QUEM TEM MEDO DO DR. HOUSE?
organização NURIA TORRENTS MARIA ELCI SPACCAQUERCHE
Sumário
Introdução 7 Maria Elci Spaccaquerche
Quem tem medo do dr. House?
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
House tem alma?
27
Nuria Torrents
Todos mentem
47 Ana Maria Galrão Rios
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
15
Rita Hetem
E se House fosse...
65
Sonia Blota Belotti
CAPÍTULO 5
Fascinação: impulso para o desenvolvimento?
Beth Haga
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
House e a pós-modernidade Leda P. Seixas
House, a lenda
103 Vera Helena de Moraes Barros
93
81
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
House e a música
115 Ana Maria Caramujo Lúcia Helena Hebling Almeida
Compulsão: sintoma do dr. House Irene Gaeta Arcuri Raissa Arcuri
Frases do dr. House Sobre os autores
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Introdução
M. Elci Spaccaquerche 1 Milhões de espectadores, em várias partes do mundo, seguem o seriado House. Por que será? Sabemos que os filmes despertam emoções que evocam imagens internas, provocando a abertura de níveis inconscientes de maneira intensa e rápida, conduzindo o espectador a sua própria simbolização. Como os contos, que levam a pessoa para longe, para o mundo sem tempo do inconsciente coletivo, os filmes, como um espelho da psique, revelam verdades e contradições que muitas vezes conduzem o espectador à aventura fascinante do encontro consigo mesmo. As imagens, por meio da emoção que provocam, fazem com que aspectos psíquicos mais inconscientes sejam desenraizados e trazidos à consciência na forma de mitos e símbolos. O seriado norte-americano House M.D.; Dr. House, no Brasil; ou simplesmente House, criado por David Shore, começou a ser exibido pela Fox, nos Estados Unidos, em 16 de novembro de 2004. No Brasil, a série estreou pouco depois no Universal Channel – canal por assinatura – e depois chegou à TV aberta, pela Rede Record. Seu sucesso é inquestionável, sendo que em 2008 foi a série de TV mais assistida no mundo, o que rendeu dois Globos de Ouro ao ator protagonista e alguns outros para o próprio seriado. A oitava temporada foi iniciada em novembro de 2011 e foi anunciada como a última. Em vez de retratar médicos abnegados, heroicos e atorment ados por questões éticas, essa série tem como protagonista um médico 1 Psicóloga, especialista nas áreas de educação e clínica pelo Conselho Federal de Psicologia (CFP), mestre em psicologia social pela PUC-SP. Terapeuta junguiana. Coordena a coleção “Amor e Psique” da Editora Paulus. Autora dos livros O que você vai ser quando crescer?, Orientação profissional passo a passo. Organizadora do livro Encontros de psicologia analítica.
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genial, porém mal-humorado e ríspido, cujo lema é a frase “todo mundo mente”. Ele é o dr. Gregory House, interpretado pelo ator inglês Hugh Laurie. Dr. House é um infectologista e nefrologista que se destaca não só pela capacidade de elaborar excelentes diagnósticos diferenciais, como por seu mau humor, ceticismo e comportamento antissocial e muitas vezes antiético. A ação se passa em um hospital universitário fictício chamado Princeton-Plainsboro Teaching Hospital, na cidade de Princeton, no estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos. A atração de tamanha audiência por esse médico que foge aos padrões de herói bem comportado nos levou a reflexões acerca do personagem. O que ele provoca? O que o faz tão atraente? Para isso tomamos como crivo de leitura a teoria de C. G. Jung, procurando uma aproximação humana com esse personagem esquivo. Assim, os diferentes capítulos deste livro irão tratar de House sob diversos ângulos, seja entendê-lo como uma lenda, seja entender seu gosto por música, ou mesmo aprofundar-se na frase mais provocativa e sempre repetida nos episódios: “Todo mundo mente”.
Dr. House Homo sum; humani nil a me alienum puto.2
Dr. House é humano, demasiadamente humano. Ele traz à tona as mazelas de nossas personalidades, os sentimentos não vistos ou escondidos da alma. House é um homem amargo e amargurado, briga com a vida e pela vida. Em razão de uma cirurgia malsucedida e da necrose do músculo quadríceps, ele é obrigado a usar uma bengala e tem dores frequentes e fortes, o que o leva a ingerir um medicamento chamado Vicodin (hidrocodona, um derivado do ópio). Assim, ele é a figura encarnada do arquétipo do curador ferido. O curador ferido é um arquétipo da psicologia junguiana que tem no mito de Quíron uma 2 “Sou humano e nada do que é humano me é estranho.” (Terêncio – poeta romano 185 a.C. - 159 a.C.)
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das melhores representações das polaridades saúde e doença. Na mitologia grega, Quíron, filho de Cronos e de Filira, tornou-se o mais sábio dos centauros. Foi ele quem ensinou a arte da cura a Asclépio, ou Esculápio, que se tornou depois o deus da Medicina. Quando Quíron foi atingindo pela flecha envenenada de Hércules, porém, todo esse conhecimento não foi suficiente para curá-lo. Como Quíron era imortal, o ferimento causado jamais curaria, causando dores terríveis e intermináveis. Uma das frases repetidas por House é: “Eu sou fisicamente incapaz de ser gentil”. Ser gentil depende das possibilidades reais da pessoa. Um homem ferido no corpo e na alma dificilmente consegue ser gentil. Assim é House. E ele é verdadeiro quando diz isso. Essa honestidade consigo mesmo talvez seja o grande atrativo de House. Isso assusta, principalmente, quem age de maneira “política e socialmente correta”. House quebra as hipocrisias. E nem por isso é santo ou honesto. É simplesmente o que pode ser com sua ferida! House é indisciplinado, não usa o jaleco branco, não se importa com a aparência e não respeita as ordens da diretora do hospital, Cuddy. Ele tem um lado moleque e é irreverente, causando sempre algum impacto na sua equipe e na sua audiência. Essas são características típicas do puer aeternus (“jovem eterno” em latim), outro arquétipo da psicologia junguiana, que será mais amplamente discutido no capítulo “House, a lenda”. Outra característica de sua personalidade é seu gosto pela música. House gosta de ouvir música, principalmente a clássica e rock, e tem um amor especial por sua guitarra elétrica. Esse gostar da música faz um contraponto com seu lado racional, o que é um dos temas desse livro. House é um personagem ambíguo e paradoxal, como podemos observar na sua relação com a doença e com o doente. Embora sua motivação aparente seja resolver tão somente o desafio do diagnóstico correto, seu propósito também é salvar o doente. Ainda que isso se dê por vaidade, ou por ter vencido um desafio, ou resolvido um quebra-cabeça. Em alguns capítulos, vemos House preocupado somente com o diagnóstico. Em outros, ele se apresenta ao paciente como “aquele que vai salvar sua vida”. Ele é a quintessência do anti-herói 9
pós-moderno: ele não pratica boas ações apesar de suas falhas; ele as pratica por causa delas.
Dr. House e a equipe Como chefe do Departamento de Medicina Diagnóstica do Hospital de Princeton-Plainsboro, o personagem coordena uma equipe de médicos. Especialista em doenças infecciosas, seus casos são sempre aqueles que outros médicos não conseguem diagnosticar. House adora desafios e faz sua equipe também abraçá-los e competir entre si para acertar o diagnóstico. Somente pacientes em estado crítico são examinados por esse time, seja por vias legais ou fazendo uso de métodos pouco tradicionais. House instiga os membros de sua equipe, muitas vezes humilha-os e traz seus problemas pessoais à tona, o que nos faz perguntar se “House tem alma?”(capítulo 2). Sua liderança, ainda que carismática, é frequentemente desrespeitosa, o que vai ocasionar algumas baixas na equipe, em alguns dos capítulos. Assim, sua equipe vai mudando ao longo das temporadas. Nas três primeiras, temos os seguintes personagens: • dra. Allison Cameron (Jennifer Morrison), imunologista; • dr. Robert Chase (Jesse Spencer), médico intensivista e cirurgião; • dr. Eric Foreman (Omar Epps), neurologista. Durante a quarta e a quinta temporadas, House contrata três novos profissionais, após a demissão de Cameron e Chase, que saem da equipe, mas continuam no hospital. Faz um processo seletivo com centenas de candidatos, até chegar à escolha final de quatro. Seu critério de escolha baseia-se em dois aspectos: a competência médica e características de personalidade não virtuosas, mas sombrias. Assim, esses personagens também não têm comportamentos exemplares. São humanos com problemas conjugais, como Taub, que trai a esposa; com personalidades difíceis, como Thirteen (ou 10
Treze, na versão em português), que é esquiva; que têm um irmão na cadeia, como Foreman; ou mesmo são ambiciosos, como Amber. São eles: • dra. Remy Hadley “Thirteen” (Olivia Wilde), clínica geral; • dr. Chris Taub (Peter Jacobson), cirurgião plástico; • dr. Lawrence Kutner (Kal Penn), médico desportivo e fisiatra; • dra. Amber Volakis (Anne Dudek), radiologista. Na sexta temporada, a dra. Cameron e o dr. Chase voltam para a equipe de House, mas pouco tempo depois a médica se separa de Chase e deixa o Hospital Princeton-Plainsboro e o seriado. Durante a sétima temporada, Cuddy contrata para a equipe de House uma nova doutora para cobrir a saída temporária da dra. Remy Hadley “Thirteen”: dra. Martha M. Masters (Amber Tamblyn), uma estudante de medicina. Para Masters, House é um desafio, e ela para ele. Ela não concorda com os métodos de House e sempre diz a verdade aos pacientes, mesmo que isso venha a comprometer o tratamento, contrariando as ordens de House. O personagem interpretado por Kal Penn (Lawrence Kutner) saiu da série, pois o ator assumiu um cargo no Gabinete da Casa Branca. A personagem Amber morre no final da quarta temporada e volta como alucinação na quinta, para deixar definitivamente a série. Além de sua equipe, dr. House tem sempre que se reportar à diretora do hospital, dra. Lisa Cuddy (Lisa Edelstein), para autorizar seus procedimentos.
Dra. Lisa Cuddy Dra. Cuddy é amiga de House desde os tempos da faculdade. Embora seu relacionamento seja temperado de ciúmes, segredos, situações engraçadas e desrespeito por parte dele, existe sempre um companheirismo muito grande, principalmente quando a dra. Cuddy procura proteger House nos casos mais complicados. Desde o começo podemos observar a lei da física de atração e repulsão entre esses dois personagens. House acaba sucumbindo ao seu desejo por Cuddy e 11
eles resolvem namorar na sétima temporada. Parece que depois de muitos tropeços House começa a se relacionar com alguém, aceitando a possibilidade de dividir sua história e sua intimidade.
Dr. House e dr. Wilson Dr. Wilson (Robert Sean Leonard) é o seu único amigo, um não vive sem o outro. House respeita Wilson como pessoa e como médico, sendo o único a quem pede opinião sobre seus casos difíceis. Às vezes, para atingir certos objetivos, House usa-o recorrendo a desculpas e argumentos falaciosos. House conheceu Wilson durante um congresso de Medicina em Nova Orleans, do qual participou logo ao se formar. Wilson tem uma briga em um bar e joga uma garrafa em um espelho, quebrando-o. Vai preso e House lhe paga a fiança. Começa aí uma amizade. Wilson quer saber por que House teve essa atitude com ele, ao que House explica que aquilo foi tudo muito interessante e a única coisa não tediosa do congresso. Não só a amizade como muitas das características das personalidades de House e Wilson se assemelham às de Sherlock Holmes e Watson. House, assim como Holmes, apoia-se em um extremo poder de observação e dedução para solucionar os casos com que é confrontado. Agem movidos por desafios. São irreverentes, extremamente inteligentes. House toca guitarra e piano, Holmes toca violino; ambos são dependentes de drogas — House, de Vicodin, e Holmes, de cocaína e morfina. A amizade com o dr. James Wilson também é semelhante à amizade entre Holmes e o dr. John Watson, e mesmo as iniciais dos amigos são as mesmas: J. W. Diz um ditado popular que “quem te ama também te faz chorar”. É por meio dos confrontos, brigas e solidariedade que acontecem em uma amizade que se podem desenvolver a empatia, a sensibilidade e as possibilidades de relacionamentos mais íntimos. Precisamos de alguém que nos afirme e referencie; que aceite nossas virtudes e vícios, mas que brigue com esses últimos; alguém que nos ajude a viver como somos, e o melhor que pudermos. Isso acontece principalmente nas amizades e no amor filial, em que somos todos um pouco iguais e irmanados, somos cúmplices e críticos. É o que acontece 12
com House e Wilson. Essa é a amizade que os une, cheia de provocações mas cheia de cumplicidade também. É o que acontece com outras grandes amizades, como entre os três mosqueteiros (“um por todos, todos por um”) e entre Holmes e Watson. O autor da série, David Shore, um admirador de Sherlock Holmes, coloca na série outros detalhes que aproximam os dois protagonistas, como o número do apartamento de House, 221B, que é o mesmo número do apartamento de Holmes na Baker Street. Ainda, Moriarty, o homem que atirou em House, é o nome do maior inimigo de Holmes, o professor Moriarty. Este livro se propôs a uma reflexão sobre algumas questões intrigantes que a série House desperta. Não buscamos dissecar nem diagnosticar House e sua equipe, buscamos entendê-los para, assim, melhor compreender a nós mesmos. Essa reflexão também instiga a uma aventura, não aquela proposta pelas imagens do seriado, mas aquela proposta por nossas próprias imagens interiores. As autoras, todas estudiosas de Jung, são as guias para essa jornada, guias responsáveis pelos caminhos que propõem. Ainda que haja uma unidade no livro, a individualidade de cada autora foi preservada. Desejo aos leitores uma ótima aventura!
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CAPÍTULO 1
Quem tem medo do dr. House?
R ita Hetem 1 “Homens há, escreveu Aristóteles, tão próximos do divino, tão excepcionais, que transcendem naturalmente, por seus dons extraordinários, qualquer julgamento moral ou controle institucional. ‘Não há lei que cinja homens desse calibre — eles próprios são a lei.’” 2
O que nos fascina em House? Um médico de extraordinária capacidade diagnóstica e ao qual todos recorrem, malgrado sua acidez relacional, seu desprezo pelas pessoas e sua insuperável irreverência ética — que, na maioria das vezes, revela-se na conclusão de seus atendimentos, desconcertantemente ética. Os episódios têm uma estrutura básica: uma internação provocada por um mal repentino, que se manifesta em um paciente até então saudável ou que arrastava conhecida doença. Não importa. A equipe médica lutará para possibilitar a recuperação do paciente e para tanto fará o inusitado, sob orientação ou coação de House. A opinião do paciente? Nem sempre conta, dado que, para House, a própria pessoa jamais fala suas verdades, a não ser sob pressão, preferencialmente diante do risco de morte iminente. Por isso mesmo, sempre supõe serem vitais as informações que o paciente pretende dissimular ou que parecem não ter relação com o caso. 1 Psicóloga junguiana com especialização em psicoterapia breve, cinesiologia psicológica e formação em life coach. 2 Lucy Hughes-Hallett. Heróis: salvadores, traidores e super-homens, Ed. Record, 2007.
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Mais que a anamnese, House exige o não contado, perscruta o não dito, o detalhe desprezado ou cuidadosamente escondido. Escarafunchador das sombras, buscador das feridas, House quer sempre evidenciar “a coisa que uma pessoa não tem desejo de ser3 ”, ou “o outro eu” que teme revelar. Seja com seus pacientes ou com os colegas de trabalho, House age declaradamente com a desagradável intenção de flagrar a mentira e a dissimulação com a qual pretendem manter o status quo, garantir as aparências. Desmantela a suposta fantasia de estabilidade, na qual a fragilidade dos egos se refugia e, com isso, por incrível que pareça, diagnostica e muitas vezes cura doenças e até mesmo reorienta sua equipe, seja do ponto de vista profissional ou pessoal. Não lhe interessa reconhecimento ou gratidão, ou que o compreendam. Age como acha que deve agir, com uma autenticidade tantas vezes agressiva, por vezes violenta. Sábio às avessas, provocador, insuportável. Nada de “Grande Mãe”4 com ele. Nada de acolhimento, de empatia ou de afetividade. Não se preocupa com a qualidade da relação médico/paciente para estabelecer o processo de cura. Estabelece uma relação de ajuda, sim, mas com estilo completamente iconoclasta, ferino, até. Busca a lógica bioquímica do organismo, da fisiologia, da saúde, fazendo questão de desprezar a pessoa que, de fato, não se apresenta, escondida que está sob suas meias-verdades. Só se dobra à dor existencial verdadeira — mas raramente encontra pessoas dispostas a esse grau de lucidez, de confronto consigo mesmas — confronto este que, talvez, sua constante dor na coxa aleijada lhe imponha de modo implacável. Em alguns episódios, apresenta-se mais humano. Noutros, completamente sarcástico. Precisamos considerar que, em tempos em que o alcance e o poder da mídia oferecem rápido feedback a cada 3 C. G. Jung. Obras completas, vol. XVI, § 470. Sobre a parte de nossa personalidade que denomina de “sombra”: “A figura da sombra personifica tudo o que o sujeito não reconhece em si e sempre o importuna, direta ou indiretamente, como por exemplo traços inferiores de caráter e outras tendências incompatíveis”. C.W. IX-1. 4 Grande Mãe: padrão fundamental do comportamento humano, que simboliza capacidade de gerar, nutrir e acolher; arquétipo estruturante da psique segundo C. G. Jung.
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capítulo que vai ao ar, a consistência do personagem pode ser contaminada pelo desejo da audiência. Em um seriado, os episódios são construídos e apresentados ao longo de meses e, fazendo sucesso, ao longo de anos — como é o caso de House. Sendo assim, há uma resposta coletiva para as histórias e suas ressonâncias ficam em permanente diálogo com o autor. Não estamos falando, portanto, de um personagem que sai pronto, feito Capitu, de Machado de Assis,5 que, quando entra em contato com o público, está terminada, irretocável, permanente em seus “olhos de mar de ressaca”. O personagem House muda um pouco de temporada para temporada. Por vezes, parece ir desnecessariamente a extremos do improvável, como quando vai fazer refeições no necrotério — com corpos expostos! — e, noutras temporadas, mostra-se mais passível de ser tocado por algum afeto, por algum significado, como quando consola Cuddy por ela não ter podido adotar o bebê que tanto desejava (V/6)6 . Talvez isto revele duas faces não de House, mas do público — da consciência coletiva: os que querem “humanizá-lo”, e os que querem fazer catarse por meio de sua conduta incômoda e brilhante. De fato, House é um transgressor. Transgride à toa, banalmente, e transgride quando é importante, fundamental para o fortalecimento do indivíduo. Portanto, comete tanto o que podemos chamar de transgressões evolutivas (aquelas que buscam e exigem as vivências fundamentais da psique, mesmo quando estas estão excluídas das normas sociais), quanto aquelas que são mera provocação, psicopatia em pequenas doses. Com isso, o público se desconcerta, pois, querendo encontrar nele um sábio, nessas horas encontra um chato — iconoclasta de si mesmo. House também intriga pela dúvida que gera quanto à capacidade de se relacionar afetivamente, de dar significado e continuidade às relações. Chega a afirmar em um diálogo com seu amigo Wilson(V/11): 5 Capitu: personagem do livro Dom Casmurro, de Machado de Assis. 6 Utilizaremos números romanos para identificar as temporadas e números arábicos para os episódios, respectivamente.
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House: — Sou fisicamente incapaz de ser educado. Wilson: — De ser bom, de forma profunda e constante? Não (é capaz).
Interesse em se relacionar? Amadurecimento emocional ou sensibilidade? Nada disso é ingrediente de seu comportamento,7 pelo contrário. Não pretende se relacionar, no senso comum do termo. Ele quer as pessoas, mas não deseja delas aceitação, compreensão, admiração ou afeto. House precisa das pessoas para raciocinar. Seu pensamento, mercurial,8 visita aqui e ali as hipóteses alheias. Isso eletriza sua mente. É ouvindo (em relação) que sua criatividade desperta. Mas, na maioria das vezes, inclusive, recusa ver seus pacientes, alegando que nem isso é necessário para o diagnóstico. Fóbico diante da intimidade, faz questão de deflorá-la em público: expõe questões pessoais da equipe, investiga segredos de relacionamento, viola exames clínicos de seus funcionários, ignora sigilo e ética alegando a necessidade de conhecer sua equipe para saber até onde pode realmente contar com ela. Faz com que o secreto, seja dos colegas seja dos pacientes, abra-se feito a caixa de Pandora9 sobre a mesa. Para ele, o segredo jamais é sagrado: apenas cumpre a função de sustentar a hipocrisia das relações e a dissimulação dos medos humanos. Então, sem gentileza, sem medida, sem razão aparente, House rompe com qualquer acordo tácito de boa convivência ou educação e age como se cada detalhe particular da vida de seus colegas guardasse um perigo ou uma ameaça e, ao mesmo tempo, não merecesse a menor discrição ou respeito. Para ele, qualquer apelo emocional ou pedido, mesmo quando há indício de que esteja em sintonia com 7 A não ser em seu contato com a música. Ver, neste livro, capítulo 8, “House e a Música”. 8 Pensamento mercurial: rápido, versátil, que transita entre ideias opostas com facilidade. A expressão vem dos estudos de Jung a respeito dos textos alquímicos da Idade Média. 9 Caixa de Pandora: na mitologia grega, continha os malefícios que poderiam acometer o corpo (doenças em geral, a velhice e as guerras) e o espírito (inveja, cobiça, maldade, usura).
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suas próprias supostas emoções, deve ser negado por princípio. Algumas vezes, parece fazer isso por puro prazer em contrariar. Outras vezes, nos surpreende porque, sob outra ótica somente revelada ao final de cada episódio, propositadamente desafiava seu interlocutor a superar a si mesmo.10 Barba desalinhada, camisa amassada, mal-educado — seja com funcionários ou pacientes —, burlando horários, normas ou qualquer formalidade, é consultado nos casos em que os princípios diagnósticos não dão conta de explicar o que ocorre com o doente. Em geral, House acerta e resolve o caso. Inadaptado, neurótico, dependente de droga, manco, refratário às relações — e brilhante. Eis nosso herói.
O herói e a sombra (...) o processo pelo qual as personalidades dos heróis e seus curricula vitae são ajustados aos valores morais e às necessidades emocionais daqueles que os veneram é fascinante. Afirmar que a maioria dos ídolos tem pés de barro é uma banalidade: o que é interessante é perguntar por que, sabendo disso, ainda somos fascinados por eles.1 1
Por que precisamos de um herói? E por que de um herói como House? Talvez uma das marcas decisivas de nosso tempo seja o anonimato a que nos obrigam, ou nos oferecem, as grandes cidades, solidão decretada entre inúmeros apartamentos de superpopulosas megalópoles, paralelamente à tecnologia como condição de subsistência — salvadora e vilã. Com isso, antigas questões humanas ganharam outros instrumentos de expressão e de amplificação, como o distanciamento do sujeito em relação à percepção de si mesmo. A rapidez e a multiplicidade de estímulos concomitantes ampliou de tal forma a 10 Como quando parece extremamente cruel com Foreman, por recusar-se a ajudá-lo no diagnóstico em uma criança, mas na verdade o ajudava a tomar decisões por si mesmo (V/8). 11 Lucy Hughes-Hallett, op. cit.
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conectividade entre as pessoas, seus negócios e suas relações, que poderíamos nos perguntar se, neurologicamente, estamos preparados para tanto. Segundo a neurociência, o aprendizado e a vivência de situações e de relacionamentos novos provocam não somente o nascimento de mais dendritos12 em velhos neurônios, mas também forma novos caminhos neuronais, estimulando inclusive o nascimento de novos neurônios (a neurogênese1 3 ). Se realmente for assim, é provável que estejamos diante de um caminho evolutivo de ativação cerebral intensa, desde que a fabulosa capacidade adaptativa do homem dê conta dos custos psicológicos e emocionais deste novo cenário. A automatização do cotidiano — assunto com o qual o gênio de Charles Chaplin nos fez rir e refletir já em 1936, com seu clássico filme Tempos Modernos — apontou o perigo da alienação do indivíduo em relação a si mesmo, agora não apenas por pressões emocionais ou sociais, mas também pelo modo de produção que retira do trabalho do indivíduo a possibilidade de atitudes conscientes, refletidas e pensadas, impondo repetições vazias, sem visão, participação ou consciência do processo produtivo como um todo. Por acréscimo, o final do século XX e o início do XXI trouxeram, com a cibernética e seus avatares e “encontros às escuras”, a possibilidade de brincar com a fragmentação da autoimagem. Ou seja, na esteira da evolução tecnológica, a revolução dos meios de comunicação, especialmente a internet, deu vazão a um jogo de personagens íntimos, caricaturas e idealizações, facetas fantasiosas, identidades virtuais e parciais que interagem com outras identidades virtuais, substituindo por vezes definitivamente um encontro efetivo entre 12 Dendritos: ficam em torno da parte central das células cerebrais (neurônios), são como “cabelinhos” neuronais, responsáveis por captar e passar os impulsos nervosos para outros neurônios. Quanto mais dendritos, maior a capacidade dos neurônios. Comportam-se repetitivamente e sem novos aprendizados, fazendo com que se use sempre o mesmo caminho neuronal, atrofiando aqueles que não são usados. 13 Diferente do que se acreditava anteriormente, que as perdas de neurônios seriam irreversíveis, a novidade trazida pela neurociência e pela neuropsicologia a partir da última década do século XX, é que não apenas se pode usar diferentes áreas cerebrais para antigas funções, mas que também a prática de atividades novas e a interação — relacionamentos — estimulam o nascimento de neurônios.
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duas pessoas, com seus cheiros, olhares e batimentos cardíacos próprios do exercer uma relação. Com isso, o baile de máscaras do cotidiano passou a acontecer via satélite, dentro de casa e solitariamente. À parte, a incrível possibilidade de reencontrar velhos amigos por meio das redes sociais, de trocar notícias rápidas sobre acontecimentos e com isso atualizar brevemente nossos pares a respeito do que ocorre conosco, a qualidade resultante das interações merece reflexão. Afinal, apesar de tudo isso — e com tudo isso —, o encontro verdadeiro com outro ser humano pode jamais acontecer: entre tantas “máscaras” e atividades, o sujeito dá conta de ser? E dá conta de ser “com o outro”? O processo do desenvolvimento psicológico comporta a busca da integração entre os vários interesses da personalidade (digamos, os vários “eus”), paralelamente aos dilemas da adaptação social. Sabemos que a necessidade de inclusão na coletividade faz parte do processo evolutivo de nossa espécie, dado o fato de o homem ser um indivíduo gregário e, portanto, precisar do grupo para sobreviver. Não só fisicamente, mas também do ponto de vista emocional e psicológico, o homem depende de relacionamentos para se desenvolver e para se conhecer. Alguns estudos, ainda em andamento, sugerem que a dor sentida em um processo de rejeição ou isolamento é análoga à dor física, sendo ambas sofisticados mecanismos de defesa para a preservação da espécie.14 De fato, pela recorrência de importantes decisões pessoais que ficam a serviço de diminuir o sofrimento frente à rejeição, é notório o esforço automático e quase inconsciente para garantir comportamentos “bem-vindos”, que sejam cartão de ingresso e permanência nas rodas de convívio almejadas. É assim que a espécie sobrevive, mas o que ocorre com o indivíduo? Como discriminar o ente, a vibração verdadeira, original e única de si mesmo, por suas falas, comportamentos, fragilidades e decisões? Será que a própria pessoa está ciente e consciente de sua verdade íntima? 14 Harvard Business Review, Edição Brasil, vol. 89, no. 4, abril 2011.
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House diz: “Todos mentem”.15 Mas, na verdade, quem de fato se conhece? E, em se conhecendo, quem está disposto, por necessidade imperiosa, a pagar o preço de ser si mesmo? “Toda vida é vida individual, e aí reside seu fim último”, diz Jung.1 6 Para o psiquiatra suíço, a origem de toda neurose é a impossibilidade de viver a vida com a singularidade, a autenticidade e a expressão próprias pertinentes àquela alma individual. Surge, então, a questão que divide o homem entre suas duas necessidades prementes: ser e pertencer. Afinal, como ser adaptado e ao mesmo tempo integrar os conteúdos da alma que a mantêm única e original, embora sejam socialmente recusados ou pessoalmente reprimidos? Eis um longo e intenso trabalho, uma batalha constante para que “o outro”, a sociedade massificante, os vizinhos, as regras, a convivência social ou um amor não se tornem coação. Segundo a teoria junguiana, apesar de as máscaras sociais1 7 terem seu papel tanto do ponto de vista adaptativo quanto intrinsecamente estruturante da personalidade, o encontro consigo mesmo se inicia pelo encontro com a sombra,18 que é um aspecto interno abismal e obscuro, sem referências para o ego.19 Em linhas gerais, “encontrar-se com a sombra” equivaleria a reconhecer o lado da personalidade considerado negativo, perigoso, inadaptado, desconhecido. Assim, para preservar o bom convívio e a boa adaptação social, todos os excessos e egoísmos, as vontades que causariam embaraço, os desejos secretos, os conteúdos rejeitados pela consciência ficariam guardadinhos nesse recôndito da alma, nessa “caixinha” dos segredos pe15 Ver, neste livro, capítulo 3, “Todos mentem”, de Ana Rios. 16 C. G. Jung. Collected Works X/2, § 923. 17 Para Jung, uma parte da estrutura da personalidade seria a persona, “a máscara usada pelo ator, significando o papel que ia desempenhar. A persona representa um compromisso entre o indivíduo e a sociedade, acerca daquilo que ‘alguém parece ser’: nome, título, ocupação, isto ou aquilo. A persona é uma aparência (…).” Jung, C. W. VII/2, parágrafo 245. De certo modo, embora seja fundamental para a vida em sociedade e organização da vida pessoal, a persona inibe a expressão original da natureza do indivíduo porque filtra e seleciona o que convém expressar. 18 A sombra faria a contraparte da persona. Para Jung, tudo que “não cabe” nas condutas sociais, nos compromissos assumidos, inclusive as “forças adormecidas da psique”, estão na sombra. “Trata-se de possibilidades de intensa dinâmica.” C. G. Jung. Collected Works X, § 582. 19 Centro da consciência: parte de nossa personalidade encarregada de avaliar e tomar decisões, buscando equilibrar as mensagens do self (o centro profundo da personalidade) e as demandas da vida pessoal e social.
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rigosos e poderosos. Ao mesmo tempo, também ficariam ali toda a criatividade, as reações imprevistas, as habilidades não desenvolvidas, as inspirações, o olhar inovador para as coisas e para o mundo. O potencial para um outro eu — uma outra forma de ser, agir e reagir — fica reservado, não visto, fora da luz da consciência. Esta é a sombra, esse “eu oculto”, o “outro de mim”, que sempre representa tentação e libertação, risco e conquista. Diz Jung: Todo o mundo carrega uma sombra, e, quanto menos ela está incorporada na vida consciente do indivíduo, mais negra e densa ela é. Se uma inferioridade é consciente, sempre se tem uma oportunidade de corrigi-la. Além do mais, ela está constantemente em contato com outros interesses, de modo que está continuamente sujeita a modificações. Porém, se é reprimida e isolada da consciência, jamais é corrigida, e pode irromper subitamente em um momento de inconsciência. De qualquer modo, forma um obstáculo inconsciente, impedindo nossos mais bem-intencionados propósitos.20
Conscientizar-se da sombra, conhecê-la, integrá-la na personalidade consciente e permitir que seus conteúdos enriqueçam a expressão de si mesmo é morrer e renascer. É desestruturar a identidade parcial que ficaria sempre dentro da medida do status quo, e deixar fluir a renovação, o inesperado, o lado da natureza pessoal que tememos, pois desconcerta e desconfigura o jogo social e pessoal das previsibilidades, para fazer acontecer a pessoa em sua essencial individualidade. Enfrentar esse processo é ser o herói da própria trajetória. House — o herói que destacamos, desadaptado por excelência — se conduz de modo sombrio, como se fizesse questão de romper com qualquer compromisso de boa vizinhança ou “bom mocismo”. Ao mesmo tempo, provoca todos a reconhecerem a própria som20 C. G. Jung. Collected Works XI, § 131.
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bra, obrigando a que saiam da imagem idealizada e estabilizada de si mesmos. Ele busca a mácula, a imperfeição, o esconderijo sombrio das verdadeiras motivações por trás de cada ação. Não supõe a bondade infinita e suprema que o budismo afirma como definitiva da natureza humana. Pelo contrário. Fica indignado em relação à frequente superficialidade das pessoas em relação às suas vidas, ou, como diz Nietzsche,21 não suporta “que a maior parte das pessoas não (ache) desprezível acreditar nisto ou naquilo, ou agir de acordo com isso sem ter pesado o pró e o contra, sem a consciência profunda de suas supremas razões de agir, sem sequer ter se incomodado de inquirir essas razões”. Então, embora cause estranheza, e mesmo rejeição, vemos House cercado de pessoas que o querem ajudar e mesmo desejariam sua proximidade, embora ele faça questão de ridicularizar, ofender e responder com hostilidade às pequenas gentilezas, pondo a perder por completo o código de conduta vigente, destruindo a zona de conforto de todas as relações. Ele intriga e provoca, mas se mantém forte atrator — seja de sua equipe ou do público que acompanha o seriado ao menos há sete anos...22 Algo em nós odeia, mas reflete: se alguém pretende se relacionar com House (e a urgência das enfermidades sem diagnóstico sempre o exige), terá que superar melindres, reservas, mágoas, inseguranças. Terá que arriscar-se a se ver desnudo, humilhado e rejeitado para encontrar o caminho da cura — seja de uma questão clínica ou da própria ferida íntima, a dissociação entre ego/sombra que engendra tantas fragilidades na personalidade. Sendo assim, apesar de mal-educado, ingrato e grosseiro, a convivência com House obriga ao desenvolvimento. Vemos isto ao acompanhar a mudança de atitude de seus companheiros de trabalho. Ao longo dos episódios, a equipe aprende a raciocinar “apesar” do House e “graças” ao House. Alguns colegas chegam a superá-lo, não na habilidade diagnóstica, mas por aprenderem o “código de conduta housiano”. É assim que todos aprendem a seduzi-lo intelectualmente para que aceite os casos que desejam que ele diagnostique. Cuddy, 21 F. Nietzsche. A gaia ciência. 22 Em novembro de 2011, começou no Brasil a apresentação da oitava temporada.
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por exemplo, aprende a usar seu poder institucional para forçá-lo a cumprir suas responsabilidades de funcionário do hospital; Wilson o induz a conclusões erradas sobre sua vida pessoal, simulando comportamentos, pois sabe que House sempre o espreita — chegando a usar até mesmo um detetive;23 Cameron supera sua dependência emocional e não só coloca limites para o sarcasmo de House como passa a responder-lhe frequentemente de modo emancipado, sendo a única, inclusive, a optar por não trabalhar com House e, serenamente, demitir-se.24 Portanto, paralelamente aos diagnósticos brilhantes e alcançados de forma inesperada, há um outro “prêmio” para os que aguentam o “vaso alquímico25 ” imposto por House. “Só aquilo que realmente somos tem o poder de curar-nos.”26 É notável: mediante a constante e sempre renovável exposição da própria fragilidade, superando o desconforto do convívio, encarando o custo emocional que é ter alguém sempre enfiando o dedo na delicada ferida da alma, cada membro da equipe “recebe” de volta uma autossuperação evidente. Ou seja, o processo de individuação27 de cada um é acionado — benesses da resiliência.
23 (V/5). 24 (III/24). 25 Para os alquimistas, toda transmutação da matéria deveria ocorrer dentro de um forno, um vaso fechado capaz de suportar as temperaturas e a pressão necessárias para o processo da transformação. É o chamado “vaso alquímico”, metáfora de que se vale Jung para designar as condições que a psique deve suportar para que ocorra o processo de amadurecimento da personalidade. Jung também usa esta expressão para designar o “setien” terapêutico, que deve propiciar e facilitar tal processo. 26 C. G. Jung. Obras completas, VII/2, § 258. 27 “Individuação significa tornar-se um ser único, na medida em que por ‘individualidade’ entendermos nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio si mesmo”. “A meta da individuação não é outra senão a de despojar o si mesmo dos invólucros da persona, assim como do poder sugestivo das imagens primordiais.” O. C., VII/2, § 266 e 269.
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Referências bibliográficas COZOLINO, L. The neuroscience of psychotherapy. Healing the social brain. New York: Norton, 2010 HARVARD BUSINESS REVIEW, Edição Brasil, Vol. 89, no. 4, abril 2011. HUGHES-HALLETT, Lucy. Heróis: salvadores, traidores e super-homens. Rio de Janeiro: Record 2007. JUNG, Carl Gustav. O eu e o inconsciente. O. C. VII/2. Petrópolis: Vozes, 1984. JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. O. C. IX/1. Petrópolis: Vozes, 2000. JUNG, Carl Gustav. Aion — Estudos sobre o simbolismo do si mesmo. O. C. IX/2. Petrópolis: Vozes, 1998. JUNG, Carl Gustav. Civilização e mudança. O. C. X/1 e 2. Petrópolis: Vozes, 1998. JUNG, Carl Gustav. Psicologia da religião ocidental e oriental. O. C. XI. Petrópolis: Editora Vozes, 1988. O’KANE, Françoise. A sombra de Deus: reflexões sobre a depressão e a dimensão religiosa da existência. São Paulo: Axys Mundi, 1999. SCHEIN, Edgar H. Ajuda: a relação essencial. Valorize o poder de dar e receber ajuda. São Paulo: Arx, Saraiva, 2009.
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