Akikolá - Setembro/2013

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Trilhas de santidade

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inguagem humana tem limite diante do mistério, restando, em tempos diversos, o silêncio como escuta de uma vida peregrina. E quase sempre a poesia, a música, os louvores ou preces fazem o horizonte vibrar, alargando suas margens. Grandes ou pequenos gestos, quando embebidos pela esperança e pela ternura, revelam fé robusta, alma grande. Gosto de céu em pleno caminho. Paz na guerra dos que calejam as mãos em luta diária. Companheiro, lá vem chegando a procissão! Você diz que é ilusão, mas não! É pureza que transparece em quem não tem orgulho grande. Suspiro, caro amigo, porque de chão sozinho a estrada é inviável. Para fazer romaria é preciso fé de gente humilde, senão a grandeza sobe à

cabeça. Os pequenos, que ainda não chegaram, vão avante, buscando caminhos de vida. Veja, então, na boca do Sertão, de Minas ou de alhures, quão bela a presença dos romeiros. São pobres, mas valentes. Cruzam mãos, vestem-se iguais ao santo, benzem-se e acreditam. Agradecem milagres, mas não tentam a Deus quando ele não vem. Sabem que a lida é feita também de entregas e que nem sempre a vontade própria é possível. Assim vão seguindo, devotos, amigos de Deus. Em Curvelo, Princesa do Sertão, esses romeiros, de mãos calejadas, bebem água boa às sombras de uma igreja. Uma fonte segura; alívio nos combates. Basílica bela, que em seu seio guarda destino bom. Casa de um

Expediente: Coordenação: Pe. Vicente de Paula Ferreira, C.Ss.R. Jornalista Responsável: Brenda Melo - MTB: 11918 Colaboração: Luiz Henrique Freitas - MTB: 16778 Projeto gráfico: SM Propaganda Ltda Impressão: Gráfica América Tiragem: 2.000 exemplares

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irmão, frágil homem, entre os irmãos. São Geraldo, adormecido sereno; lá no altar, elevado ao céu. Eis um segredo, uma senha, um convite: é preciso amor fraterno pra ser santo, pra que a existência não seja curta. Grão de trigo caído, em terra boa, germina; sem metamorfoses, vira apenas grão fechado.

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Loucura? Sim, louco de Deus, amigo dos pobres. Glorioso São Geraldo, ao Cristo abraçado, é meta na estrada. De humildade bendita, socorre quem sofre; de coração aberto, somente acolhe. Um oásis, então, em pleno sertão. Sua casa, morada de irmãos; sua fé, uma porta de comunhão. Ensina que crer é, acima de tudo, lançar-se em acolhida amorosa de um dom que se chama amor. Assim, segue a romaria, na alegria de andar juntos, com sabor de eternidade. Afasta mal bravo, que não tem morada certeira; espanta o perigo do egoísmo, de estreiteza de alma. Ah! Santidade? Quão feliz oferta que vem do alto e clareia o chão. Pe. Vicente Ferreira, C.Ss.R. Superior Provincial

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Entrevista

Pe. Luís Carlos, C.Ss.R.

Pároco da Igreja de Santo Afonso no Rio de Janeiro (RJ), Pe. Luís Carlos revela a emoção de viver a JMJ e a abertura do Ano da Promoção Vocacional Redentorista. A Igreja de Santo Afonso contou com o apoio de centenas de voluntários e famílias acolhedoras dos peregrinos durante a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), além da ajuda efetiva dos padres e irmãos da comunidade redentorista carioca. Um trabalho competente e indispensável para o sucesso do evento. Como foi a participação desse grupo nas atividades? No processo de preparação para a Jornada, tivemos na Paróquia o simulado do que seria a JMJ, o que nos possibilitou entender a estrutura necessária para todos os eventos que aconteceriam pela cidade do Rio de Janeiro. A Igreja de Santo Afonso foi um dos centros de referência para os peregrinos de língua inglesa. Por isso, haviam vários jovens voluntários auxiliando na comunicação com aqueles que vinham para a nossa região paroquial. Aqui ficaram irmãos da Zâmbia, Austrália, Filipinas, Canadá, Arábia Saudita, Iraque, Estados Unidos, etc. Eles chegavam e eram encaminhados para os locais de hospedagem. Graças a Deus contamos com a generosidade de muitas pessoas para

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que o trabalho na JMJ transcorresse da melhor forma possível na paróquia. Os nossos jovens paroquianos estiveram engajados em várias outras atividades da JMJ, o que muito nos alegra por vermos a vitalidade de nossa juventude. A JMJ e a visita do Papa no Rio de Janeiro foram momentos marcantes para toda a Igreja. Além de participar da programação da jornada, o senhor teve a oportunidade de concelebrar a missa de envio. Como foi essa experiência? A experiência foi de um realismo muito grande. O Papa Francisco nos trouxe para a concretude da vida e da história, da qual somos responsáveis. A sua frase, “Ide sem medo para servir”, foi uma exortação para o alargamento de nosso horizonte existencial. Isso possibilitou vermos a vida com ternura e, ao mesmo tempo, nos deparar com o desejo de transformá-la em vida digna para todo ser humano. A missa foi de muita emoção, bem conduzida. Lindo era estar ao lado de padres de várias nacionalidades e todos celebrando o mesmo mistério eucarístico, através

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da linguagem do amor. A despedida foi muito emocionante, bem como o encontro com o povo exultante pela benção de termos tido uma Jornada tão pacífica e iluminadora. Na verdade foi um verdadeiro Kairós e graças a Deus estamos colhendo os frutos, graças a mobilização que a JMJ e a presença do Papa trouxeram ao coração de muitas pessoas que, até então, estavam afastadas da Igreja. No dia 1º de agosto, data em que celebramos Afonso Maria de Liguório, fundador dos Redentoristas, o Superior Geral da Congregação presidiu, na Igreja de Santo Afonso, a missa que marcou a abertura oficial do Ano de Promoção da Vocação Missionária Redentorista em todo o mundo. Como foi receber essa celebração tão importante, com a participação do Governo Geral? Vejo como uma coroação a abertura do Ano Vocacional em nossa Paróquia, pois há mais de um ano estamos vivendo os preparativos da JMJ e terminar os eventos da Jornada no momento em que se abre

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Brenda Melo Juiz de Fora, MG

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Entrevista

o Ano Vocacional é uma dádiva de Deus para nós. Um verdadeiro coroamento dos trabalhos já realizados e o desdobramento daquilo que mais sonhamos: um tempo fecundo, onde poderemos semear e, ao mesmo tempo, colher as pessoas com seus dons, encaminhando-as a trabalhar na Messe de Cristo. A participação do Governo Geral, nas pessoas do Padre Maikel Brehl, C.Ss.R. e Padre Alberto, C.Ss.R., sinaliza a íntima unidade da Paróquia Santo Afonso no seio da Congregação do Santíssimo Redentor. A presença de nosso Provincial nos coloca no coração da Província do Rio, Minas e Espírito Santo por termos Santo Afonso como padroeiro, o que evoca em toda a Província a responsabilidade de trabalharmos em prol da continuidade do carisma desta Congregação, fundada por Afonso, em benefício do povo mais abandonado. Os confrades das outras unidades da Congregação que estiveram presentes confirmam a comunhão que deve existir entre os redentoristas de todo o mundo. A presença maciça dos paroquianos e devotos de Santo Afonso nos faz acreditar que Afonso é muito amado e que a sua obra tem ressonância na alma de nossa gente, por isso, ela deve continuar. É nesse sentido que o Ano Vocacional Redentorista abre para nós novas perspectivas de um futuro abençoado.


Festa de Nossa Senhora da Glória

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ias de muita fé, oração, reflexão, alegria e confraternização. Assim foi a Festa de Nossa Senhora da Glória 2013, entre os dias 11 e 18 de agosto. No Setenário, o tema “A família e o Ano da Fé” foi destaque. Começando no dia 11, com a missa presidida pelo Reitor da Comunidade Redentorista da Glória, Padre Ronaldo, C.Ss.R. Na celebração, a consagração dos pais a Nossa Senhora e a coroação de Maria, repetida, todos os dias, ao longo de toda a festa,

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com representantes dos diversos movimentos e pastorais da Paróquia. Durante a semana, diversos padres da Província do Rio foram convidados para celebrar: Padre Nelson Antônio, C.Ss.R., Reitor do Santuário de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro (Campos-RJ), Padre Dalton Barros, C.Ss.R., formador da Comunidade Vocacional Dom Muniz (Belo Horizonte – MG), Padre Flávio Leonardo, C.Ss.R., ex-pároco da Glória e atualmente morando

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na Comunidade da Igreja São José, em Belo Horizonte, e o Padre Américo de Oliveira, C.Ss.R. formador da Comunidade Vocacional Santo Afonso. Além da presença dos padres da comunidade da Glória. A celebração foi abrilhantada pelo Coral Vox Glória. Para fechar Nem mesmo a chuva que a belíssima celebração, fogos de ameaçou cair desanimou os fiéis, artifício iluminaram os céus, sob que tomaram conta das ruas do as bênçãos de uma chuva fina. Durante todos os dias da fesbairro Jardim Glória para a procissão que foi recebida com festa ta, os paroquianos e visitantes na Igreja da Glória. Nela, cente- puderam se deliciar com as gunas de fiéis participaram da missa loseimas preparadas por voluntásolene presidida pelo Provincial, rios, que também se dedicaram com afinco nas barraquinhas. Padre Vicente Ferreira, C.Ss.R. DOMINGO DA ASSUNÇÃO

Silvia Carvalho Juiz de Fora, MG

Aniversariantes do Mês 11/09 16/09 18/09 25/09

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.................. Pe. André Luiz Bastos, C.Ss.R. .................. Ir. Pedro Magalhães, C.Ss.R. .................. Ir. Afonso Cupertino de Barros, C.Ss.R. .................. Pe. Paulo R. Gonçalves, C.Ss.R.

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NO ANO DA FÉ

JESUS, PEIXES E CATACUMBAS

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magens e formas, sinais e símbolos é o que não falta como fatores a propiciarem a identidade para as comunidades cristãs, seguidoras de Jesus naqueles primórdios. São modos de relação afetuosa com o Mistério. Imagens vitais, símbolos unindo o terrestre e o celeste. É como se elas vissem o invisível. Elementos estes, em conjunto, criavam unidade. São parte da linguagem do feito e vivido, do dito, e tudo celebrado no rito e no que ainda há que ser feito. Modos de quem sabe o que significa ser de Cristo (cristão), um novo caminho a percorrer sendo pessoas novas. O que aqui vai contado, agora, são algumas imagens e símbolos, sinais de identidade em relação a peixes. PEIXES MULTIPLICADOS Aconteceu com Jesus de Nazaré alimentar multidão com cinco pães e dois peixes. Uma narrativa de sabor eucarístico, escritura pós-pascal, pós-ressurreição: Jesus dando-se em alimento, nutrindo seu rebanho. Cestos de pão foram recolhidos, de sobra. Peixes, não. E há aquele outro episódio, um colorido conto do poder divino de Jesus de Nazaré, cidadão. A narra-

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tiva é exclusiva de Mateus (17,2427), logo ele, sobre questão de imposto a pagar para o Templo. Jesus diz a Pedro para ir jogar o anzol. E, certamente, terá ordenado a um determinado peixe para que mordesse a isca do anzol de Pedro e tivesse na boca uma moeda de prata (seis gramas), vai ver que apanhada no fundo do mar, embarcação pirata afundada. E assim aconteceu. Fisgado, o peixe entregou a moeda e Pedro o liberou para voltar a nadar. Quem sabe, talvez tenha começado assim a pesca esportiva! Peixes só escutam, ao que parece. Não falam, nem mesmo em fábulas antigas. Um bom recado para os humanos: escutar e escutar; falar um tantinho menos. Dizem que os monges de outrora aprendiam com os peixes seu viver silenciosos, já que outros animais são do barulho: latem, zurram, uivam, chilreiam, arrulham, coaxam, cantam. E peixes há, nadando contracorrente, como cabe aos cristãos em várias circunstâncias culturais, rodeados que estão de propostas nada próximas dos ensinamentos de Jesus. Escapar das águas sujas. Viver em águas de vida. Peixe vivo.

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Jesus ressuscitado manifestou-se aos seus, aos que escolhera e ama, querendo vê-los de novo e confirmá-los. Desejava ser de novo re-conhecido. Sabia que estavam assustados, amargando fundas decepções. Assim, numa certa vez, pôs-se no meio deles, saudando-os: SHALOM. Sou eu mesmo. Lc 24,34-36. Pasmos, hesitantes entre alegria e surpresa, ouvem Jesus provocar intimidade: Ei, têm aí algo para comer? (Como se dissesse: estou vindo de longe, tenho fome. E não é que sempre estivemos juntos à mesa da vida?). Eles lhe passam um naco de peixe assado. Saboreou gostoso. Havia ou não pão para acompanhar? Quem sabe com olhos sorrindo via-os, um a um; um olhar que só era convite. Será que após a caminhada pela estrada de Emaús, à mesa, dando graças e rompendo o pão, não havia um bom peixe assado para aquela refeição? O escriba talvez se tenha esquecido de notá-lo, tão arrebatado pelo pão abençoado e repartido. Sempre a eucaristia como lugar da identificação. Vem-me à lembrança uma expressão de Santo Agostinho comentando as manifestações do Ressuscitado. Transcrevo-a na língua densa e original: Piscis assus, Christus passus. Peixe assado, Cristo padecente é lembrado. Não há como

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não evidenciar: gerou-se nos primórdios da Igreja uma correlação (conexão e sinergia) entre peixe e eucaristia. Jesus-peixe. Igreja e peixes. Igreja rede apanhando nas águas da vida novos seguidores. Somos peixinhos do Pai. SAGAZES SENHAS A palavra grega “peixe” é ICHTYS. Fizeram dela um anagrama apreciado, valendo como profissão de fé silenciosa. Nasceu da vida e carrega significado vital no contexto das perseguições. I= Iesus. Jesus. Yeshuá. CH= Christos. Cristo, o messias. O ungido com a ressurreição. T= Theou. De Deus. Y=Yos. Filho. S=soter. Salvador. Em tempos de perseguição, o peixe servia para proclamar aos do mesmo caminho a fé. Escrevia-se a palavra, em grego, ichtys e se entendia: Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador. Uma senha, uma imagem, um anagrama secreto gritava a fé. Aquele que é neste mundo que vai sendo... Para os tempos difíceis havia outra senha. Outro símbolo identificava o irmão na fé. A coisa se passava assim: duas pessoas estão de prosa. Falam disso e daquilo. Prosa vem, prosa vai e caem no tema da “nova crença”. E se o outro fosse contrário ou delator? A jeito de nada, em meio à conversa, o cristão traçava no chão um tipo de curva, insinuando. Se o outro era adversário ou não iniciado,

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PEIXE PARA O RESSUSCITADO


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ficava por isso mesmo o traço no eu venho em breve”. Amém! Vem, chão. Acontecendo ser também Senhor Jesus”. Ap 27,20. um seguidor, completava por baixo a curva, invertida. E estava cunha- SÍMBOLOS SAGRADOS, da a imagem do peixe para os da VITAIS E PERENES mesma eucaristia...da mesma comunhão de vida. De peixes e símbolos, quais Em paredes de várias Cata- sinais rememorativos, falamos até cumbas (periferias de Roma) há aqui. Apontam para o Mistério se emblemáticas figurações do peixe desvelando. São marcas e senhas simbolizando o Cristo: peixe que a nos ensinar viver nas águas Bacarrega uma nau sobre o dorso; tismais, movendo-nos fecundos e peixe que carrega uma cesta de livres. Ora, estamos cercados de pão; prato contendo coisas e posturas um peixe assado. tão efêmeras e fu« Aquele que dá gazes Menos comum é o que muito que se encontra na testemunho destas podem nos valer Catacumba de São coisas diz: “Sim, eu estes símbolos Calixto (século II): vitais e perenes. uma âncora sobre venho em breve”. Eles perduram, perondas e um golfisistem, ainda que Amém! Vem, nho se achegando. desconhecidos por Senhor Jesus » Imagem de salvacristãos embraçação imorredoura. dos com o uso de Golfinho nas religiões fala de re- tantos fetiches religiosos, parecennascer, marca de transfigurações. do mais poderosos que os sinais e No caso, alude-se ao Batismo. E símbolos sacramentais e litúrgicos. a âncora diz entre os cristãos do Que força a Cruz e o ícone de MaAMÉM: afirmação, engajamento, ria na JMJ! Sem badulaques... confirmação, adesão. Um sim Verifique, leitor(a), a que iconopessoal ou comunitário. O amém grafia cristã está você associado(a). de Deus a nós. Jesus, o Amém do Que ninguém, entre nós, seja um Pai, testemunha fiel e verdadeira. peixe fora d’água. Ap 3,14. Jesus iniciava algumas de suas falas por um “Amém” (Mt A graça do Senhor Jesus esteja 5,18; 18,3...) que no evangelho de com todos. Amém. Ap 22,21. João vem reduplicado (Jo1, 51; 5,19...). Algo tão de Jesus que se considera expressão dele. Assim é, assim seja. “Aquele que dá tes- Pe. Dalton Barros, C.Ss.R. temunho destas coisas diz: “Sim, Belo Horizonte, MG

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A Bíblia e a revelação do mistério de Deus

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vida cristã e a vida da Igreja se fundamentam nas Sagradas Escrituras, que chamamos Bíblia. Mas qual o conteúdo da Bíblia? Por que a consideramos tão central para nossa vida? Segundo o Concílio Vaticano II, “aprouve a Deus, na sua bondade e sabedoria, revelar a si mesmo e manifestar o mistério da sua vontade (Ef 1,9), mediante o qual os homens, por meio de Cristo, Verbo feito carne, no Espírito Santo, têm acesso ao Pai”. Sabemos que não somos a origem de nós mesmos. Deus, livre e amorosamente, nos criou. E por que o fez? Apenas para se dar a nós e nos fazer participar do seu mistério. A criação do mundo e dos homens nada lhe acrescenta, Ele já é a plenitude do amor: Pai, Filho e Espírito Santo. Mas Ele quis, por puro dom, que outros fossem felizes com ele e criou somente para isto: introduzir outros no seu mistério eterno de amor. A filosofia se pergunta: por que existe o ser (alguma coisa) e não o nada? A resposta cristã é simples: porque Deus quis. Ele nos quis para ele. E para que fôssemos dele, entrou em diálogo conosco, revelando-nos o seu mistério. Para realizar seu plano de salvação, escolheu um povo, o povo de Israel, como destinatário de sua Palavra. Ele se manifestou nos eventos his-

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tóricos de Israel e a partir daí iniciou a revelação do seu plano salvífico. O auge desta histórica acontece em Jesus Cristo, seu Filho, que estava junto dele desde toda a eternidade e que foi enviado à humanidade a fim de conduzi-la à plena comunhão com Ele. Deus sai de si na pessoa do Filho, cuja morte e ressurreição representam o ápice da revelação. Em Jesus, Deus salva e liberta a humanidade. Chama todos a entrar em comunhão com Ele em seu Filho Jesus, que, uma vez ressuscitado, envia, de junto do Pai, o Espírito Santo, para configurar os homens e as mulheres a Ele, fazendo-os participar de sua própria filiação divina. O que Jesus é por natureza, os homens se tornam por graça: filhos de Deus, filhos no Filho, portanto irmãos uns dos outros. Assim se cumpre o Reino de Deus que Jesus anunciou como profeta. Sua mensagem é clara: nele, por sua morte e ressurreição, todos se tornaram verdadeiros irmãos e devem viver em solidariedade ilimitada e desinteressa. Depois de Jesus sabemos que o amor é a textura do real. Quando nos amamos, realizamos o que Deus é em si mesmo, segundo o que manifestou em seu Filho: amor incondicional. “Eu sou a vida”, diz Jesus. A realidade finca nele suas raízes. Amar desinteressadamente

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Deus e os irmãos resume o destino último do ser humano. Os autores bíblicos, inspirados pelo Espírito Santo, consignaram por escrito a experiência fundamental da salvação e revelação de Deus, que começa no AT e termina no NT. “Deus, que inspirou os livros de um e de outro Testamento e é seu autor, sabiamente dispôs que o Novo estivesse escondido no Velho e o Velho se tornasse claro no Novo” (DV 16). A Bíblia é inspirada, não inventada. Ela contém as etapas da história da salvação de Deus até seu cume, o mistério pascal de Cristo, com o envio do Espírito Santo. Os primeiros cristãos reconheceram nos livros sagrados o essencial de sua experiência de Deus em Cristo e os canonizaram, tornando-os a norma para a vida da Igreja e do cristão. A Igreja crê que a Bíblia transmite a verdade para nossa salvação, a Palavra que Deus nos dirigiu, instruindo-nos sobre o seu mistério e comunicando-nos a graça de poder participar dele. Neste sentido, a Bíblia não erra, mas transmite a verdade mais preciosa para o ser humano: sua vocação à comunhão com Deus em Cristo. Há vários métodos de estudo da Bíblia. Alguns privilegiam os autores sagrados e seus contextos; outros, os leitores, e há, ainda, os que se dedicam ao significado que o texto vai adquirindo ao longo da história da Igreja. Como a Bíblia nasceu dentro de uma tradição, só pode ser verdadeiramente compreendido dentro desta tradição. Seu sentido

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só emerge quando é lida “na Igreja”. Ora, se ela nasceu dentro da tradição dos primeiros seguidores de Jesus, é neste contexto que necessita ser lida e assimilada. A referência para uma leitura correta da Bíblia se encontra, portanto, no Magistério da Igreja, os bispos com o Papa, nos estudos bíblicos feitos pelos teólogos e na vida do povo que faz hoje a experiência daquela revelação fundamental de Deus em Jesus Cristo. Só sabemos que nossa vida cristã é verdadeira se estiver de acordo com o que a Bíblia afirma. Evidentemente, o que ela afirma vai sendo atualizado ao longo da história, num processo contínuo de interpretação, que leva em consideração os problemas atuais da humanidade e dialoga com as ciências modernas. A leitura orante se mostra um excelente método de leitura da Bíblia. Nele, o cristão, inspirado pelo Espírito Santo, que também inspirou a Bíblia, mesmo sem a ter estudado a fundo, pode chegar ao essencial de sua mensagem e fazer uma profunda experiência de Jesus Cristo. O Espírito conduz o orante ao mistério que está por trás das Palavras, ou seja, ao próprio mistério de Deus que se comunica em verdade em graça fazendo-nos participar de sua vida divina. Mas o orante não descarta a interpretação que a Igreja faz da Bíblia. Só na Igreja sua oração da Bíblia ganha consistência e profundidade. Pe. Paulo Sérgio Carrara, C.Ss.R. Belo Horizonte, MG

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I Congresso Social Redentorista do Brasil

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Província do Rio promove, de 14 a 18 de outubro, o I Congresso Social das Unidades Redentoristas do Brasil. O evento reunirá provinciais, vice-provinciais, religiosos gestores e trabalhadores das unidades mantidas de educação e assistência social das (Vices) Províncias de todo o país. Para o secretário de administração da Província do Rio, padre Antônio Luiz, C.Ss.R. o evento será uma oportunidade para partilhas e trocas de experiências das

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ações desenvolvidas por meio da cultura do cuidar à luz do Carisma Redentorista. “Cuidar é uma atitude de amor e interesse por outra pessoa. A capacidade de uma sociedade cuidar dos seus membros é a marca do seu desenvolvimento”, afirma. O congresso acontecerá na Casa de Retiros São José, em Belo Horizonte (MG). Luiz Henrique Freitas Juiz de Fora, MG

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Visita Canônica à Comunidade da Glória

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urante os dias 20 a 22 de agosto, aconteceu a Visita Canônica à comunidade redentorista da Glória e às Comunidades Vocacionais São Clemente e Santo Afonso, em Juiz de Fora, MG. O Provincial, Pe. Vicente, C.Ss.R e o Conselheiro, Pe. Nelson, C.Ss.R. passaram os três dias em conversas com os confrades, reuniões, celebrações eucarísticas e visitas aos departamentos, como

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a Biblioteca Redentorista e a Obra Social Pe. Niton Fagundes Hauck, iluminados pelo carisma da Congregação que é a evangelização aos mais abandonados. Num clima fraterno, aconteceram partilhas que inspiraram a caminhada redentorista tanto dos consagrados quanto dos jovens seminaristas. No final dos trabalhos, houve uma confraternização com a presença de todos. “Foi realmente um momento importante para essas comunidades que exercem uma missão tão importante para a Província. A sinceridade em reconhecer os pontos positivos e a abertura para dar novos passos foi a tônica da visita”, disse o Provincial. Luiz Henrique Freitas Juiz de Fora, MG

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No dia 25 de agosto foi realizada mais um Romaria da Liga Católica Jesus, Maria, José em Aparecida (SP). Estiveram presentes nessa experiência coletiva de fé os padres José Carlos, Vidigal e Antônio Luiz, além de centenas de liguistas de todo o Brasil. “É, de fato, uma grande manifestação de devoção popular. Gente simples buscando em Deus por Maria as graças necessárias para sua vida de fé”, declarou o Coordenador Nacional das Ligas Católicas, Pe. José Carlos. De acordo com o redentorista, o ponto forte desta romaria foi a entrega da imagem peregrina de Nossa Senhora Aparecida de uma federação para outra. “Neste momento, ocorre um clima de muitas emoções provenientes do trabalho realizado pelos liguistas em uma determinada diocese, onde são narrados os momentos fortes da presença da imagem peregrina na

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vida das pessoas”, afirmou. Após a entrega, o evento encerrou-se com a eucaristia. O padre José Carlos deixa um recado de agradecimento aos participantes: “Aqui merece um destaque aos nossos queridos liguistas do Brasil, que fazem com tanto carinho e devoção esta tão excelsa peregrinação há 42 anos com a Imagem de Nossa Senhora Aparecida. Atualmente, nossos liguistas fazem também peregrinação com o Ícone de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro em Campos dos Goitacazes (RJ). E assim, o nome da Virgem Maria vai ficando cada vez mais conhecido pelos fiéis, que tornam-se devotos da Santa Mãe de Deus”.

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Aconteceu na Província

42ª Romaria da Liga Católica JMJ em Aparecida


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