Paisagem como Jornada

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P aisagem com o J o r n a d a PrĂ­amo M e lo



P a i s agem com o J o r n a d a

P rĂ­ amo Melo


Melo, Príamo. M528p

Paisagem como jornada. / Príamo Melo. – Aracaju: J. Andrade, 2013. 27 p. Catálogo fotográfico. Exposição 8 de novembro a 12 de dezembro de 2013 no SESC Aracaju – SE. 1. Fotografia - Expos ição. 2. Fotografia da natureza. 3. Paisagens. I. Título. II. Autor. CDU: 7.047 Ficha catalográfica elaborada por Mirian Moreno Elorza CRB-5/1309

Ficha Técnica Fotografias: Príamo Melo Curadoria: Marcos Bonisson Projeto Gráfico: Isabela Ewerton e Vanderléa Cardoso | Sesc Revisão de texto: Gustavo Aragão


Se em sentido clássico a arte da paisagem tentou descrever ou fabular a superfície da Terra de alguma forma, em tempo atual, definir com exatidão o termo “paisagem” em Artes Visuais pode ser um desafio imensurável. Nota-se que há uma flexibilidade interdisciplinar das linguagens das artes de hoje, em detrimento a categorias fixas do passado. Embora pareça que a paisagem é um gênero artístico muito antigo, foi somente com o desenvolvimento do capitalismo, liderado por uma burguesia comerciante nos países baixos, que o gênero da paisagem se estabeleceu com autonomia iconográfica na História da Arte. Entretanto, foi no período romântico que a paisagem na pintura deixou, definitivamente, de ser pano de fundo para temas mais importantes e se tornou o objeto de pesquisa em si mesmo, como um gênero artístico consolidado. Se a Europa desenhou os contornos nítidos da pintura de paisagem, por sua vez, os Estados Unidos determinaram seus primeiros paradigmas com a fotografia de paisagem no final do século XIX e a desenvolveram como potência estética ao longo do século XX. Hoje, em tempo de virtualidade e de crescente produção de imagens no mundo, a paisagem deve ser compreendida como um gênero nas artes, expandido de sentidos e sujeita a uma costura inconsútil de significados. Dessa forma, os temas visuais são escolhidos e combinados, como uma linguagem articulada, que mescla diferentes desígnios em busca de uma imagem extraordinária. As fotografias de Príamo condensam em si uma densidade pictórica, que exige uma observação atenciosa. Quando o fotógrafo afirma a paisagem como jornada, aponta claramente um percurso de experimentação e aprendizado. Nesse trajeto, há uma alquimia de luz operada por Príamo na estruturação desses

enquadramentos de longa exposição, onde diferentes elementos são filtrados e trabalhados em busca de uma composição perfeita em cores. Essa condensação de vislumbres tanto valora as qualidades descritivas da fotografia, como também aspectos oníricos, que em fusão transmutam lucidamente os campos visuais escolhidos como tema. Vale a menção, que Príamo é um conceituado professor de Engenharia Química, do Departamento de Pós-graduação, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em sua ciência da arte, por assim dizer, o fotógrafo elenca e mistura elementos composicionais para produzir um amálgama de matéria visual que rejeita a leitura fácil. Imagens que falam diretamente aos sentidos: acústicas, voláteis, paisagens registradas em um espaço-tempo perpassado por uma preciosa técnica de composição com o uso preciso de filtros de densidade neutra. Neste contexto, há um claro processo metonímico que opera o todo pela parte. Príamo recorta suas imagens levando em conta não somente o que se inclui, mas também o que fica excluído desses enquadramentos. Talvez, resida nesse gesto fotográfico de recortar o espaço com o tempo, uma das ações mais essenciais realizadas por um artista visual que visa à apresentação de uma linguagem que nunca se esgota de significantes. Nesse sentido, sempre haverá pesquisa, busca e novas visões enquanto houver artistas e espectadores dispostos a experimentar o mundo-imagem como conhecimento.

Marcos Bonisson



A paisagem é a minha jornada. Eu realmente não imaginava como seria o desenrolar do meu envolvimento com a fotografia quando, seis anos atrás, adquiri minha primeira câmera reflex digital. Os primeiros anos de aprofundamento na técnica e na linguagem fotográficas, especialmente voltadas para o gênero da paisagem, logo deram lugar ao ensino de fotografia e também a uma busca pessoal pela interpretação da paisagem. Eu acredito no valor da técnica fotográfica tanto quanto na importância de dar voz e vez aos sentimentos quando compomos a cena a ser fotografada. Composição e técnica fotográficas andam, para mim, lado a lado, e são complementares e indissociáveis, assim como percebemos na filosofia taoísta de síntese dos opostos. Dessa forma, o princípio masculino yang está relacionado com os aspectos duros e objetivos da técnica fotográfica, enquanto o princípio feminino yin relaciona-se com a sensibilidade e a astúcia necessárias para revelar da paisagem seus atributos quintessenciais. O conjunto inédito de fotografias em cores, apresentado nesse catálogo, intitula-se ‘Série Água’, por esse elemento da natureza ser um fio condutor entre as imagens. Em fluxo, a técnica de exposição longa é utilizada amplamente, quando o obturador da câmera pode ficar aberto por vários segundos durante a captura da imagem. Esse recurso permite fornecer atributos transcendentes à paisagem fotografada, uma vez que o elemento ‘água’ é conduzido a um status de interpretação visual que vai além da objetividade instantânea da visão humana. A ‘Série Água’ contempla imagens que foram obtidas em lugares variados: a Promenade des Anglais, em Nice, no Sul da França, a paisagem caribenha das Ilhas de San Andrés, na Colômbia, Cayo Largo, em Cuba, e Cozumel, no México e, também, o litoral do Brasil, que merece ser revisitado por toda uma vida, como a Praia de Pipa, em Tibau do Sul, no Rio Grande do Norte, Jericoacoara e sua Pedra Furada, no Ceará, a Ilha de Florianópolis, em Santa Catarina e, ainda, praias urbanas de cidades do estado do Rio de Janeiro. As fotografias, aqui apresentadas, carregam consigo minha pesquisa sobre cor, forma, textura e luz da paisagem natural.

Príamo Melo



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“Onda” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2010. Arpoador, RJ.

“Círculos” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2011. Praia do Flamengo, RJ.

“Pipa, Anoitecer” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2010. Tibau do Sul, RN.

“Espuma” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2013. Jericoacoara, CE.

“Enigma” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2012. San Andrés, Colômbia.

“Pipa, Pôr-do-Sol” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2010, Tibau do Sul, RN.

“Arrecife” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2011. Porto de Galinhas, PE.

“Nice” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2008. Promenade des Anglais/ Nice, França.

“Entardecer na Pedra Furada” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2013. Jericoacoara, CE.

“Barco e Azul” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2013. Jericoacoara, CE.


“Ferrugem” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2013. Rio das Ostras, RJ.

“Luz Dourada” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2011. Paquetá, RJ.

“Pedra Furada” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2013. Jericoacoara, CE.

“Píer” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2012. San Andrés, Colômbia.

“Azul” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2013. Jericoacoara, CE.

“Mar Verde” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2012. Cozumel, México.

“Duas Pedras” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2011. Praia Vermelha, RJ.

“Barquinho” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2011. Florianópolis, SC.

“Azuis” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2012. Paraty, RJ.

“Cayo Largo” 40x60cm, pigmento mineral em papel de algodão, 2012. Cayo Largo, Cuba. 49


O conjunto inédito de fotografias em cores apresentado neste catálogo, intitulado “Série Águas”, de Príamo Melo, compõe a exposição Paisagem como Jornada, realizada na Galeria de Arte do Sesc, localizada à rua Dom José Thomaz, 235, São José, Aracaju, Estado de Sergipe, no período de 8 de novembro a 12 de dezembro de 2013.



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