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PORTFÓLIO COMO FERRAMENTA METODOLÓGICA E AVALIATIVA

Gabriela Eyng Possolli Raphaela Gubert

1. BASES CONCEITUAIS: DEFININDO PORTFÓLIO, TIPOS E APLICAÇÕES NO CONTEXTO EDUCACIONAL O sistema de documentação, acompanhamento e avaliação da aprendizagem que utiliza portfólios, é prática corrente na pedagogia norte-americana há décadas; adotado desde o início da década de 1980 em escolas públicas e privadas, atualmente é utilizado em mais de 40 distritos como uma prática metodológica e avaliativa significativa. As primeiras referências dos pesquisadores brasileiros contemplavam estudos da escola dos EUA. Dentre essas referências, destaca-se Campbell (1996), que pontua que um portfólio não pode ser visto meramente como um arquivo de projetos e anotações, nem mesmo como uma coleção de atos de ensino. Ele destaca que um portfólio é uma documentação organizada visando ao crescimento do educando, pois registra conhecimentos construídos e processos importantes no complexo ato de aprender e ensinar. Essa atividade encoraja o aprendizado centrado na educando e no adolescente, e é aperfeiçoada por eles próprios, professores e família ao longo de todo o processo de ensino e aprendizagem. A montagem de um portfólio cria condições para que o educando reflita sobre informações e conhecimentos que não adquiriu em sala de aula e sim no seu cotidiano, mas que podem enriquecer as atividades realizadas nas aulas normais da escola, como os relatos de experiências

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de seu cotidiano. As relações entre sua vida no cotidiano e a vida escolar são relevantes para seu aprendizado centrado. A atividade conduz o educando a refletir sobre as suas experiências, analisando os trabalhos realizados, possibilitando que se definam objetivos para seu aprendizado com seu professor. Shores e Grace definem portfólio como “uma coleção de itens que revela, conforme o tempo passa, os diferentes aspectos do crescimento e do desenvolvimento de cada educando” (2001, p.43). Já Vilas Boas diz que o portfólio apresenta várias possibilidades; uma delas é a sua construção pelo aluno. Nesse caso, o portfólio é uma coleção de atividades, realizada em certo período de tempo e com um propósito determinado. (2004, p.38) Behrens conceitua portfólio como “procedimento metodológico que permite envolver atividades didáticas de auto-avaliação que documentam aspectos multidimensionais do que os alunos aprenderam.” (2006, p.105). A autora ratifica esta vertente quando diz que “a proposição do portfólio pode ser utilizada com duas finalidades interconectadas, a da avaliação processual e a de registro do processo metodológico.” (2006, p. 104). Apresenta-se neste texto o portfólio segundo o viés de instrumento metodológico e de avaliação. Nesse contexto, observa-se que esse instrumento possibilita a análise continua pelo aluno das atividades por ele desenvolvidas e em desenvolvimento mediante o registro de suas observações e sentimentos que ele pode de continuo estar revisitando. Recomenda-se que o portfólio esteja ancorado em um contrato didático-pedagógico entre as partes, em que fica implícito o que o aluno irá aprender e quais as responsabilidades de professores e alunos neste processo. O portfólio pode ser composto de registros de atividades e documentos, que também ao serem elaborados têm a opção de apresentar-se em variadas mídias, dentre os quais destacam-se alguns: relatórios escritos, vídeos, gráficos, esquemas e diagramas, produções individuais e coletivas e registros sobre as diferentes fases do educando para observar o seu desenvolvimento e, se necessário, auxiliar na resolução de dificuldades em seu processo de ensino e aprendizagem. 1.1 Tipos de Portfólio A natureza da intenção que motiva a montagem de portfólios possibilita classificá-los em três tipos: portfólio particular, portfólio de aprendizagem e portfólio demonstrativo. O portfólio particular refere-se a um conjunto de registros ao longo da vida, contendo materiais sobre a vida pessoal e(ou) profissional. O portfólio de aprendizagem é uma compilação de anotações, rascunhos e esboços de projetos em implantação, trabalhos escolares e diário da aprendizagem dos alunos. As pastas

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em forma de gaita são uma boa alternativa para guardar o material por serem resistentes, porém muitos professores se utilizam de pastas comuns. O portfólio demonstrativo é composto de fotografias, gravações e cópias selecionadas de relatos de alunos. Refere-se a registros de avanços importantes ou de problemas persistentes, sendo desejável ser apresentado à professora da série seguinte. Este tipo pode ser instrumento para suscitar novos projetos, construções e reconstruções de saberes sobre as bases anteriores de conhecimento e interesse de cada educando. 1.2 Composição de um Portfólio Os itens que compõem um portfólio normalmente são aqueles que apresentam informações sobre o crescimento e desenvolvimento da educando ou jovem. Como itens mais comuns se têm as amostras de trabalhos escolares. Entre estes estão os desenhos e trabalhos escritos. Quanto mais variados forem os registros do processo de ensino-aprendizagem que compõe o portfólio, mais rico e de maior utilidade ele será. Para tanto, é relevante que o professor seja responsável pela análise e aprovação da maneira pela qual o portfólio se organiza. Além disso, o professor, em conjunto com a equipe pedagógica, deve assumir a responsabilidade de elaborar uma política composta por um conjunto de procedimentos para cada tipo de material a ser integrado ao portfólio, a fim de que se realize um registro eficaz, em consonância com o fim a que se destina. Segundo Shores e Grace, “a política do portfólio funciona como um guia para que haja um propósito claro para cada item desse material” (2001, p.46). Um portfólio considerado como significativo deve apresentar registros que indiquem como cada aluno atingiu os objetivos pré-definidos para cada idade/série no projeto pedagógico da instituição, ou seja, deve fornecer subsídios sobre o aprendizado de forma que possibilite verificar os avanços. As amostras que são inseridas no portfólio representam a vertente principal do trabalho, pois, desenhos, redações e outras criações produzidas pelos alunos demonstram a criatividade e o desenvolvimento cognitivo alcançado, revelando, assim, o progresso da educando ou adolescente. Shores e Grace corroboram com a assertiva de que por meio dos registros documentados em um portfólio “pode-se identificar evidências de indicadores de desenvolvimento e de prática, ou do domínio, de objetivos curriculares.” (2001, p.46). A coleta de amostras de trabalhos realizados preserva as fontes primárias, ou seja, fornece informações sobre o progresso das educandos. As fontes primárias são aquelas relativas aos materiais produzidos pelas educandos em sua instância original e que permanecem inalterados como os desenhos, as cartas, entre outros. Essas amostras devem ter registros de breves comentários

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do professor, primeiro passo para manter os registros, pois estes podem resultar em evidências quanto à prática, ao domínio, ou os objetivos curriculares que foram contemplados. 1.3 Os registros escritos em Portfólios Os registros escritos constituem as principais amostras em um portfólio por serem eles os meios pelos quais se documentam os comentários do professor, do aluno e dos pais. Dessa maneira, os registros, ou seja, a comunicação escrita tem importante papel na medida em que pode fazer a ligação entre a escola e a casa. Vale destacar que existem uma variedade de registros escritos que podem proporcionar a comunicação entre alunos, pais e professores mesmo quando não há possibilidades de encontros. Registros sistemáticos documentam as ações planejadas com cada aluno como possibilitam decisões de currículo e instrução. (SHORES e GRACE, 2001). Os comentários do professor nas amostras de trabalhos, imagens e diários de aprendizagem dos alunos também constituem registros escritos, sendo que os principais deles são classificados por Shores e Grace (2001) como entrevistas, registros sistemáticos, registros de caso, resumo de reuniões de análise de portfólio entre alunos, professor e pai e os relatos narrativos. As entrevistas são momentos em que professor e aluno discutem um único assunto em profundidade. Exemplo: uma discussão do professor com o aluno sobre um livro lido pode desencadear uma ação do professor em direção ao interesse do aluno por aquele assunto. Como resultado dessa entrevista, o aluno pode ser orientado a pesquisar sobre o assunto e arquivar em seu portfólio de aprendizagem o material coletado. Durante uma reunião de análise do portfólio pode-se fazer uma revisão sobre o progresso da pesquisa. Os registros sistemáticos são breves anotações feitas pelo professor das atividades casuais específicas que documentam o progresso do educando e podem envolver um grupo de alunos conforme a atividade. Como registros sistemáticos, têm-se: 1) Descrição Diária – o professor registra de forma regular um aluno documentando suas mudanças de comportamento e de seus interesses; 2) Registros Contínuos – o professor registra cada ato de um aluno durante um período de tempo. Os registros de caso constituem anotações que o professor fez dos atos espontâneos de cada aluno ou de um grupo de alunos. São, segundo Shore e Grace, as chamadas “observações das educandos” (2001, p.66). Fotografias podem ser um bom instrumento para auxiliar no registro. Exemplo: observar uma educando brincando e analisar seu desenvolvimento.

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Os resumos de reuniões de análise de portfólio consistem em uma síntese explicativa do que tratou a reunião de análise do portfólio, mediante um encontro privado entre aluno, pais e professor em que estes conversam sobre as experiências de aprendizado do aluno em um período de tempo. E, por último, os relatos narrativos, que são relatos periódicos escritos pelo professor do progresso global de cada aluno, podem complementar os tradicionais boletins de notas. 1.4 Outros tipos de registros em Portfólios Existe uma infinidade de tipos de registros nas amostras de trabalho que podem compor um portfólio. Além dos mais comuns, já citados, existem ainda os que compreendem os chamados trabalhos artísticos. Observa-se que um registro pode apresentar elementos de mais de um dos tipos descritos a seguir. Exemplifica-se: amostra de escrita e de desenho. Os trabalhos artísticos são amostras que representam uma importante ferramenta para o processo de interdisciplinaridade, assim como para o processo de avaliação. Estes devem ter a identificação do aluno, ou seja, o nome completo do aluno, a data em que foi realizado e comentários do professor. Legendas em desenhos, cartas para pais e para outras pessoas, registros em diários, relatórios, histórias e livros originais são itens que podem compor o portfólio. Outros registros são interessantes tipos de amostra na medida em que podem demonstrar pensamentos, sentimentos e reflexões do aluno. Relato de uma experiência ou explicações de desenhos podem conter informações substanciais. As fotografias são excelentes na medida em que representam a imagem de uma atividade do aluno e, quando acompanhadas de breves anotações do professor, podem contribuir para análises posteriores sobre o progresso do aluno. Já as gravações de áudio e vídeo são ricas fontes de informações sobre o aprendizado de um aluno ou do grupo. As listagens e escalas de classificação de habilidades e conceitos são instrumentos utilizados para rápida avaliação e registro das habilidades de um aluno em um certo domínio do desenvolvimento; podem ser importantes para fomentar o pensamento para o professor em relação a sua prática. Os produtos de avaliações de desempenho são resultantes de avaliação do rendimento e podem compreender resenhas ditadas de livros, demonstrações de experimentos, atividades em pequenos grupos que quando inclusas no portfólio podem ser muito informativas quanto aos produtos finais. Os diários de aprendizagem vêm a contribuir na medida em que

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são os registros de desempenho do aluno. O diário pode ter o relato ou registros de experiências da educando e de sua família no lar, no local de trabalho dos pais, nos locais de férias. Este diário é ferramenta para capturar tipos de aprendizado que as amostras de trabalho não conseguem detectar, vindo a auxiliar no desenvolvimento curricular, possibilitando ao professor escrever comentários sobre as ideias e os interesses do aluno. Esses tipos de registro, que podem compor um portfólio, são excelentes instrumentos para que o professor realize uma avaliação do processo de ensino e aprendizagem, mediante relatos narrativos que se apresentam como instrumentos mais adequados do que listas de desenvolvimento cognitivo, socioemocional e físico ou escalas de classificação. 2. PORTFÓLIO COMO METODOLOGIA DE ORGANIZAÇÃO DO PROCESSO DE ENSINOAPRENDIZAGEM 2.1 Princípios norteadores do trabalho com portfólio O portfólio possibilita ao aluno participar da tomada de decisões levando-o a formular suas próprias ideias e realizar escolhas e não apenas a cumprir o que foi definido pelo professor e pela escola, servindo para vincular a avaliação ao trabalho pedagógico. Modifica-se, assim, o contexto, a avaliação deixa de ser classificatória e unilateral para se comprometer com a aprendizagem de cada aluno, onde o portfólio é uma das possibilidades de uma prática comprometida com a formação do aluno. (VILLAS BOAS, 2007). Nota-se que, além das questões acima apontadas, há que se considerar outras de extrema relevância para a construção de um portfólio, tais como: • A orientação que o professor fará durante o caminhar do aluno frente a produção e a construção do portfólio, levando-se em consideração a idade dos educandos, o curso, o tempo para ser desenvolvido e outros; • O processo deve ser bem planejado e as famílias devem ser sempre bem informadas; • O professor precisa ser preparado para desenvolver o trabalho, por isso é preciso estudar o referencial teórico e conhecer a bibliografia sobre portfólio e as iniciativas de sucesso; • É imprescindível atentar em relação à forma de utilização do portfólio, não se trata de substituir a prova, ambos são procedimentos de avaliação, no entanto, cumprem propósitos diferentes;

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• Trabalhar as relações desenvolvidas entre os participantes do processo de avaliação, professor e aluno, pois mudar práticas requer tempo e estabelecimento de confiança; • Criar um clima favorável à construção do portfólio – a percepção do professor e do aluno em relação a esta construção deverá ser que este é um aliado do processo de ensino e aprendizagem e não como uma dificultador; • Compreensão por parte de todos (escola e pais) de que o portfólio é um procedimento avaliativo de construção pelos alunos e não pelos pais, ou seja pais não devem realizar tarefas de seus filhos. Nesse sentido, há que se observar princípios norteadores que irão orientar sua construção, tais como: 1. A construção pelo aluno possibilitando as escolhas e decisões de sua parte; 2. A construção é realizada por meio da reflexão, assim o aluno tem a possibilidade de decidir o que incluir e ao mesmo tempo analisar sua produção, podendo refazê-las ou não (recomenda-se que todas as versões permaneçam no portfólio mesmo as que forem reconstruídas, documenta-se assim o processo de aprendizagem do aluno); 3. O desenvolvimento da criatividade. O professor deverá organizar o trabalho com a turma de forma criativa, oportunizando a formulação de ideias variadas. 2.2 Os princípios da construção, reflexão e criatividade abrem o caminho para a autoavaliação Estes princípios conduzem o aluno a desenvolver a capacidade de avaliar seu próprio desempenho com o sentido de avançar, ou seja, requer o desenvolvimento da habilidade crítica. Esta autoavaliação auxilia o aluno a estabelecer comparação com os parâmetros que foram formulados pelo professor, a conhecer e compreender os objetivos específicos da aprendizagem e os critérios de avaliação que serão utilizados para avaliar seus trabalhos. E ainda, a reconhecer suas potencialidades e fragilidades, reagindo ao seu trabalho e fornecendo suas percepções quanto à sua aprendizagem de forma a trabalhar visando alcançar outros objetivos. 2.3 A montagem de um portfólio passo a passo Para a montagem de um portfólio apresentam-se a seguir os dez passos que compreendem este processo:

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1. Estabelecer a política de um portfólio. 2. Coletar amostras de trabalho. 3. Tirar fotografias. 4. Realizar consultas nos diários de aprendizagem. 5. Conduzir entrevistas. 6. Realizar registros sistemáticos. 7. Realizar registros de casos. 8. Preparar relatórios narrativos. 9. Conduzir reuniões de análise de portfólio em três vias. 10. Usar o portfólio em situações de transição. 1. Estabelecer a política de um portfólio Uma política de portfólio compreende “um pequeno conjunto de regras básicas para a coleta dos itens a serem guardados”. (SHORES; GRACE; 2001, p.88). Vale destacar que todas as regras apresentadas a seguir são orientações que devem ser adaptadas à realidade dos alunos, da escola, dos conteúdos e dos objetivos do portfólio. É importante, ainda, ressaltar que a intenção em estabelecer normas para a construção não é burocratizar o processo, mas planejá-lo e organizá-lo. Para o estabelecimento desse conjunto de regras, deve-se: a) identificar os propósitos do portfólio; b) identificar os tipos de itens a serem coletados; c) estabelecer que professor, educando e pais colaborem na escolha de itens para portfólios permanentes; d) identificar no cronograma a coleta de cada tipo de item; e) examinar a missão e(ou) os objetivos da escola ou do programa de ensino; f) adicionar os seus objetivos profissionais e os objetivos de sala de aula; g) relacionar o que é coletado na pesquisa com os objetivos educacionais globais; h) expressar como a avaliação com este material complementará a avaliação padronizada e os métodos de relatório; i) construir critérios específicos para a coleta de certos itens que irão compor o portfólio, ou seja, padronizar algumas escolhas (desenhos e amostras de trabalhos); j) definir quais são os possíveis resultados, padrões e(ou) critérios pelos quais determinados itens como tarefas relacionadas ao desempenho podem ser avaliados; k) estipular horários para as reuniões de análise de portfólio em horários adequados para os pais de forma que possibilitem seu comparecimento;

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l) identificar procedimentos que preservem informações quando confidenciais; m) identificar mecanismos que liberem itens de registros aos pais mas que ao mesmo tempo garantam a integridade do todo do portfólio, descartando a possibilidade de desorganização do mesmo de ano para ano; n) garantir que o professor irá coletar amostras consideradas básicas. O estabelecimento da política se dará mediante: a) discussões realizadas no âmbito da escola com gestores, professores e pais; b) composição de comitê por gestores, professores e pais com vistas a revisar as anotações provenientes das discussões elaborando esboço das políticas; c) divulgação do esboço e realização reunião para novas avaliações do material; d) realização as revisões adicionais necessárias e adoção da política. Anotar a data de adoção para evitar possíveis problemas; e) divulgação da política adotada para gestores, professores e pais; f) testagem durante um período da política estabelecida; g) definição data de revisão da política e do processo em curso. 2. Coletar amostras de trabalho Quando o professor for coletar as amostras de trabalho deve ter em mente que sua política de portfólio é um guia geral para a definição do tipo de amostras de trabalho que irá compor. a) coletar amostras de trabalho que o aluno produz voluntariamente; b) o estabelecimento de critérios e a seleção de um item para inclusão no portfólio devem ser precedidos das seguintes ações: o aluno deve assinar e colocar a data na amostra, escrevendo breves anotações sobre este item e o professor também deverá realizar anotações; c) num próximo passo o educando pode realizar autoavaliação e avaliação entre colegas em que uns fazem comentários dos trabalhos dos outros; d) compartilhar amostras de trabalho com a família e a comunidade escolar – quadro de avisos, informativos, power points e reuniões – sempre com a permissão do educando. 3. Tirar fotografias Quando um portfólio possuir registro fotográfico, é necessário observar que ao realizar uma foto não é preciso preocupar-se demasiadamente com a qualidade, mas, sobretudo, com o que ela irá transmitir. Após anotar o objeto fotografado, incluir a data, o cenário e nome dos alunos

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envolvidos. Sempre revise os detalhes anotados e verifique se os comentários são suficientes. Pode-se usar a fotografia como elo em outra evidência com os alunos ajudando a construir os comentários. Outra estratégia é compartilhar as fotos com os pais. 4. Realizar consultas nos diários de aprendizagem A coleta de mostras e fotos já deve ter estabelecido o mecanismo de reflexão sobre o que tem sido aprendido, assim, o próximo passo é marcar encontros regulares com cada educando para conversar sobre a variedade de suas atividades e rever os registros contínuos de cada parte, do professor e do aluno. Esses registros de pensamentos e planos do professor e do aluno podem ser realizados em um caderno que pode ser chamado de diário de aprendizagem, em que se registram de maneira contínua novas descobertas e novos entendimentos, evidências dos processos realizados. 5. Conduzir entrevistas Esta técnica é utilizada para averiguar com profundidade o que o aluno sabe em uma área específica. Pode ser usada para planejar uma investigação sobre determinado tópico. Após consultas aos diários, a entrevista pode ser usada para auxiliar, por exemplo, na avaliação de uma unidade de estudo particular de maneira mais sistemática. As anotações devem conter comentários importantes sobre o educando, o local, a data e os registros de impressões do professor. 6. Realizar registros sistemáticos São anotações que se realizam sobre as ações de certo aluno em situações determinadas sistematicamente. Recomenda-se que se planeje quando e quantas vezes se fará este tipo de registro. Deve-se evitar especular e sim registrar as atitudes do aluno, em sequência correta, com detalhes e de maneira precisa, informando o aluno o que está fazendo, e se necessário obtenha a permissão dos pais. Estes registros podem ser expandidos adicionando-se comentários, reflexões ou planos de continuidade. 7. Realizar registros de casos Reconhecimento de eventos importantes para o desenvolvimento de determinados alunos escrevendo narrativas breves e claras. Devem ser registrados apenas os fatos nos quais a informação apoia-se em outro registro, tais como fotos e amostras de trabalhos. Comentários sobre algum incidente significativo ocorrido com algum educando devem estar em uma seção separada da ficha de registro de caso. O professor funciona como um repórter, pois ele irá se limitar a um incidente registrando apenas os fatos.

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8. Preparar relatórios narrativos Estes relatórios não precisam ser longos, deve conter um resumo do progresso do aluno. Sua preparação envolve a revisão dos conteúdos do portfólio e a correlação das atividades do aluno com os padrões e critérios extrínsecos. Recomenda-se guardar uma versão no portfólio e enviar uma cópia aos pais. 9. Conduzir reuniões de análise de portfólio em três vias Deve-se agendar previamente a reunião para análise do portfólio com os pais, informando sempre o aluno do que será tratado em cada reunião. Durante a reunião solicite aos pais e alunos que comentem itens individuais ou o portfólio como um todo. Tome notas ou, ainda, forneça um formulário para comentários escritos. Essas reuniões podem servir também como instrumento para envolver pais em atividades de classe, projetos específicos ou saídas de campo. 10. Usar o portfólio em situações de transição O portfólio pode ser usado ainda como instrumento em situações de transição, por isso sugere-se preservá-los ano a ano. Vale destacar que eles podem ser enviados com o aluno se forem transferidos para outros programas ou escolas. A melhor maneira de realizar um planejamento prévio para o processo de montagem de um portfólio é começar a escrever um diário de ensino. Este diário possibilitará a reflexão das aprendizagens do aluno e possibilitará ao professor começar a praticar a escrita. Nesse planejamento, além do passo a passo de como será construído o portfólio, podem ser desenvolvidas listas de habilidades e interesses a serem usadas durante o ano. Esta fase deverá ser realizada acordando com os pais e os alunos os itens que irão compor o portfólio e como será a construção e qual como será a participação de cada um. 3. ORGANIZANDO PORTFÓLIOS: DO PAPEL AOS RECURSOS DIGITAIS Para a compreensão operacional do valor de se trabalhar com portfólios, além das bases conceituais, de se entender a aplicação de portfólios na educação e entendê-lo como uma metodologia que auxilia na organização das ações didático-pedagógicas, deve-se também perceber em termos práticos as principais contribuições que os modelos de registro e estruturação de portfólio em papel e em meios digitais têm a oferecer ao professor e a equipe pedagógica como um todo.

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Com base nos argumentos de Campbell (1996), um portfólio é uma evidência tangível que irá registrar aprendizagens, disposições, informações e habilidades, sendo que tal registro pode se dar em papel ou com o auxílio de meios digitais. Lembrando que uma abordagem não exclui a outra e que é comum encontrar portfólios que conjugam estratégias de documentação em papel, juntamente com ferramentas digitais. 3.1 Organização de situações de ensino-aprendizagem com Portfólios em Papel O primeiro item do texto trabalhou uma classificação variada sobre os tipos de registros que podem compor um portfólio e forneceu orientações importantes para se organizar, sobretudo, portfólio em papel. Pensar em trabalhar com portfólios em papel remete à própria origem do termo, já que a palavra portfólio, do italiano portafoglio, significa invólucro para se guardar folhas soltas. (TORRES, 2008). Grande parte dos educadores que utilizam portfólios na educação básica, o faz com a utilização de portfólios em papel, que devem ser entendidos como algo que vai além de simplesmente organizar papéis (documentos, atividades, textos, imagens etc.) em uma pasta ou arquivo físico. O portfólio em papel aplicado ao cotidiano escolar possibilita, aos professores, versatilidade para conhecer as competências dos alunos, documentar seu processo de aprendizagem e avaliar suas produções, e com base nos registros feitos pelos alunos, direcionar as ações pedagógicas e repensar suas estratégias em sala de aula. Aos alunos, o trabalho com portfólio auxilia na autoavaliação, na percepção de suas capacidades e na consolidação do processo de seu próprio caminho de aprendizagem. Desse modo, a maneira de se documentar os papéis que comporão o portfólio não pode ser engessada em modelos praticados por outras escolas ou outros professores, cada professor deverá compor um modelo próprio segundo os conteúdos trabalhados, suas estratégias didáticas e o perfil dos alunos envolvidos. O principal desafio para aplicação é fazer com que o aluno seja responsável por seu próprio processo de aprendizagem. Como não é possível estabelecer um modelo único e fechado, seguem algumas dicas para que o professor possa pensar em um modelo próprio: • Um portfólio pode apresentar atividades artísticas, produção de textos verbais e não verbais, imagens e desenhos, sínteses de pesquisas etc.

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• Para os alunos menores, até o quinto ano do ensino fundamental, a vinculação afetiva com o seu portfólio é importante. Assim, uma sugestão é que logo no início do processo cada um elabore e personalize a capa do seu portfólio, que pode ser feita em sala de aula com materiais selecionados por eles. • Algo que não pode faltar em um portfólio é um sumário indicando os documentos que o compõem, uma apresentação e o registro de cada elemento contido com data de realização, temática e objetivo. • O aspecto motivacional é relevante, assim um portfólio deve ser alegre aos olhos de quem o folhear. Ao elaborar seu portfólio com a orientação do professor, o aluno precisa mostrar, de forma lúdica e significativa para ele, sua criatividade em expressar o conhecimento que está construindo. Mesmo havendo um modelo definido pelo professor, o aluno deve ser conduzido a criar um modo próprio de comunicação, deixando sua marca no portfólio. • Todo portfólio precisa conter uma conclusão ou reflexão final, em que o próprio aluno avaliará qualidade e quantidade de informações registradas e atribuirá valor e significado aos conhecimentos construídos no processo. 3.2 Organização de situações de ensino-aprendizagem com Portfólios Digitais Portfólios eletrônicos, portfólios digitais, portfólios informatizados, esses termos são variações encontradas na literatura que denominam a categoria de portfólios que se estrutura com base em recursos digitais. Ao utilizar o portfólio como metodologia para estruturar e registrar um processo de aprendizagem uma grande quantidade de informações e materiais são gerados, o que cria dificuldades para manusear e catalogar registros em papel. Empresas da área de informática têm se dedicado a desenvolver ferramentas que visam automatizar as tarefas relativas à criação e manutenção de portfólios, buscando diminuir o esforço de armazenamento e gestão de documentos diversos. Essas ferramentas podem ser qualificadas como Bancos de Dados1 que administram um conjunto de documentos, adicionando instrumentos para reprodução de imagens e sons, recuperação e edição de conteúdos, recursos gráficos, emissão de relatórios, entre outras facilidades, que auxiliam o professor nos processos de condução de atividades de ensinoaprendizagem e avaliação dos alunos. O quadro a seguir apresenta alguns softwares2 existentes nos EUA, Canadá e Brasil utilizados para estruturação de portfólios digitais.

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Quadro 1 – Exemplo de Softwares de Portfólio Digital PRODUTO

ELEMENTOS/ RECURSOS

PLATAFORMA, DESENVOLVEDOR E PAÍS

Grady Profile

Um dos mais completos na área de portfólio. O produto funciona como um registro integrado de dados pessoais do estudante, dados médicos/emergências, familiares e os de portfólio propriamente dito (artefatos), usando para isso um conjunto de hypercards personalizados para cada artefato. Traz no seu escopo elementos de multimídia que apoiam as atividades do aluno, tais como escrever, ler, comportamento intelectual etc. Fornece módulo de relatórios e tem suporte para realização de testes padronizados.

Macintosh Auerbach & Associates EUA

Learner Profile

Enfoque comportamentalista. Por meio da observação do comportamento dos alunos, o professor faz uso de um conjunto de códigos de barras pré-identificados com as características às quais ele selecionou segundo os artefatos do aluno. Após identificar uma determinada característica em dado aluno, o professor lê o código do aluno e em seguida o comportamento que ele observou. Ao final do período de observação, é emitido um relatório como os dados colhidos. Não apresenta recursos multimídia integrados.

Macintosh Vitoria Learner Society Canadá

ChalkBoard

Fornece recursos de geração de textos e observações sobre o processo a aprendizagem dos alunos, disponibilizando-os para impressão. Fazendo uso de recursos de multimídia externos, pode-se criar apontadores para atividades e registrá-las.

Windows / Macintosh ASCD (Association for Supervision and Curriculum Development) EUA

POETA (Portfolio Eletrônico Temporal e Ativo)

Metodologia de gerenciamento de portfólio em que alunos, professores, pais e a instituição alimentam o sistema por meio de uma rede local e também são disponibilizadas informações para consulta e acompanhamento via intenet.

Windows SISTÊLOS (UFPB) Brasil

Fonte: Adaptado de Sistêlos (1999).

3.2.1 POETA (Portfólio Eletrônico Temporal e Ativo) Nesta seção, serão apresentadas características do software de portfólio digital POETA, iniciativa brasileira para gerenciamentos de portfólios educacionais. É relevante que professores e coordenadores conheçam uma iniciativa brasileira para gerenciamento de portfólio para possuir uma base técnica que possibilite fazer a melhor escolha quando forem trabalhar com um portfólio digital. O POETA faz uso de uma metodologia de elaboração de software e banco de dados

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orientados a objetos. A linguagem de programação3 é Delphi e a plataforma4 é Windows. O POETA funciona em uma Rede local de computadores e possui também aplicação para consultas via internet. A disponibilização de informações e relatório via internet flexibiliza o acompanhamento das atividades registradas no portfólio e proporcionada a integração entre os agentes participantes do processo de ensino-aprendizagem: Aluno, Professor, Família e Instituição. A Figura a seguir esquematiza a arquitetura de funcionamento do POETA: Figura 01 – Arquitetura do Sistema POETA

Fonte: Adaptado de Sistêlos (1999).

O sistema POETA entende que o processo de aprendizagem do educando excede o contexto de sala de aula, extrapolando a relação professor-aluno e agregando outros componentes de seu desenvolvimento, como a família e a instituição de ensino em sua totalidade. Na construção do portfólio eletrônico a interação professor-aluno ocorrerá em um processo contínuo a ser documentado pelo sistema por meio de um trabalho conjunto: professores elaboram tarefas, alunos as executam, professores fornecem feedback5 aos alunos, alunos acessam o feedback e observações, reestruturam suas produções. Ao final de um determinado período de tempo, tanto o professor como o aluno podem selecionar as atividades registradas para compor como relatório o portfólio de apresentação das aprendizagens de um determinado aluno. A família, como agente participante do processo, terá a possibilidade de observar o progresso do aluno e seu desempenho diante dos conteúdos propostos em sala de aula pela visualização dos

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trabalhos documentados e recuperados pelo sistema POETA. A instituição poderá acompanhar a metodologias e as estratégias didáticas adotadas pelos professores e acompanhar a evolução acadêmica de seus alunos. Por meio da análise do sistema POETA reflete-se sobre a metodologia de implementação de portfólios digitais em geral e que benefícios eles trazem. Dentre esses benefícios, destacamse: 1) Aquisição e desenvolvimento de competências na área da tecnologia multimídia6; 2) Efeito isomórfico e multiplicador sobre os alunos: quando o professor usa o portfólio eletrônico e motiva seus os alunos, eles também passam a usá-lo. Quatro aspectos básicos precisam ser levados em consideração no que se refere à viabilidade da proposta de utilização de portfólios digitais em contexto educativo: 1) O acesso às tecnologias de informação e comunicação (TIC) em geral, objetivando notar o nível de generalização dos computadores na sociedade e do acesso à Internet; 2) Políticas na área das TIC em Educação, considerando um contexto macro e fazendo referência nomeadamente ao “clima” mais ou menos favorável para o seu uso em contexto educativo; 3) Uso de TIC em Educação, visando compreender a relevância de se trabalhar com computadores; 4) Utilização efetiva dos portfólios digitais para fins educativos, tentando caracterizar os contextos em que existe experiência consolidada e que princípios pode-se extrair para a estruturação de outros portfólios. (COSTA, RODRIGUES, PERALTA, 2006). 4. O PORTFÓLIO COMO ESTRATÉGIA EFETIVADORA DE PROCESSOS DE AVALIAÇÃO CONTINUADA Os processos avaliativos legitimam as ações de ensino-aprendizagem, desse modo, a avaliação tornou-se um campo de discussões e inquietações para professores, alunos, gestores, pesquisadores e profissionais da educação como um todo. Como seres humanos, estamos frequentemente avaliando tudo à nossa volta. Analisamos e classificamos situações, pessoas e objetos. Quanto mais vivências diversas um indivíduo possui, mais ele se sente capaz de avaliar. As experiências e os conhecimentos adquiridos ao longo da vida permitem que uma pessoa tenha condições de emitir pareceres sobre os dados que a realidade apresenta. Porém é preciso tomar cuidado para que esses pareceres não sejam colocados como verdades absolutas. A ação de avaliar está presente na história da humanidade desde a antiguidade quando as civilizações primitivas passaram a destacar determinados focos de atenção que passavam a servir como referencia para variados aspectos da vida. Sabe-se que o homem define critérios de avaliação a partir de valores fundamentais repousados e conservados nos grupos sociais em certo contexto histórico/cultural.

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Com base nos estudos de Hadji (2001), é possível definir avaliação como uma intervenção intencional de leitura da realidade, por meio da qual o avaliador analisa conhecimentos e atitudes considerados como ideais e que servem como foco do olhar e da apreciação dessa realidade. No âmbito educacional o professor irá “ler” o seu aluno e indicar em que estágio ele se localiza em relação àquela compreensão ideal. Desse modo, é imprescindível que a leitura seja orientada, uma vez que avaliar não se limita a simplesmente descrever o que se apresenta, sendo necessário estabelecer relações com um objeto de saber. A literatura contemporânea sobre avaliação se fundamenta na busca por novos paradigmas de avaliação escolar que sejam coerentes com a abordagem do processo de ensino-aprendizagem como fundamento teórico-prático para a vida em sociedade. Mesmo que um educador procure estabelecer práticas avaliativas que sejam imparciais, objetivas e padronizadas, estará inevitavelmente afetado pela releitura própria da realidade por meio de suas concepções de mundo, educação, escola, aluno e do saber que está sendo processado. É importante frisar que essa releitura feita pelo educador deve respeitar a diversidade e por esse motivo é complexa. Como pontuava Paulo Freire, o ato educativo, e também a avaliação, é um ato político e como tal desvia-se da neutralidade: “não há educação neutra, todo ato de educar é um ato político” (FREIRE, 1983, p.47). Entende-se que a prática da avaliar não pode estar disposta somente ao final de um conteúdo ou em momento estanque na proposta curricular. A avaliação deve ocorrer durante o processo [introdução/disposições prévias, desenvolvimento e conclusão], levando em conta as diferenças individuais entre os educandos e a natureza do conhecimento que está sendo tratado. Avaliar o processo possibilita ao professor elaborar parâmetros na busca de metodologias variadas que levem o aluno a refletir sobre seus processos de aprendizagem e mobilizem ações para construção efetiva de conhecimentos significativos. Nessa perspectiva, a avaliação continuada (também chamada de avaliação formativa, avaliação permanente ou avaliação processual) é entendida como um ato contínuo em que o professor reflete sobre todo o caminhar dos processos de ensinar e aprender, procurando por alternativas para modificar o porvir, assumindo uma postura proativa e antecipatória. Aprender a avaliar é aprender a modificar o planejamento. No processo de avaliação contínua o educador agiliza sua leitura de realidade podendo assim criar encaminhamentos adequados para seu constante replanejar. (FREIRE, 1997, p.37). Assim, deve-se romper definitivamente com qualquer ideia de que avaliar é um olhar do professor sobre o aluno e seu conhecimento. Deve-se ampliar os horizontes para perceber a avaliação como uma atividade de repensar todo o processo, em que o professor reflete sobre si mesmo, sobre os educandos e sobre todo o contexto educacional, funcionando como uma ferramenta de apoio à decisões.

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Hadji (2001), ao abordar aspectos fundamentais da avaliação, destaca seis questões importantes, sintetizadas no quadro a seguir: Quadro 2 – Aspectos Fundamentais da Avaliação do processo de ensino-aprendizagem QUESTÕES

ASPECTOS RELACIONADOS

1. Conceito de avaliação que permeia a prática

A ideia de avaliação como medir comportamentos e quantificar acertos precisa ser revista e modificada. Essa ideia provoca graves equívocos pedagógicos, uma vez que avaliar é pronunciar-se, ou seja, “tomar partido sobre a maneira como expectativas são realizadas; sobre a medida na qual uma situação real corresponde a uma situação desejada. A avaliação é uma operação de leitura orientada da realidade” (HADJI, 2001, p.128).

2. Avaliação Objetiva

Hadji questiona a realização de avaliações objetivas, uma vez que entende que o ato de avaliar ocorre em um contexto social e deve ser mediada por uma ‘comunicação/negociação’ que envolve um ‘avaliador’, que pode ter seu julgamento alterado por fatores sociais (sua história e leitura de contexto), e um ‘avaliado’, também sujeito a interferências do meio. Aponta, porém, para a possibilidade de delimitar o objeto da avaliação e buscar minimizar a influência social. Mais do que a objetividade, a pertinência e a justiça precisam ser perseguidas.

3. Importância da Avaliação

A avaliação possuir efeitos importantes no sistema educacional vigente, uma vez que orienta o destino dos alunos por indicar seu êxito ou fracasso, bem como possui poder social na negociação didática. Possui ainda poder de regulação por seu caráter formativo, o aluno precisa apreendê-la e dominá-la de “modo tal que possa fazer parte de um autocontrole quase automático, que faz a grande força do especialista. Do novato ao especialista, é necessária, sem dúvida, a passagem por fases automatizadas, e trabalhadas, de avaliação instrumentalizada com vocação formativa” (HADJI, 2001, p.130).

4. Avaliação como Arma

A avaliação não pode ser usada como arma do avaliador para coagir e manipular o aluno frente à autoridade que lhe é conferida. Para evitar incorrer nessa armadilha, “o professor pode se valer de técnicas para aproximar-se da ação de avaliar em sua essência, na constituição de uma ética do agir avaliativo” (HADJI, 2001, p.131).

5. Avaliação como Instrumento Formativo

A avaliação tornar-se formativa quando atrelada à coragem dos professores em expor suas dúvidas e limitações quanto ao ato avaliativo. O professor precisa questionar-se quanto aos seus julgamentos de avaliação. O aluno pode ser visto como alguém que irá sofrer uma avaliação, uma vez que esta precisa estar a serviço de uma dinâmica que permita ao aluno ser agente construtor de seu processo de avaliação, e não mais somente submeter-se a ações pré-definidas. Ao se optar pela avaliação formativa esta só se converte em prática pedagógica com segurança se os professores aderirem a ela emocional e intelectualmente uma vez que é preciso conseguir uma adesão consciente para inovar.

Fonte: elaborado com base em Hadji (2001).

Com base nessas questões percebe-se que para a concretização de um processo de avaliação continuada e emancipatória é preciso haver mudança de postura do professor e do aluno, uma vez

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que é essencial que haja um relacionamento de proximidade e confiança. O aluno precisa ter a liberdade para revelar, sem temores, sanções ou até mesmo nota baixa, quais as suas dificuldades e incompreensões. Com base nessa vinculação satisfatória entre educador e educando, a avaliação continuada passa a ser uma bússola que direciona o processo de ensino-aprendizagem. A partir das discussões realizadas durantes décadas sobre modelos de avaliação, educadores e pesquisadores insatisfeitos com as formas habituais de avaliação e aferição do desempenho dos educandos, questionando as limitações de métodos tradicionais baseados muito mais na verificação de respostas do que no acompanhamento de produções e construções do aluno que demonstrem seu desenvolvimento, optaram pelo uso de portfólios como uma valiosa ferramenta de avaliação. O portfólio utilizado comumente nas artes plástica (artistas utilizam portfólios para apresentar amostras de seu trabalho, registrando momentos significativos de sua trajetória em uma ordem cronológica) passou a ser aplicado na avaliação da aprendizagem escolar. No que se refere à trabalhos ou produções escolares, de uma turma, disciplina ou aluno, o portfólio é um repositório que agrupa amostras de atividades e de construções, individuais e coletivas, construídas pelos alunos com as devidas anotações do professores sobre os documentos em questão. Trata-se de uma ferramenta versátil que pode ser utilizadas desde a Educação Infantil, passando pelo Ensino Fundamental e Médio e até mesmo na Educação Superior. Em alguns casos o próprio professor monta o portfólio de seus alunos, porém de modo mais participativo e ideal, deve-se contar com a contribuição dos alunos criando uma metodologia processual de arquivamento e registro das produções, respeitando-se sempre o nível de desenvolvimento do aluno segundo sua idade/ série. O portfólio pode ser considerado um elemento de comunicação, registro e reflexão sobre aprendizagens e metodologias de ensino, como destaca Smole (1996): o portfólio constitui importante elemento de comunicação entre aluno e professor, entre professor e pais, entre alunos e pais funcionando ao mesmo tempo como regulação do processo educativo e como instrumento de avaliação eficiente, uma vez que propicia uma análise contínua dos progressos individuais dos alunos. É exatamente nessa confluência comunicativa que o portfólio pode contribuir para levar o aluno a ver e ver-se na ação de aprender, sendo responsável por ela (p.185).

Eis algumas razões a serem pontuadas como motivadoras para a utilização de portfólios como instrumento de avaliação (CARVALHO, 2007): • Permite a avaliação formativa do aluno; • Possibilita a reflexão por parte de todos os participantes do processo: alunos, professores, pais e gestores;

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• Fornece suporte à continuidade do trabalho em caso de troca de professor, ou caso o aluno mude de escola; • Apresenta-se como ótima ferramenta metodológica para registro do ensino e acompanhamento da aprendizagem; • Propicia aos pais compreender o processo escolar por meio do acompanhamento do desenvolvimento dos filhos. A utilização de portfólio nas escolas, especialmente como instrumento de avaliação ainda é recente, no entanto, inovações no modo de aplicação já têm sido descritas, especialmente com o uso de tecnologias de informação (os portfólios digitais abordados anteriormente). Um cuidado fundamental que professores devem tomar ao compor portfólios como ferramentas de avaliação é estar consciente de que um portfólio difere em muito de um mero agrupamento organizado de produções dos alunos. Esses agrupamentos são realizados há bastante tempo, sobretudo na Educação Infantil e nas séries iniciais do Ensino Fundamental, para apresentar as atividades realizadas pelos alunos. Tais agrupamentos de atividades arquivam os trabalhos e, depois de certo período (bimestral, semestral ou anualmente), enviam as produções para casa sem ter um objetivo claro, uma vez que os professores não fornecem parecer sobre o desenvolvimento do aluno, não retomam o processo vivenciado, nem analisam sua prática de ensino a partir deles, assim não podem ser chamados de portfólios. O conceito de portfólio como ferramenta de avaliação se expande ao propiciar ao professor a possibilidade de reflexão sobre o desenvolvimento de cada aluno em relação a seus progressos e dificuldades, contribuindo para definir a atuação didática nos conteúdos trabalhados, nas tarefas propostas e nos projetos desenvolvidos. Desse modo, atua como testemunha da ação educacional, sobretudo nas dimensões pedagógica e psicológica: o portfólio é uma testemunha da ação pedagógica, o registro de como o trabalho ocorreu, a memória de uma mesma proposta desenvolvida em diferentes momentos. A utilização desta forma de documentação envolve interpretações das dimensões pedagógica e psicológica. Pedagógica porque o portfólio surge como um objeto fundamental de ensino, da valorização da reflexão e da ação do aluno. Psicológica porque mostra um pouco da personalidade de cada aluno, da sua forma de ser e de pensar. Através dessa documentação o professor pode compreender alguns anseios, algumas dificuldades e as conquistas de cada aluno (SMOLE, 1996, p.186).

O sucesso da adoção do portfólio como ferramenta de avaliação vincula-se fortemente aos registros realizados em momentos específicos em que as mediações de construção de conhecimentos ocorrem. Ou seja, o portfólio deve estar inserido no processo de aprendizagem real, não sendo compostos ao final de um período, uma vez que não podem estar descolados

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das práticas e construções diárias na relação professor-aluno-conhecimento. Trata-se de uma prática inovadora e emancipatória ao permitir o ensino centrado no aluno, em suas ações de aprendizagem, sem comparações com outros estudantes, uma vez que as análises são feitas com relação ao seu próprio desenvolvimento físico, cognitivo e socioemocional segundo os objetivos comuns propostos. Assim, o portfólio deve ser entendido como uma ferramenta eficaz para se registrar, por meio de mídias e estratégias variadas, a expressão do que os alunos pensam, sentem e sabem fazer. Uma documentação de saberes construídos dentro e fora da escola, possibilitando reflexões sobre o seu próprio processo de aprender e o estabelecimento de vinculações entre os temas de estudo. Fernandes (1994) considera que a avaliação baseada em portfólio como prática inovadora proporciona que se atinjam variadas vantagens, dentre as quais destacam-se: a) Contribuição para a adequação do currículo às metodologias aplicadas e à avaliação, por meio de uma maior vinculação das atividades de avaliação com as aprendizagens; b) Diversificação de processos e objetivos de avaliação por meio da contextualização, isto é, ligação mais profunda da avaliação às situações em que a aprendizagem se desenvolveu, contribuindo para: 1) reflexão dos alunos acerca do seu próprio trabalho; 2) participação ativa dos alunos no processo de avaliação; 3) identificação dos progressos alcançados e das dificuldades encontradas; 4) Apoio ao processo de tomada de decisão pelos professores, pois passam a perceber melhor a maneira como o currículo é desenvolvido e as características de cada aluno; c) Ênfase no caráter positivo e formativo da avaliação, uma vez que os educandos conseguem mostrar com mais facilidade e fidedignidade o que realmente sabem. Trabalhar com portfólios na educação escolar desperta e motiva os estudantes que muitas vezes se encontram apáticos e com pouco interesse em aulas tradicionais, chamando-os para um papel ativo em sua própria aprendizagem, como responsáveis pelo seu caminho na relação com os conteúdos curriculares. Fomenta ainda a criatividade, a proatividade; desperta o interesse pela pesquisa e por novos modos de comunicação. Mesmo diante de vantagens tão evidentes é preciso pontuar que o uso do portfólio com ferramenta metodológica e de avaliação não é um projeto simples. Despende investimento considerável de tempo e esforço por parte de estudantes e professores, demandando organização e planejamento criteriosos, assim como é preciso que estejam claros os parâmetros de construção

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do portfólio e de sua avaliação. Não há como garantir que a utilização de portfólios conduza, por si só, a uma avaliação autêntica, continuada, participativa e reflexiva. Pois muitas práticas emprestam o nome de portfólio, mas na verdade não passam de pastas com meras coleções de trabalhos dos alunos. Para que a utilização dos portfólios alcance as vantagens anteriormente referidas, a capacitação de professores para utilização de portfólios e o acompanhamento da aplicação dessa ferramenta deve ser uma preocupação prática dos gestores escolares. É imprescindível que professores e alunos se mantenham motivados para a renovação das práticas pedagógicas e criem hábitos de trabalho organizado como preconiza a metodologia de utilização de portfólios de aprendizagem. RESUMINDO E DESTACANDO Este texto tratou da utilização de Portfólios como uma ferramenta metodológica e avaliativa, apresentando as bases conceituais, tipos e aplicações no contexto educacional. Destaca-se o processo de elaboração, as possibilidades de ajuda ao profissional da educação e ao educando de forma a desenvolver a capacidade de reflexão sobre o trabalho pedagógico e a aprendizagem. Elucidaram-se ainda, os passos para a construção de Portfólios em um contexto de construção processual da aprendizagem que suporta práticas de avaliação continuada, elencando suas formas de organização para estruturar e registrar a aprendizagem centrada no educando, com a participação dos educadores e da família. Ressaltou-se que os itens que irão compor um portfólio são aqueles que apresentam informações significativas sobre o educando, de forma que indiquem como o mesmo atingiu os objetivos na política pré-definida. Para tanto, devem estar neste conjunto de regras a forma e os tipos de amostra a serem coletados, relacionando-os com os objetivos educacionais globais, definindo-se também como esta metodologia será avaliada e os critérios para se apresentar um relatório de aprendizagens. Visando ao entendimento do valor operacional de se utilizar o portfólio, além das bases conceituais e de se perceber a sua aplicação como uma metodologia inovadora que auxilia na organização das ações didático-pedagógicas, estudaram-se também as principais contribuições que os modelos de registro e estruturação de portfólios em papel e em meios digitais proporcionam ao processo educativo escolar. O conceito de portfólio como ferramenta de avaliação continuada expande as possibilidades de prática docente, propiciando reflexões documentadas sobre o desenvolvimento de cada aluno

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sobre potencialidades e dificuldades existentes, levando à definição de uma atuação didática embasada na realidade que irá guiar os conteúdos trabalhados, as atividades diárias e os projetos propostos. O êxito em se adotar o portfólio como ferramenta de avaliação relaciona-se muito à natureza dos registros feitos quando as interações para construção de conhecimentos ocorrem. Desse modo, o portfólio deve estar inserido no processo prático de aprendizagem, não sendo montado em um determinado momento, já que não há como estar desconectado das práticas e construções diárias na relação professor-aluno-conhecimento. REFERÊNCIAS BEHRENS, Marilda Aparecida. Paradigma da complexidade: metodologia de projetos, contratos didáticos e portfólios. Petrópolis, RJ: Vozes, 2006. CAMPBELL, Dorothy M. How to develop a professional Portfolio: A Manual for Teachers. USA: Allyn & Bacon, 1996. CARVALHO, Silvia Helena Raimundo de. Avaliação na Educação Infantil: o portfólio como ferramenta. Revista Terra e Cultura, n. 44, ano 23, Janeiro a Julho, 2007, p.57-68. COSTA, Fernando Albuquerque; RODRIGUES, Maria Ângela; PERALTA, Helena. O Portfólio digital na formação de professores: um estudo comparativo. Lisboa: Universidade de Lisboa, 2006. FERNANDES, Domingues; NEVES, A., CAMPOS; C., CONCEIÇÃO; J. M.; ALAIZ V. Portfolios: para uma avaliação mais autêntica, mais participada e mais reflexiva. In FERNANDES, D. Pensar avaliação, melhorar aprendizagem. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, 1994. FREIRE, Paulo. Educação como prática de liberdade. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1983. FREIRE, Madalena et al. Avaliação e planejamento: a prática educativa em questão. Instrumentos metodológicos II. São Paulo: Artcolor, 1997. GRACE, Cathy; SHORES, Elizabetth. Manual de portfólio: um guia passo a passo para o professor. Porto Alegre: ARTMED Editora, 2001. HADJI, Charles. A avaliação desmistificada. Porto Alegre: ArtMed, 2001. SISTÊLOS, Antônio José Cané Martins. Um Ambiente Computacional de Apoio ao Método de Avaliação Autêntica: Projeto POETA (Portfolio Eletrônico Temporal e Ativo). Campina Grande: UFPB, 1999. SMOLE, K. C. S. A matemática na Educação Infantil: a teoria das inteligências múltiplas na prática escolar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. TORRES, Sylvia Carolina Gonçalves. Portfólio como instrumento de aprendizagem e suas implicações para a prática pedagógica reflexiva. Rev. Diálogo Educ., Curitiba, v. 8, n. 24, p. 549-561, maio/ago. 2008. VILLAS BOAS, Benigna Maria de Freitas. Portfólio, avaliação e trabalho pedagógico. Campinas: Papirus, 2004.

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DEFINIÇÕES E NOTAS EXPLICATIVAS 1

Banco de dados – Pode representar qualquer conjunto de dados, desde uma lista de compras até um vasto conjunto de informações sobre um cliente em um sistema de informação. Expressão comumente utilizada para descrever um repositório que armazena e gerencia os registros de informações computadorizadas.

2

Softwares – São programas de computador, entendidos como uma coleção de instruções que descrevem uma tarefa a ser realizada pelo computador. O termo pode ser uma referência ao código fonte, escrito em alguma linguagem de programamação, ou ao arquivo que contém a forma executável deste código fonte.

3

Linguagem de programação – Conjunto de instruções logicamente encadeadas para indicar ao computador uma série de operações a executar. Trata-se de um método padronizado para comunicar instruções a um computador por meio de um conjunto de regras sintáticas e semânticas, permitindo ao programador especificar quais dados serão armazenados ou transmitidos e quais ações devem ser tomadas em um programa de computador.

4

Plataforma – Expressão utilizada para denominar a tecnologia empregada em determinada infraestrutura de tecnologia da informação ou telecomunicações, garantindo facilidade de integração dos diversos elementos dessa infraestrutura.

5

Feedback – É o processo de fornecer dados a uma pessoa ou grupo como retorno a uma ação ou comportamento verificado, ajudando na melhorar de desempenho para que se atinjam objetivos pré-definidos

6

Mídia – É um meio para se transmitir os dados que a realidade nos apresenta. Atribuí-se a designação multimídia para um instrumento que é rico em informação por reunir em um único elemento propriedades de diversas mídias, como textos, sons e imagens.

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