Revista +Cidadania

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O Governo Federal – por meio da Secretaria-­‐Geral da Presidência da República, o Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e os Núcleos Estaduais de ODM no país têm a honra de convidar para os Seminários Estaduais de Lançamento da 5ª Edição do Prêmio ODM Brasil. O Prêmio tem a finalidade de reconhecer e valorizar práticas bem-­‐sucedidas realizadas por prefeituras e organizações da sociedade civil que contribuem para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Sua presença é fundamental para o êxito do evento! Acesse www.odmbrasil.gov.br e www.nospodemos.org.br e saiba sobre as datas dos eventos nos estados

Faça sua inscrição para o Seminário em www.odmbrasil.gov.br/seminariosodm


EXPEDIENTE

A revista + Cidadania é uma publicação do Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade www.nospodemos.org.br

Parceiros

Secretaria Nacional

Secretaria Geral da Presidência da República

Secretário Executivo Nacional Rodrigo da Rocha Loures rodrigo.mncs@gmail.com

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD/ONU

Secretário Executivo Nacional Adjunto Odilon Luís Faccio odilon.mncs@gmail.com (48) 3025-1079 /(48) 9963-0678 Secretária Nacional de Mobilização Maria Aparecida Zago Udenal (Cidinha) cidinha.mncs@gmail.com (41) 3271-7626 / (41) 9998-7289 Secretária Nacional de Mobilização Adjunta Inalda Barros Beder inalda.mncs@gmail.com (83) 9127-0358

Conselho Editorial Rodrigo da Rocha Loures, Odilon Luís Faccio, Maria Aparecida Zago Udenal (Cidinha), Inalda Barros Beder, Norte I - João Addario; Norte II - Jacimar Antonio da Silva; Nordeste I - Selda Cabral; Nordeste II - José de Arimatéia França; Centro Oeste - Ulisses Riedel; Sudeste Girlene Reis; Sul - Aline Calefi, Olavo Perondi, Maria Celina Arraes. Diretor Responsável Odilon Luís Faccio Jornalista Rafael Gué Martini (Mte/SC 02551-JP)

Articuladores Regionais (efetivos e Adjuntos) Norte I - João Addario (Pará) - Genilson Pereira da Silva (Amapá)

Projeto gráfico Maria José H. Coelho (Mte/PR 930-JP)

Norte II - Jacimar Antonio da Silva (Acre) – Glanaide Ben (Rondônia)

Diagramação Cristiane Cardoso (Mte/SC 634-JP)

Nordeste I - Selda Cabral (Pernambuco) – Clodoaldo Silva da Anunciação (Bahia) Nordeste II - José de Arimatéia França (Paraíba) – Eduardo Figueroa (Ceará)

Sede

Centro Oeste - Ulisses Riedel (Distrito Federal) Alexsandro Lima (Goiás)

Instituto Primeiro Plano Rua: João Pinto, 30 – sala 803 Centro – Florianópolis/SC Fone (48) 3025-3949/ 3025-1079

Sudeste - Girlene Reis (Minas Gerais) - Sandra Albuquerque (Rio de Janeiro) Sul - Aline Calefi (Paraná) - João Batista Thomé (Santa Catarina)

Apoio

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EDITORIAL

Unidos pelos mesmos objetivos

É com satisfação que apresentamos à sociedade brasileira a Revista + Cidadania, do Movimento Nacional Nós Podemos. Agora, regularmente teremos um canal de informações, notícias, exemplos de projetos e ações em prol dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Esta revista é resultado do nosso crescimento: a cada mês mais organizações se integram ao Nós Podemos. Já conseguimos também instituir comitês em várias cidades do Brasil e o nosso desafio é articular mais atores sociais, principalmente as prefeituras, para melhorar as condições de vida em todas as cidades. São menos de mil dias para se atingir as Metas do Milênio (2015) e o Brasil já alcançou várias delas. Somos um dos países que reduziu mais rapidamente a pobreza. Entretanto, em muitas regiões, cidades e bairros falta muito a ser feito. Somos a 7ª economia mundial e não podemos permitir a existência da pobreza em nosso país. Precisamos de um modelo de desenvolvimento sustentável: socialmente inclusivo, ambientalmente equilibrado e economicamente justo. Precisamos de + Cidadania! A cada edição vamos tratar de um ODM, expondo a situação atual do Brasil e indicando ações, soluções, projetos ou políticas públicas que deram certo. Projetos como esta revista, materializada graças ao patrocínio de várias organizações públicas, sociais e empresariais. Se sua entidade ou principalmente a prefeitura da sua cidade ainda não participa, entre em contato. Juntos, Nós Podemos e vamos transformar o nosso país num exemplo de qualidade de vida e solidariedade.

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pág. 16 pág. 8

O desafio da agenda de sustentabilidade para o setor privado

O Brasil e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

pág. 30 Agenda pós-2015

pág. 26 Perspectivas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio após a Rio + 20 6 - Nós Podemos | + Cidadania


EDITORIAL sumário

pág. 22 Nós e o Mar

pág. 20 Objetivos até 2015: e depois?

pág. 36 Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

pág. 32 A meta mais difícil de conquistar + Cidadania | Nós Podemos - 7


brasil

O Brasil e os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio

O Brasil avançou política, econômica e socialmente sem comprometer sequer uma das liberdades democráticas. Cumprimos quase todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, antes de 2015. Saíram da pobreza e ascenderam para a classe média no meu país quase 40 milhões de brasileiras e brasileiros. Tenho plena convicção de que cumpriremos nossa meta de, até o final do meu governo, erradicar a pobreza extrema no Brasil”. Estas palavras foram pronunciadas pela presidenta Dilma Roussef na abertura da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), no último mês de setembro. E não há dúvida de que as transformações ocorridas nos últimos anos impactaram positivamente na qualidade de vida dos brasileiros e das brasileiras. Um bom termômetro dessa melhoria são as ações do governo brasileiro para cumprir os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Já em 2003, o governo criou um grupo interministerial

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para acompanhar o andamento das metas do milênio no país. Por meio do lançamento de quatro relatórios nacionais de acompanhamento, foi possível verificar que o Brasil tem grandes chances de cumprir as metas estabelecidas até 2015. O governo brasileiro não está sozinho nessa tarefa. A participação da sociedade civil, consolidada por meio do Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade desde 2004, faz do Brasil um exemplo para o mundo em relação à participação social nos ODM. A participação social se dá também por meio do Prêmio ODM Brasil, que está em sua quarta edição. O Prêmio foi instituído em 2005 pelo governo brasileiro, em conjunto com o Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade e com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para disseminar e reconhecer iniciativas que contribuem notavelmente para o país atingir as metas. O Brasil tem obtido várias conquistas. Em relação ao primeiro objetivo, o governo estabeleceu metas mais ousadas, de erradicar a fome e de reduzir a pobreza extrema a um quarto da população até 2015, a um quarto da proporção existente em 1990. A meta foi alcançada em 2007 e superada em 2008. Nos últimos anos, o Brasil tirou 28 milhões de brasileiros da pobreza, mas ainda há 16,2 milhões de brasileiros que vivem na extrema pobreza. Para esses brasileiros e brasileiras o Governo Federal lançou o Plano Brasil sem Miséria, que aperfeiçoa e amplia a experiência do país na área social. A pobreza diminuiu 51,9% entre 2002 e 2009, (Pesquisa do IBGE, 03/05/2011); a renda per capita média brasileira subiu 23,7% em termos reais entre 2001 e 2009 (IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD) e a renda dos mais pobres no Brasil subiu 69,08% entre 2001 e 2009. Entre os mais ricos, a taxa de crescimento atingiu 12,8%. (PNAD). Esses indicadores permitem afirmar que houve uma queda histórica e persistente de desigualdade no país, o que fez com que 36 milhões de brasileiros passassem a integrar a classe média.

O salário mínimo aumentou e a renda de aposentados e pensionistas também. As políticas sociais do governo e as de geração de empregos contribuíram para a ampliação do mercado interno. O acesso universal à educação primária também avançou; a taxa de matrícula das crianças em idade escolar está em cerca de 95% e o analfabetismo entre jovens de 15 a 24 anos foi reduzido. A taxa de mortalidade das crianças abaixo de cinco anos apresentou queda de 58% entre 1990 e 2008 e, caso a tendência persista, o Brasil atingirá sua meta antes do prazo. As metas relacionadas ao HIV/AIDS, à malaria e à tuberculose estão sendo cumpridas, com programas de tratamento e assistência que alcançam, atualmente, cerca de 220 mil pessoas – das quais 190 mil recebem antirretrovirais. Para 2015, projeções indicam que o Brasil de-

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brasil

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verá reduzir a mortalidade materna pela metade. Esse desafio vem sendo enfrentado por diversas políticas públicas, dentre as quais se destacam a Rede Cegonha, a atenção pré-natal e a assistência ao parto, disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde, o SUS. O Brasil alcançou a meta de reduzir pela metade a proporção da população sem acesso à água potável em áreas urbanas, com o percentual da população servida por água de rede geral com canalização interna girando em torno de 92%, em 2008. Além disso, mais de 80% da população urbana contam com esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica. A proporção de pessoas residentes em domicílios urbanos com condições de moradia adequadas passou de 51% em 1992 para 66% em 2008. Os indicadores sociais mostram que o Brasil vai muito bem na média em relação ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e não há dúvidas de que os esforços do governo brasileiro e da sociedade civil vão gerar os resultados que todos nós buscamos. ômica e socialmente sem comprometer sequer uma das liberdades democráticas. Cumprimos quase todos os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, antes de 2015. Saíram da pobreza e ascenderam para a classe média no meu país quase 40 milhões de brasileiras e brasileiros. Tenho plena convicção de que cumpriremos nossa meta de, até o final do meu

governo, erradicar a pobreza extrema no Brasil”. Estas palavras foram pronunciadas pela presidenta Dilma Roussef na abertura da Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), no último mês de setembro. E não há dúvida de que as transformações ocorridas nos últimos anos impactaram positivamente na qualidade de vida dos brasileiros e das brasileiras. Um bom termômetro dessa melhoria são as ações do governo brasileiro para cumprir os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Já em 2003, o governo criou um grupo interministerial para acompanhar o andamento das metas do milênio no país. Por meio do lançamento de quatro relatórios nacionais de acompanhamento, foi possível verificar que o Brasil tem grandes chances de cumprir as metas estabelecidas até 2015. O governo brasileiro não está sozinho nessa tarefa. A participação da sociedade civil, consolidada por meio do Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade desde 2004, faz do Brasil um exemplo para o mundo em relação à participação social nos ODM. A participação social se dá também por meio do Prêmio ODM Brasil, que está em sua quarta edição. O Prêmio foi instituído em 2005 pelo governo brasileiro, em conjunto com o Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade e com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),

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brasil para disseminar e reconhecer iniciativas que contribuem notavelmente para o país atingir as metas. O Brasil tem obtido várias conquistas. Em relação ao primeiro objetivo, o governo estabeleceu metas mais ousadas, de erradicar a fome e de reduzir a pobreza extrema a um quarto da população até 2015, a um quarto da proporção existente em 1990. A meta foi alcançada em 2007 e superada em 2008. Nos últimos anos, o Brasil tirou 28 milhões de brasileiros da pobreza, mas ainda há 16,2 milhões de brasileiros que vivem na extrema pobreza. Para esses brasileiros e brasileiras o Governo Federal lançou o Plano Brasil sem Miséria, que aperfeiçoa e amplia a experiência do país na área social. A pobreza diminuiu 51,9% entre 2002 e 2009, (Pesquisa do IBGE, 03/05/2011); a renda per capita média brasileira subiu 23,7% em termos reais entre 2001 e 2009 (IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD) e a renda dos mais pobres no Brasil subiu 69,08% entre 2001 e 2009. Entre os mais ricos, a taxa de crescimento atingiu 12,8%. (PNAD). Esses indicadores permitem afirmar que houve uma queda histórica e persistente de desigualdade no país, o que fez com que 36 milhões de brasileiros passassem a integrar a classe média. O salário mínimo aumentou e a renda de aposentados e pensionistas também. As políticas sociais do governo e as de geração de empregos contribuíram para a ampliação do mercado interno. O acesso universal à educação primária também avançou; a taxa de matrícula das crianças em idade escolar está em cerca de 95% e o analfabetismo entre jovens de 15 a 24 anos foi reduzido. A taxa de mortalidade das crianças abaixo de cinco anos apresentou queda de 58% entre 1990 e 2008 e, caso a tendência persista, o Brasil atingirá sua meta antes do prazo. As metas relacionadas ao HIV/AIDS, à malaria e à tuberculose estão sendo cumpridas, com programas de tratamento e assistência que alcançam, atualmente, cerca de 220 mil pessoas – das quais 190 mil recebem antirretrovirais. Para 2015, projeções indicam que o Brasil deverá reduzir a mortalidade materna pela metade. Esse desafio vem sendo enfrentado por diversas políticas públicas, dentre as quais se destacam a Rede Cegonha, a atenção pré-natal e a assistência ao parto, disponibilizadas pelo Sistema Único de Saúde, o SUS. O Brasil alcançou a meta de reduzir pela metade a proporção da população sem acesso à água potável

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em áreas urbanas, com o percentual da população servida por água de rede geral com canalização interna girando em torno de 92%, em 2008. Além disso, mais de 80% da população urbana contam com esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica. A proporção de pessoas residentes em domicílios urbanos com condições de moradia adequadas passou de 51% em 1992 para 66% em 2008. Os indicadores sociais mostram que o Brasil vai muito bem na média em relação ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e não há dúvidas de que os esforços do governo brasileiro e da sociedade civil vão gerar os resultados que todos nós buscamos. O Brasil alcançou a meta de reduzir pela metade a proporção da população sem acesso à água potável em áreas urbanas, com o percentual da população servida por água de rede geral com canalização interna girando em torno de 92%, em 2008. Além disso, mais de 80% da população urbana contam com esgotamento sanitário por rede geral ou fossa séptica. A proporção de pessoas residentes em domicílios urbanos com condições de moradia adequadas passou de 51% em 1992 para 66% em 2008. Os indicadores sociais mostram que o Brasil vai muito bem na média em relação ao cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio e não há dúvidas de que os esforços do governo brasileiro e da sociedade civil vão gerar os resultados que todos nós buscamos. A participação social se dá também por meio do Prêmio ODM Brasil, que está em sua quarta edição. O Prêmio foi instituído em 2005 pelo governo brasileiro, em conjunto com o Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade e com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), para disseminar e reconhecer iniciativas que contribuem notavelmente para o país atingir as metas. O Brasil tem obtido várias conquistas. Em relação ao primeiro objetivo, o governo estabeleceu metas mais ousadas, de erradicar a fome e de reduzir

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a pobreza extrema a um quarto da população até 2015, a um quarto da proporção existente em 1990. A meta foi alcançada em 2007 e superada em Nos últimos anos, o Brasil tirou 28 milhões de brasileiros da pobreza, mas ainda há 16,2 milhões de brasileiros que vivem na extrema pobreza. Para esses brasileiros e brasileiras o Governo Federal lançou o Plano Brasil sem Miséria, que aperfeiçoa e amplia a experiência do país na área social. A pobreza diminuiu 51,9% entre 2002 e 2009, (Pesquisa do IBGE, 03/05/2011); a renda per capita média brasileira subiu 23,7% em termos reais entre 2001 e 2009 (IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD) e a renda dos mais pobres no Brasil subiu 69,08% entre 2001 e 2009. Entre os mais ricos, a taxa de crescimento atingiu 12,8%. (PNAD). Esses indicadores permitem afirmar que houve uma queda histórica e persistente de desigualdade no país, o que fez com que 36 milhões de

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brasileiros passassem a integrar O salário mínimo aumentou e a renda de aposentados e pensionistas também. As políticas sociais do governo e as de geração de empregos contribuíram para a ampliação do mercado interno. O acesso universal à educação primária também avançou; a taxa de matrícula das crianças em idade escolar está em cerca de 95% e o analfabetismo entre jovens de 15 a 24 anos foi reduzido. A taxa de mortalidade das crianças abaixo de cinco anos apresentou queda de 58% entre 1990 e 2008 e, caso a tendência persista, o Brasil atingirá sua meta antes do prazo. As metas relacionadas ao HIV/AIDS, à malaria e à tuberculose estão sendo cumpridas, com programas de tratamento e assistência que alcançam, atualmente, cerca de 220 mil pessoas – das quais 190 mil recebem antirretrovirais.



ARTIGO

O desafio da agenda de sustentabilidade para o setor privado Por Márcia Soares * Faltam menos de dois anos para terminar o prazo dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) e os últimos relatórios mostram que ainda há muito a avançar para o cumprimento de tais metas. Diante deste panorama, a discussão do momento gira em torno de definir o que será o compromisso pós-2015. Vários movimentos ae campanhas foram desenvolvidos para sensibilizar as empresas para os ODM, com destaque para as lideradas pelo Instituto Ethos, que entre outras ações lançou uma publicação intitulada O Compromisso das Empresas com as Metas do Milênio, na qual relaciona os princípios dos ODM com os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial. Em Santa Catarina, o Observatório do Desenvolvimento Regional da Universidade Regional de Blumenau (FURB) lançou uma cartilha que busca

Acesse o Environmental Profit & Loss Account da Puma em: http://bit.ly/YsbLwg

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divulgar os ODM e estimular o envolvimento das empresas neste compromisso. Outro exemplo. Dentre os temas dos ODM, o que remete à sustentabilidade ambiental despontou como um dos mais estruturantes, apontado pelo próprio Grupo de Trabalho da ONU para a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015. A Rio+20 veio para reafirmar essa tendência, mostrando que a sustentabilidade ambiental é um componente fundamental para chegarmos ao futuro que queremos. Seja pela motivação de campanhas, pela preocupação com reputação, para melhorar a aceitação de seus produtos pelos consumidores, ou mesmo pela obrigatoriedade legal, as empresas estão se estruturando e cada vez mais consideram as questões socioambientais em seus processos. Buscam diminuir seus impactos no planeta. Algumas foram além da lógica da compensação e já conseguem perceber uma oportunidade de negócio e agregação de valor nesta mudança. O presidente da Puma, Jochem Zeitz, contratou um estudo no qual mensura o impacto das atividades da empresa sobre os recursos naturais (lixo, água, gases de efeito estufa, poluição do ar, destruição de biodiversidade, erosão do solo...), em toda a cadeia de valor. Se fossem obrigados a compensar todo o impacto causado pela empresa precisariam desembolsar algo em torno de 145 milhões de euros, ou seja, mais da metade do lucro da empresa em 2010. O estudo derivou no movimento chamado Environmental Profit & Losses (ou EP&L, Lucros &


Perdas Ambientais), liderado pelo próprio Zeitz, que busca desenvolver uma contabilidade para mensurar o capital natural. Também resultou em maior investimento em inovação tecnológica pela Puma, em busca de reduzir os custos socioambientais. No ano passado a empresa lançou um tênis e uma camiseta com toda a redução de impactos ligados à sua produção e uso quantificados. Exemplos como este mostram que as organizações rumam para identificar seus impactos negativos e neutralizá-los, além de gerenciarem riscos e mapearem oportunidades. Estudo da consultoria McKinsey diz que 53% dos CEOs das grandes empresas já se preocupam com perdas da biodiversidade. Para além de mitigar os impactos socioambientais causados pelo seu negócio, a mineradora Vale, segunda maior do mundo, lançou em 2009 um fundo para desenvolvimento de projetos e iniciativas sustentáveis na Amazônia. A ideia era deixar uma contribuição para o planeta, sem vínculo com seus negócios. O Fundo Vale hoje já conta com um portfólio de 28 projetos apoiados, com mais de R$ 70 milhões comprometidos em ações de combate ao desmatamento e promoção de uma nova economia. Como bem disse o empresário Jorge Gerdau Jo-

hannpeter em um evento, ao ser questionado sobre o papel das empresas na sustentabilidade: “Ainda separamos a sustentabilidade social da econômica e da ambiental. Mas, no longo prazo, a sustentabilidade econômica não existe sem a sustentabilidade ambiental. Não incorporamos esse raciocínio ainda”. Não há como voltar atrás. A agenda de sustentabilidade entrou definitivamente para o cotidiano das empresas e as colocam de frente a um grande desafio: adaptar seus processos para diminuir o impacto e agregar valor ao negócio com investimentos socioambientais. Se considerarmos o poder econômico e político deste segmento, há um grande potencial de ganho para o bem da humanidade ainda pouco aproveitado. Apesar de difícil, é um caminho sem volta.

* Márcia Soares é graduada em Comunicação Social pela UFF e mestre em Comunicação e Cultura pela UFRJ. Atua há 17 anos na área ambiental, em jornalismo, comunicação corporativa e de projetos. Já trabalhou na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e no Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio), entre outras organizações. Colaborou como freelancer em vários veículos especializados e desde 2000 faz parte da Rede Brasileira de Jornalismo Ambiental. Atualmente coordena a área de gestão da informação do Fundo Vale.

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pós-2015

Objetivos até 2015: e depois? Encontro destacou importância da busca por um mundo mais sustentável

A Secretaria-Geral da Presidência da República promoveu no dia 16 de abril, em Brasília, o evento “Diálogo Social: Agenda Pós-2015 e Seguimento à Rio+20”. O evento contou com a participação de ministros, embaixadores, representantes do PNUD e da sociedade civil para debater os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) pós-2015 e a discussão que se iniciou na Rio +20 com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). “É muito importante a participação de representantes da sociedade civil para debater o modelo de referência a ser seguido sobre a continuidade dos ODM e da Rio +20”, declarou o ministro da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho. Ele destacou a importância do Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade/Nós Podemos e do secretário executivo do Movimento, Rodrigo da Rocha Loures, neste processo de parti-

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cipação da sociedade civil. No início do ano, o Sistema ONU no Brasil, organizou consultas públicas para o debate sobre os ODM pós-2015. A população brasileira também pode participar através de uma votação on-line. “A consulta no Brasil foi a mais abrangente e foram realizadas oito consultas temáticas e a consulta on-line. Esta agenda precisa gerar um mundo mais inclusivo, equitativo e sustentável”, destacou o representante da ONU no Brasil, Jorge Chediek. Consulta nacional As consultas promovidas pelo Sistema ONU, em parceria com o Movimento Nacional pela Cidadania e Solidariedade/Nós Podemos terão dados qualitativos – por meio dos questionários aplicados e eventos presenciais - e dados quantitativos da pesquisa on-line.


“A grande pergunta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) é como vamos assegurar que em 2050 as pessoas tenham uma vida sustentável”, André Corrêa do Lago

Foram respondidos 5.198 questionários, sendo que 1.448 da população carcerária do Estado do Paraná. Foram realizadas cinco consultas presenciais e 14 consultas com grupos da sociedade civil. “O Brasil é um exemplo a nível mundial pelos resultados alcançados como: redução da miséria e matriz energética limpa. O Brasil tem mostrado que é possível, e isso foi possível somente pela participação do governo, mas especialmente, da sociedade civil”, destacou Chediek. Para o embaixador do Ministério das Relações Exteriores, André Aranha Corrêa do Lago, os ODM são a ação mais bem sucedida da ONU nos últimos anos, pois os governos locais e a sociedade civil seguiram a causa. Segundo ele, os ODM foram definidos pelo Secretário-Geral da ONU e aprovados pelos Estados-membros, sendo uma decisão tomada de cima para baixo. Já o processo dos ODS é de baixo para cima. “Os ODS devem ser universais, onde todos os países devem estar envolvidos. Nenhum país desenvolvido atingiu o desenvolvimento sustentável. A grande pergunta dos ODS é como vamos assegurar que em 2050 as pessoas tenham uma vida sustentável”, salientou. Debates Durante o encontro, o tema da Rio + 20 também foi debatido. Segundo o embaixador do Ministério das Relações Exteriores (MRE), Luiz Alberto Figueiredo Machado, na Rio+20 foi estabelecida a erradicação da pobreza como motor de todas as mudanças que o mundo precisa pós-2015. “O país deverá adotar um modelo de desenvolvimento para acabar com a pobreza, mas precisa também contribuir com o desenvolvimento sustentável (econômico, social e ambiental). O Brasil tem vários avanços na contribuição para o desenvolvimento sustentável. Esta mudança é esperada não somente

pela sociedade brasileira, mas pelos parceiros internacionais”, destacou Machado. Para a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, o documento final da Rio + 20 influencia na tomada de decisões de governos e o Brasil tem um papel de construir e facilitar o diálogo. “Há um compromisso universal em torno do desenvolvimento sustentável. As obrigações são de todos, por isso a sociedade dos países desenvolvidos deve participar destas discussões. Caso contrário, as obrigações recairão sobre os países em desenvolvimento”, salientou. Já para a ministra de Desenvolvimento Social (MDS), Tereza Campello, o Brasil é uma referência na busca de um modelo de desenvolvimento inclusivo. “Temos que ousar e não pensar somente em metas. Precisamos pensar em quais as tecnologias alternativas e fontes de financiamento podem ser utilizadas”, completou. A representante da sociedade civil no encontro, Iara Pietrikovshy, destacou que a sociedade civil tem oportunidade de participar dos debates, mas não recebe um retorno sobre as suas sugestões. “O grande problema não são os pobres, mas os ricos. Como fazê-los participar? Por isso a importância da sociedade civil participar, porém precisamos ter uma devolutiva dos debates”, completou Iara.

“As obrigações são de todos, por isso a sociedade dos países desenvolvidos deve participar destas discussões”, Izabella Teixeira

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Oceanos

Nós e o Mar A Governança dos Oceanos no Brasil e em Santa Catarina por Leopoldo Cavaleri Gerhardinger*

Quando se pensa em como se juntar para cuidar dos oceanos, não é apenas sobre a sustentação de toda a vida exuberante, formidável fonte de alimentos, ou qualquer outro bom pensamento e sentimento que o mar nos inspira. A quantidade de CO2 expurgada das profundezas marinhas para o anil celeste pelo uso de combustíveis fósseis (ex. petróleo e gás), torna ácida a água do mar e implica em um verdadeiro desafio à ação coletiva e individual! Após os debates que ocorreram na Cúpula dos Povos e na Rio+20 (Rio de Janeiro, junho de 2012), inúmeros ajuntamentos continuam convergindo para tentar melhorar a nossa capacidade de resolver problemas, buscar e manter oportunidades de uma interação saudável com os Oceanos. Uma infinidade de processos multiplicam-se sob este importante enfoque. Se você quer ajudar ou simplesmente está curioso para saber onde tudo isto vai dar, oferecemos abaixo algumas dicas e informações para um engajamento eficiente. Durante a Conferência Rio+20 e a Cúpula dos Povos, ocorreram algumas iniciativas de avaliação da implementação dos progressos alcançados desde o lançamento de propostas de ação coletiva como a Agenda 21 (Rio 92), o Plano de Implementação de Johannesburgo , Plano de Ação de Barbados , a Estratégia Mauritius , a Cúpula dos Povos (ex. Ouvidoria do Mar) e muitas outras. Após acompanhar alguns destes eventos e processos percebemos, assim como muitos outras

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pessoas, a necessidade de criar e apoiar oportunidades para novas formas de ação coletiva de intenção convergente, transformadora e inovadora – à altura da difícil transição que se impõe à sustentabilidade, saúde e vida na Terra. Dentre as mais recentes iniciativas em nível global, citamos o Compacto dos Oceanos (Oceans Compact) a Parceria Global pelos Oceanos (Global Partnership for Oceans), a Comissão Global dos Oceanos (Global Ocean Commission), o Conselho Mundial dos Oceanos (World Ocean Council) e a Aliança Oceanos do Futuro (Future Oceans Alliance).


Em nível Brasileiro, o tema da governança dos oceanos vem sendo tratado em inúmeras esferas do Estado, como a recente publicação de relatório técnico e discussões travadas na Câmara dos Deputados sobre o tema; a discussão sobre a expansão do número de áreas marinhas protegidas; a elaboração de uma nova Lei do Mar; as negociações sobre um amplo Planejamento Espacial Marinho da Zona Econômica Exclusiva brasileira e, sobretudo; a formação de muitas redes e movimentos de pesquisa e/ou ação na zona costeira, a partir do qual resultam novas formas de engajamento político e comunicativo. Alguns destes processos ocorrem ‘na nuvem’ (internet) e possuem uma dinâmica mediada por tecnologias de hardware e software cada vez mais sofisticadas. Estes espaços oferecem a oportunidade para novos tipos de engajamento político que não se limitam ao simples [porém não menos importante] ‘click’ de uma petição on-line, mas o potencial de coordenar ações concretas, espontâneas e volun-

tárias no território costeiro-marinho, buscando influenciar a governabilidade e interações saudáveis com o mar. A Ouvidoria do Mar é uma destas iniciativas, pois é auto-gestionada por pessoas, redes e instituições de Santa Catarina (e.g. Cúpula Peixeira) e outras mais de 70 do Brasil e exterior. Após um encontro presencial realizado durante a Cúpula dos Povos (Rio de Janeiro, junho de 2012) para refletir sobre os problemas e campos de colaboração comum na zona costeira, foram estabelecidos mecanismos para a promoção de interações onde o estilo de comunicação seja crítico e voluntário buscando coerência com uma natureza institucional e trans-pessoal plural, como aquelas vivenciada no Aterro do Flamengo (Cúpula dos Povos) e muitos outros eventos. Cada um destes processos traz desafios e oportunidades para o aprendizado coletivo, para o despertar e emancipar político das pessoas e instituições. Contudo, precisam sempre estar acompanhados de

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Oceanos

Conecte-se na nuvem através da Ouvidoria do Mar ouvidoriadomar.tumblr.com http://www.facebook.com/pages/Ouvidoriado-Mar/507764119240085?fref=ts Cúpula Peixeira http://www.facebook.com/ groups/374773835899344 Compacto dos Oceanos http://www.un.org/Depts/los/ocean_ compact/oceans_compact.htm Parceria Global para os Oceanos www.globalpartnershipforoceans.org Comissão Global dos Oceanos www.globaloceancommission.org Conselho Global para os Oceanos www.oceancouncil.org Por uma nova Lei do Mar no Brasil http://www.valor.com.br/brasil/3084044/ ambientalistas-apoiam-lei-para-protegeramazonia-azul Assista aos recentes debates na Câmara dos Deputados http://www2.camara.leg.br/atividadelegislativa/webcamara/ao-vivo/transmissoesdo-dia/aoVivoSinais?codReuniao=31226

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reflexões sobre as implicações éticas em assuntos relacionados à segurança, legitimidade e propriedade de informações e conhecimentos pertinentes e necessários para o enfrentamento da crise planetária. Abaixo descrevemos algumas questões que requerem a atenção e engajamento urgente - principalmente dos catarinenses de canela molhada, que moram na zona costeira. Muitos outros temas poderiam ser citados além destes. Informações mais detalhadas sobre o que acontece no seu município pode ser encontrada seguindo os links oferecidos ao final. Enquanto aguardamos as tainhas chegarem do sul para a reprodução e também o deleite humano, tanto elas quanto sua captura de modo artesanal estão ameaçadas por impactos como a prática da pesca industrial e padrões irresponsáveis de consumo de pescado. Contudo, oportunidades de mudança significativa no rumo desta história irão surgir a partir da maneira como decidiremos interagir com as tainhas nesta safra de 2013. Um bom sinal partiu do recente Decreto do governador (dezembro 2012) onde declara a pesca artesanal da tainha um patrimônio histórico, cultural e artístico do estado. Os movimentos e associações de pescadores em todo o estado estão se juntando pela sustentabilidade desta interação. Outro controverso debate se refere à pretendida transição (re-categorização) da Reserva Biológica Marinha do Arvoredo para um Parque Nacional


que permite a visitação pública. Este debate precisa ser acompanhado de perto pelos amantes do mar, pois neste momento de instabilidade e crise de valores sobre a biodiversidade, corremos riscos de surpresas e retrocessos nas políticas públicas para a conservação marinha Brasileira e o compartilhamento justo dos benefícios de um oceano saudável entre os moradores da Ilha de Santa Catarina e zona costeira adjacente. O desenvolvimento do setor portuário no litoral catarinense aumentam as ameaças, por exemplo, ao que representa uma verdadeira jóia do Atlântico Sul – a Baía da Babitonga (norte do estado). O desenvolvimento urbano e do setor portuário de modo acelerado não está compatibilizado com os requerimentos de sustentabilidade deste importantíssimo ecossistema. Este ano, o problema poderá enfim ser bem encaminhado caso finalmente seja criado pelo governo novos mecanismos de governança como a proposta de Área de Proteção Ambiental da Baía da Babitonga. Após a criação, sua implementação deve ser inspirada em bons casos de governança compartilhada que estão sendo identificados no Brasil e no exterior. Como um bom exemplo a ser seguido como fonte de inspiração, citamos o processo de formação e amadurecimento do Conselho Gestor da Área de Proteção Ambiental da Baleia Franca e o processo atual de elaboração participativa de um Plano de Manejo que visa integrar as políticas públicas na

zona costeira ligada a 9 municípios do centro-sul catarinense. O próprio Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), órgão do governo que cuida das Unidades de Conservação (UCs) federais brasileiras, atribui a experiência de aprendizado que será vivenciada na APA da Baleia Franca no ano de 2013 como um projeto-piloto para se pensar novas formas de integrar e executar a gestão ambiental pública em todo Brasil. É momento de aprender com os erros do passado, como o fechamento do Canal do Linguado em São Francisco do Sul (>40 anos atrás) ou a alteração do curso do Rio Ratones, ambos processos que bagunçaram importantes ecossistemas de manguezal. Precisamos arrumar os equívocos do passado assim como lidar com novos problemas como o preocupante e vergonhoso derramamento de Ascarel no Ribeirão da Ilha há apenas alguns meses. Enfim, são inúmeros desafios, mas também oportunidades de ação, pois o que está ao seu alcance é compatível com a sua própria visão de futuro. E você, o que pode fazer? Esperamos ter oferecido um bom cardápio de opções.

*Oceanógrafo (UNIVALI, SC), mestre em Conservação da Natureza (University College London, Inglaterra), Doutorando em Ambiente e Sociedade (Universidade Estadual de Campinas, SP)

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Perspectivas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio após a Rio + 20. Por Maria Celina B. Arraes*

Muito se tem discutido sobre os resultados da Conferência Rio + 20. Se estivermos considerando como resultado somente a declaração final “O Futuro que Queremos” a divergência é normal. Acontece com documentos diplomáticos que procuram estabelecer consenso, pois é necessário que todos cedam um pouco para alcançar um objetivo maior. Por isso, nenhum participante tem a sua posição totalmente refletida no texto. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) - nas áreas de redução da pobreza, saúde, educação, empoderamento das mulheres e cooperação internacional - se originaram da Declaração do Milênio, aprovada por 191 chefes de Estado em 2000. O sucesso dos ODM foi reconhecido e consolidado pela Conferência Rio +20, citados que foram em torno de quinze vezes em todos os capítulos da declaração final. Mais ainda, o sistema bem sucedido de acompanhamento dos ODM, constituído por metas e indicadores concretos, servirá como modelo para os futuros Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Foi reconhecida a capacidade dos ODM para focalizar o alcance de objetivos de desenvolvimento, para estabelecer prioridades nacionais, para mobilizar os recursos e principalmente mobilizar pessoas para objetivos comuns.

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Os países presentes na Conferencia Rio+20 resolveram que os ODS deverão ser globais em sua natureza e aplicáveis universalmente a todos os países, diferentemente dos ODM que se aplicam somente aos países em desenvolvimento. Adicionalmente, os ODS deverão ser em número limitado e ter as seguintes características: inspiradores, concisos, de fácil comunicação e orientados para a ação, da mesma forma que os ODM. A implementação dos ODS pelos governos deverá ocorrer com envolvimento ativo de todas as partes interessadas. Na Rio +20 foi acordado um processo intergovernamental inclusivo e transparente para o estabelecimento dos ODS, com consultas aos governos, às equipes de apoio da ONU e reconhecidos especialistas. Este processo será aberto a todas as partes interessadas como requisito para aprovação pela Assembléia Geral das Nações Unidas. Decidiu-se a criação de um grupo de trabalho composto de representantes nomeados pelos países membros por meio dos cinco grupos regionais da ONU. O Grupo deverá estar estabelecido antes da Assembléia Geral da ONU de setembro 2012 e apresentar um relatório à Assembléia Geral de 2013. O compromisso com o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio até 2015 foi fortalecido na Rio +20. Alem disso, é um avanço que os ODS, de natureza técnica complexa, sejam aplicáveis a todos os países e resultem de um processo participativo. O movimento brasileiro Nós Podemos poderia servir como modelo de como a mobilização pelo alcance dos ODS pode acontecer de uma maneira participativa.

Coordenadora da Unidade de Planejamento Estratégico e Desenvolvimento de Capacidades PNUD Brasil





artigo

Agenda pós-2015 A construção do futuro que queremos

Por Jorge Chediek* Desde a adoção da Declaração do Milênio de 2000 por todos os Estados-Membros da Organização das Nações Unidas, o mundo assumiu o compromisso de alcançar, até 2015, os oito Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Com isso, os ODM passaram a definir um marco comum de prioridades para a comunidade internacional. Ao longo destes anos, o Brasil ganhou posição de destaque entre os protagonistas na adoção de políticas e iniciativas em prol do alcance destas metas. Com o prazo de 2015 se aproximando rapidamente, o Secretário-Geral da ONU convocou a realização de consultas abertas e inclusivas, com o objetivo de levantar as prioridades sobre a agenda de desenvolvimento e as possíveis soluções para os principais problemas globais. Desde então, o Sistema ONU esteve incumbido de estimular este debate global e organizar uma nova agenda de de-

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senvolvimento pós-2015. No Brasil foram realizadas 14 consultas presenciais, cinco encontros regionais e coletados mais de 3.800 questionários qualitativos. O Brasil foi um dos 50 países escolhidos para realizar esta consulta no âmbito nacional, e outros 26 países se candidataram espontaneamente para participar deste processo. O processo das consultas brasileiras, iniciado em dezembro de 2012, foi coordenado pela ONU – sob a liderança do PNUD – em parceria com a Secretaria Geral da Presidência. Foram 14 consultas presenciais, agregando grupos específicos da sociedade civil: juventude, refugiados, travestis e transexuais, indígenas, afrodescendentes, pessoas em situação de rua, jovens mulheres, centrais sindicais, entre outras. Também, com apoio do Movimento Nós Podemos, foram realizados cinco encontros regionais, com grande diversidade de setores, grupos e classes sociais, além da participação dos governos estaduais. Além disso, foram coletados mais de 3.800 questionários qualitativos, englobando os mais diversos segmentos da sociedade brasileira: cidadãos, movimentos sociais, ONGs, empresas, universidades e muitos outros grupos. Na consulta on-line, até meados de abril, o Brasil estava como segundo colocado com maior número de votos, atrás apenas da Nigéria. Este complexo processo de consulta nacional, além de gerar dados relevantes para o desenvolvimento de programas nacionais e internacionais, é também um importante mecanismo de participação e engajamento social. O relatório final contendo os resultados deste esforço coletivo será enviado ainda em maio à sede das Nações Unidas por todos os países envolvidos, mas o rico diálogo gerado pelas consultas deverá continuar não só para o desenvolvimento da agenda global, mas também para a sua implementação no pós-2015. * Representante Residente, PNUD Brasil. Coordenador Residente, Sistema ONU Brasil



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A meta mais difícil de conquistar Enquanto outros indicadores estão a caminho de serem atingidos até 2015, a redução da mortalidade materna está longe de ser alcançada Por Leila Olinto de Menezes Santos* A redução do índice de mulheres que morrem por complicações durante a gravidez ou no parto é o maior obstáculo brasileiro para que todas as metas dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) sejam cumpridas até 2015. O desafio é reduzir em 75% o número de óbitos registrados em 1990. Segundo o Ministério da Saúde, o indicador de mortalidade materna era de 141 gestantes mortas a cada 100 mil bebês nascidos com vida. Em 2010, o total estava em 68 a cada 100 mil. A meta é diminuir para menos de 35 óbitos. Mães relatam a importância do pré-natal Adriana Batista soube que estava grávida aos 35 anos, idade compreendida na faixa etária considerada de risco para mulheres terem filhos. A segurança veio a partir de um acompanhamento rotineiro com exames de pré-natal seguidos. O único susto apareceu no último mês de gestação. “Estava com pressão alta e só descobri isso durante o pré-natal. É fundamental as mulheres terem esse cuidado”, relata. Ela ficou quatro dias em observação em um hospital de Curitiba e optou pelo parto normal. “Deu tudo certo. A recuperação é rápida e minha filha nasceu saudável”, conta. Hoje, Isabely tem um ano e três meses. Quem tomou um susto maior foi Maria Gloss. Aos 41 anos, ela é mãe de Maria Clara, de dois meses. Além dos riscos devido à idade, ela descobriu em um exame pré-natal, no quinto mês de gravidez, que estava com toxoplasmose. Foram quatro meses de angústia “Fiz todo o tratamento, mas tinha medo de minha filha ter algum problema, como hidrocefalia

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ou problemas hepáticos”, afirma. Apenas quando a bebê nasceu é que ela se tranquilizou: Maria Clara estava totalmente saudável. “Foi um grande alívio”, diz a mãe. Gestação de risco Segundo o Ministério da Saúde, entre os fatores de risco para a gestação estão a pré-eclampsia (doença caracterizada pelo aumento da pressão arterial e aumento de peso acima de 500 gramas por semana), diabete e retardo do crescimento intrauterino. Gravidez em mulheres com menos de 15 anos e acima de 35 anos também são consideradas de maior risco, além do uso de drogas, álcool e cigarro. Abortos clandestinos também trazem preocupação. Conforme o Conselho Federal de Medicina, as cesáreas acarretam quatro vezes mais risco de infecção pós-parto e três vezes mais risco de mortalidade e morbidade (possibiliade de desenvolver doenças) materna que o parto normal. No Paraná, a situação também é complicada. A taxa precisa cair de 90,5 para 22 mortes a cada 100 mil nascidos vivos. Em 2011, o total ficou em 51 óbitos – número ainda superior ao dobro do estimado. As metas foram estipuladas em um acordo entre 191 países, intermediado pela Organização das Nações Unidas no ano 2000. Ficou determinado que 2015 seria o ano limite para o cumprimento dos objetivos. Segundo levantamento recente divulgado pelo Observatótio de Indicadores de Sustentabilidade (Orbis), 39 cidades paranaenses não conseguirão reverter o índice de óbitos de gestantes ou de mães que morreram em até 42 dias após o parto. Em abril teve início a contagem regressiva dos mil dias para o cumprimento das metas do milê-


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nio. Apesar dos avanços registrados, especialistas atestam que é fundamental ampliar o investimento na saúde básica, com capacitação de profissionais e investimento na infraestrutura hospitalar, além de políticas públicas que conscientizem sobre a necessidade de a gestante fazer o pré-natal. Cesárea Outro fator apontado como risco às gestantes é a cesárea. De 2000 a 2010, 43% dos partos foram por cesariana – índice que ultrapassa em muito os 15% considerados adequados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). “Cesariana é uma cirurgia. Deve ser feita somente em casos necessários, com gravidez de risco. Há uma epidemia de cesárea no país, o que aumenta a chance de morte”, afirma a pesquisadora em Saúde Reprodutiva da Universidade de Campinas (Unicamp) Margareth Arilha. Segundo ela, o grande problema no país ainda é a escassez de profissionais qualificados e de unidades de saúde adequadas. “Precisa melhorar a infraestrutura”, salienta. Para um dos articuladores do movimento Nós Podemos Paraná, que incentiva o cumprimento das metas, João Frederico Souza, o grande desafio é a aplicação eficiente dos recursos públicos. “O governo deve investir onde é mais preciso, mas isso não exclui a sociedade civil de realizar ações que possam conscientizar a população”, ressalta. Secretaria diz que é possível cumprir meta até 2015 A superintendente de Atenção à Saúde da Secretaria de Estado da Saúde, Márcia Huçulak, acredita que o Paraná terá condições de cumprir as metas estipuladas até 2015. Isso porque, segundo ela, entre

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2001 e 2010 a redução da mortalidade materna ficou praticamente estagnada. “Nesse período, a queda foi de 22%. Apenas em 2011 conseguimos registrar uma redução de 20%. Se continuarmos assim, temos chance de atingir a meta”, acredita Márcia. Segundo ela, grande parte da redução de óbitos de grávidas deve-se ao programa Mãe Paranaense. “Já temos 160 novas unidades de saúde com equipamentos necessários para um bom acompanhamento materno e infantil. Além disso, trabalhamos com a capacitação dos profissionais da saúde”, explica. São 2 mil servidores ligados diretamente com a saúde materna no Paraná. Conscientização “Nós ainda não conseguimos chegar à gestante no sentido de conscientizá-la¬¬. O que fizemos foi melhorar a atenção primária e a retaguarda de atendimento em casos de emergência”, ressalta Márcia. Ela salienta ainda que essa qualificação ocorre por meio do Programa de Apoio e Qualificação de Hospitais Públicos e Filantrópicos do Paraná (HospSus). De acordo com ela, o estado possui 25 hospitais de referência para atendimentos de gestantes de alto risco. “A grávida deve ter acompanhamento no pré-natal com no mínimo sete consultas e exames de classificação de risco”, afirma. De acordo com a superintendente, é necessário trabalhar na conscientização para que o número de cesarianas reduza no estado. “Muitas mulheres optam pela cirurgia, seja por medo de sentir dor ou pelo tempo que demora um parto normal, que pode chegar a 12 horas”, diz Márcia.

*Secretária nacional de relações político-sociais



entrevista

Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável Entrevista exclusiva com o embaixador André Corrêa do Lago

Confira entrevista com o embaixador André Corrêa do Lago (ACL), representante do Brasil no grupo de especialistas internacionais que vão elaborar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Por Rafael Gué Martini

Podemos afirmar que os ODS são o seguimento dos ODM? Qual é a diferença entre eles? ACL - Há uma diferença básica entre os dois. Os ODM foram desenvolvidos pela ONU e os ODS tem que ser desenvolvidos e aprovados pelos países. Isso tem provocado uma certa complexidade na preparação dos ODS. Mas não é só isso. Os seis primeiros ODM já não existem no mundo desenvolvido, enquanto a ideia dos ODS é serem universais e aplicáveis a todos os países. Os ODS devem incentivar mudanças estruturais no padrão do que é desenvolvimento no mundo, para passarmos ao desenvolvimento sustentável. Nenhum país já atingiu a sustentabilidade, portanto todos nós temos que nos esforçar para isso. Nos ODS quem terá que se esforçar mais são os países desenvolvidos, porque foram eles que estabeleceram os padrões atuais de produção e consumo. São eles que tem um grau de poluição e complexidade, em relação às dimensões ambiental e econômica, mais significativo no mundo. Para resolvermos os problemas mundiais temos que começar mudando a maneira como os ricos se desenvolvem. Se os ODS forem voluntários, como incentivar os países a cumprirem os objetivos? ACL - A opinião sobre objetivos voluntários mudou muito depois da experiência dos ODM. Quando

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os ODM foram criados, muitos acharam que não seriam cumpridos porque eram voluntários. Mas, por serem muito simples, foram adotados pela sociedade civil e também pelos governos locais. Isso criou uma dinâmica que os ODS querem aproveitar. A adesão voluntária diminui a pressão, mas cria um incentivo.

pessoas vão viver melhor, mas temos que investir em tecnologia para que isso aconteça. Acredito que este crescimento do número de consumidores vai ajudar a disseminar as tecnologias.

Seria possível uma classe média mundial?

ACL - O governo quer que a evolução das negociações seja acompanhada dentro do Brasil, por isso serão feitas diversas consultas como a que aconteceu neste mês em Brasília. Os ODM são organizados pelo secretariado da ONU e os ODS pelo grupo da Rio +20 e pelos governos dos países. Como eles vão se encontrar ainda está em aberto. Mas é da maior importância que possamos repetir a forma como foram abraçados os ODM. O Desenvolvimento Sustentável não pode ser promovido por decreto, ele precisa que a sociedade civil, empresários e governos locais abracem essa agenda.

ACL - Isso é um desafio muito grande. Temos que partir, não dos limites do planeta, mas de qual vai ser o pico da população mundial. Os estudos apontam que a população vai crescer até 2050, se aproximando dos 10 bilhões. Então temos que bolar este mundo sustentável de maneira a assegurar que esta população possa ter uma vida digna, confortável e plena em 2050. A partir deste número calcular que necessidades seriam essenciais para chegarmos a uma classe média. Tem que ser uma agenda positiva. A tecnologia já pode eliminar a pobreza. As

Como a sociedade pode acompanhar este processo?

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