UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE GRADUAÇÃO
O ESPAÇO ARQUITETÔNICO COMO TRATAMENTO DO ALZHEIMER: PROPOSTA PARA UMA ILPI EM RECIFE-PE.
CAMILLA GAMA DA COSTA ALMEIDA
RECIFE, JUNHO DE 2018.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO DEPARTAMENTO DE ARQUITETURA E URBANISMO CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO TRABALHO DE GRADUAÇÃO
O ESPAÇO ARQUITETÔNICO COMO TRATAMENTO DO ALZHEIMER: PROPOSTA PARA UM ILPI, EM RECIFE-PE.
Trabalho de conclusão de curso desenvolvido pela aluna Camilla Gama da Costa Almeida sob a orientação do professor Bruno Lima como requisito para a integralização dos critérios do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Pernambuco.
RECIFE, JUNHO DE 2018. 3
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DEDICATÓRIA
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AGRADECIMENTOS
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“A função atemporal da arquitetura é criar metáforas existenciais para o corpo e para a vida que concretizem e estruturem nossa existência no mundo. A arquitetura reflete, materializa e torna eternas as ideias e imagens da vida ideal. As edificações e cidades nos permitem estruturar, entender e lembrar o fluxo amorfo da realidade e, em última análise, reconhecer e nos lembrar quem somos”. PALLASMAA, Juhani. 9
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Cérebro com e sem a doença de Alzheimer. ....................................................................... Figura 2 – Estágios da doença do Alzheimer.......................................................................................... Figura 3 – Temperaturas de cor – lâmpadas LED. ................................................................................. Figura 4 – Ventilação cruzada. ................................................................................................................... Figura 5 – Quantidade de ILPIs por região no Brasil. ............................................................................ Figura 6 – Hiléa – São Paulo. ...................................................................................................................... Figura 7 – Mapa de entorno. ....................................................................................................................... Figura 8 – Mapa de localização Centro Geriátrico Padre Venâncio. ................................................... Figura 9 – Mapa de Setorização Centro Geriátrico Padre Venâncio................................................... Figura 10 – Terraço/Jardim Central. .......................................................................................................... Figura 11 – Corredor dos dormitórios. ....................................................................................................... Figura 12 – Enfermaria. ................................................................................................................................. Figura 13 – Sala de fisioterapia. .................................................................................................................. Figura 14 – Refeitório. ................................................................................................................................... Figura 15 – Cozinha. ...................................................................................................................................... Figura 16 – Organofluxograma do Centro Geriátrico Padre Venâncio. .............................................. Figura 17 – Mapa de entorno Lar de Jesus.............................................................................................. Figura 18 – Planta baixa abrigo Lar de Jesus. ......................................................................................... Figura 19 – Batentes mal sinalizados. ....................................................................................................... Figura 20 – Barras oxidadas. ...................................................................................................................... Figura 21 – Banheiros não acessíveis. ...................................................................................................... Figura 22 – Banheiros não acessíveis. ..................................................................................................... Figura 23 – Quarto enclausurado............................................................................................................... Figura 24 – Quarto Coletivo......................................................................................................................... 11
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Figura 25 – Terraço. ...................................................................................................................................... Figura 26 – Cozinha. ..................................................................................................................................... Figura 27 – Alzheimer’s Respite Centre. .................................................................................................. Figura 28 – Planta Baixa Alzheimer’s Respite Centre............................................................................ Figura 29 – Espaço Privativo – Cores. ..................................................................................................... Figura 30 – Praça Interna, Hogeweyk Village Figura 31 - Mercado, Hogeweyk Village Figura 32 – Estilo floral da sala de estar - Hogeweyk Figura 33 – Estilo moderno - Hogeweyk Figura 34 – Massa Construída – Hogeweyk Figura 35 – Espaços Livres – Hogeweyk Figura 36 – Composição harmônica dos materiais Figura 37 – Contato com a natureza – Rede Sarah Figura 38 – Natureza, arte e novas tecnologias Figura 39 – Aspectos fundamentais de atuação no projeto Figura 40 – Mapa das zonas de interesse para escolha do terreno Figura 41 – Localização do terreno Figura 42 – Relação entre o terreno e o Jardim Secreto Figura 43 – Mapa de Uso do Solo Figura 44 – VISADA A – Muro existente Figura 45 – VISADA B – Avanço do muro Figura 46 – VISADA C – Acesso ao Rio Figura 47 – VISADA D – Jardim Secreto Figura 48 – Terreno do Jardim Secreto – entulho de lixo Figura 49 – Estudo Preliminar 01 Figura 50 – Estudo Preliminar 2 após orientação do INCITE 12
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Figura 51 – Foto aérea do Jardim Secreto Figura 52 – Trecho do Mapa de zoneamento do Recife Figura 53 – Anexo 06 – Parâmetros Urbanísticos Figura 54 – Esquema dos condicionantes legais do terreno Figura 55 – Anexo 05 – requisitos estacionamento Figura 56 – Vista aérea da área - Gabarito Figura 57 – Mapa de cheios e vazios da área Figura 58 – Mapa dos condicionantes ambientais Figura 59 – Organofluxograma Figura 60 – Zoneamento Figura 61 – Estudo 01 em perspectiva – Setores Figura 62 – Estudo 01 em planta – Rampa Figura 63 – Estudo volumétrico 01 – Fachada principal Figura 64 – Estudo 02 em perspectiva – Setores Figura 65 – Estudo 02 em planta – Rampa Figura 66 – Estudo volumétrico 02 – Bloco Saúde Figura 67 – Estudo 03 em perspectiva – Setores Figura 68 – Estudo 03 em planta – Rampa Figura 69 – Estudo volumétrico 03 – Rampa Figura 70 – Casa Alfredo P. Correia Figura 71 – Esboço desenvolvido a partir da casa Alfredo P. Correia Figura 72 – Sinapses Espaciais. Figura 73 – ..................................................................................................................................................... Figura 74 – Figura 75 – Figura 76 – 13
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Figura 77 – Figura 78 – Figura 79 – Figura 80 -
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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS ABRAZ – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ALZHEIMER AMAPP – ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES E AMIGOS DO POÇO DA PANELA ARU – ÁREA DE REESTRUTURAÇÃO URBANA D.A – DOENÇA DO ALZHEIMER IBGE - INSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA ILPI - INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS IPEA – INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA IRC – ÍNDICE DE REPRODUÇÃO DE COR LUOS – LEI DE USO DOS SOLOS NBR - NORMA BRASILEIRA PCDT – PROTOCOLO CLÍNICO DE DIRETRIZES TERAPÊUTICAS PQILPIS – PROTOCOLO DE QUALIDADE DAS INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS RDC – RESOLUÇÃO DE DIRETORIA COLEGIADA SDSMA – SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL E MEIO AMBIENTE
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RESUMO
O contexto atual de aumento da longevidade demanda maiores cuidados a respeito das demências, que são exemplos de doenças cujo principal fator de risco é a idade, sendo o Alzheimer o que mais atinge a população idosa reduzindo sua independência e autonomia. Sob esta realidade, o seguinte trabalho se fundamentou em investigar as contribuições que o espaço arquitetônico pode ter no tratamento desta doença, promovendo uma melhor qualidade de vida com o Alzheimer e sendo um agente estimulador cognitivo diário que contribuísse no retardo da mesma. Com esta finalidade, foram feitas pesquisas teóricas sobre o tema, visitas de campo em Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e entrevistas com profissionais da área com atuação direta com o Alzheimer. Com base nestes estudos, percebeu-se que em Recife há uma carência de instituições de apoio voltadas para determinado fim e que a grande maioria das ILPIs existentes são espaços adaptados e despreparados para abrigar pacientes com esse quadro demencial. Por este motivo, foi proposta uma Instituição de Longa Permanência para Idosos com Alzheimer a fim de promover espaços intuitivos, funcionalmente simples, visualmente harmônicos e com caráter familiar que promova a sociabilização e atividades de saúde e lazer. Com isso, estes espaços funcionariam como as sinapses nervosas, reestabelecendo trocas de informações cognitivas de forma sensitiva e natural. Em suma, o resultado foi bastante satisfatório, sobretudo pelo debate proporcionado a respeito do papel social do arquiteto e o impacto que a Arquitetura pode ter no bem estar das pessoas e também do espaço urbano. Palavras chaves: Alzheimer; Arquitetura; Bem estar; Cognitivo; Espaços; Idosos; ILPI; Sinapses;
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ABSTRACT The current context of increasing longevity demands greater care regarding dementias, which are examples of diseases whose main risk factor is age, with Alzheimer's being the most affected by the elderly population, reducing their independence and autonomy. Under this reality, this course conclusion paper was based on investigating the contributions that the architectural space can have in the treatment of this disease, promoting a better quality of life with Alzheimer's and being a daily cognitive stimulating agent that contributed to the delay of the same. To this end, theoretical researches on the subject were carried out, field visits in Longterm Institutions for the Elderly (ILPI) and interviews with professionals of the area with direct action with Alzheimer's. Based on these studies, it was noticed that in Recife there is a lack of support institutions aimed at a certain purpose and that the great majority of the existing ILPIs are adapted spaces and unprepared to shelter patients with this demential picture. For this reason, a Long Stay Institution for the Elderly with Alzheimer's was proposed in order to promote intuitive, functionally simple, visually harmonic and family-friendly spaces that promote socialization and health and leisure activities. Therefore, these spaces would function as the nerve synapses, re-establishing cognitive exchanges of information sensitively and naturally. In short, the result was quite satisfactory,(especially) due to the debate about the social role of the architect and the impact that Architecture can have on the well being of people and also the urban space. Keywords: Alzheimer; Architecture; Welfare; Cognitive; Spaces; (elderly people); ILPI; Synapses;
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SUMÁRIO INTRODUÇÃO I
A DOENÇA DE ALZHEIMER (d.a) ETIOLOGIA DO MAL DE ALZHEIMER CARACTERIZAÇÃO E DIAGNÓSTICO TRATAMENTOS FARMACOLÓGICOS E NÃO-FARMACOLÓGICOS
II
A ARQUITETURA COMO ESPAÇO TERAPÊUTICO FATORES FÍSICOS E AMBIENTAIS MEMÓRIA SENSITIVA IDENTIFICAÇÃO COM O LUGAR
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INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS (ILPI) BREVE HISTÓRICO DIREITO DO IDOSO - LEGISLAÇÃO ALZHEIMER X INSTITUIÇÕES
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ESTUDOS DE CASO CENTRO GERIÁTRICO PADRE VENÂNCIO ABRIGO ESPÍRITA LAR DE JESUS
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ESTUDOS REFERENCIAIS ALZHEIMER’S RESPITE CENTRE - DUBLIN HOGEWEYCK – HOLANDA
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DIRETRIZES PROJETUAIS ACESSIBILIDADE E DESENHO UNIVERSAL HUMANIZAÇÃO DA ARQUITETURA HOSPITALAR - LELÉ O RESGATE DE UMA ÉPOCA 19
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PARTIDO ARQUITETÔNICO VII
O TERRENO ESCOLHA DO TERRENO JARDIM SECRETO CONDICIONANTES LEGAIS CONDICIONANTES FÍSICO-AMBIENTAIS
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ETAPAS PRÉ-PROJETUAIS PROGRAMA DE NECESSIDADES E DIMENSIONAMENTO ZONEAMENTO ESTUDOS VOLUMÉTRICOS
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PROPOSTA MEMORIAL DESCRITIVO
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS APÊNDICES
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INTRODUÇÃO
O contexto atual de aumento da expectativa de vida da população, de fato, é uma conquista da humanidade. No entanto, esta realidade acarreta novos desafios na mesma proporção, visto que, com o aumento da longevidade mais pessoas são acometidas por doenças diretamente relacionadas à idade, doenças estas que estão se tornando um problema mundial que requer atenção pública, como é o caso das chamadas demências. As demências são doenças crônicas e incapacitantes de caráter progressivo que não possuem cura e que têm como principal característica atuar nas funções cognitivas do cérebro comprometendo a memória, o comportamento, habilidade motora e a orientação espacial de seus pacientes. Dentre as demências diagnosticadas, consta-se que “54% dos idosos com demências têm Alzheimer, 9% possuem demências vasculares e 14% demências mistas, segundo a demógrafa Ana Amélia Camarano, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA)” (ABRAZ, 2017). No Brasil, segundo a Innovare (2016), há cerca de 1,2 milhão de pessoas com Alzheimer e, a cada ano, surgem 100 mil novos casos. O mais preocupante é que, “a partir dos 65 anos a probabilidade de desenvolvimento da doença duplica a cada cinco anos” e, devido a fatores como a falta de informação e falta de assistência pública de saúde, “a cada duas pessoas com Alzheimer, apenas uma sabe que tem.” (INNOVARE, 2016). Por esta razão, o conhecimento a respeito da doença de Alzheimer (D.A) se revela cada vez mais crucial tanto para permitir uma maior facilidade de diagnósticos, quanto para melhorar a qualidade de vida dos que a possuem. Entre os tratamentos não-farmacológicos utilizados para retardar o avanço da doença, a ABRAZ (2017) destaca também a atuação fundamental do espaço arquitetônico. A importância deste, contudo, não se restringe apenas a questões técnicas, mas sim como uma alternativa diária de estímulos cognitivos, tomando como base a memória sensitiva do 25
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usuário. Portanto, o espaço arquitetônico pode ser uma alternativa terapêutica desta doença, estabilizando as mudanças comportamentais, sendo um orientador espaço-temporal e promovendo interações sociais. Desta forma, o espaço diário do paciente com Alzheimer requer um planejamento especial. A identificação e sentimento de pertencimento para/com o espaço é fundamental para o equilíbrio emocional. Por esta razão, recomenda-se que os idosos com D.A permaneçam ao máximo em seu lar. Muitas famílias, entretanto, não conseguem abrigá-los, seja por falta de tempo, de dinheiro e até mesmo problemas familiares, dessa forma, estes idosos são colocados em instituições de longa permanência. Por conseguinte, a maioria destas instituições estão despreparadas espacialmente para abrigar determinados usuários que requerem um cuidado ainda mais especializado. Segundo Andrea Navarro em entrevista, em Recife existem inúmeras instituições de Longa permanência e destas, apenas 3 foram desenvolvidas para determinada tipologia, as demais estão constituídas em espaços adaptados, não havendo nenhuma específica para o tratamento do Alzheimer. Segundo o IBGE (2010), Recife possui cerca de 125,153 mil idosos residentes, contudo, de acordo com a geriatra Dra. Carla Núbia em entrevista, há apenas cerca de 900 idosos registrados com Alzheimer na cidade. Este fato não significa um quantitativo baixo desta doença, mas sim representa a falta de conhecimento da população sobre o Alzheimer e a carência do serviço público de saúde, não havendo diagnóstico na maioria dos casos. Portanto, diante do contexto atual previamente apresentado, se faz necessário uma instituição especializada e projetada para determinado fim. Este trabalho se fundamentou nesta problemática contemporânea, desenvolvendo uma proposta de uma Instituição de Longa permanência para idosos com Alzheimer e centro dia, cujo espaço arquitetônico fosse pensado de forma terapêutica, a fim de melhorar a qualidade de vida destes idosos, ajudar no possível retardo da doença e ser um difusor de 26
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conhecimentos sobre o papel da arquitetura no tratamento do Alzheimer. Diante disto, a relevância desta pesquisa contribui diretamente para incentivar a população e profissionais da área a estabelecer estímulos sensoriais de forma equilibrada e condizente às necessidades de determinado grupo de usuários. Visto que, o objetivo projetual é promover aos idosos com Alzheimer uma identificação com o espaço, maximizar o senso de direção e de percepção através da memória sensitiva, possibilitar uma certa independência, garantir a interação social interna e com o contexto urbano, assegurar níveis de privacidade e proporcionar um ambiente seguro a partir conceito de desenho universal. Para isto, a metodologia aplicada consistiu nas seguintes etapas: Inicialmente, foi feita uma pesquisa bibliográfica para um melhor entendimento sobre o que é a doença de Alzheimer e quais são as suas particularidades. Posteriormente, estes estudos tiveram um enfoque maior nos idosos e nas instituições de longa permanência para idosos (ILPI). Além disso, foi feito um estudo mais aprofundado a respeito do papel da arquitetura e do design na doença do Alzheimer e quais suas relações cognitivas. Em seguida, fez-se necessária a participação em palestras sobre o Alzheimer promovidas pela ABRAZ-PE e entrevistas com responsáveis pela associação e geriatras especializados na doença. Nesta etapa, foram feitas visitas a duas ILPIs localizadas na cidade do Recife visando um maior entendimento do espaço propriamente dito, de suas necessidades, dificuldades e relações pessoais entre os idosos. Após esse embasamento teórico e estudos referenciais, foi possível entender qual a demanda desta instituição e, sobretudo, do usuário deste espaço. Consequentemente, foi possível selecionar um terreno que atendesse ao programa de necessidades, que estivesse inserido no contexto urbano, garantisse um acesso e saída fácil e tivesse relação com a natureza. Por fim, foram feitas visitas à área de intervenção e respectivas pesquisas legais, ambientais e urbanísticas para que fossem realizadas as etapas projetuais propriamente ditas. 27
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I
A DOENÇA DE ALZHEIMER (D.A)
ETIOLOGIA DO MAL DE ALZHEIMER Ao longo da história existiram vários registros de doenças cujas características descritas se assemelhavam com o que hoje conhecemos como Alzheimer. Segundo ALBUQUERQUE (IPCS, 2013), até o final do século XIX, “a palavra demência significava qualquer aberração psicológica, associada com doença cerebral de longa duração”. Estas definições, contudo, atingiram um nível maior de complexidade quando o Dr. Alois Alzheimer constatou, através de uma autópsia, a ocorrência de uma degeneração neurofibrilar1 e a presença de placas senis2 no tecido cerebral de pacientes com sintomas característicos (Figura 01). Após esta descoberta, a partir de julho de 1910, esta doença adquiriu a nomenclatura atual alcançando, cada vez mais, um avanço consequente dos estudos e pesquisas sobre o tema.
Figura 01: Cérebro com e sem a doença de Alzheimer. Fonte: RIGO, 2013. 1
Degeneração das fibras neurais; Placas senis ou amiloides são depósitos insolúveis da proteína aparentemente tóxica chamada beta-amiloide; (BIOBIOALZHEIMER,2010) 2
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Ainda não foi possível, no entanto, descobrir causas específicas ou marcadores biológicos3 que resultassem no acometimento desta doença (CANINEU, Paulo. Cap. 3, p.36). O que se sabe é que, de maneira geral, ocorre uma morte de neurônios (neurogênese) e uma diminuição de substâncias químicas, como a acetilcolina, responsável pelo controle da memória. Segundo palestras no Simpósio do Alzheimer que acorreu em 2017 promovido pela ABRAZ-PE, esta perda neural atinge principalmente as regiões do lobo temporal4 e do lobo parietal5 que são cruciais, sobretudo, para a memória, para a capacidade de reconhecimento, de planejamentos básicos diários e de julgamento do que é certo ou errado. Em suma, com a doença do Alzheimer ocorre um comprometimento cognitivo. A cognição é: “a inteligência humana; a capacidade de aquisição de conhecimentos, envolve todo o funcionamento mental como a atenção, a percepção, a memória, o raciocínio, a capacidade de resolver problemas e tomar decisões, a flexibilidade de pensamento, o julgamento, a imaginação, a linguagem e as habilidades motoras.” SOUZA, Fabiana (cap. 5, pág. 51)
Por mais que não haja uma causa específica, existem estudos que indicam condicionantes estatísticos para o surgimento da D.A., podendo-se dizer que o Alzheimer é uma doença multifatorial cujos fatores de risco podem ser divididos em modificáveis e não modificáveis. Os fatores não modificáveis são aqueles que independem da reserva cognitiva6 acumulada ao longo da vida, são eles: a idade, o gênero feminino e a pré-disposição genética. “No Brasil, o conhecido Estudo de Catanduva demonstrou que a mulher (59%) desenvolve mais demência do que o homem (41%). Ninguém sabe ao certo a razão, mas uma forte possibilidade é o fato de que a mulher vive mais que o homem, São componentes celulares, estruturais e bioquímicos que podem definir alterações celulares e moleculares; (CAPELOZZI, 2001) 4 Região cerebral localizada acima das orelhas responsável por processar estímulos auditivos e pela memória emocional e memória recente; (CEANNE, revista 638) 5 Localizada na parte superior do cérebro e responsável pelas percepções sensoriais, estímulos externos e pela análise, interpretação e integração das informações recebidas; (CEANNE, revista 638) 6 Representa a resistência da mente às lesões cerebrais a partir de estímulos cognitivos; 3
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em média 7 anos e a idade é o principal fator de risco para o desenvolvimento de DA.” (INSTITUTOALZHEIMERBRASIL, 2017)
Os chamados fatores de risco modificáveis são aqueles que são possíveis de serem precavidos a partir de cuidados com a saúde e mudanças de hábitos, como é o caso do ambiente diário, do sedentarismo, do tabagismo, de doenças cardiovasculares e psicológicas como a depressão. O exercício mental com estímulos das diversas áreas cerebrais e uma vida social ativa também podem proteger o cérebro contra o desenvolvimento do Alzheimer. Isto explica o resultado da pesquisa de Herrera (2002) e seus colaboradores que encontraram a prevalência da doença de Alzheimer mais entre pessoas analfabetas (12,1%) do que em indivíduos com escolaridade de 8 anos ou mais (2%). De acordo com Barnes & Yaffe apud INSTITUTO ALZHEIMER BRASIL (2017), o risco de desenvolvimento do mal de Alzheimer é menor “para quem tem ensino superior, exerceu uma profissão estimulante ao longo da vida, tem QI (quociente de inteligência) mais elevado, quem tem como hábito de vida realizar atividades físicas e de lazer que sejam desafiadoras, encontrando uma redução de 10% de prevalência para a DA.”. O que nos leva a concluir que, se fossem retirados os fatores metabólicos e de hábitos, alguns casos poderiam ser evitados. Pode-se dizer, no entanto, que estes são cuidados paliativos que todos devem ter, porém, não são determinantes para “se imunizar” contra esta doença, visto que existem os fatores não modificáveis que podem ser determinantes. De qualquer forma, estes fatores modificáveis supracitados são indicados como tratamento não-farmacológico da doença com a possibilidade de retardo da mesma. Portanto, vale ressaltar a importância do devido acompanhamento médico a fim de obter um diagnóstico precoce e ter maior a eficácia e melhor qualidade de vida com a demência.
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CARACTERÍSTICAS E DIAGNÓSTICO O mal de Alzheimer pode ser considerado uma “doença do envelhecimento” por ser mais comum em pessoas acima de 65 anos. Isto se deve ao fato de que, com o avanço da idade ocorre uma perda natural de massa cerebral que resulta em breves esquecimentos e confusões mentais. Por esta razão, a doença de Alzheimer (D.A.) é comumente confundida com o envelhecimento natural devido ao fato de a perda da memória ser seu principal sintoma. No entanto, com o Alzheimer, a morte neuronal ocorre de maneira mais agressiva, progressiva e comprometedora da autonomia e independência do idoso. “A perda de memória encontrada em indivíduos com demência significa perdas irreversíveis. No esquecimento, que pode acontecer com qualquer um, a ideia que se perdeu pode ser recuperada.” (PASCALE, 2002. p.24)
Ao contrário do que muitos pensam, o mal de Alzheimer não atinge apenas a população idosa mas também há ocorrências após os 40 anos de idade, conhecidos como casos présenil. Estes são menos frequentes porém mais agressivos, visto que o curso da doença avança de forma mais rápida e intensa. Segundo CANINEU (Cap. 3, p. 34), a forma pré-senil do Alzheimer é decorrente principalmente de causas hereditárias, representando menos de 5% dos casos. De uma forma geral, o Alzheimer compromete aos poucos a independência e autonomia do portador. Por ser uma doença degenerativa que atinge partes principais do processamento cerebral, o paciente vai retomando aos poucos ao estágio mais instintivo da consciência humana. As características sintomáticas do mal de Alzheimer são variáveis por paciente visto que ela acentua a personalidade de cada um. Contudo, é possível estabelecer sintomas mais constantes e assim classificar a doença em 3 estágios: Leve, moderado e avançado, conforme pode ser explicitado na Figura 02.
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Figura 02: Estágios da doença do Alzheimer. Fonte: VIEIRA FILHO (2014)
A fase leve da doença é a fase inicial, onde começam a aparecer os primeiros sintomas. Nesta fase, o paciente começa a ter “lapsos de memória” devido a perda da memória recente provocando confusões mentais, dificuldade de realizar tarefas diárias como cozinhar, dirigir e ir ao banco, por exemplo. Ocorrem alterações repentinas de humor, comportamentais, de personalidade e dificuldade de encontrar as palavras certas. Já na fase moderada, a memória está cada vez mais comprometida atingindo não só a memória recente, mas também algumas memórias mais antigas. Nesta etapa o paciente começa a ter sintomas de Afasia, que é a dificuldade em se comunicar adequadamente (RIGO,
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2013), de Agnosia, que é o não reconhecimento de si mesmo, de pessoas da família e de objetos pessoais (RIGO, 2013), de Apraxia, que é a dificuldade motora básica como andar e segurar algum objeto por exemplo, e ocorre uma desorientação espacial dentro de sua própria casa (RIGO, 2013). Com o agravamento dos demais sintomas, chega-se à fase grave, que pode demorar em média de um a três anos no estágio terminal (PASCALE. 2002, p. 30). Dessa forma o paciente torna-se completamente dependente, perdendo capacidades motoras, físicas e psicológicas atingindo um estágio de acamamento, de atrofia nos membros, dificuldade de deglutição e etc. Com o aparecimento ou suspeita inicial destes sintomas, é crucial a procura de algum especialista, seja ele geriatra ou neurologista, visto que “quanto mais cedo o doente procurar um médico, melhor o prognóstico do tratamento” (FERREIRA, Rita. 2016, p. 47). Segundo SAYEG (2017), não é possível, contudo, conseguir um diagnóstico definitivo da doença do Alzheimer, sobretudo nos estágios iniciais, visto que este só é possível após a morte do paciente. No entanto, são estabelecidos alguns critérios de análise, os quais garantem 90% de certeza, que são mediantes análises clínicas de inclusão e exclusão (SAYEG, 2017). Baseando-se em critérios internacionais estabelecido por um grupo de pesquisadores em 2011, o Ministério da Saúde elaborou um Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) a serem utilizados pelas secretarias municipais e estaduais a fim de facilitar este diagnóstico. Sendo divididos em 3 níveis: D.A possível, D.A provável e D.A definitivo (após a morte). Os quais são analisados de acordo com os sintomas característicos da D.A e seu grau de intensidade e com exames complementares para exclusão de outras doenças possíveis. “O indivíduo, para receber o diagnóstico de demência, deve apresentar alteração (prejuízo) em pelo menos duas funções cognitivas (memória, cálculo e raciocínio lógico, linguagem, planejamento, julgamento, habilidade visual-espacial e alteração de personalidade), que sejam graves o suficiente para alterar suas
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atividades da vida diária. A demência é diagnosticada quando existem sintomas cognitivos, neuropsiquiátricos e comportamentais. Esses prejuízos não surgem de repente e vão piorando com o tempo.” (INSTITUTOALZHEIMERBRASIL, 2017)
Portanto, é necessário ressaltar que “a identificação de fatores de risco e da doença em seu estágio inicial e o encaminhamento ágil e adequado para o atendimento especializado dão à Atenção Básica um caráter essencial para um melhor resultado terapêutico e prognóstico dos casos” (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2017).
TRATAMENTOS FARMACOLÓGICOS E NÃO-FARMACOLÓGICOS Apesar de o Alzheimer ser uma doença incurável existem tratamentos que retardam seu progresso. Como supracitado, quando diagnosticada em suas fases iniciais estes tratamentos alcançam maior eficácia além de que, em alguns pacientes é possível haver uma estabilização da doença por alguns anos. Existem duas formas de tratamento para o Alzheimer: os farmacológicos que dependem de medicamentos e os não-farmacológicos que são realizados, sobretudo, através de estímulos cognitivos. A Rivastigmina, Galantamina e Donepezil são as drogas disponibilizadas pelo SUS para o tratamento de D.A, no entanto vale constar a importância do tratamento em conjunto com estímulos cognitivos não farmacológicos, sendo estes, comumente utilizados de forma isolada quando atingem graus elevados de eficácia (ABRAZ, 2017). O declínio cognitivo correspondente “pode diminuir a autoestima e levar ao isolamento social” (SOUZA, Fabiana. Cap.5, p.51.) sobretudo no Alzheimer Senil, visto que este normalmente ocorre de forma mais lenta. Como a perda gradual da memória é o sintoma principal do Alzheimer e desencadeante de outros distúrbios mentais, é necessário estimulála cognitivamente a fim de preservar as memórias mais antigas e otimizar funções ainda preservadas em determinada fase.
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Segundo a ABRAZ, para o tratamento não farmacológico, os pontos principais de atuação consistem em: estímulos cognitivos, estímulos sociais, físicos, organizacional do ambiente físico e tratamentos específicos. “Estimulação cognitiva consiste em atividades ou programas de intervenção que visam a potencializar as habilidades cognitivas mediante a estimulação sistemática e continuada em situações práticas que requerem o uso de pensamento, raciocínio lógico, atenção, memória, linguagem e planejamento” (ABRAZ,2017)
A cognição deve ser estimulada constantemente em todas as outras formas de tratamento não farmacológico, visto que é a partir destes “exercícios cerebrais” que é possível retomar outras habilidades. No caso dos estímulos sociais, é possível reaver a capacidade comunicativa, de convivência e de afeto com outras pessoas. Neste caso, a presença da família é fundamental para a efetivação desta incitação. Alguns estudos destacam os estímulos físicos como pontos determinantes tanto na prevenção como fator de risco, quanto no seu tratamento. O fato é que, segundo COELHO et al (2009), atividades físicas estão ligadas diretamente ao hipocampo -área cerebral localizada no lobo temporal que é responsável pela memória- sendo, portanto, indicados aos idosos, fisioterapias e outros exercícios físicos leves com a finalidade de melhorar a coordenação, flexibilidade e equilíbrio. Segundo a ABRAZ (2017), eles têm o poder de retardo do declínio funcional de atividades diárias. Por fim, e determinante para o estudo em questão, está a questão da organização do espaço físico. O ambiente é um grande facilitador tanto de estímulos positivos quanto estímulos negativos. Além de questões físicas e normativas quanto ao nível de segurança de cada cômodo da “casa”, deve-se destacar a influência psíquica que este possui para com o portador de Alzheimer. Ele pode ser responsável por mudanças de humor, por sentimentos de ansiedade e agitação, de alucinação e outros tipos de conflitos mentais quando não forem
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pensados de forma adequada. “Um ambiente adequado e seguro poderá evitar acidentes que comprometam a condição física do indivíduo acometido de DA, como também conflitos de Ordem psíquica que podem advir de ambientes agitados e confusos.” (PASCALE, 2002. p.44)
Por este motivo, deve haver um controle máximo em termos quantitativos e qualitativos destes estímulos. Todas as ações devem ser avaliadas e monitoradas para cada paciente, visto que cada um poderá ter uma resposta diferente em cada situação. O foco principal destes tratamentos deve ser o bem-estar e o bom convívio com a doença, aumentando a autoestima dos pacientes e otimizando algumas habilidades.
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II
A ARQUITETURA COMO ESPAÇO TERAPÊUTICO
Com a perda progressiva das funções cognitivas, as pessoas com demência de Alzheimer ficam mais sensíveis a estímulos internos e externos, sobretudo proveniente do ambiente diário. Este pode ser um forte componente para atribuições benéficas de tratamento da doença, mas também pode trazer prejuízos quando não for bem planejado. Segundo Sousa e Maia (2014, p.195), existem sintomas comportamentais secundários na D.A que comprometem o bem-estar dos pacientes e dos cuidadores, como a apatia, a ansiedade, irritabilidade, depressão e alucinações. Estas características comportamentais podem estar diretamente associadas a fatores físicos e ambientais contidos no espaço. Conforme Brawley (1997) apud SOUSA E MAIA (2014. p.196), “um planejamento cuidadoso pode facilitar o funcionamento mental, minimizar episódios de confusão e permitir que o indivíduo tenha maior independência para realizar atividades”. Dessa forma, o ambiente deve prever dificuldades motoras, visuais e de discernimento de seus usuários. Analisando com maior precisão a forma Senil7 da doença do Alzheimer, visto que este é o foco do trabalho em questão, consta observar que o próprio “processo normal de envelhecimento produz perdas sensoriais, prejuízo da coordenação motora do reflexos rápidos e diminuição dos níveis de energia, as quais irão comprometer a habilidade do idoso para interagir com o meio ambiente” (PASCALE. 2002, p. 22). Estes fatores associados com a demência produzem graus de sensibilidade muito maiores e por isso devem ser estudados com cautela a fim de que estes espaços promovam, ao contrário, sentimentos de tranquilidade, acolhimento e uma maior autonomia.
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Referente aos idosos.
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Fatores físicos e ambientais Segundo PASCALE (2002. p. 6), os principais fatores físicos e ambientais que interferem diretamente nesta relação espaço versus usuário são a iluminação, a temperatura, os ruídos, o uso de cores e o layout interno. Com o uso equilibrado destes fatores é possível não só evitar essas reações maléficas para a saúde mental do idoso com D.A mas, principalmente, fazer com que este espaço se torne uma alternativa terapêutica para a doença de Alzheimer, estimulando cognitivamente, controlando as emoções e promovendo interações. •
ILUMINAÇÃO
De acordo com Serrano (1993) apud PASCALE (2002. P.69), “uma iluminação excessiva ou insuficiente pode causar distúrbios digestivos e neuro-visuais, tremor nas pálpebras e sonolência, o que torna o ambiente desagradável para o ser humano.” A iluminação é um dos fatores essenciais na concepção dos espaços e tem um papel fundamental visto que o sentido da visão é um importante estimulador cognitivo. Com o avanço da idade há uma perda inerente da acuidade visual causando uma maior sensibilidade reflexiva e promovendo uma visão mais turva. Por isso, um sistema de iluminação bem projetado deve, de acordo com PASCALE (2002. p. 70), “incorporar o máximo possível de luz natural, balanceada com a luz artificial”. Este “balanço” entre luz natural e artificial deve ser controlado a fim de evitar a chamada síndrome do pôr do sol que “acontece em cerca de 20% das pessoas que possuem algum tipo de demência” segundo o Azheimer360 (2016). Esta síndrome se dá com a mudança entre a claridade diurna e escurecimento noturno em que o idoso, por não possuir a habilidade de orientação espaço-temporal, pode sofrer estresse e confusões mentais. Desta forma, deve haver uma atenção especial nestes horários visando atenuar este contraste luminoso. Sousa e Maia (2014. p.198) elucidam que: “(...)a iluminação desigual dificulta a orientação do indivíduo no ambiente e
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pode produzir sombras, criando falsas ilusões de profundidade. Outras medidas a serem tomadas são utilizar cortinas nas janelas para filtrar a luz quando necessário, dar preferência a lâmpadas foscas, posicionar os pontos de iluminação fora da linha de visão dos usuários e evitar superfícies brilhosas, como pisos polidos, pois a redução do reflexo minimiza as possibilidades de quedas e maximiza a atenção no foco.”
Com isso, é necessário que haja um índice luminoso uniforme em todos os ambientes, visto que, o idoso com Alzheimer não consegue absorver de imediato diferentes estímulos. De acordo com Pascale (2002, p. 74) “as variações da luz fluorescente refletem de forma mais real as cores das pessoas e dos objetos. Além disso, são as mais parecidas com a luz natural, entre as disponíveis no comércio, contribuindo para reduzir a fadiga dos olhos”. Contudo, atualmente existem várias opções de luz LED que proporcionam maior economia e durabilidade. Segundo o INSTITUTO NEWTON C. BRAGA (2018), as lâmpadas LED não possuem um espectro de emissão contínuo como as luzes naturais e outras artificiais afetando a forma como o olho humano percebe as cores. No entanto, de acordo com a Eccel-LEDtek (2018), existe hoje no mercado opções de lâmpada LED branco natural e branco “luz do dia” que já possuem um índice de reprodução de cor (IRC) mais próximas da luz natural (IRC > 85), equiparando-se com as lâmpadas fluorescentes. É por esta razão que deve-se ter bastante cuidado na escolha do tipo de lâmpada pois apenas a quantidade de lux não determina a escolha ideal, como pode ser observado da figura 03.
Figura 03: Temperaturas de cor - Lâmpadas LED. Fonte: Manual Luminotécnico Prático OSRAM apud Eccel-LEDtek (2018).
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Vale ressaltar também que, de acordo com PASCALE (2002, p.72), o uso de mais luzes indiretas atreladas a acessórios decorativos, tornam o ambiente menos estressante, mais seguro, mais caseiro e familiar. •
TEMPERATURA
A temperatura pode provocar diferentes sensações em cada pessoa a partir de seus hábitos, massa corpórea, idade e estado de saúde em geral. Por este motivo, o espaço arquitetônico deve valorizar ao máximo a ventilação natural cruzada (FIGURA 04) tirando partido de elementos construtivos que auxiliem essa circulação, como brises, venezianas e COBOGÓ. No entanto, para controlar variações abruptas de temperatura, pode-se recorrer ao uso de outras alternativas de refrigeração que garantam um nível térmico agradável para a maioria. Estes equipamentos, no entanto, exigem devida manutenção e devem ser utilizados com cautela, visto que os idosos são mais suscetíveis a desenvolver doenças respiratórias.
Figura 04: Ventilação Cruzada. Fonte: ARCHDAILY (2018).
•
RUÍDO
De acordo com QUEVEDO (2002) apud Sousa e Maia (2014, p. 203), os “dados da OMS (2005) estimam que mais de 50% das pessoas de 65 anos ou mais, em todo o mundo, apresentam algum grau de perda de audição. Dificuldades auditivas podem afetar o equilíbrio, induzir a sentimentos de confusão e também aumentar o risco de quedas”.
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Entende-se o ruído como conjunto de sons propagados em excesso e que causam consequências para o paciente com Mal de Alzheimer. Isto se deve ao fato de que, “os indivíduos acometidos de DA são incapazes de fazer a identificação do barulho e de reagir de forma adequada.” (PASCALE. 2002, p.75). Dessa maneira é necessário controlar os ruídos externos utilizando materiais que absorvam o som e evitem a reverberação, como é o caso de forros acústicos, cortinas de tecido pesado e pisos acústicos quando necessários. •
CORES
O uso das cores pode proporcionar um importante papel lúdico e de estímulo da cognição visto que, segundo os diversos estudos a respeito da psicologia das cores, as diferentes tonalidades podem chamar a atenção de forma variável. Dessa forma, as cores podem possuir um papel não só decorativo, mas também direcional, estimulante, tranquilizador e afetivo. Quando utilizadas de forma equilibrada propõe condições harmônicas para com o ambiente além de estabelecer uma relação espacial com o usuário. Segundo estudos, com a redução da acuidade visual devido o avanço da idade, algumas cores passam a ser imperceptíveis pelos idosos. Sabe-se que os tons frios representam uma maior calmaria espacial, no entanto, tonalidades variantes do azul claro e do roxo podem ser confundidos com o cinza, cor esta que se assemelha com sentimento de tristeza, solidão e etc. Dessa forma, “as cores quentes são estimulantes e produzem as sensações de calor, proximidade, opacidade, secura e densidade. Em contraste, as cores frias parecem nos transmitir as sensações de frias, leves, distantes, transparentes, úmidas, aéreas e calmantes.” (FREITAS, Ana K. 2007. p.04). “Cooper (1993), ao estudar a visão das cores em indivíduos idosos, confirmou a hipótese da perda de habilidade em distinguir cores, e também um considerável decréscimo na capacidade de perceber as cores frias, em especial após os sessenta anos de idade. Contudo, a capacidade de perceber o vermelho e o brilho de qualquer cor persiste por anos.” (PASCALE. 2002, p.90)
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De uma maneira geral, seguindo princípios elencados por SOUSA E MAIA (2014, p.200201) através das cores é possível explorar os contrastes com a superfície mais próximas. Estes contrastes terão o poder de enfatizar determinado local chamando a atenção do idoso ou, em uma atitude inversa, é possível camuflar espaços de acessos restritos a fim de evitar a aproximação deles. “(...)E ainda, conforme Calkins (1988), considerando que muitos irão, eventualmente, perder a capacidade de reconhecer as cores, é de se sugerir que as cores sejam utilizadas em conjunto com outras formas de sinalização e orientação no ambiente físico.” (PASCALE. 2002, p.92)
•
LAYOUT INTERNO
O planejamento interno de ambientes para pessoas com Alzheimer deve ter tratamentos especiais não apenas relacionados às disposições do mobiliário, mas também à quantidade, à forma e ao tipo de superfície material destes. As particularidades interpretativas que uma pessoa com Alzheimer pode ter induz a redução do uso de materiais reflexivos, como espelhos, vidros, além de superfícies polidas que, com o contato com a luz, emitem brilho. Como explica PASCALE (2002, p.73): “A redução de reflexo contribui para um maior conforto, minimiza as possibilidades de quedas e maximiza a atenção no foco. O reflexo visual produz implicações no comportamento, tais como agitação, confusão e agressividade. Na idade avançada, a sensibilidade visual para reflexos é um dos problemas, pois limita a mobilidade e a ação. O brilho refletido ou as luzes excessivamente brilhantes ou de baixa intensidade, podem ocasionar dores de cabeça e um nível mais baixo na capacidade de realizar tarefas.”
Segundo Sousa e Maia (2014. p.201), os ambientes devem possuir apenas a quantidade necessária de móveis, sendo estes sem superfícies pontudas e organizado de forma que permita uma circulação fácil e intuitiva. De acordo com normas de acessibilidade
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e desenho universal, estes devem possuir dimensões adequadas para os idosos facilitando sua utilização e permitindo maior conforto e segurança. Sob a mesma perspectiva, recomenda-se a não utilização de tapetes e outras superfícies que possam provocar quedas e o controle de acesso para ambientes que possam promover algum tipo de perigo, como é o caso das cozinhas. Em suma, estes são fatores físicos e ambientais básicos para projetar espaços direcionados para este público em questão, não sendo estes, contudo, suficientes para que o projeto garanta seu bem estar e melhoria da qualidade de vida. Um espaço arquitetônico terapêutico deve alcançar níveis que vão além das questões técnicas e formais, devendo atingir áreas mais particulares da inconsciência humana, visto que, a doença do mal de Alzheimer atua justamente na degradação dessa consciência formal. MEMÓRIA SENSITIVA
“Uma obra de arquitetura não é experimentada como uma série de imagens isoladas na retina, e sim em sua essência material, corpórea e espiritual totalmente integrada. Ela oferece formas e superfícies agradáveis e configuradas para o toque dos olhos e dos demais sentidos, mas também incorpora e integra as estruturas físicas e mentais, dando maior coerência e significado à nossa experiência existencial”. (PALLASMA. 2011, p.11)
A memória é uma das principais “vítimas” do mal do Alzheimer, visto que ela tem um papel muito importante de armazenamento e recuperação das informações codificadas durante toda a vida. No entanto, percebe-se que as lembranças de acontecimentos antigos têm maior durabilidade no consciente dos pacientes, ao contrário das chamadas “memória de curto prazo” que são responsáveis por reter informações recentes. Segundo TIMLIN E RYSENBRY (2010, p.23. Tradução livre), a chamada memória processual que se refere a ‘fazer 49
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coisas sem ter que pensar’ também é mantida por mais tempo. Dessa forma as pessoas podem continuar desenvolvendo certos tipos de tarefas simples em seu dia a dia e com isso, promovendo sentimentos de autonomia e independência. Ramos e Macedo (2001) apud PASCALE (2002, p.25) também colocam que a memória é, “o sintoma mais precoce, e que o déficit afeta, primeiramente, a memória para fatos recentes e, posteriormente acomete outros tipos de memória. A perda de memória adiciona ao indivíduo um sentimento de confusão, que interfere em sua interação com o meio ambiente.” Por este motivo, estas memórias devem ser constantemente estimuladas no dia-adia de pessoas com D.A para retardar o progresso da doença. Estes estímulos podem ser proporcionados através do espaço que o circunda, mas para isso, estes devem ser claros, simples e indutivos a fim de direcionar naturalmente o portador de Alzheimer a interagir com eles. Os sentidos são a peça chave para estabelecer essa conexão, servindo de “pistas” para direcioná-los a determinado lugar, visto que é comum o estado de perambulação e de desorientação por parte destes usuários. “O aumento da dependência dos sentidos é tão comum em pessoas com demência como com outras deficiências. Pode ser um desafio entender que os sentidos estão funcionando de forma mais eficaz, pois isso será diferente para cada indivíduo. Diferentes sentidos precisam ser usados no projeto de produtos e ambientes para que as pessoas não tenham que confiar apenas um sentido.” (TIMLIN E RYSENBRY. 2010, p.22. tradução livre).
De acordo com Van Hoof (2010a) apud Sousa e Maia (2014, p.241), é recomendado que “a casa tenha um piso de plano aberto, com poucas divisões, o que elimina espaços de corredor e aumenta a visão geral dos ambientes, facilitando a orientação para realização de atividades diárias”. É a partir dessa estratégia que o ambiente deve promover um maior direcionamento às áreas de interesse para os idosos, como jardins, salas de televisão, espaço ecumênico e outros programas fundamentais para explorar através dos sentidos as 50
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memórias afetivas do passado. Sendo assim, um bom planejamento espacial é aquele que permite que o usuário retenha suas habilidades e maximize sua capacidade de orientação e locomoção (Sousa e Maia, 2014. p.201). Uma das estratégias que pode ser utilizada é o posicionamento de pontos atrativos direcionais, seja através de condições olfativas –com o cheiro das comidas ou de flores do jardim-, como visuais -a partir do uso de cores e texturas- e até auditivas através do uso de músicas. Este último possui um papel terapêutico de destaque no tratamento das demências, possibilitando, por meio dela, a comunicação, a interação e sentimentos de paz e de felicidade. Segundo CASCARANI (Cap. 10. p. 115): “A intervenção da musicoterapia no tratamento de pessoa com Doença de Alzheimer tem como objetivo utilizar, resgatar, e ampliar os componentes pessoais existentes nas sensações, percepções, afeto, escuta, habilidades motoras, espaciais, temporais, mobilização de energia, atenção, memorização, concentração e expressão. Estes componentes pessoais acima citados permanecem adormecidos devido à doença, podendo ser despertados por meio da música, pois, para se relacionar com a música, o indivíduo necessita acioná-los”.
Um outro tópico de interesse para ambientes para pacientes de D.A são os jardins e sua comunicação com espaços internos. Em entrevista feita a idosas com quadros demenciais em instituições de longa permanência, o jardim foi elencado como a parte que elas mais gostavam em sua “casa”. Dessa forma, estabelecer uma caminhada por entre o jardim de forma segura através de, segundo PASCALE (2002, p.25), uma pista ou um caminho tortuoso e ainda tarefas para realizar ao longo do caminho, podem ajudá-lo a queimar suas energias de forma não-destrutiva. “É importante garantir que os moradores sejam seguros, habilitado a usar os seus pontos fortes restantes e livre para empregar seu senso natural de autocontrole e independência.” (ZEISEL apud TIMLIN E RYSENBRY. 2010, p.24, tradução livre)
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IDENTIFICAÇÃO COM O ESPAÇO
Na literatura sempre consta a importância da permanência do idoso em sua própria casa, pois a mudança para um ambiente não familiar pode causar reações traumáticas para o mesmo. Contudo, sabemos que muitas famílias não conseguem prover as necessidades do familiar por diversos fatores tendo que, mais cedo ou mais tarde, recorrer a ajuda de terceiros. Por este motivo é de se incentivar que as instituições ofereçam também o serviço de Centrodia8 aos idosos, independente de estes possuírem ou não Alzheimer, para que seja criado algum tipo de vínculo institucional antes mesmo de surgir a necessidade de ir morar lá, tornando esta adaptação mais tranquilizante para ambos. Todos esses cuidados supracitados com fatores físico, ambientais e sensoriais são fundamentais para promover um ambiente agradável para o idoso. Todavia, não são autossuficientes pois estas concepções só serão efetivadas se o mesmo criar uma identidade com o local e adotá-lo como sua casa. “A casa é referência de origem, relações familiares e comunitárias. Lugar de trocas, segurança, estabilidade e auto reconhecimento, que coloca o sujeito em um tempo e espaço” (SILVA ET AL. 2010, p.182). Por este motivo, os espaços mais privativos devem ser personalizados. De acordo com Pascale (2002, p.59): “a ligação com seu passado e as lembranças remanescentes através de fotografias, quadros favoritos ou sua roupa de cama podem servir como indicativos no reconhecimento para o retorno ao seu próprio quarto. Ainda, a personalização do seu espaço pessoal tem muitas vantagens, porque adiciona familiaridade, que mantém sua identidade pessoal, roubada pela DA em indivíduos acometidos pela doença.”. 8
Centro-dia é um serviço destinado à atenção diurna. São responsáveis por acolher idosos por um dia e, em alguns casos, por um final de semana. (ZAZZETA e PAVARINI. cap. 15, p. 197)
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“É essencial garantir que as pistas ambientais dêem boas informações para um residente sobre onde eles estão e qual a atividade do lugar. Isso ajudará a ajustar o comportamento adequado. Tem várias maneiras pelas quais isso pode ser empregado, mas alguns exemplos incluiria o uso de bens de uma pessoa para decorar um quarto, sendo cercado por sons familiares e artefatos como o toque de um relógio familiar, o cheiro de um perfume particular ou o som de uma música favorita. Todos estes usam diferentes sentidos para ajudar uma pessoa a se identificar e se sentir confortável em um espaço específico” (TIMLIN E RYSENBRY. 2010, p.22. Tradução livre).
Já as áreas sociais de uma instituição não conseguem manter um grau pessoal de personalidade porém pode trazer elementos que venham a fazer referência a um passado comum e afetivo da maioria dos usuários. Sob a perspectiva de PALLASMA (2011. p.60) “os “elementos” da arquitetura não são unidades visuais; eles são encontros, confrontos que interagem com a memória.”, é possível compor um ambiente com materiais arquitetônicos provenientes de uma época que permitam um resgate afetivo. Portanto, a partir desses “requisitos” é possível promover um espaço arquitetônico que seja uma alternativa terapêutica no tratamento do mal de Alzheimer, promovendo bem estar e estímulos cognitivos para retardar o progresso da doença e permitir um melhor convívio com ela. “Um espaço de arquitetura enquadra, detém, reforça e foca nossos pensamentos, além de evitar que eles se percam. Podemos sonhar e sentir que estamos fora dele, mas precisamos da geometria de um cômodo para pensar com clareza. A geometria do pensamento reflete a geometria do cômodo” (PALLASMAA, 2011, p.43).
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III
INSTITUIÇÕES DE LONGA PERMANÊNCIA PARA IDOSOS (ILPI)
BREVE HISTÓRICO
Segundo Filizzola (1972) apud SILVA et Al. (2010, p.178) a primeira instituição destinada aos idosos no Brasil foi construída em 1790 para abrigar soldados portugueses que retornaram da guerra. No entanto, esta instituição só abrigava esta parcela da população. Foi apenas no final do século XIX, que a Santa Casa de Misericórdia em São Paulo, que dava assistência a mendigos e desabrigados, passou a se definir, em 1964, como instituição gerontológica devido ao aumento do número de internações da população idosa (DUARTE. 2014, p.203). Estas instituições foram nomeadas como “asilos” e tinham um carácter exclusivo destas pessoas com o resto da população. Segundo Christophe e Camarano (2010) apud CAMARANO e BARBOSA (IPEA. cap. 20, p.484), a institucionalização era resultado da pobreza individual e familiar, e o termo asilo cristalizou-se como sinônimo de instituição para idosos pobres. Por este motivo, há um forte preconceito e valorização negativa por parte da própria família e pela sociedade quanto à decisão pela internação. Em contrapartida, com o aumento da população idosa e de instituições gerontológicas, foram surgindo diversas leis de caráter assistencialista, de saúde e de previdência dessa parcela da população. Consequentemente, com o aumento da longevidade e dos desafios enfrentados pela família, como o agravamento da pobreza (CARTILHA APOIO), os conflitos geracionais, a saída dos membros da família para o mercado de trabalho, houve uma maior busca por estas instituições. A fim de modificar o modelo asilar brasileiro e garantir uma maior qualidade destas instituições, estas passaram a estar a cargo dos Conselhos do Idoso, do Ministério Público e
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da Vigilância Sanitária (ANVISA RDC 283) para garantir uma maior qualidade desses espaços. De acordo com SILVA et Al (2010, p.178), o termo ILPI (Instituição de longa permanência para idosos) foi decorrente da expressão inglesa “long term care institution” adotada pela sociedade brasileira de geriatria e gerontologia, em 2002, sendo oficializada em 2003. Com isso, pretendeu-se retirar essa ideia pejorativa de asilo e propor instituições de assistência social e de saúde de melhor qualidade para a população. A Resolução de Diretoria Colegiada (RDC) nº 283, de 2005, da Agência Nacional de Vigilância sanitária (Anvisa), definiu ILPIs como “instituições governamentais ou não governamentais, de caráter residencial, destinadas a domicílio coletivo de pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, com ou sem suporte familiar, em condição de liberdade, dignidade e cidadania” (CAMARANO e BARBOSA. IPEA. cap.20, p.484).
Nesse contexto, como foi observado por Camarano e Scharfstein (2010) apud Camarano e Barbosa (IPEA. cap. 20, p. 486) “as instituições passam a ser vistas como residências coletivas que propiciam integração social, criam laços afetivos e não implicam, necessariamente, rompimento de laços familiares”. Passando a ser uma alternativa válida para cuidados não familiares às pessoas idosas. Afinal, “a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem estar e garantindo-lhes o direito à vida” (Art. 230 da Constituição Federal do Brasil de 1988 apud CARTILHA APOIO). Contudo, a problemática que se segue é que ainda assim existem poucas instituições para idosos no Brasil como mostra a figura 05 realizada pelo IPEA/CNPQ e Censo SUAS (2014). E além disso, a grande maioria destas instituições são de origem filantrópica, cujos recursos são provenientes de parte da aposentadoria e também do auxílio do setor público, porém segundo o IPEA 2011, a contribuição do setor público representa apenas 22% das receitas.
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FIGURA 05: Quantidade de ILPIs por Região no Brasil Fonte: IPEA/CNPQ e Censo SUAS (2014).
Esta problemática é um dos motivos pelos quais grande parte das instituições ainda se encontram em estado precário, não tendo cumprido devidamente os ajustes legais necessários e com abrigos superlotados. Além disso o espaço no qual a maioria está inserido trata-se de adaptações de residências, não possuindo dimensões e organização espacial adequados para suportar sua demanda e seus ajustes. Não foi possível obter dados precisos do município de Recife, visto que, segundo a coordenadora das ILPIs em entrevista, Andrea Navarro, a maioria das instituições ainda não são registradas. Contudo, segundo a mesma, de todas as instituições presentes no Recife, apenas 3 foram projetadas exclusivamente para determinado uso, as demais tratam-se de lugares adaptados.
DIREITO DO IDOSO - LEGISLAÇÃO
Atualmente, o idoso está acobertado por diversas leis que foram criadas no intuito de assegurar seus direitos. O estatuto do idoso é um exemplo de iniciativa que dá suporte legal
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a esta parcela da população. Como podemos observar em seu Art. 9.º “É obrigação do Estado, garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade.”. Assim como, na Constituição Federal do Brasil de 1988 em seu Art. 230, determina que “a família, a sociedade e o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade, bem estar e garantindo-lhes o direito à vida”. Dessa forma é dever comum de toda a sociedade garantir ao idoso uma maior qualidade de vida e acesso a seus direitos. Por este motivo, para garantir o cumprimento destes parâmetros legais nas instituições de longa permanência, também existem normas a serem seguidas. Segundo o Art. 49 do estatuto do idoso “as entidades que desenvolvam programas de institucionalização de longa permanência adotarão os seguintes princípios: I - preservação dos vínculos familiares; II - atendimento personalizado e em pequenos grupos; III - manutenção do idoso na mesma instituição, salvo em caso de força maior; IV - participação do idoso nas atividades comunitárias, de caráter interno e externo; V - observância dos direitos e garantias dos idosos; VI - preservação da identidade do idoso e oferecimento de ambiente de respeito e dignidade” (Grifo da Autora) Segundo a RDC 283 (ANVISA, 2005) apud a CARTILHA APOIO, “as instituições de longa permanência para idosos devem promover aos seus residentes: • O exercício dos direitos humanos (civis, políticos, econômicos, sociais, culturais e individuais); • Garantir a identidade e a privacidade da pessoa idosa, assegurando 60
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um ambiente de respeito e dignidade; • Promover a integração das pessoas idosas que residem na instituição, nas atividades desenvolvidas pela comunidade local; • Garantir e incentivar as relações Inter geracionais; • Promover a participação da família na atenção com a pessoa idosa residente; • Desenvolver ações que estimulem a pessoa idosa à manutenção de sua autonomia; • Promover condições de cultura e lazer as pessoas idosas; • Desenvolver palestras e eventos que possam combater a violência contra a pessoa idosa bem como a violação de seus direitos civis e contra a discriminação.” (Grifo da Autora) É possível perceber o empenho normativo em garantir ao idoso o estabelecimento de vínculos familiares e socioculturais além de tentar ao máximo manter sua autonomia. Para isso, é necessário obter informações quanto à quantidade de dependências dessas pessoas para conseguir cumprir todas suas necessidades básicas. Conforme é definido na RDC 283 (ANVISA, 2005): “3.4 - Grau de Dependência do Idoso a) Grau de Dependência I - idosos independentes, mesmo que requeiram uso de equipamentos de autoajuda; b) Grau de Dependência II - idosos com dependência em até três atividades de autocuidado para a vida diária tais como: alimentação, mobilidade, higiene; sem comprometimento cognitivo ou com alteração cognitiva controlada; c) Grau de Dependência III - idosos com dependência que requeiram assistência em todas as atividades de autocuidado para a vida diária 61
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e ou com comprometimento cognitivo.” Os quadros demenciais, como a doença de Alzheimer, são classificados no grau de dependência III, contando com um reforço maior de recursos humanos e um cuidado especial nos tipos de ofertas de serviços que este ambiente poderá proporcionar. De acordo com a ABRAZ (2017), “em 12 de abril de 2002, o Ministério da Saúde assinou a Portaria 703, que institui o "Programa de Assistência aos Portadores da Doença de Alzheimer" (Art. 1º) (...)” a fim de assegurar-lhes seus direitos básicos, direitos estes que englobam: 1.
Consultas para diagnóstico.
2.
Atendimento na rede púbica.
3.
Atendimento em hospital-dia.
4.
Atendimento hospitalar.
5.
Visita domiciliar de profissional da saúde.
6.
Tratamento acompanhado por equipe multidisciplinar.
7.
Programa de orientação e treinamento para familiares.
8.
Medicação gratuita.”
Não foi encontrado, no entanto, parâmetros legais voltados para o âmbito da institucionalização das pessoas com Alzheimer ou de quadros demenciais no geral. Na própria RDC 283 (ANVISA 2005) só são estabelecidas diretrizes para áreas de desenvolvimento das atividades voltadas aos residentes com graus de dependência I, II, no mais, a única determinação voltada para as pessoas de grau III é a quantidade de cuidadores que devem acompanhá-los que corresponde a “um cuidador a cada 6 idosos, ou fração, por turno”. Os residentes com graus de dependência I e II necessitam, respectivamente, de um cuidador para cada 20 idosos, ou fração, com carga horária de 8h/dia, e um cuidador a cada 10 idosos, ou fração, por turno. 62
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Isso destaca a necessidade de ampliar os estudos sobre o tema a fim de proporcionar uma maior atenção para as necessidades desta doença que tende a crescer cada vez mais seu grau de incidência na população. Alzheimer x Instituições
“§ 3.º As instituições que abrigarem idosos são obrigadas a manter padrões de habitação compatíveis com as necessidades deles, bem como provê-los com alimentação regular e higiene indispensáveis às normas sanitárias e com estas condizentes, sob as penas da lei.” Estatuto do Idoso, 2013.
Com base nos estudos acima levantados e sabendo que é direito do idoso possuir um ambiente adequado às suas necessidades é justificado deter maior atenção para esse grupo. Em outros países, a política de cuidado para idosos com Alzheimer já possui propostas de instituições especializadas no tema. No entanto, aqui no Brasil o cenário é diferente. A maioria dos idosos com Alzheimer institucionalizados não convivem em um ambiente especializado para determinado fim. Um exemplo para a sociedade brasileira foi o projeto do Hileia, construído em São Paulo em 2008 pelo escritório Aflalo/Gasperini Arquitetos e sob a consultoria comportamental do sociólogo e arquiteto John Zeisel (Figura 06). Contudo, apesar de este projeto ser especializado no tratamento do Alzheimer e apresentar diversas atividades e assistência de saúde Figura 06: Hiléia - São Paulo
para
os
pacientes,
ele
estava
subutilizado, havendo lotação prevista para 119
Fonte: AFLALOGASPERINI
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leitos e ocupação de 17 segundo notícias do O ESTADO DE S. PAULO (2009). Sua superestrutura, portanto, tornou-se cara e inviável para boa parte da população resultando no fechamento desta instituição. Na região metropolitana do Recife, não há nenhuma instituição especializada no tema. Contudo, diante da falta de dados, de informação a respeito da doença de Alzheimer e da precariedade de diagnósticos, conforme supracitado no capítulo I, deve haver uma cautela no planejamento do programa e também da quantidade de residentes para que o projeto não se torne inviável. Por conseguinte, é crucial que esta problemática crescente assuma seu papel de destaque diante da sociedade brasileira e que os Arquitetos desenvolvam seu papel de profissional e cidadão a respeito da temática afim de desenvolver projetos em que o espaço arquitetônico atinja níveis terapêuticos para a doença e sejam um suporte para esta parcela da população. Em suma, para garantir padrões de ocupação compatíveis com as necessidades dos indivíduos com Alzheimer, se faz necessária instituições especializadas que compensem os déficites cognitivos e reforcem as capacidades e habilidades ainda mantidas pelos pacientes da doença.
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IV
ESTUDOS DE CASO
CENTRO GERIÁTRICO PADRE VENÂNCIO
O Centro Geriátrico Padre Venâncio, segundo a SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DO RECIFE, é um instituto direcionado para abrigar idosas em situação de vulnerabilidade social com ou sem vínculo familiar. Ele foi fundado pelo padre José Venâncio de Melo para ser um “asilo da velhice desamparada”, nome adotado até a mudança da sede para um casarão na Várzea (cuja construção é datada de 1982 conforme dados do ESIG Recife) onde adquiriu a nomenclatura atual. Parte do casarão abriga grupos de seminaristas e administrações vinculadas e de apoio, como é o caso da ABRAZ-PE. A partir de 2011 o instituto passou a ser gerido pela Santa casa da misericórdia do Recife (SANTACASA.ORG. 2018). Ele está localizado na Avenida Afonso Olindense, nº 1764, a qual se caracteriza como importante via arterial do bairro da Várzea, possuindo um grande fluxo de veículos e oferta de transporte público, permitindo um fácil acesso à instituição. É importante que edificações voltadas para este fim não recebam muitas interferências externas, como poluição sonora por exemplo. No entanto, apesar de o terreno estar às margens de uma avenida, sua implantação, proveniente de um recuo frontal generoso marcado pela presença de uma vasta massa arbustiva, soluciona esta questão. Conforme pode ser identificado na figura 07, o instituto se encontra bem localizado, situando-se próximo à praça da Várzea que representa bem o caráter do bairro. A aproximação de um contexto urbano de vivências fortes, com áreas de comércio local e de lazer característicos, é uma ótima oportunidade de integração com a cidade. Esta estratégia é indicada pela literatura para evitar a segregação social destes idosos, visto que, segundo ZEISEL, “o idoso precisa estar inserido no contexto Urbano”.
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Figura 07 – Mapa de Entorno Fonte: ESIG/Autora 2018.
A instituição é de caráter filantrópico, ou seja, parte da renda é proveniente de parcela da aposentadoria das abrigadas e da ajuda de voluntários. Segundo informações obtidas no local, atualmente são atendidas 58 idosas e destas, 11 foram indicadas como pessoas com a demência de Alzheimer havendo apenas 5 diagnosticadas. Contudo, segundo a planilha de controle com base na RDC 283 (ANVISA, 2005), disponibilizada pela secretária do Centro, há 22 idosas que se caracterizam no grau de dependência III, seguidas por 25 idosas no grau de dependência I e 11 no grau de dependência II. A idade média das idosas atendidas é de 83 anos, tendo a mais nova 67 e a mais
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velha 98 anos. Com base nestas informações, o espaço precisa está adequado às diferentes especificidades que cada grupo necessita para que possa promover o bem estar comum de seus usuários. Para uma análise geral da instituição foi desenvolvido um questionário adaptado do “modelo roteiro da VISA – Instrumento de avaliação para instituições de longa permanência para idosos – ILPI” – inserido no “Protocolo qualidade em Instituições de longa permanência para idosos – PQILPIS” desenvolvido pelo governo de Curitiba (APÊNDICE A) aplicado em entrevista à secretária responsável pelo centro no dia da visita. Segundo informações do ESIG, a área do terreno que o centro
geriátrico
ocupa
corresponde a 14.518,52 m², possuindo
uma
construída
de
área
total
8112,77
m²,
dividida em dois pavimentos nas áreas
destinadas
aos
seminaristas. O centro geriátrico está localizado na parte mais nordeste da edificação (Figura 08), correspondendo a uma lâmina térrea que está setorizada nos
setores
Administrativo,
Social, Saúde, Íntimo e de serviço conforme foi ilustrado na figura 09. Figura 08: Mapa de localização Centro Geriátrico Padre Venâncio Fonte: ESIG/Autora 2018.
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Figura 09: Mapa de Setorização Centro Geriátrico Padre Venâncio Fonte: ESIG/Autora 2018.
Seu programa é composto por uma sala de administração geral, por um grande terraço aberto para um jardim central (Figura 10), uma circulação (Figura 11), uma enfermaria (Figura 12), uma sala de fisioterapia (Figura 13), um grande refeitório (Figura 14) e cozinha (Figura 15), além de um quartinho para funcionários.
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Figura pessoal. 10: Terraço/Jardim Central. Fonte: Arquivo Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
Figura 11: Corredor dos dormitórios. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
Figura 12: Enfermaria. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
Figura 13: Sala de fisioterapia. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
Figura 14: Refeitório. Fonte: Arquivo Pessoal 2017.
Figura 15: Cozinha. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
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Conforme observado nas imagens, percebe-se que existe uma boa relação entre o terraço e o jardim central, sendo este um dos espaços mais bem utilizados pelas idosas. O corredor de acesso aos dormitórios possui corrimãos em toda sua extensão, sendo obrigatório pelas normas da Anvisa, contudo, o uso dos materiais reflexíveis não é indicado para idosos, sobretudo aos que possuem algum transtorno cognitivo, como é o caso do Alzheimer, visto que isto provoca estímulos negativos em sua apreensão e orientação espacial. As salas técnicas de apoio à saúde, como enfermaria e fisioterapia, precisam de melhorias quanto ao mobiliário ofertado e organização espacial. Já o refeitório e a cozinha possuem dimensões mais adequadas e dispõem de um layout mais bem organizado, porém precisam de ajustes, sobretudo quanto à iluminação. Em relação aos dormitórios, estes se caracterizam como coletivos com leitos que variam de 4 a 9 idosas, contudo, segundo a RDC 283 (ANVISA, 2005), só é permitida a lotação máxima de 4 pessoas possuindo um banheiro. Outro espaço importante para a edificação consiste na sala de televisão, a qual não foi possível fotografar devido a quantidade de idosas presentes no ambiente. Este se caracteriza como um dos principais locais de lazer do centro, registrado também em entrevista com algumas idosas. Contudo, percebeu-se que o espaço não possui um layout adequado das poltronas em relação à televisão e também possui pouca iluminação. Como ponto positivo percebe-se que o centro dispõe de um fluxo simples e direto que facilita o deslocamento e a orientação espacial, sobretudo para pessoas com Alzheimer que possuem esta habilidade reduzida devido à doença. (Figura 16)
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Figura 16: Organofluxograma do Centro Geriátrico Padre Venâncio. Fonte: Autora, 2018.
De uma forma geral, o Centro não está adequado para idosos com problemas cognitivos, sobretudo a doença de Alzheimer, visto que, por mais que ele permita uma lógica espacial simples, esteja bem inserido fisicamente no contexto urbano e tenha a forte relação com o pátio central que contém um jardim, ele não dispõe de uma boa iluminação e ventilação, há problemas quanto ao mobiliário e seu layout, há poucos espaços de lazer que induzam uma maior sociabilização entre as idosas, e, por mais que haja adaptações quanto às normas da RDC 283 (ANVISA, 2005), ainda há muitas barreiras espaciais que não o tornam completamente seguro. Os ambientes do centro não induzem a estímulos cognitivos positivos e sociais, importantes para o retardo do Alzheimer. Além de que, problemas físicos de inadequação à ventilação, iluminação, mobiliário, materiais de revestimento e planejamento espacial, pode
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provocar às pessoas com demência problemas como a depressão, apatia, afasia e outros, conforme observado em Dona Henriqueta, 73 anos e sofre do Mal de Alzheimer. Isto se deve ao fato de o ambiente se tratar de uma adaptação a uma edificação já existente, acarretando limitações quanto a melhoramentos espaciais.
ABRIGO ESPÍRITA LAR DE JESUS
O Abrigo Espírita Lar de Jesus é uma instituição de caráter filantrópico que abriga 27 idosas com ou sem vínculo familiar e, sobretudo, sob proteção do ministério público, seja por casos de abuso, drogas e abandono. Ela está localizada na Rua Vitoriano Palhares, nº 77 bairro da Torre, que corresponde a uma rua de caráter local com fluxo mediano em horários de pico, visto que esta acaba sendo uma importante conexão entre a Rua Real da Torre e a Av. José Bonifácio, de caráter coletor e arterial respectivamente (Figura 17). Seu entorno imediato é marcado por serviço, comércio e uso residencial. A Instituição Espírita existe desde o ano de 1947 localizada nesta mesma edificação. Contudo, segundo Andrea Navarro, coordenadora das ILPIs de Recife e responsável pelo abrigo em questão, a edificação já existia desde o ano de 1925 tendo sido adaptada para as diversas funções que recebeu ao longo dos anos em paralelo com o abrigo, como por exemplo uma escola de assistência de 1º grau, uma mocidade espírita e grupos de evangelho. Esta instituição desde sempre contou com ajuda de voluntários, tendo suas adaptações sido feitas com um mínimo de recursos. Contudo, a edificação presente nos dias de hoje consta com 40% a mais de área construída em comparativo com a original (LARDEJESUS. ORG. 2018)
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O ESPAÇO ARQUITETÔNICO COMO TRATAMENTO DO ALZHEIMER: PROPOSTA PARA UMA ILPI EM RECIFE-PE
Figura 17: Mapa de entorno Lar de Jesus. Fonte: Autora, 2018.
Seu terreno possui cerca de 753m² conforme planta baixa disponibilizada pela responsável pela instituição, e a área total construída corresponde a 966m², contudo, o abrigo só ocupa a parte térrea da edificação numa área de 594,30m². O pavimento superior é destinado às atividades espíritas da instituição. O programa do abrigo possui um terraço que é utilizado como área de lazer, quartos duplos e coletivos, banheiros, depósito de enfermaria,
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O ESPAÇO ARQUITETÔNICO COMO TRATAMENTO DO ALZHEIMER: PROPOSTA PARA UMA ILPI EM RECIFE-PE
depósito de triagem, lavanderia, quintal, banheiros de funcionário, área de serviço, cozinha e enfermaria, conforme é melhor explicado na planta baixa (Figura 18).
Figura 18: Planta Baixa Abrigo Lar de Jesus Fonte: Andrea Navarro/Editado pela Autora
De uma maneira geral o abrigo se encontra em um estado precário. Por possuir pisos desnivelados possuem condições críticas de acessibilidade, possuindo batentes mal sinalizados e imperceptíveis devido à cerâmica utilizada no piso (Figura 19), rampas de inclinação não compatível com o exigido pela NBR 9050 e barras de apoio em estado de oxidação (Figura 20). Nenhum banheiro da instituição é corretamente adaptado às pessoas 76
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com necessidades especiais, possuindo papel higiênico em locais muito altos, ausência de banco de transferência na área do chuveiro e de barras de apoio próximo ao sanitário e pias, além de que o tipo de piso cerâmico utilizado é escorregadio, conforme mostra as figuras 21 e 22.
Figura 19: Batentes mal sinalizados. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
Figura 21: Banheiros não acessíveis. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
Figura 20: Barras oxidadas. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
Figura 22: Banheiros não acessíveis. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
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O ESPAÇO ARQUITETÔNICO COMO TRATAMENTO DO ALZHEIMER: PROPOSTA PARA UMA ILPI EM RECIFE-PE
A grande maioria dos ambientes não está bem orientado. Dois dos dormitórios duplos presentes na ala leste são enclausurados, não possuindo nem ventilação nem iluminação natural (Figura 23). Os demais dormitórios presentes na ala oeste correspondem a quartos coletivos abrigando mais de dez pessoas no mesmo espaço, fato não permitido pela RDC 283 conforme explicitado (Figura 24). Cada idosa possui seu armário individual para organização dos seus pertences e, além disso, acima de cada cama há uma foto que faz referência ao seu espaço a fim de localizar melhor seu local de descanso.
Figura 23: Quarto enclausurado. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
Figura 24: Quarto coletivo. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
A única área de lazer presente na instituição é na verdade seu terraço de acesso. Trata-se de uma área ventilada e de boa iluminação natural, visto que corresponde a um espaço coberto delimitado por grades, uma que dá acesso à instituição e outra que dá acesso à área de serviço. Este ambiente possui dois níveis de piso interligados por uma rampa de inclinação incompatível com o exigido na norma. Este terraço também corresponde à sala de televisão, espaço de oração e onde são realizadas as festividades, área de descanso e também de refeitório pelo fato de não haver
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O ESPAÇO ARQUITETÔNICO COMO TRATAMENTO DO ALZHEIMER: PROPOSTA PARA UMA ILPI EM RECIFE-PE
um local específico e compatível na instituição para determinado uso. Por ser um espaço multiuso e estar localizado próximo à rua este ambiente recebe interferências internas e externas em todos os horários do dia, dessa forma não é possível, segundo a responsável pelo local, que sejam realizadas atividades de estímulo cognitivo de forma eficaz pois há uma dificuldade de foco neste ambiente (Figura 25).
Figura 25: Terraço. Fonte: Arquivo Pessoal, 2017.
No setor de serviço há uma carência por espaços para depósito de materiais, secagem de roupas, ambientes de apoio para funcionários e etc. A cozinha é pequena, contando com áreas estreitas de depósito, não possui uma ventilação e iluminação natural eficaz (Figura 26). O layout da cozinha não está ergonomicamente viável e sua área reservada para consumo das refeições, “sala de jantar”, não consegue suprir a demanda da instituição. Figura 26: Cozinha. Fonte: Arquivo Pessoal.
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Dessa forma, o Abrigo Espírita Lar de Jesus enfrenta bastantes dificuldades espaciais devido as suas diversas adaptações no decorrer dos anos. Além de problemas físicos e ambientais citados no texto, o fluxo da edificação não se faz de forma clara e intuitiva não promovendo o senso de direção e percepção, nem garantindo uma autonomia, independência e interação social. Por isto conclui-se, que o ambiente oferecido pelo abrigo Lar de Jesus não é compatível com o necessário para pessoas com Alzheimer, podendo até agravar a progressão da doença com a ausência de estímulos cognitivos diários, não só por parte espacial, mas também física e social.
Em suma, estes estudos foram importantes para entender a realidade das instituições de longa permanência para idosos em Recife. Estes dois exemplos caracterizam instituições filantrópicas porém com realidades completamente distintas que abrigam uma boa quantidade de pessoas com Alzheimer. Pode ser analisado neste estudo, o grau de complexidade que adaptações em um ambiente inadequado pode promover para a qualidade espacial e, por isso, acarretar prejuízos no programa da edificação. Além disso, foi crucial para o desenvolvimento do programa da edificação a apreensão das necessidades e desejos por parte destas pessoas que convivem diariamente com este uso, seja como morador ou funcionário. Dessa forma, compatibilizando com as necessidades terapêuticas que um ambiente pode proporcionar para pessoas com Alzheimer, fica ressaltada em termos conclusivos a necessidade de uma instituição especializada para determinado fim, de forma que realmente promova uma evolução eficaz no tratamento deste mal.
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V
ESTUDOS REFERENCIAIS
ALZHEIMER’S RESPITE CENTRE
O Alzheimer’s Respite é um centro especializado projetado por Níall Mclaughlin architects em 2009 para ser um novo conceito de projeto voltado para a área da saúde, sendo pensado, sobretudo, para abrigar pacientes de Alzheimer e suprir suas necessidades a partir do espaço arquitetônico. Este projeto está localizado em Dublin, tendo sido instalado em um terreno que possuía restos de uma cozinha muralhada com paredes sólidas de granito no século XVIII. Este passado histórico foi incorporado ao projeto que trouxe uma proposta de edifício moderno, luminoso e espaçoso (Figura 27) (ARCHITECTURE GALLERY, 2010). Segundo Niall McLaughlin Architects (2012), o principal desafio projetual foi desenvolver um espaço que fosse tranquilo, coerente, distração, capacidade
que
reduzisse
aumentasse de
a a
orientação e
incentivasse a mobilidade. Estes pontos foram alcançados a partir Figura 27: Alzheimer’s Respite Centre Fonte: ARCHITECTURE GALLERY, 2010
do design, do desenvolvimento de um senso de segurança, da interação social promovida, do
uso habilidoso da luz e aproveitamento dos materiais em seus mínimos detalhes e da eliminação de uma concepção institucional deste tipo de projeto.
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O ESPAÇO ARQUITETÔNICO COMO TRATAMENTO DO ALZHEIMER: PROPOSTA PARA UMA ILPI EM RECIFE-PE
A partir de estudos sobre a doença, percebeu-se que a falta de memória e a não orientação espacial destes pacientes induzem a necessidade de um espaço de base reconhecível e que esteja sempre lembrando o portador de onde ele ou ela veio e para onde ele ou ela vai. Desta forma, segundo CURTIS (2011), o projeto arquitetônico é desenvolvido tirando partido do sol como um relógio, de forma a exaltar cada parte da edificação em determinada hora do dia criando um sistema de várias rotas cujas “saídas” sempre levam de volta para algum núcleo sociável do centro (Figura 28).
Figura 28: Planta Baixa Alzheimer’s Respite Centre Fonte: NIALL MCLAUGHLIN ARCHITECTS, 2012.
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Seu volume é composto por pavilhões interligados que incorporam nestes espaços jardins e áreas sociais. Há uma preocupação com um jogo dinâmico entre planos de parede e espaços fluidos, que formam em seus ambientes internos áreas amplas e bem iluminadas de exaltação da iluminação natural através do uso de “lanternas de madeira” que se sobressaem nas fachadas. O uso da madeira é bem explorado na edificação, havendo uma harmônica composição deste material com tijolos de textura amarelo pálido, (NÍALL MCLAUGHLIN ARCHITECTS, 2012). De uma maneira geral, este projeto possui uma área construída de 1392m² e tem capacidade para atender 11 pacientes internos e 25 como centro-dia (MYTHESIS, 2012). Dessa forma, seus espaços privativos, destinados aos pacientes, são silenciosos e mais afastados. Para estas áreas tirou-se partido das cores para diferenciar as portas dos quartos de portas de áreas comum e melhorar sua identificação (Figura 29). Em suma, este projeto foi muito bem pensado para o público-alvo em questão, atingindo soluções criativas e simples que tornam Figura 29: Espaços Privativos - Cores Fonte: NIALLMCLAUGHLIN.COM, 2012.
o espaço terapêutico para a doença de Alzheimer. Com isso, algumas das diretrizes projetuais, indicadas por Curtis (2011), foram destacadas a
seguir a fim de concluir particularidades deste projeto para serem utilizadas como referências posteriormente. São estas: •
Distâncias curtas entre áreas de estar;
•
Caminhos largos de passagem; 85
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•
Sanitários próximos às áreas sociais e visíveis a partir das camas na área privada;
•
Iluminação uniforme para minimizar o brilho e as sombras;
•
Piso, rodapé e paredes devem ser diferenciados pela cor;
•
Porta também devem ser diferenciadas entre si pela cor;
•
Corrimão em todas as paredes e de forma contínua;
•
Espaço reservado para lembranças e objetos familiares nos quartos;
•
Entrada fácil de ser encontrada;
•
Cada quarto possui seu próprio jardim;
•
A área dos funcionários é diferenciada a fim de promover maior descanso para a equipe;
HOGEWEYK VILLAGE O projeto consiste em uma vila para idosos com demência, dentre elas o Alzheimer, cujo objetivo principal é permitir que estes usuários possuam um dia-a-dia “normal” e seguro. Hogeweyk foi construída em 2009 na cidade de Weesp – Holanda, sob autoria do escritório Molenaar&Bol&VanDillen Arquitetos, e possui 23 casas abrigando um total de 152 idosos com demência segundo o HOGEWEYK (2011?).
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O conceito da vila consiste em trazer para seus moradores um caráter
de
“mini
cidade”
possuindo ruas, praças, parques e jardins (Figura 30). Além disso há uma vasta oferta de serviços básicos
necessários
para
o
estabelecimento de uma rotina agradável, como supermercados, Figura 30: Praça interna, Hogeweyk Village. Fonte: VARO, 2015.
restaurantes, salão de beleza, teatro e entre outros. Estes serviços podem ser utilizados tanto por residentes da vila, quanto
para
pessoas
provenientes de bairros vizinhos (HOGEWEYK, 2011?). A partir dessa dinâmica diária,
Hogeweyk
pretende
oferecer o máximo de autonomia possível Figura 31: Mercado, Hogeweyk Village. Fonte: VARO, 2015.
para
pessoas
com
demência, permitindo que elas possuam
sua
própria
independência, que continuem gerindo suas próprias casas e assim, mantendo seu estilo de vida. Para isso, a segurança estabelecida está no programa de funcionários que assumem papéis fictícios na vila para participar ao máximo da rotina do idoso sem comprometer sua privacidade e autonomia. Com isso, enfermeiros, cuidadores, médicos e assistentes sociais 87
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efetuam atividades nos restaurantes, supermercados, como serviçais domésticos e vizinhos (Figura 31). (CAIRES, 2016) O diferencial do projeto consiste em dividir as 23 casas e seus residentes de acordo com 7 estilos de vida pré-estabelecidos, são eles: classe alta, caseiro, urbano, cristão, artesão, da indonésia e cultural. Com isso, cada casa possui seu layout, mobiliário e decorações baseadas em cada “temática”, além de a rotina de cada idoso ser organizada de forma a atender ao estilo do mesmo (Figuras 32 e 33). O objetivo é tentar agregar à vida diária na vila uma semelhança mais próxima de suas memórias (VOITILLE, 2016).
Figura 32: Estilo floral da sala de estar- Hogeweyk. Fonte: VARO, 2015
Figura 33: Estilo moderno - Hogeweyk. Fonte: VARO, 2015.
A respeito da composição volumétrica, o projeto ressalta bem a relação de cheios e vazios permitindo a integração entre o lado interno e o externo. Pode-se observar a forte presença de jardim e pátios sendo delimitados a partir da organização da própria vila, proporcionando uma dinâmica diferente de espaços abertos de lazer e de estímulo da sociabilização (Figuras 34 e 35). Os materiais utilizados fortalecem sua composição
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harmônica, através de usos mais tradicionais, como o tijolo aparente, em diálogo com estruturas metálicas, fortalecendo um caráter moderno à edificação (Figura 36).
Figura 34: Massa construída – Hogeweyk. Fonte: HOGEWEYK, 2011?.
Figura 35: Espaços livres – Hogeweyk. Fonte: VARO, 2015.
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Figura 36: Composição harmônica dos materiais. Fonte: VARO, 2015.
Em síntese, o projeto da Hogeweyk Village possui como pontos de destaque a “integralização” dos pacientes com Alzheimer a um contexto urbano, por mais que seja um contexto planejado ele permite a autonomia e independência dos idosos em manter suas atividades diárias. Além disso há um incentivo quanto à personalização do espaço através de referências do seu estilo de vida, fato que estimula a memória sensitiva da pessoa com Alzheimer e facilita a aceitação deste ambiente como seu “lar”. Além disso a composição volumétrica permite entrada de ventilação e iluminação natural, sendo mais eficaz para esta tipologia. Portanto, este é outro tipo de abordagem arquitetônica de espaços voltados para o estímulo cognitivo de pessoas com demência, devendo-se portanto, tirar partido do máximo necessário de aspectos positivos para o desenvolvimento projetual deste trabalho de conclusão.
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VI
DIRETRIZES PROJETUAIS
Para o desenvolvimento do projeto arquitetônico, foram estabelecidas diretrizes projetuais para determinar parâmetros adequados às necessidades desta tipologia e deste grupo social. Com o objetivo central de promover um espaço terapêutico que propicie estímulos cognitivos adequados, foram estudados os conceitos de desenho universal, da humanização da arquitetura hospitalar e elementos de referência arquitetônica.
ACESSIBILIDADE E DESENHO UNIVERSAL
É perceptível que nos dias atuais ainda haja uma carência de projetos, sobretudo urbanísticos, que sigam efetivamente os conceitos previstos pela acessibilidade. Em contrapartida, observa-se a crescente preocupação dos arquitetos em adequar seus projetos a esta realidade. Na Europa contudo, este conceito já adquiriu níveis teóricos e práticos em escala mais abrangente, tendo como prioridade o conceito do desenho universal. A NBR 9050 (2015) conceitua a acessibilidade como: “possibilidade e condição de alcance, percepção e entendimento para utilização, com segurança e autonomia, de espaços, mobiliários, equipamentos urbanos, edificações, transportes, informação e comunicação, inclusive seus sistemas e tecnologias, bem como outros serviços e instalações abertos ao público, de uso público ou privado de uso coletivo, tanto na zona urbana como na rural, por pessoa com deficiência ou mobilidade reduzida.” (Grifo da Autora).
Segundo a mesma, o desenho universal consiste na “concepção de produtos, ambientes, programas e serviços a serem utilizados por todas as pessoas, sem necessidade de adaptação ou projeto específico, incluindo os recursos de tecnologia assistida” (Grifo da Autora).
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Neste caso, segundo a professora Helena Degreas (2010): “o desenho universal busca a inclusão das pessoas nos diversos segmentos sociais que compõem as nossas vidas por meio da facilitação de uso de produtos/meios/espaços consolidando assim, os pressupostos existentes na Declaração Universal dos Direitos Humanos.”
CARLLETO E CAMBIAGHI (2007. p. 10) ainda reforçam que: “O projeto universal é o processo de criar os produtos que são acessíveis para todas as pessoas, independentemente de suas características pessoais, idade, ou habilidades. Os produtos universais acomodam uma escala larga de preferências e de habilidades individuais ou sensoriais dos usuários. A meta é que qualquer ambiente
ou
produto
poderá
ser
alcançado,
manipulado
e
usado,
independentemente do tamanho do corpo do indivíduo, sua postura ou sua mobilidade.”
De acordo com o Manual de Desenho Universal desenvolvido pelo Governo Estadual de São Paulo (2010), a expressão “Universal Design” foi utilizada pela primeira vez pelo arquiteto Ron Mace no ano de 1985, nos Estados Unidos. “Na década de 1990, um grupo de arquitetos e defensores de uma arquitetura e design mais centrados no ser humano e sua diversidade (...) definiu sete princípios do Desenho Universal” indicados na Tabela I. 1.
IGUALITÁRIO
(equiparável)
São espaços, objetos e produtos que podem ser utilizados por pessoas com diferentes capacidades, tornando os ambientes iguais para todos.
Acesso seguro com rampas, corrimão e guarda-corpo.
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2.
ADAPTÁVEL (uso flexível)
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Design de produtos ou espaços que atendem pessoas com diferentes habilidades e diversas preferências, sendo adaptáveis para qualquer uso.
Prever possibilidades de deslocamentos de paredes para crescer os quartos quando necessário.
3.
ÓBVIO
(simples
e
intuitivo)
De fácil entendimento para que uma pessoa possa compreender, independentemente de sua experiência, conhecimento, habilidades de linguagem, ou nível de concentração.
Percurso Simples e intuitivo.
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4.
CONHECIDO (informação
de fácil percepção)
Quando a informação necessária é transmitida de forma a atender as necessidades do receptador, seja ela uma pessoa estrangeira, com dificuldade de visão ou audição. Pictogramas de homem e mulher e Braile são mais fáceis de serem compreendidos.
5.
SEGURO (TOLERÁVEL AO
ERRO)
Previsto para minimizar os riscos e possíveis consequências de ações acidentais ou não intencionais.
Escadas com corrimão duplo passando 30cm, pisos de alerta e faixa contrastante.
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6.
SEM
ESFORÇO
(BAIXO
ESFORÇO FÍSICO)
Para ser usado eficientemente, com conforto e com o mínimo de fadiga.
Sistema de alavanca adequado para que um cadeirante também consiga abrir a janela.
7.
ABRANGENTE (DIMENSÃO E ESPAÇO PARA APROXIMAÇÃO E USO)
Que estabelece dimensões e espaços apropriados para o acesso, o alcance, a manipulação e o uso, independentemente do tamanho do corpo, da postura ou mobilidade do usuário. Mobiliário adequado que permita acesso a todos os compartimentos com conforto e segurança. TABELA I – Os sete princípios do Desenho Universal. Fontes: Conteúdo retirado de CARLETTO E CAMBIAGHE, 2007. Fonte gráfica: GOVERNO ESTADUAL DE SÃO PAULO, 2010. Produzido pela Autora, 2018.
Com base nestes princípios, é possível ir além dos parâmetros de acessibilidade indicados pela RDC 283 da Anvisa em seu parágrafo 4.7.3 que diz que: “A Instituição de Longa Permanência para Idosos deve oferecer instalações físicas em condições de habitabilidade, higiene, salubridade, segurança e garantir a acessibilidade a todas as pessoas com dificuldade de locomoção segundo o estabelecido na Lei Federal 10.098/00.” (Grifo da
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Autora). HUMANIZAÇÃO DA ARQUITETURA HOSPITALAR
Por mais que uma instituição de longa permanência para idosos não tenha um caráter hospitalar e sim, assistencialista social e da saúde, alguns conceitos utilizados na humanização deste tipo de arquitetura podem ser usados como diretrizes deste projeto. Por se tratar de um ambiente especializado em abrigar pessoas com Alzheimer, a ideia de instrumento terapêutico e de estabelecimento da relação humana entre o doente e o espaço são pontos concordantes destas duas tipologias. O interesse por esta temática partiu de vários arquitetos que possuíam o mesmo objetivo: trazer para a dimensão humanística o ambiente hospitalar que até então tinha adquirido a ideia pejorativa de “máquina de curar”. Segundo LUKIANTCHUKI e SOUZA (2010), existiram várias analogias metafóricas quanto à arquitetura hospitalar dever ser como um hotel, ou exaltar uma relação com a natureza e obras de arte, ou como um lar que possibilitava a intimidade e, por fim, com a figura do espaço urbano e do convívio social. Diante destes seguimentos, as ideias e concepções destes arquitetos foram compatíveis às necessidades orgânicas deste projeto. De acordo com João Filgueiras de Lima (Lelé) apud LUKIANTCHUKI e SOUZA (2010): “Apesar de os edifícios hospitalares serem projetos extremamente rigorosos em relação à funcionalidade – sendo, portanto, muito importante a atenção e sua distribuição espacial e a seus fluxos –, a beleza não deve ser excluída. A beleza é vista por Lelé como a chave para a humanização, visto que, em suas próprias palavras, ela ‘alimenta o espírito’.”
Este conceito também era exaltado por Alvar Aalto, arquiteto modernista pioneiro na humanização da arquitetura. Conforme era seu ideal de que: “tornar mais humana a
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arquitetura significa fazer uma arquitetura melhor e alcançar um funcionalismo muito mais amplo que o puramente técnico”. (URIBE. In: ARCHDAILY, 2014). Além de exaltar a funcionalidade em harmonia com a beleza através das obras de arte, Lelé possuía um conceito fundamental de iluminação e ventilação natural pontuando prioridades supracitadas no capítulo II de “Arquitetura como espaço terapêutico”. “Defender iluminação e ventilação naturais não é só por esse aspecto da economia de energia, não é só para tornar o ambiente mais natural, mais humano, mas, no caso do hospital, também é para proteger contra a infecção hospitalar” (Lelé apud LUKIANTCHUKI e SOUZA, 2010)
Além desses conceitos reforçados pelo arquiteto também na prática, em seus projetos hospitalares da rede Sarah por exemplo como mostra as figuras 37 e 38, ele sempre tentou utilizar a conexão com a natureza e um ótimo domínio de inovações técnicas que contribuíssem para o bom funcionamento de seus projetos.
Figura 37: Contato com a natureza – Rede Sarah. Fonte: ARCOWEB.
Figura 38: Natureza, Arte e novas tecnologias. Fonte: ARCOWEB.
O RESGATE DE UMA ÉPOCA
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Conforme explicitado nos capítulos anteriores, o ambiente da pessoa com doença de Alzheimer tem a capacidade de modificar o humor, o comportamento, a habilidade social e de estimular cognitivamente este grupo de usuários. Por isto, uma instituição de longa permanência para idosos com Alzheimer deve ser bem planejada, bem organizada e buscar ter elementos harmônicos que consigam tanto fazer com que estes idosos interajam com o espaço, quanto que se sintam pertencentes a eles adotando-os como seu lar. Segundo SILVA, et Al. (2010, p. 181) “a casa é espaço de apropriação e permanência, lugar da rotina, do viver o dia a dia.”. Neste caso, como visto no capítulo II sobre “Identificação com o espaço”, os elementos arquitetônicos têm a capacidade de interagir com a memória permitindo um resgate afetivo que está ligado por reações sensitivas, não sendo necessário uma evocação da memória, visto que os pacientes de D.A não possuem mais esta habilidade. Por esta razão, foi estabelecido como diretriz deste projeto, tirar partido de alguns elementos marcantes da história da arquitetura pernambucana. Em primeiro momento tentou-se estabelecer um recorte temporal específico para a análise desta arquitetura, contudo, como o Alzheimer Senil ocorre a partir dos 65 anos e aumenta o grau de incidência com o passar dos anos, houve uma variância temporal bastante abrangente e que talvez não representasse bem estes usuários. Além disso, pelo fato de muitos terem possuído realidades de vida diversas e por estar se tratando do debate contemporâneo de uma doença em expansão na sociedade, optou-se por utilizar elementos característicos do ideal de casa pernambucana que possuam um caráter mais universal, indo além da idade e do nível social. Esta arquitetura da casa pernambucana, segundo NASLAVSKY (2003), trouxe em um primeiro momento “soluções de conciliação entre linguagem carioca e o Nordeste brasileiro, seja nas soluções de planta ou aspectos funcionais, nos materiais locais, na adequação ao clima ou na integração ao meio.”. Como principais nomes desta arquitetura está o arquiteto português Delfim Amorim e o arquiteto carioca Acácio Gil Borsoi que foram grandes 100
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influenciadores na constituição de um estilo arquitetônico pernambucano. A partir destes arquitetos, a casa pernambucana recebeu influências da arquitetura rural do período colonial, “ganhando sua versão regional, mais leve, com varandas, amplos telhados e generosos beirais.” (NASLAVSKY, 2003), bem como, posteriormente, foram introduzidos elementos da arquitetura brutalista internacional de forma adequada aos padrões construtivos artesanais do meio pernambucano.
“(...)a utilização dos materiais rústicos e naturais tais como o concreto aparente, o tijolo cerâmico, a madeira, a pedra, superfícies revestidas de azulejos ou revestimentos cerâmicos, pastilhas. O respeito aos rigores do clima tropical está presente na utilização dos peitoris e bandeiras ventiladas, de esquadrias com venezianas em madeira rústica, de elementos vazados sabiamente explorados e de grandes beirais. Os telhados bruscamente inclinados cobertos com telhados cerâmicas ou de fibro-cimento contrastam com as lajes planas em concreto armado ou com as cobertas planas em estruturas de madeira com telhas de cimento amianto.” (NASLAVSKY, 2003).
Estes elementos arquitetônicos tornaram-se cada vez mais recorrentes nas construções pernambucanas, visto que influenciaram as gerações posteriores de arquitetos de renome como Wandenkolk Tinoco, Vital Pessoa de Melo e entre outros arquitetos que fortaleceram esse ideal de “casa pernambucana”. De uma maneira geral, elementos vazados como o COBOGÓ, as bandeiras ventiladas, esquadrias e pisos de madeira, tijolo aparente, azulejos cerâmicos, varandas e etc, são exemplos de elementos presentes em todas as gerações da família pernambucana. Seus pontos positivos são a versatilidade destes em evidenciar a iluminação e ventilação natural, além de permitir uma integração com o meio e um jogo natural de contrastes. Portanto, como diretriz projetual será feita referência a estes elementos de forma harmônica com uma proposta contemporânea da arquitetura, resgatando a memória sensitiva de um ‘passado’
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em diálogo com o presente.
PARTIDO ARQUITETÔNICO
Diante dos referenciais teóricos apresentados correspondentes ao avanço da incidência da doença de Alzheimer no Brasil e no mundo, das necessidades especiais dos pacientes de D.A e da carência de um espaço assistencialista de caráter terapêutico no tratamento desta doença, foram estabelecidas diretrizes projetuais que serviram de apoio e fortalecimento do estudo. O projeto possui três aspectos fundamentais de atuação: O cognitivo, o social e o físico (Figura 39). A partir destes foram desenvolvidas as necessidades básicas do projeto que se definem por: estímulos sensoriais de forma equilibrada, identificação com o espaço através da personalização e uso de elementos arquitetônicos “familiares”, maximização do senso de direção e percepção, conduzir a interação social, está inserido em um contexto urbano, promover a independência e automação através dos conceitos de desenho universal, manter níveis de privacidade e garantir segurança e proteção. Estas diretrizes foram concretizando o Conceito das sinapses nervosas9 de maneira espacial, no qual os ambientes criados irão agir como pontos de trocas de informações, restabelecendo de forma sensorial e intuitiva o papel destas sinapses neurais que vão sendo gradativamente perdidas com a doença de Alzheimer. Ou seja, o projeto foi estruturado de forma a conduzir o residente para estes pontos centrais através de estímulos visuais, auditivos e olfativos, principalmente. A sinapse é a relação funcional de contato entre as terminações/extremidades das células nervosas. Trata-se de um conceito que provém de um vocábulo grego que significa “união” ou “vínculo”. CONCEITO.de, Conceito de Sinapse, 2012. Disponível em: <https://conceito.de/sinapse>. 9
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Figura 39 – Aspectos fundamentais de atuação do projeto Fonte: Autora,2018.
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VII
O TERRENO
ESCOLHA DO TERRENO
O espaço urbano possui um papel fundamental no fortalecimento do projeto, afinal, é ele que irá suprir as necessidades físicas, ambientais e sociais que caracterizará a instituição. Com base nas pesquisas teóricas sobre o tema, nos estudos de caso e referenciais e nas diretrizes projetuais elencadas, percebe-se que a instituição de longa permanência para idosos com Alzheimer deve permitir uma inserção no contexto urbano, porém de forma segura e controlada. Ao contrário de Hogeweyk, explicitado no capítulo V, ainda não há demanda suficiente para o desenvolvimento de uma vila para idosos com Alzheimer em Recife, partindo do princípio de que este trabalho pretende ser um ponto de partida para conscientizar as pessoas deste mal e das possibilidades que um centro especializado pode proporcionar. Desta forma, buscou-se um terreno vazio de área compatível ao estipulado a partir das análises dos estudos de caso e referenciais. Como a cidade do Recife possui um clima tropical quente e úmido, cuja temperatura média anual é de 25.8º C e variação de 2,8ºC (CLIMATILEDATA.ORG), decidiu-se tirar partido da proximidade com o Rio Capibaribe, a fim de permitir além de temperaturas mais amenas e um melhor aproveitamento térmico, um visual aconchegante de proximidade com a natureza. Outro critério utilizado para a escolha deste terreno condiz com a necessidade de esta instituição possuir um fácil acesso para seus visitantes, familiares e funcionários mas também ter um fácil escoamento pois, por se tratar de uma instituição que abrange a assistência à saúde, é necessário prever casos emergenciais que necessitam do apoio hospitalar. Dessa forma, é importante que este terreno esteja bem localizado em relação à maior parte das
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áreas da cidade do Recife, possua uma boa e variável oferta de transportes públicos e outros modais e esteja relativamente próximo ao polo hospitalar da Região Metropolitana. Para um melhor entendimento das dinâmicas atuais das ILPIs no Recife, foi feito um mapa indicando estas zonas de interesse (Figura 40).
Figura 40– Mapa das zonas de interesse para escolha do terreno. Fonte: Google Maps. Editado pela Autora, 2018.
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Através disso foi possível identificar uma zona de interesse para a escolha do terreno. O critério de desempate para restringir ainda mais este recorte consistiu na caracterização do bairro, possuindo condicionantes legais que proporcionassem e incentivassem a horizontalidade, que fosse bem arborizado e que possuísse uma identidade forte de caráter de vizinhança. Desta forma, o bairro escolhido foi o Poço da Panela. Segundo CHAVES (2015), o Poço da Panela é um bairro surgido no século XVIII proveniente das terras do engenho de casa forte. Por ter seu caráter histórico, boa parte de sua área pertence à ZEPH (Zona Especial de Proteção ao Patrimônio Histórico) pelo zoneamento da cidade de Recife. Segundo dados encontrados no site da Prefeitura Municipal do Recife, o bairro possui cerca de 4.615 habitantes, onde destes, 15,59% corresponde à população de faixa etária acima dos 60 anos de idade, em uma área territorial de 81 hectares. “Arruando por terras do antigo Engenho de Ana Paes (séc. XVII), no atual bairro da Casa Forte, o caminhante vai encontrar a Estrada Real do Poço, através da qual se chega ao Poço da Panela, uma espécie de santuário urbano com o seu casario e Igreja de Nossa Senhora da Saúde (séc. XVIII) a relembrar um tempo em que os banhos do Capibaribe faziam bem à saúde e eram parte da vida de toda a população.” SILVA, Leonardo Dantas. Poço da Panela (bairro, Recife).
Além do forte laço histórico trazido pela relação desta área com o Capibaribe, o ar bucólico característico deste bairro, traz tranquilidade para a população residente, sendo considerado por muitos como um refúgio no meio da cidade do Recife. Segundo dados geográficos baseados na classificação de Koppen, o Poço da Panela ainda possui uma temperatura média inferior ao resto da cidade, havendo uma diferença de pelo menos 3ºC (WIKIPEDIA, 2017). Desta forma, é possível promover um clima mais agradável física e psicologicamente, reforçando a inserção em um contexto urbano acolhedor. Portanto, o terreno escolhido está localizado nas margens do Rio Capibaribe, sendo praticamente plano e possuindo uma área de 2569,00m². Segundo depoimentos da vizinhança, atualmente o terreno está desocupado e em fase de venda para a Incorporadora 109
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Haut. Possui uma ótima localização, estando situado na Rua Marquês de Tamandaré, permitindo um acesso direto à Av. Dezessete de Agosto, principal via que estrutura o bairro. Assim, ele permite um fácil acesso, uma boa oferta de transporte público e possui uma distância de aproximadamente 2,7km do hospital mais próximo (Figura 41).
Figura 41 – Localização do terreno. Fonte: Google Maps. Editado pela Autora, 2018.
O terreno escolhido está localizado, sobretudo, em uma área marcadamente residencial, 110
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possuindo no entanto, um bom abastecimento de atividades de lazer, de serviço e comerciais conforme o Mapa representado na figura 43. O trecho na Rua Marquês de Tamandaré, onde o terreno está localizado, não é asfaltado e também não possui calçada em sua testada, tratando-se de uma área que poderá ser melhor conectada com o bairro. O maior ponto de interesse deste terreno, além do contato direto com o rio e uma forte massa arbustiva, consistiu na existência do “jardim secreto” localizado à frente do terreno (Figura 42). Este ‘jardim’ trata-se na verdade de uma iniciativa da própria população residente em criar uma horta comunitária para o bairro sendo este um novo ponto de encontro e troca de Figura 42 – Relação entre o terreno e o Jardim Secreto. Fonte: Henrique Santos. Editado pela Autora, 2018.
relações. Sabendo que a horta é uma alternativa interessante para estímulos
cognitivos e restabelecimento de relações sociais, esta será utilizada como um forte elo de ligação entre os pacientes de Alzheimer residentes da ILPI com a cidade.
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Figura 43: Mapa de uso do solo. Fonte: Google Maps. Editado pela Autora, 2018.
As visadas representadas no mapa e identificadas nas figuras abaixo foram resultado
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de visitas feitas à área, sendo possível perceber fraquezas e ameaças, bem como suas potencialidades e oportunidades. Como pode ser observado nas Visadas A e B (Figuras 44 e 45) o muro atual do terreno chega próximo à faixa verde do rio, ultrapassando portanto, a dimensão do lote previsto pelo Plano Urbanístico da cidade do Recife. Desta forma, este trecho é visto como um oportunidade de abertura e integração do Jardim Secreto, que pode ser visto nas visadas C e D (Figuras 46 e 47)
Figura 44 – Visada A – Muro existente.
Figura 45 – Visada B – Avanço do muro.
Fonte: Autora, 2017.
Fonte: Autora, 2018.
Figura 46 – Visada C – Acesso ao Rio.
Figura 47 – Visada D – Jardim Secreto.
Fonte: Autora, 2017.
Fonte: Autora, 2017.
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JARDIM SECRETO DO POÇO DA PANELA
Este misterioso jardim nada mais é do que a concretização do sonho de vários moradores da região. Segundo informações compartilhadas com a Arquiteta Nathália Zoauin e a jornalista Raynaia Uchôa, integrantes do “Coletivo Jardim Secreto” -grupo idealizador do projeto-, e de notícias divulgadas em blogs e nas redes sociais do Jardim Secreto, a ideia de uma horta comunitária para a área partiu de uma das moradoras do bairro e se concretizou a partir da mobilização dos moradores e parcerias com a AMAPP (Associação dos Moradores e Amigos do Poço da Panela), SDSMA (Secretaria de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente) e o INCITI-PE, um dos responsáveis pelo projeto do Parque Capibaribe. De acordo com Uchôa (2017), o terreno estava sendo utilizado como ponto de despejo de entulho, de lixo e de usuários de droga (Figura 48). Esta ideia não só “Ressignificou o terreno”, mas também trouxe mais vida para a área, como disse Antônio Pinheiro, presidente da AMAPP, apud Uchôa (2017): “É também uma grande oportunidade para que os vizinhos, moradores e amigos do bairro passem a interagir, se conhecer e comecem a juntar forças para melhorar a qualidade de vida que atinge a todos”.
Figura 48: Terreno do Jardim Secreto - entulho de lixo. Fonte: Raynaia Uchôa, 2017.
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O Coletivo Jardim Secreto é formado por amigos de várias áreas de atuação, como arquitetos, agrônomos, administradores e jornalistas que desenvolvem várias reuniões para tomadas de decisão e foram responsáveis pela materialização dos desejos para o Jardim. Eles buscaram preservar a vegetação existente e dispor de vários espaços destinados ao cultivo de Hortaliças, espécies Frutíferas, Ornamentais e Medicinais, conforme pode ser observado nas figuras 49 e 50.
Figura 49: Estudo Preliminar 1. Fonte: Coletivo Jardim Secreto.
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Figura 50: Estudo Preliminar 2 após orientações do INCITI. Fonte: Coletivo Jardim Secreto.
Conforme o projeto vai criando forma, novas ideias e adaptações vão sendo realizadas conforme mostra a figura 51. Contudo, o mais importante é o impacto positivo que esta ação está proporcionando para a comunidade do entorno, promovendo ações de interações urbanas e sociais que revitalizam a área e promove a conscientização urbana, paisagista e cultural.
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Figura 51: Foto aérea do Jardim Secreto. Fonte: Henrique Santos, 2017.
CONDICIONANTES LEGAIS
Segundo o zoneamento da Cidade do Recife, o Poço da Panela pertence a uma Zona Especial de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural classificada como ZEPH 5. O terreno em questão está delimitado no Setor de Preservação Ambiental I - SPA 1 e localizado no Setor de Reestruturação Urbana 3 - SRU 3, que são áreas que margeiam o rio, possuem uma tipologia unifamiliar e têm o objetivo de conservar elementos já existentes em termos de paisagem natural, conforme pode ser observado na figura 52 a seguir. De acordo com o Plano Diretor do Recife (LEI nº 17.511/08) em seu Capítulo II das ‘Divisões Territoriais’, subseção III das Zonas Especiais: “Art. 114 As Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural - ZEPH são áreas formadas por sítios, ruínas, conjuntos ou edifícios isolados de expressão artística, cultural, histórica, arqueológica ou paisagística, considerados
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representativos da memória arquitetônica, paisagística e urbanística da cidade.”
Figura 52: Trecho do Mapa de Zoneamento do Recife Fonte: ESIG/Prefeitura do Recife.
No Capítulo III, Título VI das Disposições Gerais e Transitórias, ele diz que: “Art. 222 Deverão ser adotados em caráter transitório, até a revisão da Lei de Uso e Ocupação do Solo, os parâmetros a seguir relacionados, constantes das Leis Nº 16.176/96 e 16.719/01: VI - Relativamente às Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural - ZEPH, deverá ser obedecido ao determinado no Anexo 8 da Lei nº 16.719/01 para a ZAC Controlada 2 e no Anexo 11 da Lei nº 16.176/96 para as demais zonas, e os dispositivos referentes ao coeficiente de utilização, à taxa de solo natural e aos afastamentos para os Setores de Preservação Ambiental - SPA
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deverão também atender aos das zonas adjacentes a estes setores, indicadas na presente Lei.”
“Art. 225 Os Anexos 3 e 11 da Lei nº 16.176/96, o Anexo 8 da Lei nº 16.719/01 e o Anexo I da Lei nº 16.284/97, que tratam da identificação das Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Histórico-Cultural - ZEPH e Imóveis Especiais de Preservação - IEP, continuarão em vigor até que sejam alterados nos termos da legislação específica.”
Dessa forma, no Plano Diretor do Recife, que é a lei em vigor mais atual, é indicado que sejam seguidos os parâmetros para as ZEPHs previstos na Lei de Usos do Solo (LEI nº 16.176/96) e na Lei dos Doze Bairros de Reestruturação Urbana (LEI nº 16.719/01). Com esta Lei nº 16.719/2001 foi criada a área de reestruturação urbana- ARU com o objetivo de requalificar o espaço urbano coletivo, permitir a convivência de usos múltiplos, condicionar o uso e a ocupação do solo à oferta de infraestrutura instalada, tipologia arquitetônica e paisagem urbana, proteger áreas em suas condições ambientais e respeitar as configurações morfológicas, tipológicas e características específicas. E foi sob este conceito que foi criada a lei dos 12 bairros que determina parâmetros específicos para algumas áreas de Recife, entre elas o bairro do Poço da Panela. Sabendo que o terreno em questão possui sua testada principal voltada para a Rua Marquês de Tamandaré e que, conforme identificado no Anexo 4 da Lei dos Doze Bairros, a esta rua está classificada na categoria C de dimensionamento das vias, é possível identificar os condicionantes legais previstos para este terreno através dos parâmetros urbanísticos classificados no Anexo 6 da mesma lei (Figura 53).
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Figura 53: Anexo 06 – Parâmetros Urbanísticos. Fonte: LEI nº 16.719/01. Editado pela Autora, 2017.
Sabendo que a área do terreno é de 2.569,00m² é possível estabelecer que seu coeficiente máximo de ocupação é de 5.138,00m² (2x 2569,00m²) e que sua Área de Solo Natural deve corresponder a 1.541,40m² (60% de 2569,00m²) (Figura 54).
Figura 54: Esquema dos condicionantes legais do terreno. Fonte: Autora, 2017.
Contudo, percebeu-se que a Taxa de Solo Natural de 60% poderia subutilizar o uso da edificação, cuja tipologia deve priorizar o pavimento térreo e exige a proposta de estacionamento no lote. Conforme observado no Anexo 11 da Lei de Uso dos Solos de Recife,
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estabelecia que a ZEPH 05 seguisse os parâmetros Urbanísticos da ZUP 2, cuja taxa de solo natural era equivalente a 50%, com pode ser visto no Capítulo VI da Ocupação do Solo, Subseção I (LEI nº 16.176/96):
“Art. 67 Na ZUP 2, a Taxa de Solo Natural será de 50% (cinqüenta por cento), admitindo-se uma parte tratada com revestimento permeável que não ultrapasse 10% (dez por cento) da área total do terreno, ressalvado o disposto no parágrafo único
deste
artigo.
Parágrafo Único. Poderá ser concedida uma ampliação da área a ser tratada com revestimento permeável, desde que sejam preservadas as árvores existentes, na proporção de 10m² (dez metros quadrados) por árvore, desde que o somatório dos valores correspondentes às árvores não exceda a 10% (dez por cento) da área total do terreno.”
Para este trabalho de graduação, devido a intenção de retirada do muro existente (que ultrapassa os limites legais, conforme exposto acima) para a disponibilização da área verde natural e preservada para o agregá-la ao Jardim Secreto, utilizou-se como mínima a taxa de 50% para solo natural. Dessa forma, fica o questionamento quanto à revisão das leis municipais do Recife e de seus Planos Urbanísticos, visto que, ainda carece de compatibilização legal e de readequação à realidade atual de crescimento urbano. Em relação ao estacionamento, tanto na da Leis dos doze bairros quanto na RDC 283 da ANVISA, não há parâmetros específicos para Instituições de Longa Permanência para Idosos, no entanto, por possuir atividades voltadas para o atendimento à saúde, esta tipologia deve seguir os requisitos previstos para esse uso, conforme está indicado no Anexo 5 da lei dos doze bairros (Figura 55).
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Figura 55: Anexo 05 – Requisitos Estacionamento. Fonte: Autora, 2017.
CONDICIONANTES FÍSICO-AMBIENTAIS Em relação aos condicionantes físicos e ambientais do bairro, estes são bastante favoráveis devido à vasta presença de uma massa arbórea e a predominância do gabarito baixo (Figura 56). Além disso, o bairro é caracterizado por uma baixa densidade construtiva conforme observado no Mapa de Cheios e Vazios (Figura 57), permitindo uma melhor circulação dos ventos predominantes.
Figura 56: Vista Aérea da área- Gabarito. Fonte: Henrique Santos, 2017.
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Figura 57: Mapa de cheios de vazios da área. Fonte: Autora, 2017.
Por mais que o terreno possua sua visada de maior interesse voltada para o oeste, a vegetação existente na faixa de preservação de solo natural do Rio Capibaribe é um importante agente protetor contra a incidência direta dos raios solares mais quentes, visto que tratam-se de espécies de grande porte (Figura 58). Esta característica é de suma importância para o zoneamento da proposta, sendo esta área poente uma ótima oportunidade de integração com o Rio e com o Jardim Secreto. Vale ressaltar, contudo, que a doença do Alzheimer limita a abertura do terreno, devendo-se tomar cuidado a fim de priorizar a segurança dos idosos.
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Figura 58: Mapa dos condicionantes Ambientais. Fonte: Henrique Santos, 2017. Editado pela Autora, 2018.
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VIII
ETAPAS PRÉ-PROJETUAIS
PROGRAMA DE NECESSIDADES
Uma Instituição de Longa Permanência requer um conjunto de funções básicas, previstas pela RDC 283 (ANVISA, 2005), a fim de suprir as necessidades do idoso residente. Por este projeto ser voltado para um grupo de idosos ainda mais específico, foi desenvolvida uma relação programática baseada também nas informações obtidas nos Estudos de Caso e Estudos Referenciais, embasado nos estudos teóricos supracitados e no desejo das pessoas entrevistadas. Dessa forma, esta edificação permeia entre o suporte de saúde e de caráter institucional, entre a ideia de lar e também de espaço comunitário e social. Com isso, os ambientes propostos são: ▪
Recepção: É o ambiente responsável pelo controle de acesso à instituição, direcionando o visitante, o familiar e/ou o profissional para seus respectivos destinos, conseguindo assim, preservar a setorização da edificação e garantir a privacidade em determinados usos. Este ambiente deve promover conforto e acolhimento visto que é o primeiro contato para com a instituição, por isso deve dispor de um estar aconchegante e possuir um banheiro de apoio. Além disso, este ambiente deve estar situado de forma central aos acessos principais.
▪
Sala Administrativa: Nesta sala estarão situados todos os postos de trabalho relacionados à parte corporativa e funcional da instituição, na qual haverá um controle burocrático tanto da parte relacionada aos funcionários, quanto aos familiares dos residentes.
▪
Sala de reunião: Neste ambiente serão realizadas reuniões entre funcionários e também com os familiares, desta forma, foi previsto para este ambiente uma mesa
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de reunião menor de 4 lugares para atendimentos mais rápidos e diários e uma mesa de reunião maior com capacidade para 8 lugares. ▪
Arquivo: Local disponibilizado para armazenamento de documentações.
▪
Copa Administrativa: Destinado aos funcionários da parte administrativa e de saúde, dispondo de uma geladeira, micro-ondas, filtro e bancada de apoio para dois lugares.
▪
Banheiro Administrativo: Destinado aos funcionários de saúde e administração.
▪
Consultórios: Pelo fato de os profissionais de saúde atenderem em turnos alternados e determinados é possível haver apenas dois consultórios para suprir a demanda. Estando disponibilizados para o Geriatra, Psicólogo, Nutricionista, Fisioterapeuta e terapeuta ocupacional, estando estes últimos, normalmente, em outros ambientes para o desenvolvimento de atividades físico-motoras, como na sala multiuso, na área da piscina e nas próprias áreas de estar da instituição.
▪
Enfermaria: Ambiente de primeiros socorros e armazenamento de medicações, dispondo de um profissional da área em todos os turnos.
▪
Lavanderia: A lavanderia conta com espaços setorizados em área de roupa suja, área de lavagem e secagem, área de roupa limpa -onde são passadas e dobradas- e a área de armazenamento para serem devolvidas aos residentes. Este serviço, segundo as normas da ANVISA, pode vir a ser terceirizado, no entanto, observa-se a necessidade diária de haver um local de apoio para esta atividade na própria instituição, sobretudo para a área de passagem e dobra das roupas.
▪
Área técnica
▪
Lixo / Gás
▪
Reservatório de água
▪
Vestiários dos funcionários: Segundo a RDC 283 é prevista uma área de 0,5m² por funcionário por turno. Devendo haver espaço para armários individuais para que os pertences pessoais sejam guardados.
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▪
DML: Local de armazenamento de materiais de limpeza.
▪
Depósitos: Possuindo depósitos de materiais gerais, bem como de apoio à cozinha, sendo divididos em depósito seco e frio.
▪
Almoxarifado: Ambiente reservado para armazenamento de materiais de apoio à instituição. Segundo a RDC 283, é previsto que o almoxarifado tenha no mínimo 10m².
▪
Cozinha: A cozinha deve possuir depósitos para armazenamento dos alimentos (frio e seco) incluindo uma despensa diária onde serão selecionadas as quantidades necessárias para o dia-a-dia. Internamente ela deve ser subdividida em área de preparo dos ingredientes, de cocção, de bebidas e sobremesas, de louça limpa e louça suja e, por fim, a de montagem dos pratos para a distribuição.
▪
Copa dos funcionários: Espaço reservado para alimentação e relaxamento dos funcionários, havendo um suporte de copa, mesa e um sofá para garantir um certo conforto a estes profissionais, visto que, pode haver uma carga exaustiva no cuidado diário de pessoas com Alzheimer.
▪
Dormitório dos cuidadores: Considerando a necessidade de os cuidadores dormirem na instituição, sobretudo no turno da noite, serão previstos dois dormitórios com banheiros exclusivos e capacidade para 2 cuidadores cada. Segundo a RDC 283, no grau III é recomendado 1 cuidador a cada 6 idosos. Ou seja, havendo uma capacidade para 20 idosos, consta-se a necessidade mínima de 4 cuidadores por turno. Este ambiente deve estar localizado próximo aos dormitórios dos idosos para que o cuidador esteja sempre dando suporte ao paciente com Alzheimer.
▪
Dormitórios do idosos: Foram previstas 20 suítes individuais para os idosos que O quarto dos idosos deve possuir cores claras internas e terem a possibilidade de serem personalizados, permitindo possibilidades diferentes de layout. Deve ser um espaço aconchegante e que garanta uma boa vista para a área externa. Sua iluminação deve ser bem estudada para evitar ofuscamento e estados de confusão. Eles são 129
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compostos por uma cama, armários e devem dispor de banheiros acessíveis individuais e de fácil entendimento. ▪
Cozinha terapêutica: Ambiente reservado para pacientes com Alzheimer que ainda não possuem um grau de comprometimento cognitivo muito avançado e que consigam desempenhar determinadas funções. Sendo considerado muito mais traumático para o Alzheimer a parada brusca de seus hábitos, é necessário que este ambiente garanta a segurança dos usuários, sendo sempre bem monitorado, não dispondo de materiais pontiagudos e de fogo. Além disso, os armários devem ser acessíveis e seguros.
▪
Sala de Jantar: A fim de atenuar o caráter institucional e retomar um aspecto residencial, foi proposta uma sala de Jantar em vez de um refeitório. Dessa forma, mesas grandes permitirão a alimentação conjunta dos idosos, permitindo maior sociabilização entre os residentes.
▪
Sala de Estar: Espaço reservado para descanso dos residentes.
▪
Sala de TV: Ambiente bastante utilizado pelos idosos, visto que foi um dos mais solicitados entre os estudos de caso.
▪
Sala Multiuso: Espaço versátil que abriga diversas atividades físicas, como Pilates e dança, e cognitivas que promovem a interação entre os idosos e estimulam a memória, como a musicoterapia e a pintura por exemplo. Dessa forma, Este ambiente pode ser aberto quando for necessário abrigar maior quantidade de pessoas e possui atividades determinadas e sempre acompanhadas por profissionais da área.
▪
Espaço Ecumênico: Reservado para abrigar as mais variáveis religiões dos idosos, sendo um espaço de paz e de relaxamento da alma e com um caráter mais de templo.
▪
Área da Piscina: Área para a realização de atividades físicas aquáticas, como hidroginástica e hidroterapia, sendo sempre acompanhadas por algum profissional da área.
▪ 130
Horta acessível: Horta com várias alturas permitindo o manuseio por qualquer um dos
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residentes, aproximando seu contato com a natureza. ▪
Jardim Sensorial: Jardim que desperta a curiosidade através dos sentidos, aguçandoos e chamando a atenção a partir de cores exuberantes e espécies com aromas específicos. Dessa forma ele atrai o idoso e pode servir como um ponto de referência e orientação espacial.
▪
Solário
▪
Área de jogos ao ar livre Estes ambientes propostos devem ser organizados de forma lógica e sistemática a fim
de garantir o bom funcionamento da edificação. De maneira geral, eles podem ser divididos em cinco setores: Saúde, Administrativo, Lazer, Íntimo e de Serviço, conforme explicitado na Tabela I. TABELA I – SETORIZAÇÃO DO PROGRAMA SAÚDE ADMINISTRATIVO LAZER ÍNTIMO SERVIÇO
Consultórios, Enfermaria; Recepção, Sala Administrativa, Sala de Reuniões, Arquivo, Copa Administrativa, banheiros; Cozinha Terapêutica, Sala de TV, Sala de Jantar, Sala de Estar, Sala Multiuso, Espaço Ecumênico, Área da Piscina, Horta Acessível, Jardim sensorial, Solário, Área de jogos ao ar livre, Banheiros e Vestiários; Dormitórios (Suíte); Lavanderia, Área técnica, Lixo, Gás, Reservatório de água, Vestiários dos funcionários, DML, Depósitos, Almoxarifado, Cozinha, Copa dos funcionários, Dormitório dos cuidadores; Fonte: Autora, 2018.
No setor de saúde estarão situados os consultórios e a enfermaria para atendimentos básicos pelos profissionais de saúde do centro, podendo haver um acesso direto à instituição, visto que, estes profissionais também podem atuar em outros setores. No setor Administrativo será organizada toda a parte burocrática e de gerenciamento da instituição, sendo mais destinado aos visitantes, familiares e profissionais técnicos da área. Já o de lazer, que deve ser correspondente ao “coração” da edificação por ser a principal forma de estímulos cognitivos, físicos e sociais, abriga todos os espaços de atividades, de interação e
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de relaxamento. No setor íntimo o espaço deve retomar o aspecto de lar, promovendo maior privacidade e personalidade. E por fim, no setor de serviço estarão concentrados todos os espaços de apoio geral à instituição bem como áreas para funcionários e cuidadores, os quais precisam estar presentes em diferentes turnos. A partir destes estudos, foi possível realizar uma análise dos fluxos desta edificação, bem como entender a relação entre estes setores, prevendo uma organização espacial que fosse funcional, intuitiva e simples, maximizando a capacidade de orientação dos usuários, conforme a Figura 59.
Figura 59: Organofluxograma.
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Fonte: Autora, 2018.
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ZONEAMENTO Estas análises programáticas e de fluxos entre os principais setores da edificação permitiram com maior primor seu rebatimento no terreno escolhido, levando em consideração os aspectos físico-ambientais, legais e, sobretudo, de seu entorno. Conforme observado na figura 60, o zoneamento da edificação teve sua implantação em formato de “U”, gerando um pátio interno interligado com a sua melhor face que é voltada para o Rio Capibaribe e o Jardim Secreto. Os setores de Saúde e administrativos ficaram situados na testada da Rua Marquês de Tamandaré, principal via que atende o terreno. Desta forma, o acesso principal será controlado por estes setores de forma a elevar as zonas sociais e íntimas a uma escala mais reservada e privativa. Com a possibilidade de acesso pela Travessa Luiz Guimarães, foi possível concentrar a parte de serviços nesta face, bem como a entrada de funcionários e de materiais. O estacionamento para funcionários e visitantes também foi locado nesta área do terreno, aproveitando o recorte já existente de divisa com outro lote. Contudo, o acesso à edificação por parte dos visitantes se mantém o mesmo. De forma geral, a zona social foi pensada como um “setor transitório” entre o administrativo e o habitacional, a qual se portaria como uma extensão coberta do pátio. Com isso, o terreno possui uma ventilação cruzada e contínua, permitindo maior conforto em todos os ambientes e garantindo maior integração dos jardins nos espaços internos. O pátio central, apesar de estar voltado para o poente, possui uma massa arbustiva bastante representativa que garante sombra nas principais áreas de atividades. E, por mais que seja necessária a inserção no contexto urbano, esta deve garantir a segurança do idoso com Alzheimer, por isso, um muro de COBOGÓ foi pensado para dividir fisicamente, contudo, mantendo uma certa permeabilidade visual entre o interior e o exterior.
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Figura 60: Zoneamento Fonte: Autora, 2018.
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ESTUDOS VOLUMÉTRICOS Em paralelo aos estudos de zoneamento e organização funcional dos setores que compõem a edificação, foram feitos estudos volumétricos a partir de cada proposta a fim de resultar na solução mais adequada diante dos conceitos teóricos estudados. Desta forma, foram identificadas algumas possibilidades até que chegasse a solução final. ▪
No Estudo 01 foi proposta a separação do bloco de serviços para que o refeitório estivesse localizado mais próximo da recepção servindo também de ponto de encontro para os familiares. Além disso, o sistema de circulação vertical seria através de uma rampa visto que é a forma mais intuitiva e independente para um idoso com Alzheimer. Desta forma, esta estaria localizada de forma linear no setor de Lazer separando fisicamente esta zona da área de serviços (Figuras 61 e 62).
Figura 61: Estudo 01 em perspectiva - Setores.
Figura 62: Estudo 01 em planta – Rampa.
Fonte: Autora, 2018.
Fonte: Autora, 2018.
Figura 63: Estudo Volumétrico 01 - Fachada Principal. Fonte: Autora, 2018.
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A partir disso, elaborou-se uma proposta da fachada principal (Figura 63), visando um caráter mais institucional para esta face em comum acordo com seu uso interno. Contudo, esta proposta se mostrava inviável diante da separação dos serviços e também em função da localização da rampa, visto que, ao concentrar a rampa de forma linear atrás dos usos de lazer, esta ficava escondida na edificação, perdendo seu caráter de autonomia. ▪
No Estudo 02, parte do setor de lazer foi relocado para o bloco térreo mais voltado para a Rua Marquês de Tamandaré. Para isso, o setor de saúde, foi posto em um primeiro pavimento avançando para dentro do pátio e dividindo espaço com a parte administrativa (Figura 64). Dessa forma, a rampa ficaria mais livre na zona de lazer, sem obstruções visuais e sem perder sua autonomia (Figura 65). O Setor de serviço seria condensado em um bloco único e o refeitório passaria a está mais próximo da zona íntima, servindo como um ponto de estímulo cognitivo a partir do sentido do olfato, atraindo os idosos com Alzheimer para a área social. Entretanto, a localização do bloco de Saúde se tornaria ineficaz no primeiro pavimento e passaria a ter um acesso muito distante da zona íntima, tornando esta alternativa inviável (Figura 66). Além disso, o setor de lazer ficou com espaços subutilizados, enquanto a parte de saúde e administrativa ficaram com espaços densos.
Figura 64: Estudo 02 em perspectiva - Setores.
Figura 65: Estudo 02 em planta – Rampa.
Fonte: Autora, 2018.
Fonte: Autora, 2018.
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Figura 66: Estudo Volumétrico 02 – Bloco Saúde. Fonte: Autora, 2018.
▪
Já no Estudo 03, buscou-se deslocar a rampa a fim de obter espaços mais soltos no setor de lazer. Para isto, ela foi implantada de forma perpendicular ao setor de Lazer, tornando-a mais intuitiva ainda e proporcionando um mirante para o Rio Capibaribe. Os setores administrativos e de saúde ficaram melhor zoneadas, assim como toda relação de fluxos (Figuras 67 e 68).
Figura 67: Estudo 03 em perspectiva - Setores.
Figura 68: Estudo 03 em planta – Rampa.
Fonte: Autora, 2018.
Fonte: Autora, 2018.
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Figura 69: Estudo Volumétrico 03 – Rampa. Fonte: Autora, 2018.
Entretanto, conforme pode ser observado na figura 69, a rampa neste posicionamento acaba segmentando o pátio interno e se tornando uma barreira visual. Além disso, na tentativa de torna-la menos barreira possível, sendo mais aberta, a coberta da rampa não possibilita a proteção contra a chuva tornandose, por conseguinte, insegura para os idosos devido aos riscos de queda. Portando, concluiu-se que a rampa neste posicionamento não é a melhor opção, retornando-a portanto para a localização anterior, porém, mantendo-a externa e possuindo outro formato, como pode ser revisto na figura 60 de zoneamento.
Figura 70: Casa Alfredo P. Correia. Fonte: FRANKSVESSON,BLOGSPOT.
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Neste estudo 03 pode-se observar uma proposta volumétrica diferenciada que virou diretriz para a proposta final. O uso de empenas nos volumes íntimos e administrativos em diálogo com as lajes planas e platibandas remete aos estudos feitos à Casa Pernambucana. Como ponto de partida para determinada volumetria, inspirou-se na Casa Alfredo P. Correia (1969) de Delfim Amorim e Heitor Maia Neto (Figura 70) como um exemplar arquitetônico que contempla de forma bem expressiva parte dos elementos dessa época.
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Figura 71: Esboço desenvolvido a partir da Casa Alfredo P. Correia. Fonte: Autora, 2018.
Tirando partido das empenas e do tijolo aparente, foi possível dá maior dinamicidade ao volume e proporcionar uma escala mais intimista e familiar aos idosos com D.A. As esquadrias de vidro e madeira foram bem exploradas, assim como os rasgos verticais nas fachadas mais administrativas. Essa proposta permitiu que a zona habitacional propusesse um caráter de vila e de lar (Figura 71) ao mesmo tempo que a zona de lazer, que possui uma coberta plana, sugerisse um espaço mais social e comunitário, de comunicação direta com o pátio interno e seus jardins. Por conseguinte, todos estes estudos foram de suma importância para que se chegasse à proposta final, visto que, foram identificados pontos positivos e negativos a fim de obter um resultado mais condizente com as necessidades de um espaço arquitetônico para tratamento do Alzheimer.
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IX
PROPOSTA
MEMORIAL DESCRITIVO
Este memorial tem como objetivo explicar como ocorreu todo o processo de decisão projetual que resultou na proposta final da Instituição de Longa Permanência para idosos com Alzheimer, localizada no bairro do Poço da Panela, Recife-PE. Ao compreender que a arquitetura pode ter sim um papel fundamental no tratamento do Alzheimer e como o espaço pode ser pensado para estimular diariamente esses idosos, buscou-se entender de que forma estes ambientes deveriam se comportar fisicamente. Como visto no capítulo I, a mente do portador de Alzheimer ainda pode ser estimulada de forma natural e intuitiva através dos sentidos e da memória afetiva. Tomando isto como base, viuse que os sentidos são os principais meios de reestabelecimento destas trocas de informações. O partido arquitetônico baseou-se nos princípios das sinapses nervosas, pois estas são responsáveis pela transmissão de informações entre os neurônios. Com isso, os espaços desempenham a “retomada” deste papel através de pontos sensorialmente estimulativos, ou seja, sinapses espaciais. Nos aspectos visuais foram explorados os usos de cores, texturas e de mobiliários, nos olfativo o uso de flores perfumadas ou ambientes de alimentação e auditivos através da musicoterapia e atividades de ginástica. Estas ‘sinapses espaciais’ auxiliarão no direcionamento e deslocamento dos idosos, visto que foram pensados a partir dos percursos diários prováveis de ocorrer por toda a edificação, conforme representado na figura 72 a seguir.
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Figura 72: Sinapses espaciais. Fonte: Autora, 2018.
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Ao sair do quarto, o idoso será guiado através da iluminação indireta do corredor e também pelas reentrâncias coloridas das paredes que despertam a curiosidade visual a cada passo dado, conforme está representado na figura 73. Estas reentrâncias e saliências, foram reservadas para a personalização do espaço através de quadros familiares que ajudam na identificação do quarto de cada idoso, além de serem espaços funcionais de alargamento da circulação. Todas as portas possuem bandeiras ventilada, porém, diferente das portas dos quartos que evidenciam o contraste da madeira, a porta que dá acesso à área de serviço foi “camuflada” com a mesma cor da parede.
Figura 73: Estímulos visuais do corredor da área íntima. Fonte: Autora, 2018.
No primeiro ponto de tomada de decisão, tirou-se partido da textura e cor de uma parede verde, além do perfume de flores que induzem o caminho até a sala de jantar (Figura 74). Neste espaço há um forte despertar do olfato, através do cheiro da comida nos momentos das refeições e também do paladar.
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Figura 74: Acesso à sala de jantar - Estímulo do Olfato, paladar e visão. Fonte: Autora, 2018.
Em seguida o idoso pode se direcionar para a sala de TV/Estar, que possui o mobiliário à vista e que promove uma sensação de aconchego e relaxamento, ou para a área externa do pátio. Um volume de banheiro foi centralizado a fim de ser de fácil acesso para toda a área social, no qual foi utilizada a cor amarela por ser uma cor que estimula a comunicação nestes espaços de estar, e também por promover um destaque para que sua funcionalidade seja efetivada. Esta sala de TV/Estar é um ambiente central e que provavelmente será muito utilizado pelos idosos. Por isso, a rampa de acesso ao primeiro pavimento é visivelmente acessada por ela. Por este espaço ser aberto e conectado com jardins, o pátio interno da edificação possui elementos que promove sinapses espaciais. Seu caminho é marcado pelas cores, texturas e perfumes das flores que induzem a caminhada para o pátio (Figura 75). Os usos inseridos no percurso, o tornam mais calmo e confortante além de despertar a curiosidade para redescobrir cada trecho. Além de que, o contato com a natureza e com o ar livre reforçam a sensação de bem estar.
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Figura 75: A curiosidade do percurso. Fonte: Autora, 2018.
Este percurso, que é composto por espaços de descanso, leva até a horta acessível que estimula sensorialmente através do tato, no qual o idoso cultiva suas próprias plantas. Neste trecho, o jardim sensorial desperta a curiosidade através da visão, do olfato e do tato das diferentes espécies de plantas para que se prossiga o caminho (Figura 76).
Figura 76: Horta acessível. Fonte: Autora, 2018.
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Deste jardim sensorial, tem-se uma visão interessante de todo o pátio, sobretudo da relação entre o setor íntimo e o setor social (Figura 77). Contudo, isto não representa o fim do percurso, pois ele segue conectado com a área de atividades físicas e motoras, como a piscina, na qual se desenvolve hidroginástica, e a sala multiuso que agrega atividades de dança, pilates, musicoterapia (Figura 78). Nesta última, é possível direcionar tanto sob a perspectiva deste percurso do pátio, quanto do setor social através, sobretudo, do sentido da audição.
Figura 77: Jardim Sensorial. Fonte: Autora, 2018.
Nesta área de piscina, entretanto, deve haver um certo cuidado a fim de garantir a segurança do idoso, que por mais que seja assistido 24h por uma equipe multidisciplinar, esta área deve ter um certo controle de acesso. Para que a fluidez e continuidade visual do percurso não fosse prejudicado, dispôs-se de um guarda corpo de vidro em seu trecho de maior acesso, correspondente ao da sala multiuso.
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Figura 78: Área de atividades físicas. Fonte: Autora, 2018.
De maneira geral, a implantação da edificação, bem como seu zoneamento e organofluxograma foi pensado de forma a reforçar a ideia inicial do partido arquitetônico, visto que, como sugerido no capítulo VIII, seguiram uma linha mais direta, simples e intuitiva (Figura 79), de forma que os ambientes, sobretudo das áreas íntimas e de lazer, fossem conectados como ciclos funcionais. Isto foi facilitado devido a aplicação do princípio de “plano aberto” de Van Hoof (2010), exposto no capítulo II, no setor social, permitindo uma leitura por completo do ambiente, maximizando a capacidade de orientação espacial do paciente com Alzheimer e reduzindo estágios de confusão mental.
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Figura 79: Implantação – Simples, direta e intuitiva. Fonte: Autora, 2018.
O paisagismo do pátio acompanhou essa implantação, buscando espécies de plantas se manifestassem através dos sentidos, conforme explicado acima, seguindo princípios do jardim sensorial (Figura 80). Desta forma, as plantas escolhidas foram baseadas no artigo “O
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jardim sensorial e suas principais características” da Arquiteta, Professora e Mestra Beatriz Chimenthi (2018). Basicamente foram divididas em três tipos: plantas com perfume, como a “Madressilva” e a “Bogarí”, plantas com texturas, como a “Espada de São Jorge” e a “Roel”, e plantas com fatores medicinais, como a “Cavalinha” e a “Maranta”. A plantas com função de tempero foram propostas na horta acessível, como o alecrim, o Hortelã e o Manjericão. As árvores utilizadas foram espécies já existentes no local, para manter a identidade vegetativa da área em comunicação com o Jardim Secreto. Segundo informações obtidas com o projeto deste jardim comunitário, as vegetações existentes na área são a Magueira, a Paquiira, Ipê, Cajazeira, Bananeira, Bambu, Coqueiro, Pau Brasil, Pau D’arco, Flamboyant e Ardeira.
Figura 80: Paisagismo Pátio. Fonte: Autora, 2018.
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Para suprir a demanda do uso, bem como acolher um quantitativo ideal de 20 idosos, a fim de não tornar o projeto subutilizado, foi necessário que a instituição possuísse um primeiro pavimento. No entanto, sabe-se da dificuldade que um idoso com Alzheimer e/ou problemas motores tem para subir escadas ou elevadores, visto que se a escada não estiver devidamente sinalizada com cores contrastantes para diferenciação dos degraus e corrimão adequado, ela se torna um risco diário. Em contrapartida, o elevador pode provocar um estranhamento nos idosos, os quais em momento de confusão e desorientação, podem se sentir preso e entrar em pânico. Por este motivo, a circulação vertical mais indicada é a rampa, visto que possui um caráter mais aberto no qual o usuário não perde a visão do todo, traz um sentimento de continuidade do piso e, com isso, pode ser considerada a opção que garante maior autonomia e independência aos idosos com Alzheimer. Por ser de grande extensão, a rampa deve possuir patamares intermediários, ser bem sinalizada e possuir guarda-corpo e corrimão conforme estabelecido na NBR 9050, além de estar inserida em um percurso interessante, aconchegante e de descobertas para os idosos com Alzheimer, conforme mostra a figura 81.
Figura 81: Rampa. Fonte: Autora, 2018.
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De qualquer forma, a rampa é proposta como o principal meio de circulação vertical para os idosos. Contudo, foi instalada também uma plataforma elevatória panorâmica, visto que, é necessário prever um possível deslocamento mais curto e rápido, normalmente com auxílio dos cuidadores, sendo portanto, instalada mais próximo dos dormitórios. Estruturalmente falando, a edificação é composta por uma construção de concreto, seguindo princípios de laje, viga e pilar. Para isso, todo o projeto foi pensado seguindo uma modulação derivada da medida mínima de 1,25m, tendo como eixos modulares 7,5m e 5m dependendo do setor e do seu uso, como mostra a figura 82.
Figura 82: Modulação. Fonte: Autora, 2018.
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Os pilares variam entre retangulares embutidos e circulares, nos locais onde eles estão aparentes, com diâmetro variante entre os 30cm. A coberta dos setores íntimo e administrativo são inclinadas, trazendo a ideia de empenas que também são características da arquitetura pernambucana e sugerindo um caráter mais reservado. Já nos setores de Lazer e de serviço a coberta é de platibanda, sobretudo no uso de lazer que possui espaços mais abertos promovendo uma maior integração com o meio externo (Figura 83).
Figura 83: Corte indicando as cobertas. Fonte: Autora, 2018.
As telhas utilizadas em toda a edificação são termoacústicas, também conhecidas como telhas sanduíche, as quais permitem uma inclinação mínima de 5% e um maior conforto térmico e controle dos ruídos externos. Optou-se pela cor terra para remeter um pouco mais à tradicionalidade pernambucana da telha cerâmica. A coberta da rampa foi feita a partir de um pergolado de madeira, engastado no muro e na própria edificação, com coberta de policarbocano fosco, translúscido e com tratamento térmico e acústico. Por ser alta e possuir um grande beiral, esta coberta permite que a ventilação continue circulando, contudo, protegendo da chuva. O pé-direito utilizado na edificação foi de 2,60m tentando se aproximar cada vez mais da relação de escala que uma casa possui. Para promover um caráter ainda mais intimista foi
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proposto um pergolado de madeira estaiado com 2,10m de altura que se inicia da parte interna da circulação, apoiando-se nos pilares da área de lazer, e avançando para o pátio externo conforme explicitado na figura 84.
Figura 84: Pergolado marcando a circulação. Fonte: Autora, 2018.
Os mobiliários propostos são ergonômicos e remetem às épocas passadas, com design aconchegante e “familiar”. Cada ambiente explora os materiais de revestimento e o layout a fim de promover a sensação adequada a seu uso. Por este motivo, os quartos possuem cores mais neutras e claras, tirando partido da iluminação para dar ideia da dimensão e do limite do quarto, além de direcionar para o banheiro acessível (Figura 85). Recomenda-se a personalização do quarto com elementos decorativos pessoais que possam acentuar o sentimento de pertencimento ao local.
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Figura 85: Quarto individual. Fonte: Autora, 2018.
Diferente do quarto que requer um aspecto mais calmo e tranquilo, a cozinha terapêutica possui um ar mais despojado e estimulativo (Figura 86). Este ambiente está inserido apenas no primeiro pavimento visto que este foi pensado para abrigar idosos preferencialmente nos estágios mais leves da doença, além de idosos acolhidos pelo serviço de Centro-Dia. Com isto, prevê-se que estes usuários possuem um grau de autonomia ainda pouco afetado pela doença. A cozinha terapêutica é um ambiente importante, visto que, defende-se que não se privar uma pessoa com Alzheimer de manter seus hábitos, desde que estes não representem risco à sua saúde física e mental. Outro ambiente interessante é o espaço ecumênico, que é um espaço pensado para que os idosos de qualquer religião possam fazer suas orações. Ele seguiu uma ideia de templo e por isso adotou um estilo mais minimalista, sendo reforçado pelo revestimento interno de madeira. Por seu caráter espiritual, foi tirado partido do uso de vitrais que recebem a luz do Sol e refletem suas cores na parede, atraindo os idosos através desse jogo de luz e sombra (Figura 87)
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Figura 86: Cozinha Terapêutica. Fonte: Autora, 2018.
Figura 87: Espaço Ecumênico. Fonte: Autora, 2018.
A Recepção é bastante aconchegante com o uso do vidro e do painel ripado de madeira, permitindo uma ótima iluminação e integração visual com o entorno, mantendo contudo, a privacidade da parte interna da edificação (Figura 88). Como a recepção é um
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ambiente que direciona para todos os setores da edificação e o setor de saúde funcionará para atender tanto a família dos idosos, possíveis novos moradores da instituição e também os idosos já residentes, não seria cômodo que ele possuísse apenas um acesso através da Recepção. Por este motivo, criou-se um outro acesso de forma a facilitar também para os fisioterapeutas e educadores físicos que irão fazer atividades na piscina ou na sala multiuso, conforme pode ser visto nas figuras 89.
Figura 88: Recepção. Fonte: Autora, 2018.
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Figura 89: Fluxos Setor Saúde Fonte: Autora, 2018.
Em suma, o projeto explorou também sua face externa em comunicação com o contexto urbano. No qual sua fachada principal, voltada para a rua Marquês de Tamandaré, tirou partido da necessidade do recuo normativo e o incorporou ao espaço urbano. Com isso, alargou-se a calçada colocando jardins e promovendo maior acessibilidade urbana, com o uso de rampas e faixas de pedestres. Dessa maneira, excluindo o impacto do muro, o projeto se integra ao jardim secreto e, principalmente, à cidade (Figura 90).
Figura 90: Fachada Rua Marquês de Tamandaré. Fonte: Autora, 2018.
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X
CONSIDERAÇÕES FINAIS A conclusão do trabalho conseguiu superar expectativas, sobretudo, no campo do
conhecimento teórico. O Alzheimer é uma doença que está cada vez mais aguçando a curiosidade de profissionais das mais diversas áreas a fim de contribuir de alguma forma para a melhoria de vida destes pacientes. O campo da Arquitetura é crucial não só para proporcionar conforto, mas também auxiliar no tratamento e até retardo da doença. Por esta razão, descobrir cada vez mais o quanto o papel do Arquiteto pode contribuir na vida das pessoas, é extremamente satisfatório. E é com este sentimento que este trabalho se consolida, enfatizando a carência que a cidade do Recife tem de lugares especializados nesta doença e também de lugares existentes apropriados para acolher os idosos. A falta de atenção, de informação e de ação por parte da sociedade como um todo resulta nesta realidade. Por este motivo, este trabalho teve pretensões de ultrapassar os limites de um trabalho acadêmico e tentar atingir uma esfera social da profissão “Arquiteto”, disseminando os conhecimentos a respeito desta temática e chamando a atenção para essa discussão contemporânea que deve estar cada vez mais presente na sociedade. Deve-se quebrar préconceitos existentes a respeito da Arquitetura de abrigos para idosos, mostrando que é possível sim construir espaços agradáveis e que vão além das necessidades normativas, atingindo níveis sensoriais e afetivos muito mais fortes e eficazes. Afinal, quem somos nós se não nossas lembranças?!
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O ESPAÇO ARQUITETÔNICO COMO TRATAMENTO DO ALZHEIMER: PROPOSTA PARA UMA ILPI EM RECIFE-PE
APÊNDICES APÊNDICE A – Questionários Aplicados nas visitas técnicas Centro Geriátrico Padre Venâncio Abrigo Espírita Lar de Jesus APÊNDICE B – Memória de Cálculo Reservatório de água Central de gás
APÊNDICE C – Proposta Arquitetônica Prancha 01 – Planta de Situação e Planta de Locação e Coberta Prancha 02 – Planta Baixa Semienterrado Prancha 03 – Planta Baixa Térreo Prancha 04 – Planta Baixa 1º Pavimento Prancha 05 – Cortes Prancha 06 – Cortes Prancha 07 – Fachadas
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APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO APLICADO
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APÊNDICE B – MEMORIAL DE CÁLCULO (inserir no texto)
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APÊNDICE C – PROPOSTA ARQUITETÔNICA (Ver pranchas do Projeto Arquitetônico)
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