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Tecnologia ponto gov Demanda governamental por TI em 2013 gera euforia e atrai projetos para o Brasil

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portes em TI (tecnologia da informação) estão na pauta do Poder Público para este ano, assim como a estratégia de alçar o mercado nacional ao status de produtor de componentes eletrônicos imprescindíveis à fabricação de aparelhos de alto valor agregado, como smartphones e tablets. Estas são as expectativas das empresas que atuam no Brasil e que, quase na mesma sintonia, apostam suas fichas na demanda existente nas esferas municipal e federal. Serviços básicos como saúde e saneamento, além de outros de

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infraestrutura, como portos, aeroportos e telecomunicações, serão as áreas que receberão mais investimentos, com o estado de São Paulo à frente desta onda de inovação que pode se espalhar por todo o território nacional. Só em 2012, foram anunciados em São Paulo investimentos privados da ordem de R$ 1,175 bilhão em tecnologia. De acordo com balanço da Investe SP (Agência Paulista de Promoção de Investimentos e Competitividade), este montante pode crescer 10% em 2013 e ser aplicado na construção de novas fábri-

Fotos: Shutterstock; Divulgação

Bruno de Oliveira, de São Paulo


cas e na expansão das já existentes em municípios como Jundiaí e Itu. “Por suas características, São Paulo é um grande mercado consumidor e possui muitas empresas e escritórios instalados. Entretanto, existe um déficit em importação de componentes que fará com que

“O governo é um cliente que precisa oferecer melhor serviço para o cidadão”, diz Vaquero, da IBM

passemos de montadores a produtores de equipamentos e componentes no curto prazo”, diz o diretor de Investimentos e Negócios da Investe SP, Hans Schaeffer. “Atualmente, estudamos projetos de grupos que ainda não atuam no Brasil, principalmente asiáticos, e que viram no estado um potencial interessante para suportar a produção de componentes, tanto pela sólida cadeia de fornecedores que a região possui, quanto pela presença de grandes universidades”, diz Schaeffer. Dados da Investe SP apontam que TI foi o quinto setor que mais recebeu investimentos em 2012, ficando atrás dos mercados automotivo, de logística, de máquinas e de vidros. Por outro lado, assumiu a liderança na geração de empregos no período, com 13 mil novos postos de trabalho. No lado da iniciativa privada, a gigante americana IBM é uma das empresas integradoras de serviços de TI que vislumbram A previsão no Poder Público grandes oportunidades de é que os negócio. A companhia investimentos vem trabalhando nos privados em países em que se aplica o conceito de smart tecnologia cresçam cities (ou cidades inte10% neste ano ligentes) e o Brasil está incluído neste processo de implantação de sistemas que integram serviços públicos.

Falta investir em P&D O modelo de inovação brasileiro é baseado em investimentos da iniciativa pública. Para se aproximar de países que são referência, como Coreia do Sul, EUA, Alemanha e Japão, o Brasil deve elevar os investimentos em P&D (Pesquisa & Desenvolvimento) de 1,16% do PIB (Produto Interno Bruto) para 1,8%, e a participação do setor privado nos investimentos de 45% para 60%. Ainda segundo a pesquisa do IBCD (Índice Brasscom de Convergência Digital), de 2012, existe um distanciamento entre as universidades e as empresas privadas no Brasil. Ao todo, 25% dos doutores e pesquisadores brasileiros estão em empresas privadas, enquanto na Alemanha e na França a participação é de 57%; 61% na China; e 76% na Coreia do Sul.

“O governo é um cliente que precisa oferecer um melhor serviço para o cidadão. Temos um relacionamento com companhias do setor privado que investem em inovação e cujos projetos não suportam apenas a agenda da empresa, mas também a do país, como é o caso da parceria que fizemos na fábrica de processadores de Minas Gerais”, conta o vice-presidente de Sistemas e Tecnologia da IBM Brasil, Freddy Vaquero. O executivo refere-se ao contrato costurado em novembro de 2012, no qual a Six Semicondutores, sociedade capitaneada pelo Grupo EBX e a IBM, anunciou investimento da ordem de R$ 1 bilhão na construção de uma fábrica de semicondutores em Minas Gerais. Recentemente, a empresa também participou da implantação de um projeto na cidade do Rio de Janeiro, que envolve modelos de previsão de chuvas. De acordo com Vaquero, a iniciativa faz parte de um plano estratégico que pode envolver outros municípios do Brasil. “Definimos agora no início de 2013 fazer investimentos em algumas cidades, as quais receberão suporte de consultoria para solucionar desde problemas de tráfego até de segurança”, completou. Megaeventos A alemã T-Systems, do grupo Deutsche Telekom, por sua vez, vislumbra nos setores de telecomunicações e aeroportos a possibilidade de prospectar negócios junto ao governo federal em 2013. Fevereiro, 2013 AméricaEconomia 65


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A empresa, que desembarcou no Brasil há 12 anos, traz da Alemanha o know-how de diversos projetos de tecnologia em portos, aeroportos, telefonia e de redes inteligentes, ou smart grids. “Temos projetos aplicados em Minas Gerais, na Cidade do Futuro [cidade inteligente localizada no município de Sete Lagoas], em smart grid. Estamos em negociação para a realização de um projeto em um aeroporto do país”, revela o diretor-geral da operação brasileira da T-Systems, Ideval Munhoz. Para o executivo, muitos investimentos com origem no governo federal foram represados para serem aplicados em 2013, por conta da proximidade de megaeventos como a Copa das Confederações, a ser realizada neste ano, e a Copa do Mundo de Futebol, em 2014. “Os principais aeroportos do país passarão por processos de modernização para se expandir. Em telecomunicações, as operadoras de telefonia celular sofrem cada vez mais pressões por parte do governo para ampliar a cobertura e melhorar a qualidade do sinal. São fatores que animam o mercado fornecedor para os próximos meses”, explica Munhoz. Também de olho na demanda relacionada às telecomunicações, a Promonlogicalis espera para este ano um crescimento maior e contínuo em relação ao cenário de 2012. Áreas como educação, saúde, transporte e logística também estão na pauta de negócios da empresa. “A nossa visão é a de que o mercado de telecom irá crescer. No caso das operadoras, elas continuarão investindo por conta da oferta de banda larga, do 4G, e

Foto: Divulgação

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O desembarque de estrangeiros deve aumentar a produção local de semicondutores

poderia ter fechado 2012 com uma receita entre US$ 150 bilhões e US$ 260 bilhões [mas encerrou com US$ 120 bilhões]”, explica Antonio Gil, presidente da Brasscom (Associação Brasileira de Empresas de Tecnologia da Informação Entraves e Comunicação). Alberto Paradisi, do Os maiores gargalos para o desenvolviCPqD (Centro de Pesquisa e mento do ambiente de negóDesenvolvimento em Tecios e de competitividalecomunicações), diz de no Brasil ainda são A chegada que o ponto crítico a pesada carga tribudos grandes do mercado para tária, a burocracia, eventos esportivos 2013 é uma desa infraestrutura decontinuidade dos ficitária e a falta de deve destravar os investimentos por mão de obra espeinvestimentos parte da iniciaticializada, aponta o va privada, resulRanking da Compedo governo tado das incertezas titividade dos Estados federal da economia mundial. de 2012, realizado pe“Existem muitas tecnolo grupo inglês Economist logias novas para serem imIntelligence Unit. “Apesar da desoneração da folha [de plementadas e não podemos deixar de pagamento], a mão de obra é cara. E investir na pesquisa e aplicá-las no merprincipalmente a burocracia, a dificul- cado”, explica. A advogada especialista no mercado dade de se fazer negócio. O contexto atual do país é saudável, mas o crescimen- de tecnologia, Esther Nunes, do escrito poderia ser ainda maior. O mercado tório Pinheiro Neto Advogados, aponta também a legislação e a falta de um marco regulatório no segmento como entraves para o crescimento. “Clientes Mudança no ranking da área de software, por exemplo, enO Ranking da Competitividade dos Estados de 2012, feito pelo grupo inglês Ecofrentam vários problemas trabalhistas nomist Intelligence Unit, analisou 26 indicadores divididos em oito categorias e deu por conta de uma legislação que não notas de zero a 100 para os estados. Os cinco primeiros lugares do levantamento deixa às claras as condições de contramais recente são os mesmos do ano passado, com São Paulo à frente (77,1 pontação de mão de obra terceirizada. Poutos), Rio de Janeiro (71,8), Minas Gerais (62,8), Rio Grande do Sul (60,5) e Paraco se é falado, também, da formalizaná (59,5). A média nacional ficou em 41,5 pontos. O último colocado de 2012 foi o ção de um marco regulatório, da falta Amapá, com 17,7 pontos. O Piauí, último lugar no ranking anterior, desta vez ficou de um projeto e a respeito das consulem penúltimo, com 22,6 pontos. tas públicas”, diz.

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isso garante um cenário de investimento com pouco risco”, diz o diretor de Consultoria da Promonlogicalis, Luis Minoru Shibata.


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