1º Catálogo ASAS

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Natacha Rena | Juliana Pontes (orgs.)

ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA

ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA

ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA



Natacha Rena | Juliana Pontes (orgs.) ASAS . Artesanato Solidรกrio no Aglomerado da Serra


FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA - FEA

ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA - ASAS

Reitor Prof. Antonio Tomé Loures

Diretor Geral Prof. Luiz de Lacerda Júnior

Professora Coordenadora Natacha Silva de Araújo Rena

Vice-reitora Prof.ª Maria da Conceição Rocha

Diretor de Ensino Prof. Lúcio Flávio Nunes Moreira

Professora Participante Juliana Pontes Ribeiro

Pró-reitor de Ensino, Pesquisa e Extensão Prof. Eduardo Martins de Lima

Diretor Administrativo-Financeiro Prof. Fernando Antônio Lopes Reis

Pró-reitora de Planejamento e Administração Prof.ª Valéria Cunha Figueiredo

Coordenadora Geral do Curso de Design Profª Ângela Souza Lima

Técnicos Dimas Pereira Guimarães Éder Jorge de Almeida Éder Peixoto Maria Crisóstomo Ramos

Coordenador Geral de Pesquisa Prof.ª Rúbia Carneiro Neves

Coordenadores por Habilitação D. Gráfico | Prof. Guilherme Guazzi Rodrigues D. Interiores | Profª. Maria Fernanda Loureiro D. Produto | Prof. Eliseu de Rezende Santos D. Moda | Profª Gabriela Maria Torres

Coordenador Geral de Extensão Prof. Osvaldo Manoel Corrêa Coordenadora do setor de relações internacionais | Prof.ª Astréia Soares Batista Assessoria de Ensino de Graduação Prof. Luiz Antônio Melgaço Nunes Branco

PROJETO CATÁLOGO ASAS

Diretoria de Desenvolvimento Sustentável Maria Luiza Pinto e Paiva Superintendência de Ação Social Laura Oltramare Coordenação da área de projetos sociais Andréa Regina Coordenação do Concurso Banco Real Universidade Solidária Eloisa Martins

Gerência de Projetos Daniela Lemos Consultores voluntários e sócios-fundadores Prof. Dr. Waldenor Barros Moraes Filho Prof. Dr. Luiz Fernando Coelho de Souza

Coordenação Prof.ª Juliana Pontes Ribeiro Direção de arte Prof.ª Juliana Pontes e Natacha Rena Design / Projeto Gráfico Cris Araújo Fotografias Cris Araújo Eduardo Goulart Juliana Pontes Joanna Sanglard Natacha Rena Sérgio Amzalak . Tatarana Imagem Revisão de textos Rachel Murta

Psicóloga Voluntária Érica Silva do Espírito Santo Estudantes Bolsistas Ana Luisa Ferreira . Bruno Elias Gomes de Oliveira . Cristiane Pereira Araújo Silva Daniel Patrick Cordeiro Pimentel . Eduardo Goulart de Macedo . Felipe Sales Melo Franco Joanna Sanglard Bernardes . Pedro Duarte Sena de Oliveira . Pedro Ivo . Rafael Miranda Barbosa Rodrigo FrancoMattar Estudantes Colaboradores Disciplina Artesanato e Design 2007/2008 André Machado . Carolina Furtado . Cinira Morais . Daniela Coelho . Daniele Tondato Débora Maffia . Fernanda Pereira . Guilherme Deriz . Guilherme Santos . Ivana de Almeida Lara Pinheiro . Leliane Peixoto . Letícia Grissi Lucas Diniz . Luiza Mascarenhas . Matheus Rocha . Pablo Codeglia . Rafaela Valadão Tiara Brito Estudantes Voluntários Alisson dos Prazeres . Andressa Furtado Calixto Diego Silva . Fernando Vasconcelos . Guilherme Bonsato Deriz . Ingrid Sander . Karina de Oliveira Leite . Leonardo Monte Alto Pacheco . Priscila Soares da Silva . Rachel Grandinetti . Reinaldo Rocha . Tatiana Lemos Artesãos Capacitados Cleuza Maria Pires Dias . Ellen Cristina Pires Dias Elzy Nunes de Oliveira Ferreira . Etelvina Xavier de Almeida . Gabriella Estefane Santos de Souza Gonçalo Nascimento Santos . Joana Rodrigues de Souza . Loslane Pasos de Oliveira . Maria do Carmo da Rocha . Peterson Linker S. Rodrigues Shirley Maria Araújo . Suzana Marília dos Anjos Oliveira . Yasmin T. Gonçalves

AGRADECIMENTOS Anderson Matos . Cleonice Bráz da Silva . Débora Gonçalves de Oliveira . Igor Rios . Jaqueline Dias Juliana Myhra Karina Leite . Patrícia Aun . Pedro Moraes . Tânia Porto Thiago Bones . Vinícius Glico Patricia de Aguiar Paes . Meninas da cozinha: Eliane Magalhães (Lili), Iva e Marta. Parceria: Cassius Silva Pereira (Raiz da Terra)


. índice

008

02 018

136 p.: il. (possui fotografias). Vários autores. ISBN 978-85-61258-05-4.

Fumec UniSol . Banco Real - Grupo Santander Escola Municipal Padre Guilherme Peters

design social Projeto ASAS: autonomia e empoderamento por meio do artesanato solidário Identidade: processo construtivo

A798 Asas: Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra Organizadoras Juliana Pontes Ribeiro e Natacha Rena. Belo Horizonte: Editora Faculdade de Engenharia e Arquitetura FEA - Universidade FUMEC, 2009.

instituições parceiras

A estamparia como capacitação profissional

03 070

1. Design. 2. Artesanato. 3. Economia solidária. 4. Almofadas. 5. Estampas. I. Ribeiro, Juliana Pontes II. Rena, Natacha. III. Título.

Psicologia e a estruturação de grupo Depoimentos: alunos bolsistas

paralelas Eco-Bags Parceria Raiz da Terra Concurso Almofadas

CDD: 745.098151 CDU: 745(815.1) Informação bibliográfica conforme a NBR 6023:2002 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT): RIBEIRO, Juliana Pontes; RENA, Natacha (Org.). Asas: Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra. Belo Horizonte: Editora Faculdade de Engenharia e Arquitetura FEA-Universidade FUMEC, 2009. 136 p. ISBN 978-85-61258-05-4.

Muros Estampados Oficina Pinhole

04 05 102

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Exposição Aglomeradas Oficina de Texto

registro das criações

portfolio asas


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instituiçþes parceiras

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fumec construindo o conhecimento

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Prof. Antônio Tomé Loures

Prof. Osvaldo Manoel Corrêa

Reitor da Universidade Fumec

Coordenador do setor de extensão

“No processo de aprendizagem, só aprende verdadeiramente aquele que se apropria do apren-

“Conceituar é preciso, viver e tecer a trama da existência é preciso e registrar é mais que preciso”.

dido, transformando-o em apreendido, com o que pode, por isso mesmo, reinventá-lo; aquele que é capaz de aplicar o aprendido-apreendido a situações existenciais concretas” - Paulo Freire

A troca de saberes constitui a base de projetos como o ASAS – Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra, consistindo em princípio fundador da ação comprometida com o aprendizado e a necessária mudança social. Fundamentalmente integradora, a proposta realiza a missão social da Universidade FUMEC, incentivando a produção e a efetiva socialização do conhecimento. Aprendemos, com a atividade artesanal, a sabedoria da partilha construída em torno da experiência comunicada; a arte da escuta, do silêncio e da narrativa comprometida com a vida que perdura. Essa é a postura de quem acredita na invenção de um futuro em que o conhecimento se constrói, pacientemente, na ação criadora; em forma de valores que conferem sentido ao mundo compartilhado. Formar profissionais comprometidos com a justiça e a ética é desafio permanente da Universidade FUMEC. O projeto ASAS exerce essa missão de forma particular, convertendo-a em processo renovador, em que a criação coletiva potencializa saberes e valoriza o artesanato como fonte de aprendizado permanente. Assim, apresentar este catálogo à sociedade é motivo de grande satisfação para todos nós. Com a conclusão da proposta, comemoramos esta importante conquista junto às comunidades da Universidade FUMEC e do Aglomerado da Serra.

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Foi assim que tudo teve o seu início, com uma Tática de Sobrevivência envolvendo os moradores da Vila Ponta Porá, comunidade pertencente à região central de Belo Horizonte – MG, onde como resultados “as pesquisadoras realizaram um vasto levantamento de inventos - objetos e produtos do cotidiano - que revelaram um enorme potencial do cidadão comum (moradores expostos a situação de precariedade econômica)”. Sempre Savassi Design e Cultura é como o fio de Ariadne que permitiu a saída da pesquisa para dar à luz na extensão. Envolvendo parcerias com o CDLBH e o SEBRAE, esse projeto desenvolveu diversas comunidades de artesãos, resultou na produção de um texto e um catálogo; o primeiro, finalista em concurso, e o segundo produziu frutos como exposição e menção honrosa. No catálogo da Coleção 9+1, uma coleção temática de nove almofadas quadradas e uma redonda revelando temas ligados à história de vida de cada artesã, registra-se a ação de extensão Artesanato Solidário no Barreiro. Nesse projeto, novas parcerias foram possíveis com a Associação da Terceira Idade e Idosos do Barreiro (ASTIB) e a UNITEC – Nova Zelândia com o seu suporte metodológico para ações de responsabilidade social. Esse constante aprender permitiu que as experiências adquiridas fossem aplicadas em Assis Brasil (AC) e Jequitaí (MG) em incursões do Projeto Rondon. A capacitação em artesanato e design de produtos e mobiliários de bambu foram oficinas desenvolvidas

em Assis Brasil. Em Jequitaí uma nova coleção de almofadas revelou em sua estamparia a história da cidade em seu rio, no garimpo, na pesca, no trabalho das lavadeiras, na religiosidade e outros temas. A criação do grupo de pesquisa com o tema Diferenças: Arte, Design, Arquitetura e Artesanto, no CNPq, e a exposição no INHOTIM de uma coleção de produtos com características iconográficas recolhidas no próprio museu pareciam ser o fim dessa jornada. Mas enquanto essas atividades estavam em andamento, um novo edital em nível nacional estava aberto, e o acumular de anos de experiências se transformou no projeto Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra. Os primeiros passos dessa nova caminhada estão no Catálogo ASAS, que deve ser apreciado com o olhar de admiração nos permitindo ver mais além dos muitos focos de violência, tráfico de drogas e desemprego instaurados nessa comunidade. É ver com pasmo a capacidade de empoderamento que a metodologia de criação a partir do conceito de Artesanato Solidário teve no período de doze meses para capacitar um grupo de multiplicadores que tem por missão, em 2009, passar para novas gerações de jovens e adolescentes o seu aprendizado, fazendo funcionar a oficina de serigrafia. Por fim, o agradecimento da Universidade FUMEC à UNISOL (Banco Real), pela parceria que tornou possível este projeto, e pela sua renovação para o biênio 2009/2010.

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unisol banco real . grupo santander

Em uma comunidade, as atividades de cada indivíduo estão sempre interligadas de alguma maneira. Quando um se beneficia, é muito provável que o próximo seja atingido. Assim, os projetos sociais que se baseiam em parceria de benefícios mútuos podem conseguir multiplicadores e ser auto-sustentáveis. Acreditando nisso, o UniSol e o Banco Real - Grupo Santander Brasil - apóiam, desde 2007, o projeto ASAS - Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra - vencedor do 11º Concurso Banco Real Universidade Solidária. Executado pela FUMEC/MG é um exemplo de iniciativas que estimulam a participação ativa da comunidade, e o envolvimento de professores, estudantes, escola, prefeituras e ONGs na construção de alternativas para problemas de ordem social, econômica e ambiental da região. Criado em 1996, o concurso Banco Real e Universidade Solidária estimula o engajamento de estudantes e professores universitários na implementação de ações que promovam o desenvolvimento social de comunidades de todo o País. Essa parceria proporciona a implementação de projetos sociais com a participação de Instituições de Ensino Superior (IES) brasileiras, por meio de seu corpo docente e discente em comunidades, trabalhando na construção de soluções locais de desenvolvimento sustentável e comunitário, e disseminado valores de cidadania e de responsabilidade social aos jovens universitários - futuros profissionais do país. Em treze anos de atuação, o concurso já mobilizou 94 IES, 1.340 estudantes, 178 professores e beneficiou direta e indiretamente mais de 4 mil pessoas em todo Brasil, a partir da interação entre o conhecimento acadêmico e o popular.

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Márcia Libânio Diretora

escola municipal padre guilherme peters

Desde agosto de 2007 os alunos, funcionários e pessoas da comunidade do Aglomerado da Serra tem freqüentado as oficinas de capacitação que acontecem na Universidade FUMEC. O grupo ASAS (Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra) formado a partir da parceria entre a Universidade FUMEC, o Unisol/Banco Real e a Prefeitura de Belo Horizonte tem realizado bons benefícios para esta comunidade. Duas vezes por semana o grupo se reuniu ao longo do ano nas dependências da Universidade FUMEC. Esses encontros, que propiciaram o contato com alunos e professores universitários, fornecem ao grupo o desenvolvimento das relações de trabalho em espaços que eles poderiam ter dificuldades em freqüentar. Os alunos do grupo ASAS têm tido acesso a espaços culturais da cidade, apresentando suas criações e conhecendo artistas locais e de contexto nacional. A montagem da cooperativa no espaço escolar beneficiará tanto a comunidade quanto os alunos da escola . Essa cooperativa será um exemplo a ser seguido por eles. Aqueles alunos da escola que tiverem interesse em fazer parte da cooperativa poderão desenvolver as técnicas a partir do grupo ASAS (futuros multiplicadores). A Escola Municipal Padre Guilherme Peters se sente honrada em fazer parte dessa parceria que trará mais dignidade à comunidade. Hoje a cooperativa já não é só um sonho distante. Ela já se tornou realidade! Ao avaliarmos a parceria firmada nesse curto prazo de tempo, só podemos ressaltar a importância do compromisso social, principalmente em comunidades carentes como a em que a escola está inserida.

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02

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design social

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projeto asas:

autonomia e empoderamento por meio do artesanato solidário

natacha rena Arquiteta, designer, professora dos cursos de Arquitetura e Design de Interiores na Universidade FUMEC; mestre em Arquitetura pela UFMG, doutora em Comunicação e Semiótica pela PUC São Paulo e coordenadora do projeto ASASUNISOL/Banco Real - Grupo Santander.

juliana pontes Designer, Mestre em Comunicação Social, professora do curso de graduação em Design Gráfico e pós-graduação na Universidade FUMEC e orientadora, junto com a profa. Natacha Rena, do projeto ASASUNISOL/Banco Real - Grupo Santander.


apresentação

O Projeto ASAS (Artesanato

longo do trabalho. Com ênfase nos processos

maioria estão muito distantes da oportunidade do primeiro emprego ou

Solidário do Aglomerado da

criativos que aconteçam de forma colaborativa

de exercer uma atividade econômica lucrativa e promissora por falta de

Serra) teve a intenção de capacitar

e na criação de uma metodologia específica

capacitação específica. O Aglomerado está localizado na chamada região

um grupo de moradores do

- que garanta sustentabilidade das ações

sul da cidade, setor residencial de alto poder aquisitivo (onde se encontra a

Aglomerado da Serra para o

implementadas -, este projeto também objetivou

Universidade FUMEC).

desenvolvimento de uma coleção

a criação de um mix de produtos com alto

de produtos com características

valor agregado (acompanhados de catálogo

Atualmente a prefeitura de Belo Horizonte está executando uma grande

singulares. O objetivo central

e exposição) que possa ser comercializado

obra de urbanização do Aglomerado (considerado um dos maiores

foi estabelecer um processo

em locais onde o público consumidor valorize

projetos de urbanização de favelas do País no momento), que inclui a

sustentável de geração de renda

produtos realizados com responsabilidade

construção de uma via asfaltada de mão dupla que atravessará o conjunto

no Aglomerado da Serra (conjunto

socioambiental. Outro objetivo já realizado

de vilas, ligando diretamente duas regiões da cidade. Há um investimento

de vilas e favelas da cidade de Belo

foi a montagem de uma oficina de criação e

real na melhoria das condições de vida da população local e na sua

Horizonte) a partir do conceito de

produção em serigrafia na Escola Pe. Guilherme

inserção definitiva no contexto urbano, o que implica a educação e a

autonomia criativa e produtiva

Peters.

capacitação dessas pessoas para uma nova condição de trabalho e relação

com foco no empoderamento da comunidade. Dentro de um conceito amplo de artesanato solidário, desenvolveu-se uma metodologia específica de criação em artesanato e design com o intuito de capacitar grupos de artesãos para o desenvolvimento

social. O que acontece no caso específico da Escola Municipal Padre A comunidade específica escolhida para o

Guilherme Peters é que a sua localização não é próxima das margens da

desenvolvimento do projeto aqui proposto é a

grande via a ser construída, o que resultou em um menor investimento

Escola Municipal Padre Guilherme Peters situada

dos projetos citados acima nesta escola. Essa situação poderá produzir

dentro do conjunto de vilas e favelas de Belo

um futuro desnível de oportunidades dentro do próprio Aglomerado,

Horizonte denominado Aglomerado da Serra.

acentuando ainda mais as questões ligadas ao desemprego à violência e à

Essa escola pertencente à Vila Novo São Lucas

exclusão social.

tem procurado parcerias para que seus alunos possam se apropriar de novos conhecimentos

O Aglomerado da Serra possui uma grande dimensão populacional, com

e novas tecnologias que os ajudem a enfrentar

muitos focos de violência e disputa de grupos ligados ao tráfico de drogas,

novos ambientes educacionais e novos

o que dificulta ações eficazes em todo o seu território. O foco nas escolas

A idéia central dos projetos de

ambientes de trabalho. A escola vai da Educação

municipais, começando com um projeto piloto em uma escola específica,

extensão que realizamos na

Infantil até a oitava série do Ensino Fundamental,

limita a ação a um campo fértil, que é o dos jovens em formação, pois

Universidade FUMEC é capacitar

e tem também no turno noturno a Educação de

estes são as maiores vítimas do aliciamento para a atividade do tráfico e

grupos como multiplicadores

Jovens e Adultos. Novas parcerias têm aberto

da violência gerada por esta economia ilegal. A falta de infra-estrutura,

do conhecimento adquirido ao

novos horizontes para esses jovens, que em sua

de objetos inventivos e com características singulares.

¹ Rua Coronel Jorge Dário S/número . Bairro Novo São Lucas. Belo Horizonte . CEP 30.240-560

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 Possuía em 1999 uma população total por volta de 37.641 habitantes segundo dados da URBEL, mas segundo a Secretaria de Desenvolvimento Social, 45.920 pessoas e, segundo a imprensa Estado de Minas, 160.000 habitantes.

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recursos materiais e capital humano nas escolas municipais é ainda um grande empecilho para que essas unidades sustentem projetos de inserção econômica e capacitação profissional adequadas à nossa realidade social e às demandas do mercado de consumo e serviços hoje. As escolas também podem ser pontos de apoio permanentes para que iniciativas como essas se desenvolvam com acompanhamento adequado e previsão de continuidade, pois sem esse tipo de suporte muitas boas idéias, ações e projetos se perdem por falta de investimentos em longo prazo, gerenciamento das atividades de formação, estruturas de equipe para captar novos recursos e orientar novas investidas educacionais. Nesses espaços a parceria entre o ensino tradicional e o grupo de artesãos, por um lado, complementa o ensino tradicional e, por outro, amplia os horizontes de atuação dos seus alunos e professores.

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O Aglomerado da Serra possui uma população com poder aquisitivo baixíssimo, mas inserida em uma das regiões com índice socioeconômico mais alto da cidade. Ao mesmo tempo a Universidade FUMEC tem optado estrategicamente por desenvolver projetos de natureza social nessa região, já que é vizinha da Universidade e delimita um campo de atuação solidária. Na última pesquisa para a Prova Brasil o índice socioeconômico no Aglomerado foi de 1.1 numa escala de 1 a 5. E aqui também há uma justificativa concreta para a escolha da Escola Municipal Padre Guilherme Peters que, entre as cinco escolas municipais existentes no Aglomerado, conforme comprovado pelo Prova Brasil, é uma das duas escolas de mais baixo índice socioeconômico da cidade e com uma necessidade imensa de melhorar a sua infraestrutura e estabelecer parcerias externas que complementem o processo educativo e respondam a demandas a que a escola não pode atender sozinha.

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alteração da situação enfrentada e expectativas do projeto

objetivos específicos

A oportunidade da parceria

funciona aos sábados e domingos e oferece

O principal objetivo deste projeto foi

Todo o trabalho proposto neste projeto objetiva

com a Universidade FUMEC

oficinas de artesanato, de percussão, de

fomentar o artesanato como setor econômico

uma ampliação efetiva do repertório cultural

tem proporcionado a um

capoeira, informática e possivelmente a de

sustentável que valoriza a subjetividade

dos participantes do grupo através de aulas

grupo de alunos dessa escola

estamparia também poderá funcionar aos finais

coletiva promovendo a melhoria da qualidade

teóricas sobre arte, cultura, design, arquitetura,

pertencente ao Aglomerado o

de semana.

de vida e a geração de renda. A intenção foi

antropologia, ecologia e sustentabilidade. Passeios

propiciar a criação de produtos manufaturados

culturais e visitas a exposições de arte também se

Outro fator essencial ao projeto é que a

com possibilidade de comercialização em

enquadram nessas ações, além da participação

prefeitura de Belo Horizonte ofereceu como

mercados consumidores proeminentes como

do grupo em oficinas que possam envolver

contrapartida a construção de um espaço

feiras nacionais e eventos, além dos locais com

outros grupos culturais já organizados na própria

onde será instalada a oficina de estamparia,

possibilidades de venda de produtos com alto

comunidade. Esse tipo de artesanato abarca

cujos equipamentos e materiais de uso foram

valor agregado. O projeto tem proporcionado

produtos que atingem altos preços no mercado

financiados pelo Prêmio UNISOL/BANCO REAL.

um cruzamento de ações de capacitação, tais

nacional e também costumam ser os prediletos no

A primeira turma formada poderá montar uma

como orientação com metodologia específica

mercado de exportação.

associação que se auto-sustentará e que formará

para trabalhar um reposicionamento subjetivo e

novos trabalhadores ao capacitar os jovens,

criativo do artesão de baixíssima renda perante

Pretendeu-se neste projeto desenvolver a técnica

dando-lhes também a oportunidade do primeiro

um novo mercado consumidor mais exigente

de estamparia para aplicação em produtos

emprego e uma atitude empreendedora. A

através: da formação de repertório estético geral

variados. Percebemos que essa técnica, além

escola funciona em horário integral e esses

e histórico, além de incentivar a atualização

de valorizar o produto, também dá agilidade à

futuros artesãos podem começar a aprender

cultural (incluindo tendências na moda, no

produção por conseguir uma reprodução em série

tecnologias que em curto prazo poderão servir

design e na decoração). Após o lançamento

mesmo que por processos artesanais. Neste projeto

para melhores condições de trabalho e de

dos produtos, a idéia é que através de parcerias

essa técnica engendrou uma enorme eficácia, já

vida. A idéia é que esta comunidade, com a

estes sejam comercializados em pontos de

que faz parte do universo estético contemporâneo

implementação de projetos como este, possa

venda onde sejam valorizados como resultado e

a idéia de aplicação de imagens colhidas pelos

iniciar a criação de uma rede de sustentabilidade

processo de projetos de artesanato e design que

artesãos como forma de revelar as relações entre a

e economia solidária, melhorando sua condição

promovam inclusão social e geração de renda

identidade pessoal e o lugar.

econômica, sua inserção social, diminuindo os

em comunidades carentes.

conhecimento de um ambiente de estudo completo, de nível superior, além do aprendizado de técnicas inovadoras no design de estamparia. Isso aconteceu em uma primeira etapa, com oficinas e aulas realizadas na própria Universidade, utilizando suas salas de aula, equipamentos didáticos e o ateliê de estamparia. Além disso, pode-se criar para a comunidade, a partir da primeira turma a freqüentar esse programa de capacitação, a figura dos multiplicadores, que serão pessoas que participarão do projeto e irão repassar o conhecimento dando continuidade ao trabalho, formando novos empreendedores e até uma cooperativa para trabalhar com confecções da cidade e/ou do estado. Esses multiplicadores poderão iniciar outras pessoas da comunidade inclusive na Escola Aberta, que

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objetivo geral

índices de violência local e aumentado a sua

Também são objetivos do projeto: ampliar as

auto-estima.

oportunidades de trabalho e renda da população envolvida em situação de risco pessoal e social num projeto de inclusão social; promover o acesso a tecnologias adequadas para o desenvolvimento

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artesanal produtivo; utilizar a inovação e a identidade cultural como um dos fatores de diferenciação do produto; educar o olhar do grupo para perceber soluções inventivas e sensíveis às demandas objetivas e subjetivas do homem urbano no seu próprio cotidiano; promover a cultura da cooperação estimulando a criação e o fortalecimento de associações e cooperativas; resgatar a cultura urbana e jovem como fator de agregação de valor ao artesanato; disponibilizar informações sobre a utilização racional dos recursos naturais, segundo os postulados da legislação ambiental; socializar o acesso às informações e ao conhecimento no âmbito do setor artesanal; articular parcerias para aumentar a participação do artesanato na produção nacional e para o conseqüente fortalecimento do setor; melhorar a auto-estima e a qualidade de vida da população; desenvolver a capacidade de criação e produção coletiva.

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metodologia de projeto

Uma metodologia eficaz

global, como diz Octavio Ianni , “muitas

informações tornou-se referência iconográfica

para o desenvolvimento do protótipo - mistura de

para o desenvolvimento de

coisas desenraizam-se, parecendo flutuar

e conceitual para a criação dos produtos numa

muitas técnicas) através de procedimentos técnicos

capacitação em artesanato que

pelos espaços e tempos do presente”, ou seja,

etapa posterior.

híbridos. Portanto, esse trabalho de capacitação

tenha sustentabilidade surge

mais do que tradições buscamos um diálogo

do entendimento de que só é

com a contemporaneidade. Desenvolvemos

possível induzir grupos a criar

procedimentos de pesquisa, de criação e de

o novo quando se constrói um

produção que advenham da identidade a partir

vasto repertório (informações,

da relação entre a cultura urbana e a cultura da

conceitos e instrumentalização),

favela, para que seja possível construir um forte

através do qual os participantes

laço identitário entre os artesãos e os produtos

possam compreender a situação

criados. Ministramos um grande leque de

atual da arte, do design e da

oficinas e aulas teóricas que possam dialogar

cultura contemporânea e que

diretamente com o cotidiano deles.

sejam capazes de, a partir daí, desenvolver futuras coleções de produtos sem a dependência da instrução de designers e artistas. Nitidamente com um caráter de inclusão social, este projeto apresenta uma metodologia específica para desenvolver coleções de produtos artesanais que se relacionem culturalmente de forma direta com o universo do Aglomerado da Serra. Ao mesmo tempo que reforçamos o contexto local do projeto nos temas escolhidos para as estampas, a concepção da linha de produtos

segundo momento Num segundo momento uma ação importante para a capacitação foi a apresentação de aulas teóricas (fundamentos de arte e design)

em design e artesanato inclui uma série de ações fundamentais para a construção do ambiente criativo necessário.

terceiro momento

acompanhadas de exercícios práticos que

Numa etapa final do plano de capacitação, que

reforçaram o conhecimento adquirido de forma

teve início em agosto de 2008, iniciamos as

empírica. Também foram ministradas aulas sobre:

oficinas de criação, nas quais foram efetivamente

elementos visuais e composição gráfica; o olhar

trabalhados os produtos específicos para a coleção

como forma diferenciada de percepção; história

final.

primeiro momento

da arte - do cubismo à arte contemporânea; teoria da cor; tendências no design; design do

Acredita-se que somente com a consolidação do

A primeira atividade da capacitação foi a

cotidiano e vernacular; arte popular e artesanato,

conhecimento ao longo de oficinas, seminários,

realização de um diagnóstico das qualidades

street art, etc. Essas aulas teóricas foram sempre

visitas de estudo e com a produção de peças

espaciais e estéticas do território cotidiano do

ilustradas com apresentações de imagens

com qualidade estética, cultural e eficácia

grupo a partir da experiência subjetiva de cada

dos conteúdos dados para gerar essa nova

mercadológica é que um processo sustentável

um. A idéia foi fazer com que os participantes

bagagem de cultura visual, tão necessária para

pode ser iniciado nessa escola pública, já que

descobrissem características cotidianas nunca

a compreensão da estética e dos processos

iremos construir e efetivar uma oficina de

observadas, agora com um olhar estético que

criativos contemporâneos. Também foram

estamparia para que futuramente não somente

revelasse o valor cultural das favelas e em

exibidos vídeos e filmes, entre documentários

alunos, mas também egressos possam continuar

especial do território específico a que eles

e longa-metragens, que abordam questões da

gerando renda e se incluindo socialmente com

pertencem. Esse diagnóstico foi elaborado

arte e da cultura do século XX, peças de design

dignidade. Todo trabalho aconteceu com um

a partir de mapas subjetivos (produção de

e artesanato contemporâneos. Além de aulas

acompanhamento intensivo de todo o processo

imagens fotográficas e inúmeros desenhos,

expositivas, mas em momentos intercalados a

criativo e da finalização dos produtos. A principal

mapas, colagens e anotações) construídos

elas, produzimos oficinas práticas para oferecer

idéia dessa metodologia é dotar os alunos de uma

coletivamente pelo grupo. A coleta dessas

novos instrumentais (tanto para criação -

nítida capacidade para gerar novos produtos a

desenhos, pinturas, maquetes, colagens - quanto

partir de um processo criativo baseado na pesquisa

está ligada a um pensamento  IANNI, Octavio. A Sociedade Global. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1997.

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e na inovação. Mais do que gerar produtos finais com forte interferência do designer, esse processo de capacitação deverá estimular metodologias de criação e desenvolvimento de produto. A metodologia incluiu também workshops para o desenvolvimento de trabalhos em grupo e identificação de lideranças. Também fizeram parte dessa etapa final: montagem da oficina de criação e produção artesanal; registro de todo o processo através de fotografias e filmagens; planejamento do catálogo, que inclui a reunião de todas as informações desde o processo até o resultado final da coleção e da oficina em funcionamento; planejamento da exposição; avaliação de todo o processo e do resultado final; estabelecimento de planos de continuidade do projeto na escola específica e já início do plano de ação para a próxima escola do Aglomerado.

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desdobramentos

Além de o projeto ser

qualidade que foi comercializado pelas artesãs

caixas de luz na cor preta, iluminadas por leds

resultado da Premiação Nacional

individualmente.

eletrônicos na parte interna. A exposição foi

no Concurso Unisol/Banco Real, ao longo do trabalho conseguimos uma parceria com a empresa Raiz da Terra, que desenvolve e produz camisetas ecológicas. A parceria consistiu no desenvolvimento de estampas exclusivas pelas artesãs com o tema fauna e flora do Aglomerado da Serra. A empresa, além de produzir os modelos de estampas criados por elas, apresentou a coleção em Paris, em um evento de moda ética. Esse trabalho serviu para abrir portas comerciais para o grupo, além de consolidar e divulgar a marca do ASAS. As parcerias oficiais aconteceram ao mesmo tempo que as próprias artesãs começaram a comercializar as suas ecobags, que foram o primeiro produto desenvolvido pelo grupo como exercício. A atividade, de início, foi encarada como uma prática para o exercício da técnica e acabou formando mais um produto de

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muito bem-sucedida e, além da repercussão na Como desdobramento das atividades

mídia, fez as caixinhas de luz se tornarem mais

acadêmicas envolvendo o projeto tivemos a

um produto comercializável para o grupo.

pintura dos muros da escola Padre Guilherme Peters pelo alunos da disciplina Núcleo de

Enfim, projetos como este ressaltam a

Projeto 2, do curso de Design Gráfico. As

importância da participação da Universidade

imagens estampadas nas paredes da escola

FUMEC em projetos de responsabilidade

foram resultado de oficinas realizadas com as

social com uma atuação que abarque também

crianças e os adolescentes do Aglomerado,

a pesquisa que tem o papel de consolidar

focando em experiências de vida positivas

as questões acadêmicas, metodológicas

de cada um. A pintura foi encerrada com um

e conceituais para que os projetos de

evento na própria escola, no qual a aluna

extensão produzidos na própria universidade

de Design de Moda Karina Leite apresentou

relacionados ao tema (no caso o artesanato

sua coleção de final de curso, toda feita com

urbano) tenham embasamento teórico e

estampas criadas pelas artesãs especialmente

projeção científica. Criam também um ambiente

para as suas peças. O desfile envolveu alunos

coeso entre pesquisa e extensão em torno

e familiares da comunidade, pois as modelos

da idéia de um Artesanato Solidário para que

também foram escolhidas no próprio

possamos atuar ativamente junto aos órgãos

Aglomerado.

nacionais (e internacionais) de discussões fundamentais para o desenvolvimento

Outras atividades paralelas à criação da coleção

econômico sustentável no País.

também foram desenvolvidas como um estímulo criativo e oportunidade de integração do grupo. Um exemplo foi a exposição Aglomeradas, resultante de uma oficina de pinhole realizada na FUMEC pelo Prof. Alexandre Lopes. Cada artesã fotografou com uma caixa de fósforo o seu cotidiano e essas imagens foram ampliadas em acetato e montadas em

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identidade: processo construtivo

cris araújo Técnica em Comunicação Visual pelo Instituto de Arte e Projeto - INAP, cursando 7º período em design gráfico pela Universidade FUMEC. 44


A identidade visual ASAS foi desenvolvida a partir da observação de fotografias do Aglomerado da Serra. Primeiramente foi realizado um estudo das estruturas dos barracões para, assim, podermos retirar características para compor as letras da identidade. Após esses estudos iniciou-se um processo de geração de alternativas para adequação de letra/desenho. Através das pesquisas locais pôde-se perceber as seguintes características passíveis de serem transformadas em elementos visuais: estruturas sobrepostas, arranjos, diversidade de materiais, becos e vielas, cores opacas, o laranja constante dos tijolos e o céu azul compondo a paisagem. A partir desses elementos iniciamos a construção da identidade. A identidade teve como característica blocos não alinhados, espaços entre letras fazendo alusão aos becos e vielas e a estrutura grotesta que remete à improvisação e à desuniformização das casas aglomeradas.

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becos e vielas

base estrutural: tijolos

ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA letras “blocos” desuniformes remetendo à estrutura dos barracões

cores: LARANJA | cor da comunicação, simbolizando o projeto como agente comunicacional na comunidade e também por ser a cor mais predominate no Aglomerado, presente nos tijolos dos barracões.

ARTESANATO SOLIDÁRIO NO AGLOMERADO DA SERRA

AZUL ACINZENTADO | cor que remete a segurança e estabilidade, fazendo alusão à estruturação sólida do projeto proposto na comunidade e também por ser a junção do azul do céu ao cinza do asfalto bem visíveis no Aglomerado.

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psicologia

e a estruturação do grupo

érica do espírito santo Psicóloga, graduada pela Universidade Federal de Minas Gerais, em agosto de 2005.


Meu nome é Érica Silva do

jovens, pois as mulheres mais velhas eram quem

O desenvolvimento do grupo parece ter sido modificado. Logo que cheguei, nos primeiros encontros, na fase

Espírito Santo, sou psicóloga,

estava “tocando” o grupo e o projeto era focado

de observação, percebi que o grupo estava ainda imaturo, esperando respostas dos professores e dos bolsistas,

graduada pela Universidade Federal

para os jovens. Então este foi o primeiro ponto a

como alunos que recebem o conhecimento que foram ali, na universidade, buscar. Agora estamos em agosto

de Minas Gerais em agosto de

ser trabalhado com o grupo: definir quem era o

e já percebo que foi assumido um papel pelo grupo, um pouco mais de iniciativa, de organização, ou seja,

2005. Desde que me formei venho

grupo e qual seria seu papel.

um pouco mais de autonomia. As oito mulheres que são o que chamo de “coração” do grupo já fizeram suas

procurando formas de aprimorar meus conhecimentos técnicos e teóricos dentro de alguns campos da vasta área de abrangência da Psicologia. Uma área em que comecei a trabalhar foi na psicanálise, tanto individual quanto com grupos. Fui convidada a participar do projeto ASAS para atender a uma demanda de trabalho com adolescentes. A princípio foi o que me chamou atenção para o projeto, pelo fato de eu já ter experiência em trabalhos anteriores com adolescentes do Aglomerado da Serra. Meu primeiro encontro com o grupo foi no dia 22 de março de 2009, e logo foi esclarecido que o projeto havia sido pensado para jovens, mas que tinha mudado de foco. Acho importante tocar nesse ponto, pois percebi logo que era um incômodo do grupo que estava lá, sete mulheres adultas e quatro

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Por parte da equipe da FUMEC foi feita a demanda para o trabalho com o grupo no

primeiras reuniões entre si, independentemente das professoras e dos bolsistas e parecem já participar mais ativamente desse trabalho que no futuro será o trabalho delas.

sentido de ajudá-lo a se fortalecer, para que ao

O que percebo claramente é que houve uma mudança de um estado de dependência absoluta do grupo

final do projeto tivesse autonomia para se manter

em relação ao corpo de professores e alunos da FUMEC para um estado de dependência relativa, fazendo um

sozinho, já que o objetivo é que elas sejam

paralelo com as fases de desenvolvimento do indivíduo. E o objetivo deste trabalho é que este grupo continue

responsáveis por uma oficina de estamparia que

caminhando no sentido de chegar a uma independência, para que possa caminhar pelas próprias pernas.

será montada dentro do Aglomerado. Acho importante destacar também a importância que percebo deste projeto para a auto-estima dessas Ficou estabelecido que meu horário de trabalho

mulheres, moradoras do aglomerado, que não tiveram oportunidade de cursar uma faculdade e, cada dia

com o grupo seria todas as terças-feiras, às 14h,

mais, se sentem capazes de, além de buscar novas possibilidades para suas vidas, passar o conhecimento que

horário combinado com o grupo para que não

acumularam ao longo de suas vidas. Todas trazem uma bagagem que vão compartilhando aos poucos, vão se

houvesse atrasos. No início muitas se atrasavam.

sentindo importantes dentro do que é valorizado no projeto, vão percebendo que elas são o valor deste projeto

Aos poucos fomos criando um espaço de

e se sentindo mais convictas para seguir adiante.

trabalho em que foram aparecendo as questões a serem trabalhadas e os incômodos. Fizemos

Há dificuldades de horário, de tempo, de dinheiro para ir e vir, de aceitar as diferenças, de estabelecer regras –

oficinas de agrupabilidade, com a intenção de

situações normais que acontecem com qualquer grupo que se proponha a trabalhar junto.

unir mais o grupo que ali se encontrava partindo da idéia de que o grupo eram aquelas pessoas que estavam ali, mesmo que isto contrariasse

Esse grupo tem traços fortes de união e de identidade entre si, por se tratar de mulheres maduras, em sua maioria, habitantes da mesma região, que procuram no trabalho uma saída para o futuro.

a proposta inicial do projeto. Acredito que à

Cada grupo tem uma estrutura e uma dinâmica. A estrutura é a forma de organização do grupo a partir da

medida que os participantes foram percebendo

identificação de seus membros. Dinâmicas são as forças de coesão e dispersão do grupo, e que fazem com que

que eles eram o grupo, foram se apropriando

se transforme, o que inclui: formação de normas, comunicação, cooperação, divisão de tarefas e distribuição

dele, foram assumindo papéis sem tanto receio

de poder e liderança. Pretendemos fortalecer ainda mais os laços já estabelecidos dentro do grupo até o

de que esse lugar fosse tomado mais tarde pelos

final do projeto. E, para o segundo semestre, foram programadas atividades que facilitassem a divisão de

jovens.

papéis, que já está sendo esboçada pelas participantes em suas reuniões; atividades que esclareçam as regras

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e normas estabelecidas pelo

arcabouço teórico a fim de procurar respostas

grupo; atividades de facilitação

para as perguntas que surgem a cada dia, para

da comunicação tanto dentro do

expandir meu repertório de atividades e oficinas,

grupo quanto de dentro para fora

busca de novos livros, textos. Gostaria de enfatizar

do grupo, ou seja, a comunicação

também a importância da liberdade para trabalhar

do grupo com o mundo; atividades

desde o início, o grande acolhimento do grupo

de clarifiquem as lideranças ainda

da FUMEC, a compreensão quanto ao trabalho

mais e que promovam uma divisão

que muitas vezes não deixa claro seus objetivos, e,

destas e do poder, a fim de que

principalmente, a troca de conhecimento. Pois o

não haja impressão de injustiça

campo da psicologia é aberto para tudo que vem

ou privilégio. O intuito é fazer com

de enriquecimento em relação ao ser humano

que cada integrante participe de

e acho que essa experiência proporciona esse

cada etapa e se sinta responsável

crescimento para todos os envolvidos.

pelas escolhas que forem feitas. É muito importante pra mim ver que esse grupo já cresceu nesse período e ainda crescerá muito mais. Obviamente, tudo não se deve ao trabalho psicológico que vem sendo feito, mas ao trabalho de toda a equipe e do próprio grupo. Para mim é importante participar desse projeto pelo desafio, por se tratar de um trabalho com pessoas de outras áreas, com as expectativas, com meus limites. Ao longo do trabalho venho procurando enriquecer meu

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a estamparia como capacitação profissional

éder jorge de almeida Serígrafo e técnico da estamparia da Universidade FUMEC.

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Meu nome é Éder Jorge

importância e grande aliadas na seleção natural

ainda não foi conseguida, mas todos os exemplos de superação dados até o momento mostram que, com

de Almeida, sou serígrafo e

dos que realmente têm compromisso com o

o devido acompanhamento, em breve será conseguida. Vale lembrar que esse grupo, conseguiu absorver o

desenvolvo trabalhos para

trabalho em equipe.

conhecimento transmitido pelos colaboradores do “ASAS” com o devido suporte, conseguiu desenvolver seus

estamparia têxtil, com técnicas que vão desde a pintura artesanal, passando pela serigrafia plana manual, até os processos automatizados como carrosséis, planas e cilindros, além de comunicação visual e gravuras. Como educador, atuo em projetos de inclusão social (Sol da Serra), capacitação profissional (Talentos do Brasil), qualificação profissional (Mulheres Criativas) e figurino (Corpo Cidadão). Quando comecei a desenvolver o processo de estamparia dentro do projeto Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra “ASAS”, encontrei um grupo numeroso que em princípio me assustou, pois era um número muito acima da capacidade do ateliê onde a técnica seria desenvolvida, mas as

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Foi uma grande e decepcionante surpresa ver

produtos e está pronto para enfrentar uma banca.

que os mais jovens desistiram do projeto por

Para aqueles que resistiram até agora, só tenho a agradecer pela tolerância e pelo carinho que sempre

não poder “esperar”, mas sei que a culpa não é

demonstraram mesmo nos piores e mais difíceis dias de nossa parceria que só está começando. Para os que

deles. O projeto conjuga ações de educação e

desistiram, espero que se encontrem e reconheçam a importância de somar as forças em prol da melhoria da

profissionalização objetivando um conseqüente

qualidade de vida e do desenvolvimento.

crescimento econômico e distribuição de renda, porém em longo prazo, e os mais jovens infelizmente não podem esperar, uma vez que a realidade social é cruel e os obriga a traçar os próprios caminhos e, com certeza, só irão perceber o quanto perderam quando for muito tarde. No decorrer das atividades tive medo também de que o grupo ficasse eternamente dependente dos colaboradores e não conseguisse a autonomia suficiente para entrar no mercado e enfrentar a concorrência em pé de igualdade, mas esse medo passou depois de ver que os remanescentes conseguiram superar os conflitos internos e compreenderam que juntos terão chances reais de se tornarem autônomos.

aulas teóricas que antecederam o

A autonomia do grupo (Etelvina, Elzy, Maria

processo foram de fundamental

do Carmo, Schirley, Susana, Joana e Gabriela)

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depoimentos: alunos bolsistas da universidade fumec

Ana LuĂ­za Ferreira . Bruno Oliveira . Cris AraĂşjo Daniel Patrick . Eduardo Goulart . Felipe Franco Joana Sanglard . Rafael Barbosa . Rodrigo Mattar

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ana luiza ferreira . design de moda

cris araújo . design gráfico

O Projeto ASAS coordenado pelas

Participar do ASAS me proporcionou um grande

constantes em nossos encontros;

professoras Natacha Rena e Juliana

crescimento pessoal e acadêmico, possibilitando

questões essas que se aperfeiçoaram

Pontes foi uma oportunidade maravi-

um pensamento crítico em relação a minha

a cada dia estimulando-nos a con-

lhosa em minha vida, tanto profis-

opção profissional e a inserção social. Confron-

tinuar na medida em que observáva-

sional quando pessoal. Aprendi muito

tar minha formação acadêmica com a prática

mos a absorção do conteúdo, tudo

com todo o grupo e especialmente

através do choque de realidades tão distintas

isso fez-me acreditar ainda mais no

com as artesãs. Acredito que como

trouxe um aprendizado único, levando-me a de-

design aliado ao artesanato como

profissional me tornei uma pessoa

senvolver metodologias específicas de trabalho

forma de transformação do sujeito,

melhor e mais humana e amiga.

e a compreender a articulação entre o ensino,

fazendo-o um agente cultural ativo,

Como já existia em mim a vontade de

pesquisa e extensão. Descobertas de um novo

transformador e confiante de suas

ajudar pessoas, acabei descobrindo

olhar, questionamentos do que é belo, do que

possibilidades criativas.

como me ajudar. E só tem agradecer

é horrendo o que é conceitual, o que é grupo

a todo o grupo.

e como se trabalha com ele, foram questões

bruno oliveira . ciência da computação

daniel patrick . design gráfico

A oportunidade de participar do

desenvolvimento de habilidades e conceitos

O projeto Asas me proporcionou uma visão mais

experiências têm acrescentado muito

ASAS surgiu em um momento de

cada vez mais inovadores. Quando percebi, o

crítica e ampla sobre projetos sociais sua eficá-

na minha formação e vejo como

questionamento de diversos aspectos

projeto, que havia se tornado um real desafio,

cia, seus objetivos, metodologias e até mesmo a

aprendizagem para toda a vida. Esse

do design, suas metodologias, con-

colocando em xeque diversos posicionamentos

recepção desse tipo de ação nas comunidades

projeto abriu ainda mais a minha

textos e objetivos. Assim que entrei

políticos, sociais, culturais, estéticos, havia tam-

em que se desenvolvem. Além de aduzir alguns

visão profissional para possibilidades

para o projeto fui apresentado a um

bém influenciado atitudes tanto na minha vida

conceitos a serem desenvolvidos na minha área

de atuação no mercado de trabalho

universo de referências que não es-

pessoal quanto na acadêmica. Novos materiais,

de formação: O Design Gráfico. O empenho do

além de ratificar a minha vontade de

perava: Hardt e Antonio Negri, Paola

possibilidades, experimentações e conhecimen-

grupo foi tão grande, que discussões teóricas

seguir carreira acadêmica, levando-

Berestein Jacques, Michel Foucault,

tos foram descobertos com o desenvolvimento

sobre o modo mais efetivo de capacitação,

me a pensar conceitos para colaborar

Gilles Deleuze, Felix Guattar, entre

do projeto, e estes novos contextos foram (e

conceitos, condução do projeto, processos

com a área do Design/Artesanato, e

outros. Mais do que um aglomerado

serão) definitivos para as minhas (futuras) de-

criativos e principalmente prática de ensino se

também de aprofundar as discussões

de técnicas e materiais, o artesanato-

cisões profissionais: escolhas mais diferenciadas,

tornaram cada vez mais presentes em corre-

sobre metodologia de criação, ensino

design se mostrou ser uma área de

sustentáveis e conscientes.

dores da universidade e essa troca de vivências e

e identidade cultural. 67


eduardo goulart . design gráfico

• evoluções no campo das inter-

enquanto aluno de Design Gráfico nesta aca-

relações humanas, neste quesito que,

demia de ensino - são todos estes fatores que

por efeito cascata, me dá repertório

marcaram minha experiência neste projeto

de ação, quando perante novos

social, político, cultural e conceitual.

desafios e rumos profissionais, dentro

A alguns períodos acadêmicos atrás,

meu papel, em simultâneo tempo ao que,

em meados de 2007 quando, então,

pelas mesmas vias, aprimorei e desenvolvi

fui apresentado às coordenadoras

parâmetros de composição pessoais, como

do projeto ASAS - as professoras da

criador imagético, lapidando e atravessando

Universidade FUMEC Natacha Rena,

níveis de evolução em meu trabalho, em

De forma pragmática (coisa que o ASAS me

primeiramente, e posteriormente

minha função de Fotógrafo, que venho a

ajudou substancialmente a desenvolver),

Juliana Pontes - eu, sim, deliberada-

algum tempo desempenhando e desenvol-

posso solidamente aqui testemunhar, quando

Eu honestamente agradeço a todos

mente sabia e imaginava que esta

vendo, na Vida.

atesto que minhas habilidades foram noto-

os envolvidos neste projeto - sem

riamente melhoradas, tanto tecnicamente,

excessões: desde meus colegas de

quanto qualitativamente, como a pouco

trabalho e também alunos da Univer-

pontuei:

sidade FUMEC, passando pelas co-

seria uma ótima oportunidade, tanto de desenvolvimento acadêmico,

Tendo a Universidade FUMEC e o projeto ASAS

quanto profissional.

como plataformas de ações e articulações, minha trajetória acadêmica e profissional ficou

de meu caminho pessoal e de formação acadêmica e intelectual.

ordenadoras Natacha Rena e Juliana

Porém, não concebia a tamanha

positivamente marcada entre antes e depois

• uma maior desenvoltura na capacidade de

Pontes, parceiros e profissionais de

distância que estava prestes a percor-

deste intenso ano, onde muitas dificuldades

realizar registros fotojornalísticos foi alcançada

diversas áreas envolvidas voluntários,

rer, em caminhos e experiências,

construtivas marcaram minha presença no

por mim, como resultado desta experiência

patrocinadores e responsáveis afins,

intrincados, dentro deste projeto de

grupo de trabalho, que envolveu e envolve

com o projeto, com o aprimoramento de

até, finalmente, à razão de tudo que

extensão.

alunos bolsistas, coordenadores, professores,

habilidades composicionais e técnicas, assim

aqui é apresentado : este grupo de

voluntários e, especialmente, um grupo peCansativos e recompensadores -

como as do cunho “relação corpo a corpo”,

alunos e alunas que muito trouxe-

culiar de alunas e alunos, todos provenientes

em vistas de um aprimoramento

com os objetos fotografados, uma vez que,

ram para nós todos, não somente

do Aglomerado da Serra, em Belo Horizonte,

pessoal, no âmbito sócio-cultural,

intensamente, semana a semana por mais

levando para si um valioso empode-

MG, que representaram o início de novos

aliado ao meu já citado almejado

de um ano - a fio - e in-loco, estive clicando e

ramento de vida e profissional, mas

horizontes, no campo que diz respeito ao

avanço profissional, em novas bases

editando imagens de todo o processo desen-

deixando, em contrapartida, extenso

entendimento sociológico que tanto gosto de

de aplicações teóricas e articulações

volvido pelo grupo;

terreno de atuação e experiências

explorar, e aplico no que desenvolvo, profis-

práticas, nunca antes por mim prova-

sionalmente, dentro do que venho criando e

• um desenvolvimento de relações e contatos

das, até então. Como Fotojornalista

intuindo em minhas visões do que costumo

de trabalho mais sólidos, mais articulados, e

deste longo e multidisciplinar projeto

chamar ‘fotojornalismo poético’.

conseqüente enriquecimento de meu cur-

de extensão da Universidade FUMEC,

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como potencializadores de meu currículo,

rículo, como profissional da Imagética e de

em parceria com o Banco Real e a

Conversas, amizades formadas. Experiências

ONG UNISOL, pude desempenhar

trocadas e co-vividas. Momentos solidificados

Design Gráfico ;

práticas e vivenciais, enriquecedores para qualquer um de nós, emergentes profissionais, em vias de solidificação conceitual, cultural e humana, em nossas áreas de atuação individuais. Certamente assim o foi, e continua a ser, para mim. 69


felipe sales melo franco . design de produto

oficinas, biblioteca, cantina, etc, fazendo

nossos olhos e aos moradores da

analogias com os percursos da favela; os dois

No período de um ano só aprendi.

comunidade, de exaltar o que há de

contextos (favela e universidade) possuem

Não foi fácil como pensei, o que é

bom na favela, trazendo novas pos-

seus atalhos, caminhos peculiares, traçados e

muito bom! Aprendi a respeitar o

sibilidades de renda e trabalho.

percursos, becos e trajetos sem saída.

próximo, a ver realidades e mundos

Outro ponto fundamental é a

distintos no mesmo lugar. Aprendi a

E como será viver na favela onde todo mundo

multidisciplinaridade que existe no

pintar, fazer contas, criar, sorrir, dizer

é igual e “alguns não existem”, segundo relato

projeto, proporcionando um apren-

não. Aprendi que, por mais tarde que

de uma moradora sobre os constantes “gatos

dizado mútuo pela união de diversos

seja, conseguimos mudar, aprender,

de luz” feitos: “sabe como eu descobri que o lugar

conceitos e preceitos, e também a

ter esperança. Aprendi a planejar,

em que eu moro não existe no mapa? A CEMIG

eficácia da ação, contribuindo para

executar, trabalhar em equipe.

cortou a luz, fizemos gato, daí levaram embora, e

uma melhoria efetiva da comuni-

Aprendi a ajudar, ser ouvido e ouvir.

fizemos gato de novo, falaram que o Beco Gomes

dade do Aglomerado.

não existe no mapa, será que eu não existo?”. Portanto são muitas as lucubrações sobre as inconstâncias da favela, é terra de ninguém, logo, de todos.

joanna sanglard . design de produto Do individual ao coletivo, metodologias Fazer parte do projeto ASAS é para

utilizar minha profissão, todos esses anos de fac-

começam a ser propostas por eles mesmos,

mim uma experiência a que nada

uldade para ajudar pessoas menos favorecidas,

um sinal de que enxergam que o ponto gera-

é comparável. Primeiramente a

pois ajudando os outros eu ajudo a mim mesma,

dor (e inspirador) de todo esse processo é nada

estranheza e ao mesmo tempo a

uma vez que estamos todos interconectados.

mais que seu contexto e suas possibilidades. É

curiosidade de poder transformar

70

inserir foto

interessante ver como mergulham no mundo

uma realidade que é tão diferente

Nas primeiras visitas ao Aglomerado me intriga-

da minha, e através deste processo

va pensar em como aquele império é construído

de transformação vir a me conhecer

dia a dia, retalho a retalho, com seus constantes

cada dia melhor. Acredito que a

puxados e achados das ruas. Outra experiên-

A cada dia dessa vivência surgem novos

vivência dessa alteridade entre mun-

cia significativa foi o vice-e-versa, quando as

questionamentos, caminhos e possibilidades,

dos tão diversos possibilitou definir

pessoas do Aglomerado vieram a primeira vez

dando a oportunidade a nós, estudantes, de

minha linha de atuação no mercado

à universidade conhecer o meu então “mundo

atuarmos na realidade que está debaixo dos

como designer. É muito bom poder

formal”. Percorremos laboratórios, salas de aula,

em que sempre viveram, mas de uma forma diferente agora.

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rafael barbosa . design gráfico Comecei a participar oficialmente do

mais consolidada e o papel de cada integrante

projeto de extensão ASAS no dia 4 de

está sendo bem determinado pelas moradoras

março de 2008, participei do projeto

do Aglomerado da Serra. Tenho o objetivo de

até o fim do mês de junho e retornei ao

contribuir não só na área de design gráfico, da

grupo em outubro. Analisando minha

qual fui encarregado, mas também nas relações

experiência, percebo que o projeto

entre os alunos da universidade e os moradores

tem ótimas perspectivas. O grupo de

do Aglomerado da Serra, pois percebo que o

trabalho constituído pelos alunos da

trabalho em grupo e o convívio entre pessoas

FUMEC é bem dividido e as tarefas são

de realidades sociais tão diferentes é um desafio

delegadas de acordo com o perfil e a

diário. Tenho ótimas perspectivas para esse

habilidade de cada voluntário. Posso

trabalho e acredito que, se o empenho de cada

relatar que durante os quatro meses

envolvido for desenvolvido em conjunto com o

em que fiquei fora o grupo evoluiu

grupo, realizaremos as metas do projeto ASAS

muito, a associação “Aglomeradas” está

com excelência.

rodrigo franco mattar . design de produto

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Vejo esse projeto social como uma

pesquisar materias, tendências e funcionalidade

excelente oportunidade de colocar

para os produtos desenvolvidos. Paralelamente

em prática muitos conhecimentos

ao objetivo de fazer com que as aglomeradas,

adquiridos no meio acadêmico,

após o projeto, possam continuar desenvol-

podendo ser usados de uma forma

vendo um trabalho inovador e de uma forte

profissional, já que o ASAS funciona

identidade de pessoas que vivem o dia-a-dia de

como uma pequena empresa, com

uma periferia, acredito que o sucesso futuro será

projetos, produtos, prazos, público-

de todos os envolvidos, pois o convívio e a troca

alvo e profissionais com cargos e fun-

de experiências não só colaboram para a estru-

ções distintas. O desafio de preparar

turação de uma comunidade como também

as aglomeradas para um mercado

enriquecem o conhecimento dos estudantes e

consumidor que é cada vez mais

mestres, que colherão os frutos dessa vivência,

exigente faz com que os bolsistas se

adquirindo uma visão muito mais ampla e um

dediquem ao máximo, tendo que

repertório mais consistente. 73


03

paralelas

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atividades complementares

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eco-bags joana sanglard | Graduada em design de produto pela Universidade FUMEC O primeiro produto desenvolvido pela equipe

pelo caminho peças, retalhos e superfícies que

do grupo ASAS foi uma coleção de eco-bags,

possam ocasionar uma proteção quando unidas,

acompanhando uma tendência ecológica e política

as eco-bags são fruto da hibridização de diversas

mundial contra o uso das sacolas plásticas para

técnicas, conceitos, histórias e memórias.

compras de supermercados. A produção dessas bolsas fez parte da disciplina optativa dos cursos de

Entre vielas e becos, arranjos e acasos, a vida de

design Artesanato e Design. Alunos da disciplina

quem mora na favela está entregue ao acaso,

construíram workshops semanais numa seqüência

não importa o fim, vive-se da incompletude.

lógica que auxiliasse na criação e confecção das

Essa fragmentação e o senso de incompletude

bolsas.

estão fortemente presentes nos produtos desenvolvidos. Desenhos inacabados, costuras

A elaboração conceitual presente na construção

enviesadas, borrões, sobreposições de bordados,

dessas bolsas se assemelha à forma de surgimento e

colagens e estêncil.

desenvolvimento das favelas através da “bricolagem”, explicada por Paola Berenstein no livro “Estética da

A partir de cada uma das oficinas trabalhadas

Ginga”;

coletivamente (pontos, linhas, rabiscos, cores, texturas, colagens, observação, modelagem,

“O acaso é parte integrante da idéia de bricolagem; é o

apliques, estampas e bordados) as bolsas criadas

incidente, ou seja, o pequeno acontecimento imprevisto,

por cada uma das aglomeradas tomaram formas

o “micro-evento”, que está na origem do movimento.

únicas, apresentando tanto uma expressividade

Bricolar é, então, ricochetear, enviesar, zigue-zaguear,

singular, quanto um produto contaminado

contornar.” (JACQUES, apud BERENSTEIN, 2003, p.24)

pelas trocas resultantes das orientações dos professores, dos alunos da disciplina, dos colegas

Assim como os barracos nas favelas são construídos

da favela e dos alunos bolsistas do projeto ASAS.

aos poucos e à medida que as pessoas encontram

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parceria raiz da terra

Coleção Natureza na Favela

cassius silva | Gestor de Comércio, Comunicação e MKT da marca Raiz da Terra Brazilian Nature Wear

A marca Raiz da Terra Brazilian Nature Wear tem como proposta o desenvolvimento de produtos de moda de forma ética, apostando, desenvolvendo e apoiando projetos sociais e ambientais. No início de 2008 tivemos a oportunidade de conhecer o Projeto ASAS, e a partir daí iniciamos essa parceria que já começa a render frutos. Traçamos como objetivo o desenvolvimento de uma coleção de camisetas cujo tema escolhido foi “a natureza na favela”, que foi lançada no Paris Ethical Fashion Show 2008 no mês de outubro. As expectativas foram superadas pelo poder criativo mostrado pelos integrantes do projeto no desenvolvimento das estampas, pelo resultado atingido nas peças piloto e no retorno já iminente por parte do mercado. A marca já planeja novos trabalhos em parceria com o Projeto ASAS, apostando cada vez mais nesse imenso potencial criativo, no desenvolvimento de um mix de produtos com alto valor agregado que possam ser comercializados pela Raiz da Terra BNW em suas coleções.

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concurso almofadas bruno oliveira | Cursando 8º período de Ciência da Computação na Universidade FUMEC e 1º período de Artes Plásticas na Guignard

na casa de uma das alunas para bordar (e só então aprendi a técnica!). As aglomeradas abraçaram o projeto de tal forma que me surpreendeu. Na segunda-feira nos encontramos novamente na Universidade FUMEC,

O projeto das almofadas surgiu com a proposta

dos tratores que estavam passando por cima

do 1º Prêmio do Objeto Brasileiro. As alunas do

das estruturas do “morro”. Após mais pesquisas

projeto já haviam criado uma série de eco-bags

(envolvendo inclusive frotagens das rodas dos

(com bordados, apliques e pinturas com êstencil),

tratores da obra), desenvolvemos o conceito

mas estávamos pensando em enviar um projeto

das almofadas, cartelas de cores, materiais e

criado e desenvolvido pelas alunas com as

acabamentos... Só havia um problema: já era

técnicas de estamparia que estavam aprendendo.

sexta-feira e a data limite para o envio dos

Começamos a discutir os conceitos relacionados

documentos para o concurso era na segunda-

ao Aglomerado e às obras que a prefeitura estava

feira. Não tínhamos telas gravadas, nem mesmo

fazendo na região. Esse projeto, o “Vila Viva”, envolvia

esticadas, o tecido não estava cortado, enfim,

a modificação da malha viária e a construção de

não tínhamos nada pronto. Após uma conversa

conjuntos habitacionais e iria movimentar, segundo

sincera com as alunas do projeto, que estavam

dados da URBEL (Companhia Urbanizadora de Belo

bastante animadas com a idéia de começar a

Horizonte), cerca de 50 mil pessoas. As opiniões

fazer produtos, estabelecemos um cronograma

acerca de tal projeto eram as mais diversas no

intenso para estamparia e bordado, que se

grupo: havia aquelas que acreditavam que o fim

estenderia por sexta-feira, sábado e domingo

dos becos iria trazer mais segurança, além de

inteiros. Foi então que pude perceber que,

tornar melhor o sistema de moradia e a oferta de

apesar de todos os problemas de processos

lazer e cultura, e havia aquelas que acreditavam

em grupo, as alunas do ASAS iriam dar conta

que a mudança para “favelas verticais” seria uma

do recado. Após uma intensa sexta-feira de

forma de controle da população e que iria apenas

gravação de telas e preparação de tintas e

piorar a situação. Após duas semanas de discussão

modelagens, passamos o sábado estampando as

e pesquisas sobre o assuntos, durante uma aula

almofadas e iniciando a costura. Já no domingo,

de desenho, surgiu a idéia desenvolver a imagem

com a Universidade fechada, nos encontramos

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fotografamos as almofadas (fruto da noite em claro de algumas delas) e enviamos o material para o concurso. Apesar de as almofadas não terem sido selecionadas para o concurso (acreditamos que o conceito das mesmas estava demasiadamente polêmico para tal), o processo foi essencial para a compreensão das relações dentro do grupo e das próprias práticas e metodologias do artesanato-design.

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muros estampados juliana pontes | Professora da disciplina Núcleo de Projeto II da Universidade FUMEC

A ação teve ampla repercussão na mídia impressa local, o que estimulou e valorizou muito a comunidade em

A atividade de pintura e colagem de imagens nos muros da Escola Municipal Padre Guilherme Peters foi mais um desdobramento acadêmico do projeto ASAS UNISOL-BANCO REAL. A proposta surgiu na disciplina Núcleo de Projeto II, do curso de Design Gráfico, que tinha o foco no design de superfícies e editorial. A princípio, o tema seria a escola municipal e o Aglomerado. Porém, durante a nossa primeira visita de campo, tivemos a idéia de realizar uma oficina com as crianças e os adolescentes da escola municipal para coletar material iconográfico e textual para servir de fonte de criação para os projetos acadêmicos. As oficinas aconteceram no Aglomerado, onde dividimos os jovens por grupos de idades e afinidades temáticas. Os assuntos trabalhados giravam em torno do próprio cotidiano dessas crianças e desses adolescentes, como, por exemplo, o tema “aconteceu comigo e foi legal”, ligado a memórias lúdicas e familiares. Outros temas surgiram, porém ligados à atividade de estamparia e ao design, como pictogramas, estampas modulares, colagem e grafite. As oficinas foram extremamente produtivas, gerando oportunidade de aprendizado de novos conteúdos para os jovens da comunidade e uma vivência inédita para os estudantes da Universidade.

questão e os próprios estudantes da Universidade. A realização do projeto contou com o desfile da coleção “Arte Favela” da aluna de moda da Universidade criada com estampas produzidas pelas artesãs do projeto ASAS e apresentada por jovens modelos do próprio Aglomerado. Essa atividade serviu como encerramento do dia de pintura dos muros, e teve a presença dos pais dos alunos da Escola Padre Guilherme Peters, reforçando o vínculo entre a comunidade e a escola. Enfim, a parceria foi um marco como resultado e como experiência acadêmica e atividade extensionista. A amplitude da ação na Universidade teve repercussão também no Diretório Acadêmico (D.A.), que financiou a

O envolvimento dos alunos da escola municipal no processo criativo das imagens teve a finalidade de

compra dos materiais necessários e os seus integrantes

despertar o respeito pela estrutura física da escola, pois esta é sempre alvo de depredações, sujeiras e furtos.

participaram ativamente da produção no Aglomerado.

A intenção principal era expor nas paredes internas e nos muros do ambiente escolar a própria narrativa

Os muros deixaram de separar para tornarem-se espaços

dessas crianças, fazendo com que elas tenham orgulho das imagens por representarem sua história de vida.

de proximidade e interação.

Essas imagens também reforçam a auto-estima do grupo, apresentando de forma gráfica, atual e viva as suas memórias e fantasias. Outro fator responsável por gerar maior respeito pelo resultado do trabalho foi a participação ativa das crianças e dos adolescentes do Aglomerado na pintura dos muros e fixação dos lambelambes. O envolvimento dos jovens na montagem do projeto tornou-os conscientes do trabalho necessário para se realizar tal atividade e do valor desse tipo de intervenção.

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| depoimento | alisson dos prazeres

Estar no Aglomerado durante os dias de realização do projeto e, anteriormente, nas visitas guiadas foi uma experiência bastante enriquecedora. Até então era nebuloso para mim a maneira como o design poderia trazer mudanças significativas para a vida das pessoas, a ponto de tomar uma dimensão social. Conviver com os alunos da escola Padre Peters e a comunidade, além de enriquecer minha metodologia de projeto, deixou evidente o tamanho da nossa responsabilidade, como designers, na construção e no desenvolvimento da sociedade à nossa volta. A troca foi mútua. Enquanto nós, estudantes de Design Gráfico da Universidade FUMEC, ensinávamos noções básicas de design para os alunos, como composição e teoria das cores, aprendíamos de maneira mais eficaz com o nosso público, pois estávamos inseridos naquele meio. Mas, acima de tudo, trocávamos vivências e novos conceitos. Levamos nossa formação acadêmica como uma referência positiva. No futuro, podemos ter designers derivados do Aglomerado, pelo fato de termos atraído a atenção das pequenas mentes para essa atividade. Também nesse período de inserção, por receber mais informações sobre todo o contexto de vida do Aglomerado, pudemos quebrar idéias clichês e nos livrar de qualquer preconceito que estivesse relacionado com elas. Poder sentir a emoção das crianças durante o processo do projeto, do qual as mesmas participaram ativamente, é algo muito gratificante. Mais gratificante ainda é aumentar nosso repertório cultural com essa comunidade detentora de tanta riqueza que para nós era, até então, oculta por trás do morro.

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| depoimento | fernando vasconcelos

A oportunidade que tive ao desenvolver esse projeto para a escola, um ambiente tão importante na criação de uma, e de muitas pessoas, foi muito empolgante, despertou em mim uma vontade de misturar a capacidade de impacto das intervenções urbanas, do grafite e da estética e as mensagens lúdicas de desenhos coloridos e “alegres”. A abordagem, os materiais, a idéia e a localização foram tarefas relativamente tranqüilas, mas quando fui realmente grafitar e colar as imagens nos muros, foi uma novidade enorme para mim, que nunca tinha realmente feito um grafite com apoio de tantas pessoas, com empolgação e descontração, e uma determinação de saber estar fazendo algo que vai comunicar tanta coisa. Quando recebi elogios e a aprovação das pessoas que vivenciam a escola, de pessoas que trabalharam comigo nos muros, e dos alunos que tanto se empolgaram, foi uma recompensa enorme, eu nao queria parar mais. Queria ficar ali o dia todo pintando muros, colocando em tinta uma mensagem positiva para quem quisesse e pudesse enxergar, colocando o conceito em forma e cor, dando vida ao projeto desenvolvido na faculdade. Foi uma experiencia que me abriu um horizonte novo, de novas idéias e caminhos a seguir. Faria tudo de novo se pudesse, e passaria adiante toda a experiencia a quem interessar. Agradeço principalmente à professora Juliana por acreditar em mim e me motivar quando achava que não conseguiria.

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| depoimento | reinaldo rocha

A vista era maravilhosa! O projeto de núcleo com a Juliana nos levou para o topo do mundo, essa era a impressão que dava lá de cima. Os sorrisos das crianças foram as maiores recompensas, e logo depois os lanches e a satisfação de um trabalho tão bonito. Foi muito marcante pra mim porque ver o trabalho sair da faculdade e atingir de maneira tão carinhosa as crianças do colégio Peters do Aglomerado ensina que é difícil ter oportunidade de aprender, que nossas atitudes podem realmente influenciar outras pessoas. E, quando eu falo de atingir as pessoas com nossas ações, não falo só das crianças, mas do exemplo que me foi dado pelo pessoal do projeto. O desenho no muro é só uma marca de uma atenção muito especial que o projeto do Sol mostrou. Por isso aplaudo de pé todos que participaram e agradeço pela oportunidade com saudades de lá de cima.

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| depoimento | karina leite

DESFILE COLEÇÃO ARTE FAVELA NA ESCOLA PADRE GUILHERME PETERS A coleção Arte Favela foi desenvolvida como projeto de Trabalho Final de Graduação para a conclusão do curso de Design de Moda da Universidade FUMEC. Para a coleção foram criados 15 looks inspirados no street wear com aplicações de serigrafias a partir de estampas desenhadas pelos alunos do Projeto ASAS que mostravam a identidade de cada participante. Depois da coleção pronta, foi feito um desfile na Escola Padre Guilherme Peters. Para o desfile convidamos como modelos as meninas moradoras do Aglomerado da Serra, que ficaram super animadas com o convite. Durante o dia da apresentação, na preparação do desfile senti que as meninas ficaram super interessadas pelo assunto, por toda a organização de um desfile, pois muitas delas nunca nem tinham presenciado algum. Nos ensaios tentavam da melhor forma possível aprender a desfilar da maneira correta para que na hora da apresentação para todos fizessem certo. Achei muito legal o interesse que as meninas mostraram e a forma como se comportaram. Com essa oportunidade que demos para as meninas vimos até alguns talentos na favela, algumas meninas lindas que com a oportunidade certa poderiam revelar um grande talento. Agradeço muito a Juliana e Natacha pela oportunidade de mostrar meu trabalho para todos aqueles que participaram do meu projeto e a forma como repercutiu esse desfile em jornais de grande circulação. Agradeço muito também pelo aprendizado maior que tive com todos do Projeto ASAS, que com certeza vou levar sempre comigo. Muito obrigada!

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| depoimentos | D.A.

Foi um encontro gratificante, de realidades distintas. é impressionante a alegria que uma coisa tão simples, como a pintura de um muro, pôde proporcionar àquelas crianças. Para nós foram algumas horas do dia; para eles uma inspiração para uma vida melhor, mais colorida, um sopro de confiança e esperança. Esperança real, tão tátil quanto as mãos sujas de tinta e os pincéis que deram vida ao dito muro, que os acompanha diariamente; esperamos, assim, que todas as coisas boas que “colocamos” nele possam também acompanhar as crianças no dia-a-dia. | Ingrid Sander e Diego Silva |

Consta que o significado do verbo aglomerar é amontoar, acumular, empilhar, reunir, apinhar. Acredito que esse projeto resultou num aglomerado: muitas crianças, muitas mãozinhas inexperientes, muitas cores e emoções variadas sobre a aventura de pintar um muro, um muro que todos vão ver! Um muro-referência para essas mesmas crianças, que provavelmente nunca tiveram muita experiência no que se refere à expressão de arte. Fui levada a esse projeto, como membro do Diretório Acadêmico dos estudantes de Design, da FUMEC, mas minha participação não ficou restrita ao registro fotográfico ou à colaboração na tarefa da pintura. Aprendi a apreciar os traços trêmulos, os escorridos e as falhas como parte integrante e importante de um trabalho que se propôs a ser coerente: foi um trabalho para as crianças e das crianças e, por isso, ele merece ser respeitado. | Rachel Grandinetti |

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oficina pinhole

| Outras maneiras de ver as coisas |

alexandre lopes | Fotógrafo, com especialização em Pesquisa e Ensino no Campo das Artes Plásticas pela Escola Guignard, professor dos cursos de Graduação em Design de Moda e Design Gráfico e do curso de Pós-Graduação em Design de Moda da Universidade FUMEC. Professor Colaborador do projeto ASAS-UNISOL/Banco Real.

uma caixinha de fósforo e, em contrapartida, do lado

laboratório de fotografia, onde os papéis

externo desses ambientes ter muita luminosidade. Com

fotográficos que ora estavam nas pequenas

outros pequenos detalhes conseguimos exemplificar

embalagens de filmes, já fotografados, estão

o ato físico da formação da imagem, gerando assim,

prontos para o processamento fotoquímico.

Um exercício do olhar: é assim que determino essa oficina cuja função principal, além de esclarecer a

sem dúvida, um mínimo de sensibilidade e emoção aos

E é nessa hora que a mágica acontece. Tanto

formação da imagem produzida pela condução da luz através de um pequeno orifício transformando

participantes.

para os que estão experimentando pela

em imagem visível, é também exercitar o olhar. Aprender a ver o mundo por outros pontos de vista

primeira vez, como para quem já a conhece de

que não sejam tão gratuitos e passivos só porque estamos de olhos bem abertos. Pela função técnica o

Uma vez esclarecidos tais princípios, os alunos desejam

tempos esse caminho e como para as pessoas

esclarecimento remonta a antigos meios de produção/comunicação. Só esses já dão muito que discutir em

praticar, e dentro da proposta está a construção da

presentes: a novidade e o reconhecimento e a

sala de aula, mas nosso objetivo também é produzir imagens, imagens com objetos muito variados e de fácil

câmera, seguindo os princípios da técnica de fotografia

aprendizagem de um processo de construção

reconhecimento. Nesse caso escolhemos uma pequena caixa de fósforos e outra pequena embalagem: a do

de Pinhole, conhecida mundialmente como uma

de imagem à moda antiga (fotoquímico).

próprio filme fotográfico.

espécie de fotografia artesanal, rústica, que necessita de pouquíssimos recursos para obtenção da imagem.

Mais uma vez remeto ao olhar este pequeno

Nesses dois objetos de uso cotidiano transformamos em pequenas caixas escuras com um orifício feito

Nesse momento nota-se um envolvimento fantástico

resumo, pois é nele que encontramos

por agulha e dentro desses colocamos materiais sensíveis: filmes e papel fotográfico. Com uma pequena

por conta dos mais empolgados e daqueles que

mais uma vez a tradução da emoção pelo

passagem com metodologia audiovisual os alunos podem perceber que o domínio dessa técnica é

desejam obter uma foto com tais recursos. Mesmo assim

reconhecimento de algo que está bem perto

milenar, porém o uso dos materiais sensíveis remonta de algumas décadas a partir dos meados do sec. XIX.

as dúvidas não cessam por completo e a enxurrada de

de nós e que a maioria desconhece. É nesse

Concluímos então que essa experiência não é tão nova assim, mas para quase a totalidade esse exercício

perguntas é inevitável. Em meio à descontração pela

redescobrimento que fazemos com que outros

aconteceu pela primeira vez e diante dos próprios olhos com a execução dessa oficina.

construção de tal objeto, a imaginação aflora e questões

possam ter acesso. E é com este prazer que sigo

corriqueiras se tornam grandes mistérios desvendados.

fotografando e agora multiplicando tais idéias e

Estão todos prontos para fotografar.

conhecimentos. Agradeço pela oportunidade.

O que de novo então vemos nisso? Novamente me remeto ao olhar. O olhar curioso, duvidoso, fantasioso, angustiado, satisfeito ou talvez apenas emocionado das pessoas que participam do projeto e que agregam qualquer informação bem-vinda. É, sem dúvida, uma experiência única. Parece que é tão complicado se

Passam-se uns quinze minutos e a turma retorna à

produzir imagem, seja ela fotográfica, cinematográfica, videografica, analógica ou digital. As mídias podem

sala de aula com as devidas embalagens de filmes,

variar, mas a base para se fazer imagem é a mesma desde o princípio dos tempos. Basta ter as condições

transformadas em câmeras pinhole, fotografadas

ideais. São elas: ter de um lado um ambiente com pouca luminosidade, seja ele uma grande sala de aula ou

e prontas para mais uma incursão, dessa vez no

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passo-a-passo confecção de pinhole em caixa de fóforos

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aglomeradas

| Imagens fotográficas em objetos de luz |

juliana pontes | Autora do artigo abaixo publicado no “Letras”, informativo do Café com Letras Em relação à intenção, a exposição Aglomeradas foi

A descoberta do produto de design ‘artesanal’

A exposição Aglomeradas traz as vilas do Aglomerado da Serra como território de referências. Esse repertório

pensada com um propósito muito claro: revelar às

despertou esses alunos para a possibilidade

comum aparece representado por instantâneos da vida cotidiana, registrados pela técnica de pinhole

próprias artesãs, autoras das imagens, como o seu

do exclusivo. Eles apostaram no diferencial das

em caixas de fósforo. As imagens, para um olhar desatento, não passam de cenas fugazes da vida diária,

universo particular pode se tornar uma experiência

luzes aplicadas uma a uma, de acordo com o

nada que mereça ser observado mais tempo do que pede a sua aparente banalidade. No entanto, para

estética compartilhada de forma coletiva. Quando

que a interação com a imagem proporcionava;

um observador atento essas trivialidades compõem perfis humanos e sociais, expõem questões de ordem

se trabalha a formação de um grupo lida-se com

nos tamanhos variáveis; no exercício dos

individual, mas também condições coletivas. Um grupo, questões compartilhadas, processos coletivos,

conhecimento, mas também com subjetividades,

acabamentos perfeitos, mesmo feitos por

são esses os grandes motivadores dessas caixinhas de luz que formam a exposição. O grupo, nesse caso,

com a dimensão humana latente. Não se pode

mãos humanas; e na pesquisa como chave

pertence ao projeto ASAS - Artesanato Solidário no Aglomerado da Serra – que está em processo de

multiplicar o conhecimento sem tocar a experiência.

para soluções inventivas. Aqui o processo

capacitação em design e artesanato pela parceria da Universidade FUMEC e Universidade Solidária (UNISOL),

A experiência nos diz algo da natureza sensível do

de capacitação em design e artesanato nos

com patrocínio do Banco Real.

aprendiz, inclui o ato de incorporar pensamentos

apresentou o seu caminho inverso: a observação

na ação. Por outro lado, toda ação traz uma carga

do artesanato reaproximou o design da

afetiva ligada à intenção. Nesse emaranhado

experência única de se produzir fora do padrão.

surgem, de forma inesperada, imagens fantásticas

Padrão nesse caso se refere a linguagem e

da serra, descobertas justamente pela intenção do

fomas, mas também à repetição produtiva.

olhar, ou melhor, pela invenção do olhar.

A intervenção do designer no ato produtivo,

Ao trabalhar com projetos sociais utilizando o design e o artesanato, percebo cada vez mais o quanto essas duas áreas podem percorrer caminhos muito próximos. Estou me referindo agora não só ao artesão despreendendo–se das suas regras e de modelos para explorar mais a inventividade e a autonomia criativa. A minha reflexão se volta também para o aprendiz do design, que ainda não está totalmente contaminado pelas crenças tradicionais da área profissional, mantendo-se livre e aberto para as diversas formas em que o pensamento do design pode se manifestar. Aqui se encontra o verdadeiro entendimento da palavra

A antecipação do processo criativo e produtivo,

design: intenção, projeto e desenho. Em outras palvras, fazer design envolve o entendimento a priori do

característica específica da atividade de projetação

que se pretende; a antecipação da ação e a execução técnica. Atender a essa lógica aparentemente simples

do design, surgiu nesse projeto pelo envolvimento

singnifica produzir design, mesmo que essa definição a princípio pareça muito ampla.

dos estudantes de design da Universidade FUMEC, bolsistas do ASAS, com um ‘fazer à mão’.

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nesse caso, foi determinante para o diferencial estético e funcional dos produtos, assim como foi fundamental para elevar o seu valor simbólico. Uma carga de significados foi gerada pela condição de objeto único, que carrega uma imagem criada através de um processo

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extremamente particular e funciona como uma

do resultado inspirou a beleza da montagem: caixas

luminária, ou melhor, como um objeto de luz. O

pretas, simulacros do mecanismo fotográfico, onde

utilitário carrega vestígios, signos e se veste de

uma superfície se torna sensível pela luz. Pontos de

interpretações, modificando diretamente a relação

luz remodelando a imagem da realidade. Leds, fios,

entre usuário e objeto.

transparências, formas iluminadas e somente uma

Quanto à execução técnica, as imagens iluminadas a que me refiro são fotografias realizadas com a técnica pinhole. Em outros termos, são fotos feitas em caixinhas de fósforo perfuradas e com um negativo no seu interior. Cada ‘aglomerada’ montou sua caixinha e apontou para a sua

luz azul. Um ponto único de luz azul, como um jogo, mas do acaso. Essas preciosidades nos convidam à reflexão, provocada também pela disposição desses objetos de luz em meio ao burburinho do Café, saltando na penumbra da cada ambiente, redesenhando a noite no morro, a noite na cidade.

própria realidade. A precariedade da tecnologia atende à necessidade de despojamento do olhar e à condição de aprendiz. Os resultados são gaiolas que surgem como cenários, gatos que são personagens, vultos como paisagem, flores, telhados, cores, manchas, pedaços de ruas, céu, chão, fragmentos de casas, sombras. Cada parte isolada é ao mesmo tempo pessoal e universal. Os temas se aglomeram não por sentido ou continuidade, mas por uma mesma origem, o território em comum. Metáfora do morro, surgem misturas de pessoas amontoadas, seus objetos, suas marcas, seus barracos empilhados. A surpresa

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oficina de texto

| Palavras do Cotidiano |

tailze melo | Mestre em Literaturas de Língua Portuguesa pela PUC Minas. Coordenadora, em parceria com Renata Alencar, do curso de pós-graduação lato sensu “Processos Criativos em Palavra e Imagem” no instituto de Educação Continuada da PUC Minas. Professora da Faculdade Estácio de Sá de Belo Horizonte.

Na oficina Costuras do cotidiano: palavra é vida, buscamos refletir a palavra em todo o seu potencial semântico e estético. Na primeira etapa da oficina, sem utilizar uma terminologia lingüística/semiótica, conversamos com as artesãs sobre a noção de signo verbal, metáforas, polissemias e redes semânticas. Utilizamos exemplos do cotidiano e ficou evidente a importância da palavra no mundo simbólico que tangencia a nossa existência. Na

“Vim pelo caminho difícil,

revela a dinâmica própria do nosso modo de

segunda etapa da oficina, propusemos uma atividade orientada cujo objetivo foi organizar uma rede semântica

a linha que nunca termina

produção, ou seja, a desigualdade social inerente

com palavras relacionadas aos conceitos de cada produto criativo. A intenção foi apontar possibilidades

a linha bate na pedra,

ao capitalismo.

criativas com palavras e identificar em quais projetos era coerente se valer dessa matéria expressiva. No último

a palavra quebra uma esquina, mínima linha vazia, a linha, uma vida inteira, palavra, palavra minha”. (Paulo Leminski) A idéia de cotidiano foi central em todas as etapas do processo criativo desenvolvido no projeto ASAS UNISOL. Por isso, as artesãs envolvidas, todas elas moradoras de favelas, organizaram suas criações a partir de situações, imagens e memórias situadas nas especificidades desses espaços. Nesse sentido, trata-se de um projeto que propõe

Do ponto de vista artístico, a favela sempre inspirou produções nas mais diferentes linguagens expressivas e foi representada de maneira diferente ao longo de sua história:

momento do encontro, fizemos uma roda para a apresentação dos textos confeccionados durante a oficina. Foram apresentadas diferentes construções textuais: “palavras biográficas” que revelaram um léxico próprio, o olhar único de cada artesã para sua história. Cartografias subjetivas, mas todas elas costuradas pelo mesmo signo: favela.

nostálgica como nos versos de Noel Rosa, cheia de dignidade como no Favelário Nacional de Drummond e violenta como na prosa de Paulo Lins. A favela é multifacetada, por isso o importante é pensá-la para além dos clichês das páginas policiais. Nada mais oportuno, então, do que representações produzidas por gente que vive seu cotidiano entre becos e tetos de zinco.

um olhar para a favela no que ela tem de singular, indicando, assim, uma abordagem que se opõe à idéia

Nessa lógica, as artesãs participantes do

de pensá-la em suas ausências. No entanto, explorar

UNISOL tiveram a oportunidade de traduzir, de

as idiossincrasias desses territórios não implica pensar

modo criativo, cenas da favela. Nos produtos,

na lógica equivocada e ingênua do modelo de “cidade

destacaram-se, muitas vezes, a dimensão poética

partida”. Sabemos que a cidade é uma tessitura, uma

e o potencial inventivo.

malha urbana. A favela é “o avesso do cartão-postal” e

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registro das criaçþes

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ELZY

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ETELVINA XAVIER DE ALMEIDA Sou a 8ª filha de 14 filhos. Morei na roça até os 13 anos de idade. Fiz da 1ª à 4ª série do primário, trabalhei com meus pais, ajudando a plantar feijão, milho, arroz, quiabo e jiló, adorava nadar e brincar no rio, era uma criança muito espoleta. Aos 23 anos me aventurei com um rapaz e tive uma gravidez inesperada, mas depois de nove meses nasceu uma linda menina, Daniela, que cuidei com muito amor e carinho. Hoje ela tem 27 anos e me presenteou com dois lindos netos, um de 12 e outro de cinco anos. Sou uma pessoa que não espera para as coisas acontecerem. Gosto de ajudar sem medir esforços e tenho disposição para fazer qualquer coisa. Sou honesta e decidida. Sou cuidadora de idosos, faço faxinas e estou muito feliz com meus produtos desenvolvidos no ASAS.

SOBRE O PROJETO Durante esse curso eu fiquei muito feliz de participar do curso de serigrafia, não tinha noção de como era. Foi importante para mim participar. Aprendi a conviver com outras pessoas. O mais interessante foi saber que o nosso produto iria para uma feira na França. E falamos do local onde moramos, que é o Aglomerado da Serra. Momento triste foi quando houve uma votação para escolher um representante para ir a São Paulo. Fui a escolhida, mas quando chegou perto da viagem as professoras mudaram de idéia. Tem componente que quando está na FUMEC é uma pessoa, e fora é outra. Agradeço por ter participado do curso. Foi muito gratificante para mim.110

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GABRIELA ESTEFANE Sou Gabriela Estefane e tenho 16 anos. Já fiz artesanato, moro no Bairro Serra, na Primeira Água. Eu estudo, estou na 8ª série e sou vereadora mirim da Escola Municipal Padre Guilherme Peters. Já fiz vários cursos. Agora que eu entrei no curso da FUMEC eu já sei fazer várias coisas, já sei pintar, desenhar, e fazer várias coisas, coisas que antes eu não sabia fazer. Já fiz dois cursos de artesanato, um junto com a Schirley, de biscuit, e com a Suzaninha, de bijuteria. Estou me empenhando muito para acabar essa reta do curso para sair daqui sabendo todas as informações. Agora estou aprendendo a fazer lenços. Lenços de cabeça, de braço etc.

SOBRE O PROJETO Esse projeto foi ótimo na minha vida, igual eu já falei, esse curso me ensinou várias coisas, eu nunca imaginei que eu ia ter uma oportunidade dessas, mas agora eu sei como é bom esse curso. Nós já fizemos várias coisas, fizemos bolsas, fronhas e agora estamos fazendo uma coleção, não é ótimo? Esse curso caiu do céu. O nosso projeto tem um nome: ASAS. Nós do projeto, conversamos, fazemos reuniões, tentamos nos entender. Quando o curso acabar vamos abrir oficinas na escola, vamos ensinar aos alunos tudo que nós aprendemos. Eu não aprendi muita coisa, mas vou fazer o possível para passar pra eles o que 112 aprendi.

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JOANA RODRIGUES SOUZA Meu nome é Joana Rodrigues Sousa, tenho 51 anos, duas filhas e uma neta. Moro no Bairro Mantiqueira em Venda Nova. Adoro ensinar. Gosto de dar cursos de pintura, bordado, tricô, crochê e vagonite. Trabalho com costura em geral e adoro o que faço. Queria ter a oportunidade de ter um emprego com carteira assinada e ensinar a pessoas o que sei.

SOBRE O PROJETO O curso para mim foi tudo de bom que eu pude encontrar na minha vida. Graças ao meu bom Deus, quando pensei que estava só no mundo encontrei uma família que me acolheu com bastante amor e paciência. Agora não me sinto mais sozinha. Vou ser grata o resto da minha vida de ter encontrado alguém que pudesse me ajudar tanto assim. Vou guardar tudo que aprendi no fundo do meu coração. Nunca vou esquecer cada desenho rabiscado que eu aprendi a fazer durante o curso, principalmente aqueles que eu achava feios e as professoras falavam que estava bonito, isso só ia me incentivando cada vez mais a fazer mais desenhos. Para sempre obrigada, com muito amor de verdade.

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MARIA DO CARMO ROCHA Eu sou Maria do Carmo, 58 anos, casada e mãe de dois filhos e avó de dois netos. Sou artesã, dou aulas de pintura em tecido e tapete de retalhos, faço enfeites para pet shop: gravatas, lacinhos e laçarotes para cachorros. Bordo, faço crochê, gosto muito de desenhar. Já fui oficineira da Escola Aberta na Escola Municipal Maria das Neves e também na obra social do Bairro São Lucas.

SOBRE O PROJETO Durante o curso tive momentos felizes e tristes. O triste foi a perda do meu tapete, mas fiquei feliz com o reconhecimento das professoras e estou muito satisfeita com a máquina de costura, e fui recompensada também com a notícia do Cássio de que ia levar nossos produtos para a França junto com os seus. O que mais me marcou foram as caixinhas pinhole com a exposição. No começo achei que não ia dar em nada, por ser simples a caixinha de fósforos. Ao revelar as fotos saíram aquelas imagens borradas e que no final deu um resultado de um tamanho que todos ficamos surpresos. Mas, se não fosse o esforço e ajuda do Bruno, com certeza tudo isso não teria acontecido. Estou muito feliz porque aborrecimento foi um, felicidades foram novecentas e noventa e nove.

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SCHIRLEY MARIA ARAÚJO Sou Schirley Maria Araújo, tenho 41 anos, solteira, natural de Aimorés/MG, atualmente moradora do Aglomerado da Serra. Sou artesã, artista plástica e atuo no Projeto Escola Aberta como educadora fazendo trabalhos artesanais como biscuit, decoupage e reaproveitamento de materiais. Sou umas das coordenadoras do Coletivo Criarte, na área de produção e cenário. Faço parte do Projeto [RedeMuim] de Arte e cultura, 3ª edição com apoio da lei de incentivo à cultura, como auxiliar de produção e cenografia; voluntária no Projeto Voe, (educação Oral). Participo do Projeto Arena da Cultura na iniciação de artes plásticas. Projetos em andamento: voluntária no centro de Saúde Nossa Senhora da Conceição com atividades de tapeçaria para terceira idade e a comunidade; projeto na Igreja Nossa Senhora da Conceição com artesanato.

SOBRE O PROJETO O curso me trouxe um novo olhar dentro da perspectiva do design artesanal, ou seja, o artesanato que faço hoje tem outro conceito. Tornei-me uma pessoa mais ponderada e confiante. O mais interessante foi mesclar minhas atividades do Coletivo Criarte com o ASAS. Assim meus trabalhos foram tendo uma forma mais prática e objetiva. As diversidades da FUMEC e da Favela ajudaram muito no relacionamento do projeto ASAS. Quebrou um pouco essa questão de sanguessugas. Eles também perceberam que temos coragem e opinião, que poucos sabem o que querem e como querem. Esses desafios me fizeram perder o medo de mostrar quem sou eu. E surgiu a vontade de voltar a estudar. A moda é aprender trocar experiências, formar e fortalecer redes. Tenho muito que aprender, o que aprendi vou multiplicar com muito zelo. Somos um jogo de panelas: panela de pressão que fica cozinhando a ponto de explodir, frigideira que só fica fritando as informações, caçarolas que fazem cada revirado, caldeirão que fica fervendo caldos. Temos até uma chaleira, na sua calmaria, fervendo seu chá. Bom, sei que temos que ser o mais118 natural possível, assim seremos originais.

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SUZANA MARÍLIA DOS ANJOS OLIVEIRA Eu, Suzana, saí da minha casa com 14 anos de idade em busca de uma vida melhor, passei muitas dificuldades e barreiras, mas graças a Deus hoje eu olho para trás e vejo que meus obstáculos, lutas e dificuldades todas ficaram para trás. Mas hoje estou no ponto certo e agradeço a Deus por ter conseguido os meus objetivos. Sou formada em magistério, manicure e também sei um pouco de artesanato, bijuteria e costura. Gosto de trabalhar no meu serviço porque estou fazendo o que sonhei fazer um dia, de ser uma professora. E fico na sala de mimeografia onde passo o dia. Mais uma vez agradeço a Deus por me dar essa oportunidade de estar participando deste curso porque aprendi novas idéias e tive grande experiência porque Deus está no controle e me dá força para ir até o fim.

SOBRE O PROJETO No decorrer do curso posso dizer que aprendi muitas coisas, como relacionar com outras pessoas que possuem outras visões de mundo. Quando comecei a desenvolver muita criatividade, como foi gostoso eu entender que de um simples risco sairia muitas coisas bonitas, mas foram com as várias pesquisas que eu cheguei nesse objetivo.

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. gatos de luz . autora | elzy nunes de oliveira lima produto: luminária material: tricoline técnicas: costura e serigrafia

Todos os lugares precisam de luz e essa pode vir de um imenso céu durante o dia ou até da mais simples luminária durante a noite. Este produto representa a importância da luz na vida de cada um. No Aglomerado quem não possui luz faz o possível e o impossível para consegui-la. Muitas vezes não sabemos ao certo de onde vem a energia da nossa luz, só sabemos que precisamos dela, mais do que qualquer outra coisa.

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. ganso no asfalto . autora | etelvina xavier produtos: jogo americano e porta-copos materiais: brim técnicas: costura e serigrafia

A temática explorada para meu produto foi o ganso no asfalto, procurei trabalhar com algo que não tinha no mercado. Onde moro encontro gansos que ficam na rua, o que me chama a atenção é o fato de esses animais viverem em um lugar onde não tem água para nadar. Em minhas pesquisas descobri que na Roma Antiga um exército foi salvo graças ao grasnar de dezenas dessas aves, revelando-os como verdadeiros seguranças.

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. coco babão . autora | joana rodrigues de souza produtos: avental, luvas e pegador material: brim técnicas: costura e serigrafia

O título do meu trabalho foi o coco babão, que é um coco comestível. A fruta amadurece quando o coco está seco. A castanha é mais gostosa do que o caldo do coco maduro. Escolhi falar sobre o coco babão, pois é uma fruta pouco conhecida e muito presente no Aglomerado. Outro motivo é o modo com que as pessoas o retiram do pé, é interessante perceber quando todo mundo se reúne com um pedaço grande de madeira e começa a cutucar os coquinhos no pé, todos unidos pelo mesmo objetivo.

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. natureza na favela . autora | maria do carmo da rocha produtos: almofadas materiais: brim técnicas: costura e serigrafia

Este produto representa os lares de quem vive, mora e sobrevive na favela. As casas se misturam às árvores, as árvores se misturam às janelas e essas por sua vez se misturam às folhas. A realidade é que no morro tudo se mistura e se transforma em Aglomerado.

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. toy-beco . autora | suzana marília dos anjos oliveira produtos: almofadas materiais: feltro técnicas: costura e serigrafia

Este produto representa o dia-a-dia dos becos e vielas do Aglomerado da Serra e a convivência do beco onde moro. Através da toy-art, representei a realidade e a fragilidade de cada personalidade. As letras surgiram da pesquisa feita no livro “Tipografia e elemento do Cotidiano da Favela”. Nessa procura encontrei conceitos como: casas, escadas, gatos de luz, praças, espaços abertos e ruas de terra e asfalto. Toy-art é uma forma de representar os tipos de violência entre os becos e as vielas do Aglomerado da Serra. Não há necessidade de expressar com palavras, basta observar o toy com a mesma sutileza de sua criação.

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. muros e cercas . autora | shirley maria araújo produto: cadernos, bloquinhos, envelopes material: papel calandrado, artesanal e reciclato, fio encerado técnicas: encadernação e serigrafia

Este tema representa um pouco da minha vida. Fui cercada de muito zelo pelos meus pais. Por ter uma aparência frágil, mantive esses muros e cercas em minha vida durante muito tempo. Hoje em um mundo diferente, misto e rico de diversidade, uso esses muros e cercas para expressar a minha arte. Muros e cercas são mantidos para organizar uma sociedade, mas muitas vezes parecem desorganizar o espaço público. Um aglomerado de lixo se transforma em cerca e muros, expressão artística que quebra todas as fronteiras e diz para o mundo: “Vista sua alma todos os dias”.

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Este catálogo foi composto em Myriad Pro. O miolo é impresso em Reciclato 90g. A capa em papel kraft 300g com aplicação de relevo seco. Impressão e acabamento por Artes Gráficas Formato. Belo Horizonte, Minas Gerais, em junho de 2009


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