Puto!

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Charges Frases

Notícias

Estrela Desiste da Série B 10 Estrangeiros na UFES 11 Projeto Milton Santos 11

Cultura

Crônicas da Dja 12 Dupla Personalidade 14 Dica Ao Internauta 15 Livros, Prateleiras e Estantes 16 Os Mais Esperados de Dezembro 18

Reportagem

É possível se alimetar bem na Ufes? 22 O que é que a Feira Tem? 24

Entrevista Opinião

Assine a revista Puto!. Ligue para (27) 3224-1169 e fale com um de nossos atendentes. Djamile Carreiro, Editora de Assinaturas

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Charges 6 Da Boca pra Fora 8

Saco de Risadas

Interno do Instituto Manassés 29 Vida de Hippie 32 Daiene Dias 33 $O$ Amazônia 34 Raposa Serra do Sol 35 Qual a Diferença 37

Tirinhas 39

Editorial. Fernando Poltronieri

Puto?

Editorial. Rafael Moura

É fato, sempre choveu e sempre choverá. Por se tratar de um fenômeno natural é difícil alterar a sua funcionalidade. Nesses últimos dias, contudo, a ocorrência das chuvas tem sido constante e às vezes incessante, em vários locais, e isso acarreta diversos transtornos. Dentre esses o mais visível se encontra nas estradas, indo mais a fundo, no sistema rodoviário brasileiro, que, por estar em péssimo estado de conservação enaltece aqueles transtornos provocados pelas chuvas. O sistema de transporte é um fator determinante do desenvolvimento industrial, e no Brasil a política econômica e industrial privilegiou e incentivou o transporte rodoviário em prejuízo dois demais meios de locomoção, isso é perceptível no slogan: “sem caminhão o Brasil pára”. Apesar de possuir extensa rede rodoviária, essa é ainda bastante precária, considerando-se o tipo (asfalto, terra) e qualidade. E é de conhecimento de todos que está longe a solução dos problemas rodoviários brasileiros. Poderia ser apontada como solução a maior diversificação do sistema de transporte já que o transporte de carga em hidrovia é cerca de 3 vezes mais barato que o ferroviário, 9 vezes mais barato que o rodoviário e 15 vezes mais barato que o rodoviário. Contudo os demais meios de transporte foram sucateados, ao longo de século XX, a favor de uma política de transporte que visava ao desenvolvimento da indústria automobilística nacional e, posteriormente, sob pressão dos grupos econômicos políticos vinculados ao setor. Medidas a curto prazo são inconstantes – concessão de rodovias a grupos privados sob cobranças de pedágio, operações “tapa buraco” – pois não resolvem de forma eficiente os problemas estruturais. A verdade é que medidas tomadas para serem vistas e apreciadas agora provocam inconvenientes posteriores, e mesmo que um dia pare de chover em todas as estradas do Brasil sempre haverá um buraco e um caminhão quebrado.

Todos os dias, nos deparamos com notícias, informações e opiniões. Somos bombardeados por todos os lados: televisão, jornais, revistas e, a novidade do século, a internet. São notícias da China, da crise econômica, da eleição dos EUA, de todas as partes do mundo. Tudo vem pronto e empacotado em pequenas partes para nossa conveniência. Será? Até onde toda essa informação “esmigalhada” nos é útil? Qual a procedência delas? A quem interessa que elas cheguem até você desta forma? Questões difíceis de dar respostas imediatas, com certeza. O grande problema, é que as pessoas se acostumaram a não pensar. Não pensar em nada e pra nada, tudo está ali, pronto, escrito, gravado, pra que pensar? Pra que pensar se já têm outros pra pensar por você? A novela já está pronta, o jornal já está pronto. As pessoas viram simples consumidoras e expectadores programados para aceitar tudo que lhes é oferecido. A criança quer o brinquedo que passa no intervalo do desenho animado, a adolescente quer a sandália da “tal” personagem da novela das oito, a mulher quer o vestido que passou no canal de vendas. Ao chegar ao trabalho, à escola ou à faculdade, o comentário é sempre aquele crime hediondo, aquele seqüestro que saiu no jornal, o capítulo da novela, ou o que aconteceu no Big Brother. Todo mundo comenta e dá opinião, mas ninguém pensa. Ninguém pensa por que os crimes acontecem; ninguém pensa por que a novela dita o estilo e o modo de vida da maioria das pessoas e ninguém pensa por que tem tanta sacanagem (no péssimo sentido da palavra) no Big Brother. E pior, ninguém pensa no que pode fazer pra mudar essa situação, ou em que isso afeta sua vida. Esses aspectos, tão mais importantes e tão mais úteis à vida e à sanidade de mental e intelectual de todos, são deixados sempre de lado. Às vezes um mais consciente pára e reflete, mas quando exprime sua opinião para os outros, é taxado de crítico (mais uma vez, no péssimo sentido da palavra), chato, aquele mala que reclama e vê defeito em tudo. Pois é minha gente, qualquer um que ouse questionar o que entra no seu cérebro todos os dias é o errado. Os que aceitam tudo que vêem, lêem e escutam estão “na moda”. E assim nos seguimos, cada vez mais bitolados com toda essa passividade que nos foi gentilmente oferecida, e usando cada vez menos o mais precioso dos dons que nos foi dado: Pensar.

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charges


Da boca pra fora

frases 8

“Se minha vó tivesse rodas ela seria um automóvel”. Sandro Dau

“Platão olha pra cima pra falar com Aristóteles”. Sandro Dau

“Não fica achando que eu sou bonzinho não, se eu te encontro na rua depois das 22h eu te pego”. Sandro Dau sobre a maldade do homem

“Não sou consumidor assíduo, mas tenho lá meus momentos”. Alexandre Curtiss sobre filmes pornográficos

“É só a ‘Ivete Sagalo’ jogar uma colher no chão que todo mundo começa a sambar em volta”. Alexandre Curtiss sobre cultura de massa “A monalisa é barroco ou rococó?”. Rubiana na aula de história da arte

“Gente, eu juro que tô chocada com esse negócio de sinestesia, agora eu vejo tudo em cores”. Rubiana na aula de estética “O que é paleta de cores?”.

Perova e Equipe

Rubiana na aula de produção gráfica “Beethoven tá vivo?”.

ainda

Rubiana na aula de história da arte

“CMYK é uma empresa?”. Rubiana na aula de produção gráfica

Rubiana sobre Cuba

“E se eles fosses pessoas normais, eles seriam presos?”.

“Beatles é jazz?”. Rubiana na aula de história da arte

“Lá tem festa?”.

“Quem é Chico Buarque?”.

Rubiana sobre a comunidade indígena

Rubiana

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notícia

Bruno Louredo, José Eduardo Coelho, Vinícius Altoé, Dinora Santos e Tiago Moreno

Estrela Desiste da Série B O clube mais tradicional do sul do estado, o Estrela do Norte, comunicou, nesta terça-feira, que não participará da Série B do Campeonato Capixaba de 2009. A direção alega falta de recursos financeiros e curto prazo para formar a equipe. Segundo o site oficial da Federação Estadual, o clube cachoeirense, não participará de nenhuma competição com o time profissional de 2009. A cidade de Cachoeiro do Itapemirim, que já teve dois times na primeira divisão, ficará sem um representante no futebol capixaba em 2009.

Com a desistência do Estrela do Norte, a Série B contará apenas com três times: Vitória, Caxias e Espírito Santo de Anchieta. A competição triangular, que acontecerá entre os dias 23 de Janeiro e 27 de Fevereiro, tem como jogo de abertura o clássico entre Vitória e Caxias no estádio Salvador Costa. “É uma pena que a competição conte com apenas três times. Quem perde é o público e o campeonato, já que com menos times, o investimento é menor”, lamenta o jornalista Ferreira Neto.

Estrangeiros na Ufes Eles mudaram de país em busca de um curso universitário que lhes proporcionasse melhor formação profissional e estabilidade em seus países de origem. A UFES, assim como outras universidades federais e particulares em todo o Brasil, está incluída no proje-

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to PECG – Programa de Estudos Convênio de Graduação – que oferece bolsas a jovens de vários países em desenvolvimento, aglutinando esforços para as ações humanitárias junto à ONU. As carteiras da federal do Espírito Santo, hoje, estão sendo ocupadas por 41

alunos nessa situação, espalhados por todas as graduações, exceto as que são oferecidas no noturno e as que ainda não foram reconhecidas pelo MEC. A seleção dos alunos que vão ocupar as vagas é responsabilidade dos Ministérios da Educação e das Relações Exteriores. O processo seletivo é baseado no mérito de cada estudante, sendo, em alguns países, o desempenho na vida escolar o principal critério de escolha. Já os custeios com alimentação, vestuário, moradia e lazer são de total responsabilidade do bolsista, que deve disponibilizar de condições financeiras suficientes para seu próprio sustento. Em solo brasileiro, os alunos estrangeiros não podem praticar nenhuma atividade remunerada; a exceção dessa regra

fica nos casos de monitoria e/ou estágio curricular obrigatório. Entretanto, atividades de cunho acadêmico são obrigatórias, estão dentro do plano de metas que o bolsista deve atingir em terras tupiniquins. O perfil desse aluno, outrora latino-americano, hoje é essencialmente oriundo de países africanos lusófonos, o que possibilita maior interação com os brasileiros e melhor absorção do conteúdo. No meio universitário, a existência de alunos de outros países mostra-se construtiva, haja vista que é uma oportunidade de conhecer culturas e histórias diferentes. Não obstante, a importância do PECG faz-se mais complexa: os limites para a educação estão sendo derrubados e as conquistas profissionais são evidentes.

O PECG NA UFES * A UFES oferece 42 vagas anuais, as quais nem todas são preenchidas. * A seleção dos bolsistas fica por conta dos Ministérios brasileiros da Educação e das Relações Exteriores, juntamente com os órgãos responsáveis de cada país. * Alguns países oferecem ajuda financeira aos seus nativos a fim de ajudar nos custeios com a graduação. * Os bolsistas não podem realizar atividade remunerada em solo brasileiro. * Após o término dos estudos, o aluno só terá acesso ao diploma em seu país de origem. -Maiores informações: DAAE-PROGRAD. -Agradecimento: professor Mário Cláudio Simões, responsável pelo projeto na UFES.

Estudantes ganham campeonato de robótica No último dia 7, Thierry Rampinelli junto com outros amigos, do curso de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) ganharam o campeonato Latino-americano de Robótica, na categoria Standard Education, disputado no final de outubro em Salvador, Bahia. A vitória foi conquistada com um robô de 7,5 centímetros de altura que foi fabricado pelo grupo. Os estudantes competiram com universitários de outros países, como Chile, Colômbia, México, Venezuela, Irã e Alemanha.

Projeto Milton Santos ajuda estudantes estrangeiros O Ministério da Educação (MEC), por intermédio da Secretaria da Educação Superior (SESU) convoca as instituições federais de educação superior, para participarem do programa estudante convênio de graduação do projeto Milton Santos. Este projeto de acesso ao ensino superior para os estudantes foi instituído pelo decreto numero 4.874, em 11 de novembro de 2003, visando a concessão de auxílio financeiro, no valor de salário mínimo mensal por 12 meses, em moeda corrente brasileira, para alunos estrangeiros participantes do pec-g das instituições federais. Para se inscrever é necessário que o estudante tenha bom histórico, extrato bancário e uma carta feita pelo próprio estudante contando as suas dificuldades financeiras. A seleção dos beneficiários é feita pelo comitê do programa, através das listas encaminhadas pelas instituições federais de ensino superior

Prática de Redação I Universidade Federal do Espírito Santo Professora Carmelita Minelio Departamento de Línguas e Letras Departamento de Comunicação Social

Equipe Puto! 2008/1

Jornalismo Angeli Alves. Bruno Louredo. Carolina Moreira. Daniel Vilela. Dinora Santos. Djamile Carreiro. Eduardo Fernandes. Évelli Falqueto. Grazielle Soares. Isabela Couto. Isabela Zortea. Izaias Faria. Jamilly Lopes. José Eduardo Coelho. Keyla Cezini. Lívia Bernabé. Luma Polletti. Marcel Martinuzzo. Poliana Carvalho. Rafael Abreu. Rafael Monteiro. Thayssa Acha. Tiago Moreno. Vinícius Altoé

Publicidade e Propaganda Amanda Mariano. Antonio Fransozi. Fernando Poltronieri. Izabel Queiroz. Juliana Merçon. Leonardo Antoniolli. Lorrayna Angeli. Luiza Maciel. Mainá Loureiro. Marcus Vinícius Morellato. Paulo Roberto. Plínio Escopelle. Rafael Moura. Raphael Perovano. Rebeca Ramos. Rogério. Rubiana Liuth. Samantha Barcelos. Wesley Batista. Victor Cardoso. Sílvia Hot.

Professora Orientadora

Carmelita Minelio Planejamento Gráfico

Daniel Vilela Nomeação

Sílvia Hot

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Boa Noite, Monólogo

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Djamille Carreiro Faz dias que procuro um canto de paz pra ler uns livros, escrever umas idéias soltas. Agora mesmo interrompi minha leitura para atender a campainha. É a famosa lei de Murf, mais uma vez – em tantas outras, só hoje – me arrancando da cama, do meu momento. E lá fui eu: desci do beliche num pulo e, mesmo descabelada, arrisquei-me a ver quem seria o desafortunado a me incomodar num fim de sexta-feira. Enfim, uma amiga – minha e das minhas irmãs. Hoje o assunto não era comigo, no entanto, como manda a etiqueta da boa amizade, e ainda mais, as circunstâncias em que essa amiga se encontra – estado interessante – tive que descer os vinte e três degraus, empo-

eirados que estavam, e com um abraço, recebê-la. Resumindo: subimos. E o alvo de sua visita, que não era eu, passou a ser.

Será possível que não posso ter uns minutos de sossego com meus livros? Afinal, não posso aceitar que a vida trata-se apenas de um diálogo entre amigos. Dialogamos longos mi- EU QUERO O MEU MOnutos no corredor. O NÓLOGO! Tenho esse lápis que estava em direito! E aqui está: minha mão, nada po- por desencargo de dia escrever; no mí- consciência ou talvez, nimo rabiscar – por por me faltar coraqualquer descuido in- gem de espantar uns voluntário – a parede amigos em noites de em que me apoiava. sextas-feiras, encerro A questão é que após este manifesto, que quarenta minutos, mi- disfarçado de desanha leitura não pude bafo, toma os últimos retomar, pois com esse reflexos que ainda me olhos ardidos nem que põem de pé. E se não fosse um daqueles li- fosse por essas palavrinhos ilustrados pra vras registradas em crianças; e a crônica papel, como testemuque já ia esboçando nhas desta trágica noitambém, morreu no te, tamanho disparate momento em que a passaria despercebido. campainha apitou lá Resta-me agora dorem baixo. Apaguei as mir o sono dos injuspoucas linhas que es- tiçados. Sendo assim: crevi e agora, o meu boa noite sexta-feira. desejo é protestar! Boa noite monólogo.

Há em você! Quem nunca ficou insatisfeito com algo que já escreveu? A gente pára e olha pro papel, retorce a sobrancelha, muda uma palavrinha ali, refaz a ordem das frases, e mesmo assim nada adianta. Aí não tem jeito: vem aquela barreira e não conseguimos prosseguir, enfim, nos auto-mutilamos. Se for então uma poesia, conto, crônica ou coisa assim, mais difícil ainda. Ora achamos simples demais, ora rebuscado, infantil ou pretensioso. Aonde queremos chegar com isso? Querer escrever um texto de qualidade não é um defeito, evidente, mas e toda essa exigência de nós para com nós mesmos? Afinal, o que procuramos? Vejamos quantos célebres escritores marcaram a história de nossa literatura: Alencar, Machado, Gregório, Rodrigues, não são poucos não. O Brasil tem um ótimo lugar na Academia de Letras do Paraíso, pode acreditar. Mas até mesmo os deuses têm seu calca-

nhar de Aquiles. Quer dizer, não no sentido de defeito, mas de receio, de questionamento ou busca pelo próprio estilo, e é nesse momento que – lamentavelmente – a supressão dele pode ocorrer. Clarice Lispector é um exemplo disso. Consagrada pela Literatura Brasileira, autora de grandes obras, passou por profundos momentos de melancolia quando leu uma crítica a respeito de seus primeiros romances. Lá dizia: “mutilados e incompletos”. Com apenas duas palavras conseguiu o autor dessa crítica afundá-la em tamanha angústia e desespero, que Clarice passou a torturar-se, a ponto de concordar com ele. Novamente aqui nos questionamos: a crítica seria, então, um meio de detectarmos possíveis deslizes em nossos textos? E quais seriam? De concordância e gramática? Pois se não, tirando isso, o que fica é a criação! E o que é a criação se-

cultura

Cronicas da Dja ^

em relação aos seus escritos, mas dizia que esta, na verdade, é uma luta infinda de cada autor com ele mesmo. Em resposta à carta em que Clarice concordava com a crítica, ele disse: “Digo apenas que não concordo com você. Já te disse que você avançou na frente de todos nós Não se pode fazer arte (...). A arte não nos sasó porque se tem um tisfaz porque não pastemperamento infeliz sa disso: é o testemue doidinho”, escreveu nho de nós mesmos”. ela logo após receber a A principal virtude de crítica. Em outra carta um escritor, com cerela revela: “Não tra- teza, não está na prebalho mais, Fernando. ocupação em atender Passo os dias procu- alguns padrões de um rando enganar minha bom texto – se é que angústia e procurando eles realmente exisnão fazer horror a mim tem. Clarice é o que mesma. Interrompi é porque se permitiu mesmo o trabalho, criar, simplesmente. minha impressão é de Toda essa briga que que é para sempre”. travamos contra nosEstas foram algumas sos textos, pelo condas várias sentenças a trário do que se pensa, que Clarice se impôs. é uma armadilha que Não seria exagero pen- o escritor se dispõe sar que poderíamos a cair. Na verdade, insatisfeito ter perdido uma gran- quando de escritora. Fernan- torce as sobrancelhas, do, da mesma forma, ele está tratando de também compartilhou buscar o “enterro” com a amiga toda a in- de seu próprio estilo, segurança que sentia e isso é uma lástima. não as idéias, os traços, o estilo do autor? Após aquele ocorrido, Clarice passou a trocar cartas com seu amigo Fernando Sabino, também escritor, e hoje podemos ver o que a tal “crítica construtiva” - diriam alguns – provocou nela: “Tudo o que ele diz é verdade.

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cultura

Rafael Monteiro e Lorrayna

Dupla Personalidade Rafael Abreu

Conheça Georgie Fruit: um homem negro de quarenta e poucos anos que já passou por múltiplas cirurgias de mudança de sexo, foi preso, participou de uma banda de funk rock chamada Arousal e, pelo que consta da última cirurgia, é o transexual que se apresentou no mais recente álbum da banda Of Montreal. “Hissing Fauna, Are You the Destroyer?” mostrava o vocalista do conjunto, Kevin Barnes, atolado em depressão e memórias dos bons e maus tempos que tivera com sua então exmulher, Nina Grottland, a quem se refere (por seu próprio nome) em “Heimdelsgate Like A Promethean Curse”, uma das faixas mais fortes do LP. Mas se o ouvinte mais ingênuo imagina, o disco repleto de melodias tristonhas e instrumentação sutil, baseado nessa pequena contextualização, talvez até um pouco acanhada, não comete nada mais que um engano. Aparentemente, o modo que Barnes encontrou de lidar com o término de seu relacionamento foi combinar canções de melodias absolutamente açucaradas com letras que beiram (ou alcançam) o melodramático. Enquanto a proposta de letras marcadamente melancólicas poderia muito bem ter resultado no estereotípico “som de fossa”, não é isso que se ouve em HFAYTD. Ouve-se, na verdade, um excelente contraste entre letra e música, sem que uma se prejudique por causa da outra. Em meio a referências à disco-music e ao rock psicodélico, o grupo mostra que é possível, sim, tirar muito prazer da dor alheia. Basta uma faixa como “Gronlandic Edit” para provar essa tese. Nela a voz

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Dica ao Internauta

de Barnes, multiplicada digitalmente, entoa o quão satisfeito ele está de passar o dia inteiro dentro de casa, encontrando novas ansiedades durante a noite e cogitando sua capitulação a um deus qualquer (“Mas qual eu escolho?”, ele canta). “Toda beleza é desperdiçada”, diz – mas a batida e a linha do baixo não parecem se importar muito com isso.Prudentemente, o disco parece ter sido dividido em duas partes. A primeira compreende um pop psicodélico de conteúdo melancólico, com bastante sensibilidade. A segunda, no entanto, introduzida pela colossal “The Past Is A Grotesque Animal”, mostra um som mais sensual e visivelmente influenciado pelo funk. E é aí – durante os doze minutos em que Barnes julga o passado como um animal grotesco – que se dá sua transformação em Georgie Fruit. O alter-ego do cantor, então, domina a segunda metade do LP, trazendo consigo bastante gingado e letras lascivas. Após ser bem recebido pela crítica, Georgie Fruit já planeja outro disco. Intitulado “Skeletal Lamping”, será formado por vários segmentos de trinta a cinqüenta segundos de duração, ligados no que Barnes define como “uma peça longa com centenas de movimentos”. Seria um modo, explica, de se afastar da estrutura tradicional da música pop, além de fazer com que o ouvinte seja pego um pouco de surpresa por transições aparentemente sem sentido. Como quando apresentou Georgie Fruit, criando para si uma personalidade no mínimo inusitada e definitivamente prolífica, afastando-se um pouco mais da realidade.

Captar uma imagem – através da câmera fotográfica – não se trata apenas de pressionar um botão, mas sim de investigar, sobretudo, o processo desta linguagem. E é seguindo por esse caminho que a Cia de Foto, um coletivo de fotógrafos surgido no bairro Pinheiros, em São Paulo, desenvolve uma forma inovadora de se fotografar no Brasil e, sobretudo, de se entender a fotografia.

não são assinadas pela pessoa que captou a imagem, mas pela própria Cia de Foto. O coletivo é tão priorizado e preservado, que eles chegaram a recusar uma exposição de suas fotografias pelo fato de a empresa organizadora do evento exigir que cada fotógrafo assinasse sua obra.

Na Internet, a Cia de Foto também surpreende. Possui um site que evidencia o propósito comercial da empresa, tanto que só possui versão em inglês, pois, segundo o coletivo, atende melhor à demanda do mercado assim. No entanto, a novidade que eles trazem não é o site, e, sim, o blog e o flickr. No blog, falam sobre o próprio trabalho, sobre os ensaios que realizam. Porém, é no flickr que está a maior ousadia da Cia de Foto, o que, para ingênuos, contrapõe o objetivo comercial da empresa: lá eles disponibilizam as próprias fotografias sem cobrar nada, apenas Criada em 2003 por Pio pedindo àquele que pegar a foto que comunique Figueroa, Rafael Jacin- com que fim ela será utilizada e, além disso, to e João Kehl, a Cia ainda se dispõem a disponibilizar a fotografia de Foto, por meio do em maior resolução caso o internauta necesconceito de coletivo, site. Na verdade, disponibilizar as imagens de vem para chacolhar a graça não prejudica o coletivo, pelo contrário, fotografia brasileira. dissemina o talento desses fotógrafos pela rede. O objetivo no coletivo é evidenciar o grupo Em entrevista, e falando sobre a fotografia em detrimento do in- em si, os criadores dizem que a idéia do grudividuo, porém, sem po é criar uma narrativa na foto, tentando anular a individualida- construir um enredo de apreensão. Isso, de de de cada um, dando certa forma, criou um jeito, uma assinatura. liberdade de criação. É assim que o trabalho desses virtuosos foAs fotos, por exemplo, tógrafos é feito, abusando da originalidade.

Para conferir os ensaios e conhecer a Cia de Foto, basta acessar: www.ciadefoto.com.br http://ciadefoto.wordpress.com/ http://www.flickr.com/photos/ciadefoto/


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Há uma praça no meio de Buenos Aires que divide exatamente ao meio um dos mais famosos centros de bares e cafés da cidade. De um lado, os partidários de Jorge Luís Borges, com seu estilo inglês e seus olhos cegos. Do outro, aqueles que veneram Julio Cortázar, cultuando o lado mais beat da Argentina, completamente movido a Jazz. Na literatura, as questões da autoria e da metalinguagem são mais características do que a composição a quatro mãos. Superando todas tais rivalidades, a Argentina dividida fez surgir uma das mais bem sucedidas experiências de dupla autoria na literatura. Sobre um mesmo pseudônimo H. Bustos Domecq, os escritores Jorge Luís Borges e Adolfo Bioy Casares introduzem o discurso da pós-modernidade na América Latina. Os momentos criacionais podem ser apontados como dois: um de se contar a narrativa e outro de se criar um personagem que servirá como máscara para as façanhas dos dois escritores. Por duzentas páginas, vem à tona a história de Dom Isidro, preso injustamente, que ajuda a polícia a desvendar seis crimes. Tudo no mais puro conto policial borgiano, sem perder a visão fantástica e surrealista de Bioy. Título: Seis problemas para Dom Isidro Parodi & Duas fantasias memoráveis Autores: Jorge Luís Borges e Adolfo Casares Editora: Globo Tradutor: Maria Paula Gurgel Ribeiro Páginas: 200 Preço: R$ 30,00 Leia Também: Capitu Paulo Emílio Sales Gomes Lygia Fagundes Telles A adaptação dos dois escritores para Dom Casmurro de Machado de Assis é o representante brasileiro da composição a quatro mãos. Nesse roteiro preparado para o cinema, Lygia e Paulo Emílio se valem tanto das rubricas (indicações para a ação dos atores ou composição da cena) quanto do texto para recriar a dubiedade do romance machadiano.

Livros, prateleiras e estantes

A História do Prato Allan Pauls (Cosac Naify)

O livro do argentino Allan Pauls é a primeira parte de uma trilogia que trata com ironia e desdém relações e marcas da Argentina pós-moderna. Em A História do Pranto, Pauls critica a cultura da tristeza em seu país, marcada pelo tango, pela ditadura militar e pela crença de que apenas o sofrimento e o tédio podem enaltecer o ser humano. Períodos gigantescos e frases labirínticas marcam o estilo inconfundível e ácido de um do possíveis sucessores do trono de Borges e Cortázar.

Um Romance Sentimental Alain Robbe-Grillet (Record) Uma tarja rosa escrita com letras garrafais onde se lê: O editor adverte que este conto de fadas para adultos é uma ficção fantasiosa que corre o risco de chocar certas sensibilidades, cobre boa parte da capa do livro de Alain RobbeGrillet. A relação incestuosa de uma garota de 14 anos e seu pai se complica a partir do momento que a menina ganha outra, de 13 anos, para escravizar e satisfazer suas perversidades. Com um texto anticonvencional, o autor mistura literatura e cinema para criar uma atmosfera que mescla Marquês de Sade com Vladimir Nabokov.

cultura

Seis Problemas para Dom Isidro Parodi

Daniel Fernandes

Anna O. e outras novelas

Curto Alcance

A Caixa Preta

Ricardo Lísias (Globo)

Annie Proulx (Intrínseca)

Amós Oz (Companhia de Bolso)

O paulista Ricardo Lísias compõem um livro por meio de cinco pequenas novelas. Em suas narrativas, o escritor usa de poucas páginas e poucas palavras para tratar de complexidades e recalques de seus personagens como depressão, alucinações e perturbação interior. O estilo conciso de Lísias é um interponto com outros brasileiros que escreveram sobre os mesmos temas: Machado de Assis e Lima Barreto. Em destaque a história de um psiquiatra insone encarregado de cuidar do ditador chileno Augusto Pinochet.

Ganhadora do prêmio Pulitzer, Annie Proulx chega às prateleiras com uma coletânea de 11 contos incluindo “O Segredo de Brokeback Mountain”, adaptado por Ang Lee para o cinema.

Um dos primeiros escritores judeus nascidos em Israel, Amós Oz usa do romance epistolar para narrar as relações de masoquismo, voyeurismo e culpa entre uma família desfeita.

Paraíso Perdido

A Jornada do Elefante

Cees Nooteboom (Companhia das Letras)

José Saramago (Companhia das Letras)

Festejado na última Feira Literária de Parati, o holandês Cees Nooteboom remete a elementos de tradição católica em uma história que envolve três personagens em busca de redenção.

Em seu novo livro, Saramago revisita Memorial do Convento para contar a história do elefante salomão (com essa grafia mesmo) e da incansável busca do homem pela morte.

Pó de Parede Carol Bensimon (Não Editora) O livro de estréia da gaúcha Carol Bensimon trata com melancolia três histórias sobre a passagem da adolescência para vida adulta. Com bastante naturalidade, Carol constrói uma linguagem simples e original, criando personagens e locações marcantes. A escritora é fruto das oficinas literárias de Luiz Antonio de Assis Brasil, que já revelou nomes como Michel Laub, Cíntia Moscovich e Daniel Galera.


cultura Samantha Barcelos

Os mais esperados de Dezembro

Dezembro está chegando e com ele às férias de fim de ano se aproximam, apostando no aumento do público jovem nesse mês, os lançamentos cinematográficos oscilam entre uma animação infantil, adaptações de famosos Best-sellers, seqüencias de ação e suspenses perturbadores. Vamos então a lista e alguns dos filmes mais esperados do próximo mês:

Crepúsculo Elenco: Nikki Reed, Kristen Stewart, Peter Facinelli, Elizabeth Reaser e Robert Pattinson. Estréia: 19 de Dezembro A Lista – Você está livre hoje? Elenco: Hugh Jackman, Ewan McGregor, Michelle Williams. Estréia: 12 de Dezembro

Carga explosiva 3 Elenco: Jason Statham, Francois Berléand, Robert Knepper. Estréia: 12 de Dezembro Em Carga Explosiva 3 Frank Martin é obrigado a transportar de Marselha até Odessa, no Mar Negro, Valentina, a filha seqüestrada de Leonid Vasilev , chefe da Agência de Proteção Ambiental da Ucrânia. No longo caminho, com a ajuda do Inspetor Tarconi .

Messer não tem namorada, não tem família, não tem amigos. Uma noite, ele conhece um jovem e carismático advogado, Wyatt Bose. Ao atender o celular de Wyatt, Jonathan ouve uma voz sedutora, combinando um encontro. De repente, ele se vê em meio a uma rede de sexo anônimo. Wyatt encoraja Jonathan a entrar nesse mundo, ele acaba aceitando e encontrando “S”, mas ele logo descobre que os motivos de Wyatt são muito mais sinistros do que parecem. Agora, quanto mais Jonathan tenta se desligar dessa recém-descoberta rede de intrigas e chantagens, mais ele se envolve.

Crepúsculo é inspirado no Best-seller de mesmo nome que já vendeu mais de 5 milhões de cópias pelo mundo, na história Isabela Swan vai morar com seu pai em uma nova cidade, no colégio, ela fica fascinada por Edward Cullen, um garoto que esconde um segredo obscuro, conhecido apenas por sua família. Quando ela descobre que Edward é, na verdade, um vampiro, ela age contra todas as expectativas e não tem medo da sede de sangue de seu grande amor, mesmo sabendo que ele pode matá-la a qualquer momento. Nos EUA o filme estreou no dia 21 de novembro superando todas as expectativas, arrecadando 76 milhões de dólares em seu fim de semana de estréia. Crepúsculo é o primeiro grande lançamento da independente Summit Entertainment, que já garantiu as duas próximas seqüências, afinal, Stephenie Meyer escreveu ao todo quatro livros da série Crepúsculo, Lua Nova, Eclipse e Breaking Dawn.

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Marley e Eu Elenco: Jennifer Aniston, Owen Wilson, Eric Dane, Alan Arkin, Haley Bennett, Marc Macaulay. Estréia: 25 de Dezembro Adaptação do Best-seller ‘Marley & Me’, escrito pelo jornalista e colunista do Philadelphia Inquirer John Grogan, que descreve sua experiência com o cão hiperativo que passou a fazer parte da família.

top 10

Madagascar 2 Elenco: Vozes de: Sacha Baron Cohen, Cedric the Entertainer, Jada Pinkett Smith, Andy Richter, Chris Rock, David Schwimmer, Ben Stiller. Estréia: 12 de Dezembro Uma das seqüências mais esperadas do ano. Em Msdagascar 2 o leão Alex, a zebra Marty, a girafa Melman e a hipopótamo Gloria voltam a viver uma grande aventura fora do zoológico de Nova York. Quando eles retornam ao zoológico, o avião acaba caindo na África, onde Alex reencontra sua família e a trama tem início aí.

1. 007 - Quantum of Solace 2. Vicky Cristina Barcelona 3. Max Payne 4. Os Estranhos 5. High School Musical 3: Ano da Formatura 6. Romance 7. A Duquesa 8. A Mulher do Meu Amigo 9. Jogos Mortais V 10. Rec


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´ É possível se alimentar bem na Ufes?

de recorrer a outras. Não come, no entanto, salgados fritos, apenas os assados; não toma refrigerante, e diz que muitos de seus colegas de classe não têm os hábitos saudáveis que ele possui. “90% dos alunos da minha sala preferem pedir um refrigerante, porque o suco demora um pouco a sair”, afirma ele. Andréa Castro, ajudante de cozinha dessa cantina, acrescenta ainda que o jovem não cuida da sua alimentação. “Oferecemos a eles a oportunidade de comer uma fruta fresca ou tomar um suco natural, mas esses são os menos pedidos”. A cantina do IC é considerada uma das melhores da Ufes, por possuir uma grande variedade e proporcionar ao consumidor um maior poder de escolha na hora da alimentação. Thiago, caixa da cantina, diz que nela há uma situação inusitada. O suco é mais vendido que o refrigerante. “Ambos possuem o mesmo preço e os estudantes optam pelo suco, não sei se é pelo sabor ou

para manter uma vida mais saudável” conta. Mas quanto à comida, o salgado frito continua sendo o campeão de vendas, e as frutas são encaradas mais como sobremesas. Thiago também acha importante que as pessoas tenham um lugar arejado para fazer suas refeições. “Espalhamos mesas em frente ao local da cantina para deixar as pessoas mais acomodadas, para comerem com mais tranqüilidade, mesmo que estejam atrasadas para alguma aula”, ressalta ele. No Centro de Vivência, há uma concorrência acirrada, pois duas cantinas estão instaladas praticamente uma ao lado da outra. Os estudantes afirmam que existem muitas diferenças entre elas. “Uma conta com um espaço maior, mais variedades e, em contrapartida, tem os preços mais altos” diz Carina Santos, se referindo à cantina que está localizada ao lado do Cinema Metrópoles. Nos finais de semana, de acordo com Jacilene, proprietária dessa can-

tina, os consumidores são as pessoas que vão assistir a um filme e por isso muda um pouco o que é consumido. “Vendemos mais chá e café nos finais de semana. O publico deste cinema não é muito de levar pipoca para a sessão. Preferem longos papos antes e depois do filme, com discussões acompanhadas de um bom cafezinho ou chá”. Já a outra cantina do Centro de Vivência tem uma venda muito grande do famoso Bauru, (sanduíche assado com queijo, presunto e temperos) na hora do almoço, contando com um aliado: a pressa dos alunos que não puderam comer no R.U por causa das enormes filas. O que todas as cantinas têm em comum é o fato dos freqüentadores não estarem muito preocupados com sua alimentação. Fatores como pressa, acomodação e situação financeira são considerados os grandes vilões, mas é certo que não existem campanhas para informar os alunos sobre o que é saudável ou não.

Por Évelli Falqueto, Eduardo Fernandes, Marcel Martinuzzo, Carolina Moreira, Luma Poletti, Lívia Bernabé e Amanda Freitas.

reportagem

Um ponto de encontro onde os alunos conversam, se distraem, passam o tempo entre uma aula e outra e se alimentam. Assim foram definidas as cantinas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) pelos seus freqüentadores, ao serem abordados pela equipe do jornal No Entanto na última semana. Com uma quantidade relativamente grande de cantinas – há duas no Centro de Artes, duas no Centro de Vivência, uma no Centro Tecnológico, uma no Centro Jurídico e Econômico e uma no Ilha C. – a Ufes conta com as mais variadas opções para os alunos, que nem sempre escolhem o que deveriam para manter uma vida saudável. Da fruta ao salgado frito; do suco natural ao refrigerante, as cantinas vão conseguindo freqüentadores assíduos, que muitas vezes comem por gostar e, em outros casos, comem por não haver mais opções. Mas será que não há mesmo? Ou o fato de andar um pouco ou pagar mais caro torna-se um empecilho? Guido Alves, aluno do curso de Engenharia Elétrica, diz que se alimenta na cantina do Centro Tecnológico. Por ser a única do local e por não ter disposição


reportagem

lâneas de produtos tes que o calor fique e histórias de vida. forte demais. Estes e aqueles que dormem até mais tarde poBom, bonito e... bara- dem encontrar, além to? das hortaliças, uma incrível variedade de O dia de trabalho co- produtos. Há grãos e meça bem cedo para temperos de todos os eles. A maioria sai do tipos, carnes de frango interior para vender o e frutos do mar, ovos, que produz em peque- queijos e lingüiças. As nas propriedades fami- barracas de flores faliares. São os feirantes, zem grande sucesso e que quebram o silêncio embelezam o ambienda rua Comissário Oc- te. Deliciosos quitutes távio Queiroz todos os caseiros despertam o sábados às cinco ho- apetite de quem pasras da manhã para ini- sa. Há ainda artesanaciar a montagem das to em madeira e, claro, suas barracas. Eles os tradicionais pastéis ocupam as estantes com caldo de cana. oferecidas pela prefeiCom o início das ventura, são cadastrados das na feira, é dada a e vistoriados pela fis- largada aos trabalhos calização do município de monitoramento das de Vitória. Apenas os atividades dos vende-

houver reincidência. À uma hora da tarde encerram-se as atividades dos feirantes, que devem retirar seus produtos sem exceder o limite de tempo para a saída do local. Essa feira em Jardim da Penha existe há mais de 30 anos. E muitos feirantes são a segunda ou terceira geração da família no negócio. É o que diz Amanda Brosmmanschenkel “Meu pai trabalha aqui há 12 anos e eu vinha com ele desde que chupava chupeta. Agora, ajudo no serviço”, conta a filha do senhor Airton, que mora em Santa Teresa. Outros viram as vendas crescerem e a pequena produção

o que é que a feira tem?

Por Évelli Falqueto, Eduardo Fernandes, Marcel Martinuzzo, Carolina Moreira, Luma Poletti, Lívia Bernabé e Amanda Freitas. A origem das feiras no Brasil se confunde com a própria história. As primeiras surgiram no período colonial como local de venda de escravos e

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excedentes das fazendas. Era também onde se fazia parte da vida social da época. Hoje, as feiras livres estão muito diferentes das primeiras. Elas co-

mercializam de tudo um pouco e cada uma delas carrega características próprias do bairro em que se instala. Por sua vez, não deixam de constituir um

espaço de relacionamento entre pessoas. Nossa equipe se dividiu para conferir mais de perto o que faz das feiras espaços diferenciados: misce-

que conseguem o alvará podem comercializar os seus produtos no local estipulado. Já pelas sete horas, os consumidores mais bem dispostos aproveitam para adquirir verduras, frutas e legumes fresquinhos e voltam para casa an-

dores – se estão tomando as medidas higiênicas necessárias, respeitando os locais pré-estabelecidos e vendendo os produtos que são permitidos. Caso não estejam de acordo com as regras são advertidos, podendo ser suspensos se

da família precisou aumentar o que exigiu a contratação de funcionários. “Eles são da cidade de Castelo, mas mudaram para Vitória, já que também trabalhamos nas feiras dos bairros República e Aribiri”, diz Lucia Magri, funcionária de uma

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barraca de pastéis. Uma feira antiga como essa só traz benefícios para vendedores e clientes. Os primeiros conhecem as preferências dos fregueses, sabem, em média, a quantidade de produtos que irão vender e estão por dentro dos preços da concorrência. Já os segundos, conhecem as barracas que mais lhe agradam. Seu Cid, como é conhecido um dos vendedores de flores, afirma que 70% dos clientes são fixos e que vendem praticamente tudo o que trazem; o restante é aproveitado para buquês. Esse espaço popular não é considerado uma opção de lazer por seus freqüentadores. Eles são atraídos pela qualidade e diversidade do que encontram, pois os preços nem sempre são os melhores.

fim da tarde, mas é possível encontrar barracas montadas desde as 15 horas, ou mesmo antes. Aos poucos, enquanto o dia se despede, a Praça Regina Frigeri Furno se enche de feirantes, artesanatos, comidas, bebidas, música e gente. Toda sexta-feira à noite é assim: a pracinha se transforma em um programa agradável para toda a família. Não existe um único perfil para os freqüentadores. Eles caminham entre as barracas, encontram amigos, divertem-se com a família, namoram, comem, compram ou apenas observam. Encontram na feira uma boa alternativa para fugir do tédio de casa, da mesmice dos shoppings ou dos bares barulhentos da capital. Ao redor da praça estão as barracas de alimentação, enquanto Agradáveis noites de as de artesanato estão sexta no centro. Os famintos podem escolher à vonA feira só começa ao tade: são mais de 30

variedades de comidas. É possível encontrar churrasquinho-degato, pizza, acarajé, tapioca, frango a passarinho, yakissoba, feijão tropeiro e polenta recheada, entre muitos outros exemplos. Além dos doces, é claro, como bombons caseiros, churros, tortas e bolos de todo o tipo. A grande diversidade de artesanatos também surpreende. Os artesãos abusam da variedade de matérias primas para produzirem seus trabalhos. Isso inclui cera, couro, vidro, biscuit, sementes, madeira, bambu, cerâmica, papel e tecido. O resultado não poderia ser mais interessante: encontramos de tudo um pouco, de peças de vestuário a artigos para o lar, de imagens de santos a produtos esotéricos. Sem falar das bolsas, sabonetes, perfumes, bonecas de pano, brinquedos e outras peculiaridades. O ambiente é tranqüilo e diversificado,

Irregularidades

Basta andar pela feira para perceber que ao lado do corredor principal há vários vendedores ambulantes que não conseguem um alvará para comercializar legalmente no espaço oferecido pela prefeitura. Max da Silva, um rapaz que vende abacaxis num carro improvisado ao lado da feira, diz que as vagas são poucas, fazendo com que muitas pessoas fiquem de fora. O rapaz, que trabalha há um

muito agradável. A música ao fundo, nem sempre do mesmo estilo, dá o clima da noite. Pessoas de todas as idades, sozinhas ou não, divertem-se cada uma à sua maneira. A feira de sextas à noite, em Jardim da Penha, é uma boa sugestão para quem deseja encontrar um pouco do aconchego do interior e do cosmopolitismo das grandes cidades em perfeita harmonia. Opção de lazer Tarde de chuva, trânsito engarrafado, ruas alagadas. O clima sugere um programa mais caseiro, um filme com os amigos. Ainda assim, algumas pessoas ignoram as adversidades do tempo e optam por alternativas de lazer. Como exemplos, temos as feirinhas das pracinhas e calçadões que atraem pessoas de todos os lugares. Mas o que os faz se deslocarem para esses ambientes, mes-

ano e meio no mesmo local, afirma nunca ter tido problemas com a fiscalização. “Estou a 10 metros da feira, não preciso pagar alvará”. Há, ainda, pessoas que comercializam nas calçadas da rua onde é realizada a feira. Uma mulher vendia óculos, enquanto outra chamava clientes para comprar panos. DVDs e CDs piratas também podem ser encontrados com facilidade nas extremidades da feira.

mo com mau tempo? A feirinha de Praia das Gaivotas, em Vila Velha, apresenta maior movimento nos finais de semana. Conta com cerca de vinte barraquinhas de diversos produtos, como acarajé, yakisoba e batata recheada. Também é possível encontrar artesanatos, camisetas e acessórios. O Lanche do Pedrinho é um dos mais famosos da pracinha: já apareceu quatro vezes no jornal e, além de servir lanches, o lugar conta com música e televisão para o entretenimento de seus clientes. “A “vigilância sanitária aparece com certa freqüência por aqui” diz Fernando, 23 anos, funcionário do local há sete anos. “Temos que ter cadastro na Prefeitura Municipal de Vila Velha, e, além disso, pagar uma taxa de cinco reais pela iluminação”. Outra atração é a barraca do pastel com caldo de cana. Serve o lanche mais barato da feirinha e funciona todos os dias das 14 às 22 horas. Os shows evangélicos são outras atrações que aceleram o movimento do lugar, atraindo pessoas de todas as idades. Outro exemplo semelhante de feirinha

acontece no calçadão da Praia da Costa. Assim como em Gaivotas, reúne cerca de 20 barracas e fica mais movimentada nos finais de semana, sem falar do verão, época em que o número de turistas aumenta significativamente devido a proximidade da praia. Pessoas de todas as idades vão sempre ao local, mas nota-se o predomínio de jovens e de famílias, moradores do bairro. “É muito bom dar uma volta na feirinha à noite, pois é um ambiente tran-

qüilo e encontramos muita variedade nas barraquinhas” diz a universitária Ana Carolina, de 18 anos. Quanto aos produtos, são barracas de diversas guloseimas como churrasquinhos, bombons, churros, sanduíches, tapioca, crepe suíço e pizza dividem espaço com artigos de artesanato, camisetas, sandálias, bijuterias e até mesmo livros usados. O comerciante Cláudio Andrade trabalha há 15 anos nesta feira vendendo bombons,

e diz que para montar uma barraca, deve-se pagar uma taxa e ser cadastrado na Prefeitura Municipal de Vila Velha. A respeito da fiscalização, Cláudio diz que somente durante o verão ela é intensa, e nessa época chega a vender 200 bombons por dia. Mas no resto do ano ele completa sua renda com encomendas e vendas em colégios.

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paginas azuis ´

Leonardo - Interno do Instituto Manassés Leonardo é carioca e tem 30 anos. Após mais de 14 no mundo das drogas, hoje ele busca a recuperação na Casa Manassés, onde está há cinco meses.

Keyla Cezini Como está sendo esse período aqui? Hoje em dia está mais fácil, no começo foi um pouco mais difícil. Minhas primeiras semanas aqui foram bem difíceis. Acho que a primeira semana de todo mundo é a mais difícil. A pessoa tem que estar realmente decidida a parar de usar a droga, se não, não consegue.

(e comigo foi assim) não querem “aparecer menos”. Acham que se não usar é otário, é isso, é aquilo. E, no final das contas, hoje em dia, eu percebi quem O que ela significa? foi o otário e quem não Isso aqui é uma coisa foi. Acho que quem feia. É um Slipknot. O usa droga na verdade símbolo de uma banda é o otário. Acha que é de rock que tem pacto malandrão, acha que com o diabo. Negócio é esperto e, na verde maluco! Eu decidi dade, está fazendo fazer alguma coisa em uma grande besteira. cima dela, agora tem Você estava en- O que você acha que pintar pra tapar. Essas amizades eram volvido com que que o levou a utida escola, do trabatipo de drogas? lizar drogas? Você falou que o que lho, da vizinhança...? Cocaína, maconha, Acho que o que leva leva a pessoa a se en- Colégio e vizinhos, o cigarro. a maioria das pes- volver como drogas pessoal do meu bairro. Você começou com soas. As amizades. são as amizades? que idade? Quando você convi- Acredito que sim. Qual era a sua relação Eu comecei com 16 ve com pessoas que Quando a pessoa con- com a sua família? anos. usam drogas a chance vive com isso de per- Inicialmente eu ficade você usar é bem to... Eu convivi com va escondendo. Mas, maior. (FOMOS IN- isso muito perto de quando eu assumi Foi “evoluindo”? TERROMPIDOS POR mim e acabei usando. tudo, eu já não tinha Você começou UM TELEFONEMA) Também é muito im- nem mais relacionacom o quê, pasportante falar que as mento com a minha sou para o quê? Está doendo pra pessoas geralmente família. Eu já não conFoi evoluindo. Apesar de que eu comecei com cocaína. Mas eu me adaptei inicialmente melhor à maconha e usava maconha o tempo todo. E cocaína, uma vez ou outra, uma vez no mês, numa festa, no carnaval. De uns cinco anos pra cá meu consumo aumentou, inicialmente para todo final de semana e por último todo dia.

caramba... (ELE ESTÁ FALANDO DA TATUAGEM) Você está tapando a antiga? É, vou tapar a antiga.

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casa tem cultos todos os dias. Dois cultos, de manhã e a noite. Quantos moradores há na casa? No momento, 13. E a maioria trabalha? Estuda? A maioria faz o trabalho que é da instituição, que é o trabalho de divulgação. Ele é quem cura e liberta. Quando eu cheguei aqui, eu percebi que quem estava realmente do. E agora em 2008 conseguindo se libertar eu decidi parar real- era o pessoal que esmente de usar droga tava mais voltado pra versava mais com a mi- e procurei me internar. religião, o pessoal que nha mãe. A pessoa não gostava de ler a bíblia, Você veio por iniconsegue mesmo ter o pessoal que, na hora própria? de ir aos cultos, o pesum bom relacionamen- ciativa to com a família. Não Iniciativa própria. Eu soal que se arrumava tem. Pelo menos comi- “decidi” agora que não primeiro, que não ia go, eu não consegui. dava mais, que eu pre- ao culto porque a casa cisava parar. As coisas obriga, ia porque realAntes de vir para a não andam, você não mente gostava de ir. Casa você já havia via progresso nenhum. Então foi o que eu fiz tentado parar de usar Você vê que está aca- também. Eu não estou drogas outras vezes? bando com a sua vida, certinho, ainda tenho Já. Em 2006 eu fiz um acabando com o seu algumas falhas, mas trabalho. Um acompa- dinheiro e perde o eu pretendo continuar nhamento com uma respeito, perde tudo. nisso. Mesmo quando psicóloga, um trabalho eu voltar pro Rio de legal lá no Rio de Ja- Desde que se in- Janeiro, estar indo a neiro. Só que eu não ternou, você con- uma igreja, estar danconsegui. Eu consegui seguiu ficar sem do continuidade a isso. drogas? ficar alguns dias, fiquei usar quatro dias. Mas eu ia Sim, estou esses cin- Vocês freqüenlá, conversava com a co meses sem usar. tam alguma igrepsicóloga, ela me dava ja específica? um montão de palavra Como é trabalho É específica porque de incentivo, eu acha- que é feito aqui? é aqui perto. Não sei va que ia conseguir. O trabalho da Manas- uma outra casa. Mas Depois eu voltei a usar sés é um trabalho atra- aqui perto tem a Igreja droga, ia lá, voltava vés da palavra de Deus. Internacional da Grapra casa, usava dro- Hoje em dia eu acredi- ça e a gente freqüenga e acabei desistin- to realmente nisso, que ta aos domingos. E a

Há alguém responsável por vocês, algum médico, algum psicólogo? Não. Em relação a médico, quando precisa o diretor leva a gente a uma clínica, mas em relação a psicólogo a gente não tem não. Pelo fato de ser uma instituição filantrópica e tal. Como você vê, hoje, a sua vida nesse período de 14 anos e agora? Eu fiz muita coisa errada na minha vida. Eu estimulei muita gente a usar droga, diretamente, indiretamente. Hoje em dia eu estou mais voltado pra, realmente, tentar ajudar outras pessoas. Eu faço um trabalho num projeto. Sou responsável pela maioria dos alunos daqui e tento estar ajudando, explicando a situação. Eu estou meio sem paciência, porque estou há muito tempo longe de casa. Quando eu comecei estava melhor, hoje em dia, confesso

que estou deixando isso um pouco de lado, mas eu converso, procuro conversar todo dia com eles. Pra tentar ajudar outras pessoas. Como eu consegui sair eu acho que é possível. E eu vou continuar fazendo isso. Mas eu quero fazer da melhor maneira, quero estudar, quero realmente entender tudo que leva, quero usar a minha experiência de dependente, acrescentar estudo e me voltar pra essa área. Pra realmente ajudar pessoas a saírem da droga. Eu trabalhava como motorista e conseguia ganhar 50, 70 reais por dia no Rio de Janeiro, trabalhava em transporte alternativo. E o colégio do meu filho é 70 reais por mês. E eu não consegui pagar o colégio do meu filho. Meu filho chegava a ficar dez dias com o colégio atrasado. E eu “fazia” o dinheiro e dizia: Vou pagar o colégio. Não pagava. Às vezes você pode até pensar: Ah, isso é safadeza sua. Não é não, é doença. Quantas vezes eu falei: Ah, hoje eu não vou usar, hoje eu não vou usar. Às vezes não podia, realmente não podia usar por conta de ter algum compromisso com aquele dinheiro, mas não tem jeito. No Rio de Janeiro a Manassés um trabalho parecido?

Tem. Mas eu não posso trabalhar lá porque a pessoa só trabalha quando é em outro estado. A Manassés trabalha dessa forma, ela tira a pessoa de perto do problema. Nessa casa aqui todo mundo é de outro estado, lá na casa do Rio todo mundo é de outro estado, o pessoal que está lá é pessoal capixaba, é pessoal de outro estado. Aqui tem curitibano, carioca, paulista.

ele, claro. E não é de é ruim porque falaram, não, é ruim porque eu passei por isso, entendeu? Eu não tive uma pessoa pra me orientar, não sei se foi esse o motivo de eu me envolver, mas ele vai ter, isso não quer dizer que ele não possa se envolver, mas mesmo se ele se envolver eu vou saber com ajudá-lo. O moleque tem sete anos, ele sabe mais ou menos o que eu estou fazendo aqui, eu fiz Você acha que o seu questão que ele souenvolvimento com dro- besse pra não estar gas trouxe prejuízo à achando de repente criação do seu filho? que eu não gosto dele Eu acho que teve. E eu ou que eu abandonei sou separado da mãe ele. Eu expliquei mais dele e acho que por ou menos a ele o que conta disso. Acho que eu estava fazendo por conta da droga. Eu, aqui (não sei se eu na época, não percebi. fiz certo), com as miVivia uma vida perigo- nhas palavras. Disse sa, preferi viver a rua, que eu ia parar de begostava mais da rua ber, ia parar de fumar. que da minha casa. Isso atrapalhou muito, você não tem noção do Você falou: “morando quanto isso atrapalhou. no lugar onde mora”. Hoje eu penso, e ele é Em que lugar ele mora? responsável pelo fato Baixada Fluminense. de eu estar aqui, ele tem uma parcela gran- É o mesmo lugar que de nisso. E também, você morava e onde coacho que o fato de eu meçou a usar drogas? não querer que ele leve É . essa vida (e isso eu pensei aqui). Ele teria É um lugar onde muitas acho que 80, 90% de pessoas usam drogas? chance de usar droga Sim. tendo o pai que tinha, morando no lugar que O acesso é fácil? mora. E com essa mi- Muito. nha decisão acho que ele tem 80, 90% de chance de não usar. Eu Hoje qual é a sua relavou deixar exemplo pra ção com a sua mãe e

com a sua ex-esposa? A minha ex-esposa me ajudou muito. Ela conversou comigo, ela falou do tratamento, perguntou se eu queria. Ela tentou ver por um lado lá que ela conhecia, não deu certo, não tinha vaga. Aí ela comentou com a minha. Eu e minha mãe, a gente nem se falava mais, ela veio, conversou comigo. A minha mãe já conhecia o trabalho da Manassés, ela tinha comprado uma canetinha e guardou o folheto. Ela tinha um dependente, sabia que um dia ia precisar. E foi certo. Aí eu conversando decidi realmente me internar. Hoje, meu relacionamento com a minha mãe é maravilhoso. Minha mãe está super feliz. Hoje em dia, com cinco meses, ela pára de ligar um pouco. No começo, ela ligava direto. Também foi uma pessoa que me ajudou muito. Durante toda a minha vida, eu não tenho o que falar da minha mãe. Acho até que eu tenho que pedir desculpa a ela pelo que eu fiz. E minha ex-esposa é minha amiga. Como esposa não dá mais, é chato, mas por enquanto é assim. Pra mim é minha ex-esposa, minha amiga, mãe do meu filho, eu sou obrigado a ter esse respeito por ela, cria meu filho, cuida bem dele.


Não raro somos abordados por pessoas que levam um estilo de vida alternativo, diferente do habitual. Elas estão por toda parte: calçadas de shopping, pracinhas, praias, shows, campus universitário ou qualquer outro local muito movimentado. São os chamados hippies, considerados verdadeiros artistas por alguns que valorizam seu trabalho, e condenados por outros, que os julgam como pessoas molambentas que não levam a vida a sério. Entre esses subversores da rotineira e agitada vida pós-moderna está Ernesto, um sujeito simpático que quase não se faz entender por seu sotaque espanhol carregado, mas que acredita ser a vida algo muito mais intenso do que trabalhar de terno e gravata no ar condicionado. Conversando com ele, pode-se notar a satisfação de ter conquistado sua liberdade, aprendendo a fazer o gosta e viajando por diversos lugares.

Ernesto Martins da Costa 41 anos Ocupação: Hippie

C

omo e quando você começou a ser hippie? Tudo começou quando eu tinha uns 15 anos. Os meus pais eram até bem de vida, me davam de tudo do bom e do melhor. Mas eu achava aquilo muito chato, muita frescura, sabe? Eles ficavam se gabando pela casa, pelo carro, rolava muita futilidade. E eu gostava de tudo mais simples, não ligava para nada disso. Aí começou a rolar conflitos, brigas, eles queriam que eu fizesse faculdade, virasse médico, mas eu nunca quis, eu queria era viver tranqüilo. Então eu resolvi sair de casa. Você tem contato com seus pais? No começo eles me

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procuravam, pediam pra eu voltar, mas eu tava bem, com uns amigos meus que me ensinaram a fazer uns “trampos” (trabalhos manuais, brincos e acessórios) para vender. Mas isso também já tem muito tempo, hoje eu estou com 41 anos, não falo com eles há muito tempo. Você é brasileiro? Sou. Eu nasci em Brasília, mas fui bem pequeno para a Argentina com os meus pais. Mas já viajei muito por aí, fui para o Paraguai, Bolívia, até que no ano passado eu acabei voltando para o Brasil. Por isso que eu ainda tenho tanto sotaque. Como são feitas essas viagens?

A gente é muito andarilho, nunca pára muito tempo em um lugar. Na maioria das vezes a gente pega carona. O negócio é ter um papo bacana, aí o cara dá carona para a gente. Mas quando não dá, a gente junta uma grana dos “trampos” e pega o ônibus. A gente vai migrando mesmo, igual cigano, conhecendo os lugares mais bonitos do mundo, conhecendo gente bacana. Quando é um lugar que tem muito movimento, a gente fica mais tempo. Eu fiquei dois anos em Recife, porque lá muita gente gostou do meu trabalho, fora que eu também peguei muito material lá para fazer os “trampos”.

filhos? Eu estou com a Márcia há uns nove anos. Ela também era da Argentina. Ela pensava como eu e quis conhecer o mundo junto comigo. A gente tem uma filhinha, a Sara, de quatro anos. Ela vai para tudo quanto é lugar com a gente sem reclamar, ela até gosta. A gente faz muita amizade por aí, é divertido.

É você que faz todos os trabalhos que vende? Eu e a Márcia. Ela me ajuda muito. Às vezes ela vai para um outro lugar buscar material, tipo pedra, penas, couro, e eu fico aqui vendendo. Aí tem um tempo que a gente some para poder fazer os Você é casado? Tem trabalhos, diversificar,

Vida de Hippie

né, porque tem hora que “o pano tá limpo” (quando há pouco produto em exposição para venda). Tem umas coisas que leva tempo para fazer, aí demora um pouco. Mas a gente faz isso geralmente depois do verão, porque é no verão que a galera corre para a praia, tem muito turista aqui no litoral, aí a gente aumenta um pouco o preço para turista e fatura uma grana.

Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos hippies? Ah, a gente sofre humilhação às vezes. No geral as pessoas têm muito preconceito, acha que só porque a gente não anda chique, a gente é vagabundo, vai assaltar. A sociedade é muito hipócrita, porque o nosso trabalho é honesto, e muitas vezes não é reconhecido, não dão valor. Já tive que dormir na rua, já fui xingado, já fui expulso de muito lugar. Mas você

tem que ter coragem para enfrentar essas coisas, hoje em dia a gente encara tudo com muito bom humor. O que as pessoas têm que saber é que hippie é diferente de mendigo.

Onde você mora? No momento eu estou morando aqui perto. A gente trabalha mais aqui na praça de Praia das Gaivotas e na Praia da Costa (Vila Velha). Quando o movimento está fraco, a gente vai para Guarapari, e sempre quando tem algum show aberto por aí a gente também aparece. Mas a gente sempre dorme em pousada ou aluga um quartinho, não dá pra ter casa fixa. Todo mundo deve pensar que a gente dorme na rua e não toma banho, né? Mas eu tomo banho sim, não todo dia, mas tomo. A Sarinha também está sempre limpinha. Porque você escolheu esse estilo de vida, apesar de todas

as dificuldades que você teve de enfrentar? Olha, eu sempre quis conquistar a minha liberdade. Eu não quero viver preso às coisas materiais, isso tudo acaba um dia. Os seus bens acabam e você compra mais, e compra mais e mais. Todo mundo vive escravo do consumismo. Eu decidi levar uma vida diferente, não me apegar a nada, conhecer esse mundo, viajar, arriscar, eu não tenho nada a perder mesmo. Eu vendo um trampo feliz da vida, vou lá no boteco e compro uma cervejinha ou então um sorvete para Sara. Bebo cafezinho do supermercado. Esse povo que vive enfiado num escritório, estressado, chega em casa e bate na mulher, não conversa com os filhos, não sabe que a vida é muito mais intensa que trabalhar de terno e gravata no ar condicionado. Essa é a minha ideologia, viver! Ser feliz, trabalhar

fazendo o que eu gosto, onde eu quiser, sem um patrão me enchendo, andar largado e fazer meus “trampos”. Rotulam isso como ser hippie, então “ta”, eu sou hippie e pronto. Qual futuro você pretende dar para a sua filha? Já está quase na hora de ela entrar na escola. Ela vai estudar, vai aprender, e eu estou trabalhando para dar o que ela precisa, nunca deixo faltar nada. Ainda bem que ela tem muita saúde e é uma menina muito alegre. A Sarinha ainda está pequena, e não entende muita coisa. Mas quando ela crescer, eu vou explicar tudo certinho para ela, esclarecer as coisas, vou criar minha filha tendo a mente aberta para tudo, alertar ela de todos os riscos e mostrar os dois lados da moeda. Ela que vai decidir se vai querer ser hippie ou não. Poliana Carvalho


artigo

entrevista

S.o.S Amazonia ^

Isabela Couto

Daiene Dias

Daiene Marçal Dias, medalhista Pan-Americana, vive uma boa fase na natação. A atleta de 19 anos ainda tem muitos sonhos e não pensa em desistir tão cedo. Apoiada pela família e pelo namorado, a baixinha de temperamento forte, treina de segunda a sábado e confessa que abriu mão de muitas coisas para chegar onde está.

Quando e como começou a nadar? Foi uma sugestão do meu médico. Eu estava com rinite, tinha seis anos, e o médico me indicou a natação. Acabei tomando gosto e já nado treze anos. Como é sua rotina de treinamento? Nado diariamente cerca de 4 horas, além disso, faço musculação. Cuido muito da minha alimentação e estou sempre sob os cuidados do meu médico.

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Já pensou em desistir? Sim. O esporte exige muita disciplina. Por vezes deixei de sair, tive que dormir cedo quando não queria, sempre mantive uma alimentação balanceada, enfim tudo isso me fez pensar em desistir, especialmente quando eu era mais nova. Hoje eu vejo que vale a pena,

Quais seus títulos mais importantes? Minha primeira medalha importante foi quando ganhei meu primeiro campeonato brasileiro. Hoje, é claro, considero minha medalha de bronze no Pan-Americano. E o próximo passo? Estou treinando muito e sonho com uma medalha nas Olimpíadas, mas antes quero ainda ganhar uma medalha em algum campeonato mundial. Como você avalia o esporte capixaba? Nosso estado possui muitos talentos que não são aproveitados por causa da falta de incentivo. Com isso muitos atletas acabam saindo daqui, conseguem apoio em outros estados e acabam se destacando no cenário nacional.

Pimenta na floresta dos outros é refresco. Europeus e americanos, representados pelas suas respectivas imprensas, têm ficado bastante eufóricos quando começam a discutir meio ambiente, sobretudo quando o assunto em xeque é a biodiversidade brasileira e sua importância para o equilíbrio do clima mundial. A saída de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente trouxe à tona a velha cobiça do capitalismo verde pela Floresta Amazônica. Questionamentos sobre a ineficiência das ações do poder público brasileiro diante do crescimento das áreas desmatadas são os mais comuns. Alguns jornais chegam a questionar, de forma sórdida, se a Amazônia é, de fato, do Brasil.

rônios dos nossos vizinhos roliços e dos companheiros europeus. Levantar a hipótese de que a Amazônia não pertence ao Brasil e cogitá-la em discussões na televisão fere de forma inexorável a soberania brasileira. Só para citar um exemplo sem caráter comparativo, é como se os brasileiros estivessem discutindo o destino do arsenal atômico da maior potência do mundo – uma discussão que, digase de passagem, é sem importância para os norte-americanos. Ou seja, afirmar que o desmatamento na Amazônia pode levar a humanidade ao caos é relevante, mas refletir sobre um poderio atômico que pode matar 30 vezes qualquer tipo de vida no planeta é algo sem nexo. O efeito estufa já está Pura hipocrisia. Estacozinhando os neu- dos Unidos e Europa

aniquilaram suas florestas sem dó, não se preocuparam em nenhum instante com o futuro de suas famílias. Suas economias deitaram e rolaram sobre o tema meio ambiente e, hoje, quem paga a conta são os brasileiros. E pagamos caro: a nova face do capitalismo, o chamado capitalismo verde, está com os seus titulares em campo para vencer de goleada o governo brasileiro e implantar suas idéias ecologicamente corretas em solo tupiniquim. Nada mais esdrúxulo.

Carlos Minc, o novo comandante do Ministério do Meio Ambiente, que se cuide, seus ideais pós-guerrilha devem estar bem aguçados. Ele vai precisar do seu espírito guerrilheiro para enfrentar a pressão internacional. O presidente Lula tem de

agir, tem que anunciar ao mundo que quem manda no Brasil é o Brasil e que, por isso, na Amazônia ninguém mete o nariz; a inércia dos nossos representantes públicos, neste instante, é um erro que corre o risco de não ter conserto. Afinal, seja o povo brasileiro nacionalista ou não, a nossa soberania existe e deve ser respeitada. O Brasil não pode se curvar diante do planeta e deve evitar fazer o papel de bode expiatório. Quando cada país do mundo fizer a sua parte para a proteção do meio ambiente, linha de preocupação nenhuma perturbará as testas dos ecochatos. Basta um pouco de consciência e menos hipocrisia.

Vinícius Altoé

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artigo Raposa Serra do Sol

A questão de Raposa Serra do Sol é um dos grandes “pepinos” que está nas mãos do Supremo. Soma-se a esse, a questão do aborto de fetos anencefalos, sem falar no suposto grampo da ABIN. Mas isso já é assunto pra outro texto. Bom, voltando. O conflito na reserva é complexo e envolve vários grupos. Para facilitar a análise, vamos trabalhar com argumentos ligados aos interesses de quem é a favor e de quem é contrario à demarcação contínua. De um lado temos os rizicultores, os pecuaristas e o restante da população não-índia da região. Apoiados por parte minoritária dos indígenas – reunidos na Sociedade de Defesa dos Indígenas Unidos do Norte de Roraima (Sodiur) – e pelo

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governo de Roraima. Esse grupo, evidentemente, é contra a demarcação contínua. Para eles, com essa delimitação da reserva – que representa um pouco mais de 7% do território – a área ocupada pelos índios no Estado subiria para mais de 40 %. Isso, segundo tal grupo, prejudicaria a economia de Roraima e atrasaria o desenvolvimento do Estado. Outro argumento afirma que a reserva ameaça a soberania nacional pelo fato de estar localizada em uma região de fronteira com a Venezuela e com a Guiana. Isso porque, os índios não ocupam de forma homogênea o território demarcado, o que, para os rizicultores, deixaria essa área vulnerável a infiltrações (essa também é a opi-

nião dos militares). Do outro lado encontramos a maior parte dos indígenas, representados principalmente pelo Conselho Indígena de Roraima, além de entidades da sociedade civil ligadas à defesa da causa nativa ou social. Entre elas, a ONG Instituto Socioambiental, Conselho Indigenista Missionário (Cimi) e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). O argumento desses grupos é baseado na Constituição federal de 1988 que assegura aos índios “os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarcá-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens”. A Constituição reconhece também “aos índios sua organização social, costu-

mes, línguas, crenças e tradições”. Em relação à suposta ameaça à soberania, os defensores da demarcação contínua defendem que tal perigo não se justifica, já que os vazios demográficos da Raposa Serra do Sol não são tão grandes. Além disso, a atuação do Exército dentro das reservas é livre, portanto, não haveria motivo para essa preocupação. O supremo tem agora uma importante decisão para tomar. O que está em jogo não é apenas a legitimidade da demarcação contínua da Raposa Serra do Sol, é também, como já disse ministro Carlos Ayres Britto, um parâmetro para os processos demarcatórios no Brasil. Izaias Buzon


artigo Angeli Alves

Qual a diferenca? ‘

“O publico faz a diferença”. Este é o slogan e a aposta do Projeto Universidade Para Todos (PUPT), o cursinho pré-vestibular destinado a estudantes de escolas públicas da Grande Vitória. O Projeto, como é carinhosamente chamado por seus participantes, surgiu em 1996 com uma iniciativa inédita: a de promover uma universidade diferente. É retirar apenas do discurso o dizer “universidade pública” e fazer com que a mesma esteja, definitivamente, acessível a todos. Isso mesmo, a todos, no melhor sentido dessa palavra. Por uma medíocre tradição, digamos assim, em termos sociais, as escolas de ensino superior, sobretudo as públicas, inserem em suas listas de aprovados no vestibular em grande maioria uma pequena e paradoxal

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minoria dos estudantes. E esta, refletida na situação econômica, que, por sua vez, é caracterizada pelas classes sociais mais altas. Para esclarecer, o “uso” devido de universidades como a Federal do Espírito Santo (UFES) é maciçamente ocupado por alunos de escolas particulares. Nisso não há problema nenhum, no entanto, o “maciçamente” citado logo atrás é, explicitamente, um problema social. Contudo, reconhecer esse problema e desenvolver bonitos discursos sobre ele é comum e inexpressivo se com isso for dado um ponto final. Indo mais além, discutir tal situação, chega a ser uma atitude clichê, visto que esse tipo de discussão é quase um blá blá blá corriqueiro atualmente. É preciso ir para a prática. Fazer a diferença. A boa notícia é que ela está sendo feita.

O trabalho feito pelo Projeto mediante a essa realidade é satisfatório. Todos os anos o cursinho seleciona várias vagas aos alunos, que vou chamar aqui, de “alunos de origem pública”, ao acesso as aulas com conteúdos de ensino médio destinadas à preparação ao VestUfes. Durante o ano, mais do que o conteúdo típico de um curso destinado a pré-universitários, o PUPT oferece palestras motivacionais, material didático, aulas discursivas e monitorias como formas de auxílio. Talvez possam parecer inúteis as palestras motivacionais. Porém, não é. O ingresso na universidade pode ser uma conseqüência natural para muitos jovens que por condições financeiras ou um apoio de uma família que desde pequeno o instruiu para isso. Só que existem várias realidades. O

Projeto foca naquela não tão agradável quanto essa. Aqueles que precisam dividir o tempo de estudo com o trabalho, ajudam no sustento de suas famílias ou moram na periferia também tem a oportunidade de sonhar com o curso superior. É um sonho, porque a realidade que os convém dá a entender e essa oportunidade é um sonho. A diferença está aí, o sonho torna-se cada vez mais realidade. Os alunos do Projeto passam na UFES no fim do ano em quantidade considerável. O desempenho, uma vez lá dentro, é equivalente ao dos “alunos particulares” e o interesse em acreditar ser possível adquirir um diploma só aumenta. No que depender do PUTP, esse público irá continuar fazendo toda a diferença.


saco de risadas Por SĂ­lvia Hot, Rubiana Liuth e Rebeca Ramos

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