Museu da Música

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U NI VE R S I DA D E FE DE RAL DA BAH IA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO SALVADOR 2016.2 | CADERNO DE TFG

[ TFG - 2016.2] GRADUANDA PRISCILLA DA MATTA HEEGER TEMA MUSEU DA MÚSICA ORIENTADORA NAIA ALBAN CO-ORIENTADORA GRISELDA KLUPPEL ASSUNTO INTERVENÇÃO EM PREEXISTÊNCIAS PARA ABRIGAR O MUSEU DA MÚSICA TRABALHO DESENVOLVIDO PARA APROVAÇÃO FINAL DE GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO PELA FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO DA UFBA - UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA, COMO REQUISITO PARA OBTENÇÃO DE TÍTULO.

S A L VA D O R - B A ABRIL DE 2017



resumo A proposta deste trabalho, dentro dos limites de um TFG em arquitetura e urbanismo é de recuperação de patrimônio edificado transformando-o em Museu da Música, traduzindo arquitetonicamente os valores atuais contemporâneos num espaço e desenvolvendo o interesse de locais e visitantes pela música. A ênfase desse trabalho é dada na apreensão da realidade do entorno resultantes de etapas de levantamento de dados das preexistências em estudo. Ao estudar as possibilidades que envolvem intervenções em preexistência para uso em museu, abre-se um horizonte de possibilidades e visões sobre o papel do museu e, inclusive também, de controvérsias entre arquitetos. A intervenção dessa proposta se alinha à uma noção de busca pela autonomia, liberdade espacial e pela valoração das relações locais e coletivas. Promovendo um museu como um objeto a valorizar o patrimônio histórico e também o entorno em que está inserido. Alem disso, buscar-se reestruturar as relações existentes no local, gerando novos fluxos e experiencias. Palavras-chave: patrimônio, preexistência, museu, música



ABSTRACT The proposal of this work, within the limits of a graduation project in architecture and urbanism, is to recover the built heritage transforming it into a Music Museum, translating through architecture the contemporary values of today ​​into a built space and developing the interest of locals and visitors through music. The emphasis of this work is given in the apprehension of the reality of the environment, resulting from data collection stages of the built heritages under study. There are large possibilities that involves interventions in preexisting buildings into museums. A horizon of possibilities and visions opens up for the role of museum in the city and also controversies between architects. The intervention of this proposal aligns with a search for autonomy, freedom of space and the enrich of local and collective relations. The proposal promotes the museum as an object able to value the historical heritage and also the environment in which it is inserted. In addition, there’s a pursue to restructure existing relationships between the neighborhood, creating chances and new experiences for the people. Keywords: heritage, preexistence, museum, music



AGRADECIMENTOS Agradecimento especial às professoras Naia Alban e Griselda Kluppel pela dedicaçao de ambas ao ensino da arquitetura e por terem orientado e co-orientado este trabalho com seus profundos conhecimentos. Aos membros da banca do Trabalho Final de Graduação, Prof. Juliana Nery e Prof. Valdinei Nunes, pela presença e pelas pelas discussoes pertinentes ao tema. À Leonardo Pessanha pela compania nas visitas ao local, por ter lido e várias vezes este dossiê e acompanhado o trabalho. À Raiane Menezes, Tadeo Badaró, Isadora Schefler e Luisa Gusmão por terem me enviado cadastro das edificações daquela área À Jorge Moura, arquiteto da Fundação Mário Leal Filho por esclarescimentos sobre projeto público para a Praça Cairu e discussão sobre a proposta de projeto. À Felipe Paem, arquiteto da Audium - Soluções em Acústica por ajudar nas soluções de isolamento e condicionamento sonoro. À Prof. Rosana Munoz por sua constribuição na solução estrutural e no estudo sobre comportamento físico das edificações antigas. À Prof. Graça Gondim pelas discussões e orientações iniciais para esta proposta. E por fim agradeço à minha familia que acompanhou o processo comigo e aos amigos que estiveram de braços abertos e dispostos a ajudar e apoiar.


índice 01 APRESENTAÇÃO

07 MOBILIDADE E INFRA-ESTRUTURA

1.1 OBJETO DO TRABALHO

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7.1 CARACTERÍSTICA DAS VIAS

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1.2 VISÃO DO PAPEL DO MUSEU

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7.2 ACESSOS, CONEXÕES E SISTEMA VIÁRIO

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7.3 ESTACIONAMENTOS

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7.4 VIAS PERCORRIDAS POR ÔNIBUS

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7.5 CALÇADAS, LIXEIRA E ILUMINAÇÃO

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02 CARACTERIZAÇÃO 2.1 RELAÇÃO COM A MÚSICA

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2.2 RELAÇÃO COM O BAIRRO DO COMÉRCIO

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2.3 RELAÇÃO COM O PATRIMÔNIO

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03 JUSTIFICATIVA 3.1 JUSTIFICATIVA

08 CONFORTO AMBIENTAL 8.1 ESTUDOS DE SOL E VENTOS

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8.2 ACÚSTICA

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20 09 LEGISLAÇÃO

04 OBJETIVOS 4.1 OBJETIVOS GERAIS

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4.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

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9.1 LEGISLAÇÃO PATRIMONIAL

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9.2 METODOLOGIA DE INTERVENÇÃO

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10 MACRO-ESCALA: ATUAL X PROPOSTA 05 BREVE HISTÓRICO

10.1 PROBLEMATIZAÇÃO

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10.2 PROPOSTA

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5.1 BREVE HISTÓRICO

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5.2 INTERVENÇÕES DOS ANOS 80-90

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5.3 INTERVENÇÕES CONTEMPORÂNEAS

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11 PROJETOS REFERÊNCIA

5.4 TRANSFORMAÇÕES NA PRAÇA CAIRU

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11.1 PROJETOS REFERENCIADOS

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06 MORFOLOGIA

12 ESTUDO DAS EDIFICAÇÕES

6.1 TRANSFORMAÇÕES E CICATRIZES DO PASSADO 28

12.1 SOBRE O SOBRADO AZULEJADO

6.2 PERFIL DAS RUAS

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12.2 SOBRE O SOBRADO NO4 48

6.3 GABARITO DAS EDIFICAÇÕES

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12.3 INTERIOR

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6.4 TOPOGRAFIA

30

12.4 PAREDES E FUNDAÇÃO

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6.5 USO FORMAL

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12.5 MODIFICAÇÕES NÃO ORIGINAIS NA FACHADA 50

6.6 USO INFORMAL

31

12.6 LIDANDO COM AS PATOLOGIAS

6.7 DINÂMICA DAS PRAÇAS

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48

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13 DIMENSIONAMENTO E PROGRAMA 13.1 ANÁLISE DOS PROJETOS REFERENCIADOS

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13.2 PRÉ-DIMENSIONAMENTO

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13.3 LUTHIERIA

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13.4 PRÉ-DIMENSIONAMENTO AR-CONDICIONADO 55 13.5 PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE SANITÁRIOS

55

13.6 CONSIDERAÇÕES SAÍDAS DE EMERGÊNCIA

55

13.7 ANÁLISES E DETERMINAÇÕES INICIAIS

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14 MATERIAIS 14.1 ESPECIFICAÇÃO DE MATERIAIS

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15 PROPOSTA DE PROJETO 15.1 APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA

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BIBLIOGRAFIA 74 LISTA DE IMAGENS

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LISTA DE MAPAS

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INTRODUÇÃO



01

APRESENTAÇÃO

Fi g. 1:   FO TO GRAFI A P R Ó P R I A - S O B R ADO AZUL E J ADO DO S É C. XI X

1.1 OBJETO DO TRABALHO A proposta deste trabalho consiste na valorização da música para a cidade de Salvador traduzida por meio de projeto arquitetônico que vise à melhor inserção do Museu da Música, no histórico Sobrado Azulejado (Fig.1). A edificação é um monumento tombado localizado na Cidade Baixa, em frente à Praça Cairu, no bairro do Comércio em Salvador, área de preservação simples e faz parte do conjunto tombado de casarões antigos do bairro. A escolha da edificação para museu de música é adotada a partir da declaração do poder público. No fim de 2013, a Prefeitura de Salvador assinou um convênio entre o Ministério do Turismo e a Caixa Econômica Federal para requalificação da Praça Cairu (G1 BAHIA, 2015). No ano seguinte de 2014, foi publicado no Diário Oficial do Município o decreto tornando de utilidade pública o Sobrado Azulejado - destinado à ser museu - e mais seis imóveis da região (BRASIL, 2014). O Sobrado Azulejado é uma escolha plausível para abrigar um museu já que tem grande área, localização de fácil acesso e precisa de uso (para salvá-lo de um possível desabamento visto suas condições atuais). Para completar o programa sem a necessidade de verticalização, foi incluído na proposta o Sobrado No 4 (Fig.3), vizinho ao azulejado e em condições físicas semelhantes.

Fi g. 3 :   S OBR A D O N O 4

Por conta do forte envolvimento da cidade com suas músicas e festas populares, é importante considerar, o contexto físico e social do sobrado. A proposta realizada é tornar o museu um equipamento de interação constante com o entorno imediato, com uso que possui contato direto com a rua. A proximidade com o Pelourinho, torna o local excelente para o desenvolvimento musical e criativo, seja ele na rua ou dentro da edificação, gerando uma condição urbana propícia à inserção de um espaço voltado para a música. Fi g. 2 :   E N T OR N O DA PR A ÇA C A IRU

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Segundo Livro do Tombo Histórico do IPAC, o sobrado de azulejos do Séc. XIX pertence à 1o fase do ecletismo e foi tombado em 1969 pelo IPHAN. Chegou a ser cotado para ser um hotel de luxo da rede Hilton, mas encontrou na música uma nova finalidade. Além disso, integra (juntamente com outros casarões históricos da região) o conjunto arquitetônico do bairro do Comércio, tombado em 2009 (IPHAN, 2009), cujo valor individual é reconhecido e regulamentado pelo Decreto-Lei No 25/37, do qual o artigo 18 prevê a preservação da vizinhança dos bens tombados. O seu vizinho, Sobrado No 4 teve sua construção terminada em 1912 e também pertence ao estilo eclético. Este casarão não é tombado individualmente, mas pertence ao conjunto histórico e até o ano de 2016 comportava um estacionamento informal.

M apa 1:  M APA D E S I T U A ÇÃ O D O E N T OR N O

1.2 visão SOBRE papel do museu Museus se tornaram um símbolo contemporâneo de nossa cultura, aparecendo como solução em áreas e cidades diferentes e como um grande articulador de relações sociais. Cada vez mais os museus se distanciam do modelo tradicional europeu voltado para a conservação e buscam desenvolver o poder transformador da arte e uma interatividade com o público - de forma que este não seja um mero espectador, mas também participante. Quando Pietro Bardi escreveu “Um Museu Fora dos Limites” (BARDI, 1951), ele desenvolveu as premissas e partidos que nortearam a concepçãodo MASP (Av. Paulista, 1578, São Paulo) buscando caracterizar o MASP como “anti-museu” ou “museu sem adjetivos”. Uma edificação não voltada exclusivamente para uma determinada corrente artística, antiga ou moderna, mas voltado apenas para a arte: “a arte é uma só, não tem limites de tempo, não tem limites de espaço” (BARDI, 1993).

espaço obras de diversos períodos, sem divisões. A ideia da colaboração e participação entre as artes e o público deveria estar presente nos edifícios e espaços públicos como forma de recuperar um sentimento de coletividade cívica, perdido em decorrência de uma ideologia funcionalista que norteou o primeiro momento do movimento moderno. Por fim, creio que a exposição tenha à ganhar ao prestar atenção a realidade musical brasileira e principalmente a baiana ao garantir uma maior aproximidade afetiva com os visitantes nacionais, despertar a vontade de descoberta por parte dos visitantes estrangeiros; distinguindo-se dos outros museus de temática musical pelo foco na música baiana e, ao mesmo tempo, adequando-se à própria missão do museu nomeamente enquanto instituição de caráter municipal.

O desejo, traduzido arquitetonicamente por sua esposa, Lina Bo Bardi tornou MASP, desde 1947 até hoje, um museu singular. Assim como foi o caso da ação pioneira do Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA) e dos novos museus e institutos criados na América do Norte que, livres do peso de uma tradição, foram constituídos sob novas bases voltadas para uma orientação educativa. Para alcançar esse propósito de unidade, a museografia não deveria dividir a coleção em compartimentos estanques, isolando obras de um mesmo período ou gênero. O projeto museográfico desenvolvido por Lina Bo Bardi buscou traduzir essa proposta de museu ao localizar em um único 15 |


02

CARACTERIZAÇÃO

2.1 relação com a música A música brasileira tem sido uma das contribuições mais relevantes do Brasil à cultura ocidental. É um dos expoentes e símbolos da Bahia, recebendo uma onda de ritmos vindos de diversas tribos africanas, indígenas e europeias se tornando a fusão de muitas dessas etnias e formando um legado musical digno de ser preservado e transmitido. No entanto, a capital que mais inspira e vive de música do país carece de espaços adequados disponíveis para a prática da música. Apesar da música de rua ser uma prática fantástica no centro histórico, muitos moradores vêm levando reclamações à SUCOM (MACHADO, 2014), tornando imprescindível um espaço para bandas populares, que precisam alugar salas e estúdios, ensaiarem sem incomodar os residentes do local. O alto custo e o acesso restrito aos espaços físicos prejudicam muitos músicos, levando diversas iniciativas musicais à ficarem estagnadas.

lançamentos e outras ações, fazendo circular artistas, público e apresentando novidades musicais. Desenvolvendo assim um uso constante pela população local, de forma que a economia do turismo não seria a única estratégia para garantir a perpetuação do patrimônio. O nome escolhido - Museu da Música - configura um mar de possibilidades e faz refletir como é possível expor a música. Seu valor não está em sua posse, mas sim em seu compartilhamento com as pessoas. Sendo assim, a proposta deste trabalho visa refletir sobre formas que a música possa ser difundida no museu e na cidade.

O Teatro Castro Alves (Praça Dr. Mario Macedo Costa, s/n - Campo Grande) tem suas salas ocupadas frequentemente por grandes orquestras e a Escola de Música da UFBA (Av. Araújo Pinho, 513 - Canela) que seria o local público de maior acesso, não foi projetado como escola de música e as salas existentes são adaptadas enquanto a nova sede da escola, em Ondina, se encontra em obras . A necessidade desses espaços acaba passando despercebida por conta de grande quantidade de locais pequenos e médios, não necessariamente voltados para música, que passaram a receber shows e atividades com frequência (MATOS, 2016), mas que não possuem nenhuma estrutura do ponto de vista técnica e funcional. Como este é um trabalho de solução arquitetônica e não museográfica, justifico minha opção de não focar no conteúdo expositivo, mas em seus espaços necessários. Além de não ter formação específica em música e, ainda, por entender que uma exposição museográfica requer uma certa experiência profissional e conhecimentos que não são experimentado no curso de arquitetura e urbanismo. Comparando com museus e outros locais expositivos da música como Museu da Imagem e Som (Av. Europa, 158 - Jardim Europa, São Paulo) e o Museu da Música de Lisboa (R. João de Freitas Branco, 1500-359 Lisboa), é possível observar que as exposições permanentes pouco expõe algo além de instrumentos e coleções musicais, faltando um maior enfoque da música em si. Esta situação resulta, em termos de comunicação, num equivoco, pois partindo desse pressuposta o museu deveria se chamar Museu dos Instrumentos Musicais ou Museu das Coleções Musicais. Coleções e instrumentos são importantes para um Museu da Música, é claro, entretanto esse trabalho busca novas formas de atração de público e vivência da música que vão além de objetos físicos à serem contemplados. Dessa forma torna-se atraente incluir espaços de apresentações e socialização dentro do programa do museu promovendo shows e atividades como coletivos, oficinas, | 16

Fi g. 4 :   S K E T CH M ÚSIC O S


2.2 relação com O BAIRRO DO COMÉRCIO DADOS DE POPULAÇÃO DO BAIRRO O Comércio possui uma população de 2.006 habitantes, um dos bairros menos populosos de Salvador, estando 26% dos chefes de família situados na faixa de renda mensal de 0,5 a 1 salário mínimo. (UFBA, 2010).

ZONA DE CONFLUÊNCIA Trata-se de uma zona central em termos de acesso (Eixo Cidade Alta-Cidade Baixa e eixo Av.Contorno-Comércio) e de redes de transportes (vias terrestres e maritmas, elevador e planos inclinados), pontuada por sobrados neoclássicos e por edifícios modernistas e habitado por pessoas de renda baixa. F ig. 5:   FO TO GRAFIA AER I A DO C O M E R C I O

Durante muitos anos o Comércio possibilitou um lastro econômico que trouxe a Salvador desenvolvimento econômico. No entanto, a partir da década de 70, a nova dinâmica urbana fez a cidade expandir seus setores para a região do Iguatemi, levando à consequente decadência ao bairro e dando início à boa parte dos processos de arruinamentos que perduram até hoje (UFBA, 2011). O bairro continua sendo reconhecido como um núcleo de instituições financeiras e serviços, mas passa por um intenso processo de redefinição de suas funções urbanas no contexto da cidade. Na última década o movimento de pessoas vêm aumentando graças à novas instituições e serviços, como em 2005 a implantação da Faculdade Dom Pedro II com 700 alunos, 39 Varas do Tribunal Regional do Trabalho, por onde passam, em média, dez mil pessoas por dia. Os incentivos fiscais como isenção de IPTU e redução do ISS de 5% para 2% são os grandes atrativos para novos empreendimentos. A presença de universidades é de total importância para a região já que funcionam em todos os turnos, com grande número de pessoas, estimulando assim movimentação e fluxo comercial para a localidade. Logo a criação do Museu da Música seria mais um dos mecanismos de revitalização do bairro, também contribuindo para atração de pessoas e visibilidade da região. A possibilidade de atrair estudantes e integrar seu uso com as universidades é um ponto à ser relevado na proposta, gerando trocas e ganhos para ambas as instituições.

No Mapa 3 podemos observar a implantação do museu em um cluster criativo, apresentando vantagem tanto para o Museu da Música quanto para os outros espaços culturais nas proximidades possibilitando as instituições e serviços se beneficiarem com a troca e interação entre elas. Segundo dados da plataforma digital SIM do Governo da Bahia em 2014 houve um destauqe no crescimento da população entre 18 e 25 anos que se muda para o Centro (cerca de 29% da total e o dobro da vericada para Salvador). Isso indica uma necessidade de mais espaços de educação e incentivo à atividades coletivas. A maior parte da população jovem depende do transporte público. Segundo dados do Governo cerca de 524 mil pessoas se deslocam no Centro por dia e 55% utilizam transporte público (nesse caso, ônibus) e, consequentemente, também se deslocam à pé. O entorno da Praça Cairu apresenta-se voltado para o automóvel particular, que gera congestionamentos, criando assim uma proposta que vise melhorar o deslocamento do pedestre.

CENTRO ANTIGO X HISTÓRICO Existe uma diferença entre o que é Centro Histórico e Centro Antigo de Salvador. A parte histórica é tombada pela Unesco em 1985 em seu conjunto e considerada Patrimônio da Humanidade. O Centro Antigo é uma área maior, que compreende 7 km², incluindo onze bairros. Boa parte do Centro Antigo é uma Área de Proteção Rigorosa, segundo a Lei Municipal 3.289/1983. M apa 2:   INFO RGRÁFICO DA L O C AL I ZAÇ ÃO DO B AI R R O E DAS P R É -EXI S T Ê N CI A S

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Mapa 3:  ESPAÇO S DE CULTURA E MÚS I C A DE M É DI O /G R AN DE P O R T E E M S ALVA D OR

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2.3 relação com o patrimônio APROVEITAMENTO DO TERRITÓRIO Reciclar territórios é mais inteligente do que substituí-los ou ocupar áreas livres distantes. Há um patrimônio existente no Centro que não é aproveitado enquanto ocorrem disputas intensas por terrenos na cidade.

sOBRADO BRANCO O Sobrado Branco, à esquerda ao de azulejos, será recuperado para a relocação do Arquivo Público de Salvador, pois apresenta um espaço amplo para guardar os documentos e maior comodidade do que o prédio existente na Rua Chile (G1 BAHIA, 2015).

Fi g. 6:   S OBR A D OS D O COMÉ R CI O V I S T OS DA P RA Ç A M UNINC IPA L

Visando uma melhor compreensão do conteúdo abordado neste trabalho, é levado em consideração episódios ocorridos na área de atuação considerados relevantes ao projeto, buscando delinear a evolução das experiências anteriores na cidade e critérios de intervenção.

da preservação/conservação e aquelas da reprodução do capital. Por isso o grande desafio será trabalhar um desenho onde existam efetivas preocupações com o patrimônio, sua preservação e seu uso tanto para a população local como para seus visitantes.

O Sobrado Azulejado, assim como os cinco sobrados históricos vizinhos, encontram-se em risco de desabamento após anos sem uso e à espera de investimento do grupo imobiliário Imocom que pretendia a implantação do hotel Hilton nos casarões. Após uma série de disputas com o Iphan, o grupo abandonou o empreendimento por não conseguir autorização (AMORIM, 2009). O poder público optou por desapropriar os imóveis e lhe oferecer um novo uso.

O campo da restauração no Brasil, passa por recente desenvolvimento, devido sobretudo à preocupação com a revitalização de conjuntos históricos, acompanhada de adaptação de diversas edificações para novos usos. Vários processos de “revitalização” foram planejados para o centro, sendo poucos deles bem sucedidos. A relação de respeito ao patrimônio histórico e à população local por parte de empresários também é conflituosa. O poder público, por sua vez, muito menos tem se lembrado de que as dinâmicas sociais de cada comunidade e as ações socioculturais tocadas pelos próprios moradores já são iniciativas que buscam tornar o centro um local melhor. Se torna imprescindível projetos que sejam eficientes em adaptar edificações antigas à novos usos, respeitem o patrimônio histórico, cultural e que não desprezem a presença da população local atual se moldando às suas características.

Fig. 7:   PR O P O S TA DO HO T E L HI LT O N

A Prefeitura de Salvador planeja executar ao mesmo tempo em as obras todos casarões, a requalificação da Praça Cairu e entorno do Terminal Marítimo de Passageiros. O Museu da Música entrará no grupo dos novos equipamentos culturais à serem inaugurados na capital que incluem o Museu de Carybé no Forte São Diogo e intervenções no Forte São Marcelo (CORREIO24HORAS, 2014) apontados no Mapa 3. A alteração do destino de hotel de luxo para museu de música representa uma questão importante enfrente o tema do patrimônio como política pública. Intervenções em centro antigos no mundo inteiro passam um grande risco de gentrificação quando os agentes hegemônicos apresentam dificuldade e/ou inabilidade de discernir entre os interesses 19 |


03

JUSTIFICATIVA

3.1 justificativa A música está intrinsecamente relacionada com o desenvolvimento de Salvador, tanto econômico como histórico. A decisão deste equipamento em uma preexistência tombada ratifica a conexão música-história, representando de forma significativa um local de vida e memória da música baiana e brasileira. A arquitetura é o bem patrimonial com mais chance de perdurar no tempo. Torna-se assim um meio oportuno para a transmissão de conteúdos e merece ser conservada para garantir sua função de produtor de lembranças. Edifícios que trazem história com eles não devem ser fechados, pois a melhor maneira de recordar historias e aprender com elas são as vivenciando. Estar perto do ponto de cultura mais importante da cidade - o Pelourinho - favorece a escolha da preexistência para uso musical. A região há muito tempo é sede de ateliês de artistas e ultimamente vem se transformado em um local para quem gosta de curtir a noite com música e shows. Além do espaço museográfico, os ambientes de prática, oficina e apresentações musicais são importantes já que muitos músicos (sobretudo no Pelourinho) enfrentam insistentes reclamações dos moradores pelo alto nível de ruído, pela desordem nas ruas próximas, além do lixo deixado no local após a saída do público. O bairro do Comércio demonstra aparentes mudanças sociais, econômicas e espaciais, recuperando monumentos de prestígio como Plano Pilar e do Forte São Marcelo rei-

Fi g.8:  EN T ORNO DA PRAÇA CAIRU

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naugurados recentemente. A proposta de Museu da Música Brasileira nos casarões dariam continuidade a essa política de recuperação ao mesmo tempo em que constrói uma nova história. A recuperação desses casarões podem dar novo ar ao bairro e possivelmente incentivar outras intervenções desse tipo para que mais casarões históricos sejam recuperados e mantidos. Pelo uso majoritariamente comercial e a procura por espaços de alimentação (principalmente por turistas), seria interessante para o museu compreender um restaurante aproveitando-se da grande concentração de turistas, estudantes e trabalhadores nas proximidades, além de possuir uma confluência de transportes públicos. Esse espaço de alimentação pode servir como mecanismo de atração de visitantes para as exposições do museu e também como uma forma de gerar lucro que possibilite a manutenção das edificações. A proposta pretende ser um espaço de identidade e memória da população, contribuindo para um processo de valorização e estimulo a produção musical na Bahia fora das amarras privadas que transmitem a música e artistas por meio de publicidade apenas. Torna-se importante, bem mais que a forma escolhida para a intervenção, a consciência das escolhas e das consequências dessas para a cidade e para a preservação patrimonial. Por fim ressalta-se que o elemento agregador é a experiência musical e que seu lugar deve ser devidamente compreendido, respeitado e valorado.


04

OBJETIVOS

4.1 objetivos gerais Elaborar o projeto do Museu da Música que contemple no seu programa, estrutura, detalhamento, diretrizes e modelos tanto na gestão das políticas para o museu quanto na relação da arquitetura com a cidade.

4.2 objetivos específicos Conceber diretrizes projectuais estratégicas para o desenvolvimento do equipamento de forma à ser compatível em área suficiente com o conjunto pré-existente adotado; Recuperar o sobrado histórico e entorno com intuito de promover o melhoramento do local de forma à ser bem utilizado e acessível à todos, diferenciado de técnicas de conservação que se limitam apenas em restauro; Além de espaço expositivo, promover atividades de ensino, difundir e socializar os produtos musicais oriundos do seu acervo, por meio de cursos e exposições temporárias e espaços para performances; Consolidar o papel do museu como propositor de políticas públicas estabelecendo suas interfaces com gestão do patrimônio cultural e musical.

M apa 4:   SITUAÇÃO DA P O L IG O N AL DE I N T E RV E N Ç ÃO

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05

BREVE HISTÓRICO

5.1 breve histórico Em 1549, Salvador é fundada, com pouco mais de mil habitantes, com o passar do tempo se tornara a maior cidade exportadora de açúcar das Américas. Segundo Azevedo (1985, p.16) A cidade baixa – onde se localiza o antigo bairro do Comércio - desempenhava o importante papel de armazém e porto enquanto a cidade alta detinha as funções administrativas, religiosas e da elite.

Para atender aos padrões vigentes, Salvador começa a passar por lentas modificações. O vazio deixado pela saída das famílias ricas para as novas casas na Vitória, Canela, Graça e Barra, é preenchido por uma nova população composta por imigrantes rurais e ex-escravos, deixando a região superpovoada. Assim, surgiu um pensamento de melhoria dos serviços públicos e a busca de uma maior qualidade de vida e educação. (BRANDAO, 1958)

Entre 1651 a 1730 foi considerada a fase de ouro da Bahia colonial, enriquecida pelas fortunas oriundas das produções de açúcar e fumo. Nessa época, a burguesia comercial em ascensão começa a participar da Câmara Municipal de Salvador (antes dominada pela aristocracia rural).

CIDADE ALTA CIDADE BAIXA

ELEV. LACERDA

F i g.10:  REL EVO DO FRO NTISPÍ CIO

Com o início da participação dos comerciantes na câmara, uma nova ótica é lançada. Questões de valorização de ruas e praças, antes mal cuidadas e iluminadas e que serviam apenas como lugar de passagem, ganham uma nova conotação com o desenvolvimento do comércio, principalmente àquelas em que sobressaia o exercício comercial. (BRANDAO, 1958) Os novos padrões arquitetônicos aplicados no Brasil ao longo dos séculos XVIII e XIX seguiam basicamente três diretrizes:

Mapa 5 :   A T E R R OS N O COMÉ R CI O

A preocupação com a uniformidade das edificações começa a ser documentada a partir do ano de 1769, inspirado no estilo pombalino de Lisboa, onde as fachadas deveriam seguir um padrão de altura, com portas e janelas previamente definidas. Tais determinações contribuíram para o embelezamento da cidade, além de promover melhor iluminação ao interior dos edifícios. Em 1785, estas novas orientações se tornaram costume e, desta forma, um conjunto urbano singular passou a ser constituído.

1. Regularidade do traçado 2. Uniformidade das fachadas 3. Novos equipamentos urbanos (como o Elevador Lacerda) Na cidade alta, o traçado urbano pouco foi modificado desde 1600 e não segue um tratado urbanístico pensado como um todo, sendo ele herança de influencias medievais, renascentistas e militares. No decorrer do século XVIII, cresce a tendência do traçado regular, sobretudo nos aterros sucessivos realizados na cidade baixa, marcados por longas ruas paralelas que formavam quarteirões retangulares como por ser observado no Mapa 4, realizado a partir de pesquisas segundo Rocha (2007).

Fi g. 9:   CA I S DA S A MA R R A S E M 1 861

O encantamento da paisagem da cidade ao final do séc. XVIII e início do séc. XIX, terminava em terra firme, tendo em vista a bagunça e sujeira presentes. Mesmo consolidada como um grande porto comercial, a cidade foi abalada com a transferência da capital para o Rio de Janeiro, em 1763 (AZEVEDO, 1985).

Nesta época a elite burguesa era influenciada pelo pensamento iluminista (sustentado no poder da razão) a fim de reformar a sociedade e o conhecimento herdado da tradição medieval. Em Salvador, o Comércio foi o local de experimentação para esse movimento altamente racional, ortogonal, cientifico e funcional.

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Começam a existir uma edificação muito típica: sobrados de 3 a 4 andares que abrigavam no térreo o comércio, no segundo andar a residência da família e no terceiro ou quarto andar um depósito ou alojamento de empregado/escravo. Apenas no princípio do século XX esta estrutura passou a ser modificada com a saída da família para residências separadas de seus negócios. Enquanto isso, a população de baixa renda foi se fixando no Centro. (UFRRJ, 2010) No decorrer do século XX a Cidade Baixa se tornou um dos mais importantes centros de abastecimento da cidade tendo como destaque o Mercado Modelo (outros importantes eram a Feira de Água de Meninos, Sete Portas e Mercado de São Miguel). Os saveiros vinham da Baía de Todos os Santos cheios de todo tipo de produto como sementes, cereis etc. A variedade dos produtos eram enormes e podia-se encontrar todo tipo de serviço. Os bares,

F ig. 11 :   ANTE S O MAR AL C AN Ç AVA O M E R C ADO

F ig.12:  CA I S E M 1 860

5.2 INTERVENÇÕES DOS ANOS 80-90 Segundo Oliveira (2016), a região viveu seu auge até os anos 1960, quando o fluxo econômico da cidade girava em torno do Porto de Salvador. Tudo acontecia por ali, mas, com a decadência da economia agrícola baiana, a transformação da Bahia em um estado petrolífero e de Salvador em uma cidade sustentada pelo setor de serviços, o foco mudou. O turismo prosperou em 1984 com o tombamento do Pelourinho, tornando-se um das principais forças motrizes da capital, além de meio de propagando do governo liderado por Antônio Carlos Magalhães. Entretanto, os ocupantes do Centro eram de baixa renda e os objetivos do governo carlista para a área eram outros. Em 1992, uma reforma-relâmpago transformou o bairro do Pelourinho, antes residencial, num local voltado estritamente para a exploração turística. Essa reforma impulsionou a venda da imagem de baianidade para o mundo juntamente com o carnaval e seus ritmos musicais: samba-reggae e axé music. A reforma mudou a realidade da região, mas não a dos moradores. O que houve foi uma expulsão, violenta se necessário, da população que foi relocada para o subúrbio ou que recebeu auxílios-relocação insignificantes (UFBA, 2011). Foi o primeiro surgimento da iniciativa privada no Centro desde sua degradação através desse “modelo de urbanização brasileiro”, onde o poder público é subserviente do mercado e atende mais as necessidades deste aos da população. É como se houvesse um movimento orquestrado para que algumas áreas sejam valorizadas e virem alvo de especulação, o que consequentemente expulsa a população local de baixa renda.

sempre abertos para a rua, eram cheios de atividades e não tinham hora para fechar. Um dos negócios típicos do mercado, e ainda vivo hoje, é o ramo de “fundamentos do Candomblé”, onde se encontram objetos de culto, folhas e elementos da cultura negra. Antigamente os lugares que tinha esse comércio eram conhecidos como “barraca de folhas” e famosas mães-de-santo ocupavam o mercado como Senhora e Menininha do Gantois. (AZEVEDO, 1985) Como exemplificava o cronista Vasconcelos Maia (BRANDÃO, 1958): “A popularidade da região vinha menos da arquitetura e mais das pessoas que ali habitavam, dos cheiros de suas especiarias e alimentos, do som dos berimbaus, dos animais, de medicamentos miraculosos, seus pratos picantes e bebidas afrodisíacas”.

Fi g. 1 3 :   A T E R R O E N OVO POR T O

5.3 INTERVENÇÕES CONTEMPORÂNEAS Pouca consideração tem-se havido em relação aos moradores das áreas afetadas por reformas de revitalização. As forças hegemônicas por trás dessas transformações não enxergam que as dinâmicas sociais de cada comunidade e iniciativas socioculturais tomadas pelos próprios moradores são iniciativas que buscam tornar o Centro um lugar melhor para as pessoas que ali habitam. No início de 2010, a Prefeitura, então comandada por João Henrique, solicitou um conjunto de projetos chamado “Salvador Capital Mundial”, com obras de mobilidade urbana, modernização e requalificação de áreas, incluindo o Centro Histórico. O projeto foi descartado, principalmente por ser considerado mirabolante e desacordo com normas ambientais e urbanísticas. Entre 2010 e 2011, alguns políticos pressionavam por emendas na Lei de Ordenamento do Uso e da Ocupação do Solo (Louos) e o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU) que permitiriam, por exemplo, aumento do gabarito no Centro Antigo e na orla marítma. Nesse período, o valor dos imóveis em todo o Centro disparou, e muitos empresários adquiriram casarões. Porém, um ano depois, o Ministério Público declarou a inconstitucionalidade das mudanças da Louos e PDDU barrando grandes obras. Consequentemente, muitos imóveis ficaram vazios, pois os novos compradores não tinham intensão de habitá-los e o centro se tornou um lugar com menos gente e regiões ficaram mais perigosas.

23 |


Em 2014 a ação de grupo de moradores do Centro “Aqui Podia Morar Gente” protestou pichando a frase imóveis vazios. Após uma série de conflitos e processos, a empresa LGR (mesma do Shopping da Bahia) e dona dos imóveis vazios, já vendeu cerca de 12 dos 35 imóveis após incansáveis críticas. (GANZELEVITCH, 2016) Desde 2014, a Prefeitura no comando de ACM Neto (inspirada pelo processo do PDDU de São Paulo liderado por Haddad) desenvolveu o Plano Salvador 500, alterando a Lous e o PDDU, buscando encontrar caminhos para a cidade até 2049, ano em que a capital baiana completa 500 anos (OLIVEIRA, 2016). ACM Neto busca distância da imagem de autoritarismo do carlismo, entretanto em Maio de 2015 fortes chuvas prejudicaram algumas edificações do século XIX. O IPHAN declarou risco de desabamento e, mesmo com protestos da população local, muitas casas foram demolidas com apoio da Prefeitura e os moradores receberam Vergílio-moradia irrisório. Esse episódio reacendeu a discussão sobre o que pode acontecer na mais antiga parte da cidade daqui para frente. Quem mora na região, está atento há possíveis mudanças e medo de processos de gentrificação, pois há uma lógica de revalorização em uma perspectiva de grandes negócios nessa zona. O Centro Histórico está recebendo empreendimentos da empresa mineira Fera Investimentos que possui diretor com experiência internacional de hotelaria de luxo em centros históricos. Com o preço baixo dos imóveis na rua Chile, foram realizadas 123 transações imobiliárias que resultaram em 16 edifícios. O edifício âncora do empreendimento é o Hotel Palace que receberá cerca de 150 milhões de reais em 7 anos de projeto. Existe a intenção de apoio municipal apenas para esconder a fiação, tornando-a subterrânea. (JACOBINA, 2016) Existem projetos no Centro de Salvador que não eram voltados para o mercado de luxo como por exemplo a reforma do Solar do Unhão, onde atua o MAM (Museu de Arte Moderna). Antigamente o edifício era um exemplar de produção canavieira rica escravista, mas hoje representa um patrimônio cultural, onde a reforma liderada por Lina Bo Bardi na década de 60 foi capaz de dar um resinificado ao espaço de poder através do desenho e do uso.

Este território denso incentiva a convivência humana e evita a alienação, onde as praças são os pontos de congregação mais importantes (desde a Terreiro de Jesus, Praça da Sé, Praça Cairu etc). O valor humano de se viver no Centro pode ser resgatado através da vida urbana, principalmente por equipamentos como museus. Atitudes que contém desejo de transformação do espaço, advindo de uma forma contemporânea de pensar e agir podem influenciar pertinentemente o espaço urbano.

5.4 TRANSFORMAÇÕES NA PRAÇA CAIRU Durante anos Praça Cairu passou por um processo de degradação onde todas as suas qualidades paisagísticas deram lugar ao alto tráfego de automóveis e um estacionamento que toma sua lateral esquerda onde antes havia vegetação. Uma proposta da Prefeitura pretende elevar o nível da recepção dos visitantes que desembarcarão na Cidade Baixa para conhecer o Centro Histórico por meio do Terminal Marítimo de Passageiros, e também para aqueles provindos de automóveis (MOTA, 2013). A Praça Cairu poderá se tornar um local de permanência agradável e uma nova porta de entrada para o baiano que chega à Cidade Baixa. Na proposta, estimada em R$ 21 milhões (com R$ 15 milhões de recursos da Prefeitura), a nova Praça Visconde Cairu será estendida até o Terminal Marítimo de Passageiros e terá 15 mil m². (MOTA, 2013)

Fi g. 1 4 :   A LFÂ N D E GA ( A T U A L ME R CA D O MOD E LO) I N Í CI O D O S É C. XX

Desde o projeto do Pelourinho de Lina Bo Bardi e Lelé – e, depois, com a reforma feita por ACM –, nenhuma grande intervenção foi feita no centro. Lina Bo Bardi estava em sua segunda passagem por Salvador. Entre os anos 1950 e 1960, ela morou na cidade e dirigiu o Museu de Arte Moderna. À época, já se falava que o centro precisava de vida. Ela ironizava: “Prostituição, bebida, drogas e crime – quer coisa mais viva?”. (OLIVEIRA, 2016)

Fi g. 1 5 :   CON FIGU R A ÇÃ O A N T E R I OR DA PR A ÇA CA I R U

O erro político e administrativo mais comum é pensar o sucesso do local através de projetos imobiliários, mercado de alto padrão e estacionamentos ao invés de investidas nas pessoas. Existem áreas violentas , mas apesar disso o Centro funciona como um espaço social, pois influência o contato entre as pessoas. Como a densidade é grande, as casas são baixas, os residentes observam ruas e becos. O mau comportamento é notado e abordado (não pela polícia), mas pela comunidade. | 24

Fi g. 1 6:   CON FIGU R A ÇÃ O DA PR A ÇA CA I R U E M 2 01 2


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MACRO-ESCALA



06

MORFOLOGIA

6.1 transformações E CICATRIZES DO PASSADO O Centro é, provavelmente, a região de Salvador que mais passou por transformações físicas. Não só é onde a cidade teve início, mas também é palco das modificações e projetos ocorridos ao longo dos séculos. Da Cidade Alta à Baixa, percorrendo do Elevador Lacerda até o Terminal Marítimo, é possível notar visualmente as camadas históricas da cidade através das edificações: casinhas coloniais do Pelourinho, palácios neoclássicos, casarões ecléticos e, por fim, edifícios modernos. A configuração desse ambiente urbanizado somente é possível de ser reconhecido quando sob a forma de fragmentos imersos no amaranhado denominado de urbano. As mudanças mais agressivas foram no movimento de modernização, com as obras do aterro. A partir de então, grande parte das edificações coloniais foram demolidas para dar lugar ao alargamento de vias e à construção de altos edifícios modernos. As ruas deixaram de ser ocupadas por pessoas e bondes, dando lugar aos carros e às calçadas. As edificações antigas, embora ainda organizadas nos limites do lote, foram sofrendo com as alterações do entorno e com as mudanças do estilo de vida das pessoas. Existe um elevado número de imóveis antigos que são desprezados por não serem adaptados às necessidades contemporâneas (como garagem, ar condicionados etc). Esses imóveis ao deixarem de cumprir a função social terminam sendo mantidos (alguns poucos) pelo Iphan e Ipac como mera cenografia.

para atribuir valores, reconhecer espaços e identidades e ampliar possibilidades. Sendo o museu uma das mais fortes representações da cultura, entende-se como um meio de romper as ordens do pensamento hegemônico ao mesmo tempo que tem o poder de fortalecer o pensamento cultural e coletivo. Este trabalho buscar afastar a ideia de museu como um shopping cultural, onde a população local pouco é considerada. A intensão é solidificar um vínculo integrando a necessidade desses espaços musicais e a potencialidade cultural que já existe na região ao processo de consolidação do museu ao mesmo tempo que se tenha em mente as principais questões do bairro:

1

Espaços de lazer ineficientes e áreas de permanência confortáveis

2

Pouca integração do bairro ao fluxo de pedestres

3

Esvaziamento do bairro nos períodos que não há trabalho

O descaso com o antigo tornou o Centro uma área com a qual não se estabelece vínculo. Por isso, a requalificação de edificações antigas e áreas como a Praça Cairu possuem um papel importante na memória da cidade e um vetor

Fi g.17 :  RUA B É LGICA E M 19 1 3

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Fi g. 1 8:   R U A BÉ LGICA E M 2 01 6


6.2 PERFIL DAS RUAS

F ig. 20 :   PERFIL DA RUA B E L GI C A - V I S TA

Existem duas composições bastante distintas coexistindo: Os edifícios modernos altos no trecho e o trecho mais antigo dos casarões. Essa mistura torna a leitura da rua heterogênea e fragmentada, sendo complexo reconhecer uma ordem em sua totalidade, sendo melhor entendimento quando separada em trechos (A e B).

O trecho B predominantemente eclético e colonial ainda tem sua paisagem prejudicada pelos edifícios altos modernos ao fundo. A identidade dos casarões fica ainda melhor reconhecida quando visto a partir do perfil logo abaixo, onde a paisagem inclui o Mercado Modelo e o Elevador Lacerda.

F ig. 21 :   PE RFIL CIDADE ALTA E B AI X A

F ig. 19 :   PE RFIL DA RUA B E L GI C A - E S T UDO DE AB E R T UR AS

No trecho com o Mercado é notável a diferença de gabarito e a relação de horizontalidade, com espaços abertos entre edificações importantes. Entretanto as modificações modernas de vias e pontos de ônibus não favoreceram aos espaços abertos e afastam o pedestre da Praça Cairu.

As edificações tem todo lote dos terrenos ocupados, deixando pouco ou nenhum espaço para calçadas, arvores etc. Os edifícios modernos não se abrem para esta rua e os antigos estão vazios. Assim, a leitura da rua é predominantemente fechada, como um paredão ou barreira que costuma ser ocupada por vendedores ambulantes e lixo.

F ig. 22:   PE RFIL DA RUA S AN T O S DUM M O N D E L AFAY E T T E C O UT I N H O

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6.3 GABARITO DAS EDIFICAçõES Na Cidade Baixa pode-se observar as diversas camadas históricas da região: a 1o colonial caracterizada pelos casarões antigos e o Mercado Modelo e a 2o dos edifícios modernos. Os lotes dos bairro encontramse consolidados, sendo que não são apresentados edifícios contemporâneos pós anos 2000. Existe uma homogeneidade maior em relação as alturas das edificações mais antigas, que variavam entre 3 ou 4 pavimentos. As construções modernas das décadas de 60 a 80 alcançam alturas maiores. O perfil de altura das vias como Av. Miguel Calmon e a rua Portugal é bastante heterogêneo, apresentando imóveis de épocas e estilos distintos. Quanto mais próximo do Frontispício, mais antigas e mais baixas são as edificações enquanto que em direção ao oceano, é mais frequente edifícios modernos e mais altos. Mapa 6:  GA BARITO DAS EDIFICACO E S

6.4 TOPOGRAFIA O relevo de Salvador sempre foi uma característica muito marcante da cidade. Primeiramente usado para fins militares, hoje a vista da Cidade Alta é uma das atrações turísticas mais importantes, junto com o Elevador Lacerda. No Comércio as cotas de altura ficam em torno de 4.0 m a 12.0 m em relação ao nível do mar. Entretanto que se eleva a altura em torno de 60.0 m quando nos dirigimos para a Praça Municipal e, na Baixa dos Sapateiros, esse valor já passa para 42.0 m.

Mapa 7 :  TOPO GRAFIA DA AREA

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6.5 USO FORMAL As edificações, em sua maioria, ocupam todo o lote, quase não possuindo recuos em relação à calçada. São várias as ruínas na região, concentradas mais na área delimitada pelas ruas Visconde do Rosário, Santos Dummond e Corpo Santo. Cerca de 86% dos estados de vacância em edificações na região se dá pelo estado de arruinamento ou pelo fechamento do prédio. Para Viviane Alves, que trabalha com telemarketing, o bairro carece de atrativos. “Deveriam botar mais lojas, além de teatro, cinema e parque. Não tem entretenimento aqui”. A gerente de um escritório de advocacia, Kátia Silva, reconhece melhorias na parte estrutural. “Trabalho aqui há quatro anos e já vi a mudança. Ainda sinto falta de um supermercado”.

M apa 8:   USO FO RMAL

Obs.: fechamento parcial das edificações é frequente, geralmente nos andares superiores, mantidos usos de comércio e serviços no térreo. Imóveis em ruínas também são utilizados para uso misto de habitação e comércio.

6.6 USO INFORMAL Por conta de serem atividades nômades, há uma certa dificuldade de coletar dados, entretanto, após realizar alguns visitas, em horários diversos, foi possível marcar áreas onde essas atividades se apresentam mais frequentes. A maioria da população local aponta presença maior de medo na parte mais antiga, próxima à Ladeira da Montanha. A queixa mais repetida foi a insegurança, atrelada às pessoas que moram nas ruas e usuários de drogas. A condição de arruinamento de muitos casarões também influencia nessa sensação de insegurança. Mesmo com as melhorias anunciadas no Comércio, a população que frequenta o bairro ainda não enxerga mudanças definitivas. “Tem coisas boas sim, como os restaurantes. Mas ainda há muitos casarões velhos, caindo aos pedaços”, aponta a cabeleireira Liliana Rodrigues, 55 anos.

M apa 9 :   USO INFO RMAL

Obs.: De noite ou na madrugada é grande o número de moradores de rua que dormem em baixo das marquises de edifícios, que não foram marcados por serem locais bastante aleatórios. 31 |


6.7 DINâMICA DAS PRAÇAS Apesar da região concentrar grande número de praças elas são quase despercebidas por não terem nenhum tipo de sombra, possibilitarem divertimento ou um local adequado para descançar. Tanto na Cidade Baixa como Alta foi raro a presença de crianças. Quando vistas geralmente eram turistas acompanhados dos pais ou então filhos e filhas de moradores de rua à pedir dinheiro ou vender doces.

Mapa 10:  D INAMICA DAS PRACAS

1: PRAÇA DOS FUZILEIROS

2: MONUMENTO À CIDADE

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Os maiores números de atividades e eventos acontecem sempre nos locais mais turísticos, como a Praça Municipal ou a Praça da Sé. A Praça Cairu também recebe eventos, porém de forma mais esporádica e concentrados no verão. Muitos ambulantes que antes eram característicos dessa praça, desapareceram e os poucos que restaram se concentram do lado esquerdo onde há algumas árvores. É um local marcado por interrupções, primeiros pelas vias que impedem a integração do Mercado, praça e comércio da rua da Conceição da Praia e depois por uma falta de “boas vindas” ao visitante ou morador que prescinde de qualquer elemento de conforto para permanecia na praça ou para caminhar ao redor.

5: PRAÇA INGLATERRA

6: PRAÇA MUNINCIPAL

3: PRAÇA CAIRU

7: CRUZ CAÍDA + SÉ

4: PRAÇA DO MERCADO

LEGENDAS


07

MOBILIDADE E INFRA-ESTRUTURA 7.1 característica das vias A localização das preexistências, aliadas ao objetivo desta proposta de Museu da Música, apresentam-se indicados para esse uso visto a vizinhança não residencial, facilidade de acesso de transportes públicos e presença de estacionamento (mesmo que não ideal) para automóveis particulares, além da confluência de visitantes fora da capital e da população flutuante. Faz-se necessário, porém, melhorar o acesso e segurança dos pedestres e disponibilizar a logística necessária para o transporte de instrumentos e equipamentos. A preexistência possui acesso por três vias: rua Bélgica, rua Portugal e rua Santos Dumond. Cada uma dessas ruas apresenta uma consolidação heterogênea apesar da proximidade.

M apa 1 1:   INDICAÇÃO DAS P R I N C I PAI S V I AS DE AUT O M ÓV E I S

AV.LAFAYETTE COUTINHO Via de alto fluxo, grande número de edifícios vazios ou sub-utilizados nas proximidades.

AV. MIGUEL CALMON Uma das avenias mais movimentadas do bairro. Alto fluxo de veículos e pessoas, estabelescimentos e serviçoes.

RUA BÉLGICA Grande número de ambulantes. Alta movimentação de pessoas mas baixa qualidade de circulação.

RUA PORTUGAL Bem movimentada com vasta quantidade de restaurantes e outros estabelecimentos comerciais.

AV. DA FRANÇA Apresenta alto fluxo e calçadas relativamente boas para pedestre e grande número de pontos de ônibus.

RUA SANTOS DUMMOND

Ruínas e/ou edifícios ocupados somente no térreo. Baixíssimofluxodepessoas,automoveisepoucoscomércioslocais.

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7.2 ACESSOS, CONEXÕES E SISTEMA VIÁRIO Na cota inferior (Cidade Baixa), a região é atravessada pela Av. Lafayette Coutinho (Contorno) que se conecta ao Vale do Canela. No sentido contrário, ela se conecta com a Av. da França e segue em direção à Água de Meninos. Nas cotas superiores (Cidade Alta) a região é alimentada principalmente pela conexão da Av. Sete de Setembro com a Rua Chile. As conexões verticais são bastante importantes para a região, sendo as mais importantes através da Ladeira da Montanha (subida) e a Ladeira da Conceição da Praia (descida). Além da Ladeira da Preguiça e a Ladeira da Misericórdia (esta última, não é trafegável por automóveis).

M apa 12:  A CESSO S E MO B ILIDADE

A via marítima é importante para a região, tornando o Comércio uma “porta de entrada” para quem vem pelo mar. Salvador recebe cerca de 47% de todo turismo do estado, sendo que no verão o número de passageiros chegou a aprox. 300 mil (BAHIATURSA, 2011)

7.3 ESTACIONAMENTOS Apesar do bairro do Comércio apresentar bastante oferta de estacionamentos - tanto privativos, quanto a possibilidade de estacionar na rua - é ainda um problema para os visitantes e trabalhadores encontrarem vagas, além do custo dos estacionamentos privados ser altíssima e na rua ser constante a presença de “flanelinhas”. Como houve um aumento no número de negócios, aberturas de faculdades e outras entidades, a circulação diária de pessoas dobrou, aumentando de 70 mil para 140 mil transeuntes com um maior poder aquisitivo. (ERC, 2016) O Edifício-Garagem Otis também teve crescimento na demanda. Segundo o gerente Nilson Cardim, todas as 204 vagas estão ocupadas. “Em 2004, usávamos até o 9º ou 10º andar. Hoje, vamos até o último (17º)”. (ERC, 2016)

Mapa 13 :  ESTACIO NAME NTO S

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Entretanto, isso ainda não é o suficiente para uma revitalização que torne o Comércio um bairro economicamente e urbanamente sustentável. A alta dependência do automóvel prejudica o bairro que não foi projetado para essa demanda.


7.4 VIAS PERCORRIDAS POR ÔNIBUS Se não existir um sistema para substituir o uso do carro, o melhoramento no bairro dificilmente acontecerá. Atualmente, o Comércio tem uma das maiores distribuições de serviço de ônibus. De 2004 para cá, o número de linhas subiu de 120 para 300 (ERC, 2016). Há uma presença constante de ônibus e vans de turismo no local desde manhã até o fim da tarde, entretanto a dificuldade para embarque e desembarque costuma atrapalhar o trânsito, por não ter um espaço específico. Alto fluxo de turistas com destino ao Terminal Marítimo rumo às ilhas de Itaparica, Tinharé etc. e no Terminal de Cruzeiros (com fluxo sazonal). O turista que passa pelos terminais não encontra nenhum entretenimento na Cidade Baixa que não seja o Mercado Modelo e, compartilha com os locais, dificuldades de deslocamento à pé. Mapa 1 4:   V IAS PERCO R R I DAS P O R Ô N I B US

7.5 calçadas, lixeira e iluminação Uma questão importante para o bairro é ineficiência ou a falta de acessibilidade. Para um bairro modernista, chega à ser paradoxal que os edifícios não tenham garagem e, ao mesmo tempo, não seja bom para caminhar porque as calçadas são pequenas e ocupadas por carros, ambulantes etc. O ERC (Escritório de Requalificação do Comércio) calculou a

requalificação de calçadas em 34 quadras do bairro do Comércio que resultaram em 61.500 m² e orçado em R$ 9,9 milhões. O alto custo foi resultado da manutenção e conservação das pedras portuguesas (ERC, 2016). Após visitas no local e estudos de imagens, é possível constatar que os circuitos para pedestre ficam em segundo plano em relação ao carros (muitos ocupando as calçadas), sendo que muitas vezes era mais comum andar no asfalto e não nas calçadas. F ig. 23:   MUM-SICAR-CAL Ç ADAS.J P G

Os trechos que possuem pouca iluminação e calçadas em mal estado estão relacionados à sensação de risco e são os mais próximos da Ladeira da Montanha. 35 |


08

CONFORTO AMBIENTAL

8.1 ESTUDOS DE SOL E VENTOS Durante todo o ano, Salvador recebe uma significativa quantidade de horas de insolação, tendo Maio e Junho como meses de menor insolação total diária (5,6 horas) e Fevereiro como mês mais ensolarado (8,1 horas diárias). No ponto de vista do conforto térmico, a condição climática da cidade promove a sensação térmica positiva durante todo o ano, amenizada nos meses Junho, Julho e Agosto. Quando analisa-se as questões térmicas e sanitárias dos edifícios, deve-se levar em conta que a escarpa está voltada para a Baía de Todos os Santos, no sentido noroeste, onde o poente se faz presente em boa parte de suas edificações, inclusive o Sobrado Azulejado, da qual sua fachada mais comprida recebe forte incidência do poente. Nas ruas secundárias do Comércio, como rua Santos Dummond e rua Portugal, a incidência da radiação solar é dificultada pela pouca separação entre prédio e suas alturas. No solstício, onde as os raios solares alcançam maior angulação, há a prevalência de sombras enquanto que as maiores incidências de raios solares se caracterizam no equinócio entre 11hs e 12 hs. A cidade de Salvador sofre grande influência dos ventos alísios, os quais sopram das regiões de alta pressão subtropicais para as de baixa pressão equatoriais resultando numa predominância do ventos sudeste, leste e nordeste, em ordem decrescente, somando 90% da ventilação na cidade.

F ig.24 :  M APA D E I N CI D Ê N CI A S OLA R N A E D I FI CA ÇÃ O

F ig.26 :  R E L AÇÃ O T OPOG R A FI A E V E N T OS - D I U R N O

A topografia, sem dúvida, assim como a proximidade com o mar, influencia diretamente a atuação dos ventos na cidade, que acontece de forma diferenciada nos períodos diurno e noturno. A escarpa é uma barreira à Cidade Baixa, no sentido sudoeste-nordeste, para a ventilação dominante, causando “sombra de ventos” em quase toda a faixa de terra entre a mesma e o mar. Essa região, porém, por se encontrar à beira-mar, sofre influência da diferença de pressão entre o mar e o continente causada pela diferença de temperatura entre ambos. F ig.25:  R E L AÇ Ã O T OPOG R A FI A E V E N T OS - N OT U R N O

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8.2 acústica Em acústica temos que lidar com duas questões diferentes: a primeira que é o isolamento acústico (impedir a troca de sons entre ambientes diferentes) e a outra que é o condicionamento acústico (otimização sonora de um ambiente). As paredes grosas dos casarões antigos tem a vantagem de serem ótimos isolantes de som por sua grande espessura, tendo como pontos vulneráveis suas esquadrias. A solução encontrada para as esquadrias foi a utilização de um fechamento com vidro duplo - melhor para isolamento de baixas frequências vindas da rua - e madeira (seguindo a estética das esquadrias anteriores). O vidro duplo com uma camada interna de PVB (polivinil butiral) além de isolar ruídos indesejáveis, reduz a incidência de raios UV, impede a invasão do ambiente mesmo quando quebrado e melhora a condição térmica do ambiente. Salas de prática musical e a Luthieria inclusas no programa do museu possuem as paredes e forros separados da estrutura do edifício por uma camada de ar. Dessa forma o som encontra mais obstáculos para se propagar, fazendo com que a energia sonora perca mais intensidade e não transmita vibrações para a estrutura.

Fi g. 2 7 :   D E TA LH E E S Q U E MÁ T I CO D E V I D R O PA R A A CÚ S T I CA

As paredes novas precisam estar distantes das paredes existentes e conter neste afastamento uma camada de material poroso para absorção do som, como fibra de vidro. Ideal também que as quinas de parede tenha ângulos maiores que 90o, deforma a melhorar a distribuição do som. Cada sala tem um forro mais consistente que o restante do museu otimizado para o controle sonoro e para atenuar a transmissão de vibrações para as lajes. Para tratar o condicionamento acústico, tanto nas salas de música como no auditório, foram propostos painéis acústicos difusores. Esses materiais são responsáveis por redirecionar o som para um melhor espalhamento no ambiente. Este fenômeno não altera o tempo de reverberação, mas tem função fundamental na qualidade sonora, sendo muito importantes em ambientes em que o som deve ser ouvido o mais uniformemente ao mesmo tempo isenta de defeitos como ecos ou zonas sombra sonora. Para tratar as aberturas das salas foram utilizadas duas portas separas por ante-câmara. As salas de ensaio menores foram adotadas portas com acabamento acústico, pois não seria estritamente necessário o uso de ante-câmara, já que o controle acústico deverá ser resistente há uma menor quantidade de decibéis. Cada sala possui uma abertura em vidro duplo tipo sanduíche, ou seja, duas lâminas de vidro separadas por uma camada de ar. Esse detalhe de esquadria é mais eficiente para isolar os sons agudos provenientes de instrumentos musicais.

Fi g. 2 8:   S E CÇÃ O 3 D - D E S E N H O DA S E S Q U A D R I A S

Além disso, dutos de ar condicionado ficaram separados em shafts verticais e internamente revestidos com manta acústica, de forma que a não levar ruídos de um ambiente a outro.

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09

LEGISLAÇÃO

9.1 legislação patrimonial A maior parte das leis de proteção de monumentos se baseiam em normas internacionais constituídas por documentos, recomendações e cartas conclusivas de reuniões relativas à proteção do patrimônio histórico e cultural que foram realizadas em diversas partes do mundo e em épocas distintas. O Iphan adota principalmente a Declaração de São Paulo, de 1989, onde reafirma a Carta de Veneza dizendo que a mesma deve permanecer como modelo e fonte de consulta. Esse material pode ser tomado como base para atuação na área do patrimônio, dado que nem as leis nacionais, nem as leis específicas deixam claro o que deve ou pode ser realizado em intervenções em edificações históricas, ficando a par dos órgãos de proteção (IPHAN e IPAC) a decisão sobre os projetos. Conseqüentemente, os projetos de restauração aprovados pelas instituições ligadas ao patrimônio seguem critérios e leis internas variando de acordo com a instituição, causando incoerências entre projetos realizados em localidades diferentes ou dentro da mesma localidade. Esta liberdade se, por um lado, garante soluções inovadoras e abrangência conceitual das intervenções, por outro, acarreta em distorções prejudiciais à integridade da obra e seu valor enquanto documento histórico.

9.2 metodologia de intervenção A manutenção da estética da fachada foi importante ao desenvolvimento da proposta, sendo ampliações e substituições feitas apenas quando necessário ou quando não houvesse referência histórica, como no caso da cobertura e desenho das esquadrias do Casarão No4, adjacente ao de Azulejos. O interior de ambos os casarões se encontram completamente alterados ou destruídos. Dessa forma, apesar de ter sido mantida a volumetria e o aspecto das fachadas (sendo em seu ritmo e harmonia), o novo uso destinado considerou uma alteração da ambiencia interna. A estrutura foi proposta com pilares em concreto e vigas metálicas. Apesar de pilares metálicos serem favoráveis por uma questão de reversibilidade, os pilares em concreto tem melhor eficiência estrutural quando conectado à estrutura antiga e irregular das paredes.

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PROPOSTA MACRO-ESCALA


A


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MACRO-ESCALA: ATUAL x PROPOSTA

Mapa 15 :  M APA DE PRO BLEMATIZAÇ ÃO DE M AC R O -E S C AL A

10.1 problematização 1 . A Praça Cairu e o Mercado Modelo estão (no que pode ser chamada) uma “ilha” isolada por um grande fluxo de automóveis em alta velocidade. Nesse modelo atual o tráfego de veículos tem uma relação de superioridade ao pedestre, um equívoco, pois a maior parte da população Comércio se desloca a pé e por transporte público (como dito anteriormente. 2 . O percurso Cidade Alta-Cidade Baixa é altamente conflitante. A maior parte dos turistas começam o passeio pelo Pelourinho, descem apenas para visitar o Mercado Modelo e voltar. Enquanto que a população local que circula pelo Comércio, pouco frequenta a Praça Cairu, mesmo em horário de descaço do trabalho. Falta de espaços de lazer foi uma reclamação constante dos locais. Há uma dificuldade também para quem chega por via marítima de se orientar e se descolar pela região. 3 . O Comércio tem uma boa oferta de ônibus, mas necessita de melhor planejamento para veículos de turismo. Além disso, se propõe uma expansão da rua Bélgica para | 42

vias nos dois sentidos de forma a retirar uma parte da Av. Lafayette Coutinho e um posto de gasolina marcado no X. O maior fluxo viário está “dentro” do Comércio propriamente dito, e o menor é de veículos atravessando o bairro, ou seja, passando pelo trecho em amarelo (cerca de 27% do total de deslocamentos). A retirada desses elementos possibilitaria um ganho enorme para a praça pública e também um espaço digno de contemplação da paisagem que hoje praticamente não existe.

4 . O caminhar pelas ruas mais antigas, como Santos Dummond, é pouco confortável por conta de serem ruas estreitas e ambientes deteriorados ou abandonados que passam sensação de insegurança. 5 . A beleza da paisagem da Baía de Todos os Santos, pouco pode ser apreciada neste trecho por conta de vários obstáculos, como o trafego de veículos e o posto de gasolina.


F ig. 29 :   MAPA DE PRO PO S TA DE I N T E RV E N Ç ÃO M AC R O -E S C AL A

10.2 proposta A retirada do posto de gasolina e transferência do fluxo de veículos da Lafayette Coutinho para a rua Bélgica se mostra como um enorme ganho. Essa alteração causa um pouco a diminuição da velocidade dos veículos, entretanto, essa diminuição é benéfica para incentivar o uso e proteção de pessoas nas praças.

uma via para bicicletas. Dessa forma transformando o local realmente numa grande praça; integrando vários espaços num só; servindo de utilidade para a população local como lazer; uma nova porta de entrada para quem vem conhecer a cidade pelo mar e um espaço digno de contemplação da paisagem.

Piso intertravado na área em destaque que abrange desde a estação inferior do Elevador Lacerda até as ruas mais degradadas do bairro. Dentro do Comércio não é necessário essa pavimentação, porque é útil a alta velocidade dos veículos enquanto que nas proximidades da praça é melhor que essa velocidade seja menor e que o pedestre tenha melhor mobilidade. Foi proposto uma extensão dessa pavimentação nas ruas Santos Dummon e rua do Corpo Santo (e suas conexões) de forma que o melhoramento da infraestrutura possa influenciar a recuperação daquela área e suas edificações.

Foram propostas novas paradas e estacionamento de ônibus de turismo e de táxis (embarque/desembarque de quem passa pelo terminal marítimo) de forma a criar menores interrupções possíveis no transito e que favoreça o deslocamento do turista. Também foi proposto o deslocamento do estacionamento existente no Sobrado No 4 para outra edificação próxima, que hoje não tem uso e que tem área superior a original.

A expansão da praça resulta numa redução de área de estacionamentos, ampliação da área verde e criação de 43 |


Fi g.30:  P ROPO STA MACRO : MO BILIDADE

Fi g.31:  P ROPO STA MACRO : E SPAÇOS

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ESTUDO DAS EDIFICAÇÕE


S


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PROJETOS REFERÊNCIA

11.1 PROJETOS REFERENCIADOS SOLAR DO UNHÃO | SALVADOR (BRA) | LINA BO BARDI | 1963

Uso: Museu + Escola + Espaço Cultural Área Total: 5.454 m2 | Investimento: Desconhecido No Visitantes: +200.000 pessoas (2001) O MAM continua, desde à déc. 60, à exercer papel educador e musical importante. Apesar de museu propriamente dito, tem seu impacto na vida da cidade por conta de seus cursos, encontros, eventos (principalmente musicais) que possuem essência mutante e atraem todo o tipo de público, dando liberdade para grupos locais fazerem experimentações. Os espaços externos são tão importantes quanto os internos. Há uma preocupação paisagística e em espaços abertos livres. A reforma comandada por Lina teve o poder de resignificar o espaço do poder transformando uma edificação que simbolizava a produção canavieira rica e escravista em o que hoje representa um patrimônio cultual artístico de resistência na cidade.

Paço do frevo | recife (BRA) | 2014

Uso: Museu + Espaço Cultural de Música e Dança Área Total: 2.260 m2 | Investimento: + R$13.2 milhões No Visitantes: 122.000 pessoas / ano (2015)

A curadora da exposição Bia Lessa, defende fortemente a integração das atividades do museu com a comunidade servindo de espaço (público) para experimentar aulas (principalmente de música e dança) na antiga área portuária que passa por uma série de disputas territoriais e que, atualmente, se tornou um dos clusters culturais da cidade. Um espaço onde o visitante encontrará o frevo vivo, em movimento, na casa e na praça, na rua e nas salas de aula, no centro de documentação, nas exposições e nos vídeos. A interferência é nula nas fachadas exteriores da edificação, sendo suas mudanças discretamente feitas no interior. Os espaços expositivos internos ainda remetem à elementos do passado da cidade que em adição à atmosfera do edifício antigo facilitam a imersão do visitante no espírito do frevo e da cidade.

RedBull Station | são paulo (BRA) | TRIPtyQUE | 2013

Uso: Espaço Cultural Área Total: 2.150 m2 | Investimento: Desconhecido No Visitantes: Desconhecido O edifício de 1926 passou por diversas ocupações de artistas desde 2011 e hoje abriga o Reb Bull Station SP, com foco em projetos que envolvem música, arte multimídia e pensamento urbano. Com o intuito em desenvolver energia criativa e conhecer artistas, são realizados concursos de residencias artísticas. Quando não há exposição, a área livre é usada para diversos usos enfervecendo aquele espaço e tornando-o constantemente mutante. A proposta contemporânea é baseado no contraste da materialidade entre o antigo e o novo. Foi desenvolvida uma circulação vertical nova anexa ao edifício histórico, além da cobertura do terraço que pode ser retirada posteriormente, caso necessário.

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mar (museu de arte do rio) | rio dejaneiro (BRA) | bernardes & jacobsen | 2013

Uso: Museu + Escola Profissionalizante Área Total: 11.240 m2 | Investimento: Desconhecido No Visitantes: Desconhecido O MAR foi capaz de unir dois edifícios distintos para um mesmo programa. Entre os exemplos nacionais selecionados, este é o que mais se parece com os museus europeus, apresentando uma grande área expositiva e um acervo próprio (contemplativo) que consiste de peças de arte raras brasileiras. Em contrapartida, a curadoria também busca se aproximar da cultura popular, tendo áreas expositivas exclusivas para arte feita nas favelas e também uma série de salas à disposição para cursos e aulas, incluindo até programa de alfabetização para adultos. Apesar disso, a maior parte das pessoas do museu são turistas e não locais que poderiam usar aquele espaço constantemente.

Caixa Forum | Madri (ESP) | Herzog & De Meuron | 2008

Uso: Centro Socio-Cultural Público Área Total: 11.000 m2 | Investimento: +R$ 240 milhões No Visitantes: +564.000 pessoas (2015) A intenção era converter a edificação industrial de 1899 em um local que pudesse estar a altura dos outros museus no Distrito Museográfico de Madrid. O conceito principal foi produzir um imã de amantes da arte e também da população geral que se sentissem atraídos a descobrir o que haveria no edifício. A marca da intervenção são os contrastes, desde a materialidade até a cobertura. No interior, cada pavimento tem um acabamento e atmosfera diferente. Ao tirarem o térreo de tijolo original, desconfiguraram o prédio histórico, mas também o reforçaram e, ao mesmo tempo, disponibilizaram um térreo acessível, aberto e atrativo à qualquer passante.

MUSEU DE ARTE MODERNA | SANTOS (BRA) | METRO ARQUITETOS + Paulo mendes da rocha

Uso: Museu Área Total: 8.180 m2 | Investimento: Desconhecido No Visitantes: Desconhecido O edifício de caracteriza por um enorme e pesado volume que quase flutua sobre uma praça aberta. Os espaços de exposições são amplos e disponíveis, sem a interferência de pilares ou outros elementos estruturais, para alterações a partir de cada exposição (um deles de 1135 m2 e outro maior de 1200 m2).A simplicidade formal é seu maior forte.

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12

ESTUDO DAS EDIFICAÇÕES

12.1 SOBRE O SOBRADO AZULEJADO Sobrado de Azulejos é datado como sendo do final do Séc. XIX (IPAC, 1974) e é um exemplar da arquitetura Eclética brasileira. Sua localização lhe proporciona ser um ponto visual importante do Comércio e à uma visão privilegiada da Praça Cairu. Seu valor maior está na fachada em azulejos portugueses que lhe garantem autenticidade. O Neogótico ou o Neomauelino (em Portugal) é um estilo englobado pelo Ecletismo no Brasil, muito valorizadas pelo pensamento racionalista ligado ao Iluminismo. No Séc. XIX, esses estilos procuraram reavivar as formas e simbolismo do Gótico Medieval, em contraste com os estilos neoclássicos dominantes na época. Foi popular em edifícios religiosos, mas empregado em todo tipo de edificação incluindo casas particulares e edificações militares (UFRRJ, 2010). O elemento neogótico no sobrado são os vãos de esquadria em forma de ogiva enquanto que a planta e volume continuam fiéis a tradição colonial. Segundo De Miranda (2011), as edificações de mesmo estilo dos sobrados estudados seguiam três características principais: 1. Embasamento (térreo) de estrutura em pedra e pé direito alto onde eram as áreas comerciais. 2. Corpo do edifício em 3 pavimentos destinados a habitação, onde o primeiro piso, considerado também nobre, era mais alto que os outros superiores. 3. Telhado feito para se aproveitar mais a altura interna. O revestimento azulejado foi utilizado no Brasil e em Portugal, onde foi adotada inclusive na arquitetura religiosa (como a Capela das Almas em Porto). Em Salvador exemplos de casas azulejadas são encontradas na Ladeira dos Aflitos, Boqueirão e Soledade.

Fi g. 3 3 :   CON D I ÇÃ O A T U A L D O CA S A R Ã O

12.2 SOBRE O SOBRADO No4 O Sobrado No 4 encontra-se em completo abandono e como o imóvel não é tombado não foi encontrado nenhum dado específico ou registro fotográfico antigo sobre ele. O que antes foi uma casa da elite do século XX, hoje restou apenas a “casca” da edificação, a cobertura e as esquadrias inexistentes. Duas aberturas foram demolidas para dar lugar à entrada de carros. Toda sua fachada apresenta pontos de deterioração e infiltração, alguns pontos com a presença marcante de vegetação, como o caso de uma parede interna. Na fachada da rua Santos Dummond, pode-se notar através do ritmo da fachada que houve uma adição ao prédio que corresponde pela parte que hoje se encontra a entrada da garagem. Era comum os desenhos das fachadas respeitarem uma simetria e este acréscimo quebra a simetria mesmo trazendo elementos próprios de desenho da edificação. Apesar disso, ainda é possível ter uma leitura da fachada histórica e os elementos são passíveis de recuperação.

Sobre a materialidade, a construção foi feita em tijolo e revestida externamente por azulejos. Os assoalhos de madeira foram substituídos por lajes de concreto. A cobertura em telha francesa está parcialmente destruída. A marquise e platibanda existentes não são datadas no Séc. XIX, considerando-as interferências posteriores (IPAC, 1974). A última notícia de manutenção conhecida foi registrada pelo IPAC em 1970-1973 onde foram realizadas obras de estabilização do prédio e modificações no interior para o Grupo Paes Mendonça que incluía lanchonete, padaria e mercenária no pavimento térreo e depósitos nos pavimentos acima (IPAC, 1974).

F i g.32:  P L A NTA TÉRRE A DO SUPE R M E R C ADO PAE S M E N DO N Ç A E M 19 74

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Fi g. 3 4 :   S OBR A D O N O 4 FA CH A DA A T U A L R U A S A N T OS D U MMON D


12.3 INTERIOR Segundo o IPAC (1974), o interior do Sobrado Azulejado foi completamente alterado, o que impede um estudo comparativo com a planta de outros edifícios da época. Geralmente, as zonas nobres encontravam-se sempre voltadas para a fachada principal, estando bem providas de luz natural e o serviço ficava na parte posterior. As zonas em azul apresentam hoje sanitários e seguindo na lógica de planta da época é onde estariam as instalações hidrossanitárias. Não existem plantas ou dados anteriores sobre o Sobrado No 4 para entender como funcionava seu interior, mas a partir de estudos comparativos, é de se supor um zoneamento similar ao da figura ao lado. O interior é retratado por pés-direitos generosos, principalmente no térreo, e uma planta livre. Em Portugal era comum a presença de claraboias para iluminar a caixa de escada, mas nenhum exemplo dessa arquitetura na Bahia seguia essa característica, provavelmente pelo clima tropical.

Fi g. 3 5 :   Z ON E A ME N T O D E U MA E D I FI CA ÇÃ O T Í PI CA POMBA LI N A

12.4 PAREDES E FUNDAÇÃO A estrutura do térreo difere da do restante por ter as paredes com cerca de 90cm de espessura. As paredes dos andares de cima vão diminuindo gradativamente em espessura. As paredes não tinham só a função de estruturar os edifícios, mas também de constituírem um elemento corta-fogo Em Portugal as paredes internas apresentavam treliças de madeira embutidas para que as casas pudessem resistir à terremotos. No Brasil essas característica não foi reproduzida, pois não havia necessidade. (DE MIRANDA, 2011). Boa parte do Comércio foi fruto de diversos aterros feitos sobre a Baía. No caso dos sobrados, como qualquer casa construída sobre aterro, é comum a presença de muitas trincas, azulejos soltando das paredes e um grande risco de desabamento consequência da movimentação e recalque dos seus alicerces. Esses problemas irão sempre se repetir, mas podem ser reduzidos através de alternativas estruturais. A priori as intervenções projectuais devem ser apoiadas em nova estrutura e não na existente, evitando sobrecargas nos alicerces.

Se o Sobrado de Azulejos seguir o costume português de fundação em aterro ou areia, as fundações devem ser em alvenaria de pedra com arcos para melhor transmissão das cargas ao terreno. Esta transmissão é feita por estacas de madeira que ajudam a sustentar o edifício nesse terreno complexo. As estacas provavelmente têm cerca de 1,5 de comprimento por 15cm de adiamento estando afastadas entre si em 40cm e unidas por um gradeamento em madeira (DE MIRANDA, 2011). Com os novos aterros na Cidade Baixa no Séc.XX, aplicase uma nova forma de ocupação da qual os lotes criados são entregues a iniciativa privada, que divide a área seguindo uma quadrícula. Novos edifícios são construídos seguindo novo padrão estético modernista, com altos edifícios competindo com casarões históricos. Para a estabilização de toda a edificação é altamente necessário o travamento das paredes externas em uma nova estrutura, evitando assim que o novo uso e cargas causem movimentos na estrutura antiga não suportados pelas fundações e paredes antigas.

Pedra

Estacas de Madeira

Solo F ig. 36 :   SKE TCH EDIFIC AÇ ÃO T ÍP I C A P O R T UG UE S A DO F I M DO S É C X I X

Fi g. 3 7 :   S K E T CH D E TA LH E D E FU N DA ÇÃ O T Í PI CA POR T U G U E S A D O FIM DO SEC XIX

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12.5 MODIFICAÇÕES NÃO ORIGINAIS NA FACHADA Como pode ser visto nas figuras ao lado, no início da década de 20, o edifício não apresentava a platibanda de detalhe curvado. A partir de (possivelmente) na década de 30 vemos que a marquise também não existia e em seu lugar estavam toldos, já que os passantes precisavam ser protegidos da chuva e do Sol. A partir de comparações com outras casas com elementos neogóticos em Portugal e no Brasil, foi observado que as esquadrias do térreo costumam ser em ogivas enquanto que as do sobrado azulejado são retangulares. Pode-se de supor que estas esquadrias sofreram alterações posteriores que não tiveram como intenção seguir a estética neogótica. Porém, por não existirem registros fotográficos ou técnicos conhecidos para comprovação, foram mantidas as aberturas retangulares na proposta.

Fi g. 3 8:   CA S A R Ã O N O I N Í CI OS DA D E CÁ DA D E 2 0

Foi decidido a manutenção do coroamento da edificação mesmo ela sendo posterior ao projeto original, pois o elemento se tornou parte da configuração do casarão. A marquise e a parte térrea da fachada frontal do sobrado azulejado desconfiguram a edificação e a tiram sua estética antiga, sendo facilmente reconhecidas como intervenções posteriores. Não há um registro claro do Sobrado No4, que possibilite melhor entendimento de sua cobertura, por isso a proposta de projeto não busca tentar imitar o antigo, mas sim uma nova cobertura com materiais contrastantes com os do edifício.

LEGENDAS ADIÇÕES NA FACHADA FACHADA DESCONFIGURADA ESQUADRIA DESCONFIGURADA À SER RECONSTRUÍDO

DECISÕES SOBRE AS MODIFICAÇÕES

Em amarelo o coroamento e a marquise foram modificações posteriores a construção histórica. O coroamento pode ser mantido por ter se conformado como estética da edificação. A marquise marca o limite entre a estética da fachada histórica e o térreo que está completamente desconfigurado. Assim admite-se que é necessária uma intervenção contemporânea na fachada somente no nível do térreo e uma releitura da marquise existente.

Fi g.40:  IN DICAÇÕ ES DE MO DIFICAÇÕ E S E X I S T E N T E S N O S O B R ADO AZUL E J ADO E N O S OBR A D O N O 4

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Fi g. 3 9:   CA S A R Ã O À D I R E I TA COM T OLD OS


12.6 lidando com as patologias Através de análise histórica, de fotografias, observações e de cadastro existente adquirido foi possível marcar um mapa de deficiências da edificação. Como pode ser observado nas figuras abaixo, a parede da fachada frontal da edificação apresenta um “embarrigamento”, ou seja, a parede estrutural está deslocada de seu eixo de origem criando uma saliência. A área onde essa deformação ocore é, inclusive, a região central e pode ser indentificada pela presença do descolamento maior dos azulejos e da deteriorização das colunas. Essa deformação se deu possivelmente pela perda da parte do telhado, causando a desestabilização da estrutura (já as as paredes estruturais são “travadas” através do telhado) e não existem hoje paredes estruturais internas. Além disso, movimentações nas fundações podem causar essa deformação.

Caso similar ocorreu no Museu da Misericórdia no Pelourinho (Rua da Misericórdia, N 6 - Praça da Sé, Salvador - BA), onde uma das paredes do Salão Nobre apresentou “embarrigamento” por conta de estar recebendo cargas da cobertura. A alternativa para resolução executado pela equipe de reforma do Museu da Misericórdia que trabalhou de 2002 à 2006, foi optar por transferir a carga do telhado para uma nova estrutura metálica embutida, deixando a parede estrutural suportando seu próprio peso. O espaço que ficou entre a parede embarrigada e a cobertura recebeu preenchimento para evitar entrada e água. A estrutura ficou estável e a parede, antes em deslocamento parou de se deformar. A deformação da edificação azulejada causa descolamento de azulejos, que nos últimos tempos vem atingindo carros e passantes, por conta de: 1. Alterações na estrutura 2. Sal maritmo vindo através dos ventos 3. Água do solo que sobe as paredes internamente por capilaridade Como o edifício se encontra bem próximo do oceano, as moléculas de sal são carregadas pelo vento e ficam presas nas paredes. Quando o calor do Sol evapora a água/umidade das paredes, o sal permanece e as moleculas se expandem causando fissuras nos azulejos. Por conta de ser uma construção num solo de grande umidade, a água ali consegue subir internamente pelas paredes por meio de capilaridade. Por essa razão, é possível observar vegetações nascendo a partir da alvenaria. Provavelmente o fluxo de água interno nas paredes é constante, do contrário as plantas não sobreviveriam. Ainda há a chance da água contida nas paredes, ao se expandir externamente, estar causando descolamento dos azulejos.

F ig. 41:   SKETCH MOV IM E N TAÇ ÃO DA FAC HADA F R O N TAL P E R S P E C TI VA

Para haver total revitalização dos azulejos, é necessário (em etapas subsequentes): 1. Mapeamento dos azulejos 2. Mapa de danos e patologias dos azulejos 3. Retirada dos azulejos 4. Desalinização das peças 5. Novo Emplacamento As estapas de 1 à 4 são praticadas pelos profissionais do restauro. A etapa número 5 compreende um método desenvolvido pelo Prof. Mário de Oliveira (2011) em obras de restauro no Palácio da Reitoria na UFBA é possível utilizar placas cimentícias (com espessura de 12mm) parafusadas às paredes para servir de apoio à colocação dos azulejos de um mural.

F ig. 42:   SKE TCH MOV IM E N TAÇ ÃO DA FAC HADA F R O N TAL V I S TA L AT E R A L

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Como é muito difícil prever onde haverá água nas paredes, o melhor é criar um mecanismo que possa resistir à essa água como a placa cimentícia um material que não é danificado por ela e pode proteger os azulejos, evitando seu desprendimento até no futuro.

Além da placa, é importante, criar um mecanismo aquivalente a um rodapé da fachada externa para saída para a água. Como pode ser visto da Figura 25, abaixo da placa acrílica é feito um detalhe de resina para saída da água. A placa possui um detalhe metálico para evitar que a água suba por capilaridade e atinja os azulejos.

Fi g.43:  S K ETCH SE CÇÃO PARE DE - C O N DI Ç ÃO AT UAL

Fi g. 4 4 :   S K E T CH S E CÇÃ O PA R E D E - CON D I ÇÃ O PR OPOS TA

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DIMENSIONAMENTO E PROGRAMA

13.1 ANÁLISE DOS PROJETOS REFERENCIADOS Cidades vêm investindo em seus centros antigos, muitas vezes esquecidos, buscando uma diferenciação. Essa busca, aqui na América Latina, leva à importação de modelos de intervenção de países desenvolvidos que não se encaixam na realidade da América Latina, apresentam custo elevadíssimo e pouca integração com a cultura já existente. Inicialmente pesquisei por museus de música na Europa, onde existe três tipologias diferentes de museus focado em musica: o primeiro com foco nos instrumentos musicais (Musée des Instruments de Musique - Paris), outro abordando a música do ponto de vista das novas tecnologias (Huas der Musik - Viena) e por fim um último focado na música de

forma genérica (Musée de la Musique - Paris). Os museus americanos tem uma relação de celebração da indústria da musica, levando uma abordagem bastante comercial, e por uma questão de viabilidade não foram tratados. Optei por me aprofundar em exemplos brasileiros (em sua maioria executados em preexistência) por estarem inseridos na realidade do país - tanto financeira como cultural - que me serviram como base programática à gerar dados comparativos. A Caixa Fórum em Madri na Espanha foi incluída deixando explicita a grande diferença programática entre os museus latinos e europeus, além de estar num patamar tecnológico e financeiro muito distante da realidade baiana.

F ig. 45:   GRÁFICO DE COM PAR AÇ ÃO P R O G R AM ÁT I C A

O QUE APRENDI COM OS PROJETOS REFERÊNCIA Como pode ser observado, nos museus nacionais a área expositiva é menor do que as dos europeus em sua maioria, entretanto eles oferecem mais opções como aulas, cursos e outras atividades culturais dentro dos edifícios. Todos os exemplos apresentam uma área livre ou verde de grande influência. No caso do Paço do Frevo, logo em frente, há uma praça que possui cerca de 2.500 m2 e serve de palco para diversas atividades que saem do museu. No caso do RebBull, o edifício está isolado num quarteirão no meio de vias, entretanto a área livre do terraço é constantemente utilizada tanto para eventos como para experimentações. No MAM-BA muito das atividades acontecem fora do museu (nas praças), se beneficiando também da vista para Baía de Todos os Santos, e dentro ficam mais as peças de exposições. Esses espaços livres exteriores às edificações funcionam como ambientes de troca entre a instituição cultural e a cidade, sendo uma marca nos projetos selecionados como referência. Fi g. 4 6:   R E LA ÇÃ O D E Á R E A S E N T R E MU S E U S E S T U DA D OS

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13.2 PRÉ-DIMENSIONAMENTO O pré-dimensionamento teve início com a estimativa da capacidade de pessoas do museu, analisando os espaços expositivos, musicais e do público em geral. Os dados na tabela de áreas à direita são referentes à cálculos e analise dos projetos de outros museus e centros culturais no Brasil. As áreas técnicas são parte de um estudo inicial e serão recalculados adiante a partir de suas respectivas normas. RESUMIDAMENTE: •

Capacidade: aprox. 300 pessoas

Área necessário ao programa: 2564 m2

Área S. Azulejos (1921 m2)+ Sobrado No 4 (999 m2 ) = 2920 m2

USO EXPOSITIVO

ESTIMATIVA DE PESSOAS

NÚMERO DE PESSOAS POR AMBIENTE

Exposição permanente Exposição temporária

TIPO

Público Público

USO MUSICAL NÚMERO DE PESSOAS POR AMBIENTE

Salas de Ensaios Individuais Salas de Ensaios para Bandas Salas de Ensaios para Grupos Percursivos Auditório

TIPO Profissional Profissional Profissional

Público

USO DO PÚBLICO EM GERAL NÚMERO DE PESSOAS POR AMBIENTE

Restaurante Foyer

TIPO

Serviços Público

CAPACIDADE MÁXIMA CAPACIDADE PROGRAMADA

MÁXIMO

150 150 300 MÁXIMO

2 8 40 160 210 MÁXIMO

80 30 110 620 310

PRÉ-DIMENSIONAMENTO DE ÁREAS (m2) USO EXPOSITIVO AMBIENTE QNT ÁREA Exposição Permanente 1 250 Exposição Temporária 1 350 USO MUSICAL

AMBIENTE Salas de Ensaios Individuais Salas de Ensaios para Bandas Salas de Ensaios para Grupos Percursivos Sala de Ensaio para Orquestra Auditório USO DO PÚBLICO EM GERAL AMBIENTE Elevadores Escada contra-incêndio Sanitários Restaurante Lutheria Foyer Bilheteria/Recepção Loja

QNT

2 2 2 0 1

2 1 2 1 1 1 1 1

ÁREA 15 20 50 160 300

TOTAL 30 40 100 0 300 470

ÁREA

TOTAL 12 15 80 80 60 120 15 40 422

ÁREA 20 60 12 5 12 15 18 18 100 4 8 8 8 35 25

TOTAL 20 60 12 5 12 15 18 36 100 4 8 8 8 35 25 366

6 15 40 80 60 120 15 40

USO TÉCNICO

AMBIENTE Carga e Descarga Depósito Almoxarifado Armazenamento de Resíduos Controle e Segurança Área dos Funcionários Camarim Vestiários Adm + Reunião + Gerente + Arquivo Casa de Gás Gerador Quadro de Distribuição Subestação Reservatórios de Água e Incêncio Ar-condicionados

QNT

1 1 1 1 1 1 1 2 1 1 1 1 1 1 1

RELAÇÃO DE ÁREAS TOTAL 15% PAREDES 5% ACÚSTICA 18% CIRC. TOTAL FINAL 1858 279 93 334 2564

RELAÇÃO DE ÁREAS DA PROPOSTA

A proporção de área da proposta de Museu da Música em relação à áreas de museus estudados. A área expositiva (24% da área total) é proporcional à de outros estabelecimentos de tamanho relativo. A área destinada à cursos, oficinas e outras atividades de 18% foi um pouco maior que na maioria dos exemplos, mas desejado nessa proposta de projeto.

Fi g. 4 7 :   MU M- G R A F- R E LA CA OA R E A S - 02 . JPG

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QNT

TOTAL 250 350 600


13.3 LUTHiERIA E A CULTURA DE INSTRUMENTOS MUSICAIS NA BAHIA A luthieria é a arte de construção de instrumentos de corda. A palavra luthier é proveniente do francês e designa o profissional especializado na construção de instrumentos musicais, não dotados de teclas e que possuem caixa de ressonância. Há uma cultura histórica muito grande de produção e tratamento de instrumentos musicais em Salvador. Um dos exemplos clássicos de instrumentos personalizados é o “bandolim elétrico” construído na década e 1940 por Dodô Nascimentos e Osmar Macêdo que mais tarde se desenvolveu para o que se chama hoje de “guitarra baiana”. Os blocos afro e escolas percussivas também possuem uma cultura de construição de instrumentos, principalmente tambores, atabakes e instrumentos de origem africana. Grupos como Olodum e Okanbí são marcados pelas experimentações musicais. Um dos construtores de instrumentos mais importantes no país foi Walter Smetak, suíço que se mudou para o Brasil em 1937. Em Salvador construiu instrumentos musicais com materiais inusitados, como tubos de PVC, cabaças e isopor. Sua oficina de experimentação sonora passou a ser frequentada por importantes artistas da música brasileira: Gilberto Gil, Caetano Veloso,Tom Zé, entre outros. O uso de uma luthieria dentro do programa do museu faria à par de realizar serviços para uma grande demanda de grupos musicais presentes no Centro Histórico e também ao restante da cidade. Sendo também uma fonte de renda alternativa ao museu e um meio de manter e valorar as tradições musicais da cidade

13.4 PRÉ-DIMENSIONAMENTO SALA DE REFRIGERAÇÃO DO AR-CONDICIONADO Os modelos que trabalham através de dutos são preferenciais por serem mais silenciosos e gerarem menos vibração na estrutura histórica garantindo o conforto térmico no ambiente. Segundo modelo de pré-dimensionamento: • Para cada m2 multiplica-se por 800 BTU (geralmente seriam 600 BTU, mas como o edifício fica diretamente exposto ao sol, aconselha-se considerar valores maiores) • Cada pessoa adicional soma 600 BTU (a primeira pessoa não é contabilizada) • Cada equipamento eletrônico soma 600 BTU • Como o ambiente tem grande metragem, pé direito alto e um grande número de pessoas foi considerado uma elevação percentual do resultado final. Cálculo de BTU: Área Pavimento (m2): 811 (Sobrado Azulejo + Sobrado N 4) o

Total de pessoas: 75*

Quantidade de BTU: 717.200 *O valor máximo de 300 pessoas dividido por 4 pavimentos. ** O cálculo considera a interferência de um eletrônico de aquecimento mínimo como um notebook. Como o museu pode a vir a receber exposições com equipamentos tecnológicas e instalações elétricas de maior potência foi considerado uma quantidade alta. Unidades externas de modelo de duto padrão geralmente apresenta medidas entre 0,60 x 0,90 (m) e capacidade máxima de 62.000 BTU. Assim é prevista uma quantidade aproximada de até 12 unidades externas por pavimento totalizando 46 unidades e área mínima de 25 m2.

13.5 PRÉ-DIMENSIONAMENTO de sanitários Segundo Código de Obras de Salvador, foi calculado o número de equipamentos sanitários (vaso, mictório e pia) para um público de até 300 pessoas incluindo o público de visitação da exposições, usuários de salas práticas, auditório e do café. Até 150 homens: 4 vasos, 4 mictórios, 6 pias Até a150 mulheres: 6 vasos, 6 pias Após isso, acrescenta-se 1 equipamento de cada tipo à cada 40 pessoas. Por isso calcula-se mais 4 equipamentos para homens e mais 4 equipamentos para mulheres. Totalizando:

Homens: 8 vasos, 8 mictórios, 10 pias

Mulheres: 10 vasos, 10 pias.

Nestas quantidades incluindo uso para deficiente físico à nível de pavimento térreo.

13.6 considerações sobre saídas de emergência A proposta de projeto atende às exigências da norma NBR 9077 -2001 - Saídas de Emergência em Edifícios. Foram calculados as unidades de passagem de escadas, rampas, portas etc. para o museu em geral, enquanto que o auditório foi tratado em específico por concentrar grande público. Para se dimensionar a unidade de passagem primeiro precisa-se determinar o fluxo de pessoas possível por local. De acordo com a Tabela 5 da NBR 9077, o museu se enquadra no grupo F-1, onde calcula-se 1 pessoa para cada 3,0 m2 de piso enquanto que o auditório está no grupo F-2 onde 1 pessoa é equivalente à 1,0 m2 de piso. Por conta dessa exigência, limitou-se a capacidade máxima de 220 pessoas para o auditório. Dessa forma, tanto o auditório como o museu terão as mesmas unidades de passagem de no mínimo escadas com 1,10m e portas de emergência com 1,00m de largura. A escada helicoidal presente no foyer da proposta também atende à norma, pois possui o escarparate no diâmetro necessário, a largura atende ao fluxo de pessoas e o piso da escada tem, no seu ponto menor 0,21m (acima do mínimo que é de 0,15m).

Total de eletrônicos: 40** 57 |


13.7 ANÁLISES E DETERMINAÇÕES INICIAIS O pré-dimensionamento dos espaços foi feito a partir de comparações com os projetos referências e o Código de Obras de Salvador. Também foi analisada a antiga LOUOS e a legislação que trata do patrimônio histórico. Segundo da determinações da nova LOUOS de 2016 (Lei 9.148/2016 de 13/09/2016), as edificações pertencem à ZUE - Zona de Uso Especial 3 e uma APCP - Área de Proteção Cultural e Paisagística. Recuos, gabaritos, agenciamento de fachadas e tratamento de telhados estão condicionados às exigências da SPHAN. Porém, aplicam-se algumas normas específicas estabelecidas como as seguintes restrições presente no Art. 37 inciso I: •

Fixação de gabaritos máximos;

Declividade do telhado;

Tonalidade das cores a serem empregadas;

Quaisquer outras exigências julgadas necessárias à preservação do conjunto e do ritmo da composição;

Essa ampliação vertical seria necessária para a inclusão do programa dentro do edifício, mas indesejável por desconfigurar tipologicamente a edificação histórica. Em contrapartida a ruína do Sobrado No4 possibilitaria a ampliação da área do museu tornando desnecessária a ampliação vertical. A ruína apresenta 3 pavimentos que totalizam a área útil de 999,62 m2.

Ainda seguindo o Art. 37 inciso II há permissão para alterações quando: •

Ficar assegurada a similaridade volumétrica

A nova edificação não implicar no desvirtuamento da paisagem construída ou natural

Se tratar de casos de incêndios ou ruína

Haja ameaça de sinistro que coloque em risco vidas e/ou propriedades vizinhas

Além disso, a lei determina que não se estende às restrições ao espaço interno preexistente como indicado no § 1º do Art. 37.

Fi g. 4 8:   CA DA S T R O CA S A R Ã O A Z U LE JA D O

Segundo figura ao lado o gabarito de altura máxima nas Edificações, a proposta tem a possibilidade de chegar até 36m de altura. Ou seja, pode-se ampliar verticalmente o Sobrado de Azulejos que passaria de uma altura de 22 m para 36 m com mais 4 pavimentos. Dessa forma a dobrar sua área útil ao equivalente à 3830 m2. Tal expansão ficaria ao critério de aprovação do SPHAN. Fi g. 5 0:   CA DA S T R O FA CH A DA CA S A R Ã O A Z U LE JA D O

F i g.5 1:  CA DASTRO FACHADA - CAS AR ÃO N O 4

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Fi g. 4 9:   CA DA S T R O FA CH A DA CA S A R Ã O A Z U LE JA D O - GA BA R I T O


F ig. 52:   AXIO MÉTRICA S E C C I O N ADA M O S T R AN DO AS ALT E R AÇ Õ E S PA R A I MPLA N TA ÇÃ O DA PR OPOS TA


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MATERIAIS

14.1 especificação de materiais COBERTURA Isotelha termoacústica tipo colonial Argila expandida sobre a laje

FORRO Forro em gesso perfurado Nuvens acústicas Sonex

PAREDE Alvenaria de bloco cerâmico Drywall com enchimento acústico em lã de vidro Cimento com textura ripada Placas calcárias Placas acústicas em MDF

PISO Piso drenante cimentício, Drenaltec Piso vinílico tipo madeira Grama Laje treliçada pré-moldada com EPS altura de 18cm

ESQUADRIAS

Esquadria de alumínio anodizado com pintura eletroestática

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PROPOSTA DE PROJETO



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PROPOSTA DE PROJETO

15.1 APRESENTAÇÃO DA PROPOSTA

F i g.5 3 :  M ODELO 3D PREE XISTÊ NCI AS - C O N DI Ç ÃO AT UAL

Fi g. 5 4 :   D I V I S Ã O D E U S OS E M PE R S PE CT I VA I S OMÉ T R I CA

AO INVÉS DE TENTAR SIMILAR UMA COBERTURA ANTIGA FOI PROPOSTO UM TERRAÇO ABERTO LIVRE RECUPERAÇÃO DA ESTÉTICA DA FACHADA E COBERTURA

NOVO TRATAMENTO PARA AS PAREDES DO TÉRREO EM PLACAS CALCÁRIAS

FRISOS SEPARADOS POR 18CM (EQUIVALENTE À ALTURA DOS AZULEJOS) DE MODO À RELACIONAR-SE COM AS LINHAS HORIZONTAIS EXISTENTES. Fig. 55:   MO D E L O 3D P R E E X I S T Ê N C I AS - C O N DI Ç ÃO P R O P OS TA - A XI OMÉ T R I CA I

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ACRÉCIMOS EM TEXTURA RIPADA CONTRASTANDO COM A ESTRUTURA ANTIGA DE FORMA A MARCAR O NOVO TRATAMENTO E MANUTENÇÃO DO DESENHO ORIGINAL DA FACHADA COM NOVAS ESQUADRIAS

RECOMPOSIÇÃO DA FACHADA DESTRUÍDA


COBERTURA EM ISOTELHA NECESSITA APENAS DE TERÇAS METÁLICAS

ESTRUTURA PILARES VIGAS E TRELIÇAS

PLATAFORMAS PARA CADEIRAS DO AUDITÓRIO DE FORMA A POSSIBILITAR LAYOUTS LIVRES

TRELIÇAS COM MAIOR GANHO DE ALTURA INTERNA PROJETADAS PARA SUPORTE DE DUTOS E DE FORRO ACÚSTICO RAMPAS METÁLICAS LIGANDO PAVIMENTOS DE EXPOSIÇÃO. AS TRELIÇAS SUSTENTAM E SERVEM DE GUARDA-CORPO CX. ELEVADOR SEM CASA DE MÁQUINAS E ESCALA HELICOIDAL QUE DÃO ACESSO À EXPOSIÇÃO

NUVENS ACÚSTICAS DE ALTURAS VARIÁVEIS

TODA O PESO É APOIADO NA ESTRUTURA NOVA, EVITANDO SOBRECARGAS QUE POSSAM DANIFICAR OS PRÉDIOS

PILARES EM CONCRETO EM TODO PERÍMETRO DA EDIFICAÇÃO PARA SUSTENTAÇÃO DAS PAREDES ANTIGAS

F ig. 57:   SECÇÃO AXIO M É T R I C A M O S T R AN DO A E S T R UT UR A I N T E R N A

PERIMETRO EM ARGILA EXPANDIDA PARA EVITAR APROXIMAÇÃO DE PESSOAS DA FACHADA COBERTURA EM MATERIAL CONTEMPORÂNEO RECUADA DA FACHADA ORIGINAL

VOLUME DA SAÍDA DE EMERGÊNCIA POR USO DE MATERIAL CONTEMPORÂNEO

ACESSO DE SERVIÇO AOS DOIS PRÉDIOS E ÁREA VERDE

ENTRADA AO RESTAURANTE ATRAVÉS DA RUA VISC. DO ROSÁRIO, QUE CONTEM OUTRO ESTABELECIMENTOS DESSE TIPO PRÓXIMOS.

ENTRADA ALTERNATIVA CASO O SOBRADO AZULEJADO ESTEJA FECHADO

Fig. 56 :   MODE L O 3D P R E E X I S T Ê N C I AS - C O N DI Ç ÃO P R OPOS TA - A XI OMÉ T R I CA II

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Fi g.58:  A X IO ME TRIA E XPLO DIDA - US O S P O R PAV I M E N T O DA P R O P O S TA

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CONSIDERAÇÕES SOBRE O PROGRAMA O Sobrado Azulejado compreende um uso de áreas mais nobres, como espaço expositivo e educativo (luthieria e salas de música) enquanto que o Sobrado No4 é destinado há um uso mais técnico e administrativo, fora a presença do auditório e restaurante. O espelho d’água presente no térreo serve para separar o público em geral do público que compra o bilhete para a exposição. Um elevador (de modelo sem casa de máquinas superior) possibilita o acesso à pessoas com necessidades e há uma escada helicoidal que também dá acesso aos pavimentos de exposição. As rampas possuem inclinações iguais ou inferiores à 8% e ligam os pisos de exposição, distribuídos de forma a possibilitar alterações de gabarito interna entre os pisos., num espaço livre e que possibilite maior visibilidade interna As rampas são fixas nas lajes e lateralmente nos pilares por conectores metálicos. As rampas estão nessa posição do prédio, pois ficam próximas da fachada que recebe maior sol, possibilitando que a exposição fique melhor protegida.

No 3o pavimento do Sobrado Azulejado estão as salas de música destinadas à uso público que possibilite desenvolvimento cultural da região. As salas possuem uma vitrine e equipamentos de headphone para os visitantes do museu poderem ouvir e assistir o que ocorre lá dentro, entretanto, a proposta das salas de música é educativa e não necessariamente de espetáculo aos visitantes. No mesmo pavimento há vestiários destinados aos usuários das salas de música,. O terraço é livre para qualquer acontecimento ou reunião, não tendo um uso fixo proposto, mas sendo um espaço ao ar livre de convívio. O elevador de serviço (3,20 x 1,80 m) tem a função de transportar equipamentos - inclusive um piano de cauda (1,48 x 2,30 m, maior modelo encontrado) e transporte de pessoas do administrativo e para o camarim (acesso de artistas separado do acesso do público. Caso o Sobrado de Azulejo estiver fechado, o Sobrado No4 pode continuar o funcionamento de seu corpo técnico e também do auditório. Ou seja, mesmo os sobrados fazerem parte de um proposta única, podem funcionar separadamente dadas limitações.

F ig. 59 :   PRO PO STA - AC E S S O S

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Fi g.61:  P L A NTA TERRE O

Fi g.60:  P L A NTA 1 PAV IMENTO

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F ig. 6 2:   AXIO MÉTRICA T É R R E O - P R O G R AM A

F ig. 6 3:   AXIO MÉTRICA 1 O PAV I M E N T O - P R O G R AM A

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Fi g.65 :  P L A NTA 2 PAV IMENTO

Fi g.64:  P L A NTA 3 PAV IMENTO

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F i g. 6 6 :   AXIO MÉTRICA 2 O PAV I M E N T O - P R O G R AM A

F i g. 6 7:   AXIO MÉTRICA 3 O PAV I M E N T O - P R O G R AM A

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Fi g.68:  SECÇÃO TRANSV E RSAL

Fi g.69:  S ECÇÃO LO NGITUDINAL

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F ig. 70 :   ESCADA HE LICO I DAL N O F OY E R

Fi g. 7 1 :   V I S TA À S R A MPA S ME TÁ LI CA S E A O I N T E R I OR D O MU S E U

F ig. 73:   AUDITÓ RIO DE L AYO UT F L E X ÍV E L

Fi g. 7 2 :   V I S TA DA S S A LA S D E MÚ S I CA

F ig. 74:   RE STAURANTE

F ig. 76 :   TE RRAÇO

Fi g. 7 5 :   Á R E A V E R D E E XT E R N A E VOLU ME T R I A N OVA

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CONCLUSÃO



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CONCLUSÕES Desde o começo das pesquisas esperava um desafio em lidar com uma edificação que fosse, além de patrimônio histórico, completamente aberta com centenas de esquadrias enquanto que exemplos de museus da atualidade são prédios maciços e completamente fechados ao exterior (por conta de questões técnicas e de conforto). Apesar disso, essa diferenciação possibilita trabalhar o museu de uma forma diferente da comum. As aberturas do prédio acabam por misturar o museu com o cenário da cidade. Afinal, a música e vida em Salvador estão muito presentes na rua, e nunca foi desejado que o museu proposto funcionasse como um ecossistema isolado de seu entorno. Importante para o trabalho foi, enxergar as duas edificações antigas individualmente, sabendo o que poderia melhor funcionar par acada uma, ao mesmo tempo em que se criava uma proposta de museu que unisse as duas. Houve um grande esforço através de inúmeros estudos e análises para que a proposta do museu respeitasse o que os edifícios antigos tem de melhor oferecer ao mesmo tempo em que o arquiteto possa ter sua liberdade criativa para desenvolver algo novo. As alterações maiores foram mais internas do que externas - essas que buscaram recuperar e reabilitar o antigo. Houve um desafio grande em entender e desenvolver um sistema estrutural capaz de sustentar as edificações antigas e o novo uso. Espera-se poder desenvolver mais os conhecimentos sobre intervenções em edificações antigas para aprofundamento da proposta. Por fim, acredito que o primordial na proposta não é apenas pensar sua forma, mas também a política que está por trás do desenvolvimento da ideia. Depois de vivenciar o local, foi percebida a necessidade para um empoderamento da música popular desde sua prática, história e desenvolvimento de instrumentos que estejam fora das amarras capitalistas da indústria musical.

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BIBLIOGRAFIA

LIVROS E TESES

IPAC - Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia, Sobrado Azulejado, Livro do Tombo Histórico: Volume 1. N19: Processo de tombamento no 717-T-63, incrito em 30/07/1969 sob o no 417, fls no 68. Salvador.

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. Escola de Administração. Centro Interdisciplinar de Desenvolvimento e Gestão Solcial. Caminho das Águas em Salvador: Bacias Hidrográficas, Bairros e Fontes. Salvador: EDUFBA, 2010. UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA. Baía de Todos os Santos: Aspectos Humanos. Salvador: EDUFBA, 2011. UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO. IV. Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca. Unidade Descentralizada de Nova Friburgo. V. Oitocentos - Arte Brasileira do Império à República - Tomo 2. Rio de Janeiro: EDUR-UFRRJ/DezenoveVinte, 2010.

BRANDAO, Darwin. Cidade do Salvador; Caminho do Encantamento. São Paulo, Nacional, 1958. p.19 AZEVEDO, Paulo Ormindo de. Alfândega e o Mercado: Memória e Restauração. Salvador: Secretaria de Planejamento, Ciência e Tecnologia do Estado da Bahia, 1985 BARDI, Pietro M. “Um Museu fora dos limites”. In: Habitat, n. 4. São Paulo, 1951, p. 50. Tradução em TENTORI, Francesco. P. M. Bardi. São Paulo: Instituto Lina Bo e P.M. Bardi, 2000, pp. 188-191. BARDI, Pietro M. Pequena História da Arte: Introdução aos Estudos das Artes Plásticas. São Paulo, Ed. Melhoramentos, 1993, p. 84. TENTORI, Francesco. Op. Cit., 2000, p.188. ROCHA, Heliana Faria Mettig. Visualização Urbana Digiral: Sistema de Informações Geográficas e Históricas para o Bairro do Comércio - Salvador. Tese de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo. Faculdade de Arquitetura. UFBA - Universidade Federal da Bahia. Salvador 2007 OLIVEIRA, Mário Mendonça de. Materiais de Revestimento Aplicados na Conservação de Azulejos. In: Monumenta-BID/MinC. (Org.). Patrimônio Azulejar Brasileiro - Aspectos históricos e de conservação. Brasília: Monumenta-BID/MinC, 2001, v. , p. 140-163 TEOBALDO, Izabela Naves Coelho. Estudo do Aço como Objeto de Reforço Estrutural em Edificações Antigas. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas) – Escola de Engenharia, Universidade Federal de Minas Gerais, 2004.

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LEIS E DOCUMENTOS PÚBLICOS

BRASIL. Decreto-Lei nº 25.747, de 22 de Dezembro de 2014. Regulamenta o sistema de preços públicos do município de Salvador, aprova tabelas de cobrança, e dá outras providências. Diário Oficial [da Prefeitura de Salvador], Salvador. Seção IV, Art.11 e Art.15. IPAC - Instituto do Patrimônio Artístico Cultural da Bahia, Inventário de Proteção do Acervo Cultural. , BR-320071.3-077. Salvador: Equipe PPH/SIC-CFT, 1974. . Acesso em: 6 jun. 2016. IPHAN - Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Arquivo do IPHAN. , 1969. Acesso em: 6 jun. 2016. BRASIL. Ministério da Cultura. Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Caderno de Documentos nº 3: Cartas Patrimoniais. Brasília: MinC; IPHAN, 1992. 1993.

LE CORBUSIER. A Carta de Atenas. São Paulo: Hucitec,


WEBSITES IPHAN. Iphan aprova tombamento do Bairro do Comércio em Salvador. Disponível em: <http://portal.iphan. gov.br/noticias/detalhes/2617/iphan-aprova-tombamentodo-bairro-do-comercio-em-salvador>. Publicado em 15 out de 2009. Acesso em: 4 set. 2016. G1 BAHIA. Casarão do Centro Histórico abrigará museu dedicado à música brasileira, 2015. Disponível em: <http:// g1.globo.com/bahia/noticia/2015/07/casarao-do-centro-historico-abrigara-museu-dedicado-musica-brasileira.html>. Acesso em: 6 jun. 2016. MACHADO, T. Vereadores aprovam o aumento do barulho em Salvador durante festas. Disponível em: <http:// www.tribunadabahia.com.br/2014/09/02/vereadores-aprovam-aumento-do-barulho-em-salvador-durante-festas>. Acesso em: 6 jun. 2016. MATOS, L. Novas casas de shows dão gás à música em Salvador » Para quem gosta de música sem preconceitos, numa visão a partir da Bahia. Disponível em: <http://www. elcabong.com.br/novas-casas-de-shows-dao-gas-a-musica -em-salvador/>. Acesso em: 6 jun. 2016.

JACOBINA, R. O Palace será dos baianos. Disponível em: < http://atarde.uol.com.br/muito/noticias/1695912-o -palace-sera-o-hotel-dos-baianos-premium>. Acesso em: 26 jul. 2016. GANZELEVITCH, D. Aqui Podia Morar Gente. Disponível em: < http://dimitriganzelevitch.blogspot.com. br/2015/01/aqui-podia-morar-gente.html>. Acesso em: 26 jul. 2016. CANAS, A. MASP - Museu Laboratório. Arquitextos 150.04, ano 13. Disponível em: <http://www.vitruvius. com.br/revistas/read/arquitextos/13.150/4450>. Publicado em 13 nov. 2012. Acesso em: 18 set. 2016. BRASIL IMPERDÍVEL Museu da Misericórdia. Disponível em: <http://brasilimperdivel.tur.br/museu-misericordia-salvador/>. Publicado em 23 nov. 2011. Acesso em: 22 set. 2016. ERC: ESCRITÓRIO de Revitalização do Comércio. Dados do bairro do Comércio. Salvador, 2010.Disponível em: <http://www.revitalizacomercio.no.comunidades.net/>. Acesso em: 26 out. 2016.

AMORIM, F. Liminar da justiça suspende obras do Hotel Hilton, no bairro do Comércio. Disponível em: <http://www.correio24horas.com.br/detalhe/noticia/liminar-da-justica-suspende-obras-do-hotel-hilton-no-bairrodo-comercio/>. Acesso em: 9 jun. 2016. NERY, J.BAETA, R. arquitextos 179.07 restauro: Do restauro à recriação | vitruvius. Disponível em: <http://www. vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/15.179/5534>. Acesso em: 10 jun. 2016. OLIVEIRA, N. Por que Pessoas Estão Ficando Desabrigadas e Casarões Estão Sendo Demolidos no Centro de Salvador? | VICE | Brasil. Disponível em: <https://www. vice.com/pt_br/read/por-que-pessoas-estao-ficando-desabrigadas-e-casares-estao-sendo-demolidos-no-centrode-salvador>. Acesso em: 11 jun. 2016. MENDES, H. Com queixas de décadas, moradores esperam reformas no Centro Antigo. Disponível em: <http:// g1.globo.com/bahia/noticia/2015/07/com-queixas-de-decadas-moradores-esperam-reabilitacao-do-centro-antigo. html>. Acesso em: 11 jun. 2016. MATOS, A. Praça Cairu terá calçamento semelhante à nova Barra. Disponível em: <http://www.correio24horas. com.br/detalhe/noticia/praca-cayru-tera-calcamento-semelhante-ao-da-nova-barra/l>. Acesso em: 18 jun. 2016.

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LISTA DE IMAGENS FIG.1:  SOBRADO AZULEJADO DO SÉC. XIX 14 FIG.2:  ENTORNO DA PRAÇA CAIRU 14 FIG.3:  SOBRADO NO 4 14 FIG.4:  SKETCH MÚSICOS 16 FIG.5:  FOTOGRAFIA AERIA DO COMERCIO 17 FIG.7:  PROPOSTA DO HOTEL HILTON 19 FIG.6:  SOBRADOS VISTOS DA PRAÇA MUNINCIPAL 19 FIG.8:  FOTOGRAFIA PRÓPRIA - SOBRADO AZULEJADO 2016 20 FIG.9:  ENTORNO DA PRAÇA CAIRU 21 FIG.11:  RELEVO DO FRONTISPÍCIO 22 FIG.10:  CAIS DAS AMARRAS EM 1861 22 FIG.12:  ANTES O MAR ALCANÇAVA O MERCADO 23 FIG.13:  CAIS EM 1860 23 FIG.14:  ATERRO E NOVO PORTO 23 FIG.15:  ALFÂNDEGA INÍCIO DO SÉC. XX 24 FIG.16:  CONFIGURAÇÃO ANTERIOR DA PRAÇA CAIRU 24 FIG.17:  CONFIGURAÇÃO DA PRAÇA CAIRU EM 2012 24 FIG.18:  RUA BÉLGICA EM 1913 28 FIG.19:  RUA BÉLGICA EM 2016 28 FIG.21:  PERFIL DA RUA BELGICA - VISTA 29 FIG.22:  PERFIL CIDADE ALTA E BAIXA 29 FIG.20:  PERFIL DA RUA BELGICA - ESTUDO DE ABERTURAS 29 FIG.23:  PERFIL DA RUA S. DUMMOND E L.COUTINHO 29 FIG.24: MUM-SICAR-CALÇADAS.JPG 35 FIG.25:  MAPA DE INCIDÊNCIA SOLAR NA EDIFICAÇÃO 36 FIG.27:  RELAÇÃO TOPOGRAFIA E VENTOS - DIURNO 36 FIG.26:  RELAÇÃO TOPOGRAFIA E VENTOS - NOTURNO 36 FIG.28:  DET. ESQUEMÁTICO DE VIDRO PARA ACÚSTICA 37 FIG.29:  SECÇÃO 3D - DESENHO DAS ESQUADRIAS 37 FIG.30:  MAPA DE PROPOSTA DE INT. MACRO-ESCALA 43 FIG.31:  PL. DO SUPERMERCADO PAES MENDONÇA EM 1974 48 FIG.32:  CONDIÇÃO ATUAL DO CASARÃO 48 FIG.33:  SOBRADO NO 4 FACHADA ATUAL RUA S.DUMMOND 48 FIG.35:  SKETCH EDIF. TÍPICA PORTUGUESA DO FIM DO SÉC XIX 49 FIG.34:  ZONEAMENTO DE UMA EDIFI. TÍPICA POMBALINA 49 FIG.36:  SKETCH DET. DE FUNDAÇÃO TÍPICA DO FIM DO SEC XIX 49 FIG.39:  MODIFICAÇÕES EXISTENTES NO S. AZULEJADO E NO S. NO4 50 FIG.37:  CASARÃO NO INÍCIOS DA DECÁDA DE 20 50 FIG.38:  CASARÃO À DIREITA COM TOLDOS 50 FIG.40:  SKETCH MOVIMENTAÇÃO DA FAC. PERSPECTIVA 51 FIG.41:  SKETCH MOVIMENTAÇÃO DA FAC.FRONTAL V. LATERAL 51 FIG.42:  SKETCH SECÇÃO PAREDE - CONDIÇÃO ATUAL 52 FIG.43:  SKETCH SECÇÃO PAREDE - CONDIÇÃO PROPOSTA 52 FIG.44:  GRÁFICO DE COMPARAÇÃO PROGRAMÁTICA 53 FIG.45:  RELAÇÃO DE ÁREAS ENTRE MUSEUS ESTUDADOS 53 FIG.46: MUM-GRAF-RELACAOAREAS-02.JPG 54 FIG.50:  CADASTRO FACHADA - CASARÃO NO4 56 FIG.47:  CADASTRO CASARÃO AZULEJADO 56 FIG.49:  CADASTRO FACHADA CASARÃO AZULEJADO 56 FIG.48:  CADASTRO FACHADA CASARÃO AZULEJADO - GABARITO 56 FIG.51:  AXIO. SEC. ALTERAÇÕES PARA IMPL. DA PROPOSTA 57 FIG.52:  MODELO 3D PREEXISTÊNCIAS - CONDIÇÃO ATUAL 62 FIG.54:  M.3D PREEXISTÊNCIAS - COND. PROPOSTA - AXIOM. I 62 FIG.53:  DIVISÃO DE USOS EM PERSPECTIVA ISOMÉTRICA 62 FIG.56:  SEC. AXIOM.A MOSTRANDO A ESTRUTURA INTERNA 63

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FIG.55:  3D PREEXISTÊNCIAS - CONDIÇÃO PROPOSTA - AXIOM. II 63 FIG.57:  AXIOM. EXPLODIDA - USOS POR PAV. PROPOSTA 64 FIG.58:  PROPOSTA - ACESSOS 65 FIG.59:  AXIOMÉTRICA TÉRREO - PROGRAMA 66 FIG.60:  AXIOMÉTRICA 1O PAVIMENTO - PROGRAMA 66 FIG.61:  AXIOMÉTRICA 2O PAVIMENTO - PROGRAMA 67 FIG.62:  AXIOMÉTRICA 3O PAVIMENTO - PROGRAMA 67 FIG.63:  SECÇÃO LONGITUDINAL 68 FIG.64:  SECÇÃO TRANSVERSAL 68 FIG.65: PI-ESCADA1.JPG 69 FIG.68: PI-AUDITORIO1.JPG 69 FIG.69:  PI-REST1.JPG 69 FIG.71: PI-TERRAÇO.JPG 69 FIG.66: PI-CENTRO1.JPG 69 FIG.67: PI-PAVMUSI.JPG 69 FIG.70: PI-JARDIN1.JPG 69


LISTA DE MAPAS MAPA 1:  MAPA DE SITUAÇÃO DO ENTORNO 15 MAPA 2:  INFORGRÁFICO DA LOCALIZAÇÃO DO BAIRRO E DAS PRÉ-EXISTÊNCIAS 17 MAPA 3:  ESPAÇOS DE CULTURA E MÚSICA DE MÉDIO/GRANDE PORTE EM SALVADOR 18 MAPA 4:  ATERROS NO COMÉRCIO 22 MAPA 5:  GABARITO DAS EDIFICACOES 30 MAPA 6:  TOPOGRAFIA DA AREA 30 MAPA 7:  USO FORMAL 31 MAPA 8:  USO INFORMAL 31 MAPA 9:  DINAMICA DAS PRACAS 32 MAPA 10:  INDICAÇÃO DAS PRINCIPAIS VIAS DE AUTOMÓVEIS 33 MAPA 11:  ACESSOS E MOBILIDADE 34 MAPA 12:  ESTACIONAMENTOS 34 MAPA 13:  VIAS PERCORRIDAS POR ÔNIBUS 35 MAPA 14:  MAPA DE PROBLEMATIZAÇÃO DE MACRO-ESCALA 42

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