Projeto Atom

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projeto atom um estudo sobre a metodologia MA.DE.IN utilizando o ar como material

Bianca Regazzi | Luana Lofeu | Marianna Laba Rio de Janeiro 2017



projeto atom um estudo sobre a metodologia MA.DE.IN utilizando o ar como material

autores Bianca Regazzi Luana Lofeu Marianna Laba orientador Ayara Mendes Ma.de. IN turma 5



Aos futuros alunos que, assim como nĂłs, entrarĂŁo perdidos.


agradecimentos


Bianca Regazzi O sentimento é gratidão. Por mais uma etapa concluída. Pelo conhecimento adquirido. Pelas experiências, tentativas e erros que me fizeram chegar até aqui. À minha família para lá de buscapé, mas sempre entusiasmada e interessada nos meus trabalhos. Ao IED por abrir as portas, e aos professores por colocarem excelência em tudo o que fazem, compartilhando conhecimento e amor. As trocas, as conversas, as fugidinhas para o café, Turma 5 e as intermináveis aulas de 15 em 15 dias em finais de semana ensolarado sobre a praia da Urca. Sobrevivemos! Aos amigos de vida que passaram ouvindo “hoje não posso, tenho Pós!” e mesmo assim não desistiram de me arrastar pro momento relax! Obrigada vida! Obrigada mundo por continuar emanando boas energias para os meus planos de vida. Assim é!

Luana Lofeu Agradeço primeiramente a Deus e a todas as boas energias do universo. Gratidão pela existência da minha família e amigos na minha vida, por não desistirem de mim quando estou imersa na arte de criar e transformar. Obrigada a todos os sábios professores que tivemos, que embarcaram e sempre comprovaram para nós mesmas que nossas viagens fazem sentido. Obrigada a turma MA.DE.IN 5, que foi a minha ancora nos momentos de pré-desistência. Obrigada especialmente ao meu trio Bibi e Mari. Me sinto orgulhosa em estar em um grupo de alunas/profissionais tão competentes como vocês. Obrigada pelas risadas e motivações! Obrigada IED pela incrível experiência!

Marianna Laba Agradeço à vida por cada sábado de sol vivenciado na Urca. Tornava tudo mais fácil e poético. Á minha mãe e meus irmãos que sempre estiveram presentes me apoiando e me dando forças para que eu continuasse na luta durante mais essa etapa da minha vida. Com vocês me senti segura para continuar. Ao Lucas por ser o pioneiro nas ideias e por estar eternamente por perto vibrando, aplaudindo e me fazendo acreditar que sou capaz. Por cada conselho, cada abraço e cada palavra em todos esses anos. Muito obrigada às minhas primas – irmãs pelo abrigo nas noites necessárias e pelo suporte. Ao meu pai, pelo incentivo em me tornar arquiteta. À Lu, por estar sempre comigo, me apoiando e não me deixando naufragar. Ao Bê, por ser para sempre minha dupla e meu parceiro de vida. À Lilian, por cada maquete maravilhosa. Ao João por tomar os meus desafios como se fossem os dele. Ao 3Dson por fazer com que as minhas maluquices ganhassem mais vida. À FEUmilia por todo conhecimento dividido. E claro, a cada professor que me fez entrar nesse mundo MADE.IN, quebrar paradigmas e me apaixonar. À turma 5 por ser simplesmente A melhor. E a cada picanha compartilhada com o meu grupo de 6 tão amado: Bibi, Lu, Fernanda, Rê e Duda. Muito amor por vocês.



“Descobri que, em geral, as coisas são feitas para preencher vazios.” Es Devlin


sobre o projeto


Não é sobre A metodologia. Não é sobre O material. Não é sobre A arquitetura. Não é sobre O design. Não é sobre O espaço. Não é sobre ser único, individual e só. É sobre ser TOTAL. Estudar e compreender a existência de forças que trabalham em conjunto para o desmembrar de um sistema. Um sistema que não se divide em paredes, mas em volumes. Onde o vazio se relaciona com todos os espaços. Sejamos ATOM. palavras chaves| made.in, inflável, ar, projeto atom


about the project


It is not about methodology. It is not about the material. It is not about architecture. It is not about The design. It is not about space. It is not about being one of a kind, individual and alone. It is about being TOTAL. Study and understand the existence of forces that work together to dismember a system. A system that is not divided into walls, but in volumes. Where the empty relates to all spaces. Let’s be ATOM.


15 18 27 60 68 74 96


introdução o ar infláveis inflatocookbook power of 10 do ar projeto atom bibliografia



introdução


introdução descrição da proposta Foram muitas dúvidas, intermináveis questionamentos sobre para onde tudo isso nos levaria. Pareceu desvario e alguns desistiram. Foram passos dados ao desconhecido, o qual, aos poucos, foi se tornando lógico, coerente. Às vezes, alguns passos para atrás acabamos dando, ou são necessários. E um universo de possibilidades nos foi aberto. Tudo dentro de um único senso comum: Projetar. Envolvidas com o processo MA.DE.IN de ensino, optamos pela elaboração de uma arquitetura onde um indivíduo comum possa ter uma abordagem sensorial aos processos de desenvolvimento desta metodologia. Para isso, contamos com o estudo aplicado ao MA.DE.IN para justificar os nossos passos em direção ao produto final.

objetivo Através do estudo do ar (elemento escolhido como material) desenvolveremos um espaço, onde quem possa ali habitar, consiga através de uma abordagem sensorial compreender os processos da prática MA.DE.IN

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o ar


o ar o que é ar? Basicamente, o ar é a mistura de gases que compõem a atmosfera terrestre. É um elemento incolor, inodoro e invisível, porém através de suas propriedades é possível comprovar a sua existência. O ar é matéria e ocupa todo o espaço do ambiente que não exista outra. Pode se apresentar em estado sólido, líquido e gasoso. Percebemos sua presença no nosso dia-a-dia, quando respiramos e movimentamos involuntariamente nossa caixa torácica, quando sentimos a brisa na nossa pele ou quando percebemos os galhos sendo balançados pelos ventos.

feito do que? O ar em estado gasoso – ou atmosfera terrestre - é composto por dois elementos principais: Nitrogênio (78%) e Oxigênio (21%). O restante é ocupado por Gás Carbônico, argônio e outros gases nobres. Certos gases vindos de outras fontes, principalmente das indústrias, também podem estar presentes.

Composição do ar Nitrogênio | 78% Oxigênio | 21% Gás Carbonico | 0,97% Outros Gases | 0,03%

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mil e uma propriedades O ar apresenta algumas características que nos auxiliam na percepção da sua existência, já que este é invisível, inodoro, incolor e sequer podemos toca-lo. Estas características são justamente suas propriedades físicas, como algumas descritas abaixo:

matéria e massa | Por que uma bexiga de ar cheia pesa mais que uma bexiga de ar vazia? | Como todas as coisas do mundo, o ar é tem na sua composição diversos gases que são formados por moléculas, que por sua vez são compostas por átomos, ou seja, é feito de matéria. Por isso tem massa e ocupa espaço. Essa diferença de massa, entretanto, só pode ser medida por balanças extremamente sensíveis, pois é muito pequena devido a sua baixa densidade - muito menor que a da água, por exemplo.

Outro exemplo é que ao soprarmos um balão, ele fica maior e ocupa mais espaço.

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pressão Ao soprarmos uma bexiga de aniversário, nota-se que o látex que compõe o balão fica bem esticado. Isto acontece devido a pressão que o ar exerce contra a parede do local que ele ocupa. Chamamos de pressão atmosférica a força que o ar exerce na superfície da terra. Devido aos estudos do matemático francês Blaise Pascal (1623 – 1662), notou – se que a pressão do ar diminui com a altura, tornando - o rarefeito (diminuição da quantidade de moléculas) conforme o aumento da altitude, até o ponto que não há mais ar, sendo este o limite da atmosfera do nosso planeta. Com isso, conclui-se que a maior parte dos gases está comprimida na parte mais próxima da superfície da terra e com isso maior a pressão – o ar tem mais massa e pesa mais. O nível do mar é usado como referencial quando se calcula a pressão atmosférica.

compressibilidade e elasticidade Uma das propriedades do ar é que este pode ser comprimido ou expandido e depois retornar ao estado em que estava. Nota-se estas propriedades utilizando uma seringa: Compressibilidade – Quando apertamos o embolo da seringa, tampando sua ponta, o ar é comprimido e o ponto até onde vai o embolo demonstra a diminuição de seu volume. Elasticidade – Ao soltarmos o embolo, o mesmo volta a posição anterior, mostrando que o ar volta a ocupar o mesmo espaço de antes.

expansibilidade Outra característica do ar e de todos os gases é a tendência de preencher todo o espaço disponível, o que chamamos de expansibilidade. Podemos verificar sua existência ao abrirmos um frasco de perfume e seu cheiro se espalhar pelo ambiente – o aroma volátil misturado ao ar se expande, aumentando de volume e ocupando um espaço maior. 25


dilatação térmica

empuxo

peso do balão

Sabemos que o quando uma massa de ar é aquecida ela se expande, tornando -se menos densa. Isso acontece devido a dilatação térmica: variação de tamanho e volume que ocorre quando um corpo é submetido ao aquecimento térmico. Sendo a matéria constituída por átomos ligados entre si, sua exposição ao calor faz com que estes se agitem, aumentando a distância entre eles. Com isso, explica-se o funcionamento do balão: nestes uma grande massa de ar quente fica retida e como ela é menos densa que o ar do ambiente, o empuxo sobre o balão é menor que a força peso, fazendo com este suba na atmosfera. Os pilotos de balões utilizam um maçarico para aquecer o ar quando querem ganhar altura e abrem um alçapão para a sua troca quando querem descer, controlando assim a altitude.

por que não enxergamos o ar? A resposta é simples: a atmosfera é composta por gases incolores e para que seja possível enxergalos é necessário que eles possuam alguma coloração. Isto ocorreria se os elementos químicos que compõe o ar absorvessem luz visível. Porém quando os átomos de um gás são tingidos por luz eles retêm apenas alguns raios – justamente os raios que não conseguimos enxergar. O nitrogênio e o oxigênio, que são os gases em maior abundância na atmosfera, só absorvem os raios ultravioletas. Como ensina o arco íris, a luz é composta por sete raios de cores diferentes. Se a partícula de um gás absorve uma única tonalidade, a cor do vapor que veríamos seria determinada pelas misturas das cores dos outros seis raios. 26




inflรกveis


infláveis a arquitetura pneumática As estruturas de ar infladas representam uma área nova e especial da arquitetura. Com os primeiros projetos surgidos em 1960, a ideia das estruturas pneumáticas apareceu como uma alternativa progressiva e leve às técnicas de construção habituais e acendeu o debate para a reavaliação do uso de energia e de novos materiais sustentáveis. As construções infláveis são uma combinação de dois componentes de propriedades muito diferentes: uma membrana hermética e ar comprimido. Como visto no capítulo anterior, o ar é um gás e suas propriedades são meramente definidas pela sua composição, temperatura, pressão e volume. Já a membrana está em estado sólido e suas propriedades estão definidas pelo material utilizado, sua composição química, módulo de elasticidade do fio, massa e densidade do revestimento e outros. A diferença de pressão entre o espaço fechado e exterior é a responsável por dar forma e estabilizar a construção. O material, que pode ser tecido ou plástico, é pré-tensionado por uma sobrepressão interna do ar, formando o volume da estrutura definida pelo padrão de corte do material. Esse revestimento pré-tensionado pode suportar tensão e compressão e, portanto, momentos de flexão. O peso leve do material e o tamanho reduzido quando não inflado permitem fácil manipulação e transporte, oferecendo muitas perspectivas para uso repetido em locais diferentes. Umas das principais desvantagens é a necessidade de uma pressão de ar constante para manter os elementos em forma. Isso leva a maiores custos de energia, um problema relevante em um momento de consciência energética.

Diagramas de tensão de diversas formas de infláveis

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tipos de arquitetura pneumática Como acontece em várias tecnologias ainda em descoberta, a terminologia dos infláveis ainda não está bem definida. Para defini-la com alguma precisão deveriam ser conhecidas como “construções de baixa pressão” termo que referenciaria ao sistema de controle e estabilização de todo o tipo de estrutura por meio de diferença de pressão. Existem alguns tipos de estruturas pneumáticas: o inflável pneumático, o inflável estruturado por ar e o inflável com estruturas pneumáticas. Inflável Pneumático: Toda e qualquer estrutura suportada pela ação de diferença de pressão criada com ar ou gases. Exemplo: brinquedos, piscinas, pneus, bote salva-vidas etc. Inflável estruturado por ar: Estrutura suportada por uma pressão ligeiramente superior a atmosfera e que consiste em uma membrana tensionada e moldada pela sobrepressão interna do ar, tendo seu volume definido pelo padrão de corte do material do invólucro. Inflável com estruturas pneumáticas: Estrutura na qual o ar é contido por câmaras para formar elementos estruturais inflados, como colunas, vigas, arcos e paredes, porém a pressão interna do espaço resultante é a mesma da pressão atmosférica. Projeto conceitual ‘Trampoline Bridge” de AZC, 2012.

“ArK Nova” de Anish Kapoor e Arata Isozaki, 2013

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“Oase No 7” de Haus - Rucker - Co, 1972


bolhas de contravenção Nossa sociedade mudou drasticamente desde a década de 1960. Não só os conceitos e questões sociológicas no campo da política e da vida social, mas também o surgimento de inovações técnicas que melhoraram a qualidade de vida em geral. As televisões foram introduzidas nas salas de estar, o uso do telefone tornou-se habitual e a estilo musical Rock foi apresentado às massas. No campo da arquitetura, o surgimento de novos materiais e novos conhecimentos permitem experimentações e formas mais orgânicas. Em 1972, um grupo de arquitetos experimentais instalava uma esfera de plástico de papel de PVC de 8 metros de diâmetro, em meio as colunas e pedras da fachada de um dos primeiros museus públicos independentes do mundo, um modelo de estilo clássico e cultura construído no final do século 18, em Fridericianum na Alemanha. Criado por Haus–Rucker-Co, um coletivo de arquitetos de vanguarda, a bolha experimental era o trabalho de um grupo preocupado não com a habilidade, mas com expansão e experimentação. O projeto Fridericianum, chamado Oase N° 7, teve uma inclinação utopista e artística, partindo da ambição do grupo de desafiar os conceitos de arquitetura contemporânea. O nome Haus-Rucker é inspirado em uma serra na região da Áustria, mas foneticamente se assemelhava a “Häuser zu verrücken” ou “casas balançando ou deslocando”. Após essa obra, o Haus–Rucker-Co transformou-se em uma inspiração para vários grupos que experimentariam as possibilidades da arquitetura pneumática e materializaram as obsessões do período com estruturas plásticas, experimentações audiovisuais e estruturas curvas, afim de criticar as convenções. Grupos contemporâneos como Superstudio e Archizoom da Itália, Ant Farm de São Francisco, Archigram do Reino Unido e Coop Himmelblau, também da Áustria, passaram os anos 60 e 70 criando uma riqueza de reinterpretações de arquitetura, muitas vezes utilizando o plástico em instalações aparentemente flutuantes. As obras oferecem uma atmosfera semelhante a uma bolha, como uma separação do mundo. 32


Muitas vezes o efêmero e o leve nos meios do design, mobiliário inflável e arquitetura era um meio de os arquitetos debaterem sobre políticas radicais e definições da sociedade associadas a ideia das bolhas. Mas a história excêntrica e eclética da arquitetura inflável e do design, desde estruturas iniciais em forma de cúpula, até cadeiras de plástico chiques de Quasar Khanh – designer vietnamita conhecido por sua linha de móveis infláveis - oferece todo um gênero de construções transportáveis e dinâmicas fundamentados em teoria e mais influentes do que se imaginava. Havia uma ligação entre a ideia de materiais leves e espaços reconfiguráveis e a ideia de arquitetura que permite um novo conceito de cidade e sociedade. Era como criar construções como objetos que as pessoas pudessem reorganizar - uma concepção fundamentalmente social de design. Os designers da época, em meio ao tumulto cultural dos anos 60 e do protesto estudantil, entenderam essas estruturas como revolucionárias, acreditando que os meios arquitetônicos podiam ser empregados para exercer uma influência focada nas qualidades físicas e psicologias de uma pessoa.

pensamento hippie, origem militar Apesar das associações entre a cultura hippie e as estruturas pneumáticas, sua origem foi justamente nas forças armadas. Infláveis, em sua forma mais simples e rudimentar, foram inicialmente projetados pelos militares dos EUA, em forma de antenas de radar rapidamente montadas e facilmente implantáveis. Trabalhando no laboratório aeronáutico, o engenheiro Walter Bird projetou uma antena de radar simples, protegida por um involucro de plástico inflável de anéis de aço. O governo tentando implantar um sistema de radar de alerta precoce e especialmente em climas severos, investiu em Bird a partir de 1946 e construiu centenas deles durante os anos 50.

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“Maison Gonflable” de Quasae Kahan, 1968


Como muitos, Bird tentaria levar uma tecnologia desenvolvida e refinada com dinheiro e apoio militar e obter lucro com ela no mundo civil. Em 1956, ele criou a Birdair Structures. Inc. em Nova York, para vender galpões de armazenamento, estufas e cercas paro o conjunto suburbano. Em 1957, um de seus abrigos de piscina de plástico ganhou grande visibilidade com a capa da revista Life. Seus produtos plásticos atraíram a atenção dos arquitetos, e Bird, considerado o pai do campo dos infláveis, colaboraria com vários deles construindo obras memoráveis como Minneapolis Metrodome. Porém seu trabalho mais importante foi ter popularizado o conceito. Bird, juntamente com o arquiteto alemão e engenheiro estrutural Frei Otto e o arquiteto americano Buckminster Fuller, ajudariam a formar uma geração de experimentação arquitetônica. Nos inicios dos anos 60, tanto Fuller quanto Otto propuseram e divulgaram projetos para cúpulas maciças: Fuller iria cobrir e proteger Manhattan, enquanto Otto havia projetado uma estrutura para resistir ao clima severo da Antártida. As estruturas militares em breve seriam transformadas em brinquedos da contracultura. Os militares estavam interessados em coisas que são facilmente implantáveis, como pontes infláveis. A tecnologia havia avançado muito durante a guerra e depois foi subvertida pela contracultura, assim como a computação pessoal. A onda de estruturas infláveis representava muitas coisas diferentes. Novas ideias sobre relações com o espaço estavam sendo criadas, focadas em um conceito de nômade e moradia temporária. O Archigram, influenciado em parte por desenvolvimentos da National Aeronautics and Space Administration (NASA), propôs todo tipo de formas conceituais leves e portáteis como o “Suitaloon e Chusicle” (1967) – peles de plástico para uma vida móvel – e o “Inflatable Suit Home” (1968), outro experimento para uma vida nômade. As formas orgânicas não lineares dessas estruturas, o oposto completo do brutalismo, também eram uma forma de contravenção. Criados durante a mesma era dos estudos de mídia e influenciados por Fuller e Archigram, o coletivo Ant Farm criou um projeto chamado “The World’S Largest Snake” (1970), onde os visitantes entrariam em uma extremidade enquanto exploravam um gabinete de plástico com a mesma extensão que uma quadra de futebol, onde estariam instaladas uma série de estações de equipamentos video portáteis. Isso significaria uma democratização das comunicações. E, para muitos, os infláveis também se tornariam ferramentas para a exploração em tecnologia e comunicação, transformando as formas flexíveis e orgânicas em espaços para experimentação e conscientização. O “Air Pod” (1970), foi uma instalação da Ant Farm na Universidade da California, durante o primeiro Dia da Terra. Criou-se um “oásis de ar limpo em meio ao ambiente poluído compartilhado por aqueles que vivem em uma sociedade moderna. Outras invenções da época, como os capacetes áudio – visuais criados por Haus – Rucher – Co, falavam mais diretamente sobre a mudança de perspectiva. 36


Artigo da revista “Life” apresentando o abrigo de piscina de plástico da Birdair Structures CO.

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“Inflatable Suit Home” de Archigram, 1968


Porém, arquitetos de estruturas pneumáticas nem sempre foram reconhecidos como revolucionários e nem sempre seus trabalhos foram vistos como particularmente bons pelas críticas e pelos meios de comunicação. The Whole Earth Catalog, umas das bíblias da década de 60 da contracultura, definiu os infláveis como baratos, leves e imaginativos, mas não uma arquitetura, devido a fragilidade como se comportam em relação ao meio externo e as intemperies. Mas, para uma certa parte do mundo da mídia arquitetônica, estas estruturas foram um foco significativo. Muitos dos coletivos envolvidos também ajudaram a divulgar informações e projetos, editando e imprimindo seus próprios periódicos. Revistas importantes abordaram o movimento e diferentes grupos catalogaram padrões de DIY¹ e de seus projetos anterior como o “Inflatocookbook” da Ant Farm, Cedric Price no Reino Unido e Survey para o governo britânico. O movimento atingiu seu pico durante uma série de grandes eventos entre 1968 e 1971. As estruturas infláveis chegaram a paris em 1968 quando o movimento estudantil atingiu seu pico. Uma série de eventos públicos, incluindo a Conferênia Freestone em 1970, realizada em uma fazenda no norte da Califórnia e dois eventos “Instant City”, reuniram todas as formas de estruturas efêmeras, tendas e cúpulas. Em 1971, a Whiz Bang Quick City, construída perto de Woodstock², Nova York, criou uma cidade em meros dias com fileiras irregulares de cúpulas e casas de papelão em meio ao campo. Talvez o mais público e divulgado desses eventos tenha sido o Osaka Expo (1970), uma exibição de criatividade e design de ponta, que contou o trabalho do arquiteto Renzo Piano. Os organizadores reuniram uma enorme coleção de cúpula, infláveis e estruturas pré-fabricadas, criando uma cidade temporária futurista.

¹ DIY é a sigla da expressão em inglês“do it yoursef”, que significa “faça você mesmo” na tradução para a língua portuguesa. ²Woodstock Music & Art Fair, conhecido informalmente como Woodstok, foi um festival de música realizado entre os dias 15 e 18 de agosto de 1969 em uma fazenda em Bethel, Nova York, Estados Unidos. O festival exemplificou a era da contracultura dos anos 70.

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o fim de uma era As mudanças de tendência, assim como o aumento do preço do plástico devido à crise do petróleo, definiram o fim dessa era de experimentação. Alguns começaram a ver as moradias plásticas, especialmente os modelos produzidos em massa, como sem fundamento e impessoais e um movimento mais amplo voltado para o uso de materiais naturais, tornaram passado as estruturas de plástico. Mesmo que as obras mais radicais e excêntricas dos pioneiros e percursores da arquitetura inflável nunca tenham sido construídas, ou simplesmente foram projetadas para criar conceitos e afirmações, os trabalhos e pesquisas temporários tiveram um impacto de longa data no design e arquitetura modernos. Os experimentos dos anos 60 e 70 deram lugar a uma nova tendência de estádios apoiados pelo ar, assim como as formas curvas e orgânicas dos trabalhos de vanguarda tornaram-se características comuns na arquitetura da era dos computadores de design paramétrico.

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Estrutura do festival “Instant City” (1970) em Ibiza, Espanha

Estrutura do Osaka Expo 70’ (1970) em Tokio,Japão


“ArK Nova” de Anish Kapoor e Arata Isozaki, 2013 SKUM, de BIG, Dinamarca, 2016

Pavillion Serpentine 2015 , de Selga Canos em Londres, Inglaterra


ideias que permaneceram A obsessão duradoura com instalações arquitetônicas foi certamente estabelecida durante este período e o impacto do movimento se infiltrou em todo o mundo do design e da arquitetura. Em 2013, o artista indiano Anish Kapoor e o arquiteto japonês Arata Isozaki trabalharam juntos em uma estrutura desmontável com a finalidade de abrigar concertos musicais nas cidades japonesas atingidas por terremotos e tsunamis em abril de 2011. O “Ark Nova” é uma sala acústica feita de material elástico e de rápida montagem e desmontagem – a sala é inflada em aproximadamente duas horas e comporta de 500 a 700 pessoas. Estruturas plásticas infláveis são muitas vezes o formato ideal para estruturas temporárias e efêmeras. Um exemplo é o “Serpentine Pavillion”, construído em 2015 pelo escritório espanhol Selgas Cano em Londres, onde um pavilhão de formas bulbosas e transparentes ocupou um lugar central. O escritório de arquitetura BIG, de Bjarke Bundgaard Ingels, um arquiteto dinamarquês conhecido por edificações que desafiam as convenções, projetou um pavilhão inflável móvel que será exibido em três eventos na Dinamarca. Apelidado de SKUM (2016) (palavra dinamarquesa para “espuma”) enfrentou o desafio de proporcionar uma instalação que seja simultaneamente permanente e facilmente transportável, podendo ser inflada em apenas 7 minutos. Frei Otto, um dos percursores do movimento em 1970 levou o prêmio Pritzker3 no ano passado. Outros arquitetos desse período como Cedric Price, foram celebrados tanto por suas obras, quanto pelos projetos teóricos: suas propostas para espaços plásticos e flexíveis foram citadas como influencias tanto no centro Pompidou em Paris, como no London Eye. Hoje, inúmeros artistas tanto da arquitetura quanto do design e da arte, utilizam-se dos princípios da arquitetura pneumática para criar obras que expressam uma nova visão de mundo e quebrar os paradigmas da rotina e da sociedade atual. Nas páginas seguintes, pontuamos algumas referências de coletivos e obras que utilizamos na pesquisa para nosso projeto.

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O prêmio Pritzker é um prêmio internacional de arquitetura, sendo muitas vezes chamado de o “Nobel da Arquitetura.” é atribuido anualmente a um arquiteto ainda em vida

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“Air Pod”, de Ant Farm, 1970


ant farm O coletivo Ant Farm foi criado por três arquitetos: Chip Lord, Doug Michels e Curtis Schreier em 1968 na California. Seu trabalho consistiu na interseção da arte, arquitetura e design, criticando a cultura norte americana de mídia de massa e consumismo. O grupo produziu trabalhos em vários formatos como manifestos, eventos, vídeos, performances e instalações. Seu primeiro trabalho foi uma contrarreação ao movimento brutalista e sua rigidez. Em contraste, eles propuseram uma arquitetura inflável, que tinha baixo custo, facilidade de transporte e agilidade na montagem e que se ajustou bem com a retórica de estilos de

a vantagem que seus usuários tinham total controle do ambiente. Outros projetos do coletivo incluem a “House of the Century” (EUA, 1972), cuja a forma lembrava um inflável, porém era construído com matérias convencionais. Produziram também uma série de projetos utópicos como “Convencion City 1976” (1972) e “Freedon Land”(1976), porém o seu trabalho mais famoso veio a ser a obra “Caddilac Ranch”, umas instalação composta por dez Cadillacs em uma fileira semienterrados no chão com suas barbatanas no ar. É tanto um tributo a cultura do carro americano quanto uma crítica a ele.

vida nômades em oposição ao consumismo desenfreado dos anos 1970. Os infláveis questionaram os principais padrões de construção: não tinham forma fixa e não poderiam ser descritas nas usuais formas de representação arquitetônica. Para promover sua arquitetura, publicaram um manual de como fazer suas próprias estruturas pneumáticas, o “Inflatocookbook” (1971). O grupo produziu infláveis para eventos, festivais, campus universitários, conferências afim de hospedar palestras, workshops, seminários ou simplesmente ser um lugar de estar, com

Suas obras ao mesmo tempo sugeriam uma arquitetura utópica, eram irônicas. Seus trabalhos revelaram a relação entre a degradação ambiental e a produção em massa e questionaram o papel dos meios de comunicação e do consumismo, ao mesmo tempo que demostravam o uso de tecnologias avançadas. Até hoje suas pesquisas desenvolvidas fora do contexto institucional são relevantes nos debates sobre arquitetura sustentável, construção de tecnologias e também como arte pública.

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basic house Martin Azúa | 1999

“Tenha tudo sem ter quase nada” |AZUA, 1999|

A Basic House, desenvolvida pelo designer catalão Martín Azua, é um protótipo experimental de habitação, que pode ser inflado em qualquer lugar. A obra bota em questão o modelo de habitação atual que o designer julga ter se tornado um ambiente de consumo, em que uma variedade de produtos satisfaz uma série de necessidades criadas por sistemas e relações complexas e difíceis de controlar e propõe que a habitação pode ser algo mais essencial e efêmero. O protótipo foi desenvolvido em polietileno metalizado, material de tecnologia avançada, que se infla facilmente com a temperatura do corpo ou do sol e, ao mesmo tempo, protege de temperaturas extremas. É leve e pode ser dobrado e colocado no bolso sendo ideal para o conceito de vida que é proposto: uma vida nômade e sem laços materiais. A Basic House não é um produto que foi posto à venda. É um protótipo conceitual de redução extrema. A obra faz parte da exposição permanente do Museu de arte moderna de Nova York desde 2007.

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“Basic House” de Martin Ázua, 1999.


“Medusa” de Plastique Fantastique, 2008 a 2013


plastique fantastique O coletivo alemão Plastique Fantastique surgiu em 1999 por uma necessidade de conceber uma arquitetura aconchegante com material de baixo custo. O plástico, além de barato, pode-se unir partes muito facilmente e criar formas incríveis e espaços aconchegantes. Com quase duas décadas continuas de intervenções pneumáticas, Plastique Fantastique tornou-se uma referência em arquitetura efêmera e emblemática. O trabalho do coletivo segue uma linhagem iniciada em 1960 pelo grupo experimental utópico Haus – Rucker – CO que pensavam em estruturas infláveis descartáveis para quebrar os limites de um mundo que eles descreviam como sério e tedioso. O grupo se descreve como uma plataforma para arquitetura efêmera que enxerga a cidade como um laboratório para espaços temporários, alternativos, adaptáveis e de baixa energia para um grande número de atividades. As estruturas translucidas são leves e móveis e relacionamse com o conceito de modificar e compartilhar o espaço público e envolver as pessoas que ali passam. O sistema é simples – uma pele que ao mesmo que separa também conecta. O resultado é uma instalação única que dá vida nova a cidade e torna visível o invisível. Podemos notar claramente essa mensagem na instalação “Medusa”, implantada em Roma entre 2009 e 2013.

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tomas saraceno

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Arquiteto, artista, sonhador utópico e aventureiro moderno com interesse nas ciências, Tomas Saraceno inspira-se no espaço, no céu, nas nuvens, e também em todas as outras coisas infinitamente pequenas como teias de aranha e bolhas de sabão. O resultado são trabalhos graciosos suspensos flutuando pelo ar. Durante sua formação em arquitetura, seus estudos espaciais na National Aeronautics and Space Administration (NASA), Centre National d’études Spatiales (CNES) em Paris e como integrante do Centro de Artes, Ciências e Tecnologia (CAST), Saraceno desenvolveu o conhecimento necessário que lhe permitiu

transparente alimentada por energia solar, sendo um lugar de intercambio sem fronteiras onde todos poderiam passar livremente pelo mundo inteiro. Através de suas obras, o artista cria um mundo à parte, onde viveríamos em perfeita harmonia um com o próximo e com a natureza e pesquisa estilos de vida alternativos para promover a preservação de recursos naturais e o desenvolvimento sustentável. Esse é o conceito principal de Aerocene, uma espetacular instalação escultural destinada a voar e se mover com o sol, sem utilizar nenhum combustível. Com a obra “Poetic Cosmos of the Breath” (China, 2013), instalação simples feita com

projetar em colaboração com engenheiros e especialistas excelentes trabalhos experimentais. Ele usa materiais ultraleves em “Cloud Cities” - projeto que ilustra um mundo sem gravidade onde suas “nuvens” flutuaram em cima de grandes metrópoles como Berlim, Tóquio, Roma e Nova York – e em seus balões infláveis que podem voar utilizando apenas a energia eólica. Em “Air Port City” (Londres, 2008), um de seus trabalhos atuais parte do projeto “Cloud Cities”, a instalação se coloca como uma estrutura

um fino plástico furta-cor, Saraceno foi além das concepções tradicionais de espaço, tempo e gravidade e principalmente das definições conhecidas de arquitetura. Ao inflar gradativamente o plástico, os visitantes da obra podiam andar por uma um espaço deslumbrante e colorido, que movia com a pressão interna e externa do ar. Qualquer um de suas obras é um convite a pensar sobre conhecimento alternativo, emoções, percepções e interação com o outro e o ambiente.


“Air-Port-City“ de Tomas Saraceno, 2008



“Poetic Cosmos of Breath” de Tomas Saraceno, 2013


penique productions Apropriar-se de um espaço original que perde seu uso habitual, concebendo um novo local”. Esse é o conceito utilizado pelo Penique Productions, um coletivo espanhol liderado por Sergí Arbusa, que se reúne para realizar instalações infláveis efêmeras onde o material se expande, invadindo o espaço e tornando-o único. O projeto nasceu em 2007 pelas mãos de Sergí na “Universitat de Barcelona” com a obra “Espac 1” e tem viajado por diversos países. Em 2015, instalaram no Rio de Janeiro a obra “A piscina do Parque Laje” que consistia em um inflável laranja de 11mx15mx25m que cobriu por completo o histórico pátio e a piscina da Escola de Artes Visuais do Rio de Janeiro. Basicamente, todas as obras são feitas de polietileno de baixa densidade e fita adesiva. O ponto inicial é a escolha de um local único para receber uma peça feita sob medida que vai expandirse e preencher o espaço por completo tornando-se parte da arquitetura existente. O local é transformado, recebendo uma nova textura, cor e iluminação. O ar - gerado por ventiladores instalados em locais estratégicos - funciona como elemento estrutural, extrudando o material contra os limites do espaço, ganhando sua forma final, como se estivesse vestindo-o. Algumas obras relevantes do coletivo são: La Capella (Espanha, 2009), El Claustro (México, 2011) e Gruta (Brasil, 2016).

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“A piscina do Paque Laje” de Penique Productions, 2011


“Ambientes Infláveis” de Hugo Richard e Natali Tubenchlak, Patagonia, 2012


ambientes infláveis Hugo Richard e Natali Tubenchlak

“Ambientes infláveis” é um projeto de intervenção urbana dos artistas Hugo Richard e Natali Tubenchlak. A projeto transpassa a ideia de obra de arte e cria experiências de ocupação, através de infláveis coloridos que intervém na paisagem, interferindo no entorno e se relacionando com as pessoas que estão ao seu redor. Escultural e ao mesmo tempo um espaço arquitetônico, causa curiosidade, encantamento e estranheza. Os infláveis são produzidos especialmente para cada ambiente que ficará exposto, através da observação do espaço urbano e do cotidiano das pessoas, buscando dialogar com a paisagem. Apesar de coloridos e esteticamente atrativos, os ambientes não são trabalhados centrados no conceito de beleza estética de obra de arte, mas sim no estranhamento. Buscam nos fazer repensar o modo comum que enxergamos o mundo e tirar o sujeito da lógica cotidiana e do regular, quebrando o automatismo da rotina. Hugo Richard e Natalia Tubenchlak são artistas do Rio de Janeiro, sócios fundadores do Barracão de Arte – espaço independente de arte contemporânea que funcionou no Rio de Janeiro entre 2008 e 2015. O projeto “Ambientes Infláveis” iniciou-se em 2010 tendo percorrido diversas cidades e países. Esse ano ficou exposto no Instituto Europeo di Design do Rio de Janeiro, no teatro do Cassino na Urca.

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estudio inflável O estúdio inflável é um coletivo de São Paulo que atua desde 2015, estudando, projetando e construindo infláveis. Liderado por arquitetos, o grupo busca em cada projeto experimentar novas formas e materiais por meio de ações colaborativas. Na obra “Nave”, realizada em março de 2017 em São Paulo, durante a oficina de Infláveis da semana dos Bixos na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, o coletivo construiu um inflável todo feito com sacolas plásticas reutilizadas com a ajuda de crianças. Nos últimos projetos, o grupo vem atuando no espaço público, construindo ambientes que interveem na dinâmica urbana, criando impacto nos territórios que ocupa. Outras ações relevantes do Estúdio Inflável são: Sonhos (São Paulo, 2017); Inflow (São Paulo, 2017); Trasher (São Paulo, 2017).

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“Nave” de Estudio Inflável, 2017


O coletivo Ant Farm, 1970


inflatocookbook por ant farm


inflatocookbook o manual de infláveis O “Inflatocookbook” é um manual desenvolvido pelo coletivo Ant Farm, cuja primeira publicação foi lançada em janeiro de 1971. A revista tinha como proposta tornar viável e reunir as ideias, informações e habilidades adquiridas pelo coletivo. Criado como um manual, tornava possível que infláveis fossem montados de maneira simples por qualquer pessoa que tivesse acesso a publicação. Os eventos experimentais catalogados foram desenvolvidos durante 18 meses, onde o coletivo projetou, desenhou e construiu infláveis para o mais variados eventos e clientes. O primeiro inflável foi montado em 1969, tendo a forma de um travesseiro gigante de 25m x 25m em um festival em São Francisco. Posteriormente, foram desenvolvidos outros em escolas, conferências e festivais. Uma segunda edição foi lançada em julho de 1973, ganhando uma nova diagramação e excluindo alguns infláveis catalogados na primeira versão. Utilizamos esta segunda edição como referência e material de base e estudo para desenvolver nosso projeto.

conteúdo O manual apresentava um passo a passos, apresentado em tópicos como: • Materiais; • Formas geométricas básicas; • Fornecimento de ar; • Metodologia; • Ancoragem; • Detalhes construtivos como túneis para ventilação e conexões. • Formas de acesso.

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Capa de “InflatocookBook”

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materiais No manual, o grupo descrevia os materiais utilizados nos projetos deles, com características, tabelas de preço em São Francisco, cores disponíveis, dimensões e outras informações que julgavam relevantes. Basicamente, utilizavam polietileno leve - devido ao baixo custo e o fácil manuseio - unidos por fitas adesivas e sendo reforçado com papel contact nos locais de maior tráfico, como acessos e túneis. Acrescentam também características e comparativos de outros materiais que também poderiam ser utilizados na construção de infláveis - como o Poliester – e materiais para ancoragem do volume já inflado.

formas geométricas básicas Espalhados pela publicação, existem alguns “passo a passo” de como montar infláveis de diversas formas: travesseiros, semiesferas, túneis, roscas. Todos com desenhos indicando as faces a serem unidas, o encaixe dos rolos considerando as dimensões e paginação para formar cada face e as dobraduras ordenadas até chegar a forma final. Uma curiosidade, que para nós foi de extrema importância devido a forma que desejamos para o nosso projeto é que a curvatura é determinada pela pressão interna do inflável. Assim um cubo feito de um material fino pode ficar com um formato esférico, pois suas arestas sofrem pressão, sofrendo maior tensão, tendendo a se tornar uma esfera. Quanto mais dividida em polígonos for a face, mais a estrutura se aproximará de uma esfera.

Diagrama retirado de “Inflatocookbook”

ancoragem Se o inflável foi implantado em locais externos, exposto a vento, vai ser necessário um sistema de ancoragem. Para volumes pequenos, pode ser utilizado sacos de areia ou compartimentos preenchidos com água. Estrutura maiores requerem outros sistemas mais eficientes. São citados diversos tipos de ancoragem como adicionar pesos as pontas dos infláveis, ancoragem através de cabos de aço que circundam o inflável e se prendem ao chão, enterrar as bordas e colocar pedras sobre estas, escavando o terreno. 64


Tutorial sobre como montar um inflavel, “Inflatocookbook�, p.11

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fornecimento de ar Há um estudo com gráficos, informações, dimensões e preços de maquinários necessários para inflar a estrutura de acordo com seu tamanho.

Nesse tópico são descritas as tipologias, precauções com as máquinas, fórmulas para saber o tempo necessário para inflar o volume desejado, a pressão de acordo com a temperatura externa do ambiente (se for exposto ao sol, por exemplo)

formas de acesso Uma das partes mais interessantes do manual são as tipologias de acesso ao inflável. Sabendo que o volume é mantido justamente pela diferença de pressão entre o interior e o exterior, o modo de acesso inadequado faria com que a pressão interna variasse bruscamente, comprometendo sua estrutura que esvaziaria rapidamente. Eles descrevem 4 tipos de acesso: - corte vertical que deveria ser reforçado e vedado com zíper, por exemplo; - corte circular fechado por uma cortina do mesmo material que o inflável. - Anel ou estrutura circular localizado embaixo do inflável, que se auto fecharia ao tocar o chão - túnel com um sistema inflável que eles chamam de “hot lips”.

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Diagrama sobre os tipos de acesso, “Inflatocookbook”, p.30

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power of 10 do ar


power of 10 do ar Como estudar o ar? Como se fazer visível o invisível aos olhos? Utilizar do power of ten significa aprender a olhar a fundo em uma escala micro a macro, para compreender a forma existencial daquela matéria. Quando olhamos para o ar, tivemos que aprofundar nossa percepção, e caímos (até onde conhecemos) na verdade do ponto inicial de tudo: o átomo e seu sistema. O mais interessante é que quando dimensionamos para uma escala macro, o modelo que entendemos como micro se repete. E a esse fato, explicamos as teorias e princípios a seguir.

mas o que é um átomo mesmo? Cerca de 400 anos antes de Cristo, o filósofo grego Demócrito de Abdera afirmou que a matéria era formada por partículas muito pequenas, as quais ele chamou de “átomo”, que em grego significa “indivisível” (a = não ; tómo = divisível). Mesmo não sendo possível enxerga-lo, o ar é matéria e, por isso, formado por átomos. Mas o que seriam átomos? Átomo é a unidade fundamental da matéria e acreditou-se durante muito tempo ser a menor partícula capaz de identificar um elemento químico. A combinação entre átomos iguais ou diferentes origina os materiais. Após estudos mais recentes, descobriu-se que o que era antes uma única partícula indivisível, é também formado por várias outras ainda menores que dispostas de tal forma dividem o átomo em duas partes: o núcleo e a eletrosfera. Essas são chamadas de partículas subatômicas. O núcleo é a parte central do átomo, composto por dois tipos destas: os prótons e os nêutrons. Já o eletrosfera (ou coroa) é formada pelas partículas que orbitam ao redor do núcleo, chamadas de elétrons, sendo menores que os prótons e nêutrons. Os elétrons estão dispostos em 8 camadas e, para cada uma, determinado número de subníveis (orbitais) são preenchidos. A mais externa é chamada camada de valência, sendo também a mais energética. Esse é o modelo atômico de Rutherford - Bohr, proposto por Ernest Rutherford em 1911 e aperfeiçoado por Niels Bohr que é utilizado até hoje e que sugere que a matéria é constituída principalmente por espaços vazios. Porém o modelo atômico ideal está sendo obtido a cada dia em que se descobrem mais informações acerca da estrutura íntima da matéria. 70


elétrons neutrons prótons

núcleo eletrosfera

átomo de nitrogênio

átomo de oxigênio

carga elétrica As partículas subatômicas apresentam carga elétrica: os prótons apresentam cargas positivas e os elétrons, negativas. Os nêutrons são partículas sem carga. Sabendo-se que pelas leis da física, as cargas com o mesmo sinal se repelem e as de sinais opostos se atraem, a união dos prótons nos núcleos só é possível devido a existência dos nêutrons, que neutralizam a repulsão que há entre as partículas positivas, sendo responsável pela estabilidade do núcleo.

comportamento atômico A proporção e o número de partículas subatômicas é o que define as características da matéria como massa e carga elétrica. Os elétrons e os prótons apresentam carga de mesma intensidade, porém opostas. A proporção entre essas partículas é o que define a característica elétrica do material. Já a massa total é dada pela quantidade de prótons e nêutrons, pois a massa dos elétrons é desprezível. Durante reações químicas, os números de elétrons podem variar. Estes podem ganhar energia e passar para camadas eletrônicas mais distantes do núcleo ou serem atraídos por outros núcleos atômicos deixando seus átomos de origem. Considerando que o número de prótons e nêutrons em um átomo é invariável e o próton é o único elemento do núcleo que apresenta carga, a perda de um elétron pode altera a carga elétrica total de um átomo, mas não modificará sua massa. Por ser invariável, o número de prótons caracteriza um elemento químico e define qual átomo fará parte de um determinado grupo da tabela periódica. 71


o sistema solar é um átomo? Há algum tempo, existe a teoria que o sistema solar seria um átomo, mas seus defensores não chegaram a uma relação que pudesse comprovar a tese. A teoria baseia-se no modelo atômico Rutherford – Bohr, citado anteriormente, onde o átomo é descrito como um núcleo cercado por elétrons em órbita circular. Porém, acredita-se que o próprio modelo foi inspirado no sistema solar. A base de toda essa teoria consiste em supor que estamos em um elétron (a Terra e os demais planetas) que giram em torno de um núcleo (o sol). Há também algumas outras características que fortalecem este movimento: Comparação entre as massas Como dito anteriormente, a massa de um átomo está concentrada quase que por completo em seu núcleo (99,9%). No sistema solar, o sol representa 99,8% da massa total. A eletrosfera e o núcleo O raio da eletrosfera de um átomo é definido pelo seu núcleo e a quantidade de elétrons que ele possui, podendo ser entre 10.000 e 100.000 vezes maior que o raio do seu núcleo. No sistema solar a relação entre o raio do Sol e o raio do Bow Shock¹ - considerando este como a última camada de elétron, teria a mesma razão que a dimensão da eletrosfera de um átomo em relação ao núcleo.

¹ Em uma magnetosfera planetária, o bow shock é a região onde a velocidade do vento solar diminui abruptamente devido à magnetopausa planetariana.



Foto de LĂ­via Bernardes


projeto atom


projeto atom conceito “Nada está isolado, existindo solitário, de si e para si. Tudo co-existe e inter-existe com todos os outros seres do universo.(...) Tudo tem a ver com leonardo bolf tudo.” O ponto de partida da metodologia MA.DE.IN nos faz entender o material na sua essência. Quando optamos pelo elemento AR como material e aplicamos o estudo do POWER OF TEN, observamos que por ele ter como característica a “invisibilidade” foi preciso que o estudássemos mais a fundo. Foi aí que nos deparamos com a unidade de todos os materiais: O átomo. Partindo da ideia que queremos experienciar a metodologia, nada mais coerente do que nos utilizarmos da forma de um átomo como o princípio do nosso sistema. Uma vez (que como conhecemos até hoje), ele é o início de tudo. E “tudo tem a ver com tudo”.

1:-1000 átomo


1:1 projeto atom

bidimensionar

1:1000 sistema solar

77


bolha

materialização do espaço

permear o espaço

habitar o espaço

MA.DE.IN

sair da

1:-1000 imersão

desconhecido estimular sentidos

1:1 interação tornar mais claro onde você se abre para aquela idéia

1:1000

conforto vontade de permanecer momento de contemplação | nirvana ver e querer trazer o externo para dentro


materiais x estimulos materialização do espaço| material escuro textura permear o espaço| textura material claro habitar o espaço| transparente

projeto atom 79


Foto de LĂ­via Bernardes



materiais

bobinas de plĂĄsticos variados

ventiladores

fita adesiva

tomadas

tesouras

material de desenho para molde


83


01

02

03

05

06

07


metodologia

04

08

01 02 03 04 05 06 07 08 Fotos de Lívia Bernardes

bidimensionar volume criação do molde

para

desenhar molde em tamanho real (escala 1:1) cortar faces do poligono utilizando o molde sobre o material real do inflável unir as partes cortadas utilizando fitas adesivas

inflar a estrutura

com parte do material inflado, unir a casca ao piso. após volume maior inflado, unir as estruturas menores arrematar detalhes como acessos e saídas de ventilação.

85


materializar

O plástico bolha, produzido em filme de polietileno de baixa densidade, tem como características as bolhas de ar prensadas nele. A escolha da cor preta foi exatamente para causar a sensação de escuridão no contato inicial profundo com o material. Já a textura deu-se ao contato (tato) com o material (ar), que no nosso caso, não podemos ver mas sabemos que está presente em formato de bolhas comprimidas.

Foto de Lívia Bernardes


19 19

11

19

21

19

30

19

38

19

51

231

19

45

19

55

19

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60

60

material| filme de polietileno de baixa densidade com bolhas de ar prensadas

60

medidas comercializadas| bobinas de 1.00x50.00m

plastico bolha preto 87


permear

O plástico incolor fosco (em forma de bobinas picotadas) é produzidas através do processo de extrusão e são confeccionadas através de resina virgem e a principal matéria prima é o polietileno de alta e baixa densidade. São lisas e opacas, atraindo e explorando o olhar para o que vem através desta camada, sensação de que o método está mais claro e coeso.

Foto de Lívia Bernardes


27 27

10

27

21

27

30

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27

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324

27

47

27

61

27

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27

69

27

71

material| filme de polietileno de baixa densidade

27

71

71

medidas comercializadas| bobinas com sacos de 30x45cm

plรกstico incolor fosco 89


habitar

O nacarado pode refletir de cores diferentes de acordo com a maneira como é iluminada, podendo apresentar tons que vão do do rosa, aos azuis, verdes e amarelos, em várias tonalidades. Aos olhos o efeito é de vertigem e sensatez. Com objetivo de projetar o impacto que a metodologia nos causou, escolhemos esse material para provocar a sensação de nirvana: estado de calma, paz, libertação, transgressão de pensamentos e o acordar à realidade. Esse espaço conclui o nosso resultado final, a coerência que a metodologia começa a ter e sempre existirá em nossas vidas.

Foto de Lívia Bernardes


92

18

92

41

324

92

61

92

77

92

87

92

material|

92

polimero natural derivado da celulose 92

medidas comercializadas| bobinas de 1.00x10.00m

celofane nacarado 91


detalhe 1 - conexões

detalhe 2 - ventiladores

detalhe 3 - acesso tipo 1

detalhe 4 - acesso tipo 2 desenhos retirados de “Inflatocookbook”, Ant Farm, 1971

desenho técnico


2.00

2.30

3.50

.30

1.20

corte

3

4 habitar

2

permear

materializar

ventilador 1 plastico bolha preto e lona terrero plastico transparente fosco

3

celofane nacarado

2.55 3.35

2.00 3.65

7.00

planta 93


Foto de LĂ­via Bernardes


sobre ar | funcionalidade | tempo Pense nas características do AR. Talvez antes de ler esse caderno, você nunca responderia de primeira algo como flexível, elástico, expansível... Em 99% das vezes a resposta é INVISÍVEL. Talvez por ele estar por aí, vagando, ocupando e permeando espaços acabe passando despercebido. A grande verdade é que o ar possui propriedades físicas que o colocam como protagonista de inúmeras construções. Em nossa abordagem, o ar, é o ar que estrutura. Há uma civilização do material que concebe uma arquitetura inflável para transmitir sensorialmente as etapas, processos, descobertas que passamos. Por isso, não se trata de criar um produto, mas criar uma experiência. Gerar sentimentos que satisfaçam o subconsciente. E para isso, criar um elemento que tenha significado para todos, que mexam com nossas sensações primárias e fundamentais. Aguçar nossos sentidos, gerar respostas emocionais. E é aí que entra o TEMPO. Não o tempo cronometrado que passamos ali. Mas o tempo que se faz criar por permanecer no espaço. Es Devlin exemplifica muito bem isso no documentário (Abstract: The Art of Design. 2017) quando diz:

“ As coisas que crio não são coisas. São o tempo que as pessoas passam na companhia dessas coisas. O que estamos criando é tempo.” Como falamos no início, não é sobre ser único, individual e só. É sobre ser TOTAL. Que cada experiência que é única seja ATOM!


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