DOURADOS MS ANO 70 Nº 13.641
O PROGRESSO
7 de setembro de 2020
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Suicídio pode ser evitado quando há abertura ao diálogo
DIA A DIA ‘Abana o Rabo’
“Muita gente desconta no animal, como se ele tivesse culpa”
“Setembro Amarelo” chama atenção para a prevenção. No ano passado, 263 pessoas morreram em MS por atentarem contra a própria vida; outras 3.370 sofreram tentativa PÁG. D5
Companhias reduzem ofertas de voos para Dourados
Gisele Pizzini idealizou o ‘Abana Rabo’ para abrigar cachorros resgatados em Dourados. PÁG. D6
Izomar Gonçalves
“Mais de 40% das mulheres que sofrem violência permanecem caladas”
PÁG. D3
Entrevista
Após retomarem voos depois quatro meses de suspensão em razão da pandemia do novo coronavírus, as companhias aéreas que atendem em Dourados decidiram reduzir as operações na cidade. Cada uma delas conta com quatro voos por semana. PÁG. D1
Festival Águas Claras, 39 anos de um movimento musical brasileiro Por Vander Verão, (especial para O Progresso) O II Festival de Águas Claras, fazenda no município de Iacanga, interior de São Paulo, aconteceu durante os dias 5, 6 e 7 de setembro de 1981, com várias atrações consideradas de peso como Raul Seixas, Hermeto Pascoal, Gilberto Gil, Alceu Valença e Luiz Gonzaga, por exemplo. PÁG. B2 O Festival de 1981 foi considerado pela mídia como o mais importante
ACERVO VANDER VERÃO
CADERNO B
“Crises de enxaqueca podem ser mais intensas e constantes na pandemia”
PÁG. D7
Política
Informe C: Querendo voltar para a Câmara de Dourados PÁG. A4
Direitos
Home office é alternativa para trabalho em isolamento PÁG. D2
Covid
Jovens têm pouco sintomas e são resistentes ao isolamento social PÁG. D4
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Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO
Opinião Fim da Lava jato
A
força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, berço da operação e com 400 inquéritos em andamento com várias frentes de investigação, como casos envolvendo empreiteiras, empresas estrangeiras e multinacionais que firmaram contratos com a Petrobras, enfrenta pressões em meio à discussão sobre o fim do grupo em menos de um mês. Há cerca de 200 inquéritos abertos pela polícia e outros 200 pelo Ministério Público Federal. Existem ainda apurações sobre lavagem de dinheiro com galerias de arte e iniciativas sob sigilo e inéditas que envolvem políticos que perderam foro privilegiado, além de tratativas sobre eventuais acordos de delação premiada e de leniência em curso. Essas linhas de investigação da
EDITORIAL
força-tarefa de Curitiba podem ser afetadas caso o procurador-geral da República, Augusto Aras, um crítico antigo da Lava Jato, decida não renovar até o dia 10 de setembro a designação dos procuradores do grupo. O debate sobre a prorrogação da força-tarefa ocorre no pior momento da operação, admitiram fontes envolvidas. Entre os vários pontos de atrito recentes entre apoiadores e críticos da Lava Jato estão pedidos para afastar o coordenador da força-tarefa em Curi-
tiba, Deltan Dallagnol, suspensos pelo Supremo Tribunal Federal e que já deixou a operação; a derrubada recente de decisões sobre a Lava Jato no Supremo e a possibilidade de novos reveses, inclusive em processos que envolvem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva; o aumento das críticas à operação no Congresso com ameaças de CPIs, e a aproximação do presidente Jair Bolsonaro com parlamentares do centrão, muitos deles alvos da operação. Grupo de 14 procu-
radores, com o auxílio de 45 servidores, quer seguir com as investigações e argumenta que, além de uma série de inquéritos para tocar, tem tido um histórico eficiente: até julho de 2020, foram recuperados quase 15 bilhões de reais aos cofres públicos; firmadas 209 delações premiadas e 15 acordos de leniência; houve 71 fases, 532 pessoas acusadas criminalmente em 125 denúncias; 263 condenações de 165 pessoas. Deflagrada em 2014, a Lava Jato percorreu todos esses anos sem que ao menos se pensasse que seria interrompida, mas desde o ano passado há forças no governo que querem encerrá-la. Parece mesmo que as investigações estão na cola de quem ocupa o poder. A quem interessa o fim da Lava jato?
Surge um novo perfil de administrador no contexto da Indústria 4.0 VANESSA ESTELA KOTOVICZ ROLON*
*Doutora em Administração e coordenadora do curso de Administração do Centro Universitário Internacional Uninter
O
mundo empresarial da Indústria 4.0 vem promovendo um impacto tão forte que esse movimento foi denominado como a “Quarta Revolução Industrial” impactando na gestão, que acabou sendo denominada de Gestão 4.0. Na primeira revolução que ocorreu no século XVIII, tivemos o advento das máquinas a vapor e do uso do carvão como combustível. Na segunda Revolução, que ocorreu na segunda metade do século XIX, a eletricidade foi a grande invenção, também causando uma grande transformação nos modos de produção. A terceira Revolução, que ocorreu em meados do século XX, trouxe a automação das máquinas, o uso dos computadores, a internet e um prenúncio do que estava por vir: a “Quarta Revolução Industrial” que ocorreu na virada deste século, a digitalização e o mundo virtual, que estão colocando a humanidade em outro patamar de interação e desenvolvimento, pois as próprias máquinas poderão decidir a hora de aumentar ou reduzir a produção, de ligar ou desligar, ainda será possível aumentar o uso da capacidade, racionalizar a produção e reduzir o consumo de energia elétrica. A partir da digitalização, toda a fábrica estará conectada, desde a produção até o sistema de logística e os depar-
tamentos de marketing e vendas. Não será mais necessário fazer uma programação, pois as próprias máquinas tomarão as decisões sobre qual melhor caminho a seguir. Máquinas conversarão com máquinas, com peças, com ferramentas e com seres humanos. Ao longo dos anos, a tecnologia permitiu às empresas que passassem de produtoras para prestadoras de serviços, e a possibilidade de ocupar espaços de mercado, criar mercados inexistentes, empresas de serviços surgiram para mostrar que há formas diferentes de ver as cadeias de valor, empresas que destruíram as cadeias de valor existentes e construíram novas, exemplos clássicos são o UBER e Airbnb. Dentro desta dinâmica de rápidas transformações, há resistências de alguns profissionais que foram afetados diretamente por estas novas tecnologias, porém, apesar da resistência deles e algumas vezes da sociedade, devido a interesses de minorias, as empresas continuam inovando e quebrando paradigmas, como é o caso do UBER que já opera carros autônomos na capital dos EUA, assim como a startup ARGO, apoiada pela Wolkswagen e Ford que faz testes desde 2018. Elon Musk, CEO da TESLA, afirmou, durante a abertura da Conferência Mundial de Inteligência Artificial (WAIC), em Shanghai na China, que também está muito próximo de produzir carros completamente autônomos, nível 5 FSD (Full Self Driven). Outros setores como o agrícola, que robotizam suas linhas de produção, aumentam a oferta de serviços online e respondem a cada demanda com inteli-
gência artificial, como na pecuária que por meio de inseminação artificial aceleraram o ganho genético de bovinos. O setor de Turismo e Transporte Aéreo estão atentos às mudanças tecnológicas e investem em novas experiências de consumo, é o caso da empresa AZUL que investe em uma startup no vale do Silício para enviar óculos de realidade aumentada para seus clientes conhecerem lugares que pretendiam conhecer presencialmente. O setor de Esporte tem vários exemplos, um deles é o óculos de natação inteligente, desenvolvido pela FORM, o dispositivo permite que atletas visualizem métricas de desempenho em realidade aumentada enquanto se movimentam na água. Enfim, a tecnologia avançou e alcançou todos os setores. Para o consumidor, o principal impacto dessa revolução tecnológica é a personalização dos produtos. Isso porque as máquinas receberão diretamente os pedidos ou as informações de comportamento do cliente e oferecerão o que ele quer. Diante deste cenário tecnológico, virtual, de inteligência artificial, como fica a profissão de administrador? Não haverá mais o gestor dentro deste contexto da Revolução 4.0, considerando que boa parte da tomada de decisão será realizada por algoritmos? Esse é ponto crucial para estes profissionais, a necessidade de desenvolver novas competências e habilidades em um cenário que permitiu e tem permitido uma transformação ainda maior nas formas de dirigir as empresas, na competitividade dessas empresas no mercado e que
inevitavelmente passa por mudanças no tipo de profissional necessário para fazer parte desse momento, portanto, o ponto principal é a mudança de papel do administrador e do tipo de tarefas que irá exercer. Isso exigirá competências tais como: capacidade analítica e entender como as máquinas funcionam ou “pensam”. Sem esses dois pontos fica difícil participar desse Universo 4.0. Nesse cenário de mudança, o papel do gestor terá que ser ressignificado, reciclado, reinventado, para que novas práticas e processos sejam implantados. Outro aspecto que os administradores da Gestão 4.0 não podem esquecer são os aspectos humanos das organizações. Muitas empresas globais enfrentam o dilema de destruir cidades inteiras ao robotizar suas linhas de produção. Criar estratégias para preparar os funcionários para essas transformações precisa fazer parte do trabalho dos líderes. Deduz-se que diante da complexidade da tomada de decisão pelo gestor, a competência necessária passará pelo entendimento do algoritmo. Isso implica numa ampliação do conteúdo para campos de conhecimento que não existiam há anos atrás: IA, Machine Learning e algoritmos, para citar alguns, e a pensar em formas criativas de tornar negócios viáveis em um mundo onde a produção ocorre em esteiras inteiramente automatizadas e o que se entrega realmente são os serviços agregados. Além de conhecimentos técnicos, saber compartilhar e viver em comunidades de aprendizado-ensino online (life long learning), ser empreendedor e resiliente, competências cada vez mais necessárias à Gestão 4.0.
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Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO
Política
Jeferson defende devolução da gestão plena de saúde Pré-candidato a prefeito pelo PMN diz que, se eleito, Dourados não será responsável pelos serviços do SUS de média e alta complexidade Flávio Verão Uma ameaça que se estende por duas gestões municipais, de devolver a gestão plena da saúde de Dourados para o Governo do Estado, é uma das propostas do pré-candidato a prefeito pelo PMN, o jornalista Jeferson Bezerra. O partido irá realizar convenção partidária no dia 16, data limite para definir candidaturas para prefeito, vice-prefeito e vereadores no País. Há 19 anos Dourados é gestão plena na saúde, ou seja, responsável pelos serviços do SUS (Sistema Único de Saúde) de média e alta complexidade. A medida chegou a ser ameaçada na gestão passada e na atual da
Plano de demissão voluntária é uma das propostas do pré-candidato em Dourados prefeitura como pedido de “socorro” para aumentar os recursos para atender a população de Dourados e de 33 municípios da região. Criação de uma Ouvidoria Municipal com cinco dias de prazos para a solução das demandas, redução de cargos comissionados, institucionalização de um plano de demissão voluntária aos mais de 6 mil servidores que estejam em funções “ociosas”, a digitalização de 100% da burocracia da máquina administrativa, criação de uma previdência complementar ao funcionalismo, intermediar debates pela emancipação político-administrativa do Distrito de Itahum, ampliação
das parcerias com a Federação das Indústrias de Mato Grosso do Sul (Fiems) pela criação de cursos de qualificação profissional do sistema S, especificamente nas aldeias indígenas, construção de mais dois Centros de Referência Especializada em Assistência Social (Creas) regionalizados em novos bairros, também são propostas de Jeferson Bezerra, caso seja eleito. Ainda propõe a implantação de restaurante popular destinado à população de baixa renda, abertura de editais para concessão pública/ privada da gestão do Estádio Douradão assim como todas praças esportivas e áreas afins, recriação do Orçamento Participativo, fortalecimento da rede de economia solidária e agricultura familiar. “Há mais de 40 anos os mesmos agentes públicos se mantém no poder em Dourados, precisamos reedificar a prática política a partir do protagonismo das pessoas, fortalecer a rede de assistência social com os equipamentos já existentes, tais como os nove Centro de Referência em Assistência Social (Cras), uma política habitacional que induza parcerias pela construção de novos loteamentos sociais, fortalecimento dos microempreendedores com linhas de financiamento próprias, combater os disparates na violência contra a juventude negra e da periferia que tenha idade entre 15 a 29 anos, mas estejam no caminho do tráfico de drogas, isso é eliminado com políticas afirmativas (escola integral, cursos profissionalizantes e encaminhamento ao mercado de
DIVULGAÇÃO
Jeferson Bezerra é pré-candidato a prefeito pelo PMN trabalho)”, disse o pré-candidato. Conforme Jeferson Bezerra, o Partido Verde (PV ) sinalizou apoiar o PMN numa eventual aliança, dada as bandeiras semelhantes no plano de governo, como defender a ampliação dos índices de ICMS ecológico arrecadados por Dourados graças à nossa Reserva Indígena, a concessão da gestão dos Parques Ambientais às parcerias público/ privadas, modelos já adotados em grandes metrópoles do país, assim como o cadastro de projetos junto ao Banco Habitar Brasil Bird para a urbanização de favelas, projetos já inseridos entre 2001 a 2008 na gestão do ex-prefeito Laerte Tetila.
TSE decide que adiamento de eleições libera candidatura de ficha-suja O primeiro turno será em 15 de novembro e o segundo está marcado para 29 de novembro O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiu que a mudança na data das eleições devido à pandemia de covid-19 beneficia candidatos que estariam impedidos de disputar o pleito com base na Lei da Ficha Limpa. Por maioria de votos, os ministros entenderam que os candidatos não estão mais inelegíveis com a alteração. O caso foi decidido por meio de uma consulta feita pelo deputado federal Célio Studart (PV-CE), questionando se um candidato cuja inelegibilidade vencia em outubro, quando se realizaria a eleição, pode ser considerado elegível para disputar o pleito em 15 novembro, nova data da eleição estabelecida pelo Congresso. O parlamentar argumentou que, na nova data, já estaria vencido o prazo de oito anos de inelegibilidade para os condenados por abuso de poder político e econômico nas eleições de 2012, por exemplo. Isso porque, nesses casos, conforme deliberado pela própria Justiça Eleitoral, a contagem teve como marco inicial o dia 7 de outubro, data do primeiro turno da eleição daquele ano. Devido à pandemia da covid-19, o Congresso promulgou emenda constitucional que adiou o primeiro turno das eleições deste ano de 4 de outubro para 15 de novembro. O segundo turno, que seria em 25 de outubro, foi marcado para 29 de novembro.
Deputado Marçal alerta para a prevenção ao suicídio Ele é coordenador da Frente Parlamentar de combate a depressão e ao suicídio O deputado estadual Marçal Filho (PSDB) chama a atenção para a prevenção de casos de suicídio. A pandemia do novo coronavírus mudou a rotina das pessoas, trouxe desafios e incertezas, impactando ainda mais na saúde mental. “Esse assunto não pode continuar sendo tabu, precisamos falar”, diz o deputado, que é coordenador da Frente Parlamentar de combate à depressão e ao suicídio na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Dados da Rede Psicossocial da Secretaria de Estado de Saúde mostram que 263 pessoas morreram no ano passado em Mato Grosso do Sul por atentarem contra a própria vida. No mesmo período, 3.370 pacientes foram atendidos em unidades de saúde por tentativa de suicídio. No entanto, há muita subnotificação e os casos de tentativas de suicídio podem ser bem maiores. Por muitos anos, falar sobre suicídio
foi um tabu. Mas a abordagem do problema está mudando. “O silêncio é o que mata”, diz Marçal Filho. “É importante reconhecer quando a pessoa precisa de ajuda”, alertou. O deputado já participou de inúmeros debates sobre o tema e como coordenador da Frente Parlamentar de combate à depressão e ao suicídio tem desenvolvido trabalhos de prevenção. Ele é autor de lei que obriga o poder público a colocar em locais de grande circulação, cartazes com o número 188, do CVV (Centro de Valorização da Vida). Para este número as pessoas podem ligar gratuitamente e obter apoio emocional. Também é autor de lei que prevê campanha permanente de informação, prevenção e combate à depressão em Mato Grosso do Sul. Como forma de aprimorar as políticas públicas sobre o assunto, Marçal Filho ainda tem Projeto de Lei que tramita na Assembleia Legislativa sobre a obrigatoriedade dos estabelecimentos de ensino e de saúde notificarem às autoridades públicas competentes sobre a prática de violência autoprovocada: automutilação e tentativa de suicídio. O Estado é o terceiro no
ARQUIVO
COLONO - Cumpadi prá armenta a irmunidade tô fazendu exercicio e tentando pará de beber... ZÉ PINGA - Tô tentando mas ficá em casa me obriga a bebe, ic, ic, ic...
Deputado Marçal Filho ranking nacional em casos de suicídio. Marçal Filho também tem defendido a presença de psicólogos e de assistentes sociais nas escolas. Ele já promoveu audiência pública na Assembleia com a presença de profissionais sobre o assunto e diz que continuará com ações que possam sensibilizar o poder público e privado a investir cada vez mais em ações que promovam a saúde mental.
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Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO
Política
Progressista sai na frente na convenção para eleições 2020 PP reuniu militância no feriadão para tratar o processo eleitoral. Escolha dos partidos para prefeito vai até 16 de setembro A temporada de convenções partidárias em Dourados iniciou com PP, do vereador Alan Guedes. De acordo com o novo calendário eleitoral, estabelecido por causa da pandemia da covid-19, o prazo para definição pelos partidos de candidatos aos cargos de prefeito, vice-prefeito e vereador vai até o dia 16 de setembro. A campanha oficial de rua começa dia 27 de setembro. Pela primeira vez na história, por causa da pandemia do novo coronavírus, os partidos poderão optar por realizar as convenções virtualmente. Considerada uma das etapas principais do processo eleitoral, além de escolher os candidatos que disputarão o pleito, nessa reunião, os partidos também decidem se vão participar da eleição majoritária (prefeitos e vice-prefeitos), proporcional (vereadores), ou ambas e sorteiam os números com os quais os candidatos irão concorrer.
Congresso Nacional adiou o dia de votação de 4 de outubro para 15 de novembro O Propressista realizou convenção no feriadão da Independência, 7 de setembro, 10h, na escola estadual Presidente Vargas. Em seu segundo mandato de vereador e na presidência da Câmara Municipal, Alan Guedes decidiu tentar voo mais alto. Aos 34 anos ele é o pré-candidato a prefeito mais jovem. Além de vereador é advogado e professor universitário. Em 2018 Alan disputou eleição para deputado federal, mas não venceu. No sábado, dia 12, será realizada a convenção do DEM, do deputado estadual José Carlos Barbosa, o Barbosinha. O evento será na Câmara de Dourados, às 14h. Ele está no segundo ano de mandato, presidiu a Sanesul, foi secretário de estado de Justiça e Segurança Pública e prefeito na cidade de Angélica, início dos anos 90. Barbosinha também é advogado e professor universitário. O PT, que não concorre
THIAGO MORAIS/CMD
Vereador Alan Guedes é o pré-candidato do Progressista eleições há três pleitos municipais, terá convenção dia 13, às 9h30, de forma virtual. O pré-candidato é o professor universitário João Carlos de Souza, da UFGD. Militante antigo do partido, há três décadas, essa será a primeira vez que ele sai candidato na cidade. O PMN do jornalista Jeferson Bezerra escolheu o dia 16, data limite para convenção. No entanto, há chance de o partido fazer coligação, disputando as eleições apenas com candidatos a vereador. Em 2016 Jeferson disputou vaga na Câmara Municial pelo PV, mas não foi eleito. O PSD da advogada Daniella Hall ainda decidirá a data da convenção partidária. Vereadora de primeiro mandato, ela entrou para a Câmara de Dourados ocupando o cargo de presidente do Legislativo, biênio 20172018. Bastante atuante nas redes sociais, Daniela é dos vereadores que mais fazem cobranças à prefeitura. Quem também ainda decidirá a data da convenção é o PSB do médico oncologista Davi Infante. Médico há 16 anos na cidade, ele tem falado que a pandemia mostrou que pode ter mais uma forma de contribuir com a população, por isso colocou o nome à disposição como pré-candidato a prefeito. Eleições Por causa da pandemia do novo coronavírus, o Con-
gresso Nacional adiou os dias de votação de 4 de outubro para 15 de novembro, no primeiro turno, e de 25 de outubro para 29 de novembro, no segundo turno. Em Dourados, as mulheres são maior número de eleitores (87.660), com o percentual de 53,3%. Já o eleitorado masculino representa 46,7%, totalizando 76.735 eleitores. Saiba mais
Mudanças Por causa da pandemia de Covid-19, o calendário eleitoral de 2020 sofreu mudanças e vários procedimentos também foram adaptados. Além das convenções poderem ser feitas on-line, o registro das candidaturas poderá ser feito pela internet. A redação da ata e o registro da lista de presença poderão ser feitos virtualmente perante a Justiça Eleitoral. O formato também poderá ser adotado para a definição dos critérios de distribuição do Fundo Especial de Financiamento de Campanha. Ferramentas tecnológicas poderão ser usadas livremente pelos partidos, conforme for entendido ser melhor para realizar as convenções. A lista de presença poderá ser registrada por assinatura eletrônica, registro de áudio e vídeo, coleta presencial ou outro mecanismo que possibilite a identificação dos participantes.
INFORME C CÍCERO FARIA cicerolfaria@gmail.com
Querendo voltar para a Câmara de Dourados A eleição de 2020 está ‘ressuscitando’ políticos que já sentiram o gostinho do poder. Vários ex-vereadores, como a Virginia Magrini, Walter Hora, Lia Nogueira e Cemar Arnal, já colocaram sua pré-campanha nas ruas e nas redes sociais e estão correndo atrás do eleitor. Com um salário bruto mensal ao redor de R$ 12 mil, a vaga na Câmara de Dourados está atraindo dezenas de candidatos a vereador, alguns desconhecidos da maioria da população. Esses candidatos estão saindo de bairros ou regiões urbanas; na atual legislatura dois vereadores ‘sairam’ do jardim Flórida. Nesta eleição a grande diferença é que não haverá coligação nas eleições proporcionais, ou seja, é cada um por si, não havendo o chamado ‘voto de legenda’, que em eleições passadas elegeu candidatos com pouco voto e bem votados não ganharam. Em Dourados estima-se que para ser eleito o candidato a vereador precisaria uns 4.000 votos.
Mais tempo A eleição de prefeitos e vereadores ainda passa por adequações para ocorrer em situação de pandemia. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, decidiu ampliar o horário de votação nas eleições em uma hora, além disso, haverá horário preferencial de votação dos idosos. A intenção é garantir mais tempo para que eleitores votem com segurança e tentar reduzir as possibilidades de aglomeração nos locais de votação. Com isso, os eleitores irão às urnas de 7h às 17h no primeiro turno, marcado para 15 de novembro. Haverá horário de votação preferencial de 7h às 10h para pessoas acima de 60 anos, que fazem parte do grupo de risco para o coronavírus. Barroso afirmou que a antecipação do início da votação para 7 horas – em lugar da extensão para 18h -- atendeu os tribunais regionais eleitorais.
Mixaria A queda da inflação fez o governo reduzir o reajuste do salário mínimo para o próximo ano. Segundo o projeto do Orçamento de 2021, enviado ao Congresso, o mínimo subirá para R$ 1.067 em 2021. O projeto da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2021, enviado em abril, fixava o salário mínimo em R$ 1.075 para o próximo ano. O valor, no entanto, pode ser revisto na proposta de Orçamento da União dependendo da evolução dos parâmetros econômicos. Segundo o Ministério da Economia, a queda da inflação decorrente da retração da atividade econômica impactou o reajuste do mínimo.
Matando Agosto foi o mês mais letal da pandemia da Covid-19 em Mato Grosso do Sul, principalmente, em Campo Grande, epicentro da doença no Estado. Mais da metade das mortes registradas por conta do novo coronavírus em MS e também na Capital foram nesses 31 dias. Dados da Secretaria de Saúde do Estado mostram que até o dia 31 de agosto, 862 Mortos pessoas vieram a óbito por Um total de 452 ciclistas conta da Covid-19 em Mato morreram em acidente Grosso do Sul. E 452 mortes com motocicletas, au- ocorreram apenas em agostomóveis, ônibus, cami- to, ou seja, 52% do total dos nhões e outros veículos últimos 5 meses por causa de transporte pesado da doença. em Mato Grosso do Sul nos últimos dez anos, de Mais um acordo com a Abramet O deputado estadual Bar(Associação Brasileira de bosinha, pré-candidato a Medicina de Tráfego). O prefeito de Dourados pelo ano com o maior número DEM, pode ter o apoio do de vítimas foi em 2011, MDB nas eleições deste segundo a pesquisa. Pa- ano. Rumores de bastidora a Abramet, a falta de res indicam que o deputado infraestrutura adequada estadual vai apoiar a candinas cidades, combinada datura do colega de Assemà falta de campanhas bleia Legislativa. Há ainda educativas e de preven- a possibilidade da prefeita ção voltadas ao ciclista Délia Razuk não concorrer são o principal motivo do à reeleição e o PTB acabar crescimento de vítimas. apoiando o Barbosinha.
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Professor de Medicina explica sobre a qualidade do sono PÁG. 8
DIA A DIA Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO DIVULGAÇÃO
Azul vai operar com Embraer 195 em Dourados, com espaço para 118 lugares. A expectativa é a de aumentar a demanda por voos
Companhias reduzem ofertas de voos para Dourados Adaptações podem ter sido feitas em razão da queda de procura por passagens no mês de agosto Flávio Verão Após retomarem voos depois quatro meses de suspensão em razão da pandemia do novo coronavírus, as companhias aéreas que atendem em Dourados decidiram reduzir as operações na cidade. Cada uma delas conta com quatro voos por semana. A Gol, que iniciou voos no início de março, operou por poucos dias
Antes da pandemia, Dourados recebia entre 6 e 10 mil passageiros por mês; em agosto foi 2,7 mil com o Boeing 737-700, capacidade para 138 passageiros. Era a maior aeronave a atuar no município. Com a chegada da pandemia naquele mesmo mês, todos os voos comerciais foram suspensos no aeroporto de Dourados. A companhia voltou a operar no dia 13 de julho com voos diários em parceria com a VoePass, antiga Passaredo. A aeronave utilizada passou a ser da VoePass, com capacidade de 70 passageiros.
No entanto, as companhias mudaram os planos e ainda em agosto os voos reduziram a quatro vezes na semana: segundas, terças, quintas e sábados. De Dourados o voo sai às 4h20 com destino ao aeroporto de Guarulhos (SP). São duas horas de viagem. A volta, de Guarulhos, ocorre às 21h30. Já a Azul retomou as atividades no dia 3 de agosto, com voos de segunda a sexta-feira e com destino a Viracopos, em Campinas (SP), principal centro de conexões da companhia no Brasil. O voo decola às 16h20 de Dourados, e pousa às 19h25 em Campinas. A volta parte às 14h05 de Viracopos e pousa às 15h20 em Dourados. A partir de 14 de setembro, os voos serão às segundas, terças, quintas e sábados. Outra alteração é quanto a aeronave a ser utilizada. Até agora a Azul transporta os passageiros num ATR-72, de capacidade para 70 passageiros, e migrará para um Embraer 195, com espaço para 118 lugares. A expectativa é a de aumentar a quantidade de voos com troca de aeronave. A redução da quantidade de voos
semanais não foi divulgado pelas companhias, mas pode estar relacionado a demanda por passagens. Antes da pandemia, Dourados recebia entre 6 e 10 mil passageiros por mês. Neste mês de agosto caiu para 2.721 usuários, contando voos de ida e volta. Novas regras para reembolso Desde o mês passado está em vigor nova lei sobre reembolso de passagens áereas no Brasil, no período da pandemia. Sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, a Lei 14.034 agrupa uma série de medidas emergenciais que visam diminuir os efeitos negativos da pandemia para o setor de aviação civil. Entre as medidas da nova normativa está o prazo de 12 meses a partir da data do voo cancelado para reembolso. A determinação também é valida para atrasos interrupções. Ainda conforme a lei, em substituição ao reembolso, a companhia aérea poderá conceder a opção de receber crédito de valor maior ou igual ao da passagem aérea, a ser utilizado para a aquisição de produtos ou serviços oferecidos pelo
transportador em até 18 meses, contados de seu recebimento. A lei também prevê que, em caso de cancelamento de voo, a empresa aérea deve oferecer ao consumidor como alternativa ao reembolso a reacomodação em outro voo próprio ou de empresa terceira, e de remarcação da passagem sem ônus. Já o consumidor que desistir de uma viagem, entre 19 de março e 31 de dezembro deste ano, poderá optar pelo crédito de valor correspondente ao da passagem sem qualquer penalidade. O prazo para reembolso do crédito é de sete dias. O texto sancionado estabelece que a indenização por dano moral em processos de consumidores ficará condicionada à prova e isenta companhias áreas de responsabilidade ao se comprovar caso fortuito ou de força maior. Por fim, o presidente vetou a permissão para que trabalhadores do setor que tiveram seus contratos de trabalho suspensos ou reduzidos saquem parte do FGTS. O mandatário justificou a medida alegando que isso poderia descapitalizar o fundo.
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Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO
Dia a Dia
Home office é alternativa para trabalho em isolamento, mas exige atenção aos direitos Segundo Kleber Silva, auditor-fiscal do Trabalho em Mato Grosso do Sul, o empregador não pode repassar seus custos ao empregado O jovem Matheus da Silva* viu os custos de trabalho aumentarem de um mês para o outro. Desde que a pandemia do novo coronavírus chegou a Mato Grosso do Sul, ele foi afastado do cargo presencial na comunicação de uma universidade federal para produzir em casa. O modelo home office, porém, sugere que haja participação da empresa empregadora, a fim de não tornar o trabalho oneroso ao profissional. “Eu to gastando bem mais com comida, a internet, como é pacote, mantém, mas tenho usado bem mais. Eu estou em home office e a universidade não me deu um pingo de suporte. Foi tipo: ‘tem computador em casa? Beleza, home office’. Eu mesmo to com minha mesa digitalizadora quebrada, e azar o meu né, porque meu local de trabalho não está fornecendo aquilo que eles me cobram, aí acaba que todo o material que já era meu quando eu ia trabalhar, deixou de ser só no espaço de trabalho e invadiu minha casa. Então meu pc, hd, cartões de memória, enfim, o que era pra eu encher de
“A pandemia aumentou a quantidade de trabalho realizado em casa e, algumas empresas não estavam preparadas para isso. Temos que ser razoáveis. Se o empregado teve um aumento do consumo de energia em casa comprovadamente devido ao trabalho, poderá exigir uma compensação do empregador. ” Kleber Silva (Auditor-fiscal do Trabalho em MS)
empresa. Ele não entra na questão de verbas indenizatórias. No meu ponto de vista, analiso que como incentivo, se a empresa já fornece o vale-refeição não teria motivo para retirar. Mesmo porque na modalidade home office quem é o maior beneficiado é a empresa. Acaba onerando mais o trabalhador devido a estrutura que ele vai utilizar na própria casa, como um ar condicionado, energia elétrica e telefone, por exemplo. O funcionário é obrigado a bater o ponto? A empresa pode criar um mecanismo de informação que o computador do funcionário tenha um contador de giro e de horas, ou criar rotina de produtividade. Não há essa obrigatoriedade no ponto tradicional.
“Se para realizar as atividades em casa o empregado precisar de equipamentos, isso precisa ser indenizado pelo empregador” projetos pessoais, estão com coisas do trabalho. Aumentou também a luz e os gastos com comida”, relatou. Segundo Kleber Silva, auditor-fiscal do Trabalho em Mato Grosso do Sul, o empregador não pode repassar seus custos ao empregado. Se para realizar as atividades em casa o empregado precisar usar internet e equipamentos, isso precisa ser indenizado pelo empregador. “Isso não é novidade. O Home Office ou teletrabalho já existia. A pandemia aumentou a quantidade de trabalho realizado em casa e naturalmente, algumas empresas não estavam preparadas para isso. Temos que ser razoáveis. Se o empregado teve um aumento do consumo de energia em casa comprovadamente devido ao trabalho, poderá exigir uma compensação do empregador. Como também pode exigir uma indenização pelo uso de seus equipamentos particulares. O empregador deve estimar esses gastos e indenizar o empregado. Isso pode até ser objeto de acordo individual de trabalho ou ainda buscar o sindicato laboral e fazer um acordo coletivo, negociando. Outra via é pedir judicialmente ou ainda fazer uma denúncia para a Fiscalização do Trabalho”, explica. O advogado Ângelo Lins, especialista em direito empresarial, destaca
A empresa é obrigada a disponibilizar a infraestrutura para o home office? Como fica a situação de quem é obrigado a fazer home office, mas não tem internet em casa, por exemplo, e precisa da rede para trabalhar? Sim. A empresa deve fornecer os meios necessários para que o trabalhador possa cumprir com sua função. No caso da exigência do home office e se o trabalhador não tem computador ou internet, é dever da empresa disponibilizar todo o material de trabalho para que ele possa desempenhar sua função.
algumas orientações importantes para a relação entre o empregado e empregador durante o trabalho home office:
do uma modalidade de serviço não há o que se falar em desconto nas férias por que o funcionário estará trabalhando efetivamente.
O home office pode ser descontado das férias? Não pode. Isto porque ele já é uma modalidade de serviço. É trabalho e pode ser monitorado. Isto já ocorre nos grandes centros. Cada empresa cria os mecanismos de verificação e produção de seu funcionário. Sen-
As empresas podem cortar o vale-refeição de quem está trabalhando de casa? Sim. Ele é um benefício fornecido pela empresa pela empresa ao empregado. Como benefício ele pode excluído a qualquer tempo dependendo da capacidade financeira da
A empresa pode demitir durante home office? Pode sim. O home office não cria estabilidade. O empregador e o empregado têm na relação de trabalho, um dos princípios básicos que é a possibilidade do empregador mandar o empregado embora a qualquer tempo, seja por justa causa ou sem justa causa. Quando for sem justa causa o empregador terá que indenizar o empregado. *O nome do personagem entrevistado no início desta matéria foi ficcionado para preservar a identidade.
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Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO
Dia a Dia ENTREVISTA · Izonildo Gonçalves de Assunção Junior - Promotor de Justiça
“Mais de 40% das mulheres que sofrem violência permanecem caladas” Valéria Araújo
Frases
Dados estatísticos nacionais apontam que mais de 40% das mulheres que sofrem violência doméstica permanecem caladas. Em Dourados, o promotor de Justiça da 13ª Promotoria (Enfrentamento e Combate à Violência Doméstica e Familiar contra Mulher), Izonildo Gonçalves de Assunção Junior, explica sobre a chamada ‘violência invisível’. Em entrevista ao O PROGRESSO, o promotor também explicou o porquê embora com medidas protetivas de urgencia, as mulheres continuam morrendo. No período compreendido entre 1 de janeiro de 2020 e 4 de agosto de 2020 foram requeridas em Dourados 576 (quinhentos e setenta e seis) medidas protetivas de urgência. Durante o período de isolamento social em decorrência da Pandemia da COVID-19, no período compreendido entre 15 de março e 4 de agosto de 2020, houve 318 (trezentos e dezoito) pedidos de medidas protetivas de urgência.
“A cada 7,2 segundos uma mulher é vítima de violência física. Em 2013, os dados apontavam que, em média, 13 (treze) mulheres foram assassinadas por dia no Brasil”
O Progresso? O Estado de Mato Grosso do Sul teve 17 casos de feminicídio esse ano. Como combater crimes em tempos de isolamento social? De acordo com dados do IPEA, entre os anos de 2001 até 2011, mais de 50.000 (cinquenta mil) mulheres foram assassinadas no Brasil. A cada 7,2 segundos uma mulher é vítima de violência física. Em 2013, os dados apontavam que, em média, 13 (treze) mulheres foram assassinadas por dia no Brasil. Portanto, se em ‘tempos normais’ os dados de criminalidade contra as mulheres são altos, durante a pandemia, numa situação completamente adversa e desconhecida, com o agravamento dos problemas sociais e de saúde pública, a tendência é o aumento significativo da violência doméstica e familiar. Durante a quarentena, especialmente nos países da América Latina, incluindo o Brasil, houve um aumento significativo da violência doméstica e familiar. Nesse período de exceção, com o aumento da violência doméstica e familiar contra a mulher, a legislação sofreu algumas alterações, como é o caso da Lei n. 14.022, de 7 de julho de 2020, que alterou a Lei n. 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, dispondo sobre medidas de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher e de enfrentamento à violência contra crianças, adolescentes, pessoas idosas e pessoas com deficiência durante a emergência de saúde pública de importância internacional decorrente do coronavírus. É importante compreender, também, que os grupos historicamente discriminados têm menos acesso à moradia, à
“Durante a quarentena, especialmente nos países da América Latina, incluindo o Brasil, houve um aumento significativo da violência doméstica e familiar.” “Feminicídio é uma morte anunciada e evitável” saúde, à educação e ao mercado de trabalho. Esses fatores tendem a gerar mais tensões sociais e familiares. O problema é grande, mas em tempos difíceis de pandemia, os desafios para resolver os conflitos são maiores ainda. Medidas Protetivas de Urgência garantem, de fato, a proteção da vítima? Uma questão fundamental é não acreditar nas falsas narrativas. Uma delas é dizer que as mulheres estão sendo assassinadas com as medidas protetivas nas mãos. De fato, isso pode acontecer, mas é uma exceção. As estatísticas apontam que mais de 40% das mulheres que sofrem violência permanecem caladas, ou seja, nem sequer a família e as pessoas mais próximas têm conhecimento das agressões. É a chamada ‘violência invisível’. Nesse caso, exige-se muito esforço da mulher para lidar com o medo, a frustação, a dor, a angústia e a raiva durante a decisão de quebrar o ciclo de violência. Por isso é necessário denunciar o agressor. Nessa etapa, importante que a mulher oriente a sua conduta e perceba que o rompimento do relacionamento abusivo pode aumentar os riscos de violência. Daí a importância das medidas protetivas de urgência. É preciso dizer com clareza o que fazer e como fazer. Ao registrar a ocorrência, a vítima precisa relatar, com detalhes, o que
aconteceu e quais são as medidas necessárias para proteger a sua integridade física e psicológica. Uma ferramenta nova, e muito importante, é o preenchimento das vinte e sete questões do Formulário Nacional de Avaliação de Risco (CNJ). Com a análise desse documento, as autoridades podem identificar os fatores de risco de atos futuros de violência e concentrar nas medidas de proteção mais adequadas ao caso concreto. Além disso, a vítima precisa comunicar às autoridades, imediatamente, o descumprimento da decisão judicial que deferiu medidas protetivas de urgência. Ainda que esse descumprimento seja apenas o envio de uma mensagem telefônica, eis que o agressor fica proibido de manter contato com a vítima por qualquer meio. Além disso, durante o período conturbado de separação do agressor, a vítima precisa conhecer os seus direitos e reivindicar as medidas adequadas e suficientes a sua proteção e a de sua família. Por que as mulheres continuam morrendo mesmo tendo as Medidas Protetivas de Urgência? A sociedade ainda tem uma tolerância à violência doméstica e familiar contra a mulher. E a vítima tem muita dificuldade em “denunciar” aquela pessoa próxima com quem casou ou mantém relacionamento íntimo de afeto, fez juramentos de
amor e fidelidade. Outra coisa que precisa ser analisada é o tempo que cada mulher demora para denunciar o agressor. Às vezes, essa comunicação do fato criminoso à polícia ocorre muitos anos depois da primeira violência. E há demora, e, também, dificuldade da mulher em sair do relacionamento conflituoso. Muitas mulheres sofrem violência todos os dias, durante muitos anos e não conseguem romper vínculo com o agressor. É preciso confiar nas regras de proteção estabelecidas pela Lei Maria da Penha. Mas é preciso também um engajamento de toda a sociedade. Estamos vivendo um longo processo de ruptura da sociedade estruturada no patriarcado, onde o homem mantém a autoridade sobre as mulheres e as crianças. A violência é uma construção social e cultural. A Lei Maria da Penha é avançada, mas ainda apresenta problemas de efetivação, o que somente acontecerá com a implementação de políticas públicas eficientes no enfrentamento e combate à violência doméstica e familiar contra mulher, o que já vem acontecendo no Estado de Mato Grosso do Sul. Com relação ao assassinato de mulheres pelo simples fato de serem mulheres, é preciso reconhecer que o feminicídio é uma morte anunciada e evitável. Às vezes tudo começa com um grito, com um xingamento ou com um empurrão. E vai progredindo para ciúme extremo, dominação e sentimento de posse. Por isso é preciso que as vítimas fiquem atentas aos primeiros sinais de violência e denuncie o agressor.
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Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO
Dia a Dia
Covid: jovens têm poucos sintomas e são resistentes ao isolamento social “Podem levar o vírus para aqueles que têm maior fator de risco”, diz especialista DIVULGAÇÃO
Gracindo Ramos A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef ) divulgaram recentemente orientações sobre o uso de máscaras para crianças e adolescentes no contexto da pandemia da covid-19, também reafirmando recomendações que podem prevenir e controlar a transmissão do novo coronavírus, como o distanciamento físico, higiene das mãos, ventilação adequada em ambientes internos e outros cuidados respiratórios que podem reduzir a propagação de Sars-CoV-2, o vírus que causa a doença. O documento aborda o uso de máscaras de tecido para idades entre 0 e 18 anos, e aconselha também o uso de máscaras médicas para crianças sob certas condições de saúde. “A máscara veio para ficar. Já há evidências suficientes de que o uso massivo das máscaras, ou seja, quando a população adere à utilização da máscara, a gente consegue controlar melhor o número de casos. Caso as crianças maiores que quatro anos tenham habilidade para utilizar, elas devem utilizar sempre que houver alguma atividade de risco, como sair de casa ou entrar em contato com outras pessoas fora do domicílio. As crianças acima de do-
“As crianças acima de doze anos já têm capacidade de utilizar as máscaras de maneira mais adequada” ze anos, essas já têm capacidade de utilizar as máscaras de maneira mais adequada e elas devem ser treinadas. Então é o momento de a gente criar o hábito nas nossas crianças, para que no momento em que elas precisarem utilizar de maneira mais eficaz a máscara elas já tenham essa habilidade”, afirma a médica infectologista Mariana Croda sobre o uso do equipamento de proteção individual. Como crianças e adolescentes contribuem para a transmissão da covid-19 ainda não é algo totalmente compreendido pela comunidade científica. Um baixo percentual dos casos de Covid-19 é identificado nesses grupos, com relativamente poucas mortes em comparação com outros faixas etárias. Os estudos feitos sugerem que a maioria dos casos entre crianças resultaram de transmissão entre a própria família, o que pode ter sido influenciada pelo fechamento de escolas e outras medidas de permanência em casa. Mariana Croda explica que são recentes as evidências científicas que trouxeram mais luz acerca do papel da criança e do adolescente na transmissão da covid-19. Segundo ela, as crianças possuem sim um papel na transmissão e têm a capacidade de transmitir, só que elas apresentam sintomas mais brandos, o que, muitas vezes, pode passar desper-
RECOMENDAÇÕES Sobre o uso de máscaras para crianças e adolescentes:
Crianças de até 5 anos de idade Não é obrigatório o uso de máscaras. Esta recomendação é motivada por uma abordagem de não prejudicar marcos de desenvolvimento da infância, desafios de conformidade e autonomia necessária para usar uma máscara corretamente. Crianças entre 6 e 11 anos de idade A decisão de usar uma máscara deve ser orientada por uma análise dos riscos, como: risco de transmissão; ambiente social e cultural, como crenças, costumes, comportamento ou normas sociais; capacidade da própria criança em usar o equipamento de maneira apropriada ou uso com supervisão de um adulto; impacto do uso de máscara na aprendizagem e no desenvolvimento psicossocial; e uso com parentes idosos, escolas, durante atividades esportivas ou para crianças com deficiência e portadoras de doenças. Existe preocupação que a população mais jovem seja um grande vetor, levando o vírus para dentro dos lares onde há o grupo de risco cebido. “Então é importante que os pais e cuidadores entendam que as crianças devem ser protegidas assim como os adultos, que elas evitem a contaminação de alguma forma. Elas ainda não estão liberadas para atividades coletivas. Ainda não estão liberadas para encontros com outras crianças, uma vez que nós sabemos que elas podem ser grandes vetores, ou seja, os que trazem o vírus para dentro dos lares onde há o grupo de risco”, alerta. O uso de máscara pelos menores incide em outras características em relação aos adultos. De acordo com a orientação da OMS e da Unicef, “vários estudos descobriram que fatores como calor, irritação, dificuldades respiratórias, desconforto, distração, baixa aceitabilidade social e mau ajuste da máscara foram relatados por crianças ao usarem máscaras”. Crianças pequenas ainda podem ter menor suscetibilidade à infecção em comparação com adultos e os dados disponíveis sugerem que isso pode variar de acordo com a idade. “Adolescentes podem desempenhar um papel mais ativo na transmissão do que os grupos mais jovens”, diz a recomendação. É o que sugere a explicação da médica infectologista sobre esse papel: - ‘isso é mais difícil ainda em adolescentes e adultos jovens que acabam se expondo mais, têm uma resistência maior de adesão ao isolamento social. E, hoje, há uma preocupação muito grande com essa população mais jovem, porque também são oli-
Adolescentes com 12 anos ou mais Recomendação para uso de máscara, seguindo as mesmas orientações da OMS para o uso assim como os adultos. A última observação sobre o uso de máscara para crianças e adolescentes é para uso de uma máscara médica para crianças com deficiência imunológica ou para pacientes pediátricos com fibrose cística ou alguma outra doença (como por exemplo, câncer). Isso, geralmente recomendado com avaliação em consulta com o médico do paciente.
“Caso as crianças maiores que quatro anos tenham habilidade para utilizar, elas devem utilizar sempre que houver alguma atividade de risco” Mariana Croda (Infectologista) gossintomáticos, ou seja, apresentam poucos sintomas. Mas podem trazer o vírus para aqueles que têm maior fator de risco. Não se sabe ainda a questão imunológica que previne esse grupo do risco à gravidade de óbito. Estamos na fase de especulação, mas provavelmente a resposta inflamatória que o coronavírus causa depende de alguns aspectos imunológicos que têm uma resposta muito mais exacerbada nas pessoas idosas e também naquelas que têm doenças pré-existentes.
Intensidade de transmissão, distância física ou implementação adequada de medidas de ventilação em ambientes internos, interação de idades e contato com outros indivíduos vulneráveis devem ser fatores considerados para adoção das orientações eo uso de máscaras entre as diferentes faixas etárias, além dos potenciais danos e efeitos adversos do uso do equipamento de proteção. A recomendação deixa claro que “é importante enfatizar que o uso de máscaras é uma ferramenta e que as crianças também devem aderir ao distanciamento físico, higiene das mãos e etiqueta respiratória. Pais, familiares, professores e educadores têm um papel crítico em garantir que essas mensagens sejam transmitidas de forma consistente às crianças”. É preciso também dar atenção específica aos cuidados com as máscaras e à necessidade de o equipamento ser trocado quando estiver molhado ou sujo.
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Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO
Dia a Dia ENTREVISTA · Renan Pretti - Psicólogo
Setembro Amarelo: “Suicídio pode ser evitado quando há abertura ao diálogo” Cristina Nunes Especial para O Progresso
ção direta? Existem outras doenças que acometem a saúde mental e podem levar ao suicídio? A Associação Brasileira de Psiquiatria – aponta um elo entre o comportamento suicida e os transtornos mentais. Os dados comprovam que de 15.629 pessoas que suicidaram, 90% dos casos enquadrariam em algum transtorno mental. A depressão maior se destaca com o índice de 35,8% dos casos de suicídio. A depressão é o transtorno mental mais associado ao suicídio, porém não é somente ele que leva a este ato. O sentimento de inutilidade, impotência de produção, pressão da sociedade sobre um padrão aceitável também levam a estes sentimentos gerando sim o pensamento suicida.
Assunto ainda é um tabu na sociedade. Psicólogo Renan Pretti explica que não tem como resolvermos um problema se não falarmos dele Na quinta-feira, 10 de setembro, é o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio. Para conscientizar a população, foi criada a campanha Setembro Amarelo sobre a importância da prevenção. Para explicar o problema, que já é considerado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como a segunda causa de morte entre os jovens de 15 e 24 anos, o Jornal O PROGRESSO conversou com o psicólogo Renan Pretti. Confira: Por que é tão relevante falar sobre prevenção do suicídio? O suicídio é um ato que pode ser evitado quando há abertura ao diálogo e a compreensão dos motivos que levam alguém a ceifar a própria vida e podem reverter esse quadro. Além disso, o suicídio pode alcançar pessoas de qualquer faixa etária, isto inclui as nossas crianças, por isso é preciso ter atenção redobrada a qualquer mudança de comportamento. Para se ter uma ideia do quão importante é falar sobre o tema, dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) apontam que o suicídio já é a segunda maior causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Você acredita que o assunto ainda seja um tabu? Por quê? Sim, o assunto ainda na nossa sociedade é um tabu que precisa ser totalmente desmistificado para que haja uma melhor compreensão sobre as causas de suicídio. Hoje em dia o assunto está sendo mais abordado por escolas, empresas, universidades, instituições públicas, mas ainda sim existe um bloqueio quando se fala em suicídio, pois gera-se uma ideia de que se falarmos sobre o assunto iremos “motivar” quem já está com o pensamento. Não é bem assim, não tem como resolvermos um problema se não falarmos dele. É comum ouvirmos dizeres de que quem quer se matar o faz logo e não fica anunciando. De que forma pensamentos como esse prejudicam? Sim, é comum pessoas com falta de informação e ignorância falarem isso. A pessoa que tem o pensamento suicida ela demonstra em comportamentos sutis o anuncio de sua idealização, e é muito importante familiares e amigos estarem atentos a esses comportamentos. Indivíduos com pensamentos suicidas geralmente deixam sinais e quando cegam a ceifar a própria
Qual o melhor a se fazer quando identificamos que alguém externa pensamentos ou comportamentos suicidas? O melhor a se fazer é ter empatia e ajudar. Estar sempre próximo da pessoa, evitar de deixa-la sozinha, conversar sobre o plano de suicídio, conversar sobre outras tentativas se ocorreu, conversar sobre outros meios de resolver a situação sem ser o suicídio, levar a situação a sério e verificar o grau em que está, remover os meios de suicídio de alcance da pessoa, ouvir sem julgar, dependendo do grau da situação convencer de ir até o hospital para fazer alguma medicação para acalmar, procurar uma ajuda de profissional de saúde mental para auxiliar, psicólogo (a) ou psiquiatra.
Frases “O suicídio é um ato que pode ser evitado quando há abertura ao diálogo e a compreensão dos motivos que levam alguém a ceifar a própria vida e podem reverter esse quadro”.
“O melhor a se fazer é ter empatia e ajudar. Estar sempre próximo da pessoa, evitar de deixa-la sozinha, conversar sobre outros meios de resolver a situação sem ser o suicídio”
vida, familiares começam a enxergar os sinais de quando o ente dava, mas com falta de sensibilidade e percepção deixaram escapar pelos dedos a chance de reverter a situação. Pensamentos assim não ajudam em nada, apenas prejudicam ainda mais sobre esse tabu quando falamos sobre suicídio. Existem sinais ou sintomas de alguém que esteja prestes a cometer um suicídio? Sim, sempre existe sinais de alguém que esteja com pensamentos ou prestes a cometer a autoagressão
“Setembro Amarelo é uma campanha criada em 2015 com o intuito de conscientizar a população sobre a prevenção do suicídio”
suicida, aqui está alguns dos sinais mais recorrentes relacionado ao suicídio que devem não ser menosprezados e sempre observados: Isolamento, Desinteresse, má alimentação, mudança do sono, agressividade, tristeza persistente, fadiga, falta de energia, choro sem razão aparente, ideação sobre morte, dores e sentimentos de inutilidade. Ficar atento também nas redes sociais sobre post’s ou mensagem depressivas ou sobre morte. Sempre ligamos casos de suicídio à depressão. Há essa rela-
Por fim, qual a importância do "Setembro Amarelo"? Setembro Amarelo é uma campanha criada em 2015 com o intuito de conscientizar a população sobre a prevenção do suicídio. O projeto foi pensado e implementado pelo Centro de Valorização da Vida (CVV ), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). Devido ao seu alcance, o setembro amarelo já faz parte do calendário anual e tem alcançado cada vez mais pessoas. A data é importante porque tem fomentado o debate sobre alguns tabus envolvendo o suicídio, difundido o contato de instituições que auxiliam pessoas nessas situações e disseminar informações que ajudam a identificar situações de risco. Também é fundamental buscar o auxílio de um profissional formado no curso de Psicologia e registrado no Conselho Regional de Psicologia. A população também tem acesso gratuito ao telefone 188, do CVV, que funciona 24 horas. Falar sobre suicídio não é apenas em Setembro!
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Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO
Dia a Dia
“Muita gente desconta no animal, como se ele tivesse culpa”, diz criadora de abrigo Gisele Pizzini idealizou o ‘Abana Rabo’ para abrigar cachorros resgatados em Dourados FOTOS: ABANA RABO
Gracindo Ramos Funcionando há um ano e meio em Dourados (MS), o abrigo ‘Abana Rabo’ tem hoje 16 cachorros para adoção. Eles foram resgatados e receberam todos os cuidados para que pudessem se recuperar. Agora, esperam por um lar definitivo para que possam ser criados como de fato têm direito. A finalidade do abrigo, segundo a idealizadora do projeto, a produtora de eventos Gisele Pizzini Velloso, é “diminuir o número de animais maltratados em Dourados, dar um lar, uma nova possibilidade de vida e também conscientizar as pessoas de que maus tratos é crime: acorrentar é crime, deixar confinado é crime, não alimentar é crime, deixar passar frio é crime e abandono é crime”. O Abana Rabo surgiu da necessidade da ativista de ter um lugar para onde levar os animais resgatados ficarem até que passassem por tratamento e recuperação para que o grupo de proteção animal pudesse encontrar lares para os bichos de estimação. No começo, Pizzini trabalhava com lares temporários até conseguir as adoções definitivas, agora ela conta com um imóvel (onde funcionava uma escola) emprestado por uma amiga apoiadora. O abrigo não é uma ONG (Organização Não Governamental) como são conhecidas as associações que atuam na proteção animal. Gisele explica que recebe doações em dinheiro, doações de ração e utiliza recursos próprios para manter as atividades da entidade. O grupo também arrecada brindes e realiza leilões para arrecadar dinheiro, porém a pandemia tornou esse tipo de ação inviável. Sobre a ajuda que o Abana Rabo recebe, Velloso diz que “quem fica sensibilizado, sempre doa alguma coisa”. Ela conta também com um grupo de parceiros e amigos, com escalas no abrigo, alternando na limpeza e manutenção do local. E também com o apoio da empresa ‘Lud Banho e Tosa’, que não cobra pelo banho aos animais do abrigo.
Saiba mais
Pandemia
Ativista recebe denúncias diárias de abandono e maus tratos
Sobre a influência da pandemia de coronavírus no trabalho realizado pelo Abana Rabo, Gisele esclarece que a demanda de resgates de animais e denúncias aumentaram consideravelmente nesse período. “É muito cachorro abandonado, na frente das casas, na rua. É muito cachorro passando fome. Muita gente pedindo doação de ração, contato de veterinários que cobram barato, com preço mais em conta. Eu percebo que ficou mais explícito, mais nítido, mais claro, o abandono”, afirma. A ativista conta que ficou sobrecarregada. “As pessoas do grupo também se afastaram por medo de pegar a doença. Mas agora, estão voltando”, diz ela. E as denúncias durante a pandemia também cresceram. “Em média, recebo cinco, seis denúncias diárias. Todo dia tem denúncia de abandono, maus tratos”, analisa. Ela atua levando ração, ajudando com veterinário, com vacinas e observa que muitos filhotes vêm sendo abandonados na cidade. “Muita gente desempregada. Está sem dinheiro e aí desconta no animal, como se o animal tivesse culpa de existir”, explica. Nos últimos dias, ela relata que viveu um cenário bastante difícil no trabalho de resgate de animais, por conta dos vários dias de chuva e frio e aponta uma ausência das autoridades competentes para cuidar dos casos envolvendo animais. As ações, segundo ela, têm sido de “tirar do maltrato, da corrente, negociar com a família, levar a Guarda [Municipal] ou chamar a polícia para resolver”. Os interessados em conhecer o trabalho do Abana Rabo, realizar adoções ou ajudar o abrigo com doações podem entrar em contato direto com o abrigo, localizado na Rua Cuiabá, 2062, centro ou pelo telefone (67) 99972-1778.
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Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO
Dia a Dia ENTREVISTA · Rodrigo Melo - Neurologista
“Crises de enxaqueca podem ser mais intensas e constantes na pandemia” Cristina Nunes Especial para O Progresso Desde que o novo coronavírus chegou ao Brasil pessoas que sofrem de enxaqueca estão mais propensas a ter crises mais intensas e duradoras, é o que afirma o neurologista Rodrigo Melo. Isso porque as notícias sobre o covid-19 e todas as consequências do distanciamento social, necessário nesse período, tendem a aumentar as preocupações e no caso de pacientes de enxaqueca as crises podem se intensificar. Muita gente sofre com enxaqueca, mas nem todos sabem que tem a doença. Uma grande parte acredita que seja apenas uma dor de cabeça comum. Embora seja difícil a cura, por ser um fator genético, é possível que ela seja controlada, daí a importância de saber ou não se sua dor de cabeça é enxaqueca, para assim fazer o tratamento adequado e ter uma melhor qualidade de vida. A OMS (Organização Mundial da Saúde) apontou a enxaqueca como uma das doenças mais incapacitantes, pois quando ela chega o corpo todo muda e é praticamente impossível conseguir desenvolver alguma atividade, os afetados só querem ficar quietos e longe de qualquer barulho. Em entrevista ao PROGRESSO, o neurologista Rodrigo Melo esclareceu que alguns sintomas e características diferenciam a enxaqueca das dores de cabeça ocasionadas por outros fatores. Quais as causas mais comuns de uma dor de cabeça? As duas principais causas de dor de cabeça são cefaléia tensional e enxaqueca. As duas tem relação direta com estado emocional e estresse. Como diferenciar uma dor de cabeça ligada ao estresse daquela que pode estar indicando uma doença mais grave? Geralmente as dores de cabeça, quando isoladas, não indicam qualquer perigo, e são um dos sintomas mais comuns da população em geral. As pessoas devem estar atentas aos sinais de alarme, que são os sinais que indicam perigo. Os sinais de alarme mais comuns são crises intensas, com ápice da dor ocorrendo dentro do primeiro minuto, de forma explosiva, considerada pelo paciente “a pior crise de dor da vida” (chamada dor de cabeça em thunderclap - quer dizer: dor em trovoada), convulsões sem histórico prévio, dor de cabeça com turvação visual persistente e vômitos intensos ou qualquer sinal neurológico, de início súbito, associado à dor, como alteração de comportamento,
vre, isso traz prejuízos? Qual a forma correta de tratamento? Traz muito prejuízo. A maioria dos pacientes chega ao Neurologista quando já está tomando analgésicos frequentemente, e muitas vezes fazendo até misturas perigosas entres estes analgésicos. A orientação é que se o paciente está tomando analgésicos, duas ou mais vezes por semana, há mais de 60 dias, procure o neurologista, pois provavelmente será necessário um tratamento preventivo e contínuo.
Frases “A enxaqueca tem características bem claras que são: dor unilateral, tipo latejante ou pulsátil, associada a náuseas (enjoos) e/ou vômitos, com sensibilidade à luz, cheiro e barulho”
Os sintomas da enxaqueca podem ser confundidos com os da covid-19? Para se fazer diagnóstico de enxaqueca, são necessárias varias (ao menos cinco) crises com padrão semelhante, e com algum intervalo de tempo entre elas. Geralmente a dor de cabeça de uma infecção viral (como a COVID 19), não tem as mesmas características que a enxaqueca, ou seja se uma pessoa está tendo uma dor de cabeça que é nova, que se associa a dores no corpo, dor de garganta, tosse e febre, se pensa numa infecção viral (nos dias de hoje, na COVID 19). Porém uma pessoa com histórico familiar de enxaqueca, que tem crises relacionadas e período menstrual, relacionadas a consumo de certos alimentos, unilateral, latejante (pulsátil), associada a náuseas e sensibilidade à luz, com duração até 72 horas no máximo, e que já teve vários episódios semelhantes, provavelmente tenha enxaqueca.
“Para se fazer diagnóstico de enxaqueca, são necessárias varias (ao menos cinco) crises com padrão semelhante, e com algum intervalo de tempo entre elas”
“A orientação é que se o paciente está tomando analgésicos, duas ou mais vezes por semana, há mais de 60 dias, procure o neurologista, pois provavelmente será necessário um tratamento”
perda de força nos membros, alteração de fala e de equilíbrio. Existem sintomas ou características especificas que diferenciam a enxaqueca das demais dores de cabeça? Sim. A enxaqueca tem características bem claras que são: dor unilateral, tipo latejante ou pulsátil, associada a náuseas (enjoos) e/ou vômitos, com sensibilidade à luz, cheiro e barulho. Esse tipo de crise, que dura horas, é incapacitante e interfere claramente nas atividades diárias dos pacientes, de modo que estes querem permanecer em repouso em locais quietos e escuros. A enxaqueca tem cura? A enxaqueca melhora totalmente em 70% das mulheres após a menopausa. Geralmente o paciente entra em períodos longos de melhora se consegue ter uma boa qualidade de sono, pratica exercícios aeróbicos e controla bem fatores de estresse. É importante também prestar atenção em alimentos que podem trazer crises (gatilhos). Como é um fator
genético, é difícil falar em cura, falamos, sim em controle satisfatório e remissão de doença. Existe um tratamento preventivo para a enxaqueca? Sim. Primeiramente se recomenda redução no nível de estresse, bom padrão de sono, boa rotina alimentar e de prática esportiva. Quando as crises se tornam muito frequentes, é necessário entrar com medicamentos para o tratamento ativo da doença (em acompanhamento neurológico frequente). Pacientes com enxaqueca necessitam fazer restrições alimentares ou de algum hábito? O paciente deve aprender a reconhecer quais alimentos podem ser gatilhos para suas crises. Os mais comuns relatados são o chocolate, álcool em geral (especialmente o vinho), embutidos, derivados de leite e frituras. Quem tem dores de cabeça constantes acaba ingerindo muitos analgésicos de venda li-
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Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO
Dia a Dia
Professor de Medicina explica sobre a qualidade do sono Há pouco mais de cinco meses vivemos um cenário completamente diferente da nossa realidade, e entre tantas mudanças, o sono também tem sido afetado DIVULGAÇÃO
Para entender como é possível melhorar o sono, evitando dormir além do necessário ou menos do que precisa, o professor do curso de Medicina da UEMS, o psiquiatra e PhD em saúde mental José Carlos Rosa Pires de Souza, esclarece como funciona o sono e os seus benefícios para a saúde humana. “O sono é um fenômeno ativo de sobrevivência humana, mais importante que a alimentação”. Pode ser uma surpresa para muitas pessoas saber que o sono supera a importância da alimentação, mas a partir do momento que se conhece alguns dos muitos benefícios do sono, é possível entender: ele “melhora a qualidade de vida, solidifica a memória”, e a importância de se dormir bem vai além, “durante o sono há produção média 80% da Somatropina, o ‘hormônio do crescimento’, que ajuda na recuperação muscular, renovação das células em qualquer idade de forma mais evidente entre crianças e adolescentes, funções diversas e vitais”, conforme relata o especialista em medicina do sono, José Carlos Souza. Se a alimentação é a responsável por nos nutrir, é durante o sono que nosso corpo de recuperar física e mentalmente das atividades de cada
“Durante o sono há produção média 80% da Somatropina, o ‘hormônio do crescimento’, que ajuda na recuperação muscular, renovação das células em qualquer idade de forma mais evidente entre crianças e adolescentes, funções diversas e vitais” José Carlos Rosa Pires de Souza (Psiquiatra e PhD em saúde mental)
sono, para ver como está o sono durante a noite tem o exame chamado polissonografia noturna, e para verificar sonolência excessiva diurna tem o teste das latências múltiplas do sono, que consistem em Polissonografia Noturna, feita na clínica do sono; e latências múltiplas do sono, exame realizado no período diurno, em geral após o registro de Polissonografia de noite inteira.
Quando dormimos o cérebro consome 12% a mais de oxigênio e glicose, principalmente quando estamos sonhando dia. Uma curiosidade interessante sobre a vitalidade do sono é o fato de que “quando dormimos a temperatura do corpo diminui e o cérebro passa a consumir 12% a mais de oxigênio e glicose, principalmente quando estamos sonhando, logo se o sono ocupa um terço (1/3) da vida, os sonhos ocupam um quinto (1/5)”, destaca o psiquiatra. Em época de pandemia, vale ressaltar que a imunidade alta é imprescindível para se ter um bom sistema de defesa do organismo, sendo “o sono importante para a imunidade. Portanto, pessoas que dormem mal ou menos do que sua necessidade pessoal tendem a adoecer com mais facilidade e a viver menos anos que as demais pessoas”, acrescenta José Carlos. Relógio Biológico Você conhece seu cronotipo? Esse é seu relógio biológico individual para as 24 horas do dia entre dormir e estar acordado, o ‘ciclo circadiano’. “Algumas pessoas são matutinas e produzem melhor pela manhã, à noite estão prontos para dormir cedo e acordar cedo. Outros são vespertinos e desenvolvem bem suas atividades à tarde, e ainda temos os noturnos que são produtivos à noi-
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Dicas para dormir bem No campo médico existem exames que ajudam na identificação e tratamento de possíveis problemas no sono te, mas aqui uma ressalva, cuidado para não passar da meia-noite, pois nós, humanos, fomos feitos para dormir à noite, no período de escuridão natural. Ainda temos o grupo dos indiferentes, que são produtivos a qualquer hora do dia, essa é uma minoria da população”, afirma José Carlos Souza. O médico ainda adverte que “temos que levar em conta a produção do ‘hormônio do sono’, a melatonina, que começa a ser produzida a partir das 23h00, com seu pico entre 02 e 04h00 da manhã, por isso é tão perigoso dirigir nesse horário, ainda mais nas rodovias”. José Carlos explica que o ciclo circadiano compreende a necessidade individual de horas de sono de cada pessoa, “existem os ‘dormidores
curtos’ (pequenos dormidores - 4 a 6 horas de sono), os dormidores médios (7 a 9 horas de sono) e os ‘longos dormidores’ (10 a 12 horas de sono)”. “Para saber qual a sua quantidade ideal de horas de sono, a pessoa pode descobrir por meio de um ‘diário do sono’, que são questionamentos feitos pelo médico especialista em medicina do sono, em um período de aproximadamente 15 dias, onde são registrados parâmetros do horário de se deitar; levantar; número dos despertares durante o período de sono e os motivos; se toma algum medicamento; alterações de memória e concentração; stress; depressão”. No campo médico existem exames que ajudam na identificação e tratamento de possíveis problemas no
A edição de 2020 do Congresso Update de Medicina traz dicas para dormir bem durante e depois da pandemia: Mantenha um horário regular de sono, horário de adormecer e despertar pela manhã; Durma o tempo necessário para se sentir descansado (cada pessoa tem seu ritmo); Tente não forçar o sono. Respeite seu cronotipo; Evite bebidas com cafeína/xantinas/ taurina; Evite álcool perto da hora de dormir (por exemplo, no final da tarde e à noite); Evite fumar ou outra ingestão de nicotina; Ajuste o ambiente do quarto, reduzindo estímulos (luz, desligar a TV, rádio, celular, etc); Evite telas emissoras de luz (laptops, tablets, smartphones, ebooks) antes de dormir; Evite resolver problemas ou preocupações antes de dormir; Exercite-se por pelo menos 20 minutos, quatro a cinco horas antes de dormir; Evite cochilos diurnos (sesta), se tiver insônia; Caso desperte para urinar, reduza a ingestão de líquidos à noite.
Festival Águas Claras, por Vander Verão PÁG. 2
Aniversariantes da semana na Coluna da Adiles PÁG. 4
CADERNO B Dourados 7.9.2020 O PROGRESSO DIVULGAÇÃO
A mistura de cultura que tem no Estado inteiro também acontece em Campo Grande
CAPITAL CONSTRÓI IDENTIDADE CULTURAL pelas influências das fronteiras e imigrações “Cultura não é apenas produto, mas também processo”, destaca a professora, doutora em Teoria da Literatura, escritora e crítica de artes plásticas, Maria Adélia Menegazzo. Neste contexto, de acordo com a especialista no assunto, é preciso pensar de que maneira os artistas campo-grandenses são também responsáveis por uma visualidade local-urbana e de que maneira esses artistas preservam a autonomia estética da experiência individual e buscam um envolvimento com as formas da tradição local, modificando-as. Segundo ela, nas artes plásticas, por exemplo, as obras/monumentos, vão definindo visualidades, na afirmação de símbolos importantes para constituição de uma cultura lo-
O cenário musical da capital sul-mato-grossense tem rap, o hip hop, sertanejo universitário e até rock cal. Ela destaca como obras de arte pública, o Monumento às Araras de Cleir Ávila; o Monumento aos Pioneiros, de Neide Ono e Marisa Tibana em frente ao Horto florestal; a Cabeça do Boi, de Humberto Espíndola, na Praça Cuiabá; o Guerreiro Guaicuru, de Anor Pereira Mendes, no Parque das Nações Indígenas; o Monumento ao Sobá, de Cleir Ávila, na Feira Central,
os Ipês, de Isaac de Oliveira, no SESC Cultura, entre muitos outros espalhados pela cidade. A professora destaca também o gesto artístico individual que, segundo ela, tem um papel modificador na estrutura da cultura. “Sempre observando que o acesso a esse gesto depende de uma escolha pessoal do observador”, explica. Entre os tantos artistas que representam a capital, Menegazzo cita Humberto Espíndola, Jonir Figueiredo, Lúcia Barbosa Coelho, Priscila Pessoa, Ana Ruas, Patrícia Helney, Cecílio Vera, Sidney Nofal, entre outros. Cena poética invade a capital Jornalista, poeta e “agitador” cultural, Victor Barone acredita que Campo Grande tem, sim, uma identidade cultural estabelecida e que, segundo ele, é um caldeirão que ferveu com ingredientes da tradição paraguaia, sulista, do centro oeste, mineira, japonesa, libanesa etc., e criou um caldo que, hoje, tem sabor próprio. E como Brasil é uma grande cozinha cultural, Barone diz que a cidade necessita de um ou outro tempero para firmar-se como receita original. Para acelerar a mistura, Barone apostou na poesia como matéria prima e elemento catalisador deste caldo cultural. Junto com o poeta Fábio Gondim, criou ainda no mês de maio,
o projeto Poema na Quarentena que leva a poesia para as redes sociais com o objetivo de amenizar o isolamento social e promover a cultura.
contemporânea, destaque para Marina Peralta que aparece como uma das vozes mais fortes desta geração.
Mudanças nos últimos 30 anos Para o professor de História e jornalista especialista em cultura, Oscar Rocha, a cidade de Campo Grande recebe as mesmas influências culturais que o Estado de Mato Grosso do Sul. Mas de alguns anos para cá, muita gente vem colocando elementos específicos da cidade nas artes em geral. Em sua percepção a cidade ainda é muito nova para se estabelecer uma identidade cultural, explica Rocha. No campo musical, segundo ele, Paulinho Simões, Geraldo Roca, Geraldo e Celito Espíndola (para citar apenas que ficaram em Campo Grande) continuam sendo referências para as gerações pós anos 1980. As referências, claro, não poderiam ser melhores. O jornalista também destaca os artistas que continuam usando estas referências locais em seus trabalhos, como Jerry Espíndola, Rodrigo Teixeira, Camilo, Gabriel Sater e Luan Santana. E tem mais, muito mais. “Tem uma cena rap, beirando a 30 anos, com temática totalmente voltada para Campo Grande, bem interessante, uma galera do Pop que surgiu nos últimos 10 anos”, conta. Na cena
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Batalha de rimas A poesia falada e apresentada para grandes plateias não é um fato novo. A grande diferença é que hoje a poesia falada se apresenta para o povo e não para uma elite — estamos falando da poesia slam. O movimento Slam, que na essência faz um retrato da sociedade através de disputas poéticas é um elemento recente que apareceu na cena campo-grandense. Criado em 2017 na Capital o grupo Slam Campão começou se reunindo toda a semana na Praça Aquidauana para fazer as apresentações. De lá para cá o sucesso só cresceu. Entre apresentações em terminais de ônibus, feiras literárias, o Campão se destaca principalmente através de um trabalho forte entre os jovens, poetas e não poetas, que usam a poesia para se expressar. O Slam é um movimento cultural que cumpre o papel de dar voz à periferia e aos artistas. Durante a quarentena, por exemplo, o Campão vem fazendo lives com declamação de poesias nas redes sociais para, segundo eles “ manter o foco na missão” e promover a arte e os artistas da cidade.
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Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO
Caderno B
Festival Águas Claras 39 anos de um movimento musical brasileiro Quatro douradenses foram acompanhar o show, que teve Raul Seixas como atração principal ACERVO/VANDER VERÃO
Vander Verão Especial para O Progresso O II Festival de Águas Claras, fazenda no município de Iacanga, interior de São Paulo, aconteceu durante os dias 5, 6 e 7 de setembro de 1981, com várias atrações consideradas de peso como Raul Seixas, Hermeto Pascoal, Gilberto Gil, Alceu Valença e Luiz Gonzaga, por exemplo. No total, o Festival de Águas Claras teve quatro edições: 1977, 1981, 1983 e 1984. No entanto, o Festival de 1981 foi considerado pela mídia como o mais importante. De Dourados, dezenas de jovens foram curtir o Festival em 1981. Eu fui com os saudosos Baltazar Marques da Silva e Prudêncio Campo e com o Márcio Antunes. Os quatro no Fusca “Jeremias”, do Baltazar.
O documentário “O Barato de Iacanga”, documentário de Thiago Mattar está disponível na Netflix As atrações foram muitas. Mas, o nosso objetivo era assistir o show de Raul Seixas. Saímos de lá embasbacados com tudo que vimos na fazenda e nas cidades de Iacanga e Ibitinga, onde o pessoal fazia fila para almoçar ou comer um lanche. Tanto nos shows como nas ruas dessas duas cidades e mesmo em Bauru, os hippies ainda davam o realce da contracultura, simbolizando que Águas Claras foi mesmo o nosso “Woodstock brasileiro”. O documentário “O Barato de Iacanga”, documentário de Thiago Mattar está disponível no Netflix. Baltazar e Prudêncio Baltazar Marques da Silva morreu em abril de 1982, num acidente de moto na Rua Hayel Bon Faker, em Dourados. Ele atuava como representante
O Festival de 1981 foi considerado pela mídia como o mais importante regional do jornal O Progresso. Baltazar também gostava de teatro e era participante nas encenações da Paixão de Cristo. Ele também organizou o Motocross em Dourados e as provas eram na pista da antiga sede campestre do Clube Social. A Praça no Parque Arnulpho Fioravanti recebeu o nome de “Baltazar Marques da Silva”, numa justa homenagem. Prudêncio Campos Leite Filho também trabalhava no jornal O Progresso, como editor de Polícia e Esportes. Ele morreu em abril de 1998, no Hospital Santa Rita, onde estava internado devido a problemas estomacais. A Câmara de Dourados aprovou e o prefeito Braz Melo sancionou a Lei 2.306, de 23 de dezembro de 1999, denominando de “Prudêncio Campos Leite Filho” a Rua Projetada C, na COHAB 2.
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Dourados, 7.9.2020 O PROGRESSO
Caderno B
Qual o papel da arte na educação infantil?
Intervenção excessiva dos professores na busca pelo esteticamente correto limita imaginação e criatividade das crianças. Rosana Carla Gonçalves Gomes Cintra* rosanacarlaggomes@gmail.com Intervenção excessiva dos professores na busca pelo esteticamente correto limita imaginação e criatividade das crianças. Educador deve ser interlocutor do processo de criação. Ao pensarmos sobre a presença da arte na educação infantil, logo vem à nossa mente práticas comuns como oferecer folhas sulfites brancas para desenhar ou com uma imagem previamente impressa para pintar, fornecer massinha colorida para modelagem e tintas de várias cores e texturas. Além disso, é comum que a gente desenvolva atividades com sucatas em geral e disponibilize revistas para recorte, colagem e rasgaduras. Estou errada? Muitas vezes essas atividades são utilizadas como prêmio pelo bom comportamento dos alunos ou para ocupar o restante do tempo da aula. Sem fazer juízo de valor, mas a arte não tem esses objetivos. Também observamos na educação infantil a marcante presença da contação de histórias que, em alguns casos, é muito semelhante à leitura formal e desinteressante de um texto qualquer, desprovido de magia e encantamento. As danças e encenações teatrais, no geral, ficam restritas às datas comemorativas que, por sua vez, nem sempre trazem significado para a criança. Há tantas outras práticas desconectadas com o universo dos alunos, o fazer pelo fazer... Estaria a arte presente nessas práticas? Buscar respostas a essas questões pode ser o início de uma conversa sobre os sentidos da arte na educação infantil. Segundo Ostento (2010), o educador é “essa pessoa chave para mediar os caminhos da criança no mundo simbólico da cultura, da arte. E nesse caminhar, na experiência compartilhada, ele vai aprendendo a reparar em seu ser poético. Seguindo de mãos dadas com as crianças e comprometido com o resgate de seu próprio eu-criador, o professor amplia sua possibilidade de compreendê-las, de reconhecer seus ‘despropósitos’ e apoiar suas buscas e escolhas. Converte-se, então, em parceiro privilegiado de novas e infinitas aventuras poéticas!”. Qual seria então, o papel do professor ao trabalhar as várias linguagens da Arte na educação infantil? Acredito que o papel do professor mediador é a de organizar o ambiente, promover situações
problema, propostas e provocações estabelecendo correlação com a faixa etária das crianças. Essa postura docente é fundamental para criar um ambiente propício à criatividade e à expressão. A partir do momento que o educador entender que as crianças vivenciam e produzem cultura, que são seres ativos e sujeito de direitos, a prática docente tende a ser transformada e entendida como suporte, ponte, elo para novos saberes. Criar e deixar criar Holm (2007) afirma que “quando se trabalha com a primeira infância, arte não é algo que ocorra isoladamente. Ela engloba: controle
corporal, coordenação, equilíbrio, mo¬tricidade, sentir, ver, ouvir, pensar, falar e ter segurança. E ter confiança para que a criança possa se movimentar e experimentar. E que ela retorne ao adulto, tenha contato e crie junto. O importante é ter um adulto por perto, coparticipando e não controlando.”. Trabalhar com a arte na educação infantil é abraçar o mundo com o corpo todo! Para que isso ocorra, precisamos dar o direito da criança se expressar do jeito dela, com a estética que lhe é peculiar e de todas as formas possíveis. Quanto mais elementos artísticos o educador apresentar para as crianças, mais rica será a linguagem e a ex-
pressividade delas. Dançar, pintar, cantar e dramatizar, dentre outras formas de expressão humana, são linguagens. Portanto pensamento e cognição. Criar e deixar criar talvez sejam caminhos ainda não percorridos por muitos, mas necessários e urgentes quando falamos de educação infantil e arte. Encontramos em muitas instituições de educação infantil um grande equívoco, que é a reprodução sistemática e estereotipada, a intervenção excessiva dos professores na busca pelo esteticamente correto, não respeitando a concepção estética da criança. Tais práticas reforçam e alicerçam a necessidade premente de ressignificar a prática docente. A criança é um campo fértil para a criatividade e a imaginação e nós, muitas vezes sem intenção, subestimamos sua capacidade e impedimos o seu desenvolvimento estético cada vez que interferimos demasiadamente e direcionamos sua expressão artístico-criativa, sufocando as possibilidades de novos saberes. A mente humana é naturalmente investida de curiosidade, basta deixar a criação acontecer, sem modelos estereotipados, seja na dança, nas artes visuais, no teatro ou na música. Porém, sem esquecer-se do papel fundamental do professor, que deve ser o interlocutor, promotor e organizador do processo de criação. Papel que para desempenhar é necessário sair da zona de conforto, das atividades prontas e acabadas, da reprodução sistematizada e estéril, desprovida de intencionalidade e objetivos pedagógicos. Para garantir oportunidades para a expressão viva da criança, precisamos considerar que “expressar não é responder a uma solicitação de alguém, mas mobilizar os sentidos em torno de algo significativo, dando outra forma ao percebido e vivido” (CUNHA, 1999), o que também é diferente de simplesmente “deixar fazer”, acreditando na chamada “livre expressão”. Para mobilizar os sentidos, é essencial o enriquecimento de experiências, promovendo encontros com diferentes linguagens, alimentando a imaginação para que meninos e meninas possam aventurar-se a ir além do habitual, à procura da própria voz e da sua poesia. (OSTETTO, 2010). *Pedagoga, Pós-doutorado em Psicologia da Educação pela Universidade de Lisboa, Doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, Mestre em Educação, professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Faculdade de Educação, onde lidera o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Especial e Múltiplas Linguagens (GEPEMULT). PARA SABER MAIS:
1. CUNHA, S. R. V. Pintando, bordando, rasgando, desenhando e melecando na educação infantil. In: CUNHA, S. R. V. da (Org.). Cor, som e movimento. Porto Alegre: Mediação, 1999. P. 7-36. 2. HOLM. A. M. Baby - Art.: os primeiros passos com a arte. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2007. 3. OSTETTO, L. Educação Infantil Saberes e Fazeres da Formação de Professores. São Paulo. Editora: Papirus. 2010
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