5 minute read
novo,
fraternas e evangelizadoras, não só a partir de nós mesmos, mas com todos aqueles que participam de nossa vida e de nossa missão para, assim, abraçar um futuro novo, fruto dos sonhos que queremos sonhar juntos”.
Segundo ele, a Palavra de Deus desta Celebração Eucarística “vem nos inspirar para este caminho”, como a Carta aos Hebreus, que fala sobre o caminho novo que foi iniciado uma vez por todas com Jesus, no sacrifício que fez de Si mesmo para destruir o pecado e salvar a humanidade, estabelecendo uma nova aliança fundada no amor. Sobre a passagem do Evangelho de Marcos, citou o trecho que fala de divisões: entre fazer o bem e fazer o mal, entre Jesus e os mestres da Lei. “Jesus mesmo nos adverte que um reino dividido contra si mesmo ou uma família dividida contra si mesma não poderão se manter e serão destruídos. Ele nos diz que a casa guardada por um homem forte não poderá ser saqueada. Ele a defenderá. Mas, um homem nunca é forte sozinho. Sua força vem da unidade. A nossa Assembleia das Conferências quer um caminho de comunhão e com a participação de todos os irmãos. Assim, a casa da nossa vida e da nossa missão será forte, será defendida das ameaças do nosso tempo”, exortou Frei César.
Advertisement
Ele ainda reforçou sua fala dizendo que Jesus nos dá o testemunho ao agir em comunhão com o Pai e o Espírito. “Assim, a nossa fé cristã não vem do individualismo, mas da comunidade divina, a Santíssima Trindade. Nossa inspiração franciscana nos ensina que o Senhor nos dá irmãos para levar adiante o ideal evangélico. Aí está a nossa força”, frisou. “Ao iniciar esta Assembleia, renovemos nossa confiança de que estamos aqui em nome deste Deus-comunidade. Peçamos a sua assistência. Que ele nos mostre o caminho a seguir, todos juntos, todos irmãos”, completou.
Já na Sala São Dâmaso, Frei Ángel Gabino, Provincial da Província de Francisco e Santiago de Jalisco, do México, pediu a inspiração do Espírito Santo para iniciar este evento. Em seguida, apresentou o Guardião do Convento, Frei Mário Luiz Tagliari, que deu as boas-vindas aos frades, falou da alegria de acolher a todos, explicou o contexto histórico desta antiga casa da Província da Imaculada Conceição e deu as informações gerais para os visitantes.
O Definidor para a América Latina, o colombiano Frei Joaquín Echeverry Hincapié, deu as boas-vindas aos frades que participam da 27ª Assembleia Geral, com o “apoio fraterno da Província da Imaculada Conceição”, e falou do objetivo maior desse encontro de assumir o Caminho Sinodal como Conferências da UCLAF para abraçar o futuro a partir da identidade franciscana hoje.
Frei José Alirio deu graças a Deus por poder realizar esta Assembleia presencial. Ele falou da evangelização nesses 55 anos da UCLAF, das respostas a serem dadas no mundo de hoje e animou seus confrades a continuarem a missão com entusiasmo e coragem: “O desafio que todos os frades têm é continuar ‘Construindo o caminho sinodal como Frades Menores neste contexto da realidade da América Latina, a partir do diálogo, da escuta, do discernimento e da tomada de decisões, como Irmãos juntos e a caminho, sem deixar desfalecer este itinerário e caminho. Por isso, pretendemos refletir e caminhar nesta Assembleia da UCLAF, com o propósito através de seu objetivo geral: renovar nossa visão e abraçar nosso futuro com esperança a partir da identidade franciscana hoje, em torno da realidade da América Latina, como comunhão e participação de todos os Irmãos neste contexto. A contribuição de cada irmão é muito importante, valiosa e relevante, por isso é fundamental: escutar, escutarmo-nos e sentirmo-nos escutados - o que implica assumir juntos, em caminho como Frades Menores: os diversos desafios, projetos a partir dos Mandatos do Capítulo Geral 2021”.
A O Evangelizadora Dos Franciscanos Na Am Rica Latina
O professor de História do Cristianismo no Instituto Teológico Franciscano, Frei Sandro Roberto da Costa, trouxe para a reflexão do dia o tema: “O processo de reflexão da
UCLAF, a partir de um olhar que considere os desafios da vida consagrada na América Latina”.
Segundo Frei Sandro, a realidade que desafia a UCLAF nas primeiras décadas do século XXI é iluminada também a partir da história. “Nesse sentido, uma síntese sobre a ação evangelizadora dos franciscanos nos permite avaliar nossa atuação hoje, nos vários países do continente onde estamos presentes”, explicou.
Ele recordou que nos primórdios das Américas, os frades estiveram diante graves questões sociais, derivadas da “conquista”, com sérias situações de injustiça, de pobreza, de desmandos políticos, de exploração. “Confrontados com estes desafios, os franciscanos não fugiram da luta”, destacou.
“A atuação (dos frades) foi também estrutural e política, denunciando os desmandos das autoridades, criando estruturas mais justas. De forma arrojada, construíram hospitais, escolas, organizaram as ‘reduções’ e fundaram as primeiras ‘vilas’ (Pueblos), onde os índios tinham seus celeiros, e se organizavam a partir de suas próprias leis. Seja na Venezuela (experiência de evangelização pacífica de Cumaná), seja no México, ou em outras regiões da América espanhola ou portuguesa, na atividade de evangelização, os franciscanos não consideravam como única tarefa a pregação a partir do templo e do púlpito, a administração dos sacramentos, a doutrinação. Muito próximos do povo simples, não ignoravam as injustiças que sofriam, e envolveram-se profundamente na busca de soluções”, explicou o frade.
“Pode-se dizer que, na evangelização da América Latina, os franciscanos não desenvolveram uma ação social propriamente dita, não criaram um programa de política ou econômica, não conceberam elaboradas escolas de pensamento, nem inventaram grandes teorias, mas buscaram dar respostas aos problemas e desafios concretos que apareciam, a partir da espiritualidade e dos princípios evangélicos e franciscanos que moldavam suas vidas”, acrescentou Frei Sandro.
Na sequência, Frei Sandro apresentou uma síntese da realidade da Ordem na América Latina, a partir das conclusões da UCLAF 2020.
Segundo ele, há, em geral, um esforço por buscar novas formas de evangelização, diferentes das tradicionais, que possam responder aos novos desafios trazidos pela realidade eclesial, social, política, econômica. “A partir da identidade do carisma, as entidades buscam ressignificar a presença franciscana. Também se empenham por fazer leituras socio-teológicas do momento e do contexto em que estamos vivendo. O empenho na busca de fidelidade criativa ao carisma não impede as entidades de reconhecer as dificuldades e desafios, derivados da situação que marca todas as instituições religiosas neste momento da história. O fenômeno da secularização, a crise existencial, a manutenção das grandes estruturas, a diminuição numérica, são apenas alguns tópicos que estão sempre presentes no horizonte de reflexão”, ressaltou.
Frei Sandro refletiu sobre as formas concretas de evangelização, a partir do carisma, destacando os seguintes temas: Inserção em meio aos pobres e marginalizados; defesa dos Direitos Humanos e da dignidade; Cuidado com a Casa Comum; e Presença franciscana na Amazônia.
Ele também mostrou alguns apontamentos a partir do contexto da pandemia de Covid-19. “A pandemia veio nos tirar da ‘zona de conforto’, uma situação perigosa para nossas vidas de irmãos menores consagrados ao serviço do Reino. A nova situação atingiu todos os aspectos da vida, e nos desafiou a mudar muitos de nossos hábitos, bem como nos obrigou a usar de criatividade para encontrar novas maneiras de estar entre as pessoas, inclusive no modo de evangelizar. Se por um lado as redes sociais se multiplicaram e espalharam mentiras e fake news, por outro a Igreja e as fraternidades souberam utilizar-se destas mesmas redes para criar novos meios de evangelização”, avaliou.
Frei Sandro apontou intuições e propostas de mudanças para o futuro, refletindo sobre os seguintes pontos: Os apelos à mudança: uma “Ordem em saída”; Nossa identidade: somos todos irmãos; e O apelo dos pobres.
Por último deixou alguns questionamentos e propostas que poderiam guiar os frades nestes tempos de tantas e rápidas transformações. “Como seguidores de Francisco de Assis, animados e iluminados pelo magistério do Papa Francisco, que nos convoca à sinodalidade, somos chamados a viver o tempo presente como uma oportunidade, como uma dádiva, como um tempo de graça (Kairós), abandonando a cultura do ego, para promover os “ecos”: ecologia, ecossistema, economia solidária, e reduzir o escândalo da indiferença e da desigualdade”, finalizou Frei Sandro.
À tarde, os participantes desta Assembleia Geral se reuniram em grupos para refletir sobre esses questionamentos e propostas, retornando ao plenário às 17h30. O dia terminou com a Oração das Vésperas às 18h30.