ENTRE PIXELS & ÁTOMOS
F I C Ç Ã O
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R E A L I D A D E
C O L I D E M
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P L A Y S T A T I O N
SIR FRANCIS DRAKE
O que há de verdade e ficção sobre o famoso navegador que inspira as aventuras de Nathan Drake, herói de Uncharted
Por Pedro Sciarotta
S Pinturas da época mostram a Rainha Elizabeth nomeando Francis Drake como cavaleiro a bordo do Golden Hind, embarcação do navegador 36
2 3 4 1 Retrato de Sir Francis Drake. 2 Nathan encontra o cadáver do navegador em Uncharted. Nunca havíamos visto esqueleto de barba antes... 3 O brasão de Sir Francis aparece na cena inicial da série. 4 A Joia de Drake (Drake Jewel), presente que Sir Francis recebeu da Rainha Elizabeth após sua travessia pelo mundo. De um lado há um retrato da rainha, do outro, um camafeu. 5 Trajeto da expedição de volta ao mundo. A viagem levou quatro anos. 6 Um dos maiores feitos de Sir Francis foi servir a Inglaterra como vice-almirante na tentativa de invasão da Armada Espanhola em 1588.
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6 facebook.com/PlayStationRevistaOficial
ir Francis Drake existiu. O inglês foi um famoso explorador, capitão e corsário no século 16. Navegou ao redor do mundo, comandou batalhas marítimas e saqueou tesouros. Visto como herói pelos ingleses e pirata pelos espanhóis, Sir Francis Drake foi um homem de muitos feitos. Em Uncharted, virou antepassado do protagonista Nathan Drake. Mas como a veracidade de sua vida se mistura a liberdade criativa da obra da Naughty Dog? O primeiro ponto é a ideia de Nate acreditar ser descendente do navegador. A questão é logo retratada na primeira cena do jogo inicial da série, Uncharted: Drake's Fortune. Elena Fischer, a repórter e futura esposa de Nathan, destaca que, de acordo com suas pesquisas, Francis Drake não teve filhos, algo corroborado pelos fatos reais. Nathan discorda: "A história pode estar errada, sabe?". O assunto volta à tona em Uncharted 3: Drake’s Deception, em um flashback que mostra a época em que o herói conheceu Victor Sullivan em Cartagena, na Colômbia. O então adolescente Nate rouba o anel de Sir Francis de um Museu Marítimo e justifica que está pegando de volta um item que pertence a sua família. Sully aponta que o navegador não teve herdeiros, mas Nathan rebate que "pelo menos não com a esposa dele na Inglaterra", sinalizando que Sir Francis poderia ter tido filhos com outras mulheres em suas viagens. Porém, mais tarde, o próprio cânone da série parece aceitar o fato histórico. Marlowe, a antagonista do terceiro jogo, mostra conhecer o passado de Nathan e sugere que "Drake" não é o verdadeiro nome do herói. Isso indica que ele próprio teria adotado o sobrenome por admirar as explorações do navegador
– ele teria decidido fazer isso após a mãe se suicidar e o pai entregá-lo para tutela do Estado com apenas cinco anos de idade.
e seu próprio brasão. Antes, ele usava como emblema um wyvern vermelho, símbolo da família Drake de Ash, paróquia próxima à vila de Musbury, Inglaterra, com a qual ele alegava ter parentesco (qualquer semelhança com Nate é mera coincidência?). O novo brasão era composto por uma faixa com a inscrição e a representação das estrelas polares, Norte e Sul. Tantas recompensas não eram por acaso. A mando da Rainha Elizabeth, a viagem de Drake era uma expedição contra os espanhóis na costa da América do Sul no Oceano Pacífico – e foi um sucesso. Drake capturou navios e voltou para a Inglaterra em 1580 com
EM UNCHARTED, SIR FRANCIS FORJOU SUA MORTE. NA VIDA REAL, MORREU DE DISENTERIA SIC PARVIS MAGNA
O anel de Francis é o item mais icônico de Uncharted. O objeto possui entalhado o lema verídico do explorador: "Sic Parvis Magna", do latim, "a grandiosidade vem das pequenas coisas". O anel não existiu, mas veio de um contexto verdadeiro. Segundo o jogo, o item foi dado pela Rainha Elizabeth em 1581, quando Francis recebeu o título da cavalaria britânica após sua expedição de volta ao mundo. Além da nomeação de "Sir", Francis recebeu uma joia da rainha
ouro, toneladas de prata, moedas e mais tesouros. A Coroa Britânica ficou com metade da carga, o que por si só ultrapassou todos os outros rendimentos da monarquia naquele ano. Drake ainda presentou a rainha com uma joia feita de materiais raros do mundo, como ébano, ouro esmaltado e diamante.
RESTOS MORTAIS
Em Uncharted: Drake’s Fortune, Nathan usa os números inscritos no anel de Francis Drake como coordenadas para encontrar o
caixão dele na costa do Panamá. Acredita-se que o navegador, de fato, tenha sido sepultado no mar do país, próximo à cidade de Portobello, em 1596. No entanto, seus restos mortais nunca foram encontrados. Em 2011, Pat Croce, norte-americano dono de um museu de piratas, organizou buscas na baía de Portobello para procurar o túmulo de chumbo no qual o corpo de Sir Francis teria sido colocado com todas as peças de sua armadura. A empolgação cresceu quando os mergulhadores encontraram destroços dos navios Elizabeth e Delight, ambos da frota de Francis Drake e que afundaram pouco depois da sua morte, mas não adiantou. O caixão continua perdido em algum lugar das profundezas do oceano. Na ficção, Sir Francis Drake forjou sua morte. O caixão que Nathan recupera não contém um corpo, mas o "diário perdido" do navegador. Nate segue as pistas e encontra o esqueleto de Francis Drake em uma ilha não mapeada ao sul do Pacífico. O navegador morreu ao evitar que a maldição de El Dorado se espalhasse pelo mundo. O sarcófago de ouro – e não uma "cidade dourada", como pensava Nathan – transformou os espanhóis que colonizavam o local em demônios, o que selou o destino de Sir Francis. A realidade é mais sem graça: Francis Drake morreu de disenteria, aos 55 anos, após perder uma batalha contra os espanhóis em Porto Rico, em 1596.
AS NOITES DA ARÁBIA
Mais relações entre Sir Francis e Uncharted 3: Drake's Deception Sir Francis Drake volta a ser uma figura importante em Uncharted 3 (a trama de Uncharted 2 se baseia em uma viagem de Marco Polo). Nathan usa o anel de Francis em um decodificador e acha a mensagem Golden Hind ("Corça Dourada"), nome da embarcação do navegador. Sir Francis deu esse nome ao navio em homenagem a Christopher Hatton, Lorde Chanceler
inglês que patrocinou sua viagem pelo mundo – a corça dourada era um símbolo de seu brasão. A mensagem leva a um mapa que comprova (na ficção) que Francis não demorou seis meses para atravessar as Índias Orientais. O explorador foi para a Arábia, o que conduz o herói em uma busca pela lendária cidade perdida de Ubar. Mas isso é uma história para outro dia...
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