Quando não podemos parar

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SÉRIE DESCOBRINDO A PALAVRA

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Com as doações e ofertas voluntárias, mesmo as pequeníssimas, os nossos parceiros e leitores colaboram para que Ministérios RBC alcance outros com a sabedoria transformadora da Bíblia.


QUANDO NÃO PODEMOS PARAR por Tim Jackson e Jeff Olson

M

aria está obcecada por comida. Por anos, ela come e vomita o que comeu, chegando a fazê-lo 20 ou mais vezes ao dia. A sua rotina compulsiva parece ter vida própria. Bill tem um amor e a sua esposa não sabe de nada. Como adolescente curioso, descobriu as revistas Playboy e Penthouse. Quinze anos mais tarde, ele acha os 900 programas noturnos da TV irresistíveis. O seu modem de computador lhe dá fácil acesso à pornografia, no espaço cibernético e na Internet. Carla perdeu a sua sobriedade com o álcool. Ela não costumava beber cerveja no bar local. Ela bebia no seu quarto. Ninguém da família suspeitava de seu problema. Ela só bebia quando o seu marido estava trabalhando e as crianças estavam na escola. Ela pensou que não era algo tão sério, até que ficou grávida de novo e tentou parar pelo bem do bebê. Como estes exemplos sugerem as adições não estão limitadas às substâncias ilegais, que alteram o humor da pessoa. Maria tem o vício da gula. Bill é um escravo da sua própria sexualidade. Carla é controlada por uma substância vendida Título original: When We Just Can’t Stop ISBN: 978-1-58424-261-1 Foto da capa: Terry Bidgood PORTUGUESE As citações bíblicas são extraídas da Nova Versão Internacional © 2000, Soc. Bíblica Internacional © 2002,2009 Ministérios Pão Diário Impresso no Brasil

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A COMPLEXIDADE DO VÍCIO

livremente nas prateleiras de um supermercado de família. As adições levantam muitas perguntas. São elas alguma fraqueza moral, enfermidade, hábitos ou pecado? São elas uma dependência física ou ciclos espirituais complicados? O que é necessário para mudar? É necessário tratamento médico, intervenção da família, prestação diária de contas em um grupo ou transformação espiritual? Podem os comportamentos ser transformados rapidamente ou a recuperação é um processo que durará toda a vida? Se a nossa resposta a essas perguntas é um sim, ou pelo menos um talvez, estamos sendo honestos com relação à complexidade do vício ou adição. Nas páginas a seguir, analisaremos esta complexidade e nos focalizaremos em algumas das dimensões pessoais e espirituais mais críticas do vício.

Definindo um vício. Um

vício é uma dependência escravizante e destrutiva. Um dicionário define o vício como “o estado de estar escravizado a um hábito ou prática ou a algo que forma psicologicamente ou fisicamente um hábito, como os narcóticos, a tal ponto que quando é interrompido, causa um trauma severo.” Por que uma pessoa pode estar predisposta a algum vício e por causa da probabilidade de complicações médicas, os vícios geralmente são vistos como uma doença. Entretanto, seria um erro pensar somente em termos de dimensões físicas. A maioria dos vícios também tem sua raíz em escolhas morais e necessidades espirituais. O que é mais importante não é o fato de termos predisposição para um hábito 2

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que nos escraviza, mas se estamos dispostos a fazer qualquer coisa que seja necessária, para que este predisposto “corpo enfermo”, hábito ou ídolo venha a ser controlado pela razão e pela fé. Quão difundidos são os vícios? Segundo um artigo do Journal Library, de 1992, 45 milhões de americanos participam de 140 tipos diferentes de grupos semanais de recuperação. Outros 100 milhões tentam ajudar aqueles que estão em recuperação. Em outras palavras, metade da polução está em recuperação ou ajudando alguém em recuperação. Entretanto, se pudéssemos ver todo o quadro, um número muito maior da população — do que alguém já tenha sonhado — está cativa a dependências destrutivas e escravizadoras que nos arruinam, bem como os nossos relacionamentos. O que pode levar a um vício? Em seu livro

Addiction And Grace, Gerald May compilou uma lista de 105 itens, dos quais muitos se tornaram irresistivelmente cativos. A grande maioria são coisas boas tais como comida, trabalho, exercício, fazer compras e remédios de prescrição. Vejamos alguns dos mais comuns. Drogas e Álcool. Produtos químicos que alteram o humor estão entre alguns dos nossos vícios mais óbvios. Eles criam uma dependência física, emocional e social; nos sentimentos artificialmente estimulados. Alguns estimulantes, variando da cocaína até a nicotina, produzem um regozijo que criam uma ilusão de bem-estar, de poder, suficiência e controle. Outros causam alucinações de prazer ou terror. Produtos depressivos tais como o álcool, podem aliviar temporariamente as nossas ansiedades e as nossas inibições. Comida. Muitos procuramos satisfazer 3

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com a comida não só as necessidades naturais do nosso corpo, mas também anseios insaciáveis tanto emocionais como espirituais. Quanto mais comemos para nos sentirmos melhor, tanto mais os nossos corpos trabalham com as nossas emoções para aumentar a sua exigência. O ciclo é vicioso. Tentativas de reverter os efeitos de comer demasiado também podem tornar-se um vício. Se somos anoréxicos, passamos fome. Se sofremos de bulímia, nos satisfazemos e nos purgamos do que comemos, com o mau uso de laxantes ou provocando o vômito. Se nos satisfazemos com algo ou nos privamos de algo, caímos, involuntariamente, numa outra escravidão, a dependência destrutiva. Prazer sexual. O vício do prazer sexual pode envolver obsessões matrimoniais ou extramatrimoniais, heterossexuais, do mesmo sexo, fetiches ou obsessões

pornográficas. O vício do sexo se torna evidente quando os desejos saudáveis por intimidade são canalizados para comportamentos que nos roubam o nosso respeito próprio, liberdade, autocontrole e a oportunidade para um prazer sexual saudável. Trabalho. Conforme Gênesis, Deus nos criou para cultivar e guardar a terra, governar o mundo e ajudar um ao outro neste processo. Portanto, não é de se surpreender que num mundo caído, nós transformemos o trabalho num mestre da escravidão e em um deus. Muito da nossa orientação cultural está focalizada no nosso desejo de significado através de realizações profissionais. Os adictos ao trabalho estão absorvidos cronicamente num fluxo contínuo de tarefas. O nosso sentimento de bem-estar está envolto naquilo que fazemos. Tentativas de 4

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quebrar a nossa obsessão pelo trabalho, resultam em depressão e sentimentos de fracasso. Relacionamentos. Podemos também desenvolver uma dependência de pessoas, escravizante e destrutiva. Uma forma de idolatria de relacionamentos ocorre quando vemos outra pessoa como fonte da nossa identidade e bem-estar. Sozinhos, nos sentimos vazios, não realizados e indefesos. Quando somos ameaçados pela separação, lutamos para nos apegarmos à outra pessoa a todo custo, mesmo prejudicando aquele que dizemos que amamos. Jogo, apostas. Ao jogar na loteria, nos cassinos, nas pistas de corridas ou fazendo apostas em eventos esportivos, alguns se tornaram viciados aos números dos jogos. Perdas sucessivas e sonhos de ter liberdade financeira alimentam a necessidade de “mais uma chance”. Por um

momento, o prejuízo já feito à família, amigos e futuro é ignorado pela torrente de adrenalina de mais um jogo.

CARACTERÍSTICAS DE UM VÍCIO

A

queles que trabalham com pessoas presas a vícios, identificam pelo menos cinco sinais de perigo, os quais quando aparecem juntos, indicam a presença de uma dependência escravizante e destruidora. 1. Uma concentração absorvente. Todos os vícios consomem tempo, pensamentos e energia. Eles não são simples passatempos — são obsessões e preocupações que exigem cada vez mais de nós. 2. Uma crescente tolerância. O padrão de rendimento decrescente também é comum. Necessitamos de quantidades cada vez maiores para manter o mesmo efeito. Os viciados 5

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4. Consequências prejudiciais. Não há vícios

em drogas precisam de mais crack para obter a mesma sensação. Os alcoólatras necessitam de mais álcool para manter a sensação de bem-estar, que a princípio conseguiam tão facilmente. Os viciados em sexo se movem da pornografia ligeira à pornografia pesada, ou de relações matrimoniais normais a encontros socialmente e biblicamente proibidos. 3. Uma crescente negação. Para proteger os momentos sagrados do nosso prazer, negamos que o nosso “interesse” nos esteja arruinando. Como há muito a se perder, escondemos dos outros o alcance de nossa escravidão. Convencemo-nos que podemos parar quando quisermos. Aprendemos a viver em dois mundos ao mesmo tempo, chegando até acreditar nas nossas próprias histórias. Convertemo-nos em atores consumados em frente dos outros, por causa do nosso medo de sermos descobertos.

inofensivos. Todos os vícios são destrutivos para nós e para os que amamos. Direta ou indiretamente, as nossas obsessões podem destruir as nossas famílias e as nossas amizades. Podemos perder o nosso trabalho, a nossa saúde, o nosso respeito próprio e a nossa reputação. Os vícios são dependências escravizantes e destrutivas. Destroem a nossa capacidade de ter domínio próprio e a nossa habilidade de conhecer e desfrutar o Deus que nos criou para si mesmo. 5. Privação dolorosa. Qualquer coisa que habitualmente usamos para nos proporcionar uma sensação artificial de bem-estar, produz dor quando nos privam da mesma. As explosões de ira, agitação, ansiedade, ataques de pânico, tremores e depressão, todos são um preço que pagamos pela privação. Quando privados do nosso vício, 6

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temos a tendência de sentir que perdemos algo essencial para a nossa sobrevivência. À luz de tais resultados dolorosos, poderíamos perguntar-nos por que estamos tão dispostos a ficar dependentes de formas de pensar e agir tão destrutivas.

o mal que fizemos a outros nos perturba, quando perseguidos pela rejeição de um dos pais ou cônjuge, é natural que tentemos aliviar a dor. Detestamos nos sentir culpados, desconectados, vazios e sós. Ansiamos por aceitação e amor. Os nossos vícios providenciam um remédio que nos ajuda a esquecer a dor, ao menos por um pouco de tempo. O alcoolismo afoga a tristeza. O vício das drogas transforma os baixos em altos. Comer em demasia e de forma compulsiva preenche o nosso vazio. Trabalho obsessivo substitui inseguranças com um sentimento de realização. O vício sexual simula aventura e intimidade. Os vícios muitas vezes começam como uma busca por prazer, para adormecer o desconforto de perdas dolorosas. Mas, em breve, descobrimos que os vícios multiplicam a dor. Com o tempo, tornam-se piores que a dor que estávamos buscando

POR QUE NOS APEGAMOS AOS NOSSOS VÍCIOS?

O

s vícios não são simplesmente diversões de nossa escolha. Os vemos como “botes salva-vidas”, necessários para a nossa sobrevivência. Os vícios nos dão algo que cremos que devemos ter para viver: proporcionam-nos um alívio previsível e poder em um mundo imprevisível e doloroso. A busca por alívio. Quando confrontados com a perda da saúde, quando 7

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aliviar. Agora nos vemos na necessidade de alívio, não somente de nossas perdas inevitáveis, mas também da vergonha pela nossa própria estupidez. Sentimos vergonha por confiar em um comportamento vicioso que piorou o nosso problema. Entretanto, a vergonha também engana. No começo, o prazer nos mantém no vício. Com o passar do tempo, a vergonha tem o mesmo efeito. De maneiras próprias, ambos os sentimentos são enganosamente efetivos para aliviar a dor. O prazer preenche e distrai; a vergonha mata. Ambos fazem parte de nossos vícios; ambos combinam com as nossas obsessões, a fim de amortizar os nossos corações não somente pelo mal que estamos fazendo aos outros, mas também pelo nosso próprio anelo de amor e relacionamento. Ironicamente, a vergonha acaba sendo mais útil do que o prazer, em providenciar

alívio para nossa dor. A vergonha nos faz sentir indignos de dar e receber amor. A vergonha diminui os nossos desejos de nos relacionarmos. A vergonha acaba poderosamente com a dor, não somente por abafar a nossa dor, mas por amortecer os nossos corações até que não sentimos mais nada. Quando os nossos corações estão amortecidos, não sentimos dor. Não desejamos dar nem receber amor. Também não somos capazes de sentir o mal que fazemos aos outros. Não obstante, usar o nosso vício e a sua consequente vergonha para não sentir nada, parece ser preferível do que carregar as tristezas da vida. A busca por poder. Os vícios também proporcionam a ilusão de que temos o controle. Eles são como tapetes mágicos privados que nos transportam para um mundo, onde parece que temos o controle. Eles 8

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proporcionam uma forma previsível de mudar o que sentimos com relação a nós mesmos e a outros. Os vícios nos proporcionam momentos previsíveis com os quais podemos contar, enquanto nos iludimos de que temos o controle. Ainda que as circunstâncias e as pessoas estejam além do nosso controle, os nossos vícios nos dão o que prometem: conforto, prazer, poder, controle — agora. Ao recusar-nos a comer, ao vomitarmos o que comemos, ao usar o trabalho para conseguir reconhecimento, ao fazer mais uma compra, sentimos poder e não nos sentimos tão incapazes. Os vícios são atraentes porque parece que proporcionam doses previsíveis de alívio e poder, em meio à dor e à incapacidade. Mas na realidade, eles são uma casa de espelhos que prometem liberdade e logo

nos aprisionam com pouca esperança de escapar. O efeito sempre é um jugo autodestrutivo. O que descobrimos, tarde demais, é que em troca de alívio e controle, os nossos vícios nos dominam. Apesar de nos convencermos que temos tudo sob controle, a experiência nos demonstra o contrário — pararíamos se pudéssemos. Mas nos tornamos escravos de nossos próprios desejos. O desejo pelo vício é maior que o desejo de parar. Cremos que necessitamos, merecemos o alívio e o poder que nos dá o nosso vício. Em algum momento, nos sentimos obrigados a escolher entre o nosso vício e aqueles que nos amam. Sabemos o que desejamos desesperadamente. Não queremos perder aqueles que amamos, mas não sabemos como poderíamos sobreviver sem o ‘amigo’ que nos destrói. Sentimo-nos presos num ciclo vicioso. 9

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O QUE É O CICLO VICIOSO?

sociedade. Temos medo de sermos descobertos. Por outro lado, decidimos parar ou emendar os nossos fracassos, esperando que diminuam o nosso sentimento de culpa e vergonha. Mas isso nunca acontece. Pode ser que tenhamos limpado a nossa vida do vício e de suas sensações desagradáveis

À

medida que o vício ganha mais controle sobre nós, os nossos prazeres diminuem. Os momentos de alívio são substituídos pela vergonha persistente. Sentimo-nos culpados por ter um hábito que não é aceito pela

• alívio • controle

• desilusão • desespero

isfação

• vergonha • culpa

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temporariamente, mas nada o substitui. Como resultado, estamos mais conscientes do nosso vazio. Então, se apoderam de nós sentimentos de desilusão e de desespero, e começamos mais uma vez a exigir alívio. A exigência de alívio nos lança de volta aos braços conhecidos do nosso hábito. Este ciclo acontece repetidamente em graus cada vez mais profundos de insatisfação, desilusão, desespero e escravidão.

o emprego, a saúde ou os relacionamentos. Algo nos tem que levar ao fundo do poço. Algo deve fazer com que estejamos dispostos a pedir qualquer tipo de ajuda espiritual, médica ou fazer parte de reuniões diárias onde se deve prestar contas a alguém para vencer o domínio que a dependência escravizante e destrutiva tem sobre nós. Uma coisa é certa. Mesmo que seja necessária uma hospitalização e tratamento médico para quebrar a opressão de nosso vício, também necessitaremos de ajuda espiritual para recuperar a nossa sanidade, sobriedade e o autocontrole. O vício envolve o nosso ser interior, espiritual. Temos necessidades que não podem ser satisfeitas com comida, álcool, drogas ou trabalho. Obsessões físicas não podem satisfazer os nossos profundos anseios por satisfação, segurança e significado.

O QUE É NECESSÁRIO PARA QUEBRAR O CICLO?

À

s vezes, é necessária a intervenção da família para captar a nossa atenção. Pode ser que se necessite de uma ordem judicial. Algumas vezes, é preciso permanecer na ruína financeira, perder 11

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Como estas necessidades são mais espirituais do que físicas, a maioria dos centros para tratamento de vícios, hoje em dia, reconhecem que se necessita algo mais do que uma terapia médica ou social. Muitos programas são elaborados em base a uma forma de tratamento espiritual, chamada 12 passos para a recuperação. Nas páginas a seguir, consideraremos alguns pontos fortes e débeis deste enfoque.

Moços), chamado Frank Buchman teve uma experiência espiritual que, segundo ele mudou a sua vida. Relatos publicados indicam que em junho de 1908, Frank começou uma igreja numa rua da cidade de Filadélfia, EUA. A igreja cresceu e ele começou uma hospedaria para homens jovens, a qual se expandiu para outras cidades. Entretanto, não muito depois, Frank teve uma discussão violenta com o seu comitê administrativo porque lhe cortaram o orçamento e a distribuição de alimentos. Ele demitiu e foi para a Europa, terminando numa grande convenção religiosa em Keswick, Inglaterra. A sua transformação espiritual ocorreu quando escutou um orador falar de forma simples sobre a cruz de Cristo. Ele sentiu o abismo que o separava de Cristo e sentiu a necessidade de entregar a sua vontade própria. Voltou para sua casa e escreveu

A história do programa dos 12 passos para a recuperação.

Trata-se do programa amplamente adaptado dos Alcoólatras Anônimos. AA tem suas raízes no Grupo Oxford, o qual no início do século 20, promovia a renovação espiritual como meio de terminar com o poder do alcoolismo. O Grupo Oxford foi fundado em 1908, quando um secretário da YMCA (Associação Cristã de 12

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estas palavras a cada um dos seis membros da junta de diretores de Filadélfia: “Querido amigo: tenho alimentado maus sentimentos contra você. Sinto muito. Você me perdoa? Sinceramente, Frank.” Sentindo uma urgência em compartilhar esta experiência, dirigiu-se à Universidade de Oxford ali perto, e formou um grupo evangélico entre os líderes estudantis e os atletas. Com o tempo, este grupo enfatizou não somente a fé pessoal em Cristo, mas também a necessidade de: 1. Chegar ao fim de si mesmo. 2. Outros. 3. A dependência de Deus. 4. Auto-exame. 5. A confissão de defeitos do caráter. 6. A restituição do mal feito a outros. 7. Trabalhar com outros. Em 1934, membros do Grupo Oxford ensinaram alguns dos princípios de sua

comunidade a um alcoólatra chamado Ebby Thatcher, o qual estava a ponto de ser internado como alcoólatra crônico em Bennington, Vermont. Mais tarde, Ebby ensinou estes princípios a um amigo de infância, também alcoólatra, chamado Bill Wilson. Wilson se converteu posteriormente no fundador dos AA (Alcoólicos Anônimos), junto com um médico chamado Bob Smith. Segundo uma transcrição de uma das conversas de Bill com AA, os primeiros princípios que aprenderam de Ebby foram: 1. Admitimos que bebíamos. 2. Tornamo-nos honestos conosco mesmos. 3. Conversamos a respeito, com outra pessoa. 4. Fizemos restituição àqueles aos quais fizemos algum mal. 5. Tentamos levar esta mensagem a outros, sem esperar nenhuma recompensa. 13

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6. Oramos a qualquer deus que acreditávamos existir. Como este deus “indefinido” apareceu posteriormente nos 12 passos dos AA, muitos cristãos se distanciaram do movimento. Eles indicam que muitas pessoas usam o programa de recuperação dos 12 passos como substituto da fé em Cristo e que alguns membros substituem a igreja por este grupo.

confrontam mutuamente e celebram juntos. Denunciam a negação e as crenças falsas com relação ao seu vício, ao mesmo tempo que incentivam a coragem para fazer escolhas difíceis. É interessante notar, que esse é o tipo de amor que exige o Novo Testamento. Em nenhum lugar, os princípios de recuperação e ajuda às pessoas deveriam ser mais evidentes do que entre aqueles que creem em Cristo e na Bíblia, de onde nasceu a recuperação através dos 12 passos. O que os seus fundadores aprenderam da igreja, alguns necessitamos aprender dos grupos de recuperação. Também é importante para nós ter em mente que as igrejas e os grupos de recuperação têm diferentes propósitos. Muitas igrejas não estão equipadas para proporcionar a atenção específica e compartilhar as necessidades que são providenciados em muitos

A necessidade de outros. É verdade,

que algumas pessoas consideram que os grupos de recuperação de 12 passos são de maior utilidade do que ir à igreja. A ajuda mútua tem sido um ponto forte do processo dos 12 passos. Os melhores grupos de recuperação funcionam como comunidades de intervenção, que demonstram compaixão e amor a pessoas que têm as mesmas lutas. Compartilham a carga da dor uns com os outros, riem juntos, choram juntos, se 14

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grupos com o programa dos 12 passos. Ao mesmo tempo, estes últimos não podem providenciar o tipo de família espiritual, a prestação de contas e a instrução que é ordenada pela Bíblia. Eles não definem a Deus para poder incluir pessoas de todas as crenças neste processo de vencer os vícios. Mas os grupos de recuperação que definem “deus como nós o entendemos” não podem providenciar toda a ajuda espiritual que necessitamos. A necessidade de compreensão. Confiar em “deus como nós o entendemos” pode ajudar as pessoas a vencer o álcool ou as drogas, mas não assegura o perdão nem um relacionamento familiar com Deus. Compreendendo nosso Deus. No Novo Testamento, o apóstolo Paulo falou sobre a questão do “Deus Desconhecido” a um grupo de filósofos atenienses do primeiro século

(Atos 17:22-34). Embora ele admitisse que pessoas de todas as crenças vivem, se movem e têm sua existência em Deus, Paulo deixou claro que agora Deus chama a todos a aceitar Aquele que Deus ressuscitou dos mortos. Paulo falava de Jesus, que havia ensinado anteriormente que: “Deus é espírito, e é necessário que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (João 4:24). Quando combinamos estas citações com o resto do Novo Testamento, encontramos um Deus que quer ser conhecido. Mesmo se Ele nos ajuda a vencer um vício quando ainda estamos adorando a um “Deus Desconhecido,” esta misericórdia não tem um fim em si mesma. O Deus da Bíblia nos dá tais misericórdias para nos conduzir à Sua plena oferta de perdão, de adoção, de vida eterna e capacidade espiritual diária em Cristo. 15

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Com este pano de fundo, vejamos como são os princípios de recuperação quando vistos à luz de um Deus que se revela a si mesmo e que nos busca de forma amorosa em nossos vícios e pecados. Isto vai ser difícil para alguns que se sentiram criticados e condenados por pessoas que alegam ser seguidores de Cristo. Mas tenha em mente que foi o próprio Cristo que teve a reputação de ser “amigo dos pecadores”. Jesus não morreu somente pelos seus amigos e por pessoas boas. Ele morreu por pessoas como Maria Madalena, que era possessa por sete demônios antes de ser libertada da escravidão. Ele morreu por pessoas capturadas pelos seus próprios desejos destrutivos do sexo, álcool e dinheiro. Foi por isso, que o apóstolo Paulo pôde escrever mais tarde: Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não

se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos e, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus (1 Coríntios 6:9-11). Se este é o tipo de pessoas que Deus declara sem mancha (justificadas) e se este é o tipo de pessoas que Deus separa para si (santifica) quando creem em seu Filho, então há esperança para nós também. Deus não justifica nem santifica pessoas boas. Jesus mesmo disse: Não são os que têm saúde que precisam de médico, mas sim os doentes. Eu não vim para chamar justos, mas pecadores (Marcos 2:17). 16

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Compreendendo nossa vulnerabilidade. Mas os cristãos não sofrem de vícios? Sim. As pessoas podem lutar com vícios antes e depois de vir a Cristo para obter perdão e salvação eterna. Essa é uma razão pela qual Paulo teve que escrever aos cristãos de Corinto (veja 1 Coríntios 6:9-11). Alguns ainda viviam sob a influência do álcool e desejos sexuais não controlados, mesmo depois de virem a Cristo. As pessoas que foram compradas por Deus e lhe pertencem, podem ainda assim lutar com qualquer vício que aflige os outros. Esta vulnerabilidade permanece durante toda a nossa vida e geme pela redenção do nosso corpo (Romanos 8:23). Mas, e aqueles que experimentam uma libertação dramática e duradoura no dia da sua salvação? Alguns falam de uma “cura milagrosa” quando creram em Cristo como Senhor e Salvador. Mas a sua história não é a regra

normal. A sua experiência mostra que Deus pode romper as cadeias da escravidão. A sua libertação nos mostra que Deus quer que o Seu povo seja livre, a fim de que eles sejam Sua propriedade e Ele possa dirigi-los. As suas curas dramáticas lembram-nos a todos que Deus pode dar poder a Seu povo para viver sob a influência e o controle de Seu Espírito. Mas as libertações dramáticas são apenas uma parte do quadro completo. Mesmo os que experimentam tal liberdade nos primeiros dias de fé, têm que enfrentar toda a sua vida os perigos de inúmeras outras dependências escravizantes e destruidoras. Foi para cristãos que Paulo escreveu: Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito, falando entre si com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando e louvando de coração ao Senhor, dando 17

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permitimos que dominem as nossas vidas. O desejo de nos sentirmos bem tem um propósito dado por Deus. Mas quando cremos que precisamos de alívio agora, e quando a nossa maior prioridade é a de evitar qualquer dor, estamos sendo vulneráveis a uma dependência escravizadora e destrutiva. Quando o sentir-se bem ou o não sentir nada é mais importante do que fazer o bem, amar aos outros ou conhecer a Deus, estamos prontos para cair num vício. Os nossos desejos refletem que fomos feitos para adorar. O filósofo e teólogo Agostinho estava certo quando disse que existe um vazio em todos nós, que anela por Deus, e os nossos corações não encontram paz até que encontramos descanso nele. Se não estamos adorando a um Deus bom que nos ama, então acabaremos adorando a nossos próprios desejos até que eles nos consumam. O vício se transforma num ídolo.

graças constantemente a Deus Pai por todas as coisas, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Sujeitem-se uns aos outros, por temor a Cristo (Efésios 5:18-21). Paulo mostrou aqui que o povo de Deus não está isento do perigo dos vícios. Ele também mostrou que os cristãos têm recursos poderosos de experimentar uma nova espiritualidade e uma dependência sadia do Espírito de Deus. Compreendendo nossos desejos. Para compreender os nossos vícios, é importante ver que os nossos desejos não são maus. Os nossos anseios por conexão, significado e liberdade nos são dados por Deus. O que nos mata é a forma como tentamos satisfazer ou apagar estas capacidades dadas por Deus. Os vícios são poderosos porque os desejos que Deus colocou em nós para nos servir, se transformam em mestres cruéis, quando 18

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Entretanto, os nossos desejos indulgentes fazem mais do que consumir-nos. Os nossos esforços desesperados em evitar a dor, indubitavelmente ferem aqueles aos quais amamos. Como podemos medir a dor de pais que veem a sua filha anoréxica morrer de fome? Quem pode expressar a dor de um filho que cresce com a incerteza e a negligência de um pai alcoólatra? Quem pode descrever a angústia de uma esposa que descobre que o seu marido levou o seu casamento à bancarrota financeira por causa de suas apostas compulsivas? Entretanto, apesar do custo para aqueles a quem amamos, seguimos nos apegando aos nossos vícios e insistimos em negar que temos um problema. Como o nosso desejo de sentir-nos bem ou não sentir nada parece ser mais importante do que a verdade, negar o fato é uma característica previsível e persistente da

pessoa que está presa por um hábito escravizante. O desejo egoísta leva as pessoas viciadas a negar que têm um problema, porque não podem imaginar-se vivendo sem o objeto de sua dependência. O esposo viciado numa aventura amorosa se sente muito mais vivo com a sua amante do que com a sua esposa. Os alcoólatras creem que necessitam da garrafa para que as suas vidas sejam suportáveis. Os viciados no trabalho pensam que precisam trabalhar 80 horas por semana para provar a sua importância. Elas não podem imaginar renunciar à fonte de seus sentimentos de bem-estar. Quando confrontados com o dano que o nosso vício e a nossa negação fazem a outros, estamos propensos a culpar a qualquer um, menos a nós mesmos pelo que está sucedendo. Consumidos pelo nosso desejo de sentir-nos bem ou de sentir-nos anestesiados a qualquer custo, temos a tendência de 19

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irar-nos com qualquer um que nos confronta com a verdade sobre nós mesmos. Compreendendo nossa ira. A nossa ira mascara o nosso temor. Iramo-nos com o céu e a terra porque temos medo de enfrentar a luz do dia. Aterroriza-nos o pensamento de perder o controle do vício que estamos usando para encontrar alívio e controle. Em nosso temor, buscamos estratégias para “lutar” ou “voar.” Lutamos com todos os que deixam transparecer que perdemos o controle de nós mesmos e que estamos no caminho da autodestruição. Fugimos para o conforto do nosso “amigo” que nos dá momentos de alívio e satisfação que adormecem a nossa mente. A nossa ira nos ajuda a justificar o nosso vício. Cremos que merecemos o alívio que ele nos proporciona. Ao culpar os outros pelos nossos problemas, mantemos a atenção longe de nós. Ao culpar a Deus pela nossa dor,

evitamos temporariamente a questão da nossa idolatria. Enquanto podemos alimentar as nossas queixas contra o céu, não precisamos lidar com o fato de que escolhemos, por vontade própria, deuses que nos permitem sentir bem no presente. Enquanto nos sentimos maltratados, ignorados, sem amor, podemos justificar, com ira, o fato de substituirmos Deus pelo nosso vício. Na nossa ira, sempre nos esquecemos daquele que carregou a nossa dor em Seu próprio corpo, na cruz de um ladrão. Quando culpamos a outros, não nos lembramos dos golpes, dos açoites, do menosprezo, dos pregos, da sede e das lágrimas de Cristo. Enquanto continuamos culpando a Deus e aos outros pela nossa dor, ignoramos a Jesus que carregou tal castigo por nós; que Ele mesmo exclamou: “Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?” (Marcos 15:34). Ao culpar 20

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o céu e a terra por nossos problemas e nos entorpecer no conforto insensato de nossos vícios, estamos ignorando aquele que disse: Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve (Mateus 11:28-30).

a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele, e ele comigo (Apocalipse 3:20). Ao ouvirmos o bater na porta, entramos em pânico ou ficamos com raiva. A nossa primeira reação geralmente é: “Oh, não! Ele está aqui. A casa está uma bagunça. Não podemos deixar que nos veja desse jeito. Se Ele entrar, vai fazer com que nos sintamos ainda pior do que já nos sentimos.” Esmagados pelo temor, esquecemos de que Ele é Deus e por isso já nos vê claramente como se não existisse nenhuma porta. Ele vê todos os pratos sujos, todos os quartos em desordem, toda a vergonha e todo vício. Ele sabe tudo a nosso respeito, como nos encontramos e inclusive o quão irados estamos com Ele. Além de termos medo, ficamos com raiva. Estamos certos de que o Senhor faz parte de nosso problema. Não queremos que Ele

ENCRUZILHADA

S

e necessitamos de perdão ou capacidade espiritual, o Deus da Bíblia nos faz uma oferta que, em troca, espera pelo nosso convite. Na Bíblia, Jesus retrata-se como alguém que está diante de uma porta, batendo, e dizendo: Eis que estou à porta e bato. Se alguém ouvir 21

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entre. Ele nos deixou na mão muitas vezes antes. Ele poderia ter evitado a nossa dor. Ele poderia ter-nos dado o tipo de vida que Ele deu para outros. Ele não tem sido justo e agora ainda quer mais. Sentimos de forma intuitiva que Ele quer os nossos corações. Ele quer nos controlar. Se convidarmos o Senhor a entrar, é como se convidássemos o nosso inimigo a entrar. Entretanto, Ele bate à porta. Ele sabe o que para nós é difícil crer. Ele veio com uma oferta de alívio e conforto e perdão e descanso. Ele veio porque quer nos fazer capazes. Ele quer sentar-se e comer conosco. Ele está esperando pelo nosso convite, para que digamos algo como: “Senhor, entre. Eu fiz de tudo um desastre. Por favor, entre e tenha misericórdia de mim.” Quando finalmente convidamos Cristo para o desastre da nossa vida, descobrimos que Ele não veio para condenar-nos.

Ele também não exige que trabalhemos mais para acertar as nossas vidas estragadas. Pelo contrário, Ele vem como um Salvador cheio de amor, à porta dos nossos corações, batendo, esperando que digamos: “Sim, Senhor, entre. Tome o controle. Perdoe-me. Transforme-me.” Existe uma oportunidade de mudar, nesta encruzilhada. É uma oportunidade para descobrir a vida através de um processo de admitir o nosso vício, reconhecer a nossa dor, aceitar a responsabilidade pelo prejuízo que cometemos, suplicar por misericórdia, optar em render-nos e amar os demais. Aqui nesta encruzilhada, os nossos corações podem reviver na presença daquele que, embora saiba tudo a nosso respeito, quer vir a nós e ser o Deus e Amigo que buscamos há tanto tempo. Como o pensamento de começar este processo com Deus sempre é assustador, 22

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vejamos nas páginas que nos restam como poderiam ser algumas das transformações, se deixássemos que Cristo entrasse no mundo dos nossos vícios e pecados. Nas próximas páginas veremos como seria a entrega e a transformação, vendo-os com os olhos daqueles que já começaram o processo de transformação nas suas vidas.

nossa história. Ao falar a outros sobre as nossas lutas, expomos a verdade de nossos vícios e vimos ainda mais claramente que os nossos supostos “amigos” estavam nos destruindo. Os nossos vícios haviam nos roubado de relacionamentos, dignidade e futuro. Uma vez que vimos o quão difícil era manejar a nossa vida, estávamos prontos a depender da ajuda de Deus e de outros para recuperar a independência sadia e o autocontrole que havíamos perdido.

SINAIS DE PROGRESSO

SINAL N.º 1: Admitimos que necessitávamos de ajuda. Este primeiro sinal

SINAL N.º 2: Descobrimos que a dor não era nossa inimiga.

de progresso espiritual não foi fácil. O caminho para a liberdade e para uma nova vida, a princípio, parecia ser a morte (Mateus 10:39). Admitirmos que estávamos sem controle, foi demasiado duro. Confessar a natureza de nosso problema a outros, parecia uma loucura. Todavia, começamos a contar a

Aprendemos a deixar que a tristeza nos ajudasse a recobrar os sentidos. A aflição saudável nos permitiu enfrentar a dor, a qual os nossos vícios, deveriam ter aliviado ou matado. Nossa dor não se foi. Mas encontramos novas maneiras de suportá-la 23

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com coragem, esperança e mesmo com alegria. Aprendemos a deixar que a nossa dor nos conduzisse ao conforto que foi expresso pelo autor do Salmo 73. Ele também havia sido esmagado e desiludido pelas injustiças da vida. Ele não podia entender como Deus permitia que pessoas más prosperassem na vida, enquanto que as pessoas inocentes como ele, sofriam. Estes eram pensamentos doloridos. Ele quase perdeu a sua fé. Mas porque ele enfrentou a sua dor e a trouxe ao lugar de adoração, repentinamente viu seu coração transformado pelas perspectivas da eternidade. Quando tentei entender tudo isso, achei muito difícil para mim, até que entrei no santuário de Deus, e então compreendi o destino dos ímpios. Certamente os pões em terreno escorregadio e os fazes

cair na ruína. Como são destruídos de repente, completamente tomados de pavor! [...] Quando o meu coração estava amargurado e no íntimo eu sentia inveja, agi como insensato e ignorante; minha atitude para contigo era a de um animal irracional. Contudo, sempre estou contigo; tomas a minha mão direita e me susténs. Tu me diriges com o teu conselho, e depois me receberás com honras. A quem tenho nos céus senão a ti? E na terra, nada mais desejo além de estar junto a ti proclamarei todos os teus feitos. O meu corpo e o meu coração poderão fraquejar, mas Deus é a força do meu coração e a minha herança para sempre (Salmo 73:16-19,21-26). Tal como o salmista, nós aprendemos que a nossa dor 24

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pode conduzir-nos a Deus. Descobrimos que a nossa dor não tinha que nos lançar nos braços do nosso vício.

nossos desejos, por exigir alívio, por negar-nos a admitir a nossa vulnerabilidade e pela nossa determinação de nos protegermos a qualquer preço, mesmo à custa de outros. Aceitamos a responsabilidade de substituir o nosso Criador com um vício, que não podia trazer luz e ordem para o nosso caos, mas em vez disso tornava as trevas mais escuras, nas quais nos ocultávamos. A princípio, tínhamos medo de tal responsabilidade porque ela aumentava o nosso sentimento de fracasso e perda. Descobrimos que havíamos sido tão culpados de fazer danos aos outros quanto eles eram culpados de fazê-lo a nós. Todavia, esta maior conscientização contribuiu para o nosso bem. Somente quando admitimos os nossos erros, encontramos a verdade que nos libertou (João 8:32). Aprendemos de Tiago, que nos encorajou a chorar pelos nossos pecados e nos aproximarmos de Deus

SINAL N.º 3: Aprendemos a aceitar a responsabilidade pelas nossas próprias escolhas. Vimos evidências de que estávamos vencendo o nosso vício quando começamos a ver além do mal que outros nos haviam feito. Em vez de simplesmente culparmos aqueles que nos haviam feito mal, começamos a ver como nós havíamos escolhido responder às nossas circunstâncias dolorosas. Os nossos olhos se abriram para as decisões que havíamos tomado, mesmo nos tempos nos quais pensávamos que não tínhamos outra escolha a não ser o vício. Encontramos motivos e escolhas que levavam a nossa assinatura. Aceitamos a responsabilidade da nossa ira, pela forma como procuramos satisfazer os

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(Tiago 4:8-10). E do apóstolo Paulo aprendemos que a tristeza segundo Deus é um caminho sadio para o arrependimento (2 Coríntios 7:10).

Deixando o fracasso para trás, a misericórdia agora nos chamava a uma nova dependência de Deus. Quando ainda nos braços do nosso vício, o pensamento de mudar parecia ser como a morte. Agora a misericórdia ofereceu-nos esperança, vida e liberdade. Deu-nos razões para afastar-nos de nossas tentativas fúteis de encontrar alívio e poder. A misericórdia nos deu uma nova maneira de olhar para o nosso Deus. O chamado da misericórdia foi mais forte do que a atração do nosso vício. Gradualmente, vimos aquele que oferecia misericórdia, como o que ama as nossas almas. Pela primeira vez, tínhamos mais do que prazer momentâneo. Agora tínhamos uma razão para destruir o ídolo e quebrar todos os laços com ele. Mesmo que lutássemos pelo resto de nossa vida para lembrar e praticar

SINAL N.º 4: Vimos a nossa necessidade de misericórdia. Vimos

anteriormente a nossa necessidade de ajuda. Havíamos chegado a crer que somente Deus poderia libertar-nos da escravidão de nosso vício. Mas então vimos que precisávamos mais do que ajuda. Precisávamos de misericórdia. Como tínhamos visto as muitas formas pelas quais havíamos pecado contra Deus e outros, tornou-se claro que necessitávamos de ajuda não merecida e perdão. A misericórdia tornou-se o nosso novo gozo. Convidou-nos a uma transformação do coração, ao arrependimento que nos levou a afastar-nos alegremente das nossas obsessões idólatras. 26

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tudo o que aprendemos, algo maravilhoso aconteceu. Fomos transformados. Experimentamos alegria. Nos nossos momentos de reflexão, sempre haveríamos de admitir que o prazer do nosso vício não merecia ser comparado com as misericórdias de Deus.

Ele até se deu a Si mesmo em troca de nosso quebrantamento. Com corações agradecidos, nos apegamos às palavras de Davi, que escreveu: “Como é feliz aquele que tem suas transgressões perdoadas” (Salmo 32:1). Foi então que reconhecemos que Deus nos buscava de forma implacável, para o nosso bem, apesar de nossa rebeldia descarada e idólatra contra Ele. Os nossos corações foram quebrantados e movidos de gratidão pela Sua misericórdia e graça. Desta perspectiva, nos perguntamos como podíamos ter-lhe voltado as costas, em troca de prazeres momentâneos e autodestrutivos. Esmagados pela bondade de Deus, e tendo experimentado a possibilidade de estar satisfeitos e completos nele, começamos a ter prazer em entregar-nos a Deus como uma expressão de nossa adoração e amor (Romanos 12:1).

SINAL N.º 5: Descobrimos que temos muito pelo qual devemos ser gratos. Somente quando descobrimos as riquezas da misericórdia de Deus, começamos a desfrutar as profundezas da Sua bondade. Havíamos amado tão pouco. Tínhamos sido tão cegos. Insistimos com tanta teimosia no nosso direito de sentir alívio da nossa dor e ter o controle das nossas vidas. Quando confrontados por aqueles que nos amavam, negamos de forma persistente a verdade. Não obstante, ao ver isso, Deus ainda nos amou. Ele nos perdoou.

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SINAL N.º 6: Descobrimos que a entrega é um estilo de vida. A primeira vez que

A entrega que tanto temíamos, tornou-se a maneira de pedir pela ajuda e misericórdia daquele que nos havia criado para encontrarmos o nosso prazer, segurança e realização nele. Entregar a confiança que tínhamos no vício, nos libertou para depender daquele que sempre dá muito mais do que tira. Renunciando às nossas metas egoístas e descansando nele, nos liberou tempo e energia que agora podiam ser usados para satisfazer as necessidades dos demais.

chegamos ao final de nós mesmos, que chegamos ao fundo do poço e que admitimos que a nossa vida estava destruída, a nossa entrega a Deus ainda não estava completa. De certa forma, foi uma entrega forçada. Tínhamos sido destruídos pela tirania de nossas próprias escolhas. As consequências da resultante escravidão fizeram a nossa vida impossível. Finalmente admitimos que fomos golpeados e que morreríamos se não nos entregássemos. Entregamo-nos para salvar as nossas próprias vidas. O que não compreendemos nessa época é que essa atitude de quebrantamento poderia converter-se em uma forma de vida. Também não vimos quão boa poderia ser a vida. Com o tempo, fomos surpreendidos pela alegria.

SINAL N.º 7: Nos dedicamos a ajudar outros. Quando

estávamos presos no caos de nosso próprio vício, sentíamos somente desprezo pelos relacionamentos genuinamente íntimos. Tínhamos tanto para esconder e estávamos tão absorvidos na nossa autoproteção e alívio que não tínhamos energia para ocupar-nos com ninguém 28

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REDESCOBRINDO A VISÃO DA IGREJA

a não ser conosco mesmos. Mas depois de experimentar a superabundante bondade de Deus, encontramos prazer em conduzir outros à mesma fonte sobrenatural de liberdade. Descobrimos que não existe maior expressão de gratidão a Deus, do que honrá-lo levando aos outros o mesmo amor que restaura, que nós recebemos. Foi deste sentido de missão que o apóstolo Paulo falou quando escreveu: A vocês, graça e paz da parte de Deus nosso Pai e do Senhor Jesus Cristo. Sempre dou graças a meu Deus por vocês, por causa da graça que lhes foi dada por ele em Cristo Jesus (2 Coríntios 1:3,4). Descobrimos que não existe nenhum outro lugar onde as pessoas estão melhor equipadas para ajudar-se mutuamente do que na família de uma igreja, onde as pessoas têm as mesmas lutas e, ao mesmo tempo, têm muito para agradecer.

A

o passo que a igreja não pode abordar todos os assuntos complicados do vício, ela pode prover alento, compreensão e um lugar onde se presta contas. A igreja pode oferecer o encorajamento de pessoas que se preocupam com o nosso bem-estar máximo. Pode ajudar-nos a compreender a nossa dor à luz do tempo e da eternidade. Pode ajudar-nos a esclarecer a nossa confusão, ensinando-nos a depender da Palavra de Deus e do Espírito Santo. Pode admoestar-nos a viver não somente em função de nós mesmos, mas também em função dos interesses dos outros. Uma igreja sadia pode lembrar-nos a orar, trabalhar e aguardar a volta iminente de Cristo. 29

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UM OLHAR NO ESPELHO

nos conscientizar que estamos prontos para cair numa dependência escravizante e destrutiva. O autor de Hebreus nos advertiu que todos necessitamos de exortação diária “de modo que nenhum de vocês seja endurecido pelo engano do pecado” (Hebreus 3:13). É através da decepção que o vício ganha terreno. Se não somos desafiados, a decepção e a negação crescem e cegam o coração, o que resulta em consequências devastadoras. Um homem que nega que tem uma curiosidade sexual incontrolada, está a ponto de cair num forte vício sexual. Um homem que não está disposto a questionar o número excessivo de horas que passa no trabalho, se expõe à perda de seus relacionamentos. Uma mulher que se recusa a admitir que está usando o álcool, a comida ou as compras para mudar os seus sentimentos, está em perigo de cair nas garras de um vício.

É

possível que todos nós já nos tenhamos reconhecido no espelho destas páginas. Que tipo de pessoa vimos? Vimos uma pessoa disposta a sentir as dores inevitáveis da vida? Ou vimos uma pessoa dedicada a procurar alívio e controle? Vimos uma pessoa vulnerável ao vício porque se nega a crer que somente Deus pode dar satisfação e segurança? Todos nós temos as sementes do vício dentro de nós. Todos queremos minimizar a nossa dor. Todos queremos controlar o nosso mundo. Neste ponto, precisamos fazer-nos algumas perguntas importantes: “Existe algo na nossa vida que se tornou excessivo, compulsivo ou emaranhado? Existe algo que pensamos que não podemos deixar porque significa demasiado para nós?” Se é assim, devemos 30

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O PROGRESSO DO PEREGRINO

Se caminharmos na margem de um vício, estamos a tempo de enfrentar a verdade. Os nossos corações estão machucados. Os desejos que Deus nos deu são poderosos. As nossas estratégias de autoabsorção para satisfazer estes desejos só aumentarão a nossa dor. Vão ferir-nos, não somente a nós, mas também aqueles que estão próximos de nós e que amamos. Os nossos vícios são deuses que não têm empatia alguma conosco, nem com aqueles aos quais amamos. Está em tempo de ouvirmos a voz amorosa e suplicante de Deus, que diz na Sua Palavra: Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá. Quem semeia para a sua carne, da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna (Gálatas 6:7,8).

A

lgumas pessoas vão a uma recuperação, esperando que Deus as livre imediatamente de suas lutas com os vícios. Poucas passam por esta experiência. A maioria enfrenta uma longa e árdua luta com muitas recaídas. Mas apesar das recaídas, Deus não nos abandona. Não há nada que possa ser comparado com o processo de ser perdoado, liberado gradualmente e passar da autoabsorção ao amor que se sacrifica para o bem dos demais. Nenhum de nós estará totalmente livre da nossa luta constante com o pecado nesta vida. Não importa quanto progresso já fizemos, os desejos que se opõem à graça de Deus sempre estarão em nós. Apesar disso, Deus pode nos capacitar a viver de maneira que não estejamos irresistivelmente controlados por coisas que substituem 31

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a Deus e que nos prendem como correntes; acabam com as nossas forças pessoais e nos incapacitam para amá-lo e aos demais. Deus pode ajudar-nos a desenvolver um espírito de liberdade para que sejamos motivados mais pelos interesses dos outros do que pelo nosso próprio prazer imediato. Deus pode capacitar-nos a encontrar nele a confiança e a fonte de vida que nos conduz a adorá-lo com gratidão. Quando perdemos a esperança em nós mesmos e nos vícios que nos consomem, Deus encherá o nosso coração até que transborde com a Sua maravilhosa graça. Michael Card captou a beleza de encontrar liberdade, nesta canção intitulada Things We Leave Behind. Ele escreve: Quando dizemos não às coisas deste mundo, abrimos o nosso coração ao amor de Deus, e é difícil imaginar a liberdade que encontramos

nas coisas que deixamos para trás (tradução livre).

RECURSOS ADICIONAIS:

• Falsa Intimidade: Vencendo a Luta Contra o Vício Sexual, Harry W. Schaumburg (Mundo Cristão, 1992/1995). • Isto não É Amor, Patrick Carnes (Círculo do Livro). • Sonhos Despedaçados, Larry Crabb (Mundo Cristão, 2004).

Tim Jackson e Jeff Olson são conselheiros licenciados e que trabalham em Michigan no Departamento de Correspondência Bíblica de RBC.

O texto inclui o acordo ortográfico conforme Decreto n.º 6.583/08.

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