Quando a vaidade se torna perigosa
T
odos nós comemos, não só porque necessitamos de o fazer, como também porque nos dá prazer. No entanto, como em qualquer comportamento humano, o modo de nos alimentarmos varia gradualmente de pessoa para pessoa. Algumas pessoas comem mais, outras menos; algumas engordam com facilidade, outras não. Mas algumas pessoas chegam ao extremo de comer em excesso ou restringir a sua alimentação de uma forma abusiva. Nestes casos, podemos chamar de anorexia.
dem vir a sofrer da mesma.
Quase sempre, a anorexia tem início nas vulgares dietas que as adolescentes fazem. Cerca de 1/3 das pacientes com anorexia tinha peso a mais antes de iniciar tais dietas. No entanto, ao contrário das "dietas comuns", que terminam quando o peso desejado é alcançado, na anorexia a dieta e a perca de peso subsistem até que a pessoa atinge níveis de peso muito inferiores às esperadas para a sua idade. A quantidade ínfima de calorias que são inEm mulheres estas perturba- geridas; a restrição cada vez ções atacam 10 vezes mais do mais acentuada de alimentos que nos homens, no entanto, até ao ponto de só serem ingerios homens também podem sof- das saladas, fruta ou vegetais; rer deste distúrbio alimentar. a prática vigorosa de exercício físico e a tomada de comprimiA anorexia habitualmente tem dos dietéticos, devem ser visinício na adolescência, apesar tas como sintomas claros de de poder ter início num período uma possível anorexia nervosa. anterior, a infância, ou posterior, aos 30, 40 anos de idade. Embora o termo "anorexia" sigPensa-se que as mulheres ori- nifique "perca de apetite", o que undas de meios socio-económi- se passa na realidade é que a co-culturais mais elevados e pessoa com anorexia mantém diferenciados têm uma maior o seu apetite normal, mas conincidência desta perturbação, trola drasticamente o mesmo. mas também as restantes po
CELEBRIDADESE A ANOREXIA
Mischa Barton, antes e durante a anorexia.
que qualificavam o corpo de Twiggy perfeito para seus modelos. Apesar da ex modelo hoje afirmar que nunca foi anoréxica, na época era dito que ela se alimentava de pastilhas e Coca-Cola. Em 1975 a cantora Karen Carpenter, que fazia dupla com seu irmão Richard, no The Carpenters, grupo famoso na década de 70, foi diagnosticada com anorexia nervosa. Ela era muito magra e vivia em constante dieta. Ela lutou contra a doença, fez vários tratamentos e chegou a apresentar melhora importante no início dos anos 80. Um pouco mais tarde em 1983, faleceu aos 32 anos.
Periodicamente o mundo das celebridades se agita com a notícia de algum famoso que está Celebridades muito abaixo do peso, como a Princo que gera comenesa Diana, as tários e suspeitas a Spice Girls respeito da anorexia. Geri Halliwell e O mundo da moda Victória Becktambém é muito atinham, Mary Kate gido por casos desse Olsen, Lindsay tipo. Nos anos 60 a Lohan e Alamodelo internacional nis Morissette, Twiggy, ficou conhesão algumas cia por quebrar os celebridades padrões estereótipos que tiveram Victoria Beckham assuta ao aparecer da moda. Seu porte muito magra. problemas magro foi cobiçado por com distúrbios alimentares. milhares de estilistas na época,
de anorexia nervosa, por uma infecção urinária que se transformou em uma infecção generalizada (septicemia). A causa da infecção foram cálculos renais causados pela ingestão insuficiente de água. O quadro se agravou e evoluiu para uma infecção generalizada. Ela tinha cerca de 40 kg - e 1,74 m “Você é minha obcessão, eu te amo até os ossos, Ana destrói minha vida, como uma vida de anorexia” Daniel Johns, na época anorexico
Daniel Johns, vocalista da banda Silverchair começou a sofrer de anorexia em 1997, quando sua banda estourou. “ Você é minha obcessão, eu te amo até os ossos, Ana destrói minha vida, como uma vida de anorexia” , é o que diz “Ana song’s” escrita por ele na época, que soa como um desabafo por sua situação. Hoje, conta que considerava a comida sua inimiga. Em 2006, a modelo Ana Carolina Reston Macan, de 21 anos, morreu vítima
Ana Carolina Reston, morta por anorexia
Sintomas e reações da anorexia no organismo A anorexia, distúrbio alimentar provocado pela preocupação exagerada com o peso corporal, atinge principalmente jovens entre 18 e 25 anos. A doença se caracteriza pela perda de peso excessiva, decorrente da baixa ingestão ou muitas vezes de recusa alimentar. Pessoas que possuem o transtorno sofrem com distorção da imagem corporal, onde se enxergam sempre com excesso de peso e seguido ao medo de engordar, não medem esforços para reduzir o peso corporal. Segundo pesquisa, meninos ocupam 60% dos leitos do Ambulatório de Bulimia e Transtornos Alimentares do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Coisa de Garoto
Bruno Martini, hoje com 62 kilos
Ao contrário do que muitos pensam os transtornos alimentares não fazem distinção de sexo, pesquisas mostram que a cada ano o número de garotos que sofrem com bulimia e anorexia aumenta
Quem vê o estudante Bruno Martini hoje, aos 19 anos, não imagina o que ele passou quando tinha por volta dos onze. Na fase da pré-adolescência, o garoto sofria com a implicância de seus colegas de escola, todos comentavam sobre o seu excesso de peso. Comentários que inicialmente pareciam inocentes,
se tornaram repetitivos e abusivos, foi então que Bruno decidiu fazer uma séria restrição alimentar, com o intuito de acabar com as “brincadeiras” dos colegas de uma vez por todas. Nesse período, o estudante tinha por volta de 1,35 m e pesava 50 quilos, o ideal para esse peso e altura seria de 34 a 45 quilos, Bruno estava somente cinco quilos acima de seu peso ideal, e isso foi o suficiente para ele encarar a pior experiên-
cia de sua vida, experiência essa que jamais esquecerá. A busca pelo corpo perfeito começou com a redução de refeições ao dia, Bruno deixou de lado o jantar, passou a comer pouco durante o dia, a noite inventava uma desculpa aos seus pais e sempre consegui ir para a cama sem comer nada. Ao ver que só isso não estava surtindo o efeito desejado, começou a deixar de lado a café da manhã e logo após o almoço. Começou a reduzir a quantidade de calorias ingeridas por dia, até ficar propriamente sem comer.
nessa jornada em busca de um corpo perfeito, Bruno já tinha perdido 22 quilos, para sua mãe Valéria Martini, uma perda de peso nessa idade era normal, até que Valéria presenciou uma cena que a deixou chocada. Em uma tarde de calor, ao sair com Bruno para tomar um sorvete, Valéria percebeu um certo desconforto por parte de seu filho, logo após, chorando muito e aos gritos Bruno dizia que não podia tomar aquele sorvete, pois estava muito gordo, foi então que percebendo algo errado, procurou um médico.
“A falta de informação dos Para esconder a “O levei ao doença de seus pais é o principal fator para o m é d i c o , agravamento da doença” pais, procuradepois de va usar sempre alguns exroupas largas, ames, o com manga e de forma alguma doutor constatou que ele escomentava com eles a respeito tava muito abaixo do peso, do problema com seu peso. subnutrido nos aconselhou a Nesse momento o transtorno não interná-lo ao mais rápido posera encarado pelo garoto como sível, pois ele estava anorexico”. uma doença. “É complicado, porque você começa sem saber Em casos como o de Bruno, a que esta doente, eu me achava falta de informação dos pais gordo, e cada dia, mais feio”. é o fator mais preponderante para o agravamento da doença. Bruno chegou a ficar semanas sem se alimentar, apenas toma- Após passar pela observava água. Após quatro meses ção dentro do hospital, Bruno
foi encaminhado para uma clinica privada, onde ficou internado por doze semanas, acompanhado por médicos, psicólogos e nutricionista. Após três meses dentro da clinica, Bruno pôde sair, porém o tratamento continuou por mais dois anos, com visitas freqüentes ao médico, psicólogo e nutricionista. Hoje, nove anos após o ocorrido, Bruno diz não se preocupar mais com seu peso, com os padrões estéticos e principalmente aos comentários maldosos de pessoas próxi .
Após 8 anos Bruno ainda teme a ficar doente
mas, porém não se considera totalmente curado. “Você nunca está cem por cento curado, porque sempre fica a sombra da enfermidade e o medo de ficar doente novamente”. desabafa Bruno.
Tratamento Acredita-se que o aumento da procura por tratamentos em homens se deve a adequada divulgação pelos diferentes meios de Pinto de Azevedo, psiquiatra e Coordenador do Ambulatório de Transtornos Alimentares em Homens do AMBULIM, no meio médico-científico, a procura de homens por tratamentos era tão pequena que não justificava montar-se uma estrutura de tratamento para ser oferecido. Mas que, homens portadores de TA nunca deixaram de existir. Apartir dos estudos epidemiológicos, a prevalência de orientação homossexual é cerca de 40% entre os portadores homens de transtornos alimentares. “Considerando que esta prevalência na população geral gira em torno de 6% a 10%, torna-se claro uma maior tendência de homos-
sexualismo entre os portadores de TA”, explicou Dr. Azevedo.
Anorexia x Stress
um simples problema, não conseguia admitir que realmente precisava de ajuda”, afirma.
Mayara Nunes, melhor amiga Aos 14 anos, Cristian Soares de- de Cristian na época, foi a peça senvolveu anorexia nervosa que fundamental para o reconhecise estendeu até aos 16 anos. A mento da doença e sua recupedoença foi causada não por mo- ração. Os familiares de Cristian não recontivos estéheceticos, mas ram a por probdoença, l e m a s pensacom stress vam que físico e anorexia emocioera coisa nal. O gade mulroto, que heres e não aceitmodeava nenlos, mas hum tipo a amiga de brinnão se cadeira, Christian na época do tratamento deixou alteravase fácil com colegas e famil- levar por esse pensamento e iares. As brigas constantes fiz- conversou com seus pais, ajueram Cristian chegar ao seu dando o início do tratamento. limite quando agrediu o melhor amigo. Os colegas acabaram O resultado do diagnóstico de o evitando, e ao ficar sem ami- um nutricionista, anorexia nergos parou de comer, o que já vosa, assustou a todos. “O não era um hábito constante. tratamento durou cerca de 6 meses com nutricionista, e a O garoto chegou a pesar 49 qui- ajuda de um psicólogo foi funlos aos 15 anos. “Não imaginava damental para entender realo tamanho que podia se tornar mente o problema. Hoje meu
amigo está curado”, diz Mayara.
As consequências psicológicas, físicas e emocionais são complDentro as diversas consequên- exas e devem ser tratadas por cias nutricionais estão os distúr- profissionais da saúde, equipe bios hidroeletrolítico (desidrata- multidisciplinar, para orientar ção), hipoglicemia de forma cor“Não imaginava o tamanho (falta de açúcar reta e impedir que podia se tornar um sanguíneo), aneepisódios simples problema, não mia ferro priva, recorrentes. “A conseguia admitir que realfraqueza, aumencura é de difícil mente precisava de ajuda” to do colesterol, alcance, por queda da pressão isso o indivíduo sanguínea, deficiências re- que sofreu transtornos alimentanais, amenorréia (ausência de res deve ser acompanhado por menstruação), obstipação in- longo período de tempo”, orientestinal, perda de massa mus- ta a nutricionista Vivian Salazar. cular e principalmente a morte.
Christian e Mayara