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Espiritualidade Redentorista
ESPIRITUALIDADE REDENTORISTA
Amor que se faz história...
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Pe. Maikel Pablo Dalbem, C.Ss.R.
Roma | Itália Em tempos duros como os nossos atuais, onde os discursos parecem enfatizar mais o que divide do que nos une; onde a política deixou de ser a busca do bem comum para se consolidar em diversas partes como uma forma de necropolítica em que alguns buscam o ter e o poder em prejuízo da vida, principalmente, dos mais pequenos e em situação de exclusão na sociedade; onde dar de comer a alguém virou um ato criticável; resolvi parar um instante para pensar na maneira como Deus ama...
Hesed e Rahamim:
O vocábulo hebraico “hesed”, comumente traduzido por amor, quase sempre tendo Deus como sujeito, explicita o modo do Amor divino. Na gama de sentidos que encontramos neste simples vocábulo, destacam-se também misericórdia, bondade e benevolência. Hesed, portanto, é amor que faz história, que se encarna, que se responsabiliza. É amor de escolha, gratuito. Amor onde o amante se abaixa na altura do amado. Na dinâmica bíblica, é Aliança (Is 55,3), é eterno (Is 54,8; 55,3; Jr 33,1; Mq 7,20). Deus acolhe um povo em seu amor, para que este povo seja sinal, presença sua para o mundo.
Outro vocábulo hebraico, “primo” no sentido de hesed, é rahamim, que pode muito bem ser traduzido por misericórdia, compaixão. Contudo, sua raiz evoca útero, ventre materno, entranhas. Amor materno. Na maioria das vezes, este termo aparece utilizado em situações em que a vida corre perigo.
Uma das mais belas frases bíblicas que guardo no coração está em Os 14,1: “Eu os lacei com laços de amizade, eu os amarrei com cordas de amor; fazia com eles como quem pega uma criança ao colo e a traz para junto ao rosto. Para dar-lhes de comer eu me abaixava até eles”. A imagem é linda: Deus se abaixa na direção da humanidade, como uma mãe a tomar o filho nos braços para o mais belo e sublime ato de carinho e proteção. Este abaixarse de Deus é hesed e rahamim. Tocanos com as mãos da graça. Em minha liturgia das horas, carrego um pequeno postal com a frase “Nous sommes a Dieu e à lui nous revenons” (Nós somos de Deus e a ele retornamos) ilustrado com uma singela imagem do rosto de uma criança envolvido pelas mãos maternas.
É hora de redescobrirmos o modo divino de amar... Penso que, apenas quando as máscaras caem, é que realmente aprendemos a amar e nos responsabilizar por alguém. Lembrando os de escola aristotélica, em Deus não há necessidade. Portanto, não há explicação para a criação, a salvação e a santificação que não seja a gratuidade do amor misericordioso de Deus.
O ser humano não é objeto de ninguém. É pessoa, alguém para ser amado. O salto de qualidade no amor só acontece quando, desarmando-nos, vamos nos encontrando com aquilo que realmente o outro é e, assim, o amamos, e não nos fixamos em imagens criadas por nossas fantasias e necessidades. Caem assim os mitos. Descobrimo-nos pobres com os demais. Descobrimos que não somos deuses e que não existem deuses entre nós. Descobrimos também que a pobreza e a miséria são frutos da injustiça, é um escândalo aos olhos do Criador. Somente com esta chave de leitura, ou seja, a partir do reconhecimento deste lugar comum humano, é que poderemos discernir segundo o Reino e compreender a vontade de Deus.