Diogo Salles
Mensalão: o julgamento No julgamento do mensalão, o Judiciário estava sob júdice da população. E em jogo estava o longo histórico de impunidade no Brasil. Cercado de desconfianças — principalmente pela discutível presença de José Dias Toffoli, ex-advogado do PT —, quem conduziu a valsa foram Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, com pisões no pé para todos os lados. No fim, Barbosa prevaleceu e despertou amores e ódios. “Herói nacional” para uns, “traidor da pátria” para outros.
Com os mensaleiros condenados, petistas tiveram de sair da Matrix e reconhecer que o mensalão não era uma invenção da “mídia golpista”. A saída foi classificar o julgamento como “tribunal de excessão”. A entrada de Teori Zavascki e Luís Roberto Barroso foram cruciais para que os “embargos infringentes” fossem aceitos. Eles conseguiram livrar os mensaleiros do regime fechado, mas não foram suficientes para salvá-los de uma temporada na penitenciária da Papuda, onde desfrutam de conexão wi-fi e recebem marmitas “gourmet” de seus chefs favoritos.
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Bunga-bunga partidário Ideologia é coisa do passado. A eleição municipal de 2012 em SP mostra do que a política moderna é feita.
Depois de fundar seu PSD, o prefeito Kassab começava a ensaiar sua pulada de cerca para o lado petista. A jogada só não foi adiante porque Serra (seu padrinho político) se tornou o candidato do PSDB. E foi esse apoio do prefeito que enfraqueceu Serra na campanha, uma vez que a gestão Kassab foi reprovada pela população.
O PP de Paulo Maluf tinha tempo de TV a oferecer. Serra e Haddad estavam de olho, mas o PT acabou levando, pois tinha cargos a oferecer também no governo federal. Para selar o acordo, Maluf exigiu um encontro em sua casa, na frente da imprensa. Vice na chapa, Luisa Erundina (PSB) não aguentou e pulou fora.
E, por fim, Marta Suplicy. Preterida pelo ex-presidente Lula na escolha do candidato do PT, se tornou “fogo amigo” de Haddad. Petistas tentaram obter seu apoio à candidatura, mas ela só aderiu quando Dilma lhe agraciou com o Ministério da Cultura. Uma vez dentro da campanha, Marta pôde reviver seu tórrido romance com Paulo Maluf.
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Pelo “modelo de coalizão” se o governo não contemplar o peemedebismo, nada anda nesse país. Não seria mais correto dizer “modelo de coação”?
De tempos em tempos, partidos insatisfeitos abandonam a base aliada do governo. Depois de meses sem cargos, eles acabam voltando. Pragmatismo ou morte!
A lógica do eleitor brasileiro é complexa: eleger oportunistas em troca de favores, e depois reclamar dos políticos.
© Diogo Salles — 2006
Parece geral a preocupação da opinião pública com as relações entre o Planalto e o Congresso. A inquietação da base aliada dá uma sensação de que ela vai prejudicar a tal da “governabilidade”. Penso o contrário: acho salutar que haja tensão entre os Três Poderes. Mesmo que o jogo de poder fique sujeito a chantagens e retaliações, pelos menos a sociedade não fica à mercê da troca de favores e de acordos costurados a portas fechadas. Preo– cupado eu ficaria se visse os Três Poderes sorridentes.
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Onde muitos veem crise, eu vejo avanço. Há trinta anos o país é refém do peemedebismo, patrocinador do nosso atraso. Paralisar as votações no Congresso é o mal menor. Nossa crise é resultado direto do extremo governismo em que vivemos. Hora de cortar o cordão umbilical. E, chantagem por chantagem, que fiquemos com a que não beneficie as ratazanas. Se não é possível abater o mamute peemedebista com um único tiro, que pelo menos essa tensão mine um pouco suas forças.