EDUCAÇÃO POPULAR, ERGOLOGIA E SAÚDE DO TRABALHADOR: UM PROCESSO REFLEXIVO SOBRE O TRABALHO DE AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE EM JOÃO PESSOA-PB Islany Costa Alencar1; Pedro José Santos Carneiro Cruz2; Renan Soares de Araújo3 Desde a criação da Estratégia Saúde da Família, é crescente a problematização sobre o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS), uma vez que estes desempenham papel singular como elo de comunicação entre a Unidade de Saúde da Família (USF) e a comunidade, sendo sua atuação configurada como um dos fatores determinantes no processo de atuação centrada nas necessidades do território. Por sua vez, a Ergologia tem como objetivo produzir e dar visibilidade a conhecimentos sobre como as pessoas vivem e interagem em suas condições reais de trabalho, buscando estudar as situações de saúde com abordagem multidisciplinar, sobretudo na percepção dos próprios trabalhadores, de modo a refletirem suas atividades, enfocando problemáticas em um processo dinâmico e críticoreflexivo, que conduza a estratégias de melhoria e superação. Este trabalho debruça-se sobre um processo de construção de conhecimentos em saúde do trabalho de ACSs, com ênfase na Ergologia, tendo como ótica teórico-metodológica a Educação Popular, no contexto da experiência do Programa de Extensão Universitária “Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica (PINAB)”, envolvendo ACS’s de uma USF cujo território é próximo daquele onde este Programa atua. O PINAB é vinculado ao Departamento de Promoção da Saúde e de Nutrição da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e desenvolve suas ações desde o ano de 2007 no município de João Pessoa-PB. Vem atuando a partir de diferentes frentes, uma destas é o Grupo “Saúde do Trabalhador”. Através do Grupo, o PINAB pôde firmar parceria com o Projeto Vidas Paralelas Paraíba e o Programa Educação Popular e Saúde do Trabalhador da UFPB, a partir dos quais conheceu e se apropriou da abordagem ergológica. A ação realizada consistiu de uma pesquisa, que partiu de pressupostos teóricos como a Educação Popular, a qual tem como base o respeito pelas experiências anteriores dos sujeitos, a promoção da autonomia, a troca de conhecimentos e a construção de novos saberes de forma dialógica; e a Ergologia, que avalia o trabalho como atividade eminentemente humana, buscando melhor compreendê-la para traçar etapas adequadas de intervenção, a partir da reflexão dos próprios trabalhadores. Tal estudo possuiu como objetivo promover a percepção crítica dos ACS’s sobre seu cotidiano laboral, analisando questões emergentes de interface entre saúde e trabalho. Para efetivação das atividades, partimos da constituição de estratégias metodológicas que possibilitassem a participação ativa dos agentes, viabilizando formas coletivas de intervenção a partir da fala deles, elaborando proposições para construção de estratégias de superação. Foram realizadas observações participantes, onde acompanhamos os ACS’s em seu cenário de prática, observando fatores físicos, climáticos, ambientais e subjetivos. Buscamos visualizar questões cotidianas que pudessem trazer alguma 1 Graduada em Nutrição pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Mestranda em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB; Apoio pedagógico no Programa de Extensão Universitária Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica. 2 Graduado em Nutrição pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Mestre e Doutor em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da UFPB; Professor do Departamento de Promoção da Saúde do Centro de Ciências Médicas da UFPB; Coordenador do Programa de Extensão Universitária Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica. 3 Graduando do curso de Nutrição pela Universidade Federal da Paraíba; Extensionista bolsista do Programa de Extensão Universitária Práticas Integrais de Promoção da Saúde e Nutrição na Atenção Básica; E-mail: rsdahc@hotmail.com
espécie de dano para estes trabalhadores e a partir disto gerar temas a serem debatidos e refletidos nos Grupos de Encontro de Trabalho, através de rodas de conversa, criando espaços para a discussão e problematização de seu processo de trabalho, como a sociabilidade destes com os funcionários da USF e a interação com as pessoas da comunidade, não reduzindo os encontros a uma mera reunião, mas valorizando os problemas e propostas de transformação que fossem surgindo. Antes de cada encontro eram realizados planejamentos e nestes organizávamos perguntas condutoras e uma programação que permitisse que os ACS’s se sentissem a vontade para conversar sobre seu cotidiano. A partir dos encontros, foram detectadas como fragilidades: 1) a falta de reconhecimento por parte da gestão na realização de suas atribuições; 2) o excesso de responsabilidades que são depositados nestes, não sendo estes os únicos responsáveis pela vigilância à saúde e realização de outras ações, o que ocasiona estresse e sobrecarga; 3) a baixa remuneração, um dos motivos geradores de maior frustração na classe, o qual se soma a preocupação com o futuro, por isso muitos buscam formas de elevar a renda mensal, gerando bastante desgaste físico, por causa da dupla jornada de trabalho e/ou estudo; 4) o cumprimento de metas, as quais muitas vezes não são cabíveis as circunstâncias reais, dado a extensiva quantidade de ações que estes desempenham cotidianamente; e 5) as expectativas depositadas na realização de ações como, observar, identificar, ter iniciativa, ser difusor de conhecimentos, ser integrativo, produtivo, com uma postura profissional e equilibrada, dentre outras, que quando não são correspondidas satisfatoriamente, afetam diretamente o profissional. As descrições de vivências depressivas, angústia, frustração e desamparo de alguns companheiros foram recorrentes, visivelmente relacionadas ao fato do ACS se cobrar ostensivamente de modo a atender e superar as expectativas reais e as idealizadas. É notório, em alguns casos, que o ACS esgota suas habilidades na tentativa de lidar com o tempo e o excesso de tarefas, assim como com as críticas e com o desafio de preservar o espaço familiar e o tempo de descanso, tendo o sentimento de incompletude e a desqualificação de seu trabalho e com o sucessivo desgaste físico. Após a pesquisa, eles destacaram a importância de um espaço de cuidado próprio. Os mesmos se sensibilizaram em relação ao espaço do Cuidando do Cuidador, o qual muitos não valorizavam. A partir disto, o PINAB decidiu apoiar este processo, atuando juntamente no auxílio da construção e aproveitamento deste. Através das metodologias utilizadas, observouse a percepção dos ACS’s para a necessidade do cuidado, fazendo-os refletirem sobre o cuidado com eles e com os outros, despertando-os para uma postura mais proativa e participativa. Buscando formas para a integração e cuidado de si, como no espaço do Cuidando do Cuidador, preocupados também com seus colegas, partilhando o observado e refletido no desenvolver da pesquisa, possibilitando que reivindicassem a manutenção de espaços que fortaleçam seu trabalho. Concluiu-se que o diálogo e troca de conhecimentos propiciaram a construção de saberes propositivos para os participantes, a partir da reflexão e reconhecimento dos alcances e limites, desencadeando propostas para solução dos problemas. A utilização de metodologias participativas foi significante, dada à importância de viabilizar que os indivíduos presentes se envolvessem diretamente na construção da mesma, oportunizando que estes se tornassem protagônicos em todo seu processo. EIXO 1. METODOLOGIAS PARTICIPATIVAS NAS ÁREAS DA SAÚDE Palavras-chave: agentes comunitários de saúde; saúde do trabalhador; promoção da saúde.