Casa Brasil Legal A história das favelas, regularização fundiária e o projeto que está levando cidadania aos moradores do Vidigal The favela’s history, land ownership regularization and the project that is introducing citizenship to Vidigal residents
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História Sábado, 10 Maio de 1969. Ainda é madrugada quando a favela da Praia do Pinto, no bairro do Leblon, começa a pegar fogo. (...)
History
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Saturday, May 10, 1969. It was still dawn when the Praia do Pinto favela, in Leblon, started to burn. (...)
Propostas A Arquidiocese do Rio de Janeiro elaborou um estudo em março de 1979 chamado “Propostas de Moradia do Pobre no Rio de Janeiro”. (...)
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Proposals
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In March 1979 the Archdiocese of Rio de Janeiro prepared a study titled "Housing Proposal for the Low Income Population in Rio de Janeiro" (...)
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Casa Brasil Legal A história oficial contava que, no início do século XX, o morro do Vidigal pertencia a Charles Armstrong...
‘Casa Brasil Legal’
The official history tells us that early in the 20th century, the Vidigal hill belonged to Charles Armstrong...
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Introdução Por Júlio Lopes* Beleza, carisma, magia, aventura. Essas são algumas palavras que, para mim, caracterizam a comunidade do Vidigal. Espremida entre São Conrado e Leblon, alguns dos bairros mais ricos do Rio de Janeiro, ela é símbolo dos contrastes sociais da cidade, do país. Ali, é possível vislumbrar uma das vistas mais bonitas do mundo, mas também ver de perto a pobreza e conviver com a violência, às vezes extrema, que assusta seus moradores - a grande maioria composta por pessoas honestas e trabalhadoras, que lutam com dificuldades para ganhar o pão de cada dia. Essa oposição de sentidos faz do Vidigal algo indescritível e fascinante para quem o conhece de perto. Não à toa foi um dos locais escolhidos por João Paulo II durante sua primeira visita ao Brasil, em 1980. De tão surpreso com a calorosa receptividade, o papa tirou um anel de ouro do dedo e o deu de presente aos seus moradores, no primeiro contato com a população mais pobre do país. Mostrado ao vivo pela televisão, o gesto comoveu. Historicamente, aliás, o nome Vidigal já foi sinônimo de poder no Rio de Janeiro do Primeiro Império (1822-1831). O major de milícias e cavaleiro da Ordem Imperial do
Introduction By Júlio Lopes* Beauty, charisma, magic, adventure. To me, these are words that accurately depict the Vidigal community. Squeezed between São Conrado and Leblon, two of the wealthiest districts in Rio de Janeiro, Vidigal is the symbol of the social contrasts found both in the city and in the country. There, you can catch a glimpse of one of the most beautiful landscapes in the world, but you will also see poverty face to face and live side by side with violence, sometimes extreme, that frightens dwellers - most of whom are honest people, workers struggling to make ends meat. This contrast of meanings makes Vidigal indescribable and fascinating to all those who know it closely. It was not just by chance that this was one of the sites chosen by John Paul II during his first visit to Brazil, in 1980. Immensely surprised with the warmth of the welcome, the Pope took a gold ring from his finger and gave it to Vidigal dwellers, in his first contact with the lowest income population in the country. Broadcasted live on TV, his gesture moved all. By the way, historically, the name Vidigal was once a synonym of power in Rio de Janeiro at the
* Julio Lopes é fundador da Casa Brasil Legal
* Julio Lopes is the founder of Casa Brasil Legal
“O Rio de Janeiro tem cerca de 1,2 milhão de seus moradores vivendo em favelas cerca de 20% dos “Rio de Janeiro has cariocas.” about 1.2 million people living in favelas about 20% of cariocas (citizens of Rio de Janeiro).”
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“Em razão de todas as suas características, o Vidigal pode, portanto, se tornar um símbolo de recuperação “Because of its feada cidadania...” tures, Vidigal may, therefore, become a symbol of the rescue of citizenship...”
Cruzeiro, Miguel Nunes Vidigal, um dos homens mais influentes da cidade no século XIX, recebeu de presente dos monges beneditinos, em 1820, aquelas terras aos pés do Morro Dois Irmãos, exatamente onde hoje existe a favela. Daí a origem do nome Vidigal. As pessoas que olham o Vidigal como um problema social estão muito enganadas, porque, na realidade, aquela área, assim como a grande maioria das comunidades faveladas da cidade, surgiu como solução econômica para atender à necessidade de moradia e de vida de centenas de milhares de pessoas. Hoje, segundo dados do IBGE, o Rio de Janeiro tem cerca de 1,2 milhão de seus moradores vivendo em favelas cerca de 20% dos cariocas. Essas pessoas, vale lembrar, procuraram essas soluções em função da falta de alternativas na cidade formal. Em razão de todas as suas características, o Vidigal pode, portanto, se tornar um símbolo de recuperação da cidadania, de integração de uma área perdida à cidade formal. É essa a extensão do pacto da legalidade. Nosso objetivo é, exatamente, fazer com que o Rio de Janeiro formal imite o papa João Paulo II e suba aquele morro e, junto com as pessoas que ali vivem, firme o pacto pela legalidade. Os moradores do Vidigal, afinal, têm o direito de se sentirem protegidos e auxiliados pela lei, a mesma
time of the First Empire (18221831). In 1820, militia commander and knight of the Imperial Order of the Cruzeiro, Miguel Nunes Vidigal, one of the most important men of the city in the XIX century, received from the Benedictine friars the land lying on the foot of Morro Dois Irmãos, precisely where the favela is now. This is the reason for the name Vidigal. People who see Vidigal as a social problem are actually making a sore mistake, because, in reality, that area, as well as most of favela communities in the city, appeared as an economic solution to meet the housing needs of thousands of people. Nowadays, according to data provided by IBGE, Rio de Janeiro has about 1.2 million people living in favelas - about 20% of cariocas (citizens of Rio de Janeiro). These people, bear in mind, looked for this type of solution because no other alternatives were available in the formal city. Because of its features, Vidigal may, therefore, become a symbol of the rescue of citizenship, of the integration of a lost area to the formal city. This is the extent of the legality covenant. Our purpose is precisely to prompt formal Rio to emulate Pope John Paul II, going up that hill and signing the legality covenant with those who live there. The Vidigal dwellers, after all, are entitled to feel protected and
supported by the same law that governs the asphalt. They are entitled to a legal institutionalized life, and to have their land regulated. This is the path we thread. I insist in saying that we are not making a favor, or a gift. We are just fighting to put into practice something that has already been set forth in the Constitution, ensured by the Statute of Cities, and now, countersigned by an executive order. I am convinced that soon, this whole region will be encompassed by this legality covenant, attracting innumerable investments and forms of reclamation that will be beneficial, not just to the community itself, but to the whole city. The tourist complex we are building there is a concrete proof of that. The dozens of tourist guides and people of the most diverse nationalities that we have already taken to Vidigal, were caught by surprise by its economic and tourism potential. The partnership with the Red Cross, the establishment of a computer course for youths and adults, the construction of the Citizen Library, the John Paul II Museum and the community radio are also part of this vigorous project of taking citizenship to Vidigal dwellers. In sum, we intend to take also uphill the formality that governs city life.
Vidigal, 1978
que rege o asfalto. Eles têm o direito à vida legal institucionalizada, de ter a regulamentação fundiária de seus terrenos. Esse é nosso caminho. Gosto sempre de dizer também que o que estamos fazendo não é um favor, nem uma dádiva. Estamos apenas lutando para colocar na prática algo já preconizado na Constituição, garantido pelo Estatuto das Cidades e, agora, referendado por uma medida provisória. Creio que toda essa região, muito brevemente, será abraçada por esse pacto de legalidade, atraindo milhares de investimentos e formas de recuperação que serão benéficos não só para aquela comunidade, mas para toda a cidade. O complexo turístico que estamos instalando lá é uma prova disso. Dezenas de guias turísticos e pessoas de várias nacionalidades, que já levamos ao Vidigal, mostraram-se surpresos com o seu potencial econômico e turístico. A parceria com a Cruz Vermelha, a criação de um curso de informática para jovens e adultos, assim como a construção da Biblioteca do Cidadão, o Museu João Paulo II e a rádio comunitária também fazem parte deste vigoroso projeto de levar cidadania aos moradores do Vidigal. Em suma, queremos fazer com que a formalidade, que rege a vida da cidade, atinja também o alto do morro.
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“Em suma, queremos fazer com que a formalidade, que rege a vida da cidade, atinja também o alto do “In sum, we intend to morro.” take also uphill the formality that governs city life.”
Da esquerda para a direita: Vidigal (hoje), Hotel Sheraton (prédio maior), Favela da Chácara do Céu e Leblon/ From left to right: Vidigal (today), Sheraton Hotel (larger building), Favela da Chácara do Céu and Leblon
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História/History
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Um milhão de habitantes em um século
One million inhabitants in a century
Sábado, 10 Maio de 1969. Ainda é madrugada quando a favela da Praia do Pinto, no bairro do Leblon, começa a pegar fogo. Rapidamente as chamas pulam de um barraco para outro, deixando as 15 mil pessoas que ali moram salvarem apenas a roupa do corpo e suas próprias vidas.
Saturday, May 10, 1969. It was still dawn when the Praia do Pinto favela, in Leblon, started to burn. Flames spread fast from shack to shack, and the 15 thousand people living there were only able to save the clothes they were wearing and their own lives. There are many dwellers who
Primeira favela Muito antes, em 1897, a história oficial registra a participação de soldados na criação da primeira favela. Eles haviam acabado de voltar de Canudos, interior da Bahia, onde combateram, até o extermínio, o líder rebelde Antônio Conselheiro e seus cerca de 20 mil seguidores. O problema é que, depois disso, o Governo Federal não lhes deu as casas que havia prometido, e eles não tinham onde morar. Por isso, se
claim to have lost friends and relatives, whose death were never officially recognized. The tragedy of Praia do Pinto gives us a perfect example of how favelas have always been neglected by the State. For years people had been trying to remove the dwellers of that favela to housing projects far away form the South Zone, until the fire left them no other option. The origin of the fire was never discovered. If on the one hand it was the fifth in the history of that site, the fire was also the third large one, after Pasmado and Esqueleto, to destroy a favela targeted with relocation. Some are ready to bet on the participation of builders interested in the land. The fact is that shortly thereafter, a middle class condominium was built there, the Selva de Pedra ("Stone Jungle"). Others claim to have spotted Army soldiers on the crime scene. Nobody was ever officially charged.
The first favela Long before, in 1897, the official history recorded the participation of soldiers in the establishment of the first favela. They had just returned from Canudos, inland in Bahia, where they had fought and wiped out rebel leader Antônio Conselheiro and his approximately 20 thousand followers. The problem is that the government failed to give them the homes it had promised, and
Morro da Providência, 2004
Há quem diga até que perdeu amigos e parentes, cujas mortes oficiais nunca foram reconhecidas. O drama da Praia do Pinto ilustra bem o descaso com que o Estado sempre tratou as favelas. Há anos tentava-se, sem sucesso, remover seus moradores para conjuntos habitacionais distantes da Zona Sul, até que o incêndio não deixou outra opção. Nunca se soube como ele começou. Se por um lado foi o quinto da história do lugar, o incêndio foi também o terceiro de grandes proporções a destruir uma favela que era alvo de remoções, depois do Pasmado e do Esqueleto. Alguns apostam na participação de construtoras interessadas no terreno. Fato é que, logo depois, seria erguido ali um condomínio para a classe média, a Selva de Pedra. Outros juram ter visto soldados do Exército na cena do suposto crime. Ninguém foi culpado.
7 CABEÇA DE PORCO Famoso cortiço que foi demolido em 1893. Sem ter para onde ir, seus moradores começaram a ocupar o Morro da Providência. O nome virou sinônimo de cortiço, que consiste em uma casa de vários cômodos, em condições precárias, alugados, separadamente, a baixo custo.
CABEÇA DE PORCO (Pig head) Famous slum razed down in 1893. With no other place to go, dwellers started to squat in Morro da Providência. The name became a synonym of slum, which means a home with several rooms in poor conditions, rented separately at low cost.
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A VISÃO DA SOCIEDADE A seção Queixas do Povo, do Jornal do Brasil de 29 de outubro, publica a seguinte carta: "Pedem-nos que chamemos a atenção do sr. Delegado da 10ª circunscrição para um grupo de vagabundos que estaciona quase todos os dias na rua da Providência, incomodando as famílias ali residentes, que são obrigadas a ouvir constantemente palavrões desses desocupados".
SOCIETY'S VIEW The section Queixas do Povo (People's Complaints), in Jornal do Brasil, on October 29, published the following letter: "We were asked to call the attention of the Police Chief at the 10th Precinct to a group of loiterers found almost every day at rua da Providência, bothering the families who live there, who are forced to listen constantly to the bad words mouthed by these vagrants".
dirigiram para um morro, atrás da Central do Brasil, que já vinha sendo ocupado, desde 1893, por pessoas que a prefeitura vinha despejando de cortiços demolidos no Centro da Cidade. O lugar foi batizado de Morro da Favela, em memória de um morro, em Canudos, onde os soldados haviam ficado longo tempo entrincheirados, que por sua vez devia o nome a uma planta que o cobria. Só depois de ser construído um oratório da Divina Providência, no início do século XX, o Morro da Favela passou a se chamar Morro da Providência. A partir de então, favela passou a designar um conjunto de casas construídas de maneira desordenada, em terrenos que pertencem a terceiros e sem acesso a serviços públicos essenciais, como água e esgoto. As favelas sempre tiveram a oposição da sociedade. Por isso, o remédio que já vinha sendo usado contra os cortiços logo se voltaria para elas: as remoções. O Estado, contudo, muitas vezes contribuía para o surgimento de uma favela. Em 1909, por exemplo, a prefeitura autorizou a instalação, no Morro da Mangueira, de soldados desalojados da Quinta da Boa Vista, onde seria construído um horto florestal. O Morro da Providência, com todas as críticas, só seria alvo de uma remoção em 1922. E mesmo assim a favela não acabou.
they had nowhere to go. They went then to a hill, behind Central do Brasil, which, since 1893 had been occupied by people who had been evicted by City Hall from the favelas demolished in Rio downtown area. The site was christened Morro da Favela (Favela Hill), in honor of a hill in Canudos where the soldiers had been entrenched for a long time and named after a plant that covered it. It was just after a Divine Providence chapel was built early in the 20th century that Morro da Favela started to be called Morro da Providência (Providence Hill). From then on, the favela comprised several dwellings built on third party's lands with no access to essential public services like water and sewage. Society has always opposed the favelas. This is why the medicine that had been prescribed to the slums would soon apply to favelas: relocation. The State, however, often contributed to the appearance of a favela. In 1909, for example, City Hall authorized the installation of soldiers who had been ousted from Quinta da Boa Vista, in Morro da Mangueira (Mangueira Hill), where a tree nursery had been planned. Despite all the criticism, Morro da Providência, would only be the target of a relocation action in 1922. And even then, the favela did not disappear. Five years later, for the first time, an official city plan that targeted remodeling, extension and
Cinco anos depois, um plano oficial da cidade, para remodelação, extensão e embelezamento, falava pela primeira vez nas favelas. O projeto foi preparado pelo urbanista francês Alfred Agache, que pregava a remoção total. Segundo ele, a favela criava problemas à estrutura urbana da então capital da república, sob o ponto de vista da ordem social, da segurança, da higiene e da estética.
Primeiro censo O Censo Predial de 1933, o primeiro a considerar as favelas, registra 40 mil casas nessas comunidades. Para abrigar a população removida, em 1941, começaram a ser construídos os parques proletários da Gávea, do Caju e da Praia do Pinto. Em pouco tempo, esses parques receberam cerca de cinco mil pessoas sob a promessa da prefeitura de que os moradores poderiam voltar para suas favelas após a urbanização delas. Isso nunca aconteceu. Em busca de melhores condições de vida e contra as remoções, em 1945, os morros Pavão/ Pavãozinho, Cantagalo e Babilônia formaram suas primeiras comissões de moradores. Só nove anos depois foi criado um órgão representativo de diversas comunidades, a União de Trabalhadores dos Favelados (UTF). No dia de São Sebastião, padroeiro da cidade, em 20 de janeiro de 1956, o arcebispo D. Hélder
embellishment, mentioned the favelas. The project was designed by French urbanist Alfred Agache, who advocated that the favela should be fully removed. He claimed that the favela posed urban structure problems to Rio, the capital of the Republic at that time, problems related to social order, security, hygiene and aesthetics aspects.
First census The 1993 Building census, the first to take the favelas into account, records 40 thousand homes in these communities. The construction of laboring class compounds of Gávea, Cajú and Praia do Pinto started then to house the population removed in 1941. In a short period of time, these compounds received about five thousand people to whom City Hall had promised they would be able to go back to their favelas after the urbanization works. This never happened. Looking for improved living conditions and to fight against the relocations, in 1945, the Pavão/ Pavãozinho, Cantagalo and Babilônia hills established their first committees of dwellers. It was only nine years later that an agency representing several communities, the Union of Favela Workers (UTF), was established. In 1956, on January 20, the day in which Saint Sebastian, the protector of the city of Rio, is cele-
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FAVELA VIRA MÚSICA Em 1928, com o samba "A Favela vai abaixo", a palavra favela aparece pela primeira vez na música popular. A letra fala dos planos da prefeitura de destruição do Morro da Favela. Neste mesmo ano surgem os primeiros barracos da Praia do Pinto.
FAVELA IN A SONG In 1928, with the samba called "A Favela vai abaixo" (Favela is going down), the word favela appears for the first time in popular music. The lyrics talk about City Hall plans to tear down Morro da Favela. It was in this same year that the first shacks appeared in Praia do Pinto.
Câmara lançou um projeto de urbanização de favelas: a Cruzada São Sebastião. Louvada pela edição do dia seguinte do jornal O Globo, a primeira medida seria a construção, na Praia do Pinto, de um conjunto habitacional para os seus moradores. Pela primeira vez, a população de uma favela seria removida para um lugar próximo. O projeto, porém, não foi adiante, parando na primeira unidade do conjunto, que existe até hoje, no Leblon. O Censo de 1950 registra quase 170 mil pessoas morando em favelas, o que equivalia a mais de 7% da população de toda a cidade. Até a década de 60, esse número dobraria e as favelas passariam a responder por mais de 10% da população. A partir daí, a taxa de crescimento diminuiu e a participação no número total de habitantes experimentou sua única queda, de 13%, em 1970, para 12%, em 1980. Isso aconteceu porque nas décadas de 60 e 70 foram promovidas as maiores remoções da história das favelas.
Grandes remoções Em 1962, com financiamento do governo dos Estados Unidos, começaram a ser construídos os conjuntos habitacionais Vila Kennedy e Vila Aliança, em Bangu, Vila Esperança, em Vigário Geral, e Cidade de Deus, em Jacarepaguá. Entre o final de 1963 e início de 1964, para os dois primeiros, foram
brated, Archbishop Hélder Câmara launched a favela urbanization project: Cruzada São Sebastião. Praised by the newspaper O Globo on the following day, the first step of this project would be the construction, in Praia do Pinto, of a housing project for favela dwellers. For the first time, the inhabitants of a favela would be relocated to a site close by. The project, however, floundered, and just the first of all the planned units was built and exists to this date in Leblon. The 1950 Census recorded almost 170 thousand people living in favelas, which was equivalent to more than 7% of the whole city population. Until the sixties, this number would double and the favelas would account for more than 10% of Rio's population. From then on, the growth rate slowed down and, in 1980, the share of the total number of inhabitants recorded its single drop, from 13% to 12%. And this happened because the largest relocation actions in the history of the favelas took place in the sixties and seventies.
Large relocations In 1962, with funds provided by the United States government, the city saw construction of housing projects like Vila Kennedy and Vila Aliança, in Bangu, Vila Esperança, in Vigário Geral, and Cidade de Deus, in Jacarepaguá. Between the closing of year 1963 and early 1964, 5,400
Fracasso Apesar dos esforços, a política de remoções ficou muito longe de acabar com as favelas. O Estado não tinha recursos para construir todas as casas necessárias e as pes-
Failure Despite the efforts, the dweller removal policy never got close to eliminating the favelas. The State lacked funds to build all the
Morro do Pasmado,1959 Esqueleto. 1961
dwellers of Favela do Pasmado were removed to Vila Kennedy and Vila Aliança. At that time, O Globo newspaper reported that the operation was deployed "without any serious incidents". Morro do Pasmado (Pasmado Hill) is located at the end of Aterro do Flamengo, in Botafogo. From then on, until 1975, other housing projects were built and more than 100 thousand people were removed from several favelas. The favelas of Esqueleto, where currently we have the University of the State of Rio de Janeiro (UERJ), in Maracanã, and Catacumba, that became a park in Lagoa, deserve a special highlight. The first one, that once had 12 thousand dwellers, was extinguished in 1965, and the 15 thousand inhabitants of the latter were removed in 1970. Heading these operations was the Coordination of Social Interest Housing in the Greater Rio Metropolitan Area - Chisam, established by the federal administration in 1968, one year before the end of Praia do Pinto. According to O Globo newspaper, on March 12, 1973, a relocation was also planned for Rocinha dwellers, but it never happened.
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Catacumba, 1969
removidos os 5.400 moradores da Favela do Pasmado. O jornal O Globo da época registra que a operação transcorreu "sem incidentes". O Morro do Pasmado fica no final do Aterro do Flamengo, em Botafogo. A partir daí, até 1975, foram construídos outros conjuntos habitacionais e removidas mais de 100 mil pessoas de diversas favelas. Destaque para a do Esqueleto, que se localizava onde atualmente fica a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), no bairro do Maracanã, e a da Catacumba, que virou um parque, na Lagoa. A primeira, extinta em 1965, chegou a abrigar 12 mil moradores, e a segunda teve seus 15 mil habitantes removidos em 1970. À frente das operações estava a Coordenação da Habitação de Interesse Social da Área Metropolitana do Grande Rio (Chisam). Ela foi criada pelo Governo Federal em 1968, um ano antes do fim da Praia do Pinto. Segundo o jornal O Globo de 12 de março de 1973, a Rocinha também seria alvo de uma remoção, o que nunca aconteceu.
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CINEMA Em novembro de 2004, a prefeitura ofereceu R$ 250 mil por um filme perdido que foi feito no Morro da Providência, em 1926: As Favelas. Considerado o primeiro grande cineasta do país, Humberto Mauro filmou Favela dos meus amores, em 1934. Em 1955, foi a vez de Nelson Pereira dos Santos olhar para favela em Rio 40 graus.
CINEMA In November 2004, City Hall offered R$ 250 thousand for a movie shot, in 1926, at Morro da Providência that had been lost. The Favelas. Said to be the first great moviemaker in the country, Humberto Mauro shot Favela dos meus amores (Favela of my love), in 1934. In 1955, it was Nelson Pereira dos Santos turn to look into the favela with the movie Rio 40 graus (Rio 40 degrees).
soas removidas não tinham dinheiro para pagar pelas casas que recebiam. Uma reportagem do Globo, de 31 de março de 1978, dizia que, longe dos pólos de emprego da cidade e sobrecarregados de custos que nunca tiveram, as pessoas acabavam voltando para favelas. O texto citava uma pesquisa feita em 1974 que indicava que apenas 7% dos moradores de conjuntos habitacionais estavam com suas prestações em dia. No mesmo ano em que acabava a Praia do Pinto, a antropóloga norte-americana Janice Perlman finalizava uma pesquisa com 750 moradores de favelas de Duque de Caxias, da Catacumba e de Nova Brasília, que hoje faz parte do complexo de favelas do Alemão. Com base no material coletado, em 1977, ela lançou o livro "O Mito da Marginalidade", em que argumentava que os estereótipos que embasaram as políticas de remoção eram falsos. O favelado não era antisocial por ter uma origem rural, como se dizia; não era acostumado à pobreza, nem vagabundo, nem revoltado, como se pensava; e as favelas não eram espaços desorganizados e incapazes de se integrar ao meio urbano. Em 2002, a antropóloga buscou as mesmas pessoas entrevistadas por ela mais de 30 anos antes, ou seus descendentes, para avaliar a sua mobilidade social. Nesse novo estudo, ela constatou que "apesar
homes that were necessary and the dwellers who had been relocated had no money to pay for their new homes. A report published by O Globo newspaper on March 31, 1978, said that far away from city centers of employments and overburdened by costs they had never faced before, people ended up by returning to the favelas. O Globo mentioned a 1974 survey revealing that just 7% of those who lived in housing projects had no monthly installments in arrears. In the same year of the end of the favela of Praia do Pinto, American anthropologist Janice Perlman completed a survey among 750 dwellers of favelas Duque de Caxias, Catacumba and Nova Brasília, which is now part of the complex of the favelas of Alemão. In 1977, based on collected information, Perlman published a book called "The Myth of Marginality", arguing that the stereotypes on which the removal policies were based were false. Different from what was commonly said, favela dwellers were not anti-social because of their rural origin; were not used to poverty, were not bums, or rebellious; and favelas were not disorganized spaces incapable of integration to the urban environment. In 2002, the anthropologist talked to the same individuals she had interviewed more than 30 years before, or to their descendants, to
Cocaína Janice pôde observar, porém, como a marginalidade, agora no sentido da prática de atividades criminosas, vinha afastando, novamente, este espaço da sociedade: "No fim dos anos 60 as pessoas estavam temerosas de serem removidas de suas casas e comunidades e realocadas a força. Hoje em dia, elas temem morrer nos tiroteios entre policiais e traficantes ou entre gangues rivais. Existe consideravelmente menos 'diversão' no espaço público, menos participação nas associações de moradores e menos visitas entre amigos e parentes. Participação em qualquer tipo de organização, com exceção das igrejas, declinou enormemente. O espaço interno da comunidade não é mais usado para lazer e recreação. Esses eram os fatores que antigamente mantinham a comunidade unida". Há quem aponte a dissemina-
assess their social mobility. In this new study, she found out that "despite public efforts, the number of favelas and the number of people living there continues to increase". The Brazilian Institute of Geography and Statistics (IBGE) reported that in 1970 there were 300 favelas in the city, against 513 in 2000. To the Pereira Passos Municipal Urbanism Institute (IPP), this number had already increased to 704, and it does not include clandestine land parceling. In the last census carried out in 2000, the number of people living in favelas had already exceeded one million.
Cocaine Janice was also able to observe how marginality, now in the sense of criminal activity, was again setting these spaces apart from society: "In the late sixties, people were afraid of being taken away from their homes and communities and coerced to relocate. Nowadays, they are afraid to die in the shootings between the police and drug dealers or between rival gangs. There is considerably less "entertainment" in the public spaces, less participation in the associations of dwellers and less visits to friends and relatives. Participation in any type of organization, with the exception of churches, has declined dramatically. The inner space of the community has ceased to be used for leisure and recreation, and these
Maré, 2001
dos esforços públicos, o número de favelas e de pessoas vivendo nelas continua a crescer". O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) contabilizava 300 favelas na cidade, em 1970, contra 513, em 2000. Para o Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), esse número já é de 704, sem incluir loteamentos clandestinos. A população em favelas ultrapassou um milhão de habitantes no último censo, em 2000.
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ROCINHA A Rocinha nasce em 1929 nas terras da antiga fazenda Quebra-Cangalha, um engenho de cana que tinha muito gado. Daí a origem do Largo do Boiadeiro e do Caminho do Boiadeiro, localizados na favela, que ganhou seu nome de moradores que vendiam legumes e frutas na Praça Santos Dumont, na Gávea. Quando lhes perguntavam pela origem dos produtos, eles respondiam que vinham de sua rocinha.
ROCINHA Rocinha (small farm) was born in 1929 on the lands of a former farm named QuebraCangalha (Wooden Yoke Breaker), a sugar cane plantation that had many pack animals. This is the origin of Largo do Boiadeiro (Cowboy's Square) and Caminho do Boiadeiro (Cowboy's Track) in the favela, which was named after the dwellers who sold produce and fruits at Praça Santos Dumont, in Gávea. When asked about the origin of their products they answered saying that they came from their small farm (Rocinha).
ção da cocaína na sociedade, nos anos 80, como o grande vilão dessa história, permitindo que o crime acumulasse recursos para comprar armas poderosas e montar seu próprio exército. Até então, a maconha era o principal produto do tráfico. Os depoimentos dados à pesquisadora também revelaram melhores condições de vida, principalmente em habitação, saneamento, transporte e acesso à educação, mesmo que de má qualidade. Assim, as favelas se multiplicaram por onde quer que existisse um espaço vazio: embaixo de viadutos, nas beiras de estradas, em praças, ao lado de grandes obras. Além disso, os espaços já ocupados se consolidaram. Em meio ao crescimento, muitas tiveram seus territórios fundidos e formaram os complexos do Alemão, que passa pela Avenida Brasil, entre Ramos, Olaria e Bonsucesso, e da Maré, que pode ser visto da Linha Vermelha. Esses dois aglomerados são freqüentemente apontados como os principais centros de distribuição de drogas da cidade. O primeiro possuía, em 2000, 56.903 moradores de favelas contra 8.734 de fora dessas comunidades. Na Maré, essa proporção era de 69.851 para 43.966. Jacarepaguá, incluindo a Cidade de Deus, tinha 113.227 para 430.665. Na Rocinha havia 56.313 moradores. Todos na favela.
were factors that had once kept the community united". There are some who point to the dissemination of cocaine in society, in the eighties, as the major culprit in these developments, enabling organized crime to amass wealth to buy powerful weapons and set up its own army. Till then, marijuana was the main product of drug traffic. The statements made to the American researcher also revealed improved living conditions, mainly in terms of housing, sanitation, transport and access to education, even if of poor quality. Thus, wherever there were empty spaces, favelas multiplied: under overpasses, on road margins, squares, besides large worksites. Furthermore, there was a consolidation of already occupied spaces. Growth led several favela grounds to merge and form complexes like the Alemão, along Avenida Brasil, between Ramos, Olaria and Bonsucesso, and Maré, which can be seen from Linha Vermelha. These two complexes are frequently pointed out as the main centers of drug distribution in the city. In 2000, the first one had 56,903 people living in favelas against 8,734 living outside these communities. At Maré, this ratio was 69,851 against 43,966. Jacarepaguá, including Cidade de Deus, had a ratio of 113,227 to 430,665. At Rocinha there were 56,313 dwellers. All living in the favela.
Free from drug traffic
A exceção ao domínio do tráfico de drogas seria a favela de Rio das Pedras, na Barra da Tijuca. Os próprios moradores, a maioria de origem nordestina, teriam se unido para impedir o crime de se estabelecer ali. Nem mesmo a crescente violência, porém, impediu que as favelas deixassem de ser vistas como um corpo estranho na cidade. Prova disso foi a decisão da prefeitura, em 1996, de incluir todas elas no seu mapa oficial. Cada vez mais turistas, inclusive, desejam visitar essas comunidades. Foi isso que levou à urbanização do Morro da Providência, mais de um século depois do início da favela, para transformá-lo em um museu a céu aberto. Em 2000, havia 3.443 habitantes no local, sendo 12% analfabetos.
The only exception to drug traffic ruling would be the favela of Rio das Pedras, in Barra da Tijuca. The dwellers themselves, most coming from the Northeast region, would have joined efforts to prevent crime from setting foot there. Notwithstanding, not even rampant violence, prevented favelas from being seen as a foreign body in the city. A proof of this was the decision made by Rio City Hall in 1996, to include all favelas in its official map. More and more tourists wished to visit these communities. This led to the urbanization of Morro da Providência, more than one century after the establishment of the favela, changing it into an open sky museum. In 2000, there were 3,443 people living there and 12% of them were illiterate.
Taxa de Crescimento de Favelas no Rio de Janeiro de 1950 a 2000 Favela growth rate in Rio de Janeiro from 1950 to 2000 Ano (year) 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Pop. Favelas (a) 169.305 337.412 563.970 628.170 882.483 1.092.958
Pop. Rio (b) 2.337.451 3.307.163 4.251.918 5.093.232 5.480.778 5.857.879
a/b% 7,24% 10,20% 13,26% 12,33% 16,10% 18,66%
% de cresc.(growth.) % de cresc.(growth.) Pop. Favelas Pop. Rio 99,3% 41,5% 67,1% 28,6% 11,4% 19,8% 40,5% 7,6% 23,9% 6,9%
Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Prefietura do Rio, 2004/ Rio City Hall, 2004
Livres do tráfico
MIGRANTES Segundo o presidente do Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), Sérgio Besserman Vianna, a entrada de migrantes no Rio responde por MIGRANTS 18,4% do crescimento According to the das favelas. President of Pereira Passos Municipal Urbanism Institute (IPP), Sérgio Besserman Vianna, the arrival of migrants to Rio accounts for 18.4% of the growth of favelas.
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Igreja da Penha/ Penha Church
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Propostas/ Proposals
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Urbanização e regularização fundiária
Urbanization and land ownership regularization
A Arquidiocese do Rio de Janeiro elaborou um estudo em março de 1979 chamado "Propostas de Moradia do Pobre no Rio de Janeiro". O documento já reúne as duas principais linhas de ação para a favela que o Estado passou a adotar desde então: urbanização e regularização fundiária, que entrou na pauta da prefeitura no início da década de 80, mas nunca chegou a ser implementada em larga escala. Projetos de urbanização e maneiras de financiálos começaram a ser analisados em
In March 1979 the Archdiocese of Rio de Janeiro prepared a study titled "Housing Proposal for the Low Income Population in Rio de Janeiro". The document already presented the two main lines of action for the favelas that the State started to enforce: Urbanization and land ownership regularization, which became part of City Hall agenda early in the eighties, but was never actually implemented in large scale. By the mid-eighties urbanization projects and ways of funding them started to be analyzed and even-
meados dos anos 80 e culminaram, em 1996, no programa Favela-Bairro. No entanto, é o problema da violência que mais tem motivado a opinião pública a discutir propostas para as favelas. Muita gente acaba reduzindo a questão a um caso de polícia. O reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), padre Jesús Hortal, a ex-presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) Nélida Piñon e o ex-presidente Associação Brasileira de Imprensa (ABI) Fernando Segismundo estão entre os que já defenderam, inclusive, a atuação do Exército no policiamento das favelas.
Exército Mas o próprio Exército parece querer distância das favelas, como mostra reportagem de 4 de junho de 2002, do Globo. O texto conta que, a pedido da instituição, a prefeitura ampliou uma estrada para permitir que quem saísse da Vila Militar em direção à Avenida Brasil não precisasse mais passar pela Favela do Muquiço, "onde o roubo de veículos é freqüente". A favela tem cerca de seis mil moradores, enquanto a Vila concentra 20 mil homens, o maior número de militares do país. O reitor da PUC-Rio acredita que "enquanto as condições de moradia forem estas, não haverá solução para a violência". Ele disse que não bastam programas como o Favela-Bairro, que seria "cosméti-
tually, in 1996, resulted in the FavelaBairro (Favela Barrio) Project. However, it is the problem of violence that has been prompting the public to discuss proposals for the favelas. Many people end up by reducing the issue to a simple police case. The President of the Pontifical Catholic University of Rio de Janeiro (PUCRio), Father Jesús Hortal, the former Chairperson of the Brazilian Academy of Letters (ABL) Nélida Piñon and the President of the Brazilian Press Association (ABI) Fernando Segismundo are among those who argue even for the assignment of police work in favelas to the Army.
Army But, as newspaper O Globo reported on June 2, 2002, the Army itself seems to wish to be eager to stay far away from the favelas. The text tells us that, as requested by the Army, Rio City Hall had widened a road to enable the military coming from Vila Militar (Army Quarters)towards Avenida Brasil to avoid going by favela do Muquiço, "where car theft is a frequent incident". This favela has about six thousand dwellers, while there are 20 thousand men stationed at the Vila, the largest concentration of military personnel in the country. The president of PUC-RIO is convinced that "while housing conditions like these exist, there will be no solution for violence". He said that programs like the Favela-Bairro, which he
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MUROS Para impedir o crescimento das favelas, a prefeitura já chegou a propor a criação de muros em torno de algumas delas, incluindo Vidigal e Rocinha.
WALLS To prevent the growth of favelas, City Hall has even proposed the construction of walls around some of them, including Vidigal and Rocinha.
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MODELO Criada em 1968 e extinta em 1975, a Companhia de Desenvolvimento de Comunidades (Codesco) foi a primeira a implementar um projeto completo de urbanização. Na época, com a participação dos moradores, a Favela de Brás de Pina recebeu toda a infra-estrutura básica e financiamento de até 20 anos para o material de construção das novas casas. Os títulos de posse, entretanto, os moradores só começaram a receber em 1985.
MODEL Established in 1968 and extinguished in 1975, the Community Development Company (Codesco) was the first to implement a full urbanization project. At that time, with the participation of favela dwellers, Favela de Brás de Pina was given full infrastructure and funding repayable in up to 20 years for construction materials for the new homes. However, it was just in 1985 that dwellers started to receive the title deeds.
co". "Era preciso um programa que gerasse emprego, reconstruísse as favelas e as transformasse em áreas de interesse da cidade, levando para lá escola, Justiça, polícia, tudo", afirma o sociólogo Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ippur-UFRJ). Para ele, a favelização também se associa à crise do transporte público, que leva a população a buscar moradia em áreas mais centrais: "O sistema de transporte está cada vez mais caro e precário. É um dos serviços que mais sobem no Brasil, muito além da inflação".
called "cosmetic", were not enough. "A program would be required generating jobs, rebuilding favelas and changing them into areas of interest to the city, taking to there schools, Justice, police, in sum, everything," said sociologist Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, from the Urban and Regional Research and Planning Institute of the Federal University of Rio de Janeiro (IppurUFRJ). To him, favelization is also associated to the crisis in public transport that make people wish to live in central areas: "Gradually, the transport system becomes more expensive and precarious. This is one of the services in Brazil whose rates are adjusted much above inflation indexes".
Descontrole urbano
A series of reports that newspaper O Globo started to publish in September 2005 have shown that the three leading urbanization projects designed by the Municipal Housing Secretariat - Favela-Bairro, Bairrinho (Small Barrio) and Mutirão (Joint Effort)- were unable to contain the increasing number of shacks. Community leaders complain that the works of the Favela-Bairro project were not completed and that there is no surveillance to prevent the construction of new shacks. One of the symbols of the lack of efficient urban control and surveillance discovered by that newspaper was an 11-storey building built at Favela da Rocinha. After the reports were published, on November 4, O Globo sponsored a debate under the title:
Uma série de reportagens que começou a ser publicada pelo Globo em setembro de 2005 mostrou que os três principais projetos de urbanização da secretaria municipal de Habitação - Favela-Bairro, Bairrinho e Mutirão - foram ineficazes para conter o avanço dos barracos. Líderes comunitários reclamam que as obras do Favela-Bairro ficaram incompletas e que falta fiscalização para evitar a construção de novos barracos. Um dos símbolos do descontrole urbano e da falta de fiscalização descoberto pelo jornal foi um prédio de 11 andares erguido na Favela da Rocinha. Após as reportagens, o jornal organizou, no dia 4 de novembro, o debate "Desordem Humana:
Lack of urban control
"Human Disorder: Challenges of Favelization". On the occasion, the President of the NGO Observatório das Favelas (Favela Observatory), Jorge Luis Barbosa, argued that the favelas follow a growth standard similar to what you see in the "asphalt" (designation coined to contrast with "hills") areas, but are marked by prejudice. He explained that this means that the real estate speculation seen in the asphalt advances on illegal areas such as slopes and river banks.
Remoções
Removal
Barbosa prega a regularização fundiária, assim como o coordenador da Fundação de Direitos Humanos Bento Rubião, Ricardo Gouvêa, que calcula que a medida transformaria R$ 10 bilhões em ativos econômicos nas mãos dos moradores de favelas do Rio. Mas ainda há muita gente que acredita que a política de remoções não deva ser totalmente descartada, como o próprio O Globo, de acordo com o editorial de 13 de outubro de 2005. A arquiteta e urbanista Marlene Fernandes, do Instituto Brasileiro de Administração Municipal, que analisou em 2001 para o Banco Mundial dez experiências brasileiras de urbanização de favelas, defende que qualquer medida deve respeitar a população. Ela é contra as remoções, da mesma forma que a professora Luciana Andrade, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFRJ: "Remoção só empurra o problema para outro lugar".
Barbosa, defends the regularization of land ownership, just like the Coordinator of the Bento Rubião Human Rights Foundation, Ricardo Gouvêa, who is calculating that the measure would change R$ 10 billion into economic assets in the hands of Rio favela dwellers. But there are still many people, like O Globo itself, according to the editorial published on October 13, 2005, convinced that the policy of removal and relocation should not be totally set aside. Architect and urbanist Marlene Fernandes, from the Brazilian Institute of Municipal Administration, who in 2001 analyzed for the World Bank ten Brazilian experiences of favela urbanization, argues that any of such measures must respect the population involved. She is against relocation, just like Professor Luciana Andrade, from the UFRJ School of Architecture and Urbanism of UFRJ: "By relocating you just move the problem to somewhere else".
Rocinha, ontem e hoje/ Rocinha, yesterday and today
Desafios da Favelização". Na ocasião, o presidente da ONG Observatório das Favelas, Jorge Luis Barbosa, argumentou que as favelas seguem um padrão de crescimento parecido com o do "asfalto" (nome dado em oposição ao morro), mas são marcadas pelo preconceito. Ele explicou que isso significa que a especulação imobiliária no asfalto também avança sobre áreas ilegais como encostas e margens de rios.
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Vidigal com Ipanema, ao fundo/ Vidigal with Ipanema, on the background
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Casa Brasil Legal
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1. Translator's Note — About Casa Brasil Legal — an English translation would be Legal Brasil House but the word Legal has a double meaning in Portuguese, besides Legal (lawful) it also means cool (slang). This applies also to NGO Brasil Legal, Turismo Legal and Visual Legal.
O abrigo da cidadania
The shelter of citizenship
A história oficial contava que, no início do século XX, o morro do Vidigal pertencia a Charles Armstrong, tendo sido vendido, em 1916, à Empresa Industrial de Melhoramentos do Brasil S/A. Na década de 50, a área foi invadida, o que fez com que a proprietária iniciasse uma ação de reintegração de posse na justiça, em 27 de junho de 1958. Dez anos depois, ela foi vendida a Yvette Palumbo, que passou a ser a autora da ação
The official history tells us that early in the 20th century, the Vidigal hill belonged to Charles Armstrong, and was sold in 1916 to a company called Empresa Industrial de Melhoramentos do Brasil S/A. In the fifties, squatters settled in the area, which led the owner to file suit for repossession, on June 27, 1958. Ten years later the land was sold to Yvette Palumbo, who became the leading plaintiff in the suit against favela
Direito de Posse
Right to Ownership
Hoje, o ponto de encontro de todas as idéias de benfeitorias para o Vidigal é a Casa Brasil Legal. Ela foi fundada pela ONG Brasil Legal, que desenvolve ações econômicas e educativas para melhorar as condições de vida da população local. Nesse sentido, o principal projeto desenvolvido na
Nowadays, the point where all the meeting point for all ideas for betterments in Vidigal is Casa Brasil Legal. It was founded by the Brasil Legal NGO, engaged in economic and educational actions targeting the improvement of local population living conditions. The main project developed at Casa Brasil
Visita do Papa João Paulo II, 1980/ Visit of Pope John Paul II, 1980
dwellers. In 1974, she won the suit and sold the land to the companies Rio Towers and Sincorpa, that intended to build a condominium there, comprising 12 blocks of 8 floors each. By the turning of the seventies, some dwellers were removed from the area. But the official history was challenged by an Inquest conducted by Rio de Janeiro State Assembly, especially launched to look into the case, because when the suit was filed in 1958, the State Attorney had claimed that the hill belonged to the State, for having been donated by Mem de Sá, in 1500, and because these were Navy lands. While the issue was being settled, in 1980, dwellers who had managed to stay were blessed by an almost divine aid that led people to leave them alone: the Pope went to Vidigal. For the visit, favela homes were newly painted, streets were paved and even a chapel was built. From then on there was no more talk about relocation.
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Entrada da comunidade/ Community entrance
contra os favelados. Em 1974, ela ganhou a causa e vendeu o terreno à Rio Towers e à Sincorpa, que pretendiam construir ali um condomínio de 12 blocos com oito andares cada. No final da década de 70, alguns moradores chegaram a ser removidos. Mas a história oficial passou a ser contestada por uma CPI da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro criada para investigar o caso. Isso porque, quando ele foi parar na justiça, em 1958, o procurador do Estado disse que o morro pertencia ao Estado. Parte por ter sido doada por Mem de Sá, ainda nos anos de 1500, e parte por ser terreno de Marinha. Pelo sim, pelo não, em 1980, os moradores que conseguiram ficar tiveram ajuda quase que divina para que fossem deixados em paz em suas casas: o Papa foi ao Vidigal. Na ocasião, a favela teve casas pintadas, ruas pavimentadas e até uma capela construída. A partir daí não se falou mais em remoção.
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Com uma das mais belas vistas da cidade, a Casa Brasil Legal se localiza próxima ao topo do morro e tem fácil acesso, o que a qualifica como uma verdadeira atração With one of the turística. most beautiful views in the city, Casa Brasil Legal is located close to the top of the hill and enables easy access, which qualifies it as a true tourist attraction.
Casa visa obter o direito de posse para os moradores do morro, fazendo com que eles deixem a margem da sociedade, transformando a favela em um bairro legalizado. Batizado de Vidigal Legal, o projeto é de autoria do presidente da Comissão de Desenvolvimento Urbano da Câmara dos Deputados, o deputado federal Julio Lopes, com apoio do Ministério das Cidades. O direito de posse é a primeira etapa do longo processo de regularização fundiária, que consiste na concessão do título de propriedade do imóvel e pode ser considerado como uma certidão de nascimento da cidadania. Isso porque já com esse direito é possível exigir todos os serviços que o estado presta aos cidadãos, como água, luz, esgoto, educação e saúde. Além disso, ele permite usufruir de todos os benefícios de uma propriedade legalizada, como alugar, vender e deixar como herança para seus filhos. Assim, o imóvel fica mais valorizado e os vizinhos não podem mais construir no terreno dos outros, o que mantém as características originais, como vista e área construída. Só com a posse legalmente reconhecida pode-se afirmar que a casa ou o comércio é seu, por direito. Dessa forma, o morador fica livre para viajar, passear ou se ausentar pelo tempo que desejar, sem correr mais o risco da remoção.
Legal aims at obtaining ownership rights to hill dwellers, removing them away from the fringes of society, changing the favela into a legal district. Christened "Vidigal Legal", the project was designed by the Chairman of the Urban Development Committee of the House of Representatives, Congressman Julio Lopes, with support from the Ministry of Cities. The right to ownership is the first stage in a long process of land ownership regularization, involving granting of real estate title deed, which can be viewed as a citizenship birth certificate, because once this right is granted, people are entitled to demand all services provided by the state to citizens, such as water supply, lighting, sewage, education and health. It also enables individuals to enjoy all the benefits of legal ownership, like renting, selling and leaving the real estate to one's children. Thus, the price of the real estate increases and neighbors are prevented from building in each other's grounds, and the property keeps its original characteristics, such as the view and the construction area. It is only when ownership is officially recognized that you can say that a home or business is actually yours, in full right. This way dwellers are free to travel, go somewhere, without running the risk of being removed from the area.
Turismo
Com uma das mais belas vistas da cidade, a Casa Brasil Legal se localiza próxima ao topo do morro e tem fácil acesso, o que a qualifica como uma verdadeira atração turística. As diversas atrações turísticas do Vidigal motivaram, inclusive, outro projeto da Casa, o Turismo Legal. O objetivo é incluir o morro no roteiro turístico do Rio de Janeiro, com atividades de lazer,
Tourism With one of the most beautiful views of the city, Casa Brasil Legal is located close to the top of the hill and can easily be reached. All this qualifies it to be an actual tourist attraction. The various tourist attractions offered by Vidigal have led to another project developed by Casa Brasil Legal, the Turismo Legal. The objective of this project is to include the hill in the tourism itinerary of Rio de Janeiro, with
preservação ambiental, ecoturismo, divulgação cultural e comércio local. Artesanato, artes plásticas, peças de costura e outros produtos vendidos serão todos elaborados pelos moradores do Vidigal. A base dessas atividades será a Casa, que contará ainda com um restaurante de comidas típicas, como a feijoada. A equipe do restaurante também será integralmente formada por moradores locais, que poderão
fazer ainda os cursos de culinária e garçom a serem organizados ali. A Casa também já oferece aulas de DJ e dança, uma vez que o Vidigal é carente de cursos que preparem seus moradores para o mercado de trabalho. O projeto Visual Legal é outro abrigado pela Casa. Em parceria com a Associação Brasileira de Cimento, ele tem como objetivo viabilizar o emboço e a pintura externa das casas do morro.
leisure and environmental preservation activities, ecotourism, and advertisement of the local culture and trade. Crafts, fines arts, hand sown garments and other products on sale will be made by Vidigal dwellers. Casa Brasil Legal will be the headquarters of all these activities and will also be featuring restaurant offering typical food like the feijoada (typical Brazil meal of black beans). The restaurant team will also be fully composed of
local dwellers, who will be able to take cook and waiter courses provided on site. Casa Brasil Legal already offers DJ and dance classes, once in Vidigal there are few courses preparing dwellers for the labor market. The Visual Legal project is also sponsored by Casa Brasil Legal. In partnership with the Brazilian Cement Association, this project targets plastering and external painting of the hill dwellings.
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Apoio
Projeto, pesquisa, redação, edição, revisão e coordenação geral:
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