, sendo que socialmente lhes é exigido que se tornem rapidamente independentes e autossuficientes. Observamos que as ligações destes jovens adultos com cuidadores comprometidos com o seu bem-estar, que sejam disponíveis e participantes, no seu processo de integração social constituem uma mais-valia para a sustentabilidade da autonomização desde que a base seja a da interdependência. É de salientar que os indivíduos que são detentores de percursos escolares de sucesso em acolhimento se encontram melhor preparados para a integração posterior. A habitação, a par com a garantia de cuidados de saúde, são aspetos relevantes para o êxito da integração social em fase de pós-acolhimento pois permitem estabilidade e inclusão social em situações em que são inexistentes meios familiares de suporte. Nesta senda, consideramos igualmente importante que os jovens não se vejam obrigados a deixar de estudar em idades precoces e em fase de pós-institucionalização, por terem que se autossustentar, pelo que nos parece, e também de acordo com a literatura abordada sobre esta temática, que deverão estar previstos apoios económicos e habitacionais que permitam dar continuidade aos percursos escolares individuais em casos considerados congruentes. Optámos por construir uma tipologia de integração social no sentido de agrupar os indivíduos da amostra e demonstrar os resultados da investigação de uma forma mais fidedigna e congruente com as hipóteses iniciais.
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O relevo é atribuído à situação ocupacional dos indivíduos, sendo que da amostra (n=50), bastantes indivíduos (trinta e um) encontravam-se a trabalhar ou a estudar à data dos contactos presenciais, embora outros aspetos também fossem considerados, tais como a situação habitacional, a situação familiar ou a ocupação dos tempos livres. De referir que, alguns entrevistados são indivíduos com atividades ocupacionais ascendentes e empreendedoras e perspetivam-se a médio e longo prazo em várias dimensões vivenciais, tendo objetivos que gostariam de vir a alcançar, sendo que identificámos indivíduos (seis) que, para além de se encontrarem bem integrados socialmente, apresentam características de forte empreendedorismo e de manifesta resiliência. Estes indivíduos trabalham e estudam em simultâneo, lutando contra as adversidades quotidianas dado que têm objetivos bem delineados para o seu futuro, nomeadamente profissional. São, portanto, trinta e sete os casos de integração social. Por outro lado, apresentam-se os indivíduos (treze) que considerámos, de acordo com os critérios esboçados anteriormente, desintegrados socialmente. Esta categorização justifica-se, essencialmente, porque se trata de indivíduos que não estudam nem trabalham (sete) ou que trabalham de uma forma muito pouco consistente do ponto de vista contratual (seis), isto é, desempenham esporadicamente funções não especializadas, precárias, pontuais e com baixa remuneração. Tendo em conta as premissas iniciais que guiaram esta investigação, é de referir que, genericamente, não encontrámos uma relação causa-efeito entre as problemáticas que levaram ao acolhimento e a integração social posterior, exceto, parcialmente, no caso específico dos maus-tratos, uma vez que alguns indivíduos que os sofreram demonstraram desintegração social. Foi manifestamente relevante o papel do acolhimento e das regras institucionais na formação individual e no processo de reintegração social subsequente. Em bastantes casos a manutenção das relações familiares durante o acolhimento permitiram minorar os efeitos da reaproximação em fase posterior, nomeadamente ao nível da coabitação e da garantia de suporte familiar integrador. Mais do que as relações de mentoring individualizadas, foram as relações positivas recriadas com o “corpo” (equipa) de cuidadores que permitiram a adesão dos
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indivíduos a referências paradigmáticas adultas, as quais ajudaram a sustentar a transição para a vida adulta e a integração em fase de pós-institucionalização. Foi a carência socioeconómica, muitas vezes agregada com maus-tratos e negligência, que conduziu os indivíduos ao acolhimento institucional, provindos do meio familiar nuclear, alargado ou compósito. Os indivíduos opinaram no sentido de que o seu acolhimento foi uma decisão que influenciou positivamente as suas trajetórias de vida, embora a entrada em acolhimento, nalguns casos, tivesse sido difícil, devido à habituação a regras que não conheciam. Tendencialmente, a integração social destes indivíduos foi considerada, pelos mesmos, um processo positivo tendo demonstrado apreço pelo desenrolar dos acontecimentos a este nível. Seguimos, ao logo do processo investigativo, quatro hipóteses de permitiram aferir a fiabilidade do estudo e chegar a resultados consistentes. Assim, a primeira hipótese: quanto mais precárias foram as condições vivenciadas em meio natural de vida, conducentes ao acolhimento, maiores foram as dificuldades de integração social subsequente, não se confirma na maioria dos casos, uma vez que, apesar dos motivos que conduziram as c/j a acolhimento, estas conseguiram integrar-se socialmente encontrando-se no presente a estudar, a trabalhar ou a acumular as duas atividades. De salientar que no caso específico dos indivíduos que foram alvos de maus-tratos, a hipótese é, parcialmente, confirmada porque muitos apresentam desintegração social na atualidade. Logo, concluímos que as problemáticas vivenciadas anteriormente ao acolhimento (ausência ou instabilidade do suporte familiar; maus-tratos; carência socioeconómica; doença e comportamentos aditivos dos cuidadores), ou a coocorrência de duas das categorias anteriormente expostas, podem ter, em muitos casos, um peso manifesto nas atitudes e comportamentos das c/j, nomeadamente no decorrer do acolhimento, mas não determinam, por si, o sucesso da integração social posterior, com a ressalva do caso especial da ocorrência de maus-tratos, a que aludimos anteriormente. No que concerne à segunda hipótese: não obstante as experiências em meio natural de vida que precederam o acolhimento, este viabilizou a integração social sequente, confirma-se o papel do acolhimento na integração social dos indivíduos dado que por lá adquiriram regras e valores que os fortaleceram e tornaram estruturados para fazerem face às adversidades em momentos posteriores quando 143
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deixaram a instituição. Neste aspeto temos como indicador a perceção dos indivíduos relativamente às regras institucionais a que foram sujeitos em acolhimento e a ações específicas concretizadas pelos cuidadores e que tiveram um significado importante para os indivíduos na preparação do seu futuro. Em ambos os casos, um número esmagador de indivíduos veiculou que as regras foram importantes na sua formação e na construção da sua personalidade e deram exemplos de ações desenvolvidas por parte dos técnicos/pessoal afeto à instituição que consideraram ter sido importantes para a preparação do seu futuro. Muitos consideraram que o modo de organização do LIJ se assemelhava a uma família padrão embora com nuances diferentes, tal como o elevado número de indivíduos em coabitação. Estas constatações permitem-nos afirmar que os indivíduos se sentiam estáveis e seguros no ambiente do LIJ. Relativamente à terceira hipótese: as ligações significantes (re)criadas com os prestadores de cuidados (mentoring), em contexto de acolhimento, influem ulteriormente na integração social. Tal como afirmámos relativamente à segunda hipótese, concluímos, através da análise da quarta hipótese, que a generalidade dos entrevistados obteve integração social pelo investimento global que foi concretizado em período de acolhimento, mais do que por razões privilegiadas que tivessem (re)criado com um cuidador específico e que se tenham afigurado como “ganchos afetivos” promotores de resiliência. Isto porque os entrevistados atribuíram maior relevância ao tempo que permaneceram com determinados cuidadores, sendo, em muitos casos, duas ou três pessoas, e não apenas uma a funcionar como referência, pelo que não se centram apenas numa figura. Nesta perspetiva integram-se como referências os cuidadores que receberam as c/j no LIJ e permaneceram estáveis nas respostas sociais, o que contribuiu para a apropriação de sentimentos de segurança e de bem-estar por parte dos indivíduos enquanto permaneceram em acolhimento, facilitando, naturalmente a transição para fora dos cuidados institucionais e para a vida adulta. Talvez mais do que a influência dos cuidadores em si, foi a assimilação das regras de organização pessoal e de convivialidade que permitiram aos indivíduos vir a integrar-se posteriormente. Sem prejuízo de alguns (poucos) indivíduos terem referido que possuíam uma relação particularmente boa com um cuidador em especial, 144
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consideramos que a integração social, em fase de pós acolhimento, se deve a uma apropriação de princípios, valores e regras transmitido pelo corpo educativo mais do que por indivíduos com funções educativas de referência, hipoteticamente, ou “desejavelmente”, com uma maior proximidade de determinadas c/j em particular. Vários inquiridos podem ser considerados particularmente resilientes e empreendedores, uma vez que tendo um passado marcado por acentuadas desvantagens sociais antes de serem acolhidos, à semelhança dos restantes sujeitos entrevistados, e apesar das dificuldades experienciadas no percurso institucional, encontram-se a investir em si próprios, conjugando trabalho e formação académica, como forma de colmatarem as dificuldades a que estavam votados. Estes indivíduos são trabalhadores estudantes e encontram-se determinados em construir o seu próprio sucesso destronando as adversidades numa fuga para um futuro melhor. Por fim temos a quarta e última hipótese: as relações significativas (familiares e/ou outras), mantidas no exterior da instituição, durante o acolhimento, favorecem a integração social posterior, a mesma confirma-se uma vez que, durante o tempo em que esteve institucionalizado, um largo número de indivíduos manteve contactos com as suas famílias de origem (nuclear; alargada; compósita) periodicamente em alturas previamente determinadas, tais como fins de semana (semanal ou quinzenalmente) e férias escolares. Genericamente, também podiam ser visitados pelos familiares no LIJ, embora isso não acontecesse com um número significativo de entrevistados. O assunto “família” era abordado pelos cuidadores com os indivíduos, muito no sentido da manutenção e do estreitamento das relações familiares, embora uma margem residual de inquiridos tenha referido exatamente o contrário, ou seja, era encorajado a não seguir os comportamentos de familiares que se encontravam em situação de desvio. Na saída do acolhimento (LIJ/RAIA), muitos foram viver com as famílias de onde eram provenientes mas nem todos por opção pessoal, sendo, antes, por falta de alternativa residencial, tendo feito, posteriormente, outras transições habitacionais que se prenderam com escolhas individuais. Entendemos que o facto dos jovens adultos não regressarem às famílias de onde originavam antes de serem acolhidos, ou de concretizarem transições habitacionais em fase posterior, não significa, por si só, desintegração social desde que 145
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outros aspetos se verifiquem tais como a integração em atividades ocupacionais (escola; emprego) e a existência de uma habitação com carácter fixo. Nesta linha de investigação, concluímos cinco aspetos que consideramos relevantes: a)
Embora “pesadas”, as problemáticas vivenciadas em meio natural de
vida, antes do acolhimento institucional, não impediram a integração social posterior da maioria porque os indivíduos demonstraram resiliência. Porém, refira-se o caso específico dos indivíduos que sofreram maus-tratos na medida em que apresentam uma maior propensão para a desintegração social pós-institucionalização; b)
Apesar das experiências negativas pelas quais os indivíduos passaram
em antes de serem acolhidos, o acolhimento teve um papel preponderante na estruturação pessoal e social dos indivíduos, pelo que contribuiu para a sua integração social, porque adquiriram regras, instrução, valores e autodeterminação; c)
A manutenção dos laços familiares durante o período de acolhimento
possibilitou a integração social na fase de pós-institucionalização porque, em muitos casos, a família foi um suporte necessário e, mais ou menos presente, no enquadramento dos indivíduos nesta fase de vulnerabilidade; d)
Não se verificou a existência de relações de mentoring que, por si,
fossem promotoras de processos positivos de integração social dado que não foram relatadas experiências de relações de referência de um para um. Por outro lado, verificou-se que a continuidade e a qualidade das relações que os indivíduos estabeleceram com as equipas educativas, enquanto grupo de adultos cuidadores, são importantes, a par com a estabilidade no acolhimento, para o processo de integração social, dado que permitem segurança e bem-estar na maior parte dos casos; são, por isso, formativas e integradoras. e)
A integração social é visível relativamente a grande parte da amostra,
dado que os indivíduos se encontram a trabalhar, a estudar ou a acumular as duas atividades. Podem encontrar-se a viver com a família de origem, alargada, reconstruída, construída ou compósita ou com amigos, mas não se verificam casos de desabrigo nem de indigência. Entre os indivíduos que não preenchem os indicadores de integração escolar, essencialmente a nível ocupacional, também não se verificam situações degradantes mas, antes, concluímos que nestes casos se deveria ter prestado apoio 146
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institucional mais dilatado no tempo, no sentido da existência de um “porto de abrigo” a que os jovens soubessem que podiam recorrer em caso de necessidade. Verifica-se que os apoios prestados são demasiados estanques no tempo e não permitem um movimento de interdependência que, por si, possa ser securizante e permitir algum amparo biopsicossocial. A institucionalização de c/j em risco/perigo ocorre no âmbito das políticas sociais de proteção à infância e juventude, deliberadas pelo Estado português e, como tal, tratam-se de políticas públicas. Concluímos, sublinhando uma afirmação de Torres e Marques Lito (2008): “ (…), o contexto social marca a trajetória individual. Quantos mais recursos económicos, sociais e culturais possuir o indivíduo, maiores serão as suas possibilidades de recuperação (…) ” (p. 43), na medida em que os que singram não são, necessariamente, os mais fortes, mas os que demonstram ter maior capacidade de adaptação às suas circunstâncias adversas de vida e conseguem tornear as dificuldades. É essa, também, a função da política social: criar as condições de sucesso para os que têm, inicialmente, desvantagens sociais, proporcionando-lhes os instrumentos para inverterem o rumo das suas trajetórias de vida e promover a integração social.
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PAPEL DEL DEPORTE EN UN GOLPE DE ESTADO “SUAVE”, EN LA GLOBALIZACIÒN.: MUNDIAL Y JO EN BRASIL 2016. ¿OTRO DEPORTE ES POSIBLE? Eloy Altuve Mejìa
El Partido de los Trabajadores (PT) llegó al poder electoral en 2003 con Lula Da Silva y se mantuvo hasta la destitución por el Congreso de la Presidenta Dilma Rousseff1 en agosto 2016, con el denominado golpe “suave o blando” 2. Por ser vital para el futuro de América Latina “Entender qué ha pasado en Brasil” (Gentili, 2016: 14), inmediatamente resumimos la respuesta de autores participantes en el libro Golpe en Brasil: Genealogía de una farsa, elaborado en pleno desarrollo del proceso de destitución y editado por el Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales (CLACSO):
Perry Anderson (21-04-2016): Dilma ganó la presidencia en 2010 con una mayoría aplastante y durante la primera mitad disfrutó de una aprobación de 75%. En 2014 fue reelecta con ventaja de 3%. En enero 2015 comenzó su segunda presidencia y “En 3 meses, grandes manifestaciones llenaron las calles de las principales ciudades…, con cerca de por lo menos dos millones de personas que exigían su salida. En el Congreso, el PSDB…y sus aliados...se movieron para conseguir su impeachment. El 1º de Mayo no consiguió ni siquiera dar su discurso…transmitido por la televisión…cuando su discurso, en el Día Internacional de la Mujer, fue transmitido, la gente comenzó a batir sus cacerolas y a tocar los cláxones” (Gentili, 2006: 36).
Universidad del Zulia. Maracaibo-Venezuela
1
En 2016 los diputados la acusan de corrupción y promueven su juicio político suspendiéndola por 180 días, luego el Senado la destituyó por “supuestos crímenes de responsabilidad” y eventos que tuvieron lugar en gobiernos anteriores. Previamente, el exagente de la CIA Edward Snowden, denunció que la Agencia de Seguridad Nacional de EEUU espiaba las comunicaciones de Dilma (Últimas Noticias, 18-0916: 13). 2 El antecedente es Paraguay 2012, donde el Senado realizó un juicio político “express” al Presidente Fernando Lugo, destituyéndolo al responsabilizarlo de los enfrentamientos entre campesinos y policías ocurridos en Curuguaty con saldo de 17 muertos. En 2009, EEUU estuvo detrás del golpe “semisuave” en Honduras, a su base militar (lo confesó después) de Palmarola los militares trasladaron al Presidente Manuel Zelaya que habían depuesto, secuestrado y lo expulsan del país; posteriormente, el Congreso lo acusó de “violar la Constitución” y levanta un juicio que concluye en su destitución (Últimas Noticias, 1809-16: 13).
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¿Cómo pudo pasar esto? Aunque ocultas, las raíces de esa debacle están en la base del propio modelo de crecimiento del Partido de los Trabajadores (PT), cuyo éxito dependía de “aumento en los precios de las materias primas y un boom del consumo doméstico. Entre 2005 y 2011, las ganancias comerciales…aumentaron más de un tercio, pues la demanda de…China y de otras partes del mundo aumentó el valor de las principales exportaciones, así como el volumen de retorno fiscal para gastos sociales. A finales del segundo mandato de Lula,…la exportación de bienes primarios subió de 28% a 41%, mientras que la de bienes manufacturados cayó de 55% a 44%; a finales del primer mandato de Dilma, las materias primas eran responsables de más de la mitad del valor de las exportaciones. Pero de 2011 en adelante, los precios de las principales mercancías comercializadas entraron en colapso: la mena de hierro cayó de 180 a 55 US$ la tonelada, la soja…de 40 a 18 US$, el petróleo crudo cayó de 140 a 50 US$ el barril. Y…el consumo doméstico también entró en declive... La principal estrategia del PT fue expandir la demanda interna al aumentar el poder de compra de las clases populares. Y eso fue posible no sólo con el aumento del salario mínimo y con transferencias de renta para los pobres -o Bolsa Familia- sino también con una masiva inyección de crédito a los consumidores. Durante la década de 2005 a 2015, el total de débitos controlados por el sector privado aumentó de 43% al 93% del PIB, con préstamos a los consumidores…Cuando Dilma fue reelegida en 2014, los pagos de intereses en el crédito mobiliario estaban absorbiendo más de 1/5 de la renta media disponible de los brasileños. Junto con el agotamiento del boom de las materias primas, la época del consumismo tampoco era viable” (Gentili, 2006: 38).
Dilma aguanta el temporal que se le viene encima desde 2012 cuando la economía se “desaceleró, pasando de un crecimiento…de 2,72% en 2011 a…1% en 2012. Además, con una inflación que ya rebasaba el 6%, en abril 2013, el Banco Central aumentó los intereses de forma abrupta...Dos meses después, el país afrontó una ola de protestas…cuyo origen estaba en los precios de los billetes de los autobuses en São Paulo y Río,… rápidamente aumentaron su dimensión haciéndose expresiones generalizadas de descontento con los servicios públicos y, estimulados por los medios de comunicación, también de hostilidad contra un Estado incompetente…la aprobación del gobierno cayó a la mitad. En respuesta, éste…inició…reducciones preventivas en los gastos públicos y permitiendo que los intereses aumentaran nuevamente. El crecimiento cayó aún más -sería prácticamente cero en 2014- pero el desempleo y los salarios permanecieron estables” (Gentili, 2006: 36-37).
Y con una campaña desafiante triunfa en 2014. Planteó la necesidad de un poco de austeridad y designa Ministro de Hacienda a un alto ejecutivo del segundo mayor banco privado con el mandato de
reducir la inflación y restaurar la confianza,
convirtiéndose en “imperativos recortar los gastos sociales, reducir el crédito de los bancos públicos, subastar propiedades del Estado y aumentar tasas para llevar el presupuesto…a…superávit primario…el Banco Central aumentó su tipo de interés a 14,25%. Y ya que la economía se encontraba estancada, el efecto…fue…una recesión: caída en las inversiones, disminución de los salarios y duplicación del desempleo. Mientras el PIB se contraía, los ingresos fiscales disminuían, empeorando aún más el cuadro de déficit y deuda pública…Pero la crisis de la popularidad…no fue resultado sólo del impacto de la recesión en las condiciones de vida del pueblo. También fue…el precio a pagar por haber abdicado de las promesas en base a las cuales fue elegida. De forma generalizada, la reacción de sus electores fue que… ella engañó a los que la apoyaron al cumplir el programa de sus adversarios de campaña. Y eso no generó sólo desilusión, sino también rabia” (Gentili, 2006: 37-38).
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El objetivo de la nueva matriz económica fue estimular la economía a partir de un aumento en las inversiones. Pero los medios para hacerlo habían disminuido. Y las medidas tomadas tuvieron como efecto contribuir a ampliar el frente político y social contra Dilma: “Desde 2006, los bancos estatales pasaron a aumentar…su cantidad de préstamos,…la cartera del Banco de Desarrollo del gobierno llegó a aumentar en 7 veces su valor desde 2007. Al ofertar tipos preferenciales de intereses para las grandes compañías en un valor mucho más alto del de los subsidios para las familias pobres, la Bolsa Empresarial pasó a costar al tesoro nacional el doble de lo que costaba la Bolsa Familia. Favorable al agronegocio y a las constructoras, esa expansión directa de las financiaciones públicas fue un anatema por el cual la clase media urbana pasó a adherirse a un movimiento cada vez más violento anti-PT, con los medios de comunicación…haciendo admonición de los peligros del estatismo…Se esperaba impulsar las inversiones del sector privado con concesiones tributarias e intereses más bajos, pero eso impactó en la reducción de las inversiones en las infraestructuras públicas, así como la devaluación del Real ayudó en las exportaciones manufactureras…Con la esperanza de que eso trajera al sector industrial para su lado, el gobierno se enfrentó a los bancos al forzarlos a aceptar retroceder al…2% de los intereses a finales de 2012. … Los dueños de las industrias quedaron felices en coger los frutos de altos rendimientos durante el periodo de crecimiento elevado del gobierno Lula,…Pero cuando eso terminó durante Dilma…las huelgas recomenzaron, no tuvieron…compasión por quien los hubo favorecido anteriormente. Y no sólo las grandes empresas, así como sus compañeras del Norte global, se encontraban cada vez más en holdings financieros que se veían afectados negativamente debido a las políticas rentistas -y, por esa razón, no podían dar la espalda totalmente a los bancos y fondos de inversión-, pero el propio grupo social al que pertenece la mayor parte de los empresarios está formado por una clase media alta que se había hecho más numerosa y politizada que los antiguos grupos de empresarios, manifestando así mayor capacidad de comunicación y cohesión ideológica ante la sociedad…La furiosa hostilidad de ese estrato contra el PT fue, inevitablemente, seguida también por el sector industrial. Tanto los banqueros del piso de arriba como los profesionales del piso de abajo estaban comprometidos en derribar un régimen que ahora veían como una amenaza a sus intereses comunes, lo que significó que los empresarios tenían cada vez menos autonomía” (Gentili, 2006: 38-39).
Contra ese frente, ¿qué tipo de apoyo podría esperar el Partido de los Trabajadores (PT)? “Los sindicatos…eran una sombra de su pasado. Los pobres siguieron siendo beneficiarios pasivos del gobierno que nunca se dispuso a formarlos u organizarlos, cuanto más movilizarlos en torno a una fuerza colectiva. Los movimientos sociales - Sin tierra y Sin techo- fueron mantenidos apartados del gobierno. Los intelectuales acabaron siendo marginados…Tampoco existió una verdadera política de redistribución de la riqueza o de la renta: se mantuvo la…estructura tributaria regresiva legada de Cardoso para Lula...Con la Bolsa Familia tomando forma de propina para madres de hijos en edad escolar…Los aumentos en el salario mínimo significaron también un aumento en el número de trabajadores con cartera firmada, lo que les garantizaría acceso a los derechos formales del empleo; pero esto no incrementó…la sindicalización. Por encima de todo, con la llegada del crédito consignado los préstamos bancarios con intereses altos deducidos directamente de los salarios- el consumo privado creció sin limitaciones y a costa de los gastos en los servicios públicos, cuyas mejorías habrían sido una forma más cara de estimular la economía. Se estimuló la compraventa de aparatos electrónicos, bienes de consumo y vehículos (recibió incentivos fiscales), mientras se desatendieron los cortes de agua, pavimentación, autobuses eficientes, saneamiento básico aceptable, escuelas decentes y hospitales públicos. Los bienes colectivos no tenían prioridad ni ideológica ni práctica. Por tanto, junto con la tan necesaria mejoría en las condiciones de vida doméstica, el consumismo, en su peor forma, se esparció en las capas populares a través de una jerarquía social en que la clase media se deslumbraba, siguiendo patrones internacionales… Cuán perjudicial fue eso para el PT puede observarse a través de la cuestión de la vivienda…En ella, la burbuja del consumo se transformó cada vez más en una dramática burbuja inmobiliaria, en la que contratistas y empresas de construcción hicieron grandes fortunas, mientras el 153
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precio de los inmuebles se disparó para la mayoría de las personas que vivían en las grandes ciudades y cerca de la décima parte de la población no tenía acceso a viviendas en condiciones. De 2005 a 2014, el crédito para la especulación inmobiliaria y construcción civil aumentó 20 veces; en São Paulo y en Río de Janeiro los precios por metro cuadrado se cuadriplicaron. Solamente en el 2010, los alquileres en São Paulo aumentaron 146%. Y en ese mismo periodo, había cerca de 6 millones de pisos desocupados, con 7 millones de familias sin techo. Y en vez de aumentar la oferta de casas populares, el gobierno financió a las de la construcción privada -con un espléndido beneficio- de urbanizaciones en áreas periféricas, cobrando alquileres más caros de lo que los más pobres pueden pagar, a la vez que apoyaba a las autoridades locales en los desalojos de ocupaciones. Ante eso, los movimientos sociales ganaron aliento…ahora son una de las principales fuerzas de Brasil: esos movimientos no están dentro sino contra el PT” (Gentili, 2006: 40-41).
En conclusión, sin contar con una suficiente fuerza popular capaz de lidiar con la “presión de las élites…Dilma cambió el rumbo seguramente para -después de su apretada reelección, al batirse en retirada económicamente, con una política inicial de apretar los cinturones semejante a la que Lula hizo en sus primeros años…- poder entonces, reproducir el mismo tipo de viraje. Pero las condiciones externas impidieron cualquier comparación posible. El baile de las materias primas se acabó y una recuperación, sea cuando sea, parece no tener sustentación” (Gentili, 2006: 41).
Frei Betto (13-05-16): “Si el PT hubiera valorado…a las dirigencias populares de izquierda, hoy tendríamos un Congreso progresista… Pero prefirió realizar alianzas no confiables” (Gentili, 2016: 90). Michael Löwy (17-05-16): “Podemos reprochar muchas cosas a Dilma: no ha respetado sus promesas electorales y ha realizado numerosas concesiones a los banqueros, industriales y latifundistas. Desde hace un año, la izquierda política y social no ha dejado de reclamar un cambio en las políticas económicas y sociales. Pero la divina oligarquía de derechas…quiere todo el poder completo” (Gentili, 2016: 96). Immanuel Wallerstein (21-05-2016): El gobierno del PT fue una mezcla que socorrió a “los estratos más pobres.., asumió el liderazgo en la creación de estructuras autónomas latinoamericanas…Por otra parte, las políticas macroeconómicas permanecieron…ortodoxas desde el punto de vista…neoliberal…Y las…promesas del PT relativas a la prevención de la destrucción ambiental nunca se implementaron…El PT tampoco llevó a cabo sus promesas de…reforma agraria…El resultado es que la deserción de grupos dentro del partido y en las más amplias alianzas políticas fue constante” (Gentili, 2006: 116-117).
Leonardo Boff (23 y 25-05- 2016): El reciente logro de la clase adinerada fue inclinar la “orientación de la política de los gobiernos de Lula-Dilma hacia sus intereses…Con el pretexto de asegurar la gobernabilidad y de evitar el caos sistémico…consiguió…mantener inalterable la lógica acumuladora del capital…Los proyectos sociales…no la obligaban a renunciar a nada,…eran adecuados para sus propósitos...Los más críticos se dieron cuenta de que este camino era demasiado irracional e inhumano para prolongarlo. Fue aquí donde se instaló una falla entre los movimientos sociales y el gobierno Lula-Dilma”. Se esperó el momento adecuado para promover abiertamente la anti-revolución articulándose una derecha “aliada de los bancos y el sistema financiero, inversores nacionales e internacionales, prensa empresarial hostil, partidos conservadores, sectores del poder judicial, el FP y
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MP sin excluir la influencia de la política exterior norteamericana…, FIESP, MP, Policía Federal y la justicia.” (Gentili, 2006: 119-121/124-125)
Pablo Gentili (20-06-2016): Dilma Rousseff consolidó y amplió las reformas sociales de “los dos primeros gobiernos del PT…Después del estrecho resultado electoral que le dio la victoria en octubre de 2014, el gobierno se transformó en el abanderado de una mayor disciplina fiscal, abandonó los mecanismos participativos y consultivos de la política pública creados durante la gestión de Lula…Y quizás el principal error que hayamos cometido en la izquierda brasileña y latinoamericana… ha sido no ponernos al frente…del combate a la corrupción” (Gentili, 2016: 85/81-82).
En el libro revisado, el Mundial de Fútbol 2014 y los Juegos Olímpicos (JO) 2016 apenas son mencionados una vez, por Dilma Rouseff en entrevista del 19-05-2016: “Glenn Greenwald: hay mucha gente ahora que sale a las calles para protestar en su defensa, en defensa de la democracia y están muy preocupados porque pueden ser encuadrados dentro de la Ley Antiterrorismo, que, hace dos meses, usted aprobó. Cuando entrevisté al ex presidente Lula el mes pasado, él dijo que está en contra de esta ley porque da poderes innecesarios y peligrosos a los gobiernos, pudiendo generar abusos. Ahora estos poderes están en manos de otro presidente. ¿Usted piensa que fue un error aprobar esta ley? Dilma Rouseff: No, no creo, ¿sabes por qué? Porque todos los elementos que permitirían este uso, yo los veté. Esta ley, que fue aprobada en el Congreso, se refiere a los Juegos Olímpicos (JO)” (Gentili, 2016: 183).
Esta omisión del papel desempeñado por el Mundial 2014 y los JO 2016, es extensiva a la gran mayoría de los diversos análisis sobre la crisis política brasileña, a pesar de que:
1) El gobierno de Lula promovió-financió a Brasil como sede de ambos espectáculos (los más importantes económica y mediáticamente y únicos que captan la atención mundial simultáneamente) e inició los preparativos para efectuarlos, continuados por Dilma. 2) La inversión pública total fue de -al menos- 19.225 millones US$. 3) Las inéditas, insólitas y multitudinarias manifestaciones producidas contra el Mundial en 2013, antesala de la estrecha reelección de Dilma en octubre 2014. 4) La suspensión de Dilma se produce 2 años después del Mundial, los JO tuvo que inaugurarlos el Presidente provisional por estar suspendida y fue destituida inmediatamente después de los JO.
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Quitian es una excepción, ubica el contexto en el que Brasil es sede del Mundial y JO: “Lula da Silva…desempeñó un papel de liderazgo ampliado a esferas extracontinentales. Supo mixturar la fortaleza macroeconómica con la mejora del bienestar social…En esos tiempos de bonanza política y fortaleza del Real,…Brasil concursó y ganó los dos mayores eventos de la contemporaneidad…se atrevía …a realizar…los dos… en un lapso de dos años y con agregados notorios: en 2014 se ampliaron de 10 a 12 las ciudades sede de la Copa…Tenía también un mensaje interno: la izquierda en general y el PT en particular demostraban…: …ser reconocidos por todos los organismos multilaterales -especialmente los económicos- como actores destacados y en algunos casos como pares en la élite del gobierno mundial” (Quitian, 2016).
Para precisar que los 2 eventos jugaron un papel destacado en la crisis política: “La primera alerta fue antes del Mundial: millones de personas manifestándose. Es interesante apreciar las diferencias entre esas multitudinarias marchas y las recientes que buscaban la salida de Dilma o su permanencia: las primeras, en el marco de la Copa de las Confederaciones, no reconocían ningún liderazgo, tenían un amplísimo pliego reivindicatorio (inclusión para minorías, más y mejor salud y educación, etc.) y contaban con la presencia afrobrasilera; mientras que las protestas del último tiempo, especialmente las pro-salida de Dilma, tuvieron un marcado acento de coalición partidista de derecha y no tenían negros. Otro elemento no menor es el pretexto de esas manifestaciones: el fútbol…fue un operador del descontento. Los excesos de la FIFA desataron la indignación popular… Una conclusión que merece mayores desarrollos es que el éxito relativo de los gobiernos de Lula y Dilma produjeron la posibilidad de esas manifestaciones: basta ver cómo el grueso de quienes protestaban eran de clase media (la misma que engrosó Lula sacando gente de la pobreza), con presencia masiva de población afro (grupo particularmente beneficiado por las políticas del gobierno del PT) y activismo movilizador del estamento académico que…nunca antes tuvieron un momento tan feliz en…financiación e infraestructura como en los tiempos de Lula. Exacerbada expresión popular que puso de acuerdo a la élite política que, pese a sus diferencias, legisló en tiempo récord ajustes a la tarifa de transporte (el detonante) y destinación exclusiva de beneficios petroleros a la salud y educación...: en las protestas de 2013 hubo dos conquistas nacionales… Para nadie es un secreto que la Copa fue politizada, al punto que varias sedes (como Sao Paulo, bastión del partido líder del impeachment, el PSDB) retrasaron las obras para enturbiar esa imagen positiva ganada... la Copa salió tan bien en lo organizativo y económico que dejó sin argumentos a la oposición y el oprobioso desempeño deportivo eliminó cualquier propaganda oficial. …llegan los JO que replicaron las protestas del Mundial, aunque en menor escala y con un espectro…circunscrito a Rio de Janeiro. Protestas que comprobaron sus demandas con la declaración oficial de quiebra del estado carioca expresado en atrasos en los salarios de empleados públicos y mesadas a los pensionados y cierre de hospitales, escuelas y universidades. Todo -o casi todo- por culpa de los Juegos, que son calificados por sectores sociales como Juegos de la exclusión…Juegos que…se volvieron contra sus proponentes …en parte por los vaivenes de la economía internacional,… por yerros en su administración, por la corrupción…y por el descrédito público de la gestión -magnificada como crisis por el aparato mediático hegemónico afín a la coalición progolpe- que minó la gobernabilidad. También, digámoslo claro, por los faraónicos gastos desde tiempos de la Copa” (Quitian, 2016).
En este trabajo se pretende presentar algunas hipótesis sobre el papel desempeñado por el Mundial de Fútbol 2014 y los JO 2016 en la crisis política de Brasil y explicar las razones de su ausencia en la mayoría de los análisis realizados.
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I.- DEPORTE EN LA GLOBALIZACIÓN: EMPRESA TRANSNACIONAL ATÍPICA DE ESPECTÁCULO Y ENTRETENIMIENTO (EDTEE)3
1.- Génesis y consolidación de la EDTEE La génesis (1968-1981) de la EDTEE es el resultado de la articulación de tres procesos: 1) Creación por ADIDAS de la empresa de marketing deportivo, Inter-Fútbol, como resultado de la síntesis de experiencias previas de patrocinio: promoción de artículos por deportistas-competidores, árbitros y jueces; empresas artesanales; Coca-Cola patrocinante de los Juegos Olímpicos (JO) desde 1928; y la TV como medio de difusión de los JO y financista de
los JO y Mundial de Fútbol. Inter-Fútbol logró el
primer programa de comercialización acordado entre Coca-Cola y FIFA el 13-05-1976. 2) Con el apoyo de ADIDAS, la designación de Joao Havelange, Presidente en 1974 de la FIFA y de Juan Antonio Samaranch, Presidente del Comité Olímpico Internacional (COI) en 1980, significa el ascenso al poder en la Organización Deportiva Mundial (ODM) de dirigentes partidarios de la comercialización asociados con empresas transnacionales. 3) La nueva dirigencia comienza la profesionalización del deportistacompetidor: en el Congreso del COI 1981 la regla 26 de la Carta Olímpica que lo definía como dedicado “a la práctica del deporte por gusto y por diversión, sin esperar ningún beneficio material”, se sustituyó por “debe observar y respetar las reglas del COI y de las federaciones internacionales”. La consolidación de la EDTEE (1982-2016) se produce cuando: 1) ADIDAS crea -en 1982- la moderna empresa de marketing (International Sport Leisure o ISL) y en 1985
se
concentra el patrocinio deportivo en ISL con la
centralización de la comercialización de los Juegos Olímpicos (JO)
en el COI,
consolidada en 1988 con la incorporación de EEUU al Programa de Comercialización Centralizada de los JO. 2) Se profesionaliza el deportista-competidor, en un proceso que va desde la eliminación de las palabras amateur y profesional de la Carta Olímpica en 1986 hasta la actual Serie Mundial de Boxeo y Boxeo Profesional de la Asociación
3
Altuve, 2016: 9-13/17-23. 157
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Internacional de Boxeo Aficionado y participación de boxeadores profesionales en los JO Brasil 2016. En conclusión, la globalización del deporte es su proceso de conversión en empresa que funciona con la lógica, dinámica, orientación, características, conductas y valores de cualquier transnacional. En ese sentido: 1) Su objetivo fundamental es producir un espectáculo crecientemente rentable, cotidiano y masivo. 2) Ha incorporado a su funcionamiento ordinario -como condición intrínseca a su naturaleza, estructuraldesde su gestación, a: la trampa y la trampa legal, definida como “Acto ilícito que se cubre con apariencias de legalidad” (Real Academia Española, RAE, 2014), cuyos principales exponentes son el “lobby” y el doping; individuales o combinadas las trampas significan soborno, corrupción, chantaje, delitos de distinto tipo y alcance 4. 3) Pregona y practica sistemáticamente la caridad y beneficencia social interesada5. Su atipicidad viene dada porque su influencia es mundial, está presente en todos los países, ostenta el monopolio total de la producción del espectáculo al no existir 2 versiones del mismo evento simultáneamente y está constituida por unidades 4
El senador de EEUU Richard Blumenthal, de la Comisión encargada de investigar la corrupción en la FIFA 2015, declaró “que al mando de este deporte existe una organización criminal al estilo de la Mafia” (Velázquez-Gaztelu: 22-04-16). Precisamos nosotros, es mucho más extensa, amplia y compleja, se trata de la mafia deportiva “globalizada o postmoderna” que surge de la conversión del deporte en EDTEE; además de la FIFA, han incurrido en acciones delictivas sistemáticas y reiteradas: los Clubes Profesionales evadiendo impuestos, firmando ilegalmente menores de edad…etc.; el Grupo Fórmula Uno realiza la gestión empresarial de la F1 en paraísos fiscales; deportistas-competidores famosos son evasores fiscales; Amaury Sport Organization organiza el rally de Dakar que devasta el medio ambiente, etc… (Altuve, 2016: 14-17). 5 “FIFA: Su deteriorada imagen pública, pretende mejorarla invirtiendo 100 millones US$ de las ganancias del Mundial 2014 en desarrollo de infraestructura futbolística, programas sociales y sanitarios para comunidades desfavorecidas y asignó 900 millones US$ del presupuesto 2015-2018 para obras sociales; la FIFA le donó más de 20 millones US$ a Interpol. Amaury Sport Organisation: Preserva y amplía su mercado (fanáticos) del Tours de Francia y de -manera indirecta- del resto de sus eventos que organiza (en 2010 fueron 21), con el patrocinio -en 2014- de 8 programas sociales. Real Madrid: Su Fundación con programas sociales en 67 países y ser Embajador UNICEF en 2008-2009, es parte del modelo de gestión para convertir a sus fanáticos en clientes. Michael Schumacher, Piloto de la F1: Sus donaciones (más de 10 millones US$ en la India a la causa del tsunami y entre 5-10 millones US$, en 2008, a la fundación de Bill Clinton) le permitieron reducir sus impuestos”. Llama la atención la unión del deporte con la iglesia católica: destaca su cercanía con el OPUS DEI, Juan Antonio Samaranch, Presidente del COI en 1980-2001 era miembro del OPUS; la CONMEBOL (FIFA de América del Sur) donará 10 mil US$ por cada gol convertido o penal atajado durante las Copas América 2015, 2016, 2019, 2023 y 2027, a la institución Schollas Ocurrentes promovida por el Papa Francisco (Altuve, 2016: 17; Garrido: 22-0416).
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económicas independientes e interdependientes, de las cuales las más poderosas son empresas transnacionales. 2.- Componentes de la EDTEE 2.1.- Unidades de organización-gestión 1) Organización Deportiva Mundial (ODM), principal gobierno del deporte: Organiza el espectáculo de equipos de países. Sus principales eventos -cada 4 años- son los Juegos Olímpicos (JO) y el Mundial de Fútbol, organizados por el Comité Olímpico Internacional
(COI)
y
la
FIFA,
respectivamente.
2)
Clubes
Transnacionales avalados por la ODM: Organizan anualmente
Profesionales la parte del
espectáculo donde concurren delegaciones de competidores que representan a equipos de países si el evento es internacional o provenientes de ciudades si es nacional. Cuenta con el aval de la ODM, que lo dota de legalidad, autoriza el cuerpo de árbitros y jueces y percibe algún tipo de ingreso. Avalada por las Federaciones Nacionales y Federación de Fútbol de Europa, la Liga de Clubes europea es la más importante mundialmente. “En 2001, el Manchester United de Inglaterra era el club más costoso (1.400 millones US$) y fue el primero en cotizar en Bolsa. En España a fines del siglo XX, el fútbol aportaba 1% del PIB y, en 1999, en Italia era el duodécimo sector económico” (Altuve, 2002: 113/115-116). El total de los 20 clubes de fútbol con más ingresos, en 2008-2009, fue de 5.525,52 millones US$ y 18 (80%) pertenecían a Alemania, Italia, Francia e Inglaterra. El valor de los 10 clubes más costosos, en 2010, fue de 12.602,2 millones US$ (Inglaterra y España con el fútbol tenían 3 cuyo costo era el 31,76% y EEUU concentraba el 68,24% restante con 57,62%-6 de fútbol americano y 10,72%-1 de béisbol). El valor de las 10 marcas deportivas de clubes más valiosas, en 2010, fue de 2.072 millones US$ y se distribuyó en 48,91%-5 EEUU y 20%-2 Inglaterra, 20%-2 España y 10%-1 Alemania. El Real Madrid es modelo de Club Profesional Transnacional: en 2008-2009 tenía 11 patrocinadores y aplicaba un modelo de gestión que combina lo social y el marketing con el objetivo de potenciar la explotación de su marca, transformando a sus aficionados en clientes. 3) Empresas transnacionales avaladas por la ODM: Con la participación de clubes agrupados en la patronal AIGCP y avalado por la Unión de Ciclismo Internacional y la Federación Francesa de Ciclismo, el Tours de Francia es el tercer evento mundial, se realiza anualmente y es organizado 159
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por Amaury Sport Organisation o ASO (Grupo Philippe Amaury Publicaciones), que en 2010 organizó 21 eventos de 6 disciplinas deportivas. En 2009 su presupuesto fue 139 millones US$, financiado en
10% por las ciudades-etapa, 50% por derechos
audiovisuales pagados por Eurovisión, France 2, France 3 y Francia 4 y 40% por patrocinio de 32 empresas y la Asamblea de Departamentos y el Ministerio del Interior de Francia; se transmitió a 186 países, con 118 canales de TV, 4.300 personas trabajando en 650 medios de comunicación, 6.000.000 visitas en la web. 4) Empresas transnacionales independientes de la ODM: Avalado por la Federación Internacional de Automovilismo y con la participación de equipos de transnacionales, el principal evento -anual- es la Fórmula Uno (F1) organizado por el Grupo Fórmula Uno de Alpha Prema (propiedad de CVC Capital Partners) desde 2005 hasta septiembre 2016 cuando fue vendido a Liberty Media6. En 1979-2004 la F1 arrojó beneficios valuados en 3.600 millones US$, estimándose que en cada año (hasta 2004 y 2005) movilizó más de 2.000 millones US$. En 2004, por derechos de TV obtuvo
800 millones US$, y se
estimó que en 2006 facturaría 980 con una altísima rentabilidad y
alcanzaría
beneficios antes de impuestos de 501 millones US$. A partir de 2006 abandonó la publicidad de cigarrillos, nuevos patrocinadores se incorporaron y en 2007 movilizó 13,6 mil millones US$, tuvo 597 millones de teleespectadores, con 11.183 horas de retransmisión en 188 países de las cuales 5.169 horas (47%) fueron en vivo y directo. En 2010, los derechos de TV fueron vendidos a 67 países y los patrocinadores oficiales fueron el banco UBS, G.H. Mumm, DHL, LG Electronics, Inc y la aseguradora Allianz.
2.2.- Empresas transnacionales de bienes y servicios patrocinantes o “sponsors” Compran a los organizadores-gestores el derecho de usar los símbolos-logos de los eventos en la publicidad de sus productos y a los medios de comunicación los espacios para difundir su publicidad identificada con los símbolos y logos del espectáculo. 6
El 07-09-16 Liberty Media -empresa estadounidense de medios de comunicación: televisión por cable (Charter, etc.), teléfono (Liberty Global, etc.), radio satelital Sirius XM, etc.-, cuyo accionista mayoritario es John Malone, propietario del equipo de béisbol profesional Bravos de Atlanta de EEUU, adquirió la F1 por 4.400 millones US$: posee todas las acciones con derecho a voto al comprar 18,7% por 746 millones US$, completándose la compra en marzo 2017. CVC Capital Partners y otros vendedores mantendrán un 65%. El acuerdo incluyó calcular el valor de la F1 en unos 8.000 millones US$, incluyendo la deuda (Harris /AP:08-09-16) 160
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2.3.- Empresas transnacionales de medios de comunicación Difunden el espectáculo, compran los derechos de transmisión a los organizadores y venden los espacios a los patrocinantes. Además, desde fines de los 90 del siglo XX de manera creciente- vienen actuando simultáneamente como difusores y organizadores.
2.4.- Deportista-competidor Es un profesional cuyo trabajo es prepararse y competir, percibiendo remuneraciones
y beneficios.
Se clasifica según la labor que desempeña: 1)
Representa su país en competencias de la ODM y trabaja en Clubes Profesionales (fútbol, baloncesto, béisbol, etc.) o en eventos (ciclismo, atletismo, tenis, etc.) organizados por transnacionales. 2) Representa su país en competencias ODM y -con la mediación del Estado- labora en Clubes Profesionales o en eventos de transnacionales: caso de Cuba. 3) Miembro de equipos de transnacionales en competencias organizadas por otras transnacionales y avaladas por gobiernos del deporte distintos a la ODM: caso F1 (Altuve 2002: 92-111).
2.5.- Público-fanático-consumidor Es el destino del espectáculo, la base del funcionamiento de la empresa deportiva, cuyo objetivo fundamental es la conversión de todos los habitantes del planeta en fanáticos del deporte, espectadores que internalizan los mensajes publicitarios emitidos durante los eventos y consumidores compulsivos de bienes y servicios de las marcas difundidas.
3.- Desigualdad estructural o división internacional del deporte Entendida como la especialización de unos países en ganar y otros en perder, se configuró en lo competitivo como distribución regresiva de medallas-campeones cuando el deporte moderno comenzó a desarrollarse, haciéndose extensiva a los beneficios económicos cuando nace la EDTEE. Profundizándose y entrelazándose 161
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ambas en la medida que se acentúa la globalización y se consolida la EDTEE. Veamos las evidencias:
3.1.- Medallas-campeones En los Juegos Olímpicos (JO) 1996-2012: el 7,31% (15) de países (Grupo de los Nueve, Ucrania, Holanda, España, Australia, Corea del Sur y Cuba) obtuvieron 66,35% (3.053) medallas, mientras el 44,87% (92) no ganaron ninguna. Entre 1896-2000, de 9.452 medallas el Grupo de los Nueve obtuvo 70,2% (6.643) y los 17 países más ganadores fueron de Europa, EE.UU, Australia, Japón y China; América Latina y el Caribe obtuvo 7,23% (333), de las cuales Brasil ganó 1,49% (69). En los JO 2016: el 9,8% (20) de países obtuvieron 68,99% (672) de medallas, el 57,35% (117) no ganaron nada y el 32,84% (67) obtienen el 31% (302); el Grupo de los Nueve obtuvo 50,2% (489) de medallas; América Latina y el Caribe obtuvo 6,87% (67) de medallas, de las cuales Brasil ganó 1,95% (19). La división internacional de medallas-campeones no se invalida por la actuación de Argentina y Brasil en los Mundiales de Fútbol, quienes en los 12 realizados entre 19702014 han ocupado 11 (22,9%) de las 48 (100%) posiciones semifinalistas y campeones en 5 (41,6%) ediciones. Se explica porque ambos países son de los mayores exportadores de materia prima de calidad o jugadores (según la FIFA 20% del total en 2011. AFP, 2012) para los anuales campeonatos de fútbol de los Clubes de Europa, quienes a su vez son los principales proveedores de jugadores para las selecciones nacionales en los Mundiales de Fútbol: en el Brasil 2014, los clubes europeos aportaron 563 (76,4%) del total de jugadores, los de América 102 (13,8%) y los del resto de los continentes 71 (9,5%) (Cálculos propios basados en ECA: 07-08-2014). El Mundial es sustentado por los Clubes de Europa que le aportan jugadores para las selecciones nacionales y a la vez es el principal escenario donde se exhiben los jugadores que serán comprados por los clubes.
3.2.- Beneficios económicos Con excepciones que confirman la regla, la mayoría de los deportistas-competidores ganadores en los eventos mundiales y las transnacionales (organizadoras del 162
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espectáculo; artículos e implementos deportivos; bienes y servicios patrocinantes; y medios de comunicación) que se apropian del mayor
volumen de
beneficios
producidos por la EDTEE, provienen de EEUU, Canadá, Europa, Japón y China.
4.-Estado, ideología y EDTEE El Estado apoya la conversión del deporte en EDTEE y se convierte en uno de sus componentes fundamentales con funciones ejercidas a través de la política pública deportiva,
materializada
en
una
normativa
jurídico-legal,
una
estructura
administrativa-organizativa (ministerios, institutos, etc.) con programas-proyectospresupuesto. La política pública deportiva que està determinada estructuralmente por
la
dinámica de la EDTEE que se sintetiza en la distribución del poder concentrado mundialmente en: 1) Empresas transnacionales
organizadoras de 3
tipos de
espectáculo cuyos eventos principales son: Campeonatos Nacionales y Continentales de Fútbol de Europa y Nacionales de Béisbol (MLB) y Baloncesto de EEUU (NBA); Tours de Francia; y la F1. 2) Organización Deportiva Mundial (ODM): Principal gobierno del deporte, organiza un tipo de espectáculo encabezado por los JO y el Mundial de Fútbol y avala los Campeonatos de Fútbol de Europa, MLB y NBA de EEU y el Tours de Francia. 3) Empresas transnacionales de medios de
comunicación, de bienes y
servicios (patrocinantes o “sponsors”) y de artículos e implementos deportivos. 4) El Grupo de los Nueve y otros pocos Estados de donde proceden las transnacionales que forman parte de la EDTEE, suelen ser sede de los espectáculos importantes y se apropian de la mayor cantidad de medallas-campeones en los eventos principales. Participan protagónicamente en las decisiones del deporte, conducta que forma parte de su política pública identificada y al servicio de sus intereses y de sus empresas transnacionales, mientras la mayoría de los Estados sin o con poco poder en la EDTEE, simplemente adecúan su política deportiva a una dinámica mundial ajena a sus intereses. Las funciones principales del Estado7 en la EDTEE son:
7
Otras funciones del Estado son: 1) Adecuar la participación del país a la naturaleza organizativa del espectáculo: Cuando el organizador del espectáculo es la ODM, el Estado dispone, prepara y garantiza la 163
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4.1.- Producir y reproducir la ideología deportiva, incorporándola a su bagaje ideológico y legitimándose, convirtiendo al deporte en uno de sus aparatos ideológicos La ideología deportiva en la globalización se resume en la aceptación social unánime - con todo lo que implica en cuanto a ideas- de que el deporte es el fenómeno más completo y virtuoso de la humanidad, modelo ideal de convivencia, fraternidad, democracia, nacionalismo, fuente de consuelo, esperanza y resignación donde todos somos iguales y el tránsito a la felicidad no está tan lejos, se logrará en la medida que el resto de la sociedad se parezca cada vez más al deporte. La producción y reproducción de la ideología deportiva por el Estado a través de su política pública inserta en la dinámica de la EDTEE: 1) Ha sido fundamental para que el deporte logre: insertarse orgánico-institucional-geográfica y socialmente; formar parte de la cotidianidad y captar simultáneamente el interés mundial; ser atractivo y de fácil, inmediata y prolongada identificación por los espectadores; reforzar la percepción, valoración y asimilación de su carácter intrínsecamente positivo por la población. 2) Legítima al Estado, pasando a formar parte de su bagaje ideológico. Independientemente del resultado de la participación del país (ganar o perder) en los eventos, el Estado se legítima con el apoyo y promoción que hace al deporte a través de la política pública, operándose así el proceso de conversión del deporte en aparato ideológico. Obviamente, la legitimidad del Estado aumenta cuando el país obtiene
participación de su selección nacional. Si son Clubes Profesionales o Empresas Trasnacionales, apoya y contribuye con su éxito. 2) Intervención de instancias estatales no deportivas en la EDTEE para obtener mayor poder el Estado interventor y reforzar su legitimidad nacionalmente: En mayo 2015, la Fiscalía de EEUU hizo acusaciones de soborno y corrupción a dueños-ejecutivos de empresas y 9 dirigentes FIFA de América, quienes fueron detenidos en Suiza y extraditados, en 2016 la mayoría se declararon culpables de cargos menores, pagaron multas y/o se le confiscaron propiedades y recibieron sentencias leves. Más allá de razones legales y ético-morales ¿Por qué EEUU presenta el caso en el momento que se realiza la Asamblea Mundial FIFA donde se elegiría el Presidente, a pesar de que venía investigando desde 2011 con el informante exdirigente FIFA Chuck Blazer y había adelantado actuaciones judiciales importantes en 2013, 2014 y enero-abril 2015? ¿Por qué la Fiscalía menciona en el informe a NIKE, Citibank, JPMorgan Chase, Bank of America y Republic Bank y no los imputa, ni divulgó su participación? EEUU tiene poder en la EDTEE, enfrenta a la FIFA y su Presidente Joseph Blatter, pretendiendo tener mayor influencia en una FIFA que favorezca más sus intereses; contando con el apoyo de Coca-Cola, Visa, McDonald's y Budweiser, patrocinantes estadounidenses FIFA que asomaron su intención de retirarse si Blatter no renunciaba. Blatter se defendió y destacó que ADIDAS, Hyundai y Gazprom no se unieron a la petición de renuncia.
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triunfos -al ganar competencias y/u organizar eventos- que se identifican con la gestión estatal. 4.2.- Financiar, difundir la ideología deportiva, ejercer la violencia simbólica y física directa y crear las demás condiciones que garanticen el éxito del espectáculo deportivo cuando se realiza en su territorio: ser sede La parte operativa-instrumental de los grandes espectáculos deportivos mundiales, es responsabilidad de un Comité Organizador Nacional formado por el Estado sede, organizaciones privadas y la instancia nacional de la Organización Deportiva Mundial u ODM (en los JO es el Comité Olímpico Nacional y en el Mundial de Fútbol es la Federación de Fútbol Nacional). Que funciona articuladamente con la instancia internacional de la ODM, la cual es la máxima autoridad del evento, que en los JO es el Comité Olímpico Internacional (COI) y en el Mundial de Fútbol es la FIFA. En cuanto a su
financiamiento, ha sido trasladado al Estado, los grandes
espectáculos deportivos mundiales son el resultado de inversiones de carácter estatal usufructuadas principalmente por empresas transnacionales
y la Organización
Deportiva Mundial (ODM) o gobierno del deporte encabezada por la FIFA y el Comité Olímpico Internacional (COI), operando un proceso de transferencia de riqueza del sector público al privado. En septiembre 1995, el COI anunció que a partir de 2004 la parte de los derechos televisivos que se otorgaban a las ciudades-sedes olímpicas bajaría del 60% al 49%, es decir, se reducen los ingresos del Comité Organizador Nacional de los JO donde participa el Estado. Cuando el presupuesto de los JO Atlanta 1996 parecía especialmente desalentador, uno de los miembros prominentes del COI, Dick Pound, anunciò que “En el futuro nunca más concederemos
los juegos a una
ciudad que no cuente con un compromiso significativo del sector público” (Jennings 1996: 280/317); los Juegos Olímpicos (JO) Londres 2012 costaron
más de 17.500
millones US$ y el Estado financió 14.610 millones US$, el 83,48%. El Estado intensiva y extensivamente produce y reproduce la ideología deportiva destacando las ventajas y beneficios para el país ser sede de un evento mundial, garantizado con las inversiones que realiza en seguridad (dispositivos preventivosrepresivos, etc), infraestructura, servicios, logística, transporte, etc.. Y obtiene
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retribuciones a través de impuestos, por el impacto económico generado por el espectáculo, etc.
II.- PAPEL DEL MUNDIAL DE FÚTBOL 2014 Y LOS JUEGOS OLÍMPICOS (JO) 2016 EN EL GOLPE DE ESTADO “BLANDO O SUAVE” EN BRASIL8 En el marco de una bonanza económica y favorables condiciones políticas nacionales e internacionales, el Estado brasileño con poco poder en la empresa deportiva transnacional de espectáculo y entretenimiento (EDTEE), incorporó a su política pública deportiva la realización del Mundial de Fútbol 2014 y los JO 2016, controlados y manejados -respectivamente- por la FIFA y Internacional (COI), quienes se apropiaron
el Comité Olímpico
del mayor volumen de beneficios
económicos -que produjeron directa e indirectamente- junto a
las empresas
transnacionales de bienes y servicios patrocinantes o “sponsors”, de medios de comunicación y de artículos e implementos deportivos. Cuando la FIFA y el Comité Olímpico Internacional (COI) le asignaron las sedes, el gobierno tuvo el apoyo de la población porque el Estado difundió intensiva y extensivamente la ideología deportiva de la globalización: ser sede de los dos eventos que simbolizan la máxima convivencia, fraternidad, igualdad y democracia, apeló al orgullo nacional, mostró los eventos
como progreso y ratificación de la creciente
condición de potencia de la nación y destacó los amplios e innumerables beneficios que se producirían. Estos pilares ideológicos fueron desmoronándose al ser cotejados con la realidad: 1.- De la asignación de las sedes del Mundial y los Juegos Olímpicos (JO) en la cúspide de popularidad de Lula da Silva,
al fuerte debilitamiento de Dilma Rouseff
finalizando su primer gobierno en 2014, año en el que se realiza el Mundial y con una desafiante campaña es reelecta con una estrecha ventaja del 3% 1.1.- Con la Ley N.12.663 de octubre 2011 denominada Ley General de la Copa, el Estado otorgó privilegios9 fiscales, comerciales y amplias y diversas competencias a
8
Altuve, 2016: 20-23. 166
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la FIFA y sus Socios-patrocinantes Coca-Cola, ADIDAS, Sony, Visa, MC Surcoreana de Automóviles (Hyundai y Kia) y Fly Emirates
1) Brasil dejó de percibir 680 millones US$ por exonerarlos del pago de impuestos sobre sus beneficios y durante 4 años. 2) Concedió a los patrocinadores la exclusividad de presencias en estadios y sus alrededores, estableciéndose una zona de exclusión de 2 km. donde la FIFA se hizo cargo de la seguridad, vigilando la venta de productos, el uso de sus marcas y derechos de sus patrocinadores. 3) Derogó la prohibición de alcohol en los estadios -establecida en 2007- y permitió la comercialización exclusiva de la
cerveza Budweiser, patrocinante FIFA. 4) Contempló la creación de los
“tribunales de excepción" por la FIFA, para juzgar las sanciones económicas o penales por casos de piratería u otros usos ilícitos de marcas y productos vinculados con la FIFA y el Mundial. Las imposiciones de la FIFA comprendieron, además, la compra de 30 robots
por casi 3,5 millones US$, a utilizarse en
vigilancia, detección y
desactivación de explosivos y remodelar el estadio Maracaná expandiendo su zona VIP y albergar 74.000 personas.
1.2.- La esperanza e ilusión de
progreso y ventajas a crearse por el impacto
positivo en la economía a producirse por la inversión privada, se fue desvanecendo
En junio 2014,
el Ministro de Deportes de Brasil, Aldo Rebelo, dijo que la
participación total del Estado en obras públicas y privadas para el Mundial ascendió a 13 mil 750 millones US$; fuentes independientes indicaron que superaría los 14.500 millones US$, con 99% de inversión del Estado. Las autoridades brasileñas estimaron:
9
Estos privilegios para la FIFA le permiten -según sus Informes de Finanzas FIFA 2011 y 2014- que su ingreso: en 2007-2010 por derechos de TV y mercadotécnicos fue de 4.987 millones US$, de los cuales 3.520 (70,58%) provino del Mundial Sudáfrica 2010; en 2011-2014 fue de 5.718 millones US$, de los cuales 4.308 (75,34%) provino del Mundial Brasil 2014. Sus patrocinantes en el Mundial 2010 fueron Coca-Cola, Adidas, Sony, Visa, MC Surcoreana de Automóviles, Fly Emirates, Mc Donald’s, Ab-Inbev, Continental AG, Lubricantes Castrol, MTN, Satyam y Yingu Solar.
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1) En 2010, el impacto económico en 58.080 millones US$ y creación de 3.500.000 empleos. Según la Asociación de Vendedores Ambulantes más de 300.000 fueron afectados desde antes del Mundial al ser desalojados de lugares requeridos para la construcción de infraestructuras del evento y/o de los Juegos Olímpicos (JO) 2016, y en las ciudades donde se disputarían partidos no se expidieron nuevas licencias para la venta ambulante y las existentes fueron retiradas o no renovadas; otras fuentes consideraron que el empleo no superaría 300.000 plazas. Según cálculos del inglés Capital Economics, el aumento del consumo sólo sería entre un 0,1 y un 0,2% del PIB. La agencia de calificación de riesgos Moody’s advirtió unos meses antes del Mundial que tendría un impacto poco duradero. 2) En 2014, una inyección a la economía de 180 mil millones US$ en los próximos 3 años producto del “efecto rebote” de la inversión. Pero, -según Euroméricas Sport, empresa de marketing deportivo-existían motivos para ser moderado en sus cálculos de ganancias, que podrían convertirse en pérdidas, si se toma en cuenta que en los últimos cuatro años, Sudáfrica arrastra una deuda de 290 millones US$ por el no retorno de la inversión en los estadios que construyó para el Mundial 2010. 3) Como recuperación de la inversión, la posible utilidad social de las obras. Esto es casi inexistente y beneficia poco a los más pobres. Las reformas de los estadios de Brasilia, Cuiabá, Manaus y Natal, sólo los hará utilizables para el Mundial y JO 2016: unos con promedio de asistencia de 2.000 personas, quedan con capacidad de 70.000 y otros no se utilizarán jamás como el Arena da Amazonia en Manaos. Una inversión significativa fue la aeroportuaria, con un aporte importante de 1.320.000.000 US$ del capital privado, avanzando la privatización.
1.3.- Para el Mundial 2014 y JO 2016, en agosto 2011 se aprobó permitir al gobierno federal, estatal y municipal NO divulgar el presupuesto antes de la licitación de obras, ocasionando corrupción político-empresarial y más gastos estatales
Se puede ilustrar con los estadios, el costo del de Brasilia casi se triplicó y el Mané Garrincha tuvo -al menos- 275 millones US$ en exceso. Se construyeron 5 y se
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rehabilitaron 7 de los cuales 2 y parte de 1 se hizo con financiamiento privado. La inversión total se estimó inicialmente en 1.112 millones US$ y fue mucho mayor. Los aportes del empresario Andrade Gutiérrez de 73.180 y 37,1 millones US$ a candidatos en las elecciones municipales 2008 y 2012, le permitió contratos de 4 estadios y de casi 1/4 parte del costo total de obras del Mundial. ODEBRECHT pasó de 90.909 a 11,6 millones US$ de una elección a otra y obtuvo 5 contratos, entre ellos operar -con IMX y AEG- el Maracaná por 35 años, cuestionado por la Fiscalía de Río de Janeiro porque la empresa pagaría 2 millones US$ al año, lo que no cubre ni siquiera los 13,5 millones US$ anuales que el Estado debe pagar por el préstamo a 15 años realizado para renovarlo. Existen al menos 12 investigaciones federales de los gastos vinculados con el Mundial. Pero, los fiscales dicen que no hay nadie, ni individuos ni empresas, que esté siendo juzgado, podrían pasar años antes de que concluyan las auditorias oficiales y sean juzgados.
1.4.- La desocupación y despeje de espacios requeridos por el Mundial y los JO (construir infraestructuras, autopistas, etc.) con aplicación sistemática del ejercicio estatal de la violencia física directa, institucionalizó la política de desalojos y reconversiones urbanísticas creando una especulación inmobiliaria sin precedentes
Se estiman en 250.000 los desalojos realizados, la mayoría en zonas donde vive la población de menores recursos, en São Paulo -al menos- se quedaron sin techo 70.000 familias y en Río de Janeiro 40.000. La situación de vivienda fue tan grave que Carlos Alberto Parreira, coordinador técnico de la selección brasileña, dijo que “el aficionado no puede vivir en un estadio”. 1.5.- Aplicada en la política de desalojos y reconversiones urbanísticas, el creciente ejercicio estatal de la violencia se convirtió en recurso fundamental para garantizar el éxito del Mundial 2014, sustentado ampliado con nuevas leyes
en el ordenamiento jurídico
como la 728 y 236, aprobadas en 2011 y
2012,
respectivamente
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Teniendo como referencias obligadas: destacar que Brasil es un país que no cuenta con “policías antidisturbios, por lo tanto, son militares (con una estructura desde el golpe de Estado de 1964 y formados bajo la doctrina estadounidense y francesa) los que están en las calles conteniendo el descontento, y el acuerdo de cooperación militar Brasil-EEUU firmado en 2010 durante el segundo mandato de Lula, a partir del cual la empresa estadounidense Academi (antes Blackwater) ha entrenado a la policía militar para contener acciones terroristas durante la Copa Mundial 2014 y JO 2016” (Bessi y Navarro: 29-08-16).
Debe puntualizarse que desde 2011 el Estado comenzó a utilizar la violencia física directa: “limpiando” 40 favelas cercanas a los estadios con tanques, helicópteros y tropas de élite del ejército y las Unidades de Policía Pacificadora; creó la Secretaría Especial para la Seguridad de Eventos Grandes o
SESGE; adquirió
millares de
armamentos no letales y el sistema de artillería antiaérea para proteger el espacio aéreo de los eventos deportivos en 8 kilómetros e interceptar misiles de crucero y aviones no tripulados; fabricó el vehículo blindado nacional, inspirado en modelos israelíes y sudafricanos, para sustituir al “caveirao” utilizado en las favelas; renovó la dotación del Batallón de Operaciones Especiales (BOPE); entrenó 50.000 policías y 25.000 vigilantes de seguridad privada, con asesoramiento de unidades de élite antiterroristas estadounidenses. Con el orgullo y soberanía nacional vapuleados por la FIFA y sus Socios, con el progreso económico prometido convertido en espejismo debelado por el alto costo del Mundial 2014 financiado con fondos públicos, inutilidad social de algunas obras y corrupción combinada con impunidad en buena parte de todas, y con una violenta política estatal de desalojos y reconversiones urbanísticas que profundizó el problema de la vivienda, se fue desmoronando la ideología deportiva “mundialista” en medio de una situación económica cada vez más difícil que agravaba los problemas de la vida cotidiana de la población. La crisis económica favoreció el desmoronamiento de la ideología deportiva “mundialista” porque puso en evidencia las relaciones de poder intrínsecas al Mundial 2014 y los principales beneficiarios de su realización. La mayor parte de la población desmejorada económicamente pudo percibir, aprehender, entender y sentir que el Mundial no le ayudaba en nada en la difícil situación que estaba viviendo, que otros 170
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eran quienes se beneficiaban, sintiéndose estafada y engañada por las promesas que le hicieron. Resultaba incomprensible y molestaba ostensiblemente que ante el aumento e intensificación de problemas cotidianos por limitados recursos estatales, el gobierno tuviera que dedicar ingresos cada vez más escasos (por la caída de los precios de los productos de exportación) a garantizar el Mundial beneficiando principalmente a la FIFA y sus socios transnacionales y nacionales, empresarios constructores corruptos asociados con políticos sobornados, etc. La dinámica crisis económica-desmoronamiento de la ideología deportiva “mundialista”, explica en buena medida las inéditas, insólitas y masivas protestas en 2013 unidas por las quejas contra la FIFA, los elevados costos que tenía para las arcas públicas el Mundial, las ventajas fiscales concedidas a los organizadores del evento y contenía demandas de reivindicaciones muy específicas para mejorar la calidad de vida de la población (transporte, servicios públicos); articularon exigencias de solución de necesidades básicas y severos cuestionamientos a la realización del Mundial, a su simbología y a la FIFA. La aprobación del gobierno cayó a la mitad. La intensificación de la violencia para enfrentar las protestas 2013 y continuar con la política de desalojos generó más rechazo entre la población. Alcanzando su clímax en el Mundial con un inédito despliegue de seguridad policiaco-militar: más de 60.000 policías y
18.000 militares apoyados en las protestas por una fuerza policial
antimotines; 10.000 policías recibieron entrenamiento en control de multitudes; las 12 ciudades anfitrionas contaron con 180.000 agentes; se utilizaron los ‘black blocks’, grupo de personas enmascarados que junto a la policía se encargaban violentamente de acabar cualquier tipo de protesta realizada; en el partido de clausura, 2.300 policías se desplegaron en los alrededores del estadio Maracaná y, en el interior, la vigilancia fue realizada por la empresa privada de seguridad contratada por la FIFA. Sin duda, esto explica los más de 950 millones US$ invertidos en seguridad para el Mundial 2014, uno de los rubros con más inversión. La intensificación de la violencia se sustentó en nuevas leyes aprobadas como la 12.850 y las 3.461 y 499 aprobadas en 2013, conformando un ordenamiento jurídico que estableció la utilización de las fuerzas armadas para mantener el orden interno, espionaje electrónico, límites al acceso a la web y al ejercicio de las libertades de prensa, expresión y comunicación, evidenciado en la censura de las protestas 171
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populares por la mayoría de los medios de comunicación aliados con la FIFA y sus Socios externos y nacionales. Por eso en las protestas que continuaron hasta el mismo Mundial, se expresaron consignas como “la FIFA es la que es terrorista” pocas horas antes de la inauguración del
Mundial en Sao Paulo, extendiéndose las
manifestaciones incluso a las gradas del estadio Arena Corinthians donde se oyeron insultos contra la presidenta Dilma Rousseff y el presidente de la FIFA, Joseph Blatter, cuando ambos entraron al palco de autoridades minutos antes del inicio del partido; simultáneamente con manifestaciones en Río de Janeiro y en capitales regionales como Porto Alegre (Río Grande do Sul), Belo Horizonte (Minas Gerais), Fortaleza (Ceará) y Natal (Río Grande do Norte). 2.- Dilma Rouseff muy debilitada políticamente comienza su nuevo período, sigue con los preparativos de
los Juegos Olímpicos (JO) hasta el 12-05-16 cuando es
suspendida y sustituida por un presidente provisional que los inaugura el 05-08-16 y es destituida el 31-08-16 después de concluir los juegos el 21-08-16, finalizando así el gobierno del Partido de los Trabajadores (PT) iniciado en 2003
Dilma designa un Ministro de Hacienda proveniente de la banca privada para reducir la inflación y restaurar la confianza, plantea como imperativos recortar los gastos sociales, reducir el crédito de los bancos públicos, subastar propiedades del Estado y aumentar tasas de interés para llevar el presupuesto a superávit primario. Y como la economía se encontraba estancada, el efecto fue una recesión, la peor “en 20 años, el PIB cayó 3,8% en 2015 y se prevé que caerá 3,5% en 2016” (Ladiaria.com.uy. 24-08-16). La situación es más difícil, la crisis económica se ha agravado y el debilitamiento del gobierno es mayor porque ha perdido credibilidad, la población que apoyó a Dilma se siente engañada, desilusionada y enojada porque cumplió el programa de gobierno de sus adversarios de campaña. La profundización de la grave situación económica y aumento de la pérdida de credibilidad gubernamental, facilitaron mucho más el desmoronamiento de la ideología deportiva “olímpica”:
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2.1.- Al mantenerse los privilegios y prebendas10 -establecidos en la Ley 12.663 o Ley General de la Copa de octubre 2011- del Comité Olímpico Internacional (COI) y sus Socios Olímpicos Mundiales Cocacola, Mcdonalds. Bridgestone, Dow Omega, Procter Gamble, VISA, Atos Origin, Gen-Electric, Panasonic y Samsung11 Fueron exonerados del pago de impuestos por 4 años12 y “abarca también contribuciones sociales y aranceles de importación en actividades propias y directamente vinculadas a la organización o realización de los eventos, regirá hasta el 31 de diciembre de 2017”; se estima conservadoramente que el Estado dejó de percibir 530 millones US$ y algunas estimaciones lo ubican en 1.000 millones US$ (Lanaciôn.com: 24-08-16).
2.2.- Las ideas de progreso y ventajas a obtener por el enorme impacto positivo para el desarrollo económico que tendrían los Juegos Olímpicos (JO), difundidas por el gobierno y el Comité Olímpico Internacional (COI) fueron negados por la realidad
Según el Estado, el presupuesto de inversiones para los juegos hasta agosto 2015 fue: “Costos operativos de los eventos y de las competiciones…(comida de los atletas, uniformes, alojamiento, transporte de los equipos y material deportivo…): 2.060 millones US$ provenientes de patrocinadores y otras fuentes privadas…Matriz de Responsabilidades, que abarca proyectos como instalaciones deportivas:…hoy
10
Estos privilegios y prebendas es lo que permite al Comité Olímpico Internacional (COI) -según el Informe de su Presidente en la Asamblea General 2012- asegurar: 3.600 millones US$ en derechos de TV para los JO Invierno 2014 y JO 2016 y la meta es superar los 4.000, más de los 3.900 obtenidos en los JO Invierno 2010 y JO 2012; para los JO Invierno 2018 y JO 2020 aseguró 2.600 millones US$ de los medios de comunicación, su principal socio de TV es NBC que compró los derechos para EUU de cuatro JO hasta 2020 por 4.380 millones US$; y dispone de 588 millones US$ en reservas financieras. 11 Los demás Socios-patrocinantes de los Juegos Olímpicos (JO) Río 2016 fueron: Oficiales: Bradesco. Bradesco Seguros. Correios. N=T. Claro. Embratel. Nissan. Colaboradores Oficiales: Aliansce Shopping Centers. Apex Brasil. Cisco. Estàcio. EY. Globo. Sadia. Qualy. SKQL. Latam Airlines. Latam Travel. 361º. Proveedores: A) Airbnb. C&A. CEG. Dica do chef. Editora Globo. EF Education First. Eventim. GREE. ISDS. Karcher. Komeco.Localiza. Manpowergroup. Microsoft. Mondo. Nielsen. NIKE. OFF!. RGS Events. Sapore. SEG Gymnastics. Symantec. Technogym. 3 Corações. Riogaleão. B) Bauerfeind. Casa da Moeda do Brasil. EMC. Hospital dos Olhos Paulista. Posterscope Brasil. 12 Los JO Londres 2012 tuvieron 54 patrocinadores y los principales fueron Visa, Samsung, Panasonic, Procter Gamble, McDonalds, Dow, General Electric, Omega, Atos Origin, Cocacola y ACER. Las autoridades londinenses “también les ofrecieron a los patrocinadores una exención impositiva, por 7 meses. La ley 1270 de Brasil fue todavía más allá: cuatro años” (Lanaciôn.com: 24-08-16). 173
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suma…1.940 millones US$, de los cuales el 64% corresponde a recursos privados y el 36% a recursos públicos. Proyectos que anticipan o amplían inversiones federales, estatales y municipales en infraestructura y políticas públicas, como los BRTs, el Puerto Maravilla, la ampliación del metro, el VLT y el laboratorio de control de dopaje: Muchos de esos proyectos se implementan por medio de asociaciones públicoprivadas (APP). Del total de…US$ 7.250 millones US$, el 57% viene de recursos públicos, mientras que un 43% proviene de recursos privados” (Gobierno Federal, 082015: 4). Dos altos funcionarios del Estado vinculados a los juegos resumen las ventajas: 1) El alcalde de Río de Janeiro, Eduardo Paes, detalló el 22-05-15 la inversión en millones US$: 8.200 obras de infraestructura, 2.200 estadios e instalaciones deportivas y 2.333 “en el costeo del evento”, para un total de 12.733 millones US$, y subrayó que "Lo más importante es que el 57 %...será costeado por empresas privadas". Destacó que cada real (unos 32 centavos de dólar) invertido se quintuplicará en el legado para la ciudad, que comprende: saneamiento de gran parte del espacio; descontaminación de la bahía de Guanabara;, eliminación de un gigantesco basurero y creación del Puerto Maravilla (proyecto de revitalización portuaria); nueva línea de metro de 20 Km. y 150 Km. de carriles exclusivos para autobuses. Estas inversiones permitirán aumentar el uso de servicio público de transporte masivo de 19 % en 2009 hasta el 63 % en 2016 (EFE: 24-08-16). 2) Vinicius Lummertz, director del Embratur, Instituto Brasileño de Turismo: Se invirtieron “24.600 millones US$ en obras públicas y se estima un retorno de 1.700 millones, la zona del Parque Olímpico fue la más beneficiada con la infraestructura renovada…y con el servicio de transporte;…De 2 horas en micro, hoy con el BRT la gente llega del centro a Barra en 0,33. Tiene una nueva línea de subte. Las inversiones privadas hoteleras en Barra han crecido…La idea es que en el Parque Olímpico se mantenga un centro de alto rendimiento…, pero el 40% quedará para viviendas y fines comerciales. En la Arena Carioca 1…la capacidad bajará de 16.000 a 6.500 lugares…y se usará para recitales…, el Arena Carioca 2 servirá como lugar de formación de pesistas, judocas, luchadores y jugadores de tenis de mesa. Mientras que se mantendrán el Velódromo y el estadio de tenis, la Arena Carioca 3…se transformará en una escuela para 850 estudiantes y la Arena del Futuro…se convertirá en 4 escuelas públicas…” (Sartori: 24-08-16).
Las ventajas se resumen en las promesas que hicieron las autoridades de impacto positivo de los juegos sobre la economía y de los proyectos de transformación iniciados con el Mundial- que incluyen “obras de reforma de las instalaciones 174
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deportivas, así como equipos deportivos, infraestructura de movilidad, urbanización de barrios precarios, proyectos de reestructuración urbana y embellecimiento de espacios públicos” (Bessi y Navarro: 29-08-16).Además, los mostraron como evidencia de progreso, orgullo nacional y de ratificación de la creciente condición de potencia de la nación. El estudio "Las Olimpiadas: salida económica nula para Brasil", realizado por la compañía Solunion, propiedad de la firma de seguro Euler Hermes y MAPFRE y al que tuvo acceso El País, concluye que el efecto de los juegos en la economía serán negativos13: 1) Se producirá un leve crecimiento de la economía. Se espera que el turismo genere 400 millones US$ e incremente el crecimiento real solo 0,02%, menos de la mitad del impacto estimado. Los proyectos de inversión (según cifras oficiales el total en infraestructura olímpica entre 2009 y 2015 podría alcanzar unos 12.000 millones US$) y turismo añadirán solo 0,05% en el crecimiento real del PIB, en el que se espera un declive de 3,5% en 2016. La inversión en infraestructura y el gasto público adicional para los juegos incrementarán la deuda pública en 0,04 puntos del PIB. 2) Creación de empleo en el corto plazo, durante la fase de inversión se produjo un aumento del número de nuevas compañías, especialmente micro y pequeñas empresas. Pero muchas tendrán una vida corta y se espera que cierren apenas terminado el evento. 3) Incremento del número de insolvencias empresariales en el estado de Río de Janeiro, un 5% en 2016, cifra que se elevará al 12% en las micro y pequeñas empresas. 4) Generación de presiones inflacionarias hasta 2020, 1% de la inflación general en 2016 (estimada en 8,6%) desagregada de esta manera: 0,4% es residual del Mundial, 0,4% Juegos Olímpicos y 0,2% es resultado de acoger ambos eventos en un tiempo tan corto (Elpais.com.uy: 24-08-16). En cuanto al empleo, la auditora Ernst & Young calculó que los juegos crearán 1,79 millones de empleos permanentes y temporales en el área metropolitana de Río de Janeiro (Ladiaria.com.uy: 24-08-16).
13
Ejemplo son los JO Atenas 2004 que “costaron US$11.000 millones. Un año más tarde se había disparado el déficit fiscal griego y los problemas se fueron agravando hasta llegar a la actual crisis económica, que se ha convertido en un fenómeno casi crónico de los graves problemas de la eurozona” (Lanaciôn.com: 24-08-16). 175
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Para Larissa Lacerda, la herencia que van a dejar los JO en Río de Janeiro es una ciudad aún más segregada y excluyente: “La Ciudad Olímpica fue construida a través de la profundización de las desigualdades socio-espaciales, sobre la base de una política de ‘limpieza’ de la ciudad” (Bessi y Navarro: 29-08-16). Río de Janeiro se queda con la incertidumbre sobre qué sucederá con el plan de convertir el Parque Olímpico en un vibrante distrito con departamentos de lujo y oficinas: “En medio de una persistente recesión…, el consorcio que gestó el proyecto, al 26-08-16 sólo ha vendido el 7% de los 3.604 departamentos de la Villa Olímpica…. Con los instituciones financieras cobrando tasas prohibitivas para préstamos, las agencias de bienes raíces han tenido que ofrecer incentivos…Los organizadores de Río 2016 y funcionarios de la ciudad no han dicho nada sobre si este débil mercado podría afectar el desarrollo futuro del Parque Olímpico, de 1,18 millones de metros cuadrados. Carlos Carvalho, el multimillonario que concibió el proyecto del Parque Olímpico… dijo que la villa de atletas es para la élite de la ciudad. Su nombre es ‘Ilha Pura’— Isla Pura — y el precio de los apartamentos promedia los 435.000 dólares, con piscina, spa y peluquería. Los penthouses pueden costar hasta 700.000 dólares. Otro acaudalado empresario construye torres con apartamentos de lujo alrededor del campo en el que se disputó el torneo de golf de los Juegos. El costo más barato de un piso anda en los 2 millones de dólares” (AP: 26-08-16).
La inversión en transporte favoreció principalmente a sectores de mayor capacidad adquisitiva, se reprimieron
los vendedores ambulantes y se atropelló al medio
ambiente. Según el Informe elaborado por el Comité Popular Río-
Mundial y
Olimpiadas, un colectivo que reúne a sindicatos, organizaciones no gubernamentales, investigadores, estudiantes, afectados por las intervenciones del Mundial y los Juegos Olímpicos: “concentrándose en mejorar el transporte en las zonas ricas…Al mismo tiempo, han cortado las líneas de conexión entre las zonas ricas y pobres... Denuncia las medidas represivas del gobierno contra los vendedores ambulantes, derivadas…por la imposición de las zonas comerciales exclusivas en las cercanías de instalaciones deportivas donde se ubican los patrocinadores…Según denuncia del Ministerio Público del Trabajo de Río de Janeiro,… una de las constructoras…de la Villa Olímpica…mantenía a 11 trabajadores en una situación semejante a la esclavitud… Se ha edificado la construcción de una plaza, llamada Vía Transolímpica, que implicó la destrucción de 200 mil metros cuadrados de Bosque Atlántico… En noviembre de 2015 fue inaugurado un campo de golf olímpico en Barra de Tijuca, pese a las denuncias de activistas ambientales que alertaban que el predio se estaba construyendo en una reserva ecológica. También advertían que la empresa que llevó adelante el proyecto, Fiori Emprendimientos, recibió, además del pago por la obra (60 millones de reales) la adjudicación de terrenos linderos donde construyó edificios de viviendas con una altura superior a la autorizada”. (Bessi y Navarro: 29-08-16; Ensinck: 24-08-16)
2.3.- La vigencia de la potestad, aprobada en agosto 2011, del gobierno federal estatal y municipal de NO divulgar el presupuesto antes de la licitación de obras,
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favoreció -tal y como ocurrió en el Mundial- la corrupción político-empresarial y más inversión del Estado, que aumentó todavía al financiar las empresas constructoras Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, OAS, Galvão Engenharia, UTC, Mendes Junior y Engevix, encabezadas por Andrade Gutierrez y Odebrecht, son el grupo de empresas todas bajo investigación judicial y con algunos presidentes detenidos en junio 2015que “manejan casi toda la obra pública de los gobiernos nacional, provinciales y municipales, controlaron las obras para los JO -como antes lo hicieron con las obras para el Mundial- y financian las campañas de casi todos los partidos políticos, entre ellos el oficialista PT y el opositor PSDB…Odebrecht está presente en las UTE que se adjudicaron 8 de las 10 mayores obras para el Mundial y JO…y está involucrado en más de la mitad de los proyectos olímpicos…Andrade Gutiérrez, segunda en el ramo consiguió entrar en 6 de las 10 mayores obras del Mundial y JO…Hasta noviembre 2015 por su relación con el desarrollo de 11 proyectos olímpicos, participan en 92% de los desarrollos con contratos valuados en 10,000 millones de dólares” (Bimbi: 14-09-16; Meza: 16-09-16; Reuters: 14-09-16).
La corrupción ha involucrado a las empresas constructoras encargadas de la realización de casi una docena de proyectos olímpicos y a los responsables de la descontaminación en la Bahía de Guanabara, escenario de diversas competencias acuáticas. En noviembre 2015 “A pesar de las campañas de limpieza en la bahía y los más de 193 millones de dólares que el Banco Interamericano de Desarrollo (BID) y el Banco Japonés para la Cooperación Internacional (JBIC) han invertido de manera conjunta entre 1994 y 2004, los residuos parecen ganarle la batalla al gobierno de Río”(Meza: 16-09-16).La corrupción aumentó el costo de las obras y por ende la inversión del Estado, que se hizo todavía mayor al financiar a las empresas para evitar la paralización del trabajo: “el gobierno de Río de Janeiro ha prestado dinero a las constructoras, con el propósito de que no suspendan operaciones, ya que muchas se han quedado sin líneas de crédito”…Hasta noviembre 2015 “el gasto para el desarrollo de la infraestructura olímpica se ha excedido en más de 70 millones de dólares” (Meza: 2016). 2.4.- Se mantuvo la política de desalojos y despeje de espacios requeridos para completar las obras de infraestructura necesarias para los JO, sustentada en la violencia que continuó siendo un elemento fundamental para garantizar su realización 177
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Según el Comité Popular Río-Mundial y Olimpiadas, la mayoría de los desalojos se encuentra: “en zonas donde el sector inmobiliario ha especulado para obtener altos rendimientos y ganancias. En los últimos tres años, el precio del metro cuadrado de los bienes vendidos en Río de Janeiro ha aumentado, en promedio, 29.4%, pero en algunas zonas, como en la favela Vidigal, la valorización ha llegado a 481%. Las reubicaciones vinculadas a los Juegos Olímpicos han afectado a miles de familias por medio de la coacción y de la violencia institucional, violando gravemente los derechos humanos” (Bessi y Navarro: 29-08-16).
Las operaciones de “limpieza” de las favelas, militarización de Río de Janeiro y demás violaciones de derechos humanos, expresa el papel protagónico, institucional y legalmente establecido de la violencia como factor decisivo en los Juegos Olímpicos (JO): “El Comité de los Derechos del Niño de la ONU en el Informe del año 2015…denunció la tentativa del gobierno de limpiar la ciudad de Río de Janeiro para los JO y...está profundamente preocupado por el gran número de niños en las calles que son vulnerables a ejecuciones extrajudiciales, tortura, desapariciones, ser reclutados por grupos delictivos, abuso de drogas y la explotación sexual…El Informe de Amnistía Internacional….muestra cómo están poniendo en práctica las mismas políticas de seguridad pública que han llevado a un aumento en el número de asesinatos y violaciones de los derechos humanos por parte de las fuerzas de seguridad, desde el Mundial 2014…desde el comienzo del año 2016 las redadas de la policía en las favelas de Río de Janeiro han promovido un verdadero genocidio de jóvenes pobres y negros… algo muy semejante sucedió con los Juegos Panamericanos y la Copa del Mundo…” (Bessi y Navarro: 29-08-16).
El antecedente del colapso de la ideología deportiva “mundialista” y la intensificación de la crisis económica, hizo que colapsara mucho más rápido la ideología deportiva “olímpica” expresada en el rechazo a los Juegos Olímpicos (sin llegar a las multitudinarias manifestaciones realizadas contra el Mundial) de sectores importantes de la población, quienes descubrieron que no ganaban nada con los juegos cuyos beneficiarios principales eran el Comité Olímpico Internacional (COI) y sus socios transnacionales y nacionales, empresarios constructores corruptos asociados con políticos sobornados. En encuesta de la consultora Ibope publicada por el diario Folha de Sao Paulo poco antes del evento: “50% de los brasileños se declara abiertamente en contra de la celebración de los Juegos y un 63% opinaron que el evento traerá más problemas que beneficios, mientras que sólo 32%…confía en que el balance final será positivo Además, durante el recorrido de la antorcha olímpica por 300 ciudades…una decena de eventos convocados a través de las redes sociales intentaron, con éxito, apagarla” (Sotos: 2908-16; Ladiaria.com.uy: 24-08-16). A 4 días del inicio de los juegos “son pocos los que se muestran entusiasmados con la idea de acoger el mayor evento deportivo del planeta” (Sotos: 29-08-16).
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Entre 2014-2016 los motivos para el descontento siguen siendo los mismos: “el dinero público se escapa entre grandes eventos y mayúsculos escándalos de corrupción mientras la desigualdad continua siendo el cáncer que corroe por dentro a la sociedad brasileña” (Sotos: 29-08-16). Colapsada la ideología deportiva, intensificada la crisis económica y a flor de piel el descontento y enojo de sectores importantes de la población, la gran burguesía brasileña asociada y con el apoyo del gran capital transnacional inicia su demoledora ofensiva final -teniendo como quinta columna a sus medios de comunicación-desde mediados del 2015 y obtiene un éxito rotundo al destituir a Dilma y asumir el gobierno en agosto 2016.
III.- SEÑALES QUELA IZQUIERDA NO PUDO CAPTAR POR ESTAR IMBUIDA DE LA CONCEPCIÒN POSITIVISTA BURGUESA DEL DEPORTE, PARTICULARMENTE EN BRASIL NO SUPO DESCIFRAR Y ABORDAR
REVOLUCIONARIA Y ADECUADAMENTE LA
REALIDAD DEL MUNDIAL DE FÙTBOL 2014 Y LOS JO 2016 QUE CONTRIBUYERON A SU DEBILITAMIENTO POLÌTICO Y A LA ESTREPITOSA DERROTA QUE DESEMBOCÒ EN LA DESTITUCIÒN DE LA PRESIDENTA DILMA ROUSEFF
1.- Señales
Particularmente significativa para América Latina e indiferente para buena parte de políticos y académicos e invisibilizada mediáticamente, fue la incorporación de la región al rally de Dakar14: Chile, Perú y Argentina en 2009-2013; en 2014 Bolivia; Argentina, Chile y Bolivia en 2015; Bolivia y Argentina en 2016. Cuestionada por sectores sociales: “En Chile, en 2009 devastó 6 sitios arqueológicos, 52 en 2010 y en 2011 126 (45% del total); en 2013, el Colegio de Arqueólogos acusó al Estado por “dejar caer ante una organización internacional al sistema institucional de protección ambiental y patrimonial”, la Legislatura admitió que se destruyó más del 44% de los sitios en
14
Propiedad de T. Sabine comenzó en 1979 y es organizado por Amaury Sports Organization. Oficialmente hasta 2014 sus competidores han asesinado a 28 africanos y 4 sudamericanos, muriendo 26 pilotos y personal de apoyo. En 2 ediciones no ha causado muertes. Por oposición del Frente Polisario a que atravesara el Sáhara occidental (1992-1994), pasó a el Oriente, Malí y el lago Chad. En 2008 se suspendió (Pérez: 26-06-16). 179
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Atacama; la ONG Acción Ecológica y la Fundación Patrimonio Nuestro presentaron -en diciembre 2011- en la Corte de Apelaciones de Santiago un recurso contra el rally en defensa del patrimonio arqueológico, pues el Consejo de Monumentos Nacionales constató y comprobó -en informe de mayo 2011 - el grave daño arqueológico y paleontológico en el norte. En Lima, el Museo Paleontológico advirtió que “en 2012 fueron irreparables los daños en Ica, desierto y gran yacimiento de fósiles del Mioceno”; Pablo Trenque del Centro de Interpretaciones del Mundo Andino, el 01-072013 señaló que espantará “vicuñas, guanacos y toda la fauna…parece anecdótico que se permita que un rally cruce la quebrada de Humahuaca, declarada en 2003 Patrimonio Cultural y Natural de la humanidad”. El organismo turístico peruano CANATUR aseguró que Perú (en millones US$) recibiría 100 en 2012, y 600 en 2013, año en el que según los cálculos más optimistas no llegó ni siquiera a 75. En el Cono Sur, compitió en 2011 el equipo de la Guardia Civil española patrocinado por “narcotraficantes como Transpinelo SL” (Pérez: 26-06-16).
Otras fueron acontecimientos transcendentales que estremecieron como nunca antes al deporte y lo convirtieron en centro de opinión pública mundial entre 20132016: 1.- Extensión del protagonismo mundial del Papa Francisco al deporte15
Se desempeñó como anfitrión del encuentro realizado en el Vaticano entre líderes de las iglesias católica, protestante, musulmana, judía, budista y evangélica, con jugadores (Maradona, Del Piero, Pirlo, Shevchenko, Cordoba, Valderrama, Trezeguet, etc.) que participaron en el Primer Partido Interreligioso por la Paz el 01-09-2014 en Roma y fue el artífice del acuerdo Vaticano-CONMEBOL (Confederación de Fútbol de América del Sur o FIFA de Suramérica), en 2015, en función de recaudar fondos para los proyectos de inclusión social y educativa con niños Scholas Ocurrentes
y la
Fundación P.U.P.I (Onlus).
15
En 2015 participó en la Asamblea de la ONU y visitó Cuba 180
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2.- Descubrimiento de la participación de los más altos dirigentes de la Organización Deportiva Mundial (ODM) o gobierno del deporte (encabezada por el Comité Olímpico internacional o COI y la FIFA) y de empresas en trampas, doping, soborno y corrupción, de una dimensión tan amplia, diversa, sistemática y practicadas históricamente, que evidencia su conversión en conductas y acciones intrínsecas, estructurales e institucionalizadas en el deporte hoy
Soborno y corrupción en el fútbol entre 1991-mayo 2015, en la relación dirigentes mundiales de la FIFA-Empresas intermediarias-Empresas de marketing o patrocinio deportivo, presentado públicamente por la justicia de EEUU el 27-05-15, y doping, “lobby”, soborno y corrupción en el atletismo mundial (que involucra al Estado ruso y como gobierno del deporte a la Federación Internacional de Atletismo y Federación de Atletismo de Rusia) descubierto entre 2013 y 2015 por denuncias independientes y reconocido como cierto por la Agencia Mundial Antidopaje (AMA) en noviembre 2015.
3.- Con dimensión mundial y ocurrido en América Latina, cierra el ciclo de hechos extraordinarios en el deporte las inéditas, insólitas y multitudinarias manifestaciones en Brasil contra el Mundial de Fútbol 2014, iniciadas en 2013 hasta la inauguración y primeros días de su realización. Por primera vez en la historia unas movilizaciones de tal magnitud y duración las realiza la población del país sede de uno de los dos más importantes espectáculos deportivos económica y mediáticamente, e incluyen como foco de su protesta al ente responsable-dirigente máximo del evento, la FIFA
¿Quién iba a imaginar a cientos de miles de brasileños protestando a las puertas de los estadios en contra de que su país fuese sede del Mundial o a unos 500 líderes indígenas de cien etnias protestando en la capital Brasilia, en reclamo de políticas para sus pueblos, contra medidas gubernamentales que afectan negativamente a sus territorios y contra el Mundial, quejándose de la corrupción? ¿Por qué Brasil, la meca del fútbol, cuyos ciudadanos llevan en el ADN la pasión por el balón, se manifestó fervientemente contra la celebración del Mundial? ¿Cómo pudo suceder esto si el fútbol es motivo del mayor orgullo nacional? ¿Qué nueva pasión es la que se adueñó de los brasileños para levantar su voz y gritar "¡no van a tener Copa, van a tener 181
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huelga!"? ¿Cómo se explica que las protestas por más de un año recorrieron el país con lemas como "No va a haber Mundial ", "Mundial para quién " y preguntasreflexiones cuestionadoras: “¿El fútbol va a salvarnos la vida?” “¿Un nuevo estadio va a arreglar mi situación?” “¿Qué sentido tienen las 12 sedes del Mundial?” "¿Qué vale más: un partido de fútbol mundial o la vida de los niños y de las personas que estamos sufriendo en Río de Janeiro. Tres hospitales por un estadio demolido?" A quién en su sano juicio se le ocurriría que iba a presenciar serios cuestionamientos y fuertes arremetidas contra los símbolos del Mundial y de la FIFA, con consignas en las protestas como "es la Copa de la élite, de los ricos de la FIFA", "Hey FIFA, ¡vuelve a Suiza!", "FIFA, vete al infierno"; en Belém, (capital del Estado de Pará) los manifestantes opuestos al evento y al aumento de la tarifa del transporte público, ocuparon el edificio donde estaba expuesto el trofeo del Mundial, lo que obligó a los organizadores a cancelar esta exposición, que ya se había realizado antes en veinte poblaciones brasileñas; y en la ciudad de Teresópolis (Estado de Río de Janeiro) durante las manifestaciones se destruyeron balones de fútbol hinchables, álbumes de cromos y mascotas del torneo y atacaron e incendiaron una réplica gigante -de 6 metros de altura- de la Copa, ubicada en una de las principales avenidas y a escasos kilómetros del lugar que sería el hogar de la selección de fútbol brasileña durante el Mundial. Todas las protestas estaban unidas por las quejas contra la FIFA, los elevados costos que ha tenido para las arcas públicas el Mundial, las ventajas fiscales concedidas a los organizadores del evento y contenía demandas de reivindicaciones muy específicas para mejorar la calidad de vida de la población. Y resultaba todavía más inimaginable que las protestas continuaran pocas horas antes de la inauguración del
Mundial en Sao Paulo, simultáneamente con
manifestaciones en Río de Janeiro y en, al menos cuatro capitales regionales ¿Cómo pudo pasar esto en Brasil, la meca del fútbol y en el continente del Papa del fútbol? Sufriendo en carne propia el soborno, corrupción y arbitrariedad e imposiciones de la FIFA y sus Socios empresariales transnacionales y nacionales y del gobierno, mejor que nadie la población brasileña intuyó, vislumbró, comprendió y puso en el tapete la verdadera, cruda, dura y dolorosa realidad del deporte mundial, enfrentándola con sus protestas masivas y colocó en la palestra académica, política y mediática este debate. Muy en contraposición a lo que ha ocurrido con los escándalos de “lobby”, soborno y 182
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corrupción en el fútbol y atletismo en 2015, la vinculación del nuevo presidente de la FIFA -electo en 2016- con trampas “legales” en 2006 y la conversión del deporte en una mafia “globalizada o postmoderna”, que han tenido un limitado tratamiento por académicos, intelectuales y políticos, son temas abordados, fundamentalmente, por periodistas y el mediático ha sido el casi único y limitado escenario de discusión. Los manifestantes brasileños con irreverencia y osadía, combinando intuición y conocimiento, sentimiento y análisis,
han realizado la crítica más demoledora y
profunda jamás realizada masivamente hasta hoy al deporte moderno y, por qué no decirlo, llevándose por delante a la intelectualidad, academia y dirigentes políticos de cualquier posición (derecha, izquierda, centro y demás matices políticos) brasileños, latinoamericanos y del mundo entero.
2.- Concepción positivista burguesa del deporte
Desde el mundo político y académico se discute ampliamente y se someten a críticas contundentes, estructurales, casi todos los escenarios de la vida social, desde posiciones extremadamente conservadoras-reaccionarias hasta la ferviente izquierda radical-revolucionaria, pasando por
el amplio centro socialdemócrata, derecha
“democrática”, etc, teniendo en común, al menos de palabra, en discursos y documentos, la necesidad, el deseo y el anhelo de algún tipo de transformación: cosmética, semi-profunda, profunda y hasta radical. Pero, en el caso del deporte por predominar -a tal punto que es prácticamente unánime- académica, política y socialmente la concepción positivista16 burguesa que privilegia y coloca en primer y
16
Una muestra representativa de la concepción positivista legal y legítimamente establecida, la expresa la máxima dirigencia de la Organización Deportiva Mundial (ODM) o gobierno del deporte: 1) La FIFA a través del libro “FIFA 1904-2004. Un siglo de fútbol (2004)”, elaborado por el Centro Internacional de Estudios del Deporte de la Universidad de Neuchâtel-Suiza: “Describe el desarrollo y la ascensión de una organización que ha superado con éxito dos guerras mundiales e innumerables conflictos regionales gracias a su convencimiento -lejos de la política- de que el fútbol puede ser un instrumento aglutinador y de entendimiento entre los pueblos…Relata la historia de la FIFA, cuyo crecimiento le fue confiriendo los rasgos de una verdadera empresa internacional por su envergadura administrativa, financiera y económica, narrando al mismo tiempo la historia de un siglo de fútbol…”. La FIFA: “…trabaja en pro de intereses que no se contraponen con el principio de soberanía de los Estados nacionales”. Estableció un diálogo político con la ONU sobre la base de acuerdos de “licencias, patrocinio y organización de iniciativas, actividades y proyectos conjuntos contra el racismo, trabajo infantil en la producción de pelotas de fútbol, etc”(Eisenberg, Lanfranchi, Mason y Wahl, 2004: 5/7/ 9/233). 2) El Comité Olímpico Internacional (COI) con el libro “Juan Antonio Samaranch: Memorias 183
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casi único plano el análisis de la dimensión técnica (física, fisiológica, biológica, médica) y estadística, el debate suele limitarse -en buena medida- a cuestiones operativasinstrumentales, no estructurales, de forma antes que de fondo. La concepción positivista burguesa del deporte se sustenta en tres grandes mitosbases: “1) El deporte es un fenómeno natural y eterno, ha existido y existirá siempre en la humanidad; es intrínseco a la naturaleza humana; es positivo, inofensivo, neutral, apolítico, transparente, igualitario, democrático, fraterno. 2) En tanto fenómeno positivo, el deporte no puede ni debe ser sometido a ningún tipo de cuestionamiento de fondo teórico-conceptual; sus problemas o dificultades son concebidos como distorsiones por ser corregidas y superadas por su propia dinámica: puede discutirse la forma, más no el fondo. 3) Lo necesario e importante por estudiar del deporte son sus aspectos técnicos, estadísticos y físicos, con el objetivo de mantener y reforzar su carácter positivo, corrigiendo, superando las posibles distorsiones que puedan presentarse. La asimilación de estos mitos se ha traducido en desconocimiento generalizado del fenómeno deportivo, en general, y, particularmente, en la academia universitaria, donde es marcada la subestimación del estudio del deporte como fenómeno socio-histórico. Además, son el fundamento de las políticas deportivas aplicadas en Venezuela y en América Latina y contribuyen con la desmovilización de la población, al crear la ilusión de la existencia de un escenario social donde no existe el conflicto, no existen intereses diferentes y lucha de poder. …En el discurso positivista, toda actividad que involucre el esfuerzo físico, realizada con fines diversos (salud, educativos, recreativos, placer, rendimiento-récordcampeón...) y donde se establecen o no comparaciones de cualquier naturaleza entre los participantes, es deporte. El núcleo central de este concepto de deporte son las actividades cuyo fin es la comparación de rendimientos corporales para registrar Olímpicas (2002)”, elaborado por Juan Antonio Samaranch, Presidente del COI en 1980-2001: “Prefacio del Rey de España: Nos deja un ejemplo…de identificación con los valores esenciales y más humanos que definen a la gran familia olímpica, y estimulan la paz y el entendimiento…Introducción de Jacques Rogge, Presidente del COI: Voluntad de universalidad; el hombre de la unidad, ayuda y solidario; ha luchado…a favor de las mujeres…Entendió…que los JO tenían que respetar el medio ambiente.” …Para el COI: “la política ha estado siempre…presente en…el campo del deporte…Desde 1896 todos los JO han sido organizados con el acuerdo y la participación…de los gobiernos…hemos establecido y reforzado la cooperación con las Naciones Unidas, con organizaciones políticas regionales, organismos intergubernamentales y…no gubernamentales” (Samaranch, 2002: 5-6/9; 11-18/72-73/75/77-78). 184
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récords y designar campeones. Derivados o desprendidos de esta raíz conceptual o concepto base, se crea un amplio e ilimitado número de conceptos (deporte recreativo, deporte indígena, deporte penitenciario, deporte masivo, deporte participativo, deporte escolar, deporte de la tercera edad, deporte para la salud…) para completar el universo conceptual positivista. Pero, son conceptos sin autonomía e independencia, sin dinámica propia, porque la lógica y sentido de su contenido viene dada por la referencia obligada que hacen al deporte de rendimiento, de récords y campeones. Tienen en común la primera palabra, deporte, precisamente su homogeneidad viene dada por el hecho de explicarse únicamente en su relación con respecto al deporte de rendimiento, de récords y campeones. De allí la dificultad, la imposibilidad de poder presentar científicamente argumentos que expliquen lo semejante y lo distinto de unos conceptos con otros, quedándose la explicación en lo meramente operativo y en las características de los usuarios (edad, ubicación social…)…Esta elasticidad en el uso de un concepto que sirve para designar cualquier cosa y exactamente nada (explicando múltiples y diversas realidades, siempre desde la óptica referencial del deporte de rendimiento, récords y campeones) no es fortuita. Es la manera de impedir el análisis profundo y cuestionamiento crítico del fenómeno deportivo. En conclusión, el positivismo presenta un concepto de deporte cuyo núcleo central es la realidad del rendimiento-récord-campeón y abarca fenómenos y realidades totalmente diferentes (salud, educación física, juego, recreación…), las cuales son cubiertas con ramificaciones conceptuales originadas en el concepto-base” (Altuve, 2009: 20-21). Desde una perspectiva crítico- analítica-totalizadora planteamos la necesidad de repensar el deporte con el objetivo de empezar a discutir su superación e iniciar la creación de las bases teórico-conceptuales y concretas de una alternativa, concibiendo el deporte “como un fenómeno histórico y social, que ha existido en dos momentos y sociedades diferentes: del 884 al 393 a.de C., en el esclavismo; y desde 1896 hasta hoy, en el capitalismo industrial. En ambos casos, es una competencia cuyo objetivo es designar un campeón o ganador, pero, en el capitalismo, alcanzar o implantar una marca o récord (registro) es tanto o más importante que la designación del campeón, más que 185
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ganar lo que interesa es con cuánto se gana. También es muy diferente la significación social y la institucionalidad deportiva; basta con mencionar que en el esclavismo el llamado deporte antiguo se circunscribía a los JO
Antiguos, mientras que en el
capitalismo, en el deporte moderno, los JO son sólo un componente muy importante de una cadena de competencias que comprende los juegos olímpicos, campeonatos mundiales (de fútbol, atletismo, béisbol, béisbol…), fórmula 1, abiertos de tenis, tours de ciclismo, campeonatos mundiales inter-clubes de fútbol, etc.
Como todo
fenómeno social, el deporte nace, crece, desaparece, resurge con otros contenidos. La sociedad funcionó sin deporte hasta la irrupción del deporte antiguo, que tuvo una duración máxima de 1.277 años; luego, la sociedad funcionó perfectamente 1.503 años sin deporte, y hoy tenemos 112 años de deporte moderno (Altuve, 2009,: 21-22). Para nuestra perspectiva crítico-analítica-totalizadora17, el deporte es un fenómeno social 17
Existen otras posiciones que tienen en común concebir las dificultades existentes en el deporte como desviaciones que pueden ser corregidas y superadas incorporando nuevas dinámicas y lógicas de funcionamiento: 1) El problema central es la existencia de dirigentes deshonestos y corruptos y se resuelve con una dirigencia honesta y comprometida con los ideales olímpicos. 2) Reconoce que el problema es más complejo y es esbozada -al ser elegido Presidente de la FIFA en 2016- por Gianni Infantino “Vamos a restaurar la imagen de la FIFA...Se necesita implementar las reformas…El fútbol siempre existirá, pero la manera en la que hemos vivido y percibido a la FIFA como organización en los últimos meses no puede continuar", y al analizar el escándalo del fútbol 2015 por: a) BBCMUNDO: “no se trata de un mero problema de corrupción, individual o de camarillas, sino de la anomia moral e institucional que ha caracterizado la operación global de la organización”. b) Thomas Bach, Presidente del Comité Olímpico Internacional (COI), “Este es un problema estructural y no se resolverá simplemente con la elección de un nuevo presidente” (BBCMundo: 07-11-15 y 22-04-16). 3) Precisa que el problema es “estar absolutamente monopolizado, secuestrado, por el capitalismo y su lógica mercantil…sirve para demostrar la superioridad científico-tecnológica de los países donde se concentra el capital, de la mano de sus aliados, las transnacionales, constituyendo el espacio social de legitimación de una ideología olímpica que afirma y legitima la política siempre rapaz de las superpotencias” (ANEPP, 09-09-15; Flores y Avendaño, 2014: 42/45), y presenta alternativas de reflexiones-propuestas: a) La Asociación Nacional de Empleados Públicos y Privados de Costa Rica propone: “ convertir el deporte en derecho del pueblo y que deje de ser el monopolio de unos pocos” (ANEPP, 09-09-15). b) Pedro García Avendaño y Zhandra Flores Esteves (Universidad Central de Venezuela): “el desafío consiste en…resignificar su carácter lúdico y sus beneficios, …Creemos…en la posibilidad de construir una sociedad distinta, más humana y más justa representando el deporte un espacio más desde donde se puede hacer frente al poder instituido e instituyente… Nuestra obligación es diagnosticar y develar lo oculto y democratizar el acceso a esos hallazgos para propiciar un debate riguroso al respecto, dentro y fuera del ámbito universitario, a lo que debe seguir la articulación con otros entes y personas para iniciar acciones que realmente permitan transformar la institución deportiva” (Flores y García, 2014: 47). Para una óptica con gran fortaleza y desarrollo en América Latina, el deporte “puede ser visto como un foco, un punto donde el analista se interroga por la dimensión de lo simbólico y su articulación problemática con lo político. Pero también: el deporte es un espacio donde se despliegan algunas de las operaciones narrativas más pregnantes y eficaces para construir identidades. Entonces, en esa periferia de lo legítimo (porque el lugar central seguirá siendo la cátedra o la política o los medios, según su capacidad históricamente variable de instituir y administrar legitimidades del discurso) podemos leer 186
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“gestado, creado y conformado en un momento del desarrollo de la sociedad, que está en permanente interacción con los demás fenómenos sociales, transformándose al mismo ritmo que lo hace la sociedad a través de la historia, formando parte e incidiendo en ese proceso general de transformación, alimentando y alimentándose en ese proceso de cambio. Es un fenómeno social que responde a intereses sociales, de clase, muy específicos, cumpliendo determinadas funciones en los distintos momentos históricos y, por lo tanto, ha tenido y tiene relaciones e implicaciones políticas, económicas, sociales, culturales…. El deporte es una esfera de poder y como tal debe asumirse (Altuve, 2009, espacio abierto: 21-22)
4- Concepción positivista burguesa: Fundamento de las políticas públicas deportivas de los gobiernos “progresistas y de izquierda” de América Latina
Evidencias las encontramos en Argentina donde se permitió el rally de Dakar en 2009-2013 y 2015-2016, permitido en Bolivia entre 2014-2016. En Bolivia, Evo Morales recibió “en abril 2016 la visita del recién electo nuevo Presidente de la FIFA, Gianni Infantino, con honores de Jefe de Estado y le concedió ‘un retrato del héroe indígena Túpac Katari tallado en madera, los textos De Orinoca a Palacio Quemado y Las tres posesiones originarias, el Libro del Mar y La Condecoración Nacional de la Orden del Cóndor de los Andes, la más alta distinción que otorga…Bolivia a ciudadanos e instituciones…por eminentes servicios, civiles o militares, prestados a la nación y a la humanidad`’; Morales puntualizó que ‘es una enorme alegría recibir una alta autoridad que representa al fútbol mundial y es un orgullo’", destacando que la visita es importante porque forma parte de una nueva generación de dirigentes con responsabilidad de dignificar al fútbol manchado por la corrupción, y pidió a la FIFA trabajar para que el balompié boliviano se renueve y obtenga una nueva imagen frente al retraso con relación a Suramérica; Infantino expresó su gratitud y reiteró el apoyo de la FIFA al fútbol en Bolivia(ABI: 22-04-16). Casi paralelamente a la visita se tendió la primera duda sobre la
operaciones de tipificación que colaboren en las dificultosas construcciones de las narraciones identitarias” (Alabarces y Garriga Zucal, 2014:328). A fines de los 90 se sientan “…las bases de discusión, las que habilitan definitivamente la legitimidad de estos objetos -ampliamente, los deportes; centralmente, el fútbol- para la investigación social y a la vez los marcos desde donde leerlos. Lo que resta es la producción de empirias, locales, regionales o continentales; el establecimiento de comparaciones…Pero también falta trabajo en otros rubros y otras perspectivas, por ejemplo: en una economía política…que debe diagnosticar los modos de concentración y ampliación de los capitales monopólicos en la comunicación de masas…; en el análisis de las relaciones entre deporte y política, en el presente e históricamente… además, con la pregunta sobre el poder como marco de hierro. Aunque nos equivoquemos: aunque sustancialicemos las posibilidades impugnadoras y resistentes de los sujetos en las prácticas deportivas -incluidas las de los espectadores-, o a la inversa, aunque pensemos la capacidad de instituciones, agentes y regulaciones como omnipotentes e irrefutables. Pero en ambos casos, y en todas las posibilidades intermedias, preguntando siempre por las relaciones de poder involucradas, que es la pregunta crucial de las ciencias sociales latinoamericanas” (Alabarces y Garriga Zucal, 2014: 328-330; Alabarces, Pablo, 2011: 25-26/36-37). Marchi lo reitera, la sociología del deporte en América Latina se ha desarrollado en “tres fases principales. En primer lugar, durante los años 1980, hubo discusiones de los aspectos sociales de opresión del deporte sobre la base de la teoría crítica. En segundo lugar, los estudiosos se centraron en los aspectos estéticos de los deportes y su práctica. En la tercera etapa, los estudiosos han ampliado la sociología del deporte mediante la reconstrucción de su legitimidad mediante un mayor análisis interseccional que une el conocimiento y la comprensión a través de las ciencias sociales y humanas.” (Marchi, 2015: 533) 187
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honestidad del Presidente de la FIFA, al sospecharse que participó en una trampa legal, en 2006, cuando era Director de Servicios Legales de la UEFA (FIFA de Europa): firmó un contrato de venta de los derechos de TV de la UEFA Champions League en 2006/7 y 2008/9, con Cross Trading (compañía offshore registrada en la pequeña isla de Niue, Océano Pacífico Sur, propiedad del padre e hijo Hugo y Mariano Jinkis, acusados de soborno y corrupción por EEUU en el escándalo FIFA 2015), empresa que los compró por 111.000 US$ e inmediatamente vendió por -casi el triple- 311.170 US$ a la televisora ecuatoriana Teleamazonas; Cross Trading también pagó 28.000 US$ por los derechos de la Supercopa de Europa y los vendió a Teleamazonas por 126.200 US$, y tiene vínculos con Juan Pedro Damiani, miembro del Comité de Ética de la FIFA que está bajo investigación interna. Inicialmente la UEFA negó la negociación, , pero, en abril 2016 le dijo a la BBC que los derechos de TV se venden al mejor postor en una licitación abierta y y competitiva. Una fuente de alto nivel de la FIFA informó a la BBC que el acuerdo de 2006 firmado por el actual presidente Infantino, deberá ser examinado por el Comité de Ética (BBCMUNDO: 22-06-16; Altuve, 2016: 14).
A continuación revisemos con más detalle los casos de Venezuela y Brasil. Venezuela 1999-201618: Gobiernos de Hugo Chávez- Nicolás Maduro Se define la inserción de la política pública deportiva en el proyecto de socialismo del siglo XXI del Estado: la actividad física, el deporte y la recreación fomentan ideas y prácticas que constituyen una fuerza cultural, social y política extraordinaria para avanzar hacia el socialismo. Concretan y alimentan directrices establecidas en el Proyecto Nacional “Simón Bolívar”, en el Primer (2007-2013) y Segundo (2013-2019) Planes Socialistas y recogidas en el Plan Nacional de Deporte, Actividad Física y Educación Física 2013- 2025: “Nueva Ética Socialista: La plena realización del socialismo del Siglo XXI supone un proyecto ético y moral socialista bolivariano, centrado en la configuración de una conciencia revolucionaria…, que busca afianzar valores inalienables que deben estar presentes en nuestra vida cotidiana: amor, amar al prójimo…; corresponsabilidad moral…; ser social colectivo, …la conciencia de que el ser humano solo puede realizarse en los otros seres humanos, de aquí nace el sentimiento de solidaridad, de desprendimiento personal…; supremo valor de la vida…; valor del trabajo creador y productivo… La ética en el fondo trata de la vida humana y busca esa fuerza creadora que nos haga sentir personas con dignidad…. El Proyecto Ético Socialista Bolivariano debe llevarnos a la construcción del hombre nuevo del Siglo XXI…. Suprema Felicidad Social: El socialismo significa la construcción de una estructura social incluyente, un nuevo modelo social, productivo, humanista y endógeno. Su fin último es la suprema felicidad para cada ciudadano. La base de este objetivo fundamental descansará en los caminos de la justicia social, la equidad y la solidaridad entre los seres humanos y las instituciones de la República (Altuve 2012: 17-18).
Concibiendo el “...Presupuesto como el programa de gastos, plan de acción político y administrativo, expresado en términos financieros, de que se vale una organización para llevar a cabo su acción de gobierno. El presupuesto es el instrumento económico de que se vale la Planificación para alcanzar sus metas físicas: 18
Basado en Altuve: 2011, 2012 y 2016.
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actividades, obras o servicios. En efecto, el presupuesto es un verdadero plan de acción político y administrativo. Los egresos previstos señalan las metas que aquél se propone alcanzar. Allí están sus prioridades. La asignación de recursos también está allí. Ellos reflejan con fidelidad, más que cualquier retórica, la orientación ideológica del gobierno. La ideología dice lo qué hay que hacer y para quién hay qué hacer desde el poder, y estas determinaciones se concretan, de manera importante, en el presupuesto del Estado. Por tanto, él es la expresión fidedigna de la orientación ideológica del gobierno” (Prieto 2007: 201).
Y teniendo en cuenta que la inversión del Estado durante 1999-2013, realizada por sus dos organismos principales nacionales (Ministerio del Poder Popular para el Deporte o MPPD e Instituto Nacional de Deportes o IND), fue de al menos 3.602.026.152 US$, debemos destacar que el Programa Deporte de Rendimiento es el centro o fundamento de la política pública deportiva porque: 1) Entre 1999-2006 concentró el 45,32% del presupuesto. Su importancia aumenta al considerar el resto de la distribución: 37,82% en la administración y 7,32% se distribuyó entre los Programas Deporte para Todos y Educación Física y Deporte Escolar; y casi todo el 9,51% asignado al Programa de Instalaciones Deportivas fue para infraestructura de Alto Rendimiento (Juegos Deportivos Juveniles 2005 y en 2006 para estadios y demás obras de la Copa América 2007). 2) Promediando el presupuesto del MPPD e IND en 2010, 2011 y 2013, la asignación al Deporte de Rendimiento fue de 66,58%, 6,87% se asignó a los Programas Administrativo y de Gestión, quedando el 26,55% para los demás Programas. La política pública deportiva
venezolana
tiene una fundamentación teórico-
conceptual coherente con la orientación presupuestaria y con la auto-evaluación estatal: el presupuesto está concentrado en el deporte de rendimiento, dirigido a producir campeones y organizar-participar en eventos. Y la masificacióndemocratización deportiva está concebida, principalmente, para alimentar al deporte de rendimiento. Y según el Estado, ha sido muy exitosa porque se han obtenido históricamente- los mejores resultados en importantes competencias, se ha participado en eventos de dimensión continental y mundial, se han organizado exitosamente eventos nacionales e internacionales y se ha profundizado la masificación-democratización deportiva. Llama poderosamente la atención que en la política pública deportiva venezolana, la única referencia -al menos en términos explícitos- del Estado sobre el deporte mundial hoy, es que se realizará “una gestión de calidad, a tono con las tendencias 189
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mundiales del sector”, planteamiento reiterado en la Visión del Ministerio del Poder Popular para el Deporte (MPPD). La ausencia de tratamiento estatal a la temática del deporte en la globalización adquiere importancia cardinal porque uno los principios fundamentales de la política pública deportiva es convertirse en una fuerza para avanzar al socialismo sustentada en valores y conductas como justicia social, equidad, solidaridad, amor, corresponsabilidad moral, ser social colectivo, supremo valor de la vida, trabajo creador y productivo ¿Cómo puede alcanzarse y cultivarse este principio si la política pública deportiva se inscribe, está en función y gira en torno al deporte mundial globalizado que funciona-acciona y cultiva valores y conductas totalmente contrarios? Imposible alcanzarlo y cultivarlo. Brasil 2003-2016: Gobiernos de Lula Da Silva-Dilma Rouseff (2003- agosto2016) Consideremos los planes-proyectos de las Secretarías del Ministerio del Deporte Secretaría Nacional de Deporte de Alto Rendimiento-Ministerio del Deporte de Brasil
1) Plan Brasil Medallas 2016: Iniciado el 13-09-2012 por la presidenta Dilma Rousseff, “Es un plan de inversión adicional de R$ 1.000 millones entre 2013-2016 en deporte de alto rendimiento para lograr que Brasil -por primera vez en la historia-clasifique entre los 10 primeros lugares de los JO y entre los 5 mejores de los Juegos Paralímpicos. De ese financiamiento R$ 328 millones se destina a apoyar las selecciones de atletas por diversas vías, entre ellas la Bolsa Pòdio (creada por la Ley 12.395/2011), contratación de técnicos y equipos multidisciplinarios, compra de equipos y materiales y viajes para entrenamiento y competiciones, y R$452, 2 millones están siendo utilizados en construcción, reforma y equipamiento de centros de entrenamiento de varias modalidades y complejos multideportivos. Las empresas estatales Banco do Brasil, Caixa Económica Federal, Petrobras, Correos, BNDES y Banco do Nordeste, forman parte e invertirán en el Plan Brasil Medallas” (MD: 17-09-16).
2) Centro de Iniciación del Deporte: Su objetivo es ampliar la oferta de “infraestructura y equipamiento público deportivo…, incentivando la iniciación deportiva en territorios de alta vulnerabilidad social de las ciudades…integra en un mismo espacio…actividades y práctica de
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deportes orientados al deporte de alto rendimiento, estimulando la formación de atletas entre niños y adolescentes”. El…financiamiento previsto es de más de R$ 839,3 millones” (MD: 17-09-16).
3) Red Nacional de Tratamiento: Partiendo del legado de infraestructura de los JO 2016
“Pretende articular las instalaciones. Su objetivo es crear un camino para el atleta desde su entrada hasta el alto rendimiento. Por eso, las instalaciones tienen papeles distintos en la Red, desde aquellas para descubrir talento, las que garantizan la formación de base, hasta las especializadas para atletas de las selecciones nacionales. La inversión sobrepasa los R$ 3.000 millones” (MD: 17-09-16).
4) Bolsa Atleta: Mecanismo de apoyo económico al atleta de alto rendimiento, fue creado en 2005. Al cumplir 10 años en 2015 esto fue lo que dijo la Presidenta Dilma Rouseff:
“eran 975 bolsas en 2005 y 6.093 en 2.015. Son 43 mil bolsas en 10 años. Con mucho ánimo pretendemos avanzar para asegurar que el mayor legado de las Olimpíadas y Paralimpíadas, es la formación de atletas de alto rendimiento y de masificación de todos los deportes” (MD: 17-09-16).
5) Responsabilidades en los Juegos Olímpicos y Paralímpicos Río 2016
6) Juegos Escolares: Con 41 años de incentivo a la práctica deportiva en escuelas, su objetivo es estimular el espíritu deportivo y difundir valores del deporte entre jóvenes. (MD: 17-09-16).
Secretaría Nacional de Deporte, Educación, Ocio e Inclusión Social-Ministerio del Deporte de Brasil
Su finalidad es realizar y apoyar competiciones y eventos de deporte y ocio, actividades que contribuyan a acceder al deporte a la población de todas las edades, estructurar la política de deporte estudiantil articulada con acciones orientadas a la iniciación y formación deportiva y competencias deportivas, ligadas al estudio de la práctica del deporte y ocio.
1) Segundo Tiempo: Su objetivo es democratizar la práctica y cultura del deporte para “promover el desenvolvimiento…de niños, adolescentes y jóvenes, como factor de formación de ciudadanía y mejora de calidad de vida, prioritariamente en áreas sociales vulnerables” (MD: 17-09-16). 191
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2) Deporte en la Escuela: Creado por la integración de Segundo Tiempo con Más Educación del Ministerio de Educación, duplicó la atención anual de Segundo Tiempo a más de 5 millones de beneficiados profundizando la democracia en el deporte. La formación en la escuela alimenta la base deportiva, detecta talento y es proveedor de atletas a desarrollarse en los escalones del alto rendimiento: Escuela-MunicipalEstado-Regional-Nacional y modalidades Olímpico y Paralímpico (MD: 17-09-16).
3) Deporte y Ocio (PELC): Creado en 2003, cumplió 13 años en 2016 y proporciona
“práctica de actividades físicas, culturales y de ocio para todos los grupos etarios y personas portadoras de deficiencias, estimula la convivencia social, la formación de gestores y líderes comunitarios, favorece la investigación y socialización del conocimiento, contribuyendo para que el deporte y ocio sean…políticas al servicio de todos…Actualmente tiene dos Núcleos: Urbanos y para Pueblos y Comunidades Tradicionales (…pueblos indígenas, quilombolas, populares, ribereñas, entre otras)…En 2012 el Núcleo de Vida Saludable del PELC fue reconocido como un importante Programa Social” (MD: 17-09-16).
4) Competiciones y Eventos de Deporte y Ocio: Desafíos para democratizar el deporte:
“Asegurar prácticas deportivas y de ocio con acciones diferenciadas para públicos específicos…Ampliar el acceso al deporte y ocio, a través de programas de inclusión social…Expandir y modernizar los espacios públicos deportivos…Estructurar un sistema de competiciones estudiantiles…Promover competiciones y eventos deportivos que motiven a la práctica deportiva regular…Contribuir a mejorar la calidad de vida, promoviendo ejercicio de ciudadanía y desenvolvimiento social” (MD: 17-09-16).
5) Juegos de Pueblos Indígenas: Se realizaron en 2013 (la primera edición fue en 1996) y
su objetivo es la integración de las diferentes tribus, así como el rescate de las
celebraciones de las culturas tradicionales (MD: 17-09-16)
6) RED CEDES: Creada en 2003, está orientada al fomento de la investigación integrada
“al Programa Brasil Potencia Deportiva Estudios e investigaciones científicas y tecnológicas para el desenvolvimento del deporte. El Ministerio de Deporte en 2013 firmó un convenio con el Consejo Nacional de Investigación Científica y Tecnológica (CNPq)… En 2014 se invitó a investigadores para financiarles proyectos y el resultado de esta iniciativa sería la realización de 3 periódicos, 4 libros y 9 eventos científicos” (MD: 17-09-16).
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Secretaría Nacional de Fútbol y Defensa de los Derechos de los Fanáticos-Ministerio del Deporte Brasil
1) Legislación 2) Fútbol Femenino: Con el apoyo del Ministerio del Deporte empezó a desarrollarse “en diciembre 2011…y febrero 2012…El Ministerio ha facilitado la realización de tres Copas Libertadores: 2012 Pernambuco, 2013 Foz do Iguaçu (PR) y 2014 Sao José dos Campos (SP)…El Campeonato Brasileño en 2013…fue patrocinado con R$ 10 millones de la Caja Económica Federal y el apoyo del Ministerio… En 2014, 2015 y 2016 se repitió el incentivo, con la misma cantidad anual…El Ministerio…también…invierte en…campeonatos escolares de menores de 17 años y de la Universidad de Brasil Copa CBUFF: la primera CBUFF 2014 tuvo una inversión del Gobierno Federal de más de R $ 2 millones y en 2015 R $ 2.475 millones. El Ministerio beneficia a 137 atletas a través del programa Bolsa Atleta, con una inversión anual de R$ 2.52 millones y 22 de la selección se benefician de los premios del Plan Brasil...El Ministerio aprobó -a través de la Ley de Incentivo al Deporte- el proyecto para la construcción del Centro de Excelencia de Fútbol en Foz do Iguaçu (PR)…sede de los equipos de formación y selecciones” (MD: 17-09-16).
3) Torcida Legal: Pretende mejorar las condiciones de seguridad y confort del público en los estadios de fútbol y prevenir la violencia en los espectáculos deportivos (MD:1709-16).
4) Gobierno de la Copa 2014 5) Estadio: Obtener información sobre los estadios de fútbol para mantener vigentes sus requisitos exigidos por el Sistema Brasileño de Clasificación de Estadios (MD: 1709-16). Otros programas, proyectos y acciones del Ministerio del Deporte de Brasil son: Artículos Deportivos City, Plaza de la Juventud, Voluntarios Brasil y la Ley de Incentivo al Deporte que desde su “implementación en 2007…destinó más de R$ 869 millones para…proyectos aplicados al deporte como recreación, instrumento de educación y alto rendimiento. Establece que personas físicas y jurídicas tienen derecho a incentivar proyectos deportivos…por medio de donaciones o patrocinios…Las personas 193
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jurídicas tributadas con base en el lucro real son empresas…multinacionales y conglomerados de los sectores bancario, industrial, de transporte aéreo y de telecomunicaciones, entre otros.” (MD: 17-0916).
Una vez revisad la síntesis de los programas-proyectos de Brasil, llama poderosamente la atención la semejanza en la columna vertebral de la política pública venezolana y brasileña: se concentra en pretender alcanzar destacadas actuaciones en las más importantes competencias internacionales y organizar-participar en eventos mundiales,
siendo
la
masificación-democratización
deportiva
un
elemento
fundamental para el desarrollo del deporte de rendimiento que se traduzca en victorias a nivel internacional. Se reconoce, acepta y asume el carácter intrínsecamente positivo
del deporte;
no se critican las significaciones, ideas,
conductas y valores capitalistas que tiene como empresa transnacional que es; y se asume como transformación revolucionaria fundamental o cambio social significativo intentar convertir al país en una potencia deportiva, ganador en las principales competencias y organizador-participante de y en eventos deportivos internacionales. La academia y los políticos-gobiernos de izquierda no debaten sobre el carácter estructural del deporte, con respecto a quienes ejercen y detentan el poder y usufructúan los principales beneficios competitivos y económicos producidos (relaciones de poder), los intereses sociales involucrados (carácter de clase), etc.., no le hacen serios cuestionamientos al deporte porque están anclados en la concepción positivista burguesa. No critican teórica-conceptual, concreta y estructuralmente la orientación, lógica, dinámica de funcionamiento y esencia del espectáculo deportivo. No se cuestiona la esencia del deporte convertido en Empresa Transnacional Atípica de Espectáculo y Entretenimiento (EDTEE) y, obviamente, tampoco se plantea su superación en términos estructurales, ni siquiera es considerada -al menos- como posibilidad de análisis. Por eso políticos y académicos prácticamente han ignorado al Mundial 2014 y los Juegos Olímpicos (JO) 2016 en los análisis sobre el golpe de Estado “suave o blando” en Brasil. Y también por eso el PT con Lula y Dilma -coincidiendo con Chàvez y Maduro en Venezuela, pero, en mayor escala- se plantearon como objetivos fundamentales de su política pública deportiva alcanzar macro resultados en las competencias (entre los 10 194
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primeros en los JO, por ejemplo) y realizar de manera seguida, inmediata, los dos espectáculos mundiales más costosos, complejos e importantes económica y mediáticamente, obtener estos éxitos ratificaba la condición de gran potencia de Brasil, su entrada completa y definitiva al club de las superpotencias, haría indestructible la unidad nacional y llevaría a la cúspide política a sus impulsores. Y colocaron como punto de honor y a cualquier precio -independientemente de la difícil situación económica que empezó a vivirse en plenos preparativos -garantizar la realización del Mundial y los JO tal y como lo establecieron la FIFA y el COI, concediendo privilegios, prebendas y competencias a la FIFA y al COI que afectaban negativamente al país, a la población e incluso atentaban contra la soberanía nacional y derechos humanos; ante las insólitas, inéditas y multitudinarias protestas populares con demandas de mejoras sociales y contra el Mundial, respondieron, respondieron con una buena dosis de violencia física directa. El PT, Lula y Dilma -porque son positivistas en el deporte y no vieron ni trataron las relaciones de clase y de poder- no contaron con que las presiones y exigencias de privilegios de todo tipo por parte de la FIFA y sus Socios (y del COI y sus Socios) externos e internos, serían mantenidas sin ninguna contemplación ni consideración con la situación económica difícil que atravesaba el país. Cumplir a toda costa con esas exigencias contribuyó sustancialmente a colocar paulatinamente al gobierno a espaldas de sectores importantes del pueblo, que no podían aceptar ni entender el cumplimiento total con la FIFA-COI y sus Socios cuando escaseaban los ingresos fiscales, y sumidos en una gran corrupción de empresarios y políticos en la refacción y construcción de las obras para el Mundial y los JO. Todo ello fue aprovechado y canalizado por la alta burguesía brasileña que con el apoyo del capital transnacional y con sus medios de comunicación a la cabeza, adelantaron el proceso que llevó a la destitución de Dilma.
CONCLUSIÒN FINAL
En medio de una bonanza económica y favorables condiciones políticas nacionales e internacionales, el PT y Lula Da Silva imbuidos de la concepción positivista, la visión burguesa del deporte, promovieron el Mundial de Fútbol y los JO difundiendo 195
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intensiva y extensivamente la ideología deportiva globalizadora, logrando consenso social absoluto y total. Inclusive, contaron con el apoyo de los sectores de las clases dominantes más reaccionarios asociados al gran capital transnacional, a quienes no le fueron afectados sustancialmente de manera negativa sus intereses por las políticas económicas gubernamentales, pero, veían como potencial peligro para sus intereses entre otras cosas- la política social y exterior del gobierno, y en definitiva, querían volver al poder para implantar su propio proyecto político, aún cuando entendieron ese no era el momento y decidieron esperar para actuar. Simultáneamente se deteriora la situación económica -con la caída de los precios de las materias primas exportables que produce una abrupta disminución de los ingresosque afecta negativamente a la población y avanza la preparación del Mundial de Fútbol 2014 que agrava el problema de la vivienda con las reconversiones urbanísticas y la especulación inmobiliaria sin precedentes producidas al institucionalizar-legalizar la violenta-represiva política de desalojos y despeje de espacios requeridos para completar las obras de infraestructura necesarias, refaccionadas y/o construidas incurriendo en una gran corrupción político-empresarial que elevó los costos y aumento la inversión del Estado en el Mundial. La desfavorable situación de sectores importantes de la población atribuida a razones económicas, se acrecienta de manera irreversible y constante como consecuencia del avance de los preparativos del Mundial 2014: la esperanza e ilusión de progreso y ventajas económicas
a crearse con la inversión privada se fue
desvaneciendo, al final sólo fue del 1% del costo total del evento; al mismo tiempo se evidenciaba que las prebendas, privilegios y competencias otorgadas a la FIFA y sus Socios (empresas transnacionales patrocinantes), sustentados legalmente, se traducirían en menos ingresos para el Estado e incluso hasta constituyeron violaciones a la soberanía nacional. Resultaba incomprensible y molestaba ostensiblemente que ante el aumento e intensificación de problemas cotidianos por limitados recursos estatales, el gobierno tuviera que dedicar ingresos cada vez más escasos (por la caída de los precios de los productos de
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de exportación) a garantizar el Mundial beneficiando principalmente a la FIFA y sus socios transnacionales y nacionales, empresarios constructores corruptos asociados con políticos sobornados, etc. Y teniendo como detonante el aumento de las tarifas de transporte, se produjeron las inéditas, insólitas y multitudinarias protestas en 2013 que articularon exigencias de solución de necesidades básicas y severos cuestionamientos a la realización del Mundial, a su simbología y a la FIFA. La aprobación del primer gobierno de Dilma Rouseff cayó a la mitad. Con una estrecha victoria en octubre 2014, Dilma Rouseff debilitada políticamente comienza su nuevo período, designa un Ministro de Hacienda proveniente de la banca privada para adelantar un programa económico de ribetes neoliberales que produce enojo, desilusión y pérdida de credibilidad entre la población que la apoyó porque considera que cumplió el programa de gobierno de sus adversarios de campaña. La situación ahora es mucho más difícil, la crisis económica se ha agravado y el debilitamiento del gobierno es mucho mayor y
sigue con los preparativos de
los
Juegos Olímpicos (JO) signados por la continuidad en los violentos desalojos, corrupción político-empresarial en las obras, ausencia de efectos económicos positivos significativos, prebendas y privilegios diversos para el COI y sus Socios, y aumento de la inversión estatal. Colapsada la ideología deportiva globalizadora basada en la concepción positivista del deporte manejada por el PT primero con Lula y luego con Dilma e intensificada la crisis económica y a flor de piel el descontento y enojo de sectores importantes de la población, la derecha más oscura considerò que era el momento de pasar a la ofensiva final y y obtiene un éxito rotundo al destituir a Dilma y asumir el gobierno en agosto 2016. Es importante destacar que el PT, Lula y Dilma estaban convencidos de las verdades positivistas sobre el deporte, siguieron adelante y hasta el final sin cortapisas con el mismo libreto y concepción que definieron desde que promovieron la candidatura y Brasil ganó la sede de los 2 eventos. Y no podía ser de otra forma, la única manera de poder empezar a vislumbrar otro tipo de conducta y accionar político con respecto al deporte desde otra perspectiva teórico-conceptual, particularmente creemos de
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aquella que parte de concebirlo desde el carácter de clase que tiene y considera que la concepción positivista responde a los intereses de la burguesìa. Siendo cierto que “el fútbol…fue un operador del descontento”, el asunto es mucho más profundo y complejo. Los problemas económicos permitieron facilitar a la población la comprensión o debelar la realidad de los dos eventos deportivos que la afectaba negativamente, al mismo tiempo dichos eventos actuaron como referencias o catalizadores para hacer exigencias económicas-sociales y fueron fuente de descontento y enojo que se tradujo en debilitamiento político gubernamental. Dicho de otra manera, la situación económica creó condiciones favorables para el cuestionamiento del Mundial y los JO, que al hacerse justificó la exigencia de reivindicaciones económico-sociales y aumentó la presión política sobre el gobierno. Esto no podían leerlo el PT, Lula y Dilma desde su concepción positivista y por eso nunca cambiaron su posición sobre los eventos. Finalmente, consideramos muy pertinentes, vigentes, las reflexiones de Boaventura De Sousa Santos del 01-01-2016: “prestar especial atención a algunas señales del presente para ver en ellas tendencias, embriones de lo que puede ser decisivo en el futuro…Si algo se puede afirmar con alguna certeza acerca de las dificultades que están pasando las fuerzas progresistas en América Latina, es que tales dificultades se asientan en el hecho de que sus gobiernos no enfrentaron ni la cuestión de la Constitución ni la de la hegemonía…Por eso es necesario que las izquierdas sepan tener miedo sin tener miedo del miedo. Sepan sustraer semillas de esperanza a la trituradora neoliberal y plantarlas en terrenos fértiles donde cada vez más ciudadanos sientan que pueden vivir bien, protegidos, tanto del infierno del caos inminente, como del paraíso de las sirenas del consumo obsesivo. Para que esto ocurra, la condición mínima es que las izquierdas permanezcan firmes en dos luchas fundamentales: la Constitución y la hegemonía (De Sousa Santos, 2016: 205/209/211-212). Reiteramos, una lucha fundamental de las izquierdas en la que deben permanecer firmes es en la hegemonía. Y el deporte es un territorio para disputa de la hegemonía. Puede avanzarse en esta dirección con el debate sobre ¿Otro deporte es posible?, que es motivo de otro trabajo.
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LA HERENCIA EN LA CULTURA DOMINICANA Jose Francisco Jimenez S.
A raíz de la conquista de América hubo un proceso de colonización en la historia dominicana que se manifestó dentro de un patrón eminentemente prejuiciado, primero con la desindianización de la cultura aborigen, después contra el negro africano, dos etnias marginadas por una discriminación racial que ocultaba otra más poderosa, la social. También una transculturación europea para establecer la cultura europea occidental mediante la implantación de la lengua o el idioma y las demás expresiones socio- culturales de los españoles conquistadores. En este proceso se desató una opresión esclavista, que explotó a la población nativa y también a la negra. Y así modificó su estilo de vida e impuso un nuevo orden para lo cual utilizó el empleo desgraciado del látigo, la tortura y la horca. Fruto de ello, crecieron la rebeliones y alzamientos de los indios y los negros, quienes se vieron forzados a la huida hacia los montes para escapar a un lugar donde se vieran libres de opresión y castigo. En su escondite floreció la llamada cultura cimarrona como expresión de una resistencia a los nuevos valores establecidos por los españoles y como ratificación de
Animador Socio-cultural | http://josefj.blogspot.com 206
“Práticas de Animação”
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los valores propios, salvaguardando así su cultura, sus rasgos entrañables de su hacer y sentir. En suma, sus valores, su libertad e integridad. Constituyendose el cimarronaje, sobre todo en el siglo XVI, en un vehículo que sirvió de encuentro de tres culturas diferentes: la india, la africana y la española. Esas tres culturas se conjugaron para formar una nueva e idéntica: la cultura cimarrona. Entonces el cimarronaje no fue solo una vía de escape, sino una forma de rebelión, y por consecuencia de subsistencia, de libertad y conservación de los rasgos distintivos culturales propios. La intensa relación o contacto de los españoles y negros esclavos con nuestros primeros pobladores los indios tainos no duro en nuestra isla mas de 50 años. Lo que significó que su impacto fuera limitado en la cultura indígena. Dentro de una dimensión justa y apropiada, lo indígena no debe de exagerarse en nuestra cultura, pues factores de orden genéticos explican el mayor peso de la cultura europea y africana en el surgimiento de la nuestra. Lo que si es justo señalar es lo sorprendente de la persistencia de ciertas herencias culturales indígenas, a pesar del corto tiempo de contacto. Empero es en el campo económico donde puede advertirse un continuo impacto de la cultura aborigen a través del tiempo, impacto que ha ido perdiendo importancia. Así vemos como la cultura aborigen nos legó como herencia la producción artesanal de confección manual y de escaso desarrollo tecnológico, también el conuco, que se caracteriza por el cultivo simultaneo de varios productos en una misma zona, el uso del casabe, alimento duradero que significó la salvación de los españoles en su regreso a su viejo continente, pues estos carecían de alimentos duraderos, así como el uso de nuevo sistema de pesca con nasa y corrales etc. Es indiscutible que la yuca y su industrialización vía el casabe representan el aporte más importante de la agricultura taina a la dieta dominicana hasta nuestros dias. Sin dudas, los mecanismos de subsistencia traídos por el español fracasaron parcialmente y fueron los métodos indígenas los que permitieron que los primeros hispanos adoptaran formas desconocidas en España, como las antes mencionadas. Esto demostró que a diferencia de lo que creían los españoles, los indios tenían su cultura que se expresaba en la preparación de sus alimentos, en su religión, en sus artes y en todo un mundo que era producto de su trabajo frente a la naturaleza. 207
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La cultura dominicana es un mosaico de influencias de otras culturas, por ejemplo el impacto sobre las artes y las letras dominicanas sobre temas indigenistas es significativo, basta con mencionar a Manuel de Jesús Galván y su novela “Enrriquillo”, Javier AnguloGuridi y su obra teatral “Iguaniona”, José Joaquín Pérez y su poema”Fantasías indígenas”,y en nuestro siglo Juan Bosch, Fernández Simó y Marcio Veloz Maggiolo, con cuentos y novelas. También, en el campo de la música y la pintura su influencia ha sido limitada, empero conservamos como herencias marginales, la maraca, el guiro y el fututo de lamí, así como pinturas, escultura y artesanías etc. Además la herencia taina en el campo de la medicina popular, indudablemente ha sido poco estudiada. Mas en la tradición oral a pesar del tiempo persisten en los dominicanos, leyendas de la Ciguapa, la Jupia y la India del charco, todos ligados a nuestros primeros pobladores, el indio taino, igual que las creencias mágico- religiosas. Nosotros pensamos junto a otros autores que el sentimiento de hispanidad en el dominicano ha sido mayor que las percepción real de la raza que somos. A sabiendas “ que los grupos étnicos que proporcionaron el mayor caudal de rasgos y complejo, a la cultura nacional, son el español y el africano, con una evidente e indiscutible prevalencia del primero sobre el segundo a pesar de la opinión de algunos sociólogos e historiadores cuya posición anti- española los lleva a menospreciar la preponderancia hispánica para encumbrar las influencias ejercidas por los esclavos de distintas naciones africanas”. Los españoles buscaron implantar su forma de vida y los caracteres que habían alcanzado por siglos, en ese sentido el profesor Juan Bosch nos dice que “ España nos trasmitió todo lo que tenia: su lengua, su arquitectura, su religión, su manera de vestir y de comer, su arte militar y sus instituciones jurídicas y civiles, los ganados y hasta los perros y las gallinas”. Entonces España trajo a Santo Domingo el mayor caudal de sus valores culturales. La historia dominicana nos ofrece varios momentos de reconexión con la cultura española, la herencia es múltiple en nuestra cultura de hoy, pero donde va a desempeñar el papel máximo es en la poesía popular dominicana como instrumento expresivo y comunicativo, al decir del Dr. Bruno Rosario Candelier “ con la llegada de
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los españoles, llegaron al país romances y cantares del folclore español junto con otras manifestaciones de la cultura hispana”. Así mismo el reencuentro con altos valores de la hispanidad, habremos también de experimentarlo los dominicanos, al entrar en contacto con los grupos españoles que emigraron a raíz del triunfo del Franquismo en España y le facilitaron una nueva dimensión a nuestra sociedad tradicional. Esa emigración resulto ser altamente provechosa, pues los resultados podemos buscarlo en la formación educativa de la generación nacida durante la guerra civil española 1939. La presencia Africana en la cultura dominicana se ha dicho que es periférica y aunque sin dudas existieron y existen elementos culturales de influencia africana muchos autores hispanófilos se niegan ha admitir. El negro africano llego a América en calidad y/o condición de esclavo y fue precisamente él, quien les brindo al español conquistador, con su trabajo gratuito, las riquezas del continente descubierto. Este fue traído y trasplantado a un hábitat, integrado a una sociedad distinta a la suya y en la que se encontraba en un estado de absoluta subordinación y opresión económica y social, viendo así el negro africano destruida su organización tribal y política, y sus patrones culturales originales. Ahora bien, este lejos de aceptar pasivamente que se le despojara de su cultura, luchó con enconado esfuerzo y por diversos medios, para preservar inmovibles sus patrones culturales, asumiendo una conducta de resistencia activa mediante la rebelión y la practica del cimarronaje. Conviene puntualizar que el dueño de esclavos ni las autoridades hicieron gran esfuerzos por demoler hasta su total extinción los valores culturales del negro, solo lo consideraban como factor de producción. Pienso que la mayor influencia africana en nuestra cultura la podemos encontrar en la música y el baile. La música y danza dominicanas han visto en ellas supervivencias africanas muy arraigadas, aunque los ingredientes europeos que las acompañan permiten que las clasifiquen como neo-africanas. También, las creencias mágico- religiosas prevalecientes en las capas campesinas y populares dominicana. Así como un legado culinario propiamente africano a base de método de cocción, hervido, asado a fuego directo o cocinado al vapor etc. 209
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Entiendo que es harto conocido, que ni la cultura indígena, ni la española, ni la africana sobrevivieron enteras en Santo Domingo. Empero creo significativo que los diversos aspecto aquí antes señalados bastaran para probar lo relevante que fue la herencia indígena, española y africana en la cultura dominicana de hoy. Nos guste o no, estas condicionan nuestro comportamiento y nuestra visión del mundo. Y es así, como aun pasadas las modalidades culturales y desaparecidas de la superficie del tiempo, será evidente que siempre, para comprender que somos, porque somos, y donde estamos, tendremos primero que entender el pasado que parece frágil e indiferente. Es decir que la concepción de cultura como creación de un destino personal y colectivo han de apoyarse en el pasado, pero sobre todo construyendo el futuro.
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