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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
Catálogo dos trabalhos
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
ABAP – Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas
Catálogo dos trabalhos 4º Prêmio Rosa Kliass 2020
Gestão atual PRESIDÊNCIA
Luciana Bongiovanni Martins Schenk VICE-PRESIDÊNCIA E DIRETORIA FINANCEIRA
André Tostes Graziano DIRETORIA ADMINISTRATIVA
Alessandro Filla Rosaneli DIRETORIA DE RELAÇÕES INSTITUCIONAIS
Lucia Maria de Siqueira Cavalcanti Veras DIRETORIA CULTURAL
Camila Gomes Sant’Anna DIRETORIA DE COMUNICAÇÕES
Gabriel Valentini Francisqueti APOIO
Josiane Santos
Trabalhos apresentados nas escolas em 2019
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
4º Prêmio Rosa Kliass – Concurso Universitário Nacional de Paisagismo PRESIDENTE DA ABAP
Luciana Bongiovanni Martins Schenk COORDENAÇÃO DE COMUNICAÇÃO
Camila Gomes Sant’anna COORDENAÇÃO GERAL
Francine Sakata COMISSÃO ORGANIZADORA
Alessandro Filla Rosaneli André Graziano Camilla Sant´Anna Danielly Cozer Aliprandi Eduardo Barra Felipe Neres Francine Sakata Gabriel Francisqueti Graciete Guerra da Costa Ivete Farah Karenina Cardoso Matos Karin Schwabe Meneguetti Lana Jubé Letícia De Castro Gabriel Lúcia Helena Moura Ferreira Lúcia Veras Luciana Bongiovanni Martins Schenk Paulo Cássio Gonçalves Paulo Nobre Raquel Tardin Renata Benedetti Mello Nagy Ramos Suzy Pereira Simon
O 4º Prêmio Rosa Kliass, organizado pela ABAP – Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas, mais uma vez recebeu o apoio da comunidade acadêmica, dos profissionais da arquitetura paisagística, das entidades de classe, da mídia especializada e dos patrocinadores da associação, o que nos deixou imensamente satisfeitos. O prêmio tem foco no ensino mas, através do olhar dos alunos e de seus professores orientadores, ele acaba sendo também lugar de refletir sobre quem somos e o que desejamos para a paisagem como sociedade e um lugar privilegiado para experimentações da arquitetura paisagística. Este catálogo contém todos os trabalhos de graduação enviados em 2020 para a 4ª. Edição do prêmio, apresentados ao longo do ano de 2019. Cada escola de arquitetura podia indicar até dois trabalhos para representá-la. Desta maneira, a submissão ao concurso a partir da indicação da escola já uma deferência, um reconhecimento da qualidade da proposta. O objetivo dos catálogos do concurso é fazer o registro desta produção, valorizar o esforço empreendido em seu desenvolvimento e contribuir para o desenvolvimento de novos trabalhos de arquitetura paisagística, alimentando o contínuo avanço do conhecimento. O júri composto de professores de arquitetura paisagística em escolas de todo país selecionou os vencedores e as menções honrosas, por região. No julgamento, os trabalhos não são identificados e os jurados, agrupados por estados, nunca julgam trabalhos de sua própria região, como forma de garantir que não tenham envolvimento na sua produção. Os critérios da avaliação foram: (1) pertinência do tema, (2) partido, (3) grau de desenvolvimento, (4) inserção no contexto, (5) solução formal, (6) coerência entre ideia e resultado e (7) apresentação e comunicação. O concurso de 2020 recebeu um número recorde de 77 trabalhos sendo 16 da Região 1 (Norte e Centro-Oeste), 9 da Região 2 (Nordeste), 14 da Região 3 (Estados de MG, ES e RJ), 17 da Região 4 (Estado de São Paulo) e 21 da Região 5 (Sul). A cerimônia de divulgação dos resultados, que se realizou no dia 26 de novembro de 2020, dentro do XV ENEPEA – Encontro Nacional de Ensino de Paisagismo em Escolas de Arquitetura, foi realizada on-line. Este encontro seria presencial no primeiro semestre de 2020 em Campos dos Goytacazes (RJ) e não pôde acontecer por conta da pandemia de covid. Se por um lado os estudantes não puderam se reunir como em anos anteriores, por outro lado foi possível ter simultamente em uma mesma sala (virtual), pela primeira vez, todos os jurados, diretoria da Abap, alunos participantes premiados ou não, convidados e registrar tudo isto em gravação. No dia 03 de dezembro de 2020, foi a vez dos próprios premiados apresentarem seus trabalhos, em uma live promovida pela Abap, mediada por Fabio Robba e Sergio Lessa Ortiz. O texto a seguir, publicado originalmente na Revista Paraboloide, escrito a várias mãos, conta um pouco da história do Prêmio e da homenageada, a arquiteta paisagista Rosa Grena Kliass, fundadora da Abap, nossa referência, nosso norte.
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JURADOS DA REGIÃO 1: NORTE E CENTRO-OESTE
Camila Gomes Sant’Anna - UFG
Graciete Guerra da Costa - UFRR JURADOS DA REGIÃO 2: NORDESTE
Aline de Figueirôa Silva – UFBA Lúcia Veras – UFPE Karenina Cardoso Matos – UFPI
Gostaria de agradecer a diretoria da Abap, em especial à presidenta Luciana Schenk, pelo carinho e trabalho com os quais enfrenta o desafio de fazer frente à Associação; e a toda comissão organizadora. Agradecer a todo júri, ao Felipe Neres, nosso secretário e agora mestrando da FAUUSP, e à arquiteta Caroline Ribeiro, pela diagramação do catálogo que exige o manuseio de arquivos em PDFs nem sempre amigáveis. Também aos patrocinadores Ecosys e Editora Anap, convidados pela amiga Marta Enokibara. Fica registrado, por fim, o imenso esforço empreendido por Camila Sant´Anna, Gabriel Francischeti e Lucia Veras, na “organização da organização”. Camila Sant´Anna foi o motor que trouxe a comissão organizadora e julgadora para perto, conduziu reuniões e motivou a todos, ajudando a consolidar o prêmio no calendário das escolas.
JURADOS DA REGIÃO 3: ES, MG E RJ
Muito obrigada!
Ivete Farah - UFRJ
Francine Sakata
Eduardo Barra Núcleo Abap - RJ Vera Tângari - UFRJ JURADOS DA REGIÃO 4: SÃO PAULO
Leonardo Loyolla Coelho – Belas Artes e Escola da Cidade Marcela de Moraes Ocké Mussnich – SENAC-SP Marta Enokibara - Unesp-Bauru JURADOS DA REGIÃO 5: SUL
Larissa Carvalho Trindade Luis Guilherme Aita Pippi - UFSM Raquel Weiss SITE
Soleil Sistemas APOIO
Felipe Neres SECRETÁRIA
Josiane Santos ORGANIZAÇÃO DO EVENTO
Luciana Schenk FOTOS
Josiane Santos
2021
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CONCURSO ROSA KLIASS: O PRÊMIO DA ARQUITETURA DA PAISAGEM A formação de arquiteto paisagista no Brasil é originária da década de 30, na reforma que promoveu Lucio Costa na escola Nacional de Bellas Artes (Enba), entre 1930 – 1931, período sob sua direção. Entretanto, ainda em meados dos anos 1970, as disciplinas do então chamado Paisagismo não eram disciplinas obrigatórias em muitas Escolas de Arquitetura e Urbanismo, os livros traduzidos em português sobre o assunto eram poucos e a internet não existia. Como abordar e estudar aquele campo disciplinar que originalmente se chamou Landscape Architecture, ou Arquitetura da Paisagem? Nesse período Roberto Burle Marx possuía reconhecimento dentro e fora do Brasil, mas a formação que se tornaria atribuição profissional ainda estava sendo consolidada. Nesta década, 1976, foi criada a partir da iniciativa da arquiteta urbanista Rosa Grena Kliass a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap), que representou uma fundamental contribuição à formação e à profissão da arquitetura paisagística no Brasil. Alinhados com a valorização da profissão, a busca de redemocratização do país e a defesa da paisagem brasileira e do meio ambiente. Uma das missões da Abap é fomentar a discussão sobre a prática profissional e formação relacionada à construção de paisagens. Do planejamento ao projeto, e tendo como foco de trabalho os espaços livres, o arquiteto da paisagem desenvolve o desenho de ruas, avenidas, praças e parques em ambiente urbano. Equacionando questões de infraestrutura que relacionam natureza e sociedade, procura mitigar potenciais conflitos através da infraestrutura verde, promovendo lugares voltados ao lazer, encontro e descanso. O recorte de atuação do arquiteto da paisagem também contempla as escalas regionais buscando, através do desenho, promover o desenvolvimento econômico associado à preservação do meio ambiente e ao resgate de paisagens. O desafio da profissão e seu ensino está em relacionar técnica, estética e compromisso ambiental a um desenho que contemple informações objetivas e subjetivas dos diversos contextos e sociedades para as quais se planeja e projeta. A CONTRIBUIÇÃO DE ROSA GRENA KLIASS Rosa Grena Kliass é uma arquiteta urbanista que dedicou toda sua vida à “moldagem de uma profissão” e que assume no mundo um estratégico protagonismo. Há mais de meio século, ela vem mudando a paisagem das nossas cidades com qualidade e diversidade. É uma das profissionais contemporâneas mais importantes na área do projeto e do planejamento da paisagem. Rosa se formou em 1955 na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, onde também fez seu mestrado. Envolveu-se com o planejamento urbano e regional, sendo muitas vezes responsável por trazer uma abordagem integrada ao meio ambiente para o trabalho de planejamento: a paisagem e suas potencialidades se consolidavam como o motor de seu pensamento. O Plano para áreas verdes de São Paulo, desenvolvido em conjunto com Miranda Magnoli no final do século XX, propôs um sistema de parques lineares ao longo dos cursos d’água. Essa proposta pioneira, que estava à frente de seu tempo, reverberou por gerações de planejadores e, 30 anos depois, os parques lineares são consenso. Entre suas contribuições estão o projeto paisagístico da Avenida Paulista, São Paulo (1973), Parque
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4º Prêmio Rosa Kliass – Concurso Universitário Nacional de Paisagismo: Catálogo dos trabalhos apresentados em 2019 ORGANIZAÇÃO DO CATÁLOGO
Francine Gramacho Sakata Camila Sant’Anna Felipe Neres
do Abaeté, Salvador (1992), Reurbanização do Vale do Anhangabaú, São Paulo (1996), Parque das Esculturas, Salvador (1996), Estação das Docas, Belém (1998), Parque da Juventude, São Paulo (2003), o Mangal das Graças de Belém (2005), dentre outros. Em 2005, a Bienal de Arquitetura de São Paulo homenageou a arquiteta paisagista com uma sala especial acerca de seu percurso e projetos. Sua produção profissional e acadêmica também foi objeto de artigos, ensaios, dissertações de mestrado e teses de doutorado subsidiando a realização de dois livros: Desenhando Paisagens, moldando uma profissão e O livro da Rosa baseado em entrevistas gravadas pelas organizadoras, Lucia M. Sá Antunes Costa e Cecília Barbieri Gorski.
DIAGRAMAÇÃO
Caroline Ribeiro de Souza
Figuras 1 e 2. Foto da criação da Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas (Abap) e do Primeiro Encontro Nacional de Arquitetos Paisagistas, acervo ABAP
Sakata, Francine Gramacho (org.) 4º Prêmio Rosa Kliass – Concurso Universitário Nacional de Paisagismo: Catálogo dos trabalhos apresentados em 2019 / Francine Gramacho Sakata, Felipe Neres, Luciana Schenk, Camila Sant’Anna. -- São Paulo, 2021. 314 f. : il Catálogo -- Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas, 2021. 1. Arquitetura paisagística. 2. Concurso universitário.
Rosa Kliass é também uma profissional de destaque no cenário internacional. Desde o início da carreira, foi atuante dentro da International Federation of Landscapes Architects (IFLA), entidade que congrega arquitetos da paisagem do mundo todo. Foi também pioneira no enlace que une a Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas como representante oficial da profissão junto à IFLA, tendo sido uma das principais responsáveis pela realização do XVI World Congress da IFLA , em 1978 no Brasil (Figura 3). Na década de 1990, teve decisiva participação na promoção do primeiro Encontro Nacional de Ensino de Paisagem em Escolas de Arquitetura e Urbanismo no Brasil (Enepea), que em 2020 realizou sua 15 edição — o XV ENEPEA (https://enepea2020.wixsite.com/camposdosgoytacazes). Os Encontros têm um papel fundamental na promoção do ensino de Arquitetura da Paisagem no
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Brasil fomentando a troca de experiências, pesquisas e metodologias entre professores. Rosa Kliass defendeu a importância de uma formação sólida dos profissionais na área de Arquitetura da Paisagem, e seu exemplo profissional e criatividade tornaram as paisagens dos seis grandes biomas que compõem o território brasileiro mais visíveis. O nome ao Concurso Universitário Nacional de Arquitetura da Paisagem — Prêmio Rosa Grena Kliass é uma homenagem a seu protagonismo e papel pioneiro, inspirando e promovendo o aprendizado nessa área às futuras arquitetas e arquitetos urbanistas.
Figura 3. Foto do XVI IFLA WORLD CONGRESS 1978, acervo Abap.
Figura 4. Foto da Aula Magna “Rosa Kliass no Cerrado – Uma Trajetória” na Universidade de Brasília, foto: Dante Akira, 2016
O CONCURSO E SUA IMPORTÂNCIA PARA A FORMAÇÃO DO ARQUITETO PAISAGISTA Um concurso de arquitetura da paisagem no Brasil pretende despertar dentre as inúmeras possibilidades de atuação na área a relacionada ao campo de conhecimento da Paisagem, ampliando o interesse de alunos e ajudando a formar futuros profissionais. Assim, a premiação dos trabalhos de conclusão de curso, ao mesmo tempo em que reconhece talentos, potencialmente revela a outros jovens estudantes essa atribuição profissional, ampliando horizontes e inaugurando trajetórias profissionais. É importante neste momento de formação, adquirir conhecimento e desenvolver habilidades que permitam conhecer e consolidar o método de abordagem do problema escolhido. Despertar, sensibilizar, consolidar o olhar, perceber e “saber ver” a paisagem; conhecer as interrelações que se estabelecem entre natureza, ambiente, paisagem e sociedade; entender
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a necessidade de existência e acessibilidade dos espaços livres públicos, de um meio ambiente sustentável e as alternativas concebidas para mudar e conquistar novas visões, novos caminhos, novas possibilidades, novas paisagens. O concurso Rosa Kliass foi lançado em 2017 por iniciativa da Abap, recebendo os trabalhos apresentados no ano anterior, respondendo à lacuna de concursos no Brasil relacionados à arquitetura paisagística. A recepção da mídia de arquitetura foi acolhedora e houve repercussão e divulgação espontânea entre alunos, instituições de ensino, revistas e portais. O objetivo inicial do concurso foi promover a arquitetura da paisagem, prestigiando também educadores e a própria ABAP, que passa a ser conhecida entre os estudantes. Sua iniciativa auxilia a confrontar a visão, ainda presente em algumas escolas de Arquitetura e Urbanismo, de que o aluno deve projetar uma edificação como trabalho final de graduação (TFG). Essa visão se equivoca ao desconhecer a atribuição profissional prevista na Lei 12.378 de criação do CAU, Conselho de Arquitetura e Urbanismo, que regulamenta o exercício da profissão. Soma-se a isso os imensos desafios de projetar espaços livres que sejam integrados, sistêmicos na construção de paisagens e que tenham significado para a coletividade. O plano e projeto de paisagens, objeto destes trabalhos são, frequentemente, questões complexas: o diagnóstico e leitura dos espaços e lugares, por sua vez, envolvem múltiplas escalas e suas inter-relações. Os bons resultados alcançados nas premiações já realizadas atestam, plenamente, a qualidade dos alunos, professores e instituições para o exercício da profissão. Como referência, o prêmio inspirou-se no formato do tradicional Concurso Opera Prima, para graduandos do curso de Arquitetura e Urbanismo, que seleciona os trabalhos vencedores por região, sendo elas agrupadas segundo o número de escolas e de alunos. No Prêmio Rosa Kliass cada instituição de ensino pode encaminhar até dois trabalhos através de seus diretores ou coordenadores. Essa ação envolve as escolas no processo e as torna responsáveis pela seleção encaminhada. EDIÇÕES DO CONCURSO E PREMIAÇÕES Nas quatro edições do Prêmio Rosa Kliass, desde 2017, a Comissão organizadora recebeu 219 trabalhos, que têm na arquitetura paisagística o principal foco de interesse. Destaca-se nesses trabalhos o olhar atento dos jovens arquitetos, as demandas socioambientais e culturais, as complexidades das paisagens regionais nas mais variadas escalas de intervenção. Nas quatro edições a representatividade da Região Sul e do estado de São Paulo é mais expressiva, embora na quarta edição outras regiões, através do empenho de uma comprometida comissão organizadora que representa todo o Brasil, tenha ampliado o envio de trabalho. PANDEMIA: UM DESAFIO PARA A EDUCAÇÃO Em 2020 fomos surpreendidos pela pandemia da Covid-19, que nos impôs uma condição planetária em que alunos e professores precisaram usar a criatividade para reinventar a relação de aprendizado e avaliação no meio on-line. Assim como as pesquisas de campo que precisaram ser
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substituídas por pesquisas a distância, as famílias tiveram suas rotinas transformadas e viradas do avesso, muitos adoeceram, as universidades públicas paralisaram, universidades privadas tiveram seus quadros profissionais reduzidos, ao mesmo tempo em que se procurou encontrar novo equilíbrio em relação à virtualidade das relações. Nesse contexto, apesar das atividades do ano “virtual e on-line” de 2020, a organização do Prêmio Rosa Kliass e a diretoria da Abap conseguiram reunir jurados e participantes em um rico processo de seleção e na cerimônia de divulgação dos resultados da 4. edição, que ocorreu dentro de outro evento importante para a disciplina, o XV ENEPEA. Esse Encontro, originalmente agendado para ser realizado no primeiro semestre em Campos dos Goytacazes (RJ) foi transferido para o segundo semestre, de forma virtual. O evento a distância permitiu que profissionais e estudantes de todo o país se encontrassem juntos através das telas, o que nunca havia acontecido antes. O concurso Rosa Kliass, em 2021, entra em sua quinta edição e vai avaliar trabalhos desenvolvidos no ano letivo de 2020. Resiliência é dimensão fundamental para esse evento que merece, de fato, toda dedicação e atenção, porque se volta para a educação, congregando professores e alunos, tratando dos horizontes da profissão e homenageando uma vez mais a pioneira e mestra brasileira da arquitetura paisagística. FRANCISQUETI, Gabriel; HELENA MOURA, Lucia; NERES, Felipe; SAKATA, Francine; SANT’ANNA, Camila; SCHENK, Luciana. CONCURSO ROSA KLIASS: O PRÊMIO DA ARQUITETURA DA PAISAGEM, Revista 15.47 de arquitetura, arte, patrimônio e cultura. PARABOLOIDE EDIÇÕES - v. 01, n. 05, p. 78-82, jun./jul. 2021. Brasília, Brasil. Disponível em: https://paraboloide.com/revista-15-47. Acesso em: 10 nov. 2021.
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I Região 1: NO e CE - VENCEDOR Parque Ecológico Sobradinho Autor: Lucas Willian Caldeira da Silva Universidade de Brasília – UNB Orientador: Vania Raquel Teles Loureiro
MENÇÕES HONROSAS Parque Urbano Águas do Cerrado: parque urbano no encontro dos rios Garças e Araguaia Autor: Icaro Neves Paniago Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ Orientador: Luciano Muniz Abreu
MENÇÕES HONROSAS Coexistência SocioAmbiental Autor: Hugo Rafael de Oliveira Soares Centro Universitário de Brasília - UNICEUB Orientador: Beatriz de Abreu e Lima
Parque Linear Rio dos Macacos Autor: Luiza Nogueira Cavalcanti Pontíficia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RIO Orientador: Pierre-André Martin
Entre escalas: estudo dos espaços livres públicos do bairro Morada da Serra em Cuiabá/MT Autor: Lucianna Oliveira e Souza Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT Orientador: Doriane Azevedo
I Região 4: São Paulo - VENCEDOR Tocas do Tatu: Requalificação e expansão do Horto Florestal do Tatu, Limeira/SP Autor: Ana Paula Flauzino Faculdades Integradas Einstein de Limeira – FIEL Orientador: Fernando Henrique de Azevedo
I Região 2: NE - VENCEDOR FÁBRICA DA TORRE - Conservação de Estruturas da Paisagem para um Parque Autor: Maria Carollina Feitoza Balbino Universidade Federal de Pernambuco – UFPE Orientador: Ana Rita Sá Carneiro Ribeiro
MENÇÃO HONROSA Partidas, palcos e pausas: um olhar para os espaços livres da Aclimação Autor: Virginia Candido Lemes Benavent Caldas Centro Universitário Belas Artes de São Paulo - FEBASP Orientador: Sergio Ricardo Lessa Ortiz
MENÇÕES HONROSAS DA SUB-BACIA AO COPO D’ÁGUA: Projeto-piloto de requalificação econômico-ecológica de Quixeramobim Autor: Sebastião Dias de Carvalho Neto Universidade de Fortaleza - UNIFOR Orientador: Cinira Arruda D’alva
I Região 5: Sul - VENCEDOR Genius Loci, luz e matéria: reestruturação do Cemitério Municipal São Francisco de Paula Autor: Murilo Rodrigues dos Santos Universidade Tecnológica Federal do Paraná – UTFPR Orientador: Armando Luis Yoshio Ito
Verde limiar: entre o visível e o invisível. Desvelando espaços verdes no Engenho Velho da Federação Autor: Luis Guilherme Cruz Pires Universidade Federal da Bahia - UFBA Orientador: Fábio Macêdo Velame
MENÇÃO HONROSA Caminhos de Barro: proposta para turismo rural em Gaurama - RS Autor: Luiz Levandovski Universidade Federal da Fronteira Sul - UFFS Orientador: Marcela Alvares Maciel
I Região 3: ES, MG e RJ - VENCEDOR Vazios Urbanos, ensaio sobre a presença e significância na paisagem urbana Autor: Júlia Paglis Universidade Federal de Juíz de Fora – UFJF Orientador: Ana Aparecida Barbosa Pereira
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VENCEDOR REGIÃO 1 (NORTE E CENTRO-OESTE)
4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
Parque Ecológico Sobradinho UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA (UNB) - BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL Autor
Lucas Willian Caldeira da Silva Orientadora Vania Raquel Teles Loureiro
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RESUMO
PARECER DA ORIENTADORA
Cerrado brasileiro é um bioma sob constante pressão. Principal vítima da ocupação do centrooeste brasileiro, este hotspot vê sua biodiversidade reduzida ano após ano pelo aumento da urbanização e, principalmente, pelo crescimento da região de exploração agropecuária.
O presente projeto, desenvolvido como trabalho final de curso em arquitetura e urbanismo, tem como foco principal a atenção para o Cerrado e sua preservação e valorização na região de Sobradinho em Brasília. O tema já se apresenta pertinente à partida pela urgência em conscientizar sobre os problemas inerentes à preservação do bioma, mas ao se comprometer em estruturar seu paisagismo a partir desses mesmos elementos, estrutura e espécies, se revela inovador e necessário, principalmente no contexto socioambiental atual.
Essa redução da biodiversidade, somada a questões culturais, leva o povo que vive no Cerrado à quase completa ignorância sobre o bioma. Retrato disso é a quase inexistência de espécies herbáceas e gramíneas presentes nos canteiros públicos, jardins particulares e viveiros comerciais, levando muitos a crer que lenhosas, como o ipê, são unanimidade em termos de representatividade do bioma. Nesse cenário, o trabalho teve o objetivo projetar um Parque Ecológico e Urbano no coração de Sobradinho/DF, região de Cerrado do Planalto Central brasileiro, de modo a não só levar lazer e espaços de convivência à população local e regional, mas também servir como “Parque-Escola”, onde serão feitas tentativas de reprodução da flora do Cerrado, em especial a flora com potencial ornamental e de restauração de áreas degradadas, numa síntese “berçário-museu”. O projeto propõe um parque ecológico de 297 hectares, formado por 16 parques urbanos dispersos pontualmente em áreas já degradadas, de modo a preservar o ecossistema local e prover áreas de lazer, comunitárias e de contemplação. A metodologia paisagística é a de jardins naturalistas, defendida como a mais apropriada para o contexto do projeto, que utilizou apenas espécies do Cerrado.
Todas as etapas do trabalho foram desenvolvidas com excelência, desde uma pesquisa primorosa e aprofundada na região, em termos ambientais, funcionais, sociais, econômicos, topoceptivos e expressivo-simbólicos. Foram levantadas demandas de atividades perante o uso do território envolvente e suas características e reforçada a importância de uma compreensão dimensional para atuar em um espaço que envolve áreas de baixa e alta renda, espaços depredados e novos empreendimentos urbanísticos. O trabalho se revela consciente da complexidade local e da importância do paisagismo enquanto vetor para a qualidade de vida e urbanidade. As premissas do programa proposto são, portanto, vinculadas a um conhecimento intrínseco do lugar e o zoneamento responde primorosamente às demandas mais pertinentes, tanto quanto à cidade envolvente, quanto à preservação e valorização do bioma. O desenvolvimento da proposta se dá a partir de excelentes elementos gráficos e textuais, modelando os espaços projetados com primazia e sensibilidade. Claramente aplicando o conteúdo proposto e buscando a valorização da paisagem exitente. O trabalho é de fôlego, em sua dimensão e densidade, revelando um extenso programa de necessidades em território amplo. A representação e linguagem do trabalho como um todo garantem uma leitura clara do proposto e reconhecimento do todo e seus riquíssimos detalhes. Além do rigor metodológico do processo projetual e de pesquisa, do rigor gráfico e da qualidade da proposta em seu amplo espectro, o trabalho ainda se reveste de uma poesia e sensibilidade que enaltecem a beleza do cerrado e concretizam a importância de propostas como esta. É um trabalho completo e de referência para o campo disciplinar, que merece divulgação e viabilização.
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VENCEDOR REGIÃO 2 (NORDESTE)
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FÁBRICA DA TORRE - Conservação de Estruturas da Paisagem para um Parque UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO (UFPE) - RECIFE - PERNAMBUCO Autora
Maria Carollina Feitoza Balbino Orientadora Ana Rita Sá Carneiro Ribeiro
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RESUMO
PARECER DA ORIENTADORA
A partir do estudo das expressões arquitetônicas e urbanísticas industriais na cidade do Recife e Região Metropolitana, em específico a antiga Fábrica da Torre, foi possível perceber que em geral, essas construções possuem valor histórico-cultural e foram agentes diretos na urbanização de municípios e/ou bairros. Foi observado, porém, que essas estruturas se encontram ora abandonadas e degradadas, ora sujeitas a intervenções que pouco levam em consideração sua importância e valores para memória do lugar. Este trabalho, então, propõe sugerir diretrizes projetuais para conservação de estruturas da paisagem industrial do conjunto arquitetônico composto pelos edifícios da antiga Fábrica da Torre – atual Centro Administrativa do Banorte - à luz do debate atual da conservação do patrimônio industrial.
Este trabalho final de graduação levanta questões relevantes sobre a conservação do patrimônio industrial na cidade do Recife, pontuando a área da antiga Fábrica da Torre, construída em 1884, com a vila operária. Essa Fábrica foi o núcleo que definiu a estrutura urbana e guiou a dinâmica urbana do bairro da Torre sendo, portanto, uma referência arquitetônica e urbanística e marco da paisagem local. Esse é um exemplo de situações semelhantes existentes na história da cidade e que se expande na região metropolitana em municípios como Paulista e Camaragibe e em outros bairros como Santo Amaro e Macaxeira.
Dessa forma, inicialmente, buscou-se entender qual o papel que a Fábrica historicamente desempenhou no desenvolvimento morfológico do bairro da Torre, bem como os elementos e características que construíram esta paisagem industrial. Em um segundo momento, através de bibliografia específica, foi traçado um panorama de como o campo da conservação passou a considerar edifícios e sítios relacionados a industrialização como patrimônio cultural e quais as orientações apontadas para conservação e salvaguarda desses bens. Por último, fez-se uma reflexão acerca das dificuldades encontradas no campo da proteção do patrimônio industrial e como a Fábrica da Torre se insere nesse contexto. As diretrizes, por conseguinte, visam à implantação de um parque como uma forma de devolver a Fábrica da Torre para a paisagem e memória da cidade. Nesse sentido, tal intervenção tem como principal objetivo a abertura de todo o perímetro do terreno - hoje murado - para as perspectivas da cidade, do bairro onde está inserido e do rio Capibaribe, buscando a valorização prática e utilitária dos espaços existentes dentro da área e a dinâmica urbana de seu entorno. Para isso, foram destrinchados métodos de intervenção, limitantes legais e teorias que baseiam o planejamento e o desenho do traçado urbano, a fim de indicar possíveis soluções sob a ótica da conservação e da paisagem.
Constata-se assim a relevância desse patrimônio industrial de valor histórico e cultural que se encontra abandonado e degradado, exposto à especulação imobiliária pela dinâmica comercial do bairro e inclusive sujeita a intervenções que pouco levam em consideração seus valores para memória do lugar. Este trabalho, sugere diretrizes projetuais de um Parque Fábrica da Torre na intenção de conservar estruturas da paisagem industrial do conjunto arquitetônico composto pelos edifícios da antiga Fábrica da Torre – atual Centro Administrativo do Banorte – à luz do debate atual da conservação do patrimônio industrial e da paisagem urbana. O terreno do futuro parque tem 9,25 ha, sendo 2, 57 de área verde. O estudo abordou a conservação do patrimônio industrial no Brasil e em Pernambuco como a proposta do governo municipal para ser protegida, em 2016, como Zona de Preservação Histórica e Cultural – ZEPH. Nesse sentido, a proposta de requalificação das edificações e da criação do Parque da Fábrica tem como principal objetivo a abertura do terreno - hoje murado - para a paisagem do bairro e da cidade, relacionando-o às margens do rio Capibaribe, e ao projeto do Parque Capibaribe, que já está sendo executado, e onde o rio é o elemento estruturador de uma cidade-parque. Assim, o Parque Fábrica da Torre propõe um museu, oficinas, biblioteca, teatro e espaço aberto vegetado a ser conectado com o Jardim do Baobá, do outro lado do rio Capibaribe, buscando a valorização utilitária e paisagística dos espaços existentes dentro da área e a dinâmica urbana de seu entorno.
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VENCEDOR REGIÃO 3 (ES, MG e RJ)
4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
Vazios Urbanos, ensaio sobre a presença e significância na paisagem urbana UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA (UFJF) - JUIZ DE FORA - MINAS GERAIS Autora
Júlia Paglis Orientadora Ana Aparecida Barbosa Pereira
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
RESUMO
PARECER DA ORIENTADORA
O projeto a seguir é o resultado de um trabalho final de conclusão de curso, composto por dois momentos: uma reflexão teórica e uma resposta projetual. O trabalho originou-se a partir de uma de um interesse em compreender e/ou realizar uma leitura distinta da cidade contemporânea, esta que se deu pelos Vazios Urbanos. A reflexão teórica se estruturou a partir da articulação de 3 conceitos: Paisagem, Caminhar e o Espaço Vazio. Como a compreensão do conceito de “Vazios Urbanos” se trata de algo sensível e suscetível a mudanças, escolheu-se abordar a cidade a partir do entendimento de Paisagem, esta que ainda apresenta suas especificidades e complexidades. Para o filósofo Jean-Marc Besse (2014), o que existe atualmente é uma polissemia e mobilidade no entendimento de Paisagem, permitindo, por exemplo, a construção e compreensão da mesma através de ações projetuais e corporais, como o deslocar e o caminhar. É a partir deste entendimento de Paisagem, que procurou-se investigar os Vazios Urbanos.
O Projeto da Arquitetura da Paisagem intitulado Vazios urbanos: ensaio sobre a presença e significância na paisagem urbana, realizado na disciplina Trabalho de Conclusão de Curso pela aluna, se apresenta como potência para o atendimento e fomentação de uma demanda social, que evidencia a municipalidade como interlocutora. O trabalho se desenvolve de maneira experimental, na qual a resposta projetual pode ser compreendida como inovadora e autoral na paisagem, representando uma contribuição de leitura distinta daquela corriqueira na cidade da atualidade. Ao desenvolver o projeto, a aluna investigou e usufruiu de uma bibliografia contemporânea e atualizada acerca dos conceito que a ela buscava articular: Paisagem, Caminhar e o Espaço Vazio. Nota-se que a autora do projeto em questão desenvolve uma sensibilidade não só para a leitura dos espaços vazios, mas para a paisagem em sua dimensão polissêmica, propondo uma produção cartográfica que comunica o amplo e profundo esforço corporal exigido pelas deambulações, mas também uma resposta projetual que leva em conta os diferentes processos e agentes que constroem a paisagem. Todo o processo desde o referencial teóricocrítico, a prática das deambulações, a elaboração e criação das cartografias corporais, até o momento da proposta e execução projetual, a autora construiu suportes e meios de expressão não convencionais diante do que é recorrente no espaço dos trabalhos de graduação em arquitetura e urbanismo. O projeto em arquitetura da paisagem que recomendamos e destacamos o caráter de inovação, se trata de um processo da busca e tradução do intangível, do perceptível, na qual se busca materializar as sensações e vivências sociais do espaço. Destacamos que este projeto traduz o entendimento de que a construção da paisagem não é uma obra exclusiva dos especialista, mas um produto de processos constantes da transformação deste ambiente com a participação de diferentes agentes sociais.
Neste sentido, resgatou-se a leitura do arquiteto Francesco Careri (2013) e da arquiteta Paola Berenstein Jacques (2012), visto que ambos compreendem o movimento e o ato consciente do caminhar como ferramentas para apreender e revelar os espaços vazios, além dos próprios espaços de alteridade dentro da cidade. A partir de então, buscou-se lugares e momentos na Paisagem em que o espaço vazio manifestava-se de forma mais potente, logo, foi através da compreensão do conceito elaborado pelo arquiteto Solà-Morales (1995), Terrain Vague, que o espaço vazio se materializou. Para o último, os Terrain Vague apresentam-se como lugares esquecidos e obsoletos, áreas em que a cidade não se encontra mais, porém, são também locais de promessa e expectativa, locais de possibilidades. A partir dessa compreensão que visualiza o “Vazio” como promessa e expectativa dentro do espaço urbano, tentou-se, neste trabalho, revelar e materializar os vazios urbanos na cidade mineira de Juiz de Fora. O exercício projetual se deu através de uma experimentação urbana onde buscava-se como resultado uma produção cartográfica que representasse as deambulações realizadas em Juiz de Fora. Além dessa experimentação, houve a intenção e a execução projetual de uma pequena instalação urbana que revelasse o potencial do espaço vazio, a fim de investigar se este espaço manifestava-se como potência e promessa para a população local. Compreendendo o papel da arte na cidade, para aludir tudo aquilo que não tem lugar, segundo Nelson Brissac Peixoto (2003), adotou-se como partido para a elaboração das cartografias corporais e da instalação urbana a técnica do bordado. A escolha da técnica se deu pela necessidade de buscar uma expressão física e laboriosa que respondesse a complexa tarefa de representar a Paisagem / Espaço Vazio, mas, também, por se tratar de uma técnica possível para se materializar em uma escala urbana - o corpo transformou-se em agulha e o espaço em tecido. Por fim, o intuito geral do trabalho foi tanto revelar algo oculto quanto fomentar uma discussão da importância desses espaços vazios para a cidade, espaço estes que podem trazer mudanças, possibilidades, novas leituras e modos distintos de apreender o espaço urbano.
O material desenvolvido e apresentado à banca examinadora conta com um conjunto de cartografias bordadas à mão, em tecido branco e linha fina, um esforço da própria aluna em criar e responder à complexidade do espaço citadino, através deste conjunto de bordados abstratos e figurativos. Um conjunto documental intitulado diários de bordo, contendo relatos verbais e visuais das deambulações. Conta ainda, com a proposta projetual, que hora em croquis, comunga de resultados da instalação urbana desenvolvida para o local, com profunda apreensão através de matérias audiovisuais, como vídeo, fotografias, croquis, relatos narrados e figurados, que dão sustentabilidade à diversidade participativa na construção das soluções como processos sociais inclusivos. Este projeto constrói possíveis respostas dentro de uma ação em seu tempo, traduzindo o que se espera para o século XXI de um projeto da arquitetura da paisagem, a partir de uma resposta de intervenção no espaço público onde se desdobra uma análise crítica-conceitual e científica profunda; uma apropriação de forma plena das diferentes variáveis tangíveis e intangíveis com uma resposta distinta e atípica, considerando inclusive a forma de apropriação social do lugar, em uma busca de percepção e vivência do espaço de forma igualitária e fraterna.
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VENCEDOR REGIÃO 4 (São Paulo)
4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
Tocas do Tatu: Requalificação e expansão do Horto Florestal do Tatu, Limeira/SP FACULDADES INTEGRADAS EINSTEIN DE LIMEIRA (FIEL) - LIMEIRA - SÃO PAULO Autora
Ana Paula Flauzino Orientador Fernando Henrique de Azevedo
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
RESUMO
PARECER DO ORIENTADOR
A atividade mineradora no Brasil não é apenas responsável pela geração de lucro e empregos, ela também é geradora de poluição, degradação ambiental, mudança na paisagem e em alguns casos, como visto em Brumadinho e Mariana, negligencia seu entorno, afetando todos os seres que coexistem naquele ecossistema; e quando o espaço já não é produtivo, as vezes é esquecido, ou recebe uma atividade que pode gerar mais impacto. A partir desta constatação, este trabalho foi pensado como uma alternativa a um possível uso para as pedreiras Cavinatto, Basalto 4 e Limeirense, quando as mesmas forem desativadas. Elas estão localizadas atrás do Horto Florestal do Tatu, parque que atualmente encontra-se negligenciado pelo munícipio, apesar de receber alguns novos equipamentos, mas o todo possui usos muito diferenciados e sem nenhum planejamento, não sendo mais um atrativo para a população, que carece de espaços de lazer. Pretendeuse projetar um parque ecológico que integre a área do horto com as pedreiras, elaborando diretrizes para o primeiro espaço e um projeto para o segundo. Para alcançar o objetivo foi feito um levantamento com as principais impressões da população sobre a área, para que houvesse o envolvimento dos munícipes para a elaboração das diretrizes. Com auxílio do embasamento teórico, do diagnóstico da área e analises de referências projetuais, foi possível propor um zoneamento de usos, além de um novo espaço, que torna a degradação feita pelo homem, o objeto que demonstra a imponência da natureza perante as decisões baseadas apenas no que gera mais lucro.
O trabalho apresenta uma proposta arrojada e complexa, atuando em diversos níveis, desde o planejamento da paisagem ao projeto de mobiliário. Aluna apresentou um diagnóstico muito bem embasado, considerando diversas variáveis e coerente com a realidade. Ressalta-se a capacidade em propor diretrizes viáveis em escala macro para solucionar problemas complexos na área de intervenção. A Banca destaca a leitura de paisagem que a aluna realizou, ao propor uma ampliação do parque existente englobando diversas pedreiras e áreas degradadas lindeiras. O projeto de arquitetura paisagística proposto resolve com maestria a integração entre as áreas existentes e proposta do parque. O difícil relevo da área serviu como orientador para distribuição das praças temáticas e desenho geral dos trajetos, demonstrando domínio da área de intervenção e respeito às condições pré-existentes por parte da aluna. Os desenhos técnicos e artísticos apresentados possuem grande qualidade e expressividade. Ao propor praças temáticas, que buscam levar o visitante à reflexão sobre a ação humana no meio ambiente, a aluna consegue criar um percurso dinâmico e poético; com paisagens únicas em cada espaço, mas amarradas em uma única narrativa. Diante do exposto; a Banca decide por unanimidade aprovar a aluna com nota máxima.
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
VENCEDOR REGIÃO 5 (SUL)
Genius Loci, luz e matéria: reestruturação do Cemitério Municipal São Francisco de Paula UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ (UTFPR) - CURITIBA PARANÁ Autor
Murilo Rodrigues dos Santos Orientador Armando Luis Yoshio Ito
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
RESUMO
PARECER DO ORIENTADOR
Ao longo da história da humanidade, a dinâmica das relações entre o homem e a morte resultou em movimentos de aproximação e afastamento entre viventes e finados. Em resposta à sequência de epidemias que atingiam as cidades entre os séculos XVIII e XIX, foram tomadas medidas sanitaristas em prol da salubridade urbana. Os mortos, até então urbanizados pelo cristianismo, migram dos assoalhos das igrejas para espaços externos e afastados do perímetro urbano. Esse afastamento dos mortos refletiu também em um distanciamento dos assuntos acerca da morte, tornando o cemitério um espaço a ser evitado.
O trabalho apresentado, tem como inspiração e referência o livro A Imagem da Cidade, de Kevin Lynch, e inicia com uma indagação: Para onde vamos?
Nos últimos dois séculos, o crescimento das cidades levou à expansão das malhas urbanas de modo a agregar essas antigas necrópoles no cotidiano dos vivos. Em Curitiba, o Cemitério São Francisco de Paula, inaugurado em meados do século XIX e implantado fora do perímetro urbano, hoje faz parte da região central da cidade, próximo a conjuntos residenciais, praças, bares e shoppings. Necrópole mais antiga da cidade, o cemitério registrou as vicissitudes das famílias curitibanas expressadas na arquitetura fúnebre, e as expressões simbólicas e arquitetônicas que atingiram a capital ficaram gravadas nos túmulos e mausoléus. As análises arquitetônicas, urbanas e patrimoniais deste espaço, bem como o entendimento do genius loci, traçaram um diagnóstico das relações entre o cemitério e a cidade. Esta extensa pesquisa resultou em dois grandes projetos que se completam e dialogam em um mesmo propósito: apresentar à cidade uma nova percepção dos espaços cemiteriais. Ao passo que o edifício proposto fascina em uma dialética com o sublime, a estratégia no campo santo é utilizar o paisagismo para desvelar a riqueza patrimonial da necrópole mais antiga de Curitiba. Os muros que chegavam a seis metros de altura foram removidos em um gesto de abertura para a cidade. As vias e calçadas internas foram unificadas para ampliar o passeio, e os bancos improvisados pelos enlutados foram substituídos por um conjunto de mobiliário e piso que se alinham ao genius loci. Columbários baixos contornam o perímetro e garantem o uso ativo da necrópole nas próximas décadas, em uma estratégia de expansão que segue a materialidade existente. Jardins de chuva garantem a drenagem antes deficiente e a vegetação proposta torna os locais de estar mais atraentes. Este projeto se traduz em um impávido movimento de reapresentar os cemitérios enquanto locais abertos e de enorme riqueza cultural. Enquanto locais de educação patrimonial. Enquanto cidade, também, dos vivos.
A perda física, que representa distintos significados nas culturas ocidentais e orientais, aqui é vista como história, edificada como o local dos mortos. Nesse aspecto o projeto se transfigura como “Um Portal de Entrada” para um novo mundo. A analogia que o projeto faz com o cemitério existente, recupera os símbolos tornandoos fluídos e ao mesmo tempo um marco no espaço e na paisagem. Temos então, a cidade dos vivos, que está fora, e a transição para a cidade dos mortos. O projeto possui uma força plástica e peso dramático, ao mesmo tempo que se utiliza da fenomenologia do abandono e traz uma perspectiva de reuso para o espaço. A paisagem vista nesse trabalho, adquire a condição emocional de simbologia para a arquitetura, tornando-se uma representação viva. A composição do objeto arquitetônico resultante é uma poesia plástica e sua relação com a luz, é a sua força motriz. A linearidade da volumetria e a transição entre exterior e interior, transmite ao público a delicadeza e respeito que o tema merece. A paisagem neste projeto é representada como um lugar de experiência, a união entre sujeito e objeto, visão e essência. Trazendo uma reflexão dialética em torno do elemento geométrico, a forma, e o orgânico, a vida que já não nos pertence. O espírito do lugar, o Genius Loci, neste trabalho se materializa através do sentido que este dá a paisagem do entorno: o espaço “empírico” construído e vivenciado pelas próprias pessoas.
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
MENÇÃO HONROSA
Coexistência SocioAmbiental CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BRASÍLIA (UNICEUB) - BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL Autor
Hugo Rafael de Oliveira Soares Orientadora Beatriz de Abreu e Lima
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
RESUMO DO AUTOR
PARECER DA ORIENTADORA
Segundo o Dicionário Caldas Aulete, coexistir significa “existir ao mesmo tempo e/ou lugar”, sendo que neste trabalho também é aplicado o conceito de habitar o mesmo espaço. Existe um histórico de ocupação do território que ocorre de forma semelhante em todos os lugares: é realizada a esterilização de determinado terreno com o propósito de se implantar um novo assentamento humano seja para habitação, seja para a exploração de recursos, e após a criação de tal assentamento, é possível distinguir claramente onde existe a ocupação humana de onde porventura ainda há flora e fauna nativas em estado de preservação. Este padrão de ocupação se repete desde a criação de grandes latifúndios até ocupações em áreas verdes de menor escala dentro das áreas urbanas.
As estratégias para abordar as áreas de expansão de Brasília parecem ter atingido uma condição estacionária, e até de empobrecimento conceitual, em relação ao imaginário inovador da concepção de uma “Paisagem do Habitar “ que permeia o plano original de Lucio Costa. 1
Partindo desse contexto, o local selecionado para a intervenção se encontra às margens do Ribeirão Sobradinho, situado entre os bairros Sobradinho I e Sobradinho II que fica em Brasília, no Distrito Federal.
O Cerrado, no qual Brasília se insere, constitui-se em área de relevância mundial em termos de biodiversidade, configurando-se como o ecossistema brasileiro sob maior pressão, sendo habitat de populações social e culturalmente vulneráveis e representativas: quilombolas, vazanteiros, veredeiros, gerazeiros, barranqueiros, campineiros e algumas etnias indígenas.
O ribeirão é a fronteira natural entre os dois núcleos urbanos e suas margens de vegetação densa são alvos de frequentes crimes ambientais, além de testemunhar outros crimes nas suas proximidades devido a falta de segurança no local. O desprezo pela região torna difícil o intercâmbio de pessoas e recursos entre as duas cidades e a relação entre os cidadãos e seu patrimônio natural rico em biodiversidade também é prejudicado. Com o objetivo de mudar este cenário e estabelecer uma forte conexão entre as atividades humanas e o cerrado preservado sem que um interferisse negativamente o outro, foi desenhado um complexo no qual foram projetados arquitetura, paisagismo e urbanismo em três diferentes escalas: paisagem, malha e módulo. Em se tratando da escala macro do projeto, foi desenvolvido um projeto paisagístico naturalista que atua como uma extensão ecológica da biota do Ribeirão, ressignificando a área que antes foi ocupada de forma intrusiva, com extensas áreas pavimentadas e substituição da vegetação existente por espécies exóticas que agridem as relações ecossistêmicas que ocorrem ali. Esse projeto paisagístico utiliza faixas de jardins que se assemelham às distribuições paisagísticas naturais das fitofisionomias do cerrado, compostas exclusivamente por espécies nativas do bioma e que substitui as vias periféricas existentes por passeios pavimentados com piso drenante para o uso de pedestres e veículos não-motorizados. Além dessas alterações, foram incluídas atividades de acordo com um programa pensado para proporcionar o uso variado e prolongado do complexo. As escalas malha e módulo se referem a um complexo arquitetônico modular multifuncional, cujo desenho foi influenciado pelas condicionantes socioambientais da região. Sua estrutura e os materiais utilizados foram projetados para causar o menor impacto possível no terreno, cumprindo a finalidade de ser ponte para os moradores, base para múltiplos usos e meio de ocupação sustentável sobre o cerrado de natureza pulsante.
Refiro-me também ao empobrecimento de um imaginário maior, como o da Paisagem Natural e Humana, o imaginário do bioma Cerrado, cenário da literatura de Guimarães Rosa, que em seu livro Grande Sertão, Veredas, amplia nossa visão e nos impressiona trazendo, subjacente, a nós, habitantes de Brasília e cercanias, a profunda questão: “seremos Sertão?” E se somos sertão, porque teimamos em não enxergar o corolário cultural e paisagístico do Lugar?
Hoje o Distrito Federal e Entorno configuram uma mancha urbana de 4,7 milhões de habitantes (estimativa IBGE, 2020), em crescimento desordenado e predatório. O Cerrado encontra-se seriamente ameaçado, especialmente caso não ocorram mudanças significativas nos padrões de expansão agrícola e urbana vigentes. Face ao exposto, como delinear a proposição contemporânea das paisagens do cotidiano do Habitar em Brasília? Como resgatar a coragem do gesto de criação desta cidade, atualizar e estruturar novas utopias, especialmente em áreas em vias de expansão e degradação da paisagem? Além de tentar responder a estas questões, o projeto ora apresentado nos fornece insights criativos sobre construir, conviver e respeitar, com delicadeza, a preciosa paisagem social, ambiental e paisagística da região de Sobradinho, região administrativa do Distrito Federal, escopo do presente trabalho. Para o enfrentamento da complexidade, o processo do projeto desenvolveu-se trabalhando simultaneamente nas escalas micro e macro, em um ir e vir em todas as etapas: 1. Análise e levantamento in loco da paisagem natural e urbana existentes, pesquisa bibliográfica e teórica; 2. Criação e investigação de metodologias de projeto e proposição de nova paisagem natural e urbana, proposição de equipamentos urbanos com arquitetura de baixo impacto ambiental; 3. Estabelecimento de diretrizes urbanísticas e paisagísticas, visando a requalificação da paisagem urbana e natural utilizando plantas nativas do Cerrado. Conceitos de “Habitar” e “Lugar” no sentido de Martin Heidegger, ”o modo como os mortais são e estão sobre a Terra”, 1 enfatizando a dimensão do Lugar como determinante para construir o mundo. Artigo “Construir, Habitar, Pensar.”. Bauen, Wohnen, Denken, Vortaege und Aufsaetze, G. Neske, Pfullingen, (1954). Tradução de Márcia Sá Cavalcante Schuback.
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
MENÇÃO HONROSA
Entre escalas: estudo dos espaços livres públicos do bairro Morada da Serra em Cuiabá/MT UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO (UFMT) - CUIABÁ - MATO GROSSO Autor
Lucianna Oliveira e Souza Orientadora Doriane Azevedo
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
RESUMO
PARECER DA ORIENTADORA
Fortalecer o entendimento da cidade enquanto espaço público, social e diverso, espaço comum, é uma forma de enfrentamento à individualização e privatização crescente da experiência do lazer e prazer na cidade. Entender a dinâmica cotidiana de produção e reprodução dos espaços públicos, lugares públicos por excelência, pode nos indicar um caminho a seguir no planejamento da cidade, nas escalas do bairro, da rua, do espaço vivenciado, na constituição da paisagem. O trabalho se propõe ao aprofundamento da leitura dos espaços livres públicos (ELP), do bairro Morada da Serra, em Cuiabá/MT. Este bairro surge no contexto de expansão e ocupação da região norte da capital e implantação do novo Centro Político Administrativo (CPA) acompanhado de uma série de quatro conjuntos habitacionais populares, a partir da década de 1970. A observação das dinâmicas cotidianas de apropriação dos ELPs no bairro nos apontou a relevância dessa escala de planejamento para a estruturação e consolidação de um Sistema de Espaços Livres Públicos (SELP). Assim, aprofundamos o estudo e análise desses espaços, nas escalas urbana, intraurbana e cotidiana, buscando compreender a implicação das diferentes dinâmicas de territoriais na estruturação do SELP. Articulamos a leitura dos aspectos físicos aos dados sociais, buscando analisar sua relação com a disponibilidade, tipologia e distribuição dos espaços livres, e também com outros aspectos da dinâmica cotidiana, que potencializam (ou não) a apropriação dos espaços públicos, entendendo que a dimensão social é imprescindível à formulação das políticas públicas territoriais. Ao final, a partir dos conflitos e potencialidades identificados, apontamos diretrizes por escala, na perspectiva de orientar propostas que contribuam para a consolidação do SELP da área e para o fortalecimento da escala cotidiana de vivência do espaço
O TFG, em questão, é resultado de um processo de grande amadurecimento da autora que, inicialmente, pretendia estudar a apropriação dos espaços livres públicos de circulação, especialmente as ruas, no bairro em questão. Ao longo do desenvolvimento do trabalho, o aprofundamento teórico, evidenciou duas questões: a necessidade da análise do conjunto de Espaços Livres Públicos (ELPs), com destaque para os voltados para o lazer e recreação, público e gratuito, na composição da paisagem; e a leitura desses conjuntos em múltiplas escalas – desde a escala do cotidiano à escala urbana. Foram verificados os ELPs no recorte da Região Administrativa Norte – da Macrozona Urbana de Cuiabá, e mapeados detalhadamente na escala do Bairro, considerando que muitos dos ELPs não existem formalmente nos cadastros do município, empreendendo análise pormenorizada a partir da (falta de) configuração paisagística, marcas de uso e diferentes formas de apropriação desses lugares, da inserção em múltiplas escalas, evidenciando facilidade/dificuldade de acesso, sintetizando conflitos e potencialidades, dentre elas a possibilidade de estruturar um Sistema de Espaços Livres na Região Norte. Dentre os conflitos que a avaliação evidenciou, foi que a parcela dos moradores atendidos não respondia a demanda por espaços livres existente. As configurações físicas, atividades que abrigavam eram, quase exclusivamente voltadas para os esportes, apropriados pelas pessoas do sexo masculino, adolescentes/jovens/adultos, enquanto os levantamentos de campos e os dados demográficos do bairro (foram utilizados os dados dos setores censitários) registram um predomínio de mulheres em todos os setores censitários, bem como o crescente envelhecimento dos moradores do bairro. O incômodo em constatar o descolamento entre (ausência) de investimentos públicos realizados de forma equivocada e a carência de espaços de lazer de recreação de qualidade resultaram na proposição de diretrizes para composição desses Sistema de Espaços Livres nas múltiplas escalas. O trabalho evidencia a capacidade de análise da autora, a apropriação e incorporação teórico-conceitual, traduzidas, metodologicamente, na síntese primorosa dos mapeamentos elaborados. Transita da dimensão do projeto urbanístico ao planejamento da paisagem, ao entender os Sistemas de Espaços Livres enquanto objeto de políticas públicas territoriais.
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
MENÇÃO HONROSA
DA SUB-BACIA AO COPO D’ÁGUA: Projetopiloto de requalificação econômico-ecológica de Quixeramobim UNIVERSIDADE DE FORTALEZA (UNIFOR) - FORTALEZA - CEARÁ Autor
Sebastião Dias de Carvalho Neto Orientadora Cinira Arruda D’alva
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
RESUMO
PARECER DA BANCA
O Rio Quixeramobim narra a história da ocupação do sertão cearense. Partindo do litoral e seguindo os caminhos do Vale do Jaguaribe, o colonizador foi guiado pelos gentios até chegar ao Boqueirão de Quixeramobim no fim do século XVII.
Em seu desafio de propor alternativas para reverter o processo de desequilíbrio ecológico do rio Quixeramobim, é feita uma opção inteligente e oportuna pela ética. É a atitude do habitante da bacia hidrográfica, a sua consciência “ecosófica” de ser parte integrante desta – tanto quanto o rio, a vegetação e as demais espécies – que trará, como consequência, a transformação da paisagem.
A água, essencial para a sobrevivência humana, e os corpos hídricos, decisivos para o estabelecimento na antiga Vila de Campo Maior, têm sido poluídos e ignorados, podendo-se constatar a sua eutrofização devido ao lançamento irregular de esgotos, efluentes industriais e utilização inconsequente de agrotóxicos e fertilizantes desde a sua nascente no município de Monsenhor Tabosa. A situação do Rio Quixeramobim, segundo relatórios da COGERH (2018), é a mais crítica dentro da Bacia Hidrográfica do Banabuiú. O processo de pesquisa, que inicia pelo método da deriva (BERENSTEIN, 2012), culmina numa proposta que carrega o conceito de Ecologia Profunda numa analogia com o os capítulos do livro O Jardim de Granito (SPIRN, 1955): Água, Ar, Terra e Vida. Compreendendo a construção do espaço urbano como fruto da subjetividade e das intenções dos indivíduos que coexistem no território, propõe-se um projetopiloto a ser aplicado nos níveis mais baixos da sub-bacia do Açude da Comissão, abraçando o potencial paisagístico local e requalificando o espaço, que hoje está esquecido e degradado, através de intervenções mínimas de resgaste dos espaços naturais, da cultura e da efetivação do direito à cidade.
Propõe assim, que não apenas o poder público, mas a sociedade, reverta esse processo; seduzindo o grupo que tem o maior poder de ação em nossa contingência capitalista: a iniciativa privada. O “experimento”, como intitula seu projeto-piloto de revitalização das águas do rio Quixeramobim, não é apenas da ordem do planejamento ambiental. Pensando melhor, talvez o seja, se nossa noção de “ambiental” incluir, como faz o autor desse projeto, todo o espectro do humano: o econômico, o educacional e o cultural.
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
MENÇÃO HONROSA
Verde limiar: entre o visível e o invisível. Desvelando espaços verdes no Engenho Velho da Federação UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA (UFBA) - SALVADOR - BAHIA Autor
Luis Guilherme Cruz Pires Orientador Fábio Macêdo Velame
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
RESUMO
PARECER DO ORIENTADOR
A partir do entendimento de que existe uma lacuna nos estudos urbanos em relação aos territórios afrodescendentes, bem como a carência de políticas públicas, planos e projetos que tenham como pauta as questões que concernem a esses territórios, o bairro do Engenho Velho da Federação, situado na cidade de Salvador, Bahia, coloca-se como lugar da investigação, devido a sua forte relação com a cultura negra, em especial com os terreiros de Candomblé. O trabalho propõe-se a investigar a relação dos terreiros de Candomblé e demais espaços do Engenho Velho da Federação com as áreas verdes do bairro, e, a partir disso, mapear potencialidades de uso e apropriação dos espaços urbanos existentes que apontem possibilidades de uma intervenção urbana e paisagística tendo o verde (vegetação) como protagonista. A metodologia adotada consiste na pesquisa bibliográfica sobre o tema e lugar da pesquisa e na pesquisa de campo, ancorada nas vivências e experiências oriundas da interlocução com moradores e representantes de grupos sociais atuantes no bairro. Os principais resultados do trabalho consistem na produção de cartografias temáticas, a partir da leitura do Engenho Velho da Federação como um bairro negro; elaboração de um plano de intervenção de caráter urbano e paisagístico estruturado a partir de 3 diretrizes que articulamse aos eixos temáticos das cartografias; e na proposição e simulação de novos cenários a partir das múltiplas possibilidades de inserção do verde na paisagem do bairro. Para além dos resultados citados, o trabalho ainda aponta a necessidade de articular as proposições aos planos, projetos e ações existentes capitaneados pelo poder público, tendo como questões centrais a luta pela igualdade racial e preservação do meio ambiente em territórios e comunidades negras da cidade de Salvador.
O trabalho propõe uma epistemologia negra do ver, viver e fazer cidade. Uma afro-cidade, afrocentrada, negra por excelência, através de três palavras: Caminho, Encruzilhada, Terreiro. Palavras que conectadas possibilitam a Energia em Movimento – o fluxo contínuo do Axé, e o desvelamento da cidade negra. Palavras, que vão além do conceito, porque no universo negro dos candomblés a palavra tem poder de realização, porque vinculam o axé.
Palavras-chave: Bairros negros; Engenho Velho da Federação; Espaços verdes; Urbanismo; Paisagismo.
Caminho, Encruzilhada e Terreiro subvertem a lógica formal do pensar e fazer cidade a partir dos cânones clássicos: da morfologia urbana, o urbanismo estruturalista, urbanismo funcionalista, o urbanismo das manchas e dados censitários, urbanismo dos equipamentos urbanos, o urbanismo dos gráficos e tabelas. Enquanto análise de cidade, o trabalho propõe uma leitura, uma narrativa e compreensão da cidade a partir dessa tríade: o caminho, encruzilhada e terreiro. Sendo que o número três constitui no universo do candomblé tudo aquilo que é dinâmico e o que possibilita o movimento e o acontecimento. Dessa tríade emerge a cidade negra e brotam outras tríades: o público, o limiar e o privado; no público as ruas, escadarias e largos; no limiar as paredes, empenas cegas e fachadas; no privado os quintais, lajes e terrenos; e, por fim, o limiar, o verde, e Ossain. A tríade caminho, encruzilhada e terreiro materializa-se no Alá Verde, cujo circuito cria uma rede de fluxo de axé. Através do Alá Verde se recompõem pelo ar o fluxo de Axé que se dava pela terra, perdida pela urbanização galopante, quando no tempo dos mais velhos a mata sagrada era compartilhada por vários terreiros do Eng. Velho da Federação, lembrando que os Terreiros da Casa Branca, Bogum, Patiti Obá e Jejé Mundubim compartilhavam a mesma mata, que foi dilacerada, partilhada, eliminada, mas resgatada e restaurada pela recomposição do fluxo de axé que reconecta em rede todos os terreiros do bairro. O Alá verde estende sobre o bairro o axé, e com ele a epistemologia negra. Os terreiros de Candomblé são a alma da cidade do Salvador, e a cada dia com a urbanização desenfreada que expulsa Ossain dessa cidade, vemos paulatinamente se aproximar o crepúsculo dos Deuses, e com ela a morte da própria cidade, cada árvore e folha a menos é menos um abraço que recebemos de nossos ancestrais nos xirês. O trabalho “Verde Limiar” nos retira do crepúsculo e nos lança na alvorada de Ossain, na esperança de que o orvalho continue a regar as folhas para serem colhidas nos primeiros raios de sol. Sem folha não há Orixá, e, acrescento, sem Orixá não há Salvador.
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
MENÇÃO HONROSA
Parque Urbano Águas do Cerrado: parque urbano no encontro dos rios Garças e Araguaia UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO (UFRRJ) - SEROPÉDICA RIO DE JANEIRO Autor
Icaro Neves Paniago Orientador Luciano Muniz Abreu
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
RESUMO
PARECER DO ORIENTADOR
O Parque Urbano Águas do Cerrado, insere-se no campo dos estudos urbanos e da paisagem, tratando-se de um projeto de estruturação urbanística e paisagística para área conhecida como Beira Rio, na cidade de Aragarças, situada na mesorregião Noroeste do Estado de Goiás, às margens do rio Araguaia. A área prevista para implantação do projeto recebe, durante todo o mês de julho, o evento turístico de maior relevância para a cidade e de alcance regional: a temporada de praia.
O projeto refere-se à proposta de implantação de um Parque Urbano às margens do rio Araguaia, no município de Aragarças/GO, na região de tríplice limite dos municípios de Barra do Garças/MT, Pontal do Araguaia/MT e Aragarças/GO. A área de implantação da proposta concentra grande fluxo turístico no período da tradicional Temporada de Praia (fluvial), que ocorre no mês de junho na região.
O município de Aragarças, pertencente ao polo turístico goiano do Vale do Araguaia, faz divisa com dois municípios do estado do Mato Grosso que também são expoentes turísticos naquele estado, Barra do Garças e Pontal do Araguaia. A proposta para o Parque Urbano Águas do Cerrado mescla os conceitos de parque urbano e parque ecológico ambiental. Se relaciona com o primeiro conceito, pois se trata de um projeto que busca atender uma grande diversidade de solicitações de lazer, incluindo espaços permanentes e temporários – relacionados ao evento da temporada de praia-. E se adequa também com o segundo conceito, pois outro objetivo do projeto é propor uma restauração parcial da paisagem original do terreno, e conscientizar a população por meio do contato direto com a natureza, a conservação do cenário onde está inserido o parque, e também do bioma do Cerrado. O Brasil embora tenha diversos corpos hídricos dispostos pelo seu território, ao longo de sua história, passou por gestões públicas que não estabeleceram prioridade em otimizar a relação entre o desenvolvimento de suas cidades e os seus rios, de maneira que com o tempo, novos modelos de planejamento urbano surgiram no cenário nacional e internacional, estes passaram a utilizar os rios como elementos norteadores da ocupação do solo urbano. Este projeto tem também por objetivo a contribuição de inspirar modelos de gestão, capazes de reconhecerem em seus rios, um elemento essencial do planejamento urbano, sendo que o processo de preservação dos mesmos pode ultrapassar os benefícios ambientais, mas também sociais, uma vez que podem contribuir para a construção de espaços urbanos mais democráticos.
A proposta buscou a organização dos fluxos (especialmente, de automóveis que adentravam às margens do rio, na temporada de praia) e compatibilização do uso turístico (oferecendo agora melhor infraestrutura) com o da população local que passa a contar com novo espaço livre público de lazer. O partido e a paleta de cores foram inspirados em elementos da cultura tradicional da região, especialmente, nos elementos formais e disposição em níveis (inspirado nas linhas da cordilheira do Roncador) e nas cores e geometria da pintura corporal utilizadas pelos índios Xavantes (antigos ocupantes da região) em seus rituais. A este propósito, a preocupação com o resgate de elementos locais é um mérito da proposta, seja sob o viés simbólico, seja na materialização dos elementos construídos. A proposta mostra uma forte preocupação com o uso de materiais e espécies vegetais locais, bem como com os residentes. A implantação em níveis, respeitando-se a topografia da área de intervenção, é outro mérito importante e uma estratégia de projeto que se mostrou harmônica. Cada nível associa-se a tipos e ritmos de deslocamento, definidos pelo tratamento dos espaços e do mobiliário disponibilizado. A escolha e disposição das espécies vegetais também segue uma estratégia bem delimitada e orientada para não interromper a continuidade visual do nível imediatamente superior, de modo que o (rio) Araguaia tenha protagonismo dentro do projeto. Ou seja, além da prioridade de escolha de espécies nativas, seus portes, volumes e arquitetura das copas foram levadas em conta. O Programa proposto é bem adequado aos atuais e tradicionais usos da área (revelados no diagnóstico) favorecendo não apenas o turista, mas sobretudo, os residentes dos municípios do tríplice limite (municipal). Destaca-se como ponto forte a implantação do mirante que permite uma visão panorâmica do Parque proposto, do (rio) Araguaia e de suas margens. Pela aderência à regionalidade, aos usos pretéritos e atuais, pelo viés ecológico-ambiental do Cerrado brasileiro, respeito ao sítio e ao traçado arrojado (e em circuito, apesar dos desníveis), a proposta obteve reconhecimento, com louvor, da banca avaliadora.
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
MENÇÃO HONROSA
Parque Linear Rio dos Macacos PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO (PUC-RIO) - RIO DE JANEIRO - RIO DE JANEIRO Autora
Luiza Nogueira Cavalcanti Orientador Pierre-André Martin
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
RESUMO
PARECER DO ORIENTADOR
O bairro do Jardim Botânico na cidade do Rio de Janeiro está inserido na sub-bacia do Rio dos Macacos. A região foi uma das mais atingidas pelas fortes chuvas em 2019 e possui grande importância por ser ligação entre o Centro e a Zona Oeste da cidade. Para dar um novo significado à água (hoje mal vista), busca-se resgatar um rio inserido no meio urbano e melhorá-lo permitindo novas relações socioambientais.
A aluna conseguiu desenvolver uma proposta que envolve múltiplas camadas teóricas e técnicas da paisagem.
O trabalho se propõe a desenvolver uma solução paisagística ecológica para a região do Rio dos Macacos, principal rio desta sub-bacia. Um parque linear com 2,7 km de extensão pensado para recuperar áreas degradadas e criar espaços multifuncionais com alto valor ecológico e social. O projeto conta com soluções em diversas escalas, como a reabertura do Rio Cabeça para a Lagoa Rodrigo de Freitas, a criação de uma zona de amortecimento entre a cidade e a floresta preservada, o controle de crescimento urbano em direção à encosta e à calha do rio e inclusive a criação de jardins de chuva e biovaletas ao longo das calçadas. Além disso, redefine-se o limite do Parque do Jardim Botânico para propiciar áreas públicas de permanência e contato com a água. A fim de detalhar e aproximar na escala do pedestre, o trabalho se desenvolve em 4 recortes no sistema de drenagem da bacia do Rio dos Macacos, que abarca uma rede de 40.000 m3 em bacias a qual acumula as águas e permite a infiltração destas no solo. À montante, recupera-se as calhas secundárias e propõe-se bacias de retenção e acumulação de parte deste volume hídrico. No trecho intermediário, cria-se pequenas bacias de fitorremediação para o tratamento inicial e retenção das águas. Junto à foz, recupera-se a calha do Rio dos Macacos com técnicas de bioengenharia, já que a região é altamente adensada e engessada pela malha urbana, e revitaliza-se a margem da Lagoa Rodrigo de Freitas reintroduzindo plantas nativas do ecossistema de mangue, aumentando o espaço de infiltração e a biodiversidade. Aliado a isto, propõe-se neste trecho final, o uso de jardins flutuantes nos canais de drenagem para limpar a água. Próximo a foz, desenvolve-se um sistema de tratamento de água de 18.000 m3 em bacias de retenção dentro do Jockey Club, permitindo a acomodação de parte do volume hídrico da bacia. Este sistema possibilita a limpeza das águas do Rio dos Macacos, conecta-se com o sistema de drenagem interno do Parque Jardim Botânico, direcionando-as para locais preparados para alagar, além de tratar as águas através de fitorremediação com plantas filtrantes e purificantes, desafogando o sistema de drenagem tradicional.
Em todas as etapas as questões abióticas, bióticas e sociais foram constantemente entrelaçadas para que a água, o principal enfoque do trabalho, seja um elemento mediador na paisagem. Ao mesmo tempo empregou rigor técnico nas medidas e soluções hidrológicas lidando assim com muita destreza em temas complexos da dinâmica da Paisagem. A proposta permite assim conferir segurança climática ao bairro com soluções paisagísticas incrementando múltiplos serviços ecossistêmicos. Todas as peças gráficas empregadas contribuíram para uma comunicação ágil e eficiente da proposta para qualquer público. O resultado final corresponde ao esforço constante da aluna ao longo dos 2 semestres.
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
MENÇÃO HONROSA
Partidas, palcos e pausas: um olhar para os espaços livres da Aclimação CENTRO UNIVERSITÁRIO BELAS ARTES DE SÃO PAULO (FEBASP) - SÃO PAULO SÃO PAULO Autora
Virginia Candido Lemes Benavent Caldas Orientador Sergio Ricardo Lessa Ortiz
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
RESUMO
PARECER DO ORIENTADOR
Como resposta de planejamento urbano para a acomodação vertiginosa de veículos no último século, as ruas e demais espaços públicos da cidade de São Paulo perderam cada vez mais o acolhimento a principal escala de uma cidade: a humana. Como resultado, a malha urbana fragmentou-se em áreas livres desconexas, subutilizadas e muitas vezes sem identidade ou pertencimento da população.
Partidas, palcos e pausas: um olhar para os espaços livres da Aclimação é uma proposta que tem como ponto de partida uma pesquisa abrangente sobre como estava compreendido o sistema de espaços livres da área de influência do Parque da Aclimação no município de São Paulo. Foram realizados diversos levantamentos de campo nos espaços públicos existentes de modo a compreender tanto a maneira como os usuários utilizavam estes locais, como identificar traços importantes da memória do espaço, e também quais eram as principais demandas da população.
Com base no entendimento dos modelos de cidades compactas, sustentáveis e com espaços multifuncionais, este trabalho esforça-se na investigação de soluções que compreendam a importância do uso dos espaços públicos como parte de uma manifestação fundamental ao direito à cidade. Diante desse cenário, o estudo parte de uma leitura da região do Parque da Aclimação, na zona centro-sul de São Paulo, em um ensaio de concepção de espaços livres articulados que melhorem a qualidade da vida pública e potencializem suas funções sociais e paisagísticas. Assim, desencadeando propostas complementares aos demais desafios da região atrelados ao relevo, drenagem do solo, questões habitacionais e, sobretudo, mobilidade urbana
No diagnóstico, identificaram-se alguns trechos significativos que apresentavam uma carência de espaços livres de qualidade. Tal situação geralmente estava associada a um processo de adensamento populacional, bem como, grandes áreas que, devido à não consideração da hidrografia préexistente, indicavam potencial problemas de drenagem. Outra premissa foi permitir que os usuários tivessem fácil acesso aos espaços públicos propostos, especialmente a pé, incentivando o caminhar pela cidade e permitindo o usufruto de um maior contato com a paisagem proposta. Havia uma carência de espaços culturais e esportivos, e para solucionar esta problemática, pensouse na ativação do sistema de espaços livres públicos propostos, por meio da proposta de polaridade para as cinquenta e cinco áreas livres identificadas. Assim, onze se tornariam espaços estratégicos, responsáveis por promover uma melhor oferta de lazer e qualificação paisagística para os seus frequentadores. E finalmente, como exercício de detalhamento, desenvolveu-se o desenho paisagístico de três espaços livres com escalas distintas permitindo que houvesse uma experiência de distintas possibilidades no local. Esse trabalho se tornou referência na IES, pois, além de trazer uma proposta de desenho urbano e paisagístico inovadores, pensou-se na possibilidade da criação de uma reintegração do sistema de espaços livres com as suas condicionantes naturais.
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
MENÇÃO HONROSA
Caminhos de Barro: proposta para turismo rural em Gaurama - RS UNIVERSIDADE FEDERAL DA FRONTEIRA SUL (UFFS) - ERECHIM - RIO GRANDE DO SUL Autor
Luiz Levandovski Orientadora Marcela Alvares Maciel
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
RESUMO
PARECER DA BANCA
O presente trabalho tem o intuito de reconhecer as edificações históricas do município de Gaurama/RS, voltando o olhar para o âmbito rural do município. Para resgatar o lugar de memória, propõe-se uma interligação entre os seguintes objetos arquitetônicos elencados, sendo eles antigos casarões, templos religiosos, a estação férrea, remanescente de indústrias, potenciais paisagísticos, e o Rio Suzana, o qual serve de abastecimento hídrico para o município até os dias atuais. O caminho proposto, nesse trabalho, será chamado “Caminhos de Barro”, acontecerá por meio de vias rurais preexistentes, tendo como objetivo fomentar o contato direto da população local e turistas com as edificações históricas, valorizando também os potenciais paisagísticos.
“O projeto tem grande relevância para a valorização da região, a partir do restauro do moinho e criação de espaços de uso aos moradores e a comunidade. Para além, a valorização do meio rural, e a ambiência e vegetação natural nativa. A apropriação do terreno e implantação também valoriza e respeita o moinho. A materialidade e as escolhas foram muito apropriadas. Os pisos/caminhos talvez poderiam ser mais permeáveis, por se tratar de uma área rural”.
A área escolhida com ênfase foi o recorte do sítio do Moinho D’água, da Linha Link, sendo a Área de Intervenção. Um dos fatores que nortearam a escolha da área de intervenção foi a relevância histórica da edificação, eis que é o último de Moinho d’água, em madeira, do município de GauramaRS, guardando aspectos da arquitetura regional dos imigrantes no início do século XX. Portanto a antiga edificação tem elevado valor histórico, afetivo e arquitetônico da época da colonização. Outro fator relevante para a escolha da área foi o fato da edificação estar inserida em um contexto rico de interações sociais locais, inserida no convívio da Linha Link, onde acontecem eventos típicos (no salão de festas da comunidade), bem como celebrações religiosas (na capela Nossa Senhora do Perpétuo Socorro). Ademais a lembrança do som das crianças na antiga edificação da Escola Rural, atualmente em desuso.
(Parecer do Presidente) “Utiliza-se das metodologias de leitura e análise da paisagem. Apropria-se da topografia e implanta com propriedade o programa”. (Parecer Membro 1) “O projeto está bem desenvolvido e amarrado, se apropria bem dos desníveis do terreno, cria diferentes ambiências ao longo do percurso, propõe diferentes forações e vegetações, bem como caminhos de acesso rápido e contemplação”. (Parecer Membro 2) “Trabalho denso, diretrizes bem pensadas e estudadas. Excelente graficação, trabalho extenso e bem detalhado. Escolha da posição do museu excelente, resolve uma lacuna da paisagem, reinserindo um elemento da arquitetura perdido, sem copia-lo, mas reinterpretando a forma do moinho. Não cria vegetação jardim, mas usa vegetação nativa para composição”. (Parecer Membro 3)
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
MENÇÃO HONROSA
Requalificação Urbana: Resgate da Memória Afetiva no Centro Histórico de São José UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA (UNISUL) - FLORIANÓPOLIS - SANTA CATARINA Autora
Hortência Gerlach Furtado Orientadora Fernanda Maria Menezes
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4º PRÊMIO ROSA KLIASS — CONCURSO NACIONAL UNIVERSITÁRIO DE PAISAGISMO
RESUMO
PARECER DA ORIENTADORA
A requalificação urbana se torna necessária quando uma área se encontra degradada em comparação ao seu histórico ou a outras áreas da cidade. A qualificação do espaço visa integrar a área às necessidades da vida contemporânea.
A cidade é uma das mais significativas paisagens culturais, através da qual se pode perceber que está em constante transformação, retratando diferentes contextos e períodos.
Este trabalho aborda a requalificação urbana no Centro Histórico de São José, a partir da memória afetiva de moradores e frequentadores ligados a história do local, promovendo o resgate de centralidade cultural e de importantes elementos que já compuseram a paisagem, através de uma linguagem contemporânea que contemple as necessidades de uso e promova a vitalidade do espaço urbano. Localizada no estado de Santa Catarina, na Grande Florianópolis, a área de intervenção compõe a região mais antiga de São José, abrigando a cultura e a história do Município, que teve grande ascensão econômica em 1950, conformando-o como um importante polo cultural do estado, com teatro, cinema, procissões e clubes. São muitas as lembranças dos moradores mais antigos, que relatam a importância do campo de futebol que havia no centro, dos encontros familiares no trapiche e da Bica da Carioca como uma consagrada área de lazer e como um espaço democrático que até os dias de hoje compõe a paisagem. A temática discorre do olhar ao Centro Histórico como importante espaço de manifestações culturais, encontros e festividades, a partir da necessidade da requalificação urbana que propõe ações que visem fortalecer o espaço público como patrimônio da cidade. A proposta almeja espaços de estar, de lazer e de cultura, resgatando os pontos focais e procurando a valorização do patrimônio e da paisagem existente. Através da requalificação pretende-se tornar a área um espaço de integração e convívio para moradores e frequentadores que leve em conta aspectos da conformação espacial adotada na colonização da cidade, retomando o Centro Histórico como importante polo cultural.
O trabalho “Requalificação urbana: resgate da memória afetiva no centro histórico de São José” se destaca pela preservação e manutenção das edificações históricas, valorizando a estrutura atual do núcleo urbano original e o traçado da praça da igreja, através da inserção de novas estruturas e funções, propondo uma forma coesa e adequada o redesenho dos novos espaços públicos. Apresenta coerente proposta entre a arquitetura contemporânea sugerida e o conjunto histórico preservado, destacando-se pela força e pela expressão formal da composição e garantindo unidade ao conjunto como um todo. O trabalho se destaca pela abordagem que faz da arquitetura histórica e da sua relação com os espaços de uso públicos, valorizando o percurso histórico da cidade, a memoria afetiva das pessoas e resgatando o núcleo urbano como elemento simbólico para a cidade e a sua relação com o mar. A dinâmica das atividades propostas favorece o desenvolvimento de espaços que integram os atuais usos aos novos, oportunizando a apropriação e possibilitando uma nova dinâmica para a área com atividades que se realizam em diferentes horários e dias da semana. O uso diversificado valoriza o espaço público, através de feiras, quiosques e deques, integrados a uma proposta paisagística que sustenta os seus mais variados aspectos quanto local e tempo. O projeto contemplou critérios que promovem a urbanidade na área central de São José e usos que incentivem a valorização destes espaços pelas pessoas – condição essencial para sua proteção. A multiplicidade de usos propostos também garante a diversidade de pessoas que poderão utilizar o espaço: crianças, jovens, adultos e idosos. Por fim, o desenho paisagístico proposto apresenta unidade e uma forte identidade integrando os diversos equipamentos, valorizando o eixo igreja mar e reconectando a cidade com a orla.