Akikolá - Abril/2016

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Editorial

Palavra do Provincial JÚLIO MARIA,

PRIMEIRO PADRE REDENTORISTA BRASILEIRO

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o dia 02 de abril de 2016, celebramos 100 anos de falecimento de Júlio César de Morais Carneiro (Júlio Maria), primeiro padre redentorista brasileiro. Nasceu na cidade de Angra dos Reis (RJ), aos 20 de agosto de 1850. Dotado de profunda inteligência, formou-se em Direito, obtendo o título de doutor. Casou-se duas vezes e nas duas vezes ficou viúvo. Do primeiro casamento teve uma filha que seguiu a vida religiosa e do segundo casamento teve três filhos.

para Júlio Maria e aos 40 anos ingressou no Seminário de Mariana. No dia 29 de novembro é ordenado sacerdote por D. Silvério, em Mariana (MG). Iniciou seu ministério na cidade de Rio Novo. Logo depois foi transferido para a Matriz de Juiz de Fora. Tornou-se grande pregador e conferencista. Sua fama chegou até Roma.

No entanto, nem tudo foi aplauso. Muito acolhido pelo povo; mas incompreendido e perseguido pelo clero que não suportou o seu sucesso e que desejava conserCom o falecimento da segun- var “uma religião triste e sombria da esposa, mudou o seu nome que só tinha desconfianças para Expediente: Coordenação: Pe. Américo de Oliveira, C.Ss.R. Jornalista Responsável: Brenda Melo - MTB: 11918 Projeto gráfico: SM Propaganda Ltda Impressão: Gráfica América Tiragem: 2.000 exemplares

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os progressos, pesares para a liberdade, invectivas para as grandes conquistas”. Nas pregações e palestras que fez por todo o Brasil, desmistificou o positivismo reinante, levantou a bandeira da luta operária e convocou os católicos a melhorar a situação da Igreja Católica através da participação na democracia. Em 1902, os Redentoristas pregaram as santas missões em toda a cidade de Juiz de Fora. Padre Júlio Maria, que já tinha conhecido os escritos de Santo Afonso, ficou entusiasmado pelo carisma redentorista. Após o noviciado, no dia 21 de dezembro de 1905, fez a profissão religiosa e tornou-se o primeiro padre redentorista brasileiro. Faleceu no dia 02 de abril de 1916, no Convento Santo Afonso, no Rio de Janeiro, vítima de câncer no esôfago.

Naquela época, Júlio Maria foi um dos sacerdotes mais cultos do país. Buscou nos estudos as respostas para os problemas de seu tempo. Com um estilo sólido, energético e alegre mobilizou a todos. É exemplo de um missionário redentorista que soube ler os sinais dos tempos e “pregar o Evangelho de modo sempre novo”. Pe. Américo de Oliveira, C.Ss.R. Superior Provincial

Aniversariantes Abril 05/04 .... Pe. José Wilker, C.Ss.R. 08/04 .... Pe. José A. de Macedo, C.Ss.R. 08/04 .... Ir. Geraldo Pereira, C.Ss.R. 09/04 .... Pe. Carlos Viol, C.Ss.R. 17/04 .... Ir. Pedro Aniceto, C.Ss.R.

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Entrevista

Pe. Dalton Barros de Almeida, C.Ss.R.

Ao celebrar 60 anos de Profissão Religiosa, completados em 25 de janeiro deste ano, padre Dalton conta aos leitores do AKIKOLÁ como sentiu o chamado do Redentor e destaca alguns pontos importantes da vida religiosa, como o crescimento pessoal e o investimento na formação continuada.

Como foi o seu chamado à vida do missionário Padre Júlio Maria religiosa? Lombaerde. Ele visitava um pupilo, o filho do Sr. Afonso, dono Nasci na pequena Mercês. E ser da Loja. Hoje ele é bispo sacrada Arquidiocese de Mariana (MG) mentino emérito: Dom Afonso imprime caráter: família numero- de Miranda. Temos juntos algusa, unida, católica e educadora. mas boas recordações! Pelos Em casa, a luta pela vida se unia meus 7 anos, levando quitutes à confiança em Deus e sua Igreja. de minha mãe para o “santo”, Lá em casa: uma fé comprometi- na vizinhança, mexia eu com a da com a cidadania. Fé e Vida e barba imponente do Padre Júlio, Fidelidade se entrecruzam. O que quando ouvi dele: – Um dia levo recebia em casa como formação você para Manhumirim. Sei não. de caráter, se ampliava no amor a Estremeci num frio com a palavra um MAIOR QUE, na fala catequé- Manhumirim, que me soava ruim. tica de dona Lourdes. Inesquecí- Repetem, os daquele tempo e vel! Era eu da Cruzada Eucarís- que estavam na sala de visitas, tica e nos dedicávamos a ajudar uma frase dita por mim: – Prá às Missões, em especial no mês Manhumirim não vou. E, de fato, de outubro. Não sei como, mas não fui. Vida afora ficou em mim MISSÕES era uma palavra má- uma simpatia e certa proximigica que derramava no espírito dade com os Sacramentinos de desta criança algo imenso e de- Nossa Senhora. Traz-me ardor sejado. missionário. Nossa cidade recebia o valoriza- Vieram, dois anos de pois, as

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Entrevista

guinte, ousei de novo: – Quero ir para Congonhas. Os olhos dele brilharam. Com a mão em meu ombro, disse: – Eu cuido disso. E cuidou. Na última semana das Missões, ele me toma à parte e contou que escrevera para Congonhas e que, se eu quisesse, podia ir para lá em breve. Estávamos em julho. Seria dentro de uns 50 dias. (Mas soube que era uma exceção). – Mas lá em casa ninguém sabe. Tem que falar com papai e mamãe. Ele lanchou lá Santas Missões com três Reden- em casa com os outros dois mistoristas de Juiz de Fora. O mis- sionários. Assustaram-se meus sionário que andava cada dia na pais, que riam. Houve conversa Missãozinha das Crianças me si- entre os adultos. Fui consultado. derou: Pe. José Brandão de Cas- – Quero sim. Quero ir logo para tro. Seguia-o de perto. No coreto Congonhas. As coisas se arrandeclamávamos, líamos peque- jaram com muito empenho e sanos textos e havia a premiação crifício. Houve muita, muita conda melhor redação. Tudo com versa com papai e mamãe. Nós aquela imensidão de crianças. E três. E fui. Gostei. Não foi assim fazíamos passeata pelas ruas ao tão fácil. Permaneci. Aqui estou. redor de nossa bela Matriz. A fes- E ainda ressoa periodicamente ta! Nem passara ainda a primeira no coração: – Aceitei esta missemana e ousei: – Onde a gente são, de quem sois a protetora... vira missionário? Atencioso, me Eu tinha 10 anos. disse Pe. Brandão: – Congonhas. A palavra ressoou radiosa. Na Sessenta anos após a profisterrinha, todos sabíamos do Ju- são religiosa, ainda se lembra bileu de Congonhas. Muitos con- do dia em que fez seus votos terrâneos eram romeiros do Bom na Congregação RedentorisJesus de Congonhas. No dia se- ta? Como foi esse momento?

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Entrevista

Bem me recordo do dia de minha Profissão Religiosa. Terminara o Noviciado. Éramos nove. Prostrado no presbitério da Igreja da Glória (Juiz de Fora – MG). Meus pais estavam presentes. Tudo despojado e denso. A acolhida alegre dos padres. Um passo decidido e decisivo... na lucidez daquele momento juvenil. E vibrava por ir para o Seminário da Floresta. E tudo começará.

ção acadêmica, tendo concluído três graduações e dois mestrados. Como vê a importância dos estudos constantes na formação religiosa?

Por onde andei, as tarefas foram muitas. Elas sempre se tornaram interpelações para eu crescer. Razão óbvia para mim: vencendo ingenuidades e melhorando, passo a passo, o modo de ser e de fazer e de escolher. Descobrindo a escuta, a presença, a reciprocidade.

Ah, estudos! Formar-se, pois nunca pronto. Saber de si com sabor de mais ser. Ir vida afora lidando com os vários saberes. Uma sociedade de conhecimento como a nossa, requer da liderança dos consagrados à evangelização talentos cultivados e conhecimentos amplos, na medida maior de cada um. Não é só informação. É transformar os saberes em estilo evangelizador, em modos de convivência humanizada e santificadora. Por uma Igreja de comunhão e participação, sem clericalismos. Quem ama o povo de Deus e dele se torna líder-servo, precisa empenhar-se sem descanso. É preciso investir na graça da formação continuada, como recurso de um lado para a própria integração psico-espiritual, e por outro, como processo de intensificação do estilo de vida. Uma sabedoria a se construir.

O senhor destaca-se, também, por possuir uma ampla forma-

Brenda Melo Juiz de Fora, MG

Como Missionário Redentorista, o senhor passou por diversas comunidades da Província e assumiu cargos importantes, como o de Provincial durante vários anos e de formador. De que forma essas responsabilidades contribuíram para o seu crescimento pessoal?

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Encontro MLR: reflexão teológica e avaliação da caminhada

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os dias 11, 12 e 13 de março, cerca de 80 pessoas participaram de mais um encontro de formação dos Missionários Leigos Redentoristas (MLR) da Província do Rio. O Seminário da Floresta, localizado em Juiz de Fora (MG), sediou o evento, cujo tema foi “O aspecto salvífico da morte-ressurreição de Jesus e a graça de Deus em nossa vida”. Marcaram presença representantes MLR de todas as unidades, com exceção de Cariacica (ES), além do padre Paulo Morais, C.Ss.R., coordenador do evento; padre Paulo Carrara, assessor de sábado, padre Américo de Oliveira, C.Ss.R., superior provincial e assessor de domingo; fráter Marcos Paulo de Rezende, C.Ss.R. e fráter Vinícius Tinte, C.Ss.R. A sexta-feira foi dedicada à acolhida dos participantes e oração com a via-sacra e adoração ao santíssimo. No sábado, aproveitando o tempo litúrgico, foi aprofundado o tema da salvação, com reflexão teológica do padre Carrara. À noite foi realizado um momento de convivência com a participação do provincial e de seminaristas das

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Comunidades Vocacionais Santo Afonso e São Clemente. Já no domingo, a assessoria foi do padre Américo, que fez uma avaliação da caminhada MLR, questionando os participantes sobre as conquistas e dificuldades de cada unidade e o que eles desejam da Província do Rio. O encerramento do encontro aconteceu com a celebração eucarística, presidida pelo provincial e concelebrada pelo padre Paulo Morais. Para Rosani Barbosa, Missionária Leiga Redentorista da unidade da Glória (Juiz de Fora), o encontro foi muito proveitoso e esclarecedor. “De tudo o que foi estudado e refletido, posso dizer que foi um encontro bastante valioso. Saímos com muita vontade de melhorar, para que no próximo encontro já tenhamos resultados positivos a apresentar”, declarou a missionária. Brenda Melo Juiz de Fora, MG

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Espiritualidade

IX. O CREDO: Ressuscitou ao terceiro dia Ressuscitou Certos detalhes das narrativas da ressurreição permanecem intrigantes, pois não há coesão nos relatos. O lugar das aparições: Galileia ou Jerusalém? A questão do sepulcro vazio não é mencionada por Paulo, por quê? Os mensageiros das aparições no sepulcro ora são dois homens, ora anjos. A ascensão do Senhor perante os discípulos é mencionada só por Lucas. Tais “dificuldades”, no entanto, não negam a verdade da ressurreição de Jesus, apenas revelam o desafio de narrar uma experiência que se situa na dimensão do transcendente e se manifesta no imanente. Há, pois, certo “embaraço” para narrar o encontro com Jesus ressuscitado. Depois da morte de Jesus, os apóstolos voltam a Jerusalém e testemunham que ele está vivo e se lhes manifestou. Ninguém testemunhou a ressurreição como tal; esta perdura como mistério, afinal, ninguém viu Jesus ressuscitando. Não foi fácil para os discípulos descrever encontros com o Ressuscitado. Eles o reconhecem e não o reconhecem; ele é intocável, mas se deixa tocar; é o mesmo que conheceram quando vivia junto deles, mas é outro completamente diferente. Tal experiência exigiu recursos literários e estilísticos para que pudesse ser co-

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municada. Lucas, com os discípulos de Emaús (cf. Lc 24,13-35), utiliza o simbolismo da liturgia para transmitir o inefável. “Estando à mesa com eles, tomou o pão, pronunciou a benção e, depois de o partir, deu-o a eles. Neste momento, os olhos deles se abriram e o reconheceram, mas ele desapareceu de sua vista” (Lc 24,30-31). O evangelista nos diz que encontramos o Ressuscitado na Palavra e no sacramento. O fundamento da eucaristia é o mistério pascal; nela, o Senhor vem ao nosso encontro para ser nosso companheiro de viagem, abrir nossos olhos e nos dar coragem para seguir adiante. O mais importante não é, pois, o que aconteceu, mas o significado do que aconteceu e a presença viva do Senhor na comunidade que se originou dele. As narrativas da ressurreição seguem uma lógica: a iniciativa vem sempre do Ressuscitado. Ele aparece e se manifesta. O que fora crucificado se mostra vivo. A ressurreição não se resume a uma experiência sentimental, que brota do coração dos discípulos. Ela lhes chega desde fora e se apodera deles, inclusive indo contra suas dúvidas, fazendo-os ter a certeza de que o Senhor ressuscitou verdadeiramente. Os discípulos o reconhecem e declaram: “É o Senhor”. Aquele que estava no túmulo já não está preso pela morte, se encontra no

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ressuscitou (cf. Mt 28,7; 1 Ts 4,14; 1 Cor 15,3-5; Jo 21,14 etc.). A maioria dos textos, no entanto, fala da iniciativa do Pai na ressurreição do Filho (cf. At 2,24; Rm 5,8; 8,34; Cl 2,15 etc.). Tal iniciativa supõe participação do Filho, mas a fé pascal insiste na ação de Deus-Pai em seu Filho Jesus, afinal, “Deus amou tanto o mundo que lhe deu seu Filho unigênito, para que não morra quem nele crê, mas tenha a vida eterna” (cf. Jo 3,16). A ação criadora do Pai se manifesta na vida entregue do Filho através da morte e o introduz em um novo modo de existir. Ao ressuscitar seu Filho, Deus antecipou na história humana algo que se manifestará no fim: a vitória da justiça, a fraternidade universal, a realização plena do Reino. Deus agiu em Jesus, não de maneira milagrosa, mas fazendo-o passar da morte à vida, dando-lhe outro modo de existir. Na nossa humanidade, o Filho é glorificado e santificado. Pela ressurreição, Deus confirmou a verdade da vida de seu Filho Jesus, tornando-a irrevogável. O Pai para sempre o exaltou, fazendo-o Senhor da história e do universo inteiro. A ressurreição de Jesus, vítima inocente, expressa tanto o poder de Deus sobre a morte como seu poder sobre a injustiça que mata os inocentes, aqueles que propagam a paz, a igualdade, a liberdade e a fraternidade, ou seja, o sonho do Reino de Deus. Ao ressuscitar seu Filho Jesus, Deus Pai o arranca do absurdo e o leva à plenitude o que Ele pretendeu com sua vida e morte. Em Deus, ele reencontra a identidade definitiva de seu ser humano e a realização ple-

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mundo de Deus e tem poder para se manifestar vivo. O amor de Jesus pela humanidade foi mais forte do que a vida. Ele a perdeu por amor. Mas seu amor também se revelou mais forte que a morte, uma vez que a destruiu. O encontro com o Ressuscitado é uma experiência de fé e os seus seguidores se transformam ao reconhecerem-no, donde surge a missão: dali para frente serão testemunhas do Vivente e vão anunciar a Boa Nova com entusiasmo e paixão. Os fugitivos medrosos da sexta-feira santa se tornam testemunhas destemidas da Páscoa, prontas a dar a vida por aquele que, morto, se tornou Senhor da vida por sua ressurreição. A ressurreição de Jesus desponta, assim, no Novo Testamento, como o núcleo central da fé apostólica. Pedro dirá aos judeus de Jerusalém: “vós o prendestes e o matastes, pregando-o na cruz por mãos de gente má. Mas Deus o ressuscitou, libertando-o das angústias da morte, pois não era possível que ele ficasse detido sob seu poder” (At 2,23-24). Paulo, após sua experiência com o Ressuscitado, proclamará: “Se confessares com a boca que Jesus é o Senhor e se em teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10,9). De fato, toda a pregação apostólica se resume no testemunho da ressurreição do Senhor (cf. At 4,33). A Igreja nasce do testemunho da ressurreição de Jesus, sem a qual vazia seria nossa fé: “Se Cristo não ressuscitou, então nossa pregação é vazia, vazia também é vossa fé” (1Cor 15,14). Alguns textos mostram Jesus como sujeito ativo da ressurreição. Ele

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na de sua história terrena. O próprio sentido da vida e morte de Jesus é dado pela ressurreição. A prática de Jesus foi considerada suspeita e sua morte o desacreditou publicamente. Sua morte representa o fracasso de sua missão. Ao ressuscitá-lo, Deus dá razão ao crucificado e o faz vitorioso, mostrando que sua solidariedade com os pecadores e os que sofrem coincide com a vontade de Deus. Jesus não estava, de fato, sozinho. Deus, seu Pai, esteve com Ele, em todos os momentos de sua vida, até à morte. Em Jesus, Deus atuou realmente; ele é de fato o salvador de Deus, aquele que, de verdade, expressou Deus na história. Quanto à ressurreição do corpo, de acordo com a antropologia bíblica, trata-se da ressurreição do ser humano na integridade de suas relações pessoais e cósmicas, na sua totalidade. A ressurreição não pode ser vista como sobrevivência da alma, o que a tornaria algo desvinculado da real experiência humana. Não é, pois, a alma de Jesus que ressuscita, mas Jesus mesmo, na totalidade do seu ser e da sua vida. A ressurreição também não se entende como fazer um cadáver sair do túmulo e voltar à vida terrena que levava antes. Ele não regressa a vida de antes, como Lázaro. Jesus ressuscitado não está mais sujeito às leis da química e da biologia, não se prende mais às leis da história enquanto imanência. A ressurreição diz respeito a tudo o Jesus foi e realizou na sua vida, na sua identidade mais profunda. A totalidade da vida (corpo, alma, história, projeto, relações) ressuscita.

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Apesar de não depender mais das leis da história, foi necessário que a ressurreição se manifestasse na história, para mostrar que o sentido da aventura humana é a construção do Reino que Jesus inaugurou com sua morte e ressurreição. Ele não só morreu por nós, mas também ressuscitou por nós. E sua vida gloriosa junto do Pai nos é comunicada pelo Espírito, para que vivamos e ressuscitemos com ele. “Mas Deus, que é rico em misericórdia, movido pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por causa de nosso pecado, nos fez reviver com Cristo. É por graça que fostes salvos. Com ele nos ressuscitou e nos fez sentar nos céus, em Cristo Jesus (Ef 2, 4-6; cf. Rm 5,8; Cl 2,13).

Ao terceiro dia

O anúncio bíblico afirma que Jesus ressuscitou ao terceiro dia e tal afirmação aparece no Credo. O símbolo niceno-constantinopolitano acrescenta: conforme as Escrituras. O terceiro indica uma obra realizada. No Evangelho de Lucas, Jesus diz: “Ide dizer àquela raposa. Eu expulso demônios e realizo curas hoje e amanhã; e no terceiro dia sou consumado” (Lc 13,32). Em João, ele afirma: “Podeis destruir este templo, que em três dias eu o levantarei de novo” (Jo 2,19; cf. Mc 14,58). A ressurreição ao terceiro dia emerge como o cumprimento da salvação. “Ele não está aqui. Ressuscitou! Lembrai-vos do que ele vos falou quando ainda estava na Galileia: O Filho do homem deve ser entregue nas mãos dos pecadores, ser cruci-

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ficado e ressuscitar ao terceiro dia” (Lc 24,6-8). Pedro proclama: “Deus o ressuscitou no terceiro dia” (At 10,40). Paulo declara haver transmitido o que ele recebeu: “que Cristo morreu por nossos pecados, cumprindo as Escrituras, que foi sepultado e que ressuscitou ao terceiro dia, cumprindo as Escrituras; que apareceu a Cefas e mais tarde aos doze” (1 Cor 15,34). Aqui há um paralelo com Oséias 6,1-2, onde lemos: “Vinde, voltemos a Javé. Ele dilacerou e nos curará; ele feriu e nos enfaixará. Depois de dois dias nos fará reviver, e no terceiro nos fará ressurgir e viveremos em sua presença”. No terceiro dia Javé intervém salvificamente. Jesus ressuscitado, segundo Lucas, explica aos discípulos de Emaús o que lhe aconteceu: “E, começando por Moisés e percorrendo todos os profetas, explicou-lhes em todas as Escrituras o que lhe dizia respeito” (cf. Lc 24,27). O que aconteceu com Jesus tinha sido predito pelos profetas, dirá Lucas em Atos (cf. At 3, 18). A afirmação ao terceiro dia, segundo as Escrituras, significa que a ressurreição de Jesus é a realização final das promessas de Deus que aparecem nas Escrituras, seu cumprimento escatológico. O terceiro dia, porém, recebe explicações diferentes das diversas correntes teológicas. Há teólogos que entendem que esse número é simplesmente teológico e não o terceiro dia, aquele que vem depois do segundo dia, que veio depois do primeiro. Afinal, para o Evangelho de João, morte e ressurreição de Jesus compõem um único evento. Na cruz,

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o Filho se eleva ao Pai é por ele glorificado. Já para os adeptos da antropologia dualista, o problema se resolve facilmente: na morte, o espírito (alma) de Jesus foi glorificado; três dias depois, o corpo foi elevado a partir do túmulo a essa glorificação. Outros encontram uma resposta nas recentes pesquisas médicas. De acordo com essas, os critérios para constatar a morte na época de Jesus não eram os mesmos de hoje. A morte de Jesus na cruz, na opinião de alguns pesquisadores, foi apenas um ponto de não retorno à vida, ou seja, ele não tinha morrido totalmente. A morte total só aconteceu quando ele já estava no túmulo, nesse caso houve coincidência temporal entre a morte e a ressurreição. Parece que, para os judeus, a morte só acontecia depois de três dias, quando o corpo começava a se corromper. Mas, como disse um grande teólogo da ressurreição de Jesus: “a sabedoria aconselha, sem dúvida, a não entrar nessas investigações”. O mais importante é a ressurreição de Jesus, acontecimento histórico-transcendente cujo significado salvífico chega a todos os homens, através do Espírito, mesmo àqueles que não professam uma fé em Jesus ou em Deus. Nós cremos na veracidade do testemunho dos apóstolos: Jesus se manifestou ressuscitado a eles. E ressuscitou para que pudéssemos ressuscitar com ele. Está presente na Igreja e no mundo, mediante o Espírito. Pe. Paulo Sérgio Carrara, C.Ss.R. Belo Horizonte, MG

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Visita canônica

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egundo as Constituições Redentoristas, o Superior Provincial é pastor, animador e coordenador de todas as comunidades e dos confrades de sua Província. Neste sentido, a visita canônica, que é uma visita oficial do governo provincial, é antes de tudo fraterna; pois o que nos rege é o Evangelho. Juntamente com um membro do Conselho Provincial, o Superior da Província do Rio, padre Américo de Oliveira, C.Ss.R., tem percorrido as comunidades da unidade redentorista de Minas Gerais, Rio de Janeiro e Espírito Santo para a realização das visitas canônicas.

Frei Gaspar

A visita canônica a Frei Gaspar, cidade mineira próxima a Teófilo Otoni, onde reside o Missionário Redentorista padre Élio Athayde, C.Ss.R., aconteceu de 01 a 03 de março. Os visitantes foram o padre Américo de Oliveira, C.Ss.R., superior provincial, e o padre José Cláudio Teixeira, C.Ss.R., conselheiro provincial. Durante a visita, foi realizada uma reunião com a Juventude Missionária Redentorista (JUMIRE) de Frei Gaspar. Além das reuniões,

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partilhas e convivência, os visitadores também tiveram a oportunidade de conhecer melhor a região. Para o provincial, o saldo da visita foi bastante positivo. “Fiquei muito contente com a visita. O padre Élio está muito bem de saúde e disposto para o trabalho. Na reunião com a Juventude Redentorista, impressionou-me o entusiasmo e a alegria dos jovens. Eles já participaram até de trabalhos missionários na paróquia”, disse padre Américo.

Campos dos Goytacazes

No período de 08 a 10 de março, aconteceu a visita canônica à Comunidade Redentorista de Campos dos Goytacazes (RJ). Os visitadores foram o padre Américo de Oliveira, C.Ss.R. (provincial) e o Padre Dalton Barros, C.Ss.R. (conselheiro provincial). Foram dias muito ricos de partilha de vida, avaliação da caminhada e novos horizontes que se descortinaram para dar continuidade à evangelização no Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro. Com a Comunidade Redentorista, além dos momentos agradáveis de convivência, aconteceram reuniões de partilhas, liturgias das horas, Celebração Eucarística e conversas pessoais dos confrades com o provincial. Também foram realizadas reuniões dos visitadores com o Conselho Pastoral, funcionários, Missionários Leigos Redentoristas e a Juventude Redentorista. Foram feitas, ainda, visitas à Obra Social Sagrada Família, à Escola Sagrada Família e também às Comunidades do Carvão e Chatuba, atendidas pelos Redentoristas.

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Projetos missionários da JUMIRE do Brasil

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ntre os dias 07 e 10 de março, representantes da Comissão Nacional da Juventude Missionária Redentorista se reuniram em Porto Alegre (RS) para o primeiro encontro de 2016. Doze membros, entre jovens leigos e religiosos, de quase todas as (vice) Províncias brasileiras estiveram presentes. Quem representou a Província do Rio nesta reunião foi o fráter Heliomarcos Ferraz, C.Ss.R. Dentre os assuntos tratados na reunião, falou-se sobre a participação da Juventude Missionária Redentorista (JUMIRE) na Missão Interprovincial que acontecerá em Trindade (GO), de 1º a 28 de agosto deste ano. Cada (vice) Província foi convocada a enviar representantes da JUMIRE para essa missão. O trabalho dos jovens missionários redentoristas será prioritariamente junto à missão nas escolas e momentos gerais e focais com a juventude.

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Foi abordada também a importância da formação dos jovens e sugerida a criação de um material para auxiliá-los em alguns eventos específicos, como festas, missões e encontros. O grupo definiu, ainda, a data do II Congresso Nacional de Lideranças da JUMIRE: de 27 a 30 de julho de 2017, juntamente com a Romaria Nacional da JUMIRE a Aparecida (SP), como parte da programação do tricentenário do encontro da imagem de Nossa Senhora Aparecida. A próxima reunião da Comissão acontecerá de 06 a 09 de setembro, na Casa de Retiros São José, em Belo Horizonte (MG). Brenda Melo Juiz de Fora, MG

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A abertura oficial do Ano SPES – Síntese Pessoal de Experiências Substantivas aconteceu no dia 29 de março. Foi realizado um almoço festivo de Páscoa e à noite, missa na Igreja Matriz com a presença de todos os formadores da Província do Rio, além dos seminaristas Thiago e Lucas, da Comunidade Vocacional São Clemente; dos Missionários Leigos Redentoristas e da Juventude Missionária Redentorista.

Os spesianos de 2016 são os jovens: Gedson Pablo Mendes Santos, natural de Porteirinha – MG, candidato clérigo, e Maycon Ferreira Martins, natural Serra – ES /Raul Soares – MG, candidato a Irmão Leigo Redentorista.

Aconteceu na Província

Abertura do Ano SPES

Reunião de Formadores A primeira reunião deste ano dos formadores da Província do Rio aconteceu no Convento Redentorista de Coronel Fabriciano (MG), no dia 29 de março. Estiveram presentes: Pe. Fagner Dalbem, C.Ss.R. – Formador da Comunidade Vocacional Santo Afonso (CVSA); Ir. Pedro Magalhães, C.Ss.R. – Auxiliar de formação da CVSA; Pe. José Maurício de Araújo, C.Ss.R. – Formador da Comunidade Vocacional São Clemente (CVSC); Pe. Edson Alves, C.Ss.R. – Formador do SPES; Pe. Vicente de Paula Ferreira, C.Ss.R. – Formador da Comunidade Vocacional Dom Muniz (CVDM); Pe. Bruno Alves Coelho, C.Ss.R. – Promotor Vocacional; Pe. Américo de Oliveira, C.Ss.R., Superior Provincial.

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