DOURADOS MS ANO 69 Nº 13.615
O PROGRESSO
2a8 de março 2020
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Mudança de vida
De doméstica a chef gourmet
Ainda criança, Josenilda Ramos dos Santos, passou a trabalhar fora de casa, fazendo limpezas em residências. Apesar das dificuldades, é com essa profissão que ela conseguiu realizar muitos sonhos e agora está prestes a concluir o curso de tecnólogo em Gastronomia PÁG. D4
Liberdade
Mulheres do semiaberto fazem do trabalho ferramenta para recomeçar PÁG. D1
Mulheres vão à luta contra a violência
CADERNO B Entrevista
Escritora aponta discriminação contra mulheres na literatura
A violência contra mulheres vem aumentando a cada ano e passou a ser um problema de saúde pública. Saber ao menos a defesa pessoal pode ajudar as mulheres inibirem a violência em alguns casos e evitar problemas maiores. PÁG. A6
Em Dourados, quase 3 mil mulheres são vítimas de violência Dados da Polícia Civil revelam que 2.805 mulheres foram vítimas de violência doméstica em Dourados em 2019. O número mostra que por dia, 8 mulheres são agredidas no município. As vítimas estão distribuídas em 1.529 ocorrências registradas na Delegacia. Isso quer dizer que em por várias vezes um registro envolve mais de um denunciante, como a esposa e filhos, por exemplo. PÁG. A7
Para falar sobre a mulher no cenário literário, O Progresso entrevistou a escritora, poetisa, formada em letras e arquitetura Ivone Macieski. PÁG. B2
Literatura
Mato Grosso do Sul tem academia feminina de Letras e Artes PÁG. B1
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Dourados, 2 a 8.3.2020 O PROGRESSO
Opinião EDITORIAL
Direitos humanos e meio ambiente nas vozes de duas mulheres
U
m encontro histórico entre duas vozes femininas. A ativista sueca Greta Thunberg e a vencedora do prêmio Nobel da paz Malala Yousafzai posaram juntas para uma foto no último dia 25, na universidade de Oxford. Mais do que um simples flash, a imagem de duas jovens mulheres, que lutam por causas tão nobres como direitos humanos e meio ambiente, é uma inspiração para esta e futuras gerações. Uma atitude que poderia ser “copiada” principalmente para aqueles que estão no poder e que têm a chance de ajudar a construir um futuro melhor para a humanidade. Enquanto muitos fazem carreira política, pagos com dinheiro público e nada contribuem com a sociedade, essas duas jovens mulheres, de forma voluntária, mudam o mundo com suas atitudes. A paquistanesa Malala Yousafzai tem apenas 22 anos e se tornou mundialmente conhecida após sobreviver a um ataque do Talibã, no qual foi baleada na cabeça por se recusar a abandonar os estudos. Foi a mais jovem homenageada do Prêmio Nobel em 2014 por militar na defesa dos direitos das crianças. Seu primeiro pronunciamento público ocorreu
nove meses após o ataque, quando fez um discurso na Assembleia de Jovens da ONU. Na ocasião, ela reforçou que não seria silenciada por ameaças terroristas. “Eles pensaram que a bala iria nos silenciar, mas eles falharam”, disse em um discurso no qual pediu mais esforços globais para permitir que as crianças tenham acesso a escolas. “No s s o s l i vros e nossos lápis são nossas melhores armas”, disse ela na oportunidade. “A educação é a única solução, a educação em primeiro lugar”. Já a sueca Greta Thunberg tem 17 anos e ganhou notoriedade pelo ativismo ambiental. Foi nomeada para o Prêmio Nobel da Paz 2020. É conhecida por ter protestado fora do prédio do parlamento sueco, e por
ser a líder do movimento Greve das escolas pelo clima. Em dezembro de 2019, foi considerada personalidade do ano pela revista americana Time que afirmou: Ela conseguiu criar uma mudança de atitude global, transformando milhões de vagas ansiedades em um movimento mundial que pedia mudanças urgentes. Ela ofereceu um apelo moral para aqueles que estão dispostos a agir e lançou vergonha para aqueles que não o são”, reiterou a Time. “Ela concentrou a atenção do mundo nas injustiças ambientais que jovens ativistas indígenas protestam há anos. Por causa dela, centenas de milhares de adolescentes ‘Gretas’, do Líbano à Libéria, deixaram a escola para liderar seus colegas nas greves climáticas em todo o mun-
do”. A jovem tem uma agenda de “encher” os olhos de qualquer ativista adulto. Ela participará, na próxima quarta-feira, da reunião da Comissão Europeia que deve debater a lei que permitirá ao bloco alcançar neutralidade de carbono até 2050. A presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, convidou-a para expor sua visão ao colégio de comissários antes da discussão sobre a Lei do Clima. Esta lei climática é o pilar do Pacto Verde Europeu de Von der Leyen, a nova estratégia de crescimento de uma União Europeia (UE) que ambiciona atingir a neutralidade de carbono em três décadas. As políticas atuais permitem apenas uma redução de 60%, até a referida data, das emissões dos gases causadores do efeito estufa. Além do encontro na Comissão, a jovem sueca, 17 anos, também deve se reunir com o presidente da Eurocâmara, David Sassoli, antes de falar na Comissão parlamentar de Meio Ambiente, informaram fontes do Parlamento. Que essas duas jovens mulheres possam continuar suas belíssimas trajetórias de garra e força em prol da humanidade e que todo esse esforço inspire cada dia mais novas “Gretas” e “Malalas” pelo mundo.
O empreendorismo feminino e a jornada da mulher traçando seu destino ANA PAULA OSTAPENKO*
*Jornalista e cineasta
E
las têm entre 25 e 45 anos, trabalham em um emprego fixo e ainda empreendem de casa, algumas tornaram esse segundo trabalho em primeiro e se tornaram “donas do seu negócio”, estamos falando de mulheres empreendedoras e o que mudou no perfil dessa profissional nos últimos 10 anos. Segundo a pesquisa do Sebrae de março de 2019, em 2018, o Brasil teve a 7ª maior proporção de mulheres nos Empreendedores Iniciais, em 49 países. Em 2017, foi a 3ª maior. A proporção de negócios por NECESSIDADE é maior no grupo das mulheres (44% de necessidade contra 32% no caso dos homens).
As mulheres respondem por 34% dos 27,4 milhões de Donos de Negócio (Empregadores + Conta Própria) existentes no Brasil. A necessidade faz a empreendedora A mulher não nasce empreendedora, ela torna-se, na maioria das vezes quando a necessidade bate na porta, surge junto com ela a oportunidade de empreender, a maioria dos negócios criados na necessidade vem de habilidades que essas mulheres possuem, seja na cozinha, na área da beleza ou consultoria, elas arregaçam as mangas e vão em busca do sustento da família vendendo produtos e serviços. A maioria dos negócios começa na casa da empreendedora, na cozinha, naquele puxado ou na sala que vira salão de beleza e nos últimos 10 anos vimos várias donas de casa se tornarem donas do seu destino, e com o tempo conseguindo empregar outras mulheres e assim girar a roda da economia. Ainda segundo a pesquisa do Sebrae , as donas do negócio ganham 22% menos que os homens, ainda
há essa disparidade nos rendimentos. É mais baixa a proporção de mulheres empregadoras (13%). É mais alta a proporção de mulheres que trabalham por conta própria (87%) e as empregadoras mulheres têm menos empregados que os empregadores homens. Quando o assunto é formalização tivemos mudanças consideráveis na última década, hoje as mulheres são quase metade dos Micro Empreendedores Individuais – MEI, do Brasil, em torno de 48%, e se destacam no ramo de beleza, moda e alimentação. O Mato Grosso do Sul é o primeiro estado em número de empreendedoras, 38%, dos empreendimentos criados no estado são liderados por mulheres, enquanto que a média brasileira é de 34% de donas do negócio. O que esperar da próxima década? O empreendedorismo é uma importante ferramenta de transformação profissional, econômica e social e nós mulheres continuamos nos desdobrando muito mais do que os homens para dar conta das ativi-
dades do lar, aliado ao desafio de gerenciar nossos negócios, isso não vai mudar, mas com certeza daqui pra frente teremos mais mulheres em posições de tomada de decisão do que tínhamos há 10 anos. Empreender é uma atividade solitária, cheia de incertezas, inseguranças e dificuldades, onde buscar o caminho da capacitação se torna essencial para superar os obstáculos, cada vez mais mulheres estão entrando ou voltando aos bancos das universidades ou se requalificando para gerir da melhor forma possível o seu negócio. Mulheres empreendedoras são capazes de gerar emprego para outras mulheres, fomentando uma rede de crescimento, aprendizado e apoio e isso tende a aumentar nos próximos anos com mais renda para essas empreendedoras expandirem os seus negócios. E assim negócios são abertos todos os dias por mulheres destemidas, que vão em busca da independência financeira e do sustento da sua família, que venham os próximos e prósperos 10 anos.
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Dourados, 2 a 8.3.2020 O PROGRESSO
Política
Maioria do eleitorado, mulheres são minoria nos poderes
POLÍTICA FLÁVIO VERÃO flavio@progresso.com.br
Quarentena eleitoral
ALMS é a única do Brasil que não tem nenhuma mulher eleita. Em Dourados, há apenas uma vereadora FOTOS: ARQUIVO
Valéria Araújo Maioria do eleitorado, as mulheres ainda são a minoria nos poderes. Se por um lado Mato Grosso do Sul tem, pela primeira vez, duas mulheres senadoras, a Simone Tebet e a Soraya Tronick, a bancada da Assembleia Legislativa não tem sequer uma mulher, o que não ocorria há 27 anos. As 24 cadeiras da Casa de Leis estadual são ocupadas por 24 homens nessa legislatura. A assembleia legislativa de MS é a única do Brasil sem deputadas eleitas. Nenhuma das 103 mulheres que se candidatou conseguiu ser eleita, em um Estado onde a maioria é também feminina. Em MS, são 977.513 mulheres votantes, o que representa 52,4% dos 1,8 milhão do eleitorado do Estado, de acordo com dados do TRE. Em Dourados, elas também são a maioria, mas não têm a mesma representatividade. Dos 160.5 mil eleitores, 85.7 mil são mulheres, con-
“Ao longo da história as mulheres encontraram muitas barreiras na política” disse Daniela tra 74.8 mil homens. Apesar disso, o município ainda tem baixa representatividade no Legislativo, por exemplo. Apenas uma mulher foi eleita na Câmara Municipal do total de 19 vereadores. Trata-se da vereadora Daniela Hall (PSD), que também foi uma das poucas mulheres presidente do Legislativo. Para ela, ao longo da história as mulheres encontraram muitas barreiras na política. “Crescemos sendo ensinadas a pensar que esse não é um lugar para nós e por esse motivo, muitas ainda acreditam e geram uma expectativa de que esses cargos devem ser ocupados por homens”, destaca. No Executivo é a primeira vez que Dourados elege uma mulher. Délia Godoy Razuk, comanda a Prefeitura da segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, após enfrentar cinco candidatos e vencer com 43.252 votos. Em 2017, Dourados estava nas três esferas do poder. Tanto no Executivo, pela
Em Dourados, Délia é a 1ª mulher a comandar o Executivo
Daniela Hall é a única vereadora na Câmara Municipal prefeita Délia Razuk, quanto no Legislativo, através da então presidente da Câmara, Daniella Hall (PSD), e no Judiciário, com a diretora do Fórum, a juíza Daniela Vieira Tardim. Brasil A baixa representatividade das mulheres brasileiras na política se reflete também na ocupação de cargos de poder dentro da Câmara dos Deputados. Das 25 comissões permanentes da Casa, apenas 4, ou seja 16%, eram presididas por mulheres até o ano passado. Segundo o Mapa Mulheres na Política 2019, um relatório da Organização das Nações Unidas e da União Interparlamentar divulgado neste mês, no ranking de representatividade feminina no Parlamento, o Brasil ocupa a posição 134 de 193 países pesquisados, com 15% de participação de mulheres. São 77 deputadas em um total de 513 cadeiras na Câma-
ra, e somente 12 senadoras entre os 81 eleitos. No Ranking de Presença Feminina no Parlamento 2017, lançado em março, o Brasil ocupa o 115º lugar, ficando atrás de países como Afeganistão, Índia e Estados Unidos. Ruanda ocupa a primeira posição, seguida de Bolívia e Cuba. O levantamento foi realizado pelo Projeto Mulheres Inspiradoras (PMI), com base no banco de dados primários do Banco Mundial (Bird) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Saiba mais
No CTG NO Centro de Tradições Gaúchas, CTG Querência do Sul, de Dourados, pela primeira vez uma mulher é eleita patroa, após 42 anos de fundação. Rosana Pederiva vai estar a frente do Clube até 2021. Ao O PROGRESSO ela atribuiu a vitória a conquista da igualdade da mulher na sociedade.
Pode ser votado até a semana que vem na Câmara dos Deputados projeto que pretende atrapalhar a vida dos juízes que queiram largar a toga para seguir na vida política. Assinado pelo deputado sul-mato-grossense Fábio Trad (PSD-MS), o Projeto de Lei Complementar 247/2019 aumenta de seis meses para seis anos o prazo para deixar a carreira e se candidatar. O mesmo vale para membros do Ministério Público e integrantes da segurança pública. Na prática, a possibilidade de juízes e procuradores migrarem para a política, como fez o ministro da Justiça, Sérgio Moro, ex-juiz da Lava Jato, acendeu o sinal vermelho no Congresso. A nova ofensiva ganhou força após deputados aprovarem a Lei de Abuso de Autoridade, vista como “troco” da classe política a medidas de combate à corrupção. Não é de hoje que servidores públicos usam e abusam de seus cargos em busca de promoção política. A onda bolsonariana, por exemplo, ascendeu a tocha de integrantes do Exército e da polícia que agora é a vez deles participarem nas eleições municipais deste ano. A concorrência anda acirrada dentro das corporações. Coronadengue As rodas de conversa e discursos políticos estão centradas, nos últimos dias, nos casos suspeitos de coronavírus. Medo de contrair a doença e dúvidas se as unidades de saúde estão preparadas para lidar com os casos tem assombrado muita gente. Enquanto isso o mosquito vilão aedes aegypti é esquecido de lado, mas segue trabalhando direitinho. Alias, muita gente nem liga pra ele, tanto que de janeiro até agora mais de 20,4 mil casos foram notificados no Estado e 13 pessoas morreram. Santa tartaruga A emblemática obra do Hospital Regional de Dourados parece mesmo uma novela mexicana sem fim. Há pouco mais de cinco anos o Governo do Estado havia anunciado a construção da unidade, juntamente com o hospital de Três Lagoas, que deve ser entregue até junho deste ano. Acontece que a obra em Dourados não “decolou” e segue num ritmo que faz qualquer um duvidar que um dia fique pronto. O investimento total será de R$ 53 milhões, recursos que virão do próprio governo e de emendas parlamentares destinadas pelos então deputados federais Marçal Filho, Geraldo Resende, Waldemir Moka e o deputado Dagoberto Nogueira. Animado O secretário de saúde do
Estado e deputado federal licenciado Geraldo Resende, pode deixar o primeiro escalão do governo em abril para disputar a prefeitura de Dourados. Naturalmente os partidos colocam seus líderes como pré-candidato, mas até agora, nem ele quanto o deputado estadual Marçal Filho, ambos do PSDB, partido do governador Reinaldo, assumiram publicamente que são pré-candidatos. Geraldo nunca escondeu que almeja administrar o segundo maior município do estado e com a crise financeira que passa o município e com as operações que já ocorreram na atual administração, qualquer agente político está qualificado a pegar a prefeitura para tirar a cidade do buraco. Democracia Nenhum agente político tem que gostar de jornalistas ou da imprensa. Ao contrário, é natural que se incomodem quando reportagens expõem o que muitos deles, pelas mais variadas razões, gostariam de manter longe do olhar público. No entanto, quando jornalistas são sistematicamente atacados por figurões que dizem que prezam a moral, a ética e o resgate da ordem pública, não se pode falar em simples antipatia; o que se tem é uma violência que excede, e muito, os limites estabelecidos para a convivência democrática. Afinal, se o jornalismo já é importante numa democracia sólida e estável, mais ainda o é numa democracia que está sob ataque de liberticidas.
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Dourados, 2 a 8.3.2020 O PROGRESSO
Política
MP cobra plano de contingência contra Coronavírus em Dourados Promotoria da Saúde dá prazo de cinco dias para Prefeitura apresentar detalhamento da atividade de diagnóstico e tratamento dos pacientes Valéria Araújo O Ministério Público Estadual deu o prazo de cinco dias para a Prefeitura de Dourados apresentar um plano de contingência para o enfrentamento do coronavírus em Dourados. Para tanto, a secretaria de Saúde deverá apresentar detalhamento da atividade de diagnóstico, tratamento dos pacientes e retaguarda hospitalar local a ser utilizada. De acordo com documento assinado pelo promotor de Justiça Etéocles Brito Mendonça Dias Júnior, o ques-
Desde janeiro, a SES tem tomado diversas medidas de prevenção e monitoramento do novo coronavírus tionamento à Prefeitura é necessário tendo em vista a confirmação da chegada da doença (Covid -19) em território brasileiro, além de casos suspeitos em cidades circunvizinhas em situação de monitoramento. Subiu para 132 o número de casos suspeitos de coronavírus monitorados pelo Ministério da Saúde no Brasil. Os dados foram repassados pelas Secretarias Estaduais de Saúde até esta quinta-feira (27) e demons-
tram o aumento da sensibilidade da vigilância da rede pública de saúde devido à inclusão de 15 países, além da China, que apresentam transmissão ativa do coronavírus. No total, 16 estados informaram ao Ministério da Saúde sobre os casos suspeitos. Em Mato Grosso do Sul, a Secretaria Estadual de Saúde informou no último dia 27 que registrou em apenas um dia sete notificações de casos suspeitos novo coronavírus (COVID-19), sendo uma em Ponta Porã e seis em campo Grande. Os casos foram considerados suspeitos de acordo com a classificação do Ministério da Saúde. O resultado do exame feito pelo Lacen do paciente de 24 anos, com possível caso suspeito para o novo coronavírus em Ponta Porã foi negativo para oito tipos de vírus respiratórios pesquisados pelo Lacen, entre eles influenza. Foi enviada amostra para Instituto Adolfo Lutz (IAL) em São Paulo para serem pesquisados outros tipos de vírus respiratórios. O resultado deve sair na próxima semana. A Secretaria Estadual de Saúde de Mato Grosso do Sul também investiga outros quatro casos de pacientes em campo Grande que se enquadram na definição de suspei-
Proteger a mulher é dever do agente público, diz Marçal
LUCIANA NASSAR
Deputado é Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Mulher O enfrentamento à violência contra a mulher é um dos temas mais desafiadores para o desenvolvimento de políticas públicas. Coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Mulher, da Criança e do Adolescente, o deputado estadual Marçal Filho (PSDB) tem promovido importantes debates na Assembleia Legislativa, mas sabe que ainda há um longo caminho a ser percorrido. No mês em que celebra o Dia Internacional da Mulher, comemorado em 8 de março, o deputado irá promover um amplo debate com a participação de representantes das mais diferentes instituições. Em discussão estarão temáticas sobre os desafios e soluções para o enfrentamento à violência contra a mulher. Deputado estadual de primeiro mandato, assim que assumiu uma vaga na Assembleia, no ano passado, uma de suas primeiras ações ao tomar posse foi à instalação da Frente Parlamentar em Defesa da Mulher. “Não o fiz apenas pelo fato de a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul não possuir uma única mulher entre seus 24 deputados,
Deputado criou leis em favor a mulheres mas por entender que o parlamento precisava dar voz às mulheres do nosso Estado. A Frente está longe de solucionar todos os problemas que afligem as mulheres, mas tem cumprido com rigor a missão de debater projetos capazes de reduzir a elevada incidência de violência doméstica e, sobretudo, tem atuado para que os direitos das mulheres sejam respeitados tanto pelos familiares quanto pela sociedade e pelas instituições públicas”, diz o deputado. Os primeiros resultados da Frente Parlamentar foram conquistados por meio leis já aprovadas e sancionadas,
ta de coronavírus. As amostras deram resultado negativo no Lacen e foram encaminhadas para o laboratório em São Paulo para analise. Dois pacientes foram identificados pelo Lacen como influenza A e foram descartados como suspeitos. Desde janeiro, a SES tem tomado diversas medidas de prevenção e monitoramento do novo coronavírus. Foi criado o Centro de Operações de Emergência (COE/MS) com o objetivo de auxiliar na definição de diretrizes estaduais para vigilância, prevenção e controle, bem como o acompanhamento e avaliação das ações desenvolvidas pelo Governo do Estado. Também foi elaborada nota técnica sobre as ações a serem adotadas em caso de surgimento de pessoas com os sintomas da doença e de como proceder com a coleta de amostras para exames. A nota já foi enviada aos profissionais de saúde dos 79 municípios e também a todos os serviços de saúde públicos e privados. A SES também realizou reuniões nos municípios de Corumbá e Ponta Porã para prestar cooperação técnica na construção do fluxo de vigilância e atendimento de possíveis casos suspeitos na região de fronteira.
como a que estabelece prioridade de matrícula, nos estabelecimentos de ensino da rede pública de Mato Grosso do Sul, para os filhos de mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. Outra lei aprovada suspende a posse ou restrição do porte de arma aos indivíduos que praticarem violência doméstica e familiar contra a mulher. A lei vale pra todos, de forma que até mesmo os agentes de segurança pública estarão sujeitos às restrições em caso de violência contra a mulher. A lei estabelece que em todos os casos de violência doméstica e familiar praticados contra a mulher, feito o boletim de ocorrência, a autoridade policial deverá verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e deverá incluir a informação no expediente apartado que será remetido ao juiz com o pedido de concessão de medidas protetivas de urgência, especialmente, a suspensão da posse ou restrição do porte de arma. O deputado também apresentou na Assembleia o Projeto de Lei que obriga os condomínios residenciais e comerciais a acionar os órgãos de segurança pública toda vez que houver a ocorrência ou indícios de ocorrência de violência doméstica e familiar contra mulheres, crianças, adolescentes ou idosos. “Sabemos que a violência doméstica não escolhe classe social e não podemos achar que apenas as mulheres da periferia são alvos da truculência de maridos e companheiros”, avalia o parlamentar. O projeto está em trâmite na Casa de Leis.
*NOEMIR FELIPETTO *advogado e jornalista
Reflexões sobre o voto obrigatório O voto é obrigatório no Brasil. Partindo-se do princípio legal, o eleitor além de escolher o candidato que achar melhor, pode anular ou votar em branco. Então se questiona: é o voto obrigatório ou o comparecimento do eleitor às urnas? Mesmo com campanhas publicitárias da Justiça Eleitoral, principalmente em anos eleitorais, em chamar o eleitor a votar, o que se vê atualmente é o considerável aumento de abstenções ou votos assinalados em branco ou anulados. Doutrinadores trazem que o voto facultativo seria o melhor caminho. Dentre eles está o ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurélio Melo, que já declarou ser favorável a proposta. Em 2012 tentou-se uma emenda a Constituição, mas nossos congressistas rejeitaram. O voto continuou sendo obrigatório. Ainda há o argumento que apenas os chamados “eleitores conscientes” iriam às urnas. Mas enquanto temos a chamada obrigatoriedade em votar a cada dois anos, é importante que façamos, e votamos em candidatos que acreditamos serem os melhores. Particularmente sou adepto da corrente que o voto no Brasil não é obrigatório, mas sim o comparecimento do eleitor as urnas. A lei impõe penalidades para quem não votar, dentre elas o impedimento de assumir cargos públicos, a não obtenção de passaporte ou mesmo a não liberação de financiamento em bancos estatais. Mas caso justifique o voto ou pague multa por não ter votado, com valor irrisório (menos de R$ 5,00), tudo estará resolvido. Somos um país essencialmente democrático, entendo que o voto ou o comparecimento seja facultativo. Mas para que isso aconteça teremos que amadurecer politicamente. No Brasil alguns eleitores têm a opção voto facultativo, os eleitores com 16 e 17 anos e os idosos, acima de 70 anos são a exceção. Por fim, nos resta saber se atualmente estamos amadurecidos para o voto facultativo, em virtude dos constantes acontecimentos vivenciados nas eleições de 2018 no tocante as eleições presidenciais.
COLONO - Cumpadi, e essa história de coronavírus hein?
ZÉ PINGA - Pois é cumpadi. Ouvi dizer que até o tar do tereré tá infectado, ic, ic, ic...
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Dourados, 2 a 8.3.2020 O PROGRESSO
Economia
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Diretoria BPW: Sandra, Evânia, Jaqueline, Irma, Ely e Cristiane
BPW Dourados agrega e fomenta mulheres de negócios e profissionais Instituição tem a missão de agregar público feminino e promover o crescimento mútuo Há um ano e meio a maior rede de mulheres de negócios e profissionais, instituição não governamental de âmbito internacional, sem fins lucrativos, apartidária, e não assistencial com atuação em diversos estados do Brasil se instalava em Dourados. Nascia a Business Professional Women - BPW Dourados - com a promessa de agregar o público feminino, descobrir seus potenciais empreendedores e promover o crescimento mútuo, independente do seu ramo de atuação, como empresárias ou profissionais liberais.
Durante o ano, as BPWs Dourados atuam localmente em duas campanhas: O Março é Mulher e o Doando Vida Fundada com o número de cem associadas, a instituição tem na presidência a comunicadora Evânia Ribeiro, editora da Revista Celebrar e apresentadora do Programa Cidade Mais da TV Record. Sempre buscando fomentar as ações e eventos promovidos pela BPW Dourados, Evânia busca motivar a participação das mulheres que se dividem entre as múltiplas atribuições de trabalho e os compromissos familiares. “Diante do tempo de existência da BPW internacional criada em 1930, e em Mato Grosso do Sul, Campo Grande, com mais de
BPWs Dourados em Assembleia realizada na ACED trinta anos, eu digo que a nossa associação está apenas iniciando suas atividades e buscando se acertar e se firmar como entidade forte e que representa as mulheres empreendedores que tem conquistado cada vez mais seus espaços dentro da sociedade”, disse Evânia que destaca também a importância do envolvimento dos membros de sua diretoria executiva que é participativa e atuante. Entre as ações da instituição, as Comissões de Trabalho são responsáveis por desenvolver projetos sócio culturais e de fomento à
economia e ao bem estar. Dourados conta com as Comissões de Negócios, Responsabilidade Social, Meio Ambiente, de Saúde, Jurídica e mais recentemente, foi criada a Comissão de Direitos da Mulher. Durante o ano, as BPWs Dourados atuam localmente em duas campanhas que são desenvolvidas em âmbito nacional: O Março é Mulher, com a realização de evento que contempla o público feminino e o Doando Vida, com foco na responsabilidade social como entidade integrada à comunidade, visando au-
mentar o número de doadores, não apenas de sangue, mas em todos os tipos de doações, e conscientizar a população, notadamente as mulheres, da importância deste ato de solidariedade. Além da presidente Evânia, a Diretoria Executiva da BPW Dourados conta com a participação de Sandra A. de Oliveira, como 1ª Vice-presidente; Jaqueline V. Dierings, 2ª Vice-presidente; Cristiane Iguma Câmara; 2ª Secretária; Irma Lupinetti, 1ª Tesoureira e Ely Oliveira Semmelroth, 2ª Tesoureira.
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Academia douradense relata ter maioria mulheres durante aulas de lutas
Mulheres vão à luta para se defender Aulas de defesa pessoal podem diminuir a violência doméstica Renato Giansante A violência contra mulheres vem aumentando a cada ano e segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde) passou a ser um problema de saúde pública que atinge todas as esferas sociais. Mato Grosso do Sul esteve em 3º no ranking nacional de denúncias, mas nem sempre a tão importante denúncia pode ser suficiente. Saber
Cursos de autodefesa para mulheres vêm expandindo com objetivo de trabalhar também a inteligência emocional ao menos a defesa pessoal pode ajudar as mulheres inibirem a violência em alguns casos e evitar problemas maiores. De acordo o jornal Folha de São Paulo, cursos de autodefesa para mulheres vêm expandindo com objetivo de trabalhar também a inteligência emocional. Dados de 2018 (o mais
Águia Negra é goleado na Copa do Brasil Força paulista sobressaiu no segundo tempo e o placar de 6 a 2, acabou eliminando os sul-mato-grossenses A tarefa era difícil, mas o Águia Negra de Rio Brilhante chegou a jogar de igual com a Ferroviária-SP na noite de quarta-feira (26) pela segunda fase da Copa Brasil. Mas a força paulista sobressaiu no segundo tempo e o placar de 6 a 2 na Fonte Luminosa, em Araraquara, acabou eliminando os sul-mato-grossenses da competição.
Centro de Treinamento Fight (CTF) relata ter 60% dos inscritos mulheres recente) do Anuário Brasileiro de Segurança Pública apontam para mais de 1,2 mil feminicídios no país e 263 mil casos de violência doméstica, ou seja, um a cada dois minutos.
Aos oito minutos, Teteu errou passe e a bola recuperada por Tony chegou até Patrick que cruzou para Henan, de carrinho, fazer 1 a 0 para os paulistas. Salomão empatou para o Águia aos 18 minutos, de falta. Tony colocou a Ferroviária novamente a frente do placar em cobrança de pênalti aos 32 minutos. O time paulista conseguiu abrir grande vantagem ainda no primeiro tempo com dois gols nos acréscimos. Aos 46, Claudinho recebeu de Tony e tocou na saída de Filipe. Dois minutos depois, aproveitando uma sobra na disputa entre Filipe e Hygor, o mesmo Claudinho tocou para o gol vazio para fazer 4 a 1. A Ferroviária chegou ao quinto gol aos 13 minutos do segundo tempo. Claudinho avançou pela direita e rolou para Max dominar e bater no canto do goleiro. O Águia chegou a diminuir
Já em Mato Grosso do Sul a cada seis minutos um caso de violência contra mulher foi denunciado pelo serviço Ligue 180, do MMFDH (Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos
Humanos), de acordo com dados de 2019. O terceiro maior do país ficando atrás somente de Rio de Janeiro e Distrito Federal. Com tantos números alarmantes uma parcela de mulheres começa a se preparar para a autodefesa e academias de todo país relatam aumento na procura por aulas de defesa pessoal. Em Dourados, o Centro de Treinamento Fight (CTF) relata ter 60% dos inscritos mulheres e praticando aulas de luta diariamente. “A grande maioria é de mulheres atualmente que nos procuram para não só cuidar da saúde, mas também saber se defender em determinados momentos que possam acontecer em seu cotidiano”, diz o professor do CTF, Leonardo Dias Decian. Na academia, de acordo com Decian, os alunos são colocados no ambiente de enfrentamento e a preparação auxilia até mesmo no psicológico para momentos de tensão. “Há a preparação com o boxe, que são as técnicas de socos, os ataques com cotoveladas e chutes e também o chamado trench, usado, por exemplo, no Muay Thai, que é o agarramento em pé em busca de diminuir os movimentos de ataque do adversário. Dessa forma colocamos as situações de um possível ataque e a preparação não só do contra-ataque, mas também da defesa”, completou Decian. O professor lembra que a autodefesa é importante, mas só deve ser usada para um possível ataque, nunca incentivando a violência e alarmando para não reagir em casos de assaltos.
TIAGO PAVINI/AFE
Águia Negra não resistiu a força do time paulista aos 38 minutos com Pedro, aproveitando toque de Salomão. Aos 47, novo pênalti para a Ferroviária, cobrado agora
por Caio Rangel. Filipe defendeu, mas o próprio atacante aproveitou o rebote para marcar e fechar o jogo em 6 a 2.
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Dourados, 2 a 8.3.2020 O PROGRESSO
Polícia
Em Dourados, quase 3 mil mulheres são vítimas de violência Dados da Polícia Civil mostram ainda que a maior parte das vítimas tem entre 35 e 64 anos FOTOS: DIVULGAÇÃO
Valéria Araújo Dados da Polícia Civil revelam que 2.805 mulheres foram vítimas de violência doméstica em Dourados em 2019. O número mostra que por dia, 8 mulheres são agredidas no município. As vítimas estão distribuídas em 1.529 ocorrências registradas na Delegacia. Isso quer dizer que por várias vezes um registro envolve mais de um denunciante, como a esposa e filhos, por exemplo. A maior parte das vítimas, 1.112 tem entre 35 e 64 anos. Em 2018 foram 1428 ocorrências, envolvendo 2.744 mulheres. Segundo números do Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada duas horas, uma mulher morre no Brasil vítima de violência. O feminicídio está incluído nessa estatística. Em 2018, os registros de crime de ódio contra o gênero feminino aumentaram 12%. Para o delegado regional de Dourados, Lupércio Degerone, o aumento de notificações que chegam até a Delegacia significa que as mulheres estão se sentindo mais seguras em denunciar. Segundo ele, um dos fatores que incentiva a denúncia é a estruturação da Delegacia da Mulher de Dourados.
Em Dourados a mulher vítima de violência não pode retirar a queixa na delegacia contra o agressor “Acreditamos que um dos motivos seja em razão de mudança de sede da DAM, que migrou da area central da cidade para uma região bem populosa e também porque a delegacia se aperfeiçoou, se dotou de melhor estrutura e pôde prestar um melhor atendimento, rápido, preciso e eficaz. Tudo isso porque a nova estrutura garantiu acesso a elas, tendo em vista a localização privilegiada, em área bastante conhecida no bairro Água Boa, um dos mais populosos da cidade. Além disso, a sede oferece salas individualizadas, o que evita qualquer constrangimento para as vítimas”, destacou. Outra causa do aumento seria a integração dos órgãos de segurança. “A agilidade do Ministério Público e do poder judiciário, principalmente nos mandados de prisão, que são rapidamente cumpridas pela Delegacia da Mulher. Então, o agressor passou a perceber que há celeridade e resposta por parte do Estado. As campanhas feitas pelos orgãos de segurança também têm incentivado às mulheres a denunciarem. Acreditamos que não há aumento nos índices ou na violência em si, mas sim na procura que tem crescido porque as vítimas estão acreditando mais nos órgãos de proteção e apoio”, destaca.
Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) orienta vítimas sobre seus direitos O agressor também não tem acesso a vítima, quando é detido. Outro facilitador é o atendimento psicológico para as mulheres e a sala específica da Comissão da Mulher Advogada da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que tem orientado as vítimas sobre seus direitos e garantindo maior segurança. Há 8 anos a Polícia Civil de Dourados, num entendimento com o Poder Judiciário e Ministério Público decidiu que a mulher vítima de violência não pode retirar a queixa na delegacia contra o agressor, que também não consegue se livrar das grades por meio de fiança. Todas as denúncias são levadas ao conhecimento do judiciário, porque no entendimento local o “espírito teleológico da lei não cabe fiança”. Isso tudo porque as mulheres acabam sendo vítimas duas vezes porque muitas vezes eram elas que pagavam a fiança do agressor. Viva Mulher Centro de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, criado em 27 de novembro de 2001, é um serviço de acolhida que oferece acompanhamento psicossocial e jurídico, por meio da Defensoria Pública de Defesa da Mulher, às mulheres em situação de violência doméstica e familiar. O Objetivo do serviço é possibilitar que a vítima se torne protagonista de seus próprios direitos. A unidade fica localizada na Rua Hiran Pereira de Matos, 1520 – Vila Mary.
PONTO A PONTO DADOS Segundo números do Núcleo de Estudos da Violência da USP e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, a cada duas horas, uma mulher morre no Brasil vítima de violência. FEMINICÍDIO Em 2018, os registros de crime de ódio contra o gênero feminino aumentaram 12%.
“O aumento de notificações que chegam até a Delegacia significa que as mulheres estão se sentindo mais seguras em denunciar” Lupércio Degerone (Delegado regional de Dourados)
DELEGACIA DA MULHER A nova estrutura garantiu acesso a elas, tendo em vista a localização privilegiada, em área bastante conhecida no bairro Água Boa, um dos mais populosos da cidade. Além disso, a sede oferece salas individualizadas, o que evita qualquer constrangimento para as vítimas.
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Rede de enfrentamento Criada em 2015 no município de Dourados a rede de enfrentamento, formada por diversos órgãos públicos de proteção, ajudam a empoderar as mulheres contra os agressores. Trata-se de uma série de serviços e ações voltados para garantir a aplicação da Lei Maria da Penha. A rede é formada pela Delegacia da Mulher, Programa Viva Mulher, Defensoria Pública, 13ª Promotoria de Justiça e 4ª Vara Criminal. Em qualquer um desses serviços que a vítima procurar, ela ingressará na rede de atendimento com serviços psico-sociais que visam ajudar no que for preciso para que ela garanta sua integridade. Mais recentemente a rede ganhou a parceria do Estado e do Hospital Universitário que, através do projeto “Sala Lilás”, garante que vítimas de estupro receba atendimento de saúde, psicológico, de assistência social e policial, tudo num único espaço.
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O PROGRESSO
Dourados, 2 a 8.3.2020
CLASSIFICADOS/ATOS OFICIAIS EDITAL DE CONVOCAÇÃO COOPERATIVA DE CRÉDITO RURAL COM INTERAÇÃO SOLIDÁRIA DO MATO GROSSO DO SUL - CRESOL MS CNPJ/MF N° 23.256.599/0001-24 NIRE N° 54400005462
REQUERIMENTO DE AUTORIZAÇÃO AMBIENTAL - AA EDITAL GDM GENÉTICA DO BRASIL S.A., torna Público que requereu do Instituto de Meio Ambiente de Dourados (MS) – IMAM, a Autorização Ambiental - AA, para a atividade de Comércio atacadista de sementes, flores, plantas e gramas, localizada na Rua João Damaceno Pires, 1035, Bairro Jardim Água Boa, no município de Dourados (MS). Não foi determinado Estudo de Impacto Ambiental.
CONVOCAÇÃO DE ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA O Diretor-presidente da Cooperativa de Crédito Rural com Interação Solidária do Mato Grosso do Sul – Cresol MS, no uso das atribuições que lhe confere o Estatuto Social, convoca todos os associados desta Cooperativa para Assembleia Geral Ordinária, que realizar-se-á no dia 13 de março de 2020, no Auditório da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul – UEMS, situado na Rua Rogério Luiz Rodrigues, s/n, Centro, Glória de Dourados, MS, CEP 79.730-000. A instalação da Assembleia será às 17:30 horas, em Primeira Convocação, com a presença mínima de 2/3 (dois terços) dos associados; às 18:30 horas, em Segunda Convocação, com a presença mínima de 50% (cinquenta por cento) mais um dos associados; e às 19:30 horas, em Terceira e Última Convocação, com, no mínimo, 10 (dez) associados, para deliberarem sobre a seguinte ORDEM DO DIA: I – Prestação de contas do exercício 2019, compreendendo: a) Prestação de contas do Conselho de Administração; b) Parecer de Auditoria Externa sobre as demonstrações financeiras; c) Parecer do Conselho Fiscal. II – Destinação das sobras apuradas no exercício 2019. III – Fixação dos honorários, gratificações e cédulas de presença para o Conselho de Administração e o Conselho Fiscal. IV – Assuntos gerais de interesse social. NOTAS EXPLICATIVAS: 1) Para efeito de quorum legal, a Cresol MS possui, nesta data, 1484 (mil quatrocentos e oitenta e quatro) associados. 2) A Assembleia Geral realizar-se-á no Auditório da Universidade Estadual do Mato Grosso do Sul – UEMS, por não haver espaço suficiente na sede da Cresol MS. Glória de Dourados, MS, 27 de fevereiro de 2020.
OLÁCIO MAMORU KOMORI DIRETOR-PRESIDENTE
3421-0018 ▶ BALLET ▶ JAZZ ▶ HATHA YOGA
▶ ▶ ▶
DANÇA CONTEMPORÂNEA DANCEHALL E DANÇAS URBANAS BALLET GYM E RITMOS
DIA A DIA
Paula Ribeiro: a mulher por trás da delegada PÁG. 4
De doméstica a chef gourmet PÁG. 2
Dourados, 2.3 a 8.3.2020 O PROGRESSO DIVULGAÇÃO
A maioria encontrou na arte uma forma de conquistar a liberdade e a independência financeira
MULHERES DO SEMIABERTO fazem do trabalho ferramenta para recomeçar
Ao todo, 82 reeducandas de Dourados devem deixar o presídio com uma profissão garantida Valéria Araújo Mulheres do Presídio Semiaberto de Dourados fazem do trabalho uma oportunidade para recomeçar. Elas passaram pelo crime, que separou mães dos filhos, mas o aprendizado e as oportunidades os une novamente. É com essa certeza que elas são movidas e encontram forças para recomeçar um novo futuro. Ao todo, são 82 reeducandas no Semiaberto de Dourados. A maioria encontrou na arte uma forma de conquistar a liberdade e a independência financeira. Com uma
Com os cursos oferecidos, elas aprendem de tudo e “pintam e bordam” literalmente profissão definida e voltada para o que elas melhor sabem fazer, as internas têm a certeza de que uma vida nova as espera quando deixarem a instituição. Com os cursos oferecidos, elas aprendem de tudo e “pintam e bordam” literalmente. Ao dominarem o artesanato elas produzem bijuterias como colares, brincos e afins com excelência profissional. Elas também produzem bonecas de pano, fazem arte em MDF, costuram, bordam, produzem vasos, doces e salgados e ainda apreenderam o manejo de plantas medicinais. Tudo o que produzem é comer-
cializado numa loja que elas tem na própria unidade e que fica a disposição da população. O dinheiro que arrecadam pagam novos cursos e parte fica para elas, que podem continuar vendendo o que gostam de produzir e aumentar a renda. São com essas novas profissões que as mulheres do Semiaberto deixam o crime e mostram que a ressocialização é possível no Brasil, tanto que quem passou por lá não reincide e também não tenta fugir, apesar dos portões estarem sempre abertos. “Nós temos uma relação de confiança aqui dentro e vivemos praticamente como uma família. As novatas que entram conhecem nosso modelo de trabalho e acreditam por meio das que já estão aqui, que o que queremos é realmente que elas saiam melhores do que entraram e isso passa por oportunidades de trabalho e aprendizado, através dos cursos que são ministrados. No mundo do crime não é necessário ter especialização, por isso é mais fácil estar nele. Se a pessoa tem uma profissão, ela não precisará seguir por esse caminho da criminalidade”, destaca a diretora do Semiaberto Luzia Aparecida Ferreira, considerada a “mãezona” das internas. “Todos aqui, sejam servidores da Agepen ou reeducandas dão exemplo de dedicação e trabalho duro por um objetivo único que é a ressocia-
lização por meio do aprendizado”, acrescenta a diretora. Mãe só vê os filhos nas audiências A reeducanda Sueli Aparecida do Nascimento, de 44 anos descobriu nos bordados uma maneira de traçar o futuro. Com os filhos presos, ambos no Presídio Estadual de Dourados, o que ela mais deseja é voltar a ganhar um abraço deles. Enquanto esse dia não chega, ela se ocupa com o artesanato que produz e com as vendas. “A gente se fala apenas por cartas e um deles não vejo há mais de um ano. A gente se encontra apenas em audiências na Justiça. Essa separação é doída e sofrida. Não desejo que nenhuma mãe do mundo passe por isso. Tenho fé em Deus que no ano que vem poderei ver minha família reunida novamente porque ambos já teremos cumprido nossa pena e teremos vida nova com tudo o que tenho aprendido aqui”, destaca. Sueli trabalhava como auxiliar de produção quando viu seus dois filhos serem presos. Ao tentar pagar uma dívida de um deles no presídio, foi presa tentando entrar com droga na penitenciária. Depois de cumprir parte da pena na Penitenciária de Campo Grande, ela foi para o Semiaberto no regime fechado, local em que encontrou apoio. “Aqui a gente se trata como família e quer o bem uma da outra. Essa relação familiar foi de grande importância para eu voltar a ter esperança de dias melhores”, destaca.
“Todos aqui, sejam servidores da Agepen ou reeducandas dão exemplo de dedicação e trabalho duro por um objetivo único que é a ressocialização por meio do aprendizado” Luzia Aparecida Ferreira (Diretora do Semiaberto) Modelo para o Brasil O Semiaberto de Dourados tem 82 reeducandas nos regimes aberto, semiaberto e fechado. A cada três meses que se dedicam ao trabalho ganham 1 mês de remissão da pena. A instituição é modelo de ressocialização, tanto que já foi sondado para ser apresentado ao país. A diretora da unidade atribui esse sucesso, aos servidores da Agepen e a parceria da 3º Vara Criminal de Dourados, que tem custeado cursos e matéria-prima para que as reeducandas possam aprender, além de buscar parcerias para vagas de emprego nas empresas. Esse apoio volta em benefício da sociedade porque, além de contribuir para a formação de cidadãs conscientes, elas também se dedicam por aqueles que precisam. No local são confeccionadas dezenas de perucas com cabelo humano doado. Sem ganhar nenhum centavo nesse trabalho elas produzem as perucas com todo o carinho para uma finalidade nobre: doar a pacientes de câncer.
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Dourados, 2 a 8.3.2020 O PROGRESSO
Dia a Dia
De doméstica a chef gourmet Trabalho doméstico trouxe muitas conquistas e orgulho na vida de dona Josenilda Cristina Nunes Especial para O Progresso
FOTOS: DIVULGAÇÃO
A rotina de trabalho doméstico de dona Josenilda Ramos dos Santos, de 49 anos, começou cedo. Ainda criança, aos 9 anos, ela passou a trabalhar fora de casa, fazendo limpezas em residências. Apesar das dificuldades, é com essa profissão que ela conseguiu realizar muitos sonhos e agora está prestes a concluir o curso de tecnólogo em Gastronomia na Unigran (Centro Universitário da Grande Dourados). Josenilda nasceu em Naviraí (MS), mas já se considera uma douradense, pois mora no município há mais de 30 anos. “Me orgulho do meu trabalho, pois foi através dele que consegui conquistar a casa própria, ajudar no sustento e formação acadêmica da minha filha e hoje pago a minha faculdade”, relatou Josenilda. Para que o sonho de se tornar uma tecnóloga em gastronomia se concretize, Josenilda batalha bastante, tornando-se um exemplo de superação e força de vontade. Todos os dias ela sai cedo de casa, percorre alguns quilômetros de bicicleta até a residência onde trabalha, no Jardim Europa. “Chego a tardezinha, tomo um banho e vou correndo para a
Filha de dona Josenilda relata que sente muito orgulho da mãe. “Ela sempre trabalhou de doméstica e fez de tudo por mim a vida toda.” faculdade, de bicicleta também, volto só depois das 22h”, afirmou a doméstica. Josenilda tem planos para quando terminar a faculdade. “Pretendo continuar me aperfeiçoando nos estudos e quero conhecer a Itália, que é uma referência mundial em gastronomia”, destacou. A jovem Luana Ramos Batista, Josenilda nasceu em Naviraí, mas já se considera uma douradense de 24 anos, filha de dona Josenilda relata que sente muito orgulho da mãe. “Ela sempre trabalhou de doméstica e fez de tudo por mim a vida toda. Depois que me casei e terminei a faculdade de pedagogia, ela iniciou a dela”. “Tive uma filha na adolescência, desde o início ela sempre cuidou de mim e da minha filha, nunca me deixou parar de estudar, sempre se ‘virou nos 30’. Sendo assim eu devo, sem dispensar o auxílio do meu pai e do meu esposo, tudo a ela”, contou a jovem. Em entrevista ao PROGRESSO, a Presidente da Associação das Empregadas Domésticas de Dourados, Rosimar Rosa Vieira, foi enfática ao dizer que a classe merece respeito. “As domésticas podem sim viajar para praia, ter carro, é uma profissão digna. Infelizmente na minha época não éramos tratadas com dignidade na maioria dos lugares. Mas hoje podemos viver uma vida diferente”. Curso de tecnólogo em Gastronomia na Unigran
PEC DAS DOMÉSTICAS: 7 ANOS DE UMA CONQUISTA
Advogado Wander Medeiros Em 2013 foi promulgada a Emenda Constitucional 72, mais conhecida como a PEC das Domésticas (PEC 66/2012). Em abril deste ano completa-se 7 anos dessa conquista. Os trabalhadores domésticos adquiririam uma jornada de trabalho de 8h por dia, totalizando 44 horas semanais, passando a ter direito à horas extra e aos demais direitos assegurados no regime CLT (Consolidação das Leis do Trabalho). Em entrevista ao PROGRESSO o advogado Wander Medeiros, Presidente da Associação dos Advogados Trabalhistas e Previdenciários de Dourados e Itaporã destacou após se passar 7 anos da aprovação da PEC não houve desemprego em massa, conforme questionado na época. “Não temos dados de diminuição de mercado para empregadas domésticas por causa da aprovação dos direitos, o que se vê é os empregadores se adequando a lei. Há sim um número alto de desempregados e muita informalidade, mas isso faz parte do cenário geral da economia fragilizada”, explicou Wander. De acordo com o advogado após a aprovação não houve aumento de processos. “Caiu a demanda de ações do juizado da Justiça do Trabalho, isso como fruto da Reforma Trabalhista das mudanças trazidas pela Lei nº 13.467/17”, afirmou. Apesar das conquistas, ainda há muita luta. “O grande desafio para a classe dos domésticos é a conscientização para a formalização. Atualmente quase não existem mais dúvidas jurídicas para o empregador, o assunto foi muito divulgado e eles estão cientes dos direitos. O patrão sabe bem o que tem que cumprir, o que ocorre são questões econômicas e históricas, muitos ainda não se conscientizaram e não dão o devido reconhecimento a classe”, destacou Medeiros.
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Dourados, 2 a 8.3.2020 O PROGRESSO
Dia a Dia
Ministério Quase 15% dos partos da Saúde feitos no HU de Dourados são de adolescentes Saiba mais
Em Dourados, não se tem notícia de campanha específica de prevenção promovida pela Secretaria Municipal de Saúde este ano
DIVULGAÇÃO
Marli Lange Gravidez na adolescência ainda é um tema que preocupa algumas autoridades de saúde pelo Brasil afora. Em Dourados, segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, o número de adolescentes que engravida ainda pode ser considerado bastante significativo, levando em consideração estatísticas de partos feitos na maternidade do HU (Hospital Universitário), que é referência na saúde pública da Grande Dourados. Apesar de ter reduzido, das 3.445 mulheres que deram a luz na maternidade em 2019, 493 foram meninas menores de 18 anos, ou seja, 14,32% dos partos. Esse número diminuiu em 2,76% em relação a 2018, quando 507 adolescentes deram a luz na unidade de saúde, que atende pacientes de toda região Sul. Em Mato Grosso do Sul, dados levantados pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) apontam que em 2018, 6.495 adolescentes entre 10 a 19 anos engravidaram e deram à luz. Desses, 3.166 são adolescentes até 17 anos, sendo 344 até 15 anos. Apesar de ter diminuído o número de adolescentes que engravida, o Brasil ainda está acima da média mundial. Atualmente, o país, segundo dados de
Das 3.445 mulheres que deram a luz na maternidade em 2019, 493 foram meninas menores de 18 anos 2018 da OMS (Organização Mundial da Saúde), a taxa de adolescentes grávidas é de 68,4% bebês nascidos de mães adolescentes a cada mil meninas de 15 a 19 anos. O índice brasileiro está acima da média latino-americana, estimada em 65,5. No mundo, a média é de 46 nascimentos a cada mil. A boa notícia é que esse número vem diminuindo desde 2015. De lá para cá, a queda é de 27%, segundo o Ministério da Saúde. Riscos Um estudo do Ministério da Saúde, chamado Saúde Brasil, indica uma das maiores taxas de mortalidade infantil entre mães mais jovens (até 19 anos), com 15,3 óbitos para cada mil nascidos vivos (acima da taxa nacional, de 13,4 óbitos). A gravidez no começo da adolescência apresenta riscos à vida da mulher, assim como a gravidez tardia. Além disso, o código penal brasileiro classifica como crime a relação sexual com menor de 14 anos. Ao engravidar, muitas meninas abandonam os estudos. Cerca de 20% das adolescentes que engravidaram deixaram de estudar, segundo pesquisa do EducaCenso 2019 que contemplou
Para incentivar o debate sobre a gravidez precoce e os riscos e consequências, o Ministério da Saúde lançou este mês a campanha “Tudo tem seu tempo: Adolescência primeiro, gravidez depois”, promovida em conjunto com o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, a proposta é despertar a reflexão e promover o diálogo entre os jovens e as suas famílias em relação ao desenvolvimento afetivo, autonomia e responsabilidade. “Alguém tem que falar que tem consequências e procurar uma maneira de minimizar o problema. Estamos falando de comportamento. Alguém tem que levantar esse assunto, pois o nosso número é muito alto”, alerta o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta. “Este é um tema transversal e exige esforços de todos, com abordagens para diferentes fases da adolescência”, completou Mandetta.
QUANDO A ADOLESCENTE ENGRAVIDA VÍTIMA DE UM ESTUPRO?
A gravidez no começo da adolescência apresenta riscos à vida da mulher cerca de metade das escolas públicas e privadas do país. Ao todo, 91.740 escolas responderam e informaram que, em 2018, 65.339 alunas na faixa etária de 10 a 19 anos engravidaram. Foi o caso da jovem douradense, hoje maior de idade, que não quis se identificar. Ela contou ao O PROGRESSO Online que engravidou aos 15 anos, fruto de um relacionamento amoroso de um ano. Ela relatou que quando descobriu a gravidez teve que se ausentar da escola logo aos quatro meses de gestação devido a sobrecarga dos estudos conciliados ao trabalho. Ela disse que a mãe, quando descobriu a gravidez dela, resistiu à ideia, porém, apoiou a filha e hoje “não desgruda mais do netinho”, disse a jovem. Hoje ela encontra-se casada com o pai da criança, ela disse que a gravidez precoce ajudou a ficar mais madura e responsável, mas não aconselha porque é bastante dificil, teve que abrir mão de muitas coisas e o preconceito das pessoas ainda é muito grande. O que fazer? Em Dourados não se tem notícia de alguma campanha específica de prevenção direcionada às adolescentes promovida pela Secretaria Municipal de Saúde do município este ano. O setor de Atenção Básica informou que faz, no decorrer do ano, nas unidades de saúde nos bairros, orientações em geral sobre saúde, incluindo o tema, mas nenhuma campanha educativa específica e direcionada. Em 3 de janeiro de 2019, foi criada a Lei nº 13.798 instituindo Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência, lembrada anualmente na semana que incluir o dia 1º de fevereiro. Neste período, atividades de caráter preventivo e educativo são desenvolvidas em conjunto com o poder
público e organizações da sociedade civil para disseminar informações que contribuam para a redução da gravidez precoce no Brasil. No Estado, este ano, alguns setores lembraram a data e realizaram campanhas específicas, como a Subsecretaria Estadual de Políticas Públicas para Mulheres, que realizou campanhas nas Unidade Educacional de Internação (UNEIs). Em Campo grande, onde pelo menos 13% das mulheres que tiveram filhos foram jovens menores de 19 anos, a Prefeitura promoveu campanhas nas UBSs (Unidades Básicas de Saúde) e UBSFs (Unidades Básicas de Saúde da Família). Na Capital, somente em 2019 foram mais de 1,8 mil crianças que nasceram de mães com idades entre 10 e 19 anos. A Cassems (Caixa de Assistência dos Servidores do Estado de Mato Grosso do Sul) também realizou campanha, tendo em vista que das 11,6 mil meninas que fazem parte da cartela de beneficiários, 617 ficaram grávidas entre os anos de 2015 e 2019 em Mato Grosso do Sul. Dados alarmantes que reforçaram a importância de falar sobre o tema, envolvendo atenção integral à saúde de meninos e meninas, beneficiados com o plano. “Não vai ser com imposição de quando uma pessoa deve começar a vida sexual que nós vamos ajudar, mas podemos orientar sobre as consequências, sobre prevenção”, comentou a ginecologista Tatiana Serra em materia publicada pelo site Campo Grande News. O “Papo Reto” é uma das iniciativas da campanha de instrução para os jovens, idealizado pela Cassems. Nele, os adolescentes atendidos pelo plano se reúnem para rodas de conversa médicos e psicólogos, para conversar sobre
O dado perverso é bem menor, mas acontece. Entre 2011 e 2016, o Brasil registrou mais de 32 mil casos de estupro de garotas entre 10 e 14 anos, dendo 1.875 delas acabaram engravidando de seus algozes. Não se sabe quantas dessas gestações foram até o fim. Mas o fato é que meninas que tiveram a infância usurpada pelo abuso sexual, além de lidar com as consequências do trauma, como a depressão, descobriram que carregavam no ventre um fruto da dor. Na maioria dos casos (68,5%), o autor da violência que resultou em gravidez foi um parente ou alguém em quem a vítima confiava. Em Mato Grosso do Sul um dos casos mais recentes e divulgado pela mídia este mês, foi de uma menina de 11 anos, que era estuprada pelo próprio pai e que ficou grávida. O homem acabou sendo condenado a 23 anos por violentar e engravidar a filha, segundo site Campo Grande News. A violência contra a menina ocorreu nos anos de 2016 e 2017. Por medo, menina se calou. Ela engravidou, mas bebê teve quadro de hidrocefalia e morreu. A menina contou que o primeiro abuso aconteceu quando retornava da escola para casa. No trajeto, foi levada para o mato e violentada. A violência se repetiu por mais de 10 vezes. O TJ (Tribunal de Justiça) negou o recurso do pai da menina e redimensionou a pena para 23 anos e quatro meses. O processo tramitou em segredo de Justiça. as vivências da adolescência, como os perigos do uso de drogas, sexualidade, saúde mental e física. “São 24 mil adolescentes na Operadora, a maioria em Campo Grande. Durante a infância, são acompanhados na Pediatria. No entanto, no período da adolescência, há um afastamento dos cuidados com a saúde. Algumas jovens ainda vão ao ginecologista, em decorrência da menstruação, mas os meninos só voltam à ir ao médico na vida adulta, geralmente, na Urologia. Precisamos cuidar dos nossos adolescentes”, pontua a diretora de Assistência à Saúde da Cassems, médica ginecologista e obstetra, Maria Auxiliadora Budib.
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Dourados, 2 a 8.3.2020 O PROGRESSO
Dia a Dia
Paula Ribeiro: a mulher por trás da delegada Em todos os lugares está rodeada de mulheres que a inspiram VINICIOS ARAÚJO
Vinicios Araújo O olhar sereno, a voz suave e as roupas delicadas, conseguem disfarçar bem a postura ‘linha-dura’ da delegada Paula Ribeiro, responsável pela DAM (Delegacia de Atendimento à Mulher) de Dourados. Quem a vê nas rotinas policiais, praticamente não a percebe. E essa aparência quase que à paisana, já fez ela prender bandido em flagrante só ouvindo confissão despercebida. Paula Ribeiro entrou na Polícia Civil de Mato Grosso do Sul há 10 anos. Bacharel em direito, a delegada hoje serve de exemplo para muita mulher que sonha com a realização profissional. Já atuou em Sete Quedas, Corumbá e hoje realiza o sonho de trabalhar em Dourados. “Todas as minhas solicitações de remoção eram destinadas a Dourados. A cidade tem praticamente tudo o que Campo Grande oferece, mas não perde as características de interior. Isso sempre me encantou”, afirma. De Coxim, Paula veio de família tradicional. Dentro de casa era ‘Paulinha’. Mesmo após 10 anos dentro da corporação, a mãe da delegada ainda não consegue entender como ‘a princesinha’ ficou tão confortá-
de quebrar ossos que levava, mas sim por fome e sede. Histórias como essa ainda embargam a voz da investigadora. Em casa Paula é esposa, ‘mãe’ de dois cachorrinhos, como ela gosta de se referir aos animais, e extremamente reservada. Caseira, o hobbie com o marido, escrivão da polícia civil, é maratonar séries policiais. Na cozinha quem comanda o fogão é ela. Paula sabe fazer de tudo, agora está buscando aprender a preparar risoto. E na hora de descarregar no estresse da rotina policial, ela mete o pé na rua para correr e treina também na academia. Em todos os lugares está rodeada de mulheres que a inspiram. “Eu aprendo muito mais com elas, do que elas comigo”, faz questão de ressaltar. Questionada sobre um desejo pessoal, a investigadora diz torcer por um país que valorize muito mais as forças policiais. Intercambista nos Estados Unidos, ela teve a oportunidade de voltar no ano passado a Chicago onde conheceu agentes da polícia americana. “Lá o reconhecimento é constrangedor. Minha mãe disse que nem ela mesmo me apresenta com tanta honra como fizeram comigo. Meu sonho é que policial no Brasil seja visto como alguém que se esforça para fazer muito mais do que aquilo que lhe compete. A gente não toca só na segurança, a gente toca no social, no indivíduo humano”, conta.
COMBATE À VIOLÊNCIA
Em 2016 veio para Dourados. Era um dos seus propósitos de vida. “Eu me senti realizada. Eu sonhava em vir pra cá” vel com a rotina intensa das forças policiais. “Minha mãe sempre me acompanhou em cada passo dentro do direito. Uma vez, durante um plantão, ela ficou impressionada por causa de um interrogatório com traficante. Ela se escondeu no banheiro”, lembra. O fato ocorreu quando atuava em Corumbá. Após a formação da filha, a mãe da investigadora também se inspirou a formar-se em direito. Hoje, enquanto a filha aplica a lei, a mãe advoga.
lher. Em 2016 veio para Dourados. Era um dos seus propósitos de vida. “Eu me senti realizada. Eu sonhava em vir pra cá. Cheguei onde eu queria na minha carreira”.
A trajetória Em 2006 Paula Ribeiro concluía a formação acadêmica. Bacharel em Direito, estudando na Capital, ela precisou dar aulas de inglês para custear o investimento na faculdade. Nunca teve contato profissional com o meio jurídico, até que foi convidada para assessorar uma juíza que havia sido promovida para Coxim. Lá a delegada começou a dar os primeiros passos na defesa dos direitos da mulher. Em outubro de 2009 entrou na academia de polícia em MS, voltando para Campo Grande. Seis meses depois estava à frente da Delegacia de Sete Quedas. Anos depois foi para Corumbá, onde atuou no 1° Distrito Policial e posteriormente na Delegacia de Atendimento à Mu-
Ser delegada Carregar a responsabilidade do cargo de delegada da mulher não é pesado para Paula. Ela reconhece a importância e a expressividade da função, mas faz da rotina profissional um aprendizado diário. “Eu gosto de ouvir histórias, conhecer a trajetória de vida das pessoas”, conta. Entre os colegas e nas diligências, surge a Paula ‘linha-dura’. Com firmeza pra falar, e ríspida no trato policial, a delegada sabe colocar ‘macho’ violento no seu devido lugar. Mas de forma nenhuma, a postura ‘durona’ não desfez a sensibilidade humana que a delegada carrega. Casos como de Yara Macedo dos Santos, assassinada a tiros pelo ex-marido na frente do filho do casal, de 14 anos, mexem ainda com a in-
“Cheguei onde eu queria na minha carreira” vestigadora. Durante as diligências descobriu-se que a vítima na verdade havia rompido com o relacionamento ao descobrir um câncer. O filho que viu a mãe ser assassinada, acompanhou o pai no dia da compra do revólver. O discurso do assassino era de que a ex-mulher havia o traído. Para o filho ele dizia que iria matar o homem que tirou a mãe do garoto de casa. Os autos ainda revelaram que a vítima era humilhada, agredida e sempre diminuída em sua autoestima. Casos que envolvem crianças também marcam a história da delegada. Em Sete Quedas ela prendeu um abusador em série. Num outro caso ficou extremamente dedicada na busca por um assassino, quando descobriu que na verdade a criança havia morrido após uma queda de bicicleta dentro de um lago. Já em Dourados, prendeu um casal de tios em flagrante após a morte de uma criança que sofria violência dentro de casa. Pior foi descobrir que o menino não morreu pelas surras
Quando o assunto é combate à violência contra a mulher, Paula Ribeiro é incisiva. Não mede esforços e apresenta com orgulhos o trabalho da equipe, a cooperação com outras frentes e os números registrados pela estatística da polícia. “A Delegacia da Mulher foi construída de forma afetiva, acolhedora. Temos uma equipe multidisciplinar, disposta a dar à vítima exatamente o que ela precisa. Aumentamos nos últimos anos a progressão das medidas protetivas e isso tem um significado muito importante pra nós. Mostra que a mulher está definitivamente assumindo seus direitos”, relata. OS NÚMEROS 2015 Nº de boletins registrados: 915 Nºs de medidas protetivas de urgência: 349 2016 Nº de boletins registrados: 917 Nºs de medidas protetivas de urgência: 566 2017 Nº de boletins registrados: 1008 Nºs de medidas protetivas de urgência: 772 2018 Nº de boletins registrados: 882 Nºs de medidas protetivas de urgência: 842 2019 Nº de boletins registrados: 1025 Nºs de medidas protetivas de urgência: 1008
Escritora aponta discriminação contra mulheres na literatura PÁG. 2 Mulheres pioneiras dão nome a ruas de Dourados PÁG. 3
CADERNO B Dourados, 2 a 8.3.2020 O PROGRESSO
ELVIO LOPES/ARQUIVO
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Integrantes da Academia Feminina de Letras e Artes de Mato Grosso do Sul (Aflams), após posse em 30 de abril do ano passado
Mato Grosso do Sul tem Academia Feminina de Letras e Artes As Imortais foram escolhidas por suas representatividades nestas áreas em suas comunidades em MS Therezinha de Alencar Selem* Especial para O Progresso A Aflams Academia Feminina de Letras e Artes de Mato Grosso do Sul, foi fundada em 30 de abril de 2019, sob a liderança da advogada, poeta, embaixadora da Paz Delasnieve Miranda Dáspet de Souza, sua Presidente. A Aflams é constituída de 40 cadeiras e as mulheres que as preencheram no ato de fundação são as suas imortais, que significa dizer, quem as substituir daqui para frente, ocuparão as cadeiras mantendo os seus respectivos nomes, enquanto a mesma existir.
A Sede da Aflams ainda está em andamento, as reuniões regulares são realizadas em espaços oferecidos por acadêmicas É finalidade da Aflams congregar mulheres atuantes na sociedade nas áreas da literatura, das artes e das ações sociais. As imortais foram escolhidas por suas representatividades nestas áreas em suas comunidades em Mato Grosso do Sul, e as que, vierem a assumir suas cadeiras passarão por concorrência à vaga apos análise de seus currículos. Do ponto de vista de sua gestão, a Aflams tem uma diretoria constituída, suas ações são estabelecidas em Estatuto e Regimento, mensalmente
AS ACADÊMICAS DA AFLAMS
Delasnieve Miranda Dáspet de Souza Presidente
e de forma obrigatória as confreiras participam das reuniões de trabalho, organizam-se em comissões ou núcleos para executarem projetos, eventos, encontros, constituem parcerias com o poder público e ou privado na consecução de metas e objetivos planejados para o respectivo exercício. Os Projetos Sociais comunitários ou no âmbito profissional praticados pelas confreiras podem ter a chancela da Aflams. Os Projetos da Aflams propriamente ditos, previamente planejados pelos respectivos núcleos ou setores, e aprovados pela Diretoria, devem ter um cunho sóciocultural, socioeducativo, de assistência social ou segurança social. Para 2020 constituiu-se os Núcleos de Literatura, de Artes, Social, Jurídi-
As acadêmicas foram empossadas em 30 de abril do ano passado, em sessão solene de instalação da Academia Feminina de Artes e Letras de Mato Grosso do Sul (Aflams), na Assembleia Legislativa do Estado, tendo como presidente a poeta de Delasnieve Miranda Daspet de Souza titular da cadeira nº 01; cadeira 02, Maria Helena Sarti; 03 - Aida Machado Domingues (in memorian); 04 – Maria Teresa de Mendonça Casadei; 05 – Blanche Maria Torres; 06 – Rosangela Villa da Silva; 07 – Rosemari Gindri; 08 – Edineide Dias de Oliveira; 09 – Marlei Sigrist; 10 - Marilena da Silva Grolli; 11 – Ana Lúcia Iara Garborim Moreira; 12 – Silvia Regina Ferreira Tavares Farina; 13 – Lúcia Monte Serrat Alves Bueno; 14 – Aurineide Alencar de Freitas Oliveira; 15 – Therezinha de Alencar Selem (vice-presidente); 16 – Viviane Machado de Melo Vazes; 17 – Yrama Barbosa de Barros; 18 – Maria José de Jesus Alves Cordeiro; 19 – Martha Ribeiro Brum e, 20 – Valmira Garcia de Oliveira. Na cadeira 21 – Mirian Eiko Suzuki; 22 – Neyla Ferreira Mendes; 23 – Kenia Magalhães Braga; 24 – Luciana Mariz Pinto Nunes Rondon Carvalho; 25 – Daniela de Cássia Duarte; 26 – Ledir Marques Pedrosa: 27 – Sonia Cristina de Albuquerque Narciso; 28 – Angela Cristina Colognesi dos Reis; 29 – Sonia Maria Ruas Rolon; 30 – Marta Martins de Albuquerque; 31 – Cilene Alves Ferreira de Queiroz; 32 – Helita Barbosa Serejo Fontão; 33 – Severina da Silva; 34 – Laís Dória Passos Monteiro de Barros; 35 – Lucimara de Oliveira Calvis; 36 – Ana Aparecida Arguelho de Souza; 37 – Erika de Oliveira Rando de Oliveira; 38 – Maria Caroline Bertol Trindade; 39 - Eldirce Isabel dos Reis Fioresi e 40 – Ilva Maria Xavier Canele. A lista com as acadêmicas consta no www.academisfemininadeletraseartesms.blogspot.com co, afim de se equacionar melhor os projetos, atos e eventos da Academia. A Aflams é uma academia que se quer cada vez mais produtiva. São muitas as competências nas pessoas de suas sócias, quer no campo social, educacional, pesquisa, Letras e Artes. A Sede da AFLAMS ainda está em andamento, razão pela qual as reuni-
ões regulares são realizadas em espaços oferecidos por acadêmicas. A Aflams é constituida de muitos talentos, eclética sob o ângulo religioso e político, é uma entidade ativa, produtiva e apesar do pouco tempo de existência já passa a ser identificada e reconhecida no contexto social. (*1ª Vice Presidente da AFLAMS.)
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Dourados, 2 a 8.3.2020 O PROGRESSO
Caderno B ENTREVISTA · Ivone Macieski - Poetisa
Escritora aponta discriminação contra mulheres na literatura Rozembergue Marques Especial para O PROGRESSO
Frases “A grande maioria de escritores são homens. Há uma dificuldade em romper a barreira masculina na literatura canônicamente e, quando algumas poucas atingem esse patamar sofrem rótulos”...
Para falar sobre a mulher no cenário literário, O Progresso entrevistou a escritora, poetisa, formada em letras e arquitetura Ivone Macieski. Morando há mais de 20 em Dourados, Ivone já exerceu o cargo de presidente da Academia Douradense de Letras (ADL)e possui vários livros publicados, além de ter sido condecorada, no final do ano passado com o Título de Cidadã Douradense. Abaixo, a íntegra da entrevista. Como é ser mulher e escritora? Desafiador. A grande maioria de escritores são homens. Há uma dificuldade em romper a barreira masculina na literatura canônicamente e, quando algumas poucas atingem esse patamar sofrem rótulos... Ora é vista como uma feminista (Clarice Lispector), ora tem sua obra interpretada como machista, ou como uma escrita masculina, caso recente da escritora Luisa Geisler, uma jovem escritora gaúcha nos seus 20 anos. É um universo complicado esse do ser feminino na literatura. Como você se tornou escritora? Foi acontecendo aos poucos. Na infância eu ouvia as histórias que minha mãe contava. Um dia ganhei um diário e comecei escrever coisas minhas nele, coisas de uma adolescente que vivia seus conflitos. Depois no primário uma das professoras nos apresentou a poesia, e isso me despertou para iniciar algo nesse sentido. Um dia apareceu um escritor em nossa escola, fizemos amizade e lhe mostrei meus rabiscos em grafite mesmo, e então aconteceu de participar de um concurso de poesia, pela Editosul e minha poesia - Porto Refugio - foi uma das selecionadas. Foi o pontapé inicial para que começasse, de fato, a pegar gosto em me expressar através da escrita. Depois nasceu meu primeiro “filho livro”, Poesias para Alguém. Na época era casada e o título já causou comentários (quem seria esse alguém a quem escrevi as poesias, aff ). Depois vieram outros livros de poesias, participações em coletâneas, as crônicas para o O Progresso, que virou uma coleção de cinco volumes pequenos e um romance. Ser escritora foi pura inspiração? Depende do contexto e do momento. Preciso me interessar pelo tema,
Escrever é libertador, é o melhor tratamento psicológico que existe! Ao escrever tira-se o peso dos ombros, percorre-se espaços diversos em segundos! “Meus livros são meus filhos, e como toda mãe sou ciumenta”
senão a coisa vira um parto doloroso. Não sou de escrever sobre política, racismo, gêneros sexuais, essas coisas. Às vezes, passo anos sem escrever nada, se for o caso, sem me afligir. Meus livros são meus filhos, e como toda mãe sou ciumenta. Prefiro guardá-los e protegê-los, a vê-los em mãos de quem não gosta de ler. Dói-me ver um livro tratado sem importância, com a capa rasgada. Porém amei ter meus livros afanados em uma exposição. D certa forma foi um elogio: quem cometeu tal ato certamente gostava de ler e não podia comprar. Então, apesar do prejuízo fiquei satisfeita! Como é esse caminhar pela literatura enquanto mulher? Fascinante! Escrever é libertador, é o melhor tratamento psicológico que existe! Ao escrever tira-se o peso dos ombros, percorre-se espaços diversos em segundos! Quando se põe algo no papel é apenas o escritor e seu momento; mas quando o que se escreveu cai nas mãos do leitor, é simplesmente fantástico; ocorre inúmeras interpretações, um exemplo disso é meu livro “José - um Romance Virtual”, não há uma interpretação igual a outra. Cada pessoa que lê, vê a historia de um jeito. É algo muito par-
ticular, pois ele foi elaborado numa linguagem totalmente virtual, possui ilustrações e os personagens sofrem todos os conflitos de uma relação, desde a paixão, desentendimentos, distâncias, retornos, e termina como a vida é. Aqui no Estado me parece que sou pioneira nessa concepção de escrita virtual impressa. Como fica o reconhecimento nesse universo de escritores? Em segundo plano, eu diria. Homens são mais elogiados, seus livros são mais resenhados, ganham mais prêmios; se prestar a atenção em livros escritos por homens, o personagem principal é masculino, quase não se vê uma mulher como protagonista, isso é fato! Uma ocorrência no mundo inteiro, não apenas na literatura, mas nos cinemas, teatro, séries, enfim... A mulher quando escreve algo que pensa, logo adquire um rótulo, ou de feminista, racista, ateia, etc.. Qualquer coisa mais ousada vira polêmica, quando na verdade estamos apenas expressando nosso ponto de vista. Se nos colocamos de igual para igual somos machistas, se falamos de nossos anseios e desejos, nos chamam de feministas e, o pior de tudo, na maioria das vezes, são as próprias mulheres que fazem isso umas com as outras.
Fala-se muito por aí em liberdade de expressão - isso é balela! Outro dia fui atacada nas redes sociais por ter expressado meu lado político. Nem me dei ao trabalho de responder às mulheres que me criticaram (e olha que são mulheres que se dizem cultas) mas se possuem tanta cultura porque a critica à forma como penso? não sou obrigada a comungar do mesmo pensamento que elas. Posto em minha rede social o que penso, leio o que o que outras pessoas publicam e tomo para mim o que acho que devo tomar, não saio atacando ninguém. Aprendi em casa desde pequena isso. De que me adianta ostentar títulos disso e daquilo, me dizer culta se não respeito o pensamento do outro? Estudar sobre cultura é uma coisa, ser culto é outra. De onde vem a cultura machista de uma maneira geral? Não cabe a mim levantar alguma bandeira, porém observando os fatos desde sempre, concluo que o machismo vem das mulheres. São as mulheres que educam os filhos(as), visto que o homem é o provedor e não tem tempo de desempenhar esse papel de educador. Me pergunto onde está a liberação feminina que tanto se fala, se a retaliação ocorre no seio familiar até hoje. Ser mulher é complicado, precisa ter jogo de cintura para lidar com as mais variadas situações. Há discussões sobre a mulher de uma maneira geral. Se for bonita então a situação torna-se delicada; e se for inteligente, bem sucedida, falante, alegre, desinibida e em evidência, qualquer coisa que diga ou faça a olham com restrições. Até a sexualidade dela é criticada; ela pode vivê-la, mas não proclamá-la. Para mim não passa de uma falsa igualdade. E quando escritoras como Adélia Prado escreve que “cú é lindo”, vira um estardalhaço. Fico imaginando como essa poesia foi recebida pela sociedade da época; o que essas mulheres têm de diferente é a coragem de dizer o que pensam e imaginam. Nada mais que isso! Podem me chamar de antiquada, mas gosto de ser tratada como uma flor e ser chamada de meu amor; não me considero feminista, nem machista, porém devemos viver dentro das regras sociais de ir e vir, falar e ser; cada um deve viver e ter suas particularidades. Aí é que esta a graça da existência. As diferenças é que são interessantes, não a imposição; aceitar o outro como é sem torcer o nariz, poucos sabem fazer sem ironia ou hipocrisia. Sou de poucos amigos, e muitos conhecidos, raras são as pessoas que conhecem meu eu, que levo a minha casa. Prefiro a paz do meu canto, minha concha, onde entra só quem deixo entrar! Sou o que sou, não vou me encaixar onde, ou em situações, por mera conveniência, nem cobrar propina para melhorar o negócio de alguém... Não deixo de ser mulher, por pensar o que penso, nasci mulher e volto sendo mulher quantas vezes preciso for (sem apologias). Sou feito borboleta, minha passagem por aqui é breve, então passarei suavemente, assim do jeitinho que sou, maluquinha, como alguns dizem...
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Dourados, 2 a 8.3.2020 O PROGRESSO
Caderno B
Mulheres pioneiras dão nome a ruas de Dourados
Na semana da Mulher, O Progresso conta o histórico de Hilda Bergo Duarte, Eulália Pires e Olinda Pires de Almeida. Poucas são as ruas de Dourados que homenageiam as mulheres Flávio Verão Poucas são as ruas de Dourados que homenageiam mulheres. Na semana do mês da mulher, O PROGRESSO traz o histórico de três pioneiras. Uma delas, Hilda Bergo Duarte, é a única do sexo feminino que nomeia a grande região central da cidade, quadrilátero que compreende a rua Cuiabá a Monte Alegre (norte a sul) e da General Osório a Santos Dumont (leste a oeste). As outras duas são mãe e filha: Eulália Pires e Olinda Pires de Almeida. Hilda Bergo Duarte era conhecida por ser uma mulher bondosa, que sempre tinha uma palavra amiga para as pessoas e um gesto de carinho para os enfermos, principalmente no Hospital Evangélico. Filha de João Bergo e Henriqueta Vecchi Bergo, nasceu em 17 de março de 1910 e veio para Dourados em agosto de 1946, com o marido Antônio Alves Duarte, responsável por dirigir a instalação e a construção do Hospital Evangélico.
Poucas são as ruas de Dourados que homenageiam mulheres; no centro só há uma: Hilda Bergo Duarte Eulália Pires foi casada com Marcelino Pires, um dos principais pioneiros da cidade e que dá nome a avenida mais conhecida Dona Hilda Bergo, como era chamada, foi secretária e supervisora do hospital por 16 anos. Ocupou importantes funções na sociedade douradense, sendo presidente da Casa da Amizade, da Sociedade Auxiliadora Feminina. Ela socorria famílias necessitadas, com assistência médica, remédios, roupas. Foi enfermeira e uma das primeiras professoras de Dourados, no ginásio (atual ensino fundamental) da extinta escola Osvaldo Cruz. Na área da arte, criou o primeiro grupo teatral da cidade. Com Antônio Alves Duarte teve os filhos Wilson, Norma, Thais, Antônio Eugenio e Hilda Henriqueta, além da filha do coração Maria de Lurdes (Lurdinha). Dona Hilda morreu aos 52 anos. Família Pires Eulália Pires nasceu em 21 de fevereiro de 1872 em Uberaba (MG). Casada com Marcelino Pires, um dos principais pioneiros da cidade e que dá nome a avenida mais conhecida, foi filha de Manoel Inácio Garcia Pereira e de Maria Tosta. Com Marcelino teve os filhos: Olinda, Fabia-
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Eulália Pires foi casada com Marcelino; eles foram pioneiros na, Josué, Diolinda, Selanira, João, Maria, Elizanira, Landolfo, Raul e Juvenal. Conforme relatos históricos, o casal teria chegado em Dourados no ano de 1903, onde tomaram posse de uma grande área de terras denominada Fazenda Alvorada, onde atualmente é o Clube Indaiá. Neste local criaram os filhos e tiraram o sustento de toda a família. Criavam animais e tinham as mais diferentes tipos de plantações. Além de dona de casa, Eulália ajudava nos trabalhos da fazenda. Com a morte de Marcelino, em 1915, Eulália casou-se com Realino, com quem não teve filhos. Com sua morte, em 1950, nomeou rua que passa por vários bairros na região leste e sul como Cachoeirinha, Maringá, vila Rui Barbosa. Olinda Pires de Almeida era a filha caçula de Eulália e Marcelino. Ela nasceu em 6 de agosto de 1914, cerca de 6 meses antes da morte do pai. Ainda jovem casou-se com Sidinez Pereira de Almeida, com quem teve 11 filhos: Edson, Odair, Wilson, Valter, Ize, João, Ramão, Eulália, Antônio, Olinda e Lucineia. Junto ao marido e os filhos, Olinda morou em uma fazenda na região do rio Dourados. Dona de casa, ajudava o marido no dia a dia da propriedade rural, que tinha gado e variedade de plantações. Sua morte ocorreu em 1999. Seu nome homogenia rua que passa por vários bairros na região norte da cidade, como BNH II Plano, Vila Progresso, Vila Aurora.
JUSSIMARA DE SOUZA/DIVULGAÇÃO
Hilda Bergo Duarte foi enfermeira e professora em Dourados
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Olinda era filha caçula dos pioneiros Eulália e Marcelino Pires
ERRATA Na última edição, na matéria da página 5 de Polícia intitulada “Maior facção criminosa da Venezuela tem célula em Dourados”, O PROGRESSO divulgou pesquisa da ONU que mostrou que 59% dos venezuelanos refugiados e migrantes venezuelanos estão sem trabalho. Por equívoco, O PROGRESSO, não mencionou que a referida pesquisa foi feita em Roraima o que levou a entender que pudesse ter sido feita em Mato Grosso do Sul.
Dourados, 2 a 8.3.2020 O PROGRESSO
COLUNA DA ADILES
NOSSA HOMENAGEM A TODAS AS MULHERES
Adiles do Amaral Torres
“É próprio da mulher o sorriso que nada promete e permite tudo imaginar.”
Carlos Drummond de Andrade
PELO SEU DIA (10 DE MARÇO)
adiles@progresso.com.br
“Mulher poema, mulher dilema, és coração, força que emana Amor que é chama, és o mistério da encarnação”
Thais Iguma (Imob. Continental)
Raquel Rezende (Arezzo Dourados)
Gorethy (Gorethy Lingerie)
Ely Oliveira (Buffet Luzly)
Liana Pietramale (Kikão Restaurante)
Margit Amaral
Mara Caseiro
Mônica Moreira
Neusa Carvalho Amaral Gedalva Benitez
Angela Santa Cruz (Armazen Calçados)
Simone Tebet Marta Campos (Marta Campos Lingerie) (Senadora)
Marisa Serrano (Aposentada TCE)
Lori Gressler
Soraya Thronicke (Senadora)
Patrícia Oliveira Leite Josephina Capilé (Esposa do dep. Marçal) (Creche André Luiz)
Odete Cardoso Correia Maria Guilhermina Ortiz Clarice Maciel
Ivanilde Teixeira
Maria Dobbins Azambuja Iniz Ferraz
Ana Tereza de Lucia (Ginecologista)
Jaqueline Machado Simone Depiere Rocha Délia Razuk (Coord. da Mulher TJ) (Advogada) (Pref. de Dourados)
Daniela Hall (Vereadora)
Paula Ribeiro (Delegada DEAM)